Mostra de Tomie Ohtake

11/abr

A Nara Roesler São Paulo tem o prazer de apresentar, em parceria com o Instituto Tomie Ohtake, “Infravermelho”, com mais de quinze pinturas de Tomie Ohtake, artista nipo-brasileira, considerada um dos grandes nomes da arte contemporânea nacional.  A curadoria é de Paulo Miyada, diretor artístico do Instituto, e a exposição terá ainda uma escultura da artista, em tubo metálico pintado de branco, e um conjunto nunca mostrado ao público de pinturas de 30cm x 30cm, estudos de suas obras. O arquiteto e designer Rodrigo Ohtake, neto da artista e vice-presidente do Instituto Tomie Ohtake, fará uma intervenção expográfica, criando uma segunda pele nas paredes das duas primeiras salas, com um painel de chapas metálicas perfuradas, em um plano sinuoso que envolverá esses espaços. “Infravermelho” oferece uma oportunidade de aprofundar o olhar sobre uma importante etapa do trabalho da artista.

Tomie Ohtake é uma das artistas integrantes da 60ª Bienal de Veneza, “Stranieri Ovunque/Foreigners Everywhere” – entre 20 de abril a 24 de novembro, que tem como curador o brasileiro Adriano Pedrosa. Seu trabalho irá compor o núcleo histórico modernista latino-americano e diaspórico.

“Infravermelho” reúne trabalhos majoritariamente desenvolvidos ao longo da década de 1990, quando a artista consolida a transição, iniciada dez anos antes, do uso de tinta acrílica em detrimento da tinta a óleo. O uso dos pigmentos diluídos em água permitiu Tomie explorar as transparências, as veladuras, a fluidez, de uma forma que não teria sido possível com a tinta óleo, em que os solventes são mais espessos, além de altamente tóxicos. “A água é a própria noção de fluidez, e isso permitiu com que Tomie lidasse com texturas que são menos controladas, do que as da pintura a óleo”, observa Paulo Miyada. “Uma pincelada muda a cor e a densidade, e as obras caminham para uma composição mais sintética”.  Ele explica que nos anos 1960 as obras de Tomie Ohtake tinham o fundo mais claro, onde “flutuavam retângulos, quadrados de cor. Nos anos 1970 e 80, o fundo foi sumindo e os planos coloridos se expandiram, com bordas bem definidas”.

Esculturas na Galeria Marcelo Guarnieri

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP,  apresentará, entre 20 de abril e 24 de maio, a primeira mostra de João Bez Batti na unidade de São Paulo. O artista expõe regularmente desde a década de 1960. A exposição na Galeria Marcelo Guarnieri reúne esculturas em madeira, cerâmica, basalto e bronze realizadas ao longo de seus mais de 50 anos de produção e traz à São Paulo uma parte da sua coleção de seixos, formada por mais de mil unidades. As obras do artista revelam, em suas sinuosidades e protuberâncias, a relação que possui com o universo mineral, uma relação afetiva que se constrói em conexão com outros elementos da natureza como a fauna, a flora e o curso das águas.

O artista iniciou sua formação no ITD, Instituto Técnico de Desenho e ao completar 18 anos, dá continuidade aos estudos em arte no atelier de Vasco Prado e Zoravia Bettiol, conceituados artistas gaúchos. Durante as décadas de 1960 e 1970, dedica-se ao trabalho com a madeira, produzindo torsos e cabeças em nogueira, louro e canjerana. Já na década de 1980, expande seu vocabulário, experimentando o formato tridimensional através de materiais como o mármore, o bronze e finalmente o basalto, com o qual desenvolverá uma relação especial e duradoura. Bez Batti transita entre tempos, mas também entre espaços, investigando as formas da Terra como em “Floração”, “Bólido de Espinhos” e “Touro”, ou de outros corpos celestes como em “Relevo lunar” e “Planeta arrasado”. São contrastes que se traduzem visualmente em suas peças, cujas composições podem variar entre a pedra polida e a pedra bruta.

Obras de Gabriela Machado em exposição

09/abr

A Luciana Brito Galeria, Jardim Europa, São Paulo, SP, abriu a maior exposição da artista Gabriela Machado. A exibição de “Cadê o Abre Alas?” tem curadoria de Oswaldo Corrêa da Costa e essa é a primeira exibição da artista na galeria e a mais completa que já realizou ao longo da carreira reunindo mais de cem obras, entre pinturas de maior e menor escala, assim como esculturas em porcelana, ocupando todos os espaços da galeria.

“Uma grande exposição de pinturas pequenas. Uma pequena exposição de pinturas grandes. Uma estante que vai do chão ao teto com pequenas esculturas (…) Montagem sistemática, minimizando subjetividade, provocando combinações impensadas”, diz Oswaldo Corrêa da Costa. A montagem da exposição foi inspirada pela ideia da “Morte do Autor”, de Roland Barthes, onde este defende que o autor deve desaparecer no momento em que nasce o leitor (ou espectador, no caso), pois é a partir das reflexões desse último que novas ideias surgem. Aqui, essa ideia pode ser entendida como um apagamento do rastro do curador, ou a diminuição radical de seu protagonismo, parte da crítica contemporânea à autoridade do “homem branco ocidental”. Para por essa ideia em prática, a proposta curatorial dividiu as pequenas pinturas em três grupos, ou “enxames”, compostos de telas do mesmo tamanho. Dentro de cada enxame, o ordenamento nas paredes será por degradês que vão do mais claro ao mais escuro, ou vice versa. Transferir a responsabilidade para critérios mais objetivos aumenta o enfoque sobre a cromaticidade dos trabalhos e gera um ordenamento coletivo, ao mesmo tempo em que cada obra continua se sustentando individualmente.

Essas pequenas pinturas são realizadas por Gabriela Machado como quem escreve um diário de bordo. Por onde passa, registra suas impressões na tela. Sua percepção pontual das cores, formas, brilho e luminosidade ficam registrados a óleo nas telas pequenas, que carrega para todos os lados, e contam as histórias do seu caminhar. Desde 2017, elas guardam memórias de lugares onde a artista esteve para residências artísticas, ou apenas para a formação de um olhar para sua pintura, seja em diferentes regiões de Portugal, França e Estados Unidos, ou em cidades de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, incluindo impressões e percepções pontuais, registradas em determinados momentos, e captadas com a ajuda de frases escritas, como “Aqui cabe tudo”, “O céu perto de mim”, “Queira ou não queira, esse é o meu lugar”, “Pulo do gato” e “Cadê o Abre Alas?”, título que dá nome à exposição; frases que são exteriorizadas como verdadeiros tiros certeiros no tocar de um relógio cuco. Como num acordo íntimo entre a artista e o relógio, a cada cantada do pássaro a artista escrevia uma frase na superfície da pintura que realizava no momento, compondo o “livro do cuco”. Muitas vezes, as pinturas de Gabriela Machado situam-se no limiar entre o figurativo e o abstrato, deixando o entendimento para o espectador.

A mostra também apresenta um conjunto de pinturas mais recentes, de maior escala. Diferentemente das pequenas, essas obras maiores carregam o peso do gesto da artista em uma escala corporal. Por meio da tinta acrílica, Gabriela Machado utiliza processos rápidos e orgânicos, exteriorizando sentimentos e estados de espírito em grandes desenhos abstratos. Enquanto as pinturas menores, a óleo, realizam um trânsito de fora para dentro, trazendo para a tela as percepções do entorno, as grandes, em acrílica, acontecem de dentro para fora, traduzindo sensações momentâneas.

Em um diálogo direto com as pinturas, Gabriela Machado também apresenta uma série de pequenas esculturas em porcelana esmaltada. Dispostas da mesma forma que costumam permanecer no estúdio da artista, as peças são apresentadas em uma grande estante de madeira. Os gestos intimistas de moldagem, em escala manual, ditam os movimentos dessas peças que, segundo o curador, são “informadas pelo conhecimento acumulado em uma longa estrada, por uma habilidade desinteressada em exibicionismo. A primazia é sempre da mão; sua pegada sempre visível”.

Três exposições simultâneas

No dia 17 de abril, o Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura três exposições simultâneas: “Transmutação: alquimia e resistência”, da artista Marcela Cantuária, um dos nomes de maior destaque da cena de artes visuais da atualidade; “Davuls de Salé”, de Cadu, com a colaboração de Adriano Motta, Maneno Juárez e Virgilio Bahde, e “bassa danza”, de Nathan Braga. Em cartaz até 07 de julho.

Sobre Marcela Cantuária

Destaque da cena de artes visuais da atualidade, Marcela Cantuária apresentará a exposição “Transmutação: alquimia e resistência”, com obras recentes e inéditas. Com curadoria de Aldones Nino e assistência curatorial de Andressa Rocha, a mostra terá cerca de 20 obras da artista, que há cinco anos não faz uma exposição individual no Rio de Janeiro. No dia da abertura, às 17h, será realizada uma visita guiada com Marcela Cantuária e Andressa Rocha. “Cantuária não se limita a pintar; ela conjura, diariamente engajando-se em uma prática que se assemelha à magia, capaz de remodelar a realidade, redefinir narrativas e transformar perspectivas. Como uma alquimista contemporânea, cada tela age como um encantamento, um chamado à reflexão e à transformação. Ela propõe uma reinvenção constante da criação artística, estabelecendo conexões entre múltiplas temporalidades”, afirmam os curadores no texto que acompanha a exposição. “A exposição vai abordar diversos momentos da minha trajetória, desde onde a minha pintura começa, até onde estou neste momento”, conta a artista.

Dentre as obras inéditas, estão duas pinturas de “Mátria Livre”, pesquisa que a artista desenvolve há oito anos, elaborando, por meio de um vocabulário plástico-formal, narrativas sobre como reencantar figuras femininas de luta contra o capital, o colonialismo e o patriarcado. A espinha dorsal da série consiste em reverenciar aquelas que construíram e disputaram espaços na política, lutando com teoria e prática. As novas pinturas trazem a poeta grega Safo, que viveu na ilha de Lesbos, e Marleide Vieira, militante do MST de Pernambuco, assassinada no ano passado pelo marido ao pedir o divórcio. “Represento mulheres que inspiram ações, trazendo a minha perspectiva, mostrando principalmente a força feminina. São imagens de mulheres que, na maioria dos casos, existem ou existiram enquanto lutadoras. É como criar um panteão dessas mulheres, lugar de merecimento e de imortalidade também”, afirma a artista. Além das pinturas, estará em destaque na exposição a obra “A grande benéfica” (2021), um autorretrato, pintado sobre biombo, medindo 1,80m X 1,80m. “Será uma imagem ícone da exposição. Essa obra fala muito da relação que eu tenho com o tarô, fiz uma releitura da carta dois de copas, que representa o romance, e da carta do mundo, que é a realização, o ciclo, e mesclei com partes íntimas da minha vida”, conta Marcela Cantuária.

Sobre Cadu

Cadu apresenta a exposição “Davuls de Salé”, que contará com a participação de três colaboradores: Adriano Motta, Maneno Juárez e Virgilio Bahde. Com curadoria de Felipe Scovino, a exposição apresenta a diversidade de linguagens exploradas pelo artista individualmente e em parceria, através de fabulações debruçadas sobre a história da pirataria, organizadas pelo escritor Peter Lamborn Wilson em seu livro “Utopias Piratas” (1995). Entre os séculos XVI e XIX, corsários muçulmanos do Magreb devastaram navios europeus, escravizaram povos e fundaram a República Corsária Moura de Salé. Durante esse período, milhares de europeus se converteram ao Islã e se juntaram ao que Wilson chamará de “guerra santa pirata”. Essa forma anárquica de capitalismo, que os piratas tomam para si, encontra ecos nas esculturas, desenhos, filmes e instalações realizadas por Cadu e sua horda de rebeldes do mar. O mar serve de inspiração para a série de desenhos “Nadar Nada Mar”, realizados em grade formato sobre papel. Sereias, Krakens, Leviatãs e outras bestas marinhas amalgamam-se, constituindo quimeras através de grafite, colagem e óleo, num imaginário simbólico barroco de terror e deslumbramento. Reforçando a ideia de fabulação e a conexão intrínseca que seu trabalho tem com a linguagem, Cadu escreveu poemas para cada uma das obras, embaralhando referências das ciências, de cosmogonias e da literatura. Dentre os trabalhos em colaboração estão as esculturas sonoras Beijo para o Mar e Pio para o Píer com Maneno Juárez. Na primeira, 21 apitos divididos em três conjuntos são posicionados a uma distância relativa entre si na galeria, servindo de veículo para diálogos pneumáticos. As esculturas produzem notas musicais, indo do agudo ao grave, do brado ao sussurro. Já na segunda, utiliza-se a técnica tradicional peruana de modelagem para construção de vasos sonoros movidos por água.

Sobre Nathan Braga

A exposição “bassa danza”, do carioca Nathan Braga, é a primeira exibição solo em sua cidade natal, que marca seu retorno após três anos morando em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Doutorando em Arte e Cultura Contemporânea (PPGARTES-UERJ), Nathan foi aluno intercambista de Belas Artes na Universidade de Salamanca, na Espanha, tendo sido o segundo brasileiro a receber a Bolsa Iberoamericana do Santander para tal curso. Com curadoria de Aldo Victorio Filho, serão apresentadas cerca de 25 obras pertencentes a quatro séries diferentes de trabalho, produzidas desde 2019 até hoje, nas quais o artista versa sobre o ponto de inflexão entre as figuras mitológicas de Thanatos e Eros, realçando o jogo erótico envolvido entre as obras e na relação delas com o público visitante.

“Pinturas, esculturas, cerâmicas não são colocadas como linguagens ou modalidades plásticas impermeáveis umas às outras, pois as obras expostas, a despeito da completude técnica e material nas quais se encerram, se afirmam em outra lógica para além da artesania suporte/técnica/material. Se articulam, pois, na indizível força que ativam em conjunto. Uma ópera, um concerto, uma fuga, um silêncio a depender do ir e vir de cada visitante. Uma dança.”, conta o curador Aldo Victorio Filho. A pesquisa para esta exposição se iniciou a partir da leitura que o artista fez do livro “Eros: o Doce-Amargo” de Anne Carson, no qual a autora vai pensar de forma ensaística as relações dicotômicas presentes no desejo, o jogo psicológico entre os amantes e a implicação histórica e social da representação ambígua dessas relações, através de análises iconográficas e semânticas, desde a Grécia Antiga. A aproximação entre arte e literatura tem sido um modus operandi do artista, que já dedicou uma exposição individual ao último livro publicado em vida pelo poeta Mário Quintana, fazendo dessa aproximação uma possibilidade de construção de famílias monstruosas, através de interdisciplinaridades, intermaterialidades e intertextualidades, objetivando borrar as fronteiras entre as coisas, como faz o próprio Eros.

Três séries em exposição

A exposição de Luciana Maas na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, mostrará – até 09 de junho – as técnicas possíveis da pintura tendo o tênis como objeto principal. “Balanço” abrirá no dia 13 de abril, às 14h, no Átrio, seguido de visita guiada pela artista. Esta será a primeira exibição individual de Luciana Maas (SP) em um museu. Com curadoria de José Augusto Pereira Ribeiro, a artista apresenta, pela primeira vez, as três principais séries a que se dedicou nos últimos 15 anos: os Tênis, as Lonas, e os Balanços, todas em grandes formatos e com liberdade nos golpes dos pincéis e nas articulações entre figura e fundo. São cerca de 20 trabalhos que permitem um mergulho completo em sua obra e no seu imaginário. No processo de cada pintura, entram em disputa pensamentos contrários, gestos largos e mínimos, ligeiros e lentos, sujos e minuciosos, materiais distintos (a tinta a óleo, o bastão oleoso, o spray) na obsessiva atividade de colocar, espalhar, raspar e retirar tinta, depintar, apagar, sujar e pintar de novo, de mexer e mexer em franco vaivém.

“Fazer” implica a destruição – e implica, por consequência, a contradição -, nos processos de trabalho de Luciana Maas (…) As obras são inteiras, carregadas, densas. Resultam em superfícies preenchidas por sobreposição e mais sobreposição de matéria e atividade. Outro paradoxo aparente se refere justamente ao fato de que pinturas tão impregnadas de substância e ação sejam povoadas por corpos descarnados, mutilados, por objetos em desmancho, metidos em espaços incertos, envolvidos por luzes fluorescentes, nuvens de fumaça e gás – que, a julgar pelo brilho e pelas cores, são radioativos. Agora, se ainda assim os trabalhos inspiram inacabamento é porque, prontos, restam ainda como se estivessem em aberto, com seus acontecimentos em marcha contínua, de formação, distorção, desmoronamento e construção, de novo, de suas partes, de maneira diferente a cada vez, a cada exame – sobretudo nas telas pintadas por Luciana Maas a partir de 2012″, destaca José Augusto Pereira Ribeiro em seu texto curatorial.

Sobre a artista

Luciana Maas nasceu em 1984, na cidade de São Paulo, onde trabalha como pintora há mais de 20 anos. Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, frequentou os ateliês dos artistas Osmar Pinheiro e Carlos Fajardo durante anos. Participou de inúmeros cursos promovidos pelo Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo; pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro; pela Tate Modern, em Londres, Inglaterra, entre outros. Iniciou sua prática através da figuração e do desenho de observação, mas logo expandiu seu repertório para a pintura gestual de linguagem mais abstrata. Atualmente, seu trabalho tem como tema o encontro visual com o inesperado, no próprio movimento de pintar, em tentativas de capturar a metamorfose do plano pictórico nele mesmo. Cada obra sua possui singularidades e demanda um longo processo para lograr seu resultado: que pareça inacabado e, ainda em transformação. Luciana Maas teve uma importante experiência na residência que frequentou em 2018, na cidade de Salzburg, na Áustria. Sob a orientação do artista Ei Arakawa, produziu uma música e duas pinturas que foram expostas com o grupo no Salzburger Kunstverein Museum. Participou de diversas exposições coletivas, entre elas “No Body Yet”, na Galeria Simone Subal, Nova York, EUA (2023); “Obra em Processo. Olhar Impertinente”, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC USP (2004) e “Diante do desconhecido: o Outro”, na Galeria de Arte Solar, Rio de Janeiro (2017). Em 2022, realizou a exposição individual “Palafitas”, no Projeto Vênus, em São Paulo, SP, com a curadoria de Ivo Mesquita. No mesmo ano, a artista iniciou seus estudos em gravura em metal no Atelier Piratininga, em São Paulo, onde investiga traços finos por meio de técnicas que deram início à sua fase atual, dos fios dos balanços.

Sobre o curador

José Augusto Pereira Ribeiro é mestre e doutor em Teoria, História e Crítica de Arte pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Trabalhou como curador sênior da Pinacoteca de São Paulo, de 2012 a 2022, e diretor do núcleo de artes visuais do Centro Cultural São Paulo, entre 2010 e 2012.

Mostra de Alexandre Brandão

08/abr

Exposição individual “Fardo mole, Penca Rama” de Alexandre Brandão 3ncontra-seem cartaz na Galeria Casanova, São Paulo, SP, até 13 de abril.

Texto de apresentação por Miguel Chaia

Alexandre Brandão – Nos Entrecruzamentos da Arte

Os trabalhos do artista Alexandre Brandão – inclusive aqueles agora apresentados na Galeria Casanova – contém e afirmam as características que embasam a sua concepção de arte e o seu modo de produzir as obras. Estas especificidades do fazer artístico de Brandão podem ser percebidas em três dimensões que se misturam para formarem as bases de uma poética sistemática e reflexiva no manuseio de suportes, técnicas e materiais: são elas a multiplicidade, a simultaneidade e experimentação.

1.Multiplicidade – o artista se utiliza das mais diferentes linguagens, preferencialmente a escultura ou tridimensional, sem deixar de incursionar pelo desenho, vídeo, arte postal e específicas formas de pintura ao lidar com as bordas deste suporte. Certas estratégias de produção das obras exigem o esforço corporal, a lentidão e a persistência da espera para se obter os resultados desejados – uma performance demorada. Um bom exemplo é o rito performático para cobrir com musgos dois grandes vasos de cimento cuja técnica inclui terra, cimento, argila, musgo desidratado e base de ferro (Bulbo, 2023). Recorrer a múltiplas possibilidades é algo estrutural no fazer de Brandão, por isso a seleção, a escolha de materiais e suas propriedades recebem a atenção e o esforço do artista. Entretanto, face a tantas opções de matéria prima, o raciocínio procura dar sentido à diversidade, almejando uma unidade formal. Assim, Brandão se locomove entre as farturas dadas pela natureza e os restos industriais deixados pela superprodução capitalista que gera descartes de mercadorias. Da natureza, Brandão recolhe a terra bruta, seus pigmentos, sua textura; se interessa pela vegetação nas mais diferentes formas como folhas, musgos, frutos, sementes; coleta a água, líquido valorado em si mesmo ou para misturar elementos. E, como um bom mineiro de BH, é atraído pelos minérios – suas qualidades e beleza. O uso dos mais diferentes materiais, nas suas diferentes formas, faz Brandão transitar entre natural e o industrial; entre o cultural e o tecnológico; entre o perecível e o permanente; entre o etéreo e o pesado. Assim, os trabalhos de Brandão podem ter por base a água e a terra; a luz e o ferro; a folha e o tecido; o vidro e o cimento; a fruta e a linha de costura; argila expandida e arame; … Esta determinação dos materiais na trajetória de Brandão encontra um correlato em outro mineiro, Carlos Drummond de Andrade, que marca a sua poesia também pela insistência em entender e criticar a mineração em Minas Gerais. Como se entendeu e escreveu Drummond (e, talvez como se vê o artista Brandão) no poema Confidência do Itabirano: “…Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. / Noventa por cento de ferro nas calçadas. / Oitenta por cento de ferro nas almas…”. Drummond desdobra-se nas artes plásticas no artista Amílcar de Castro. A presença constante destes materiais naturais e industriais em Brandão será determinante para o artista aproximar arte e ciência, ao necessitar entender e realizar experiências químicas e físicas.

2.Simultaneidade – essas três dimensões básicas estão interligadas. Assim, a simultaneidade no uso de múltiplos materiais na mesma obra é um aspecto marcante em Brandão, levando o artista a manipular, na mesma obra, diferentes matérias como metal/luz, cimento/produtos orgânicos, sumo de frutos/tecido de algodão…Em paralelo a este processo diversificado, o artista se utiliza de várias formas de conhecimento ou saber para estruturar uma obra. Para tanto, ele recorre aos princípios da física, da química e até da biologia no seu fazer artístico. Há em Brandão um esforço para buscar soluções nas relações entre arte e ciência, e aproximações com a alquimia. Por tais aspectos, coexistem em alguns trabalhos de Brandão o visível e o invisível, o permanente e o transitório. Um bom exemplo é o processo para obter a obra Rama (2024) que na sua produção leva suco de limão, reagindo sobre tecido de algodão em função da alta temperatura emitida por um ferro de passar roupa.

3.Experimentação – imbricada com as dimensões anteriores, destaca-se sob vários aspectos a experimentação como um fundamento da prática artística de Brandão, uma vez que indica a importância da atividade manual na sua forma de produzir arte. Destaca-se, desta forma, algumas particularidades deste artista: o manuseio sistemático com as mãos para controlar a matéria prima que ergue a obra; o esforço ativo para reordenação dos materiais e a descoberta das melhores relações entre diversas matérias e fenômenos; e o estabelecimento de critérios ou compreensão de associações conceituais que imprimem outro significado ao resultado final. Em resumo, pode-se entender que Brandão, em cada realização de uma obra, gera um processo com diferentes fases (sem garantia de sucesso de cada uma delas) que incluem observação, classificação, pesquisa das características de coisas da natureza e do mundo urbano-industrial e muitas experimentações. Trata-se de um processo pessoal e subjetivo, associado a critérios factuais de se apropriar das coisas do mundo – próprio da arte. Neste contexto, o tempo (e espaço) torna-se uma categoria relevante no fazer artístico de Brandão – principalmente porque o artista torna-se dependente das propriedades dos materiais, das reações científicas, dos fracassos e novas tentativas de acertos e outras formas de manipulação dos materiais. Brandão age no entrecruzamento de possibilidades e de tempos. Além do mais, ele traz em alguns trabalhos o registro de tempos passados ao arquivar e desenhar percursos que executou em espaços geográficos – é o caso de Volta (NYC), de 2014, arte postal utilizada para ele enviar a si próprio as suas andanças por cidades.

São Paulo, fevereiro de 2024

Miguel Chaia é mestre e doutor em Sociologia pela USP. Professor de Política no Curso de Ciências Sociais e no Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais, da PUC-SP. Pesquisador e coordenador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política (Neamp). Autor de artigos e livros sobre filosofia política e arte brasileira.

Sobre o artista

Alexandre Brandão nasceu em 1979, em Belo Horizonte, MG. Vive e trabalha em São Paulo, SP, Brasil. Utilizando-se de técnicas como desenho, escultura, vídeo, obras com luz, objetos e instalações, sua prática embaralha processos da natureza e da cultura e combina acaso, temporalidade, processos físicos e químicos com métodos artesanais de produção. Tem participado de exposições incluindo “In Memoriam” (Rio de Janeiro, RJ, 2017); “66º Salão Paranaense” (Curitiba, PR, 2017); “Bolsa Pampulha 2015/2016″ (Belo Horizonte, MG, 2016); “Some False Moves” (Nova York, EUA, 2015); “Taipa Tapume” (São Paulo, SP, 2014); “18º e 17º “Festival Internacional de Arte Contemporânea SESC Videobrasil” (SP, 2013 e 2011); “Bienal de Filmes de Arte de Colônia” (Alemanha, 2005). Entre as exposições individuais que realizou estão “Experimentos com o acaso” (Paris, França, 2016), “Chão” (São Paulo, SP, 2015); “Efeito sem causa” (São Paulo,SP, 2013) e “Quase sombra” (São Paulo, SP, 2012). Em 2010 foi premiado na 5ª Bienal Interamericana de Videoarte (Washington DC, EUA) e em 2014 ganhou o prêmio Bolsa de Residência Artística ICCo/SP-Arte na instituição Residency Unlimited, em Nova York. Em 2018, integrou o programa de residência Pivô Pesquisa, no espaço Pivô (Edifício Copan, São Paulo).

Alexandre Vianna inaugura o Copan ArtProject

“Quantum”, de Alexandre Vianna, inaugura o Copan Artproject, espaço independente de experiências artísticas e site-specifics no centro de São Paulo. A abertura acontece no sábado, dia 06 de abril, durante a semana da SP-Arte, no icônico edifício Copan, projetado por Oscar Niemeyer, Av. Ipiranga, 200, Espaço 10, Centro Histórico de São Paulo. O site-specific pode ser visitado até o dia 20 de abril.

Alexandre Vianna foi o artista convidado para inaugurar o Copan ArtProject. Em “Quantum”, projeto criado sob medida para o espaço, o artista paulista mistura fotografia, pintura e projeções audiovisuais, foco de sua pesquisa com fotografia expandida. Em seu trabalho artístico, Alexandre Vianna investiga a fusão da fotografia com diferentes materiais, como a pintura, e em variados suportes, como folhas de ouro. Sua pesquisa volta-se para os limites entre linguagens, numa busca de ressignificação da arte fotográfica e figurativa por meio de múltiplas camadas, físicas e simbólicas. Em suas colagens e projeções, Alexandre Vianna utiliza fotografias de corpos humanos impressas em materiais inusitados, misturadas a camadas de tinta e tecidos, remetendo ao processo de desvanecimento da memória. “Na opacidade das figuras busco retratar a força da essência humana. No distanciamento da identidade, procuro estimular a reflexão e a fuga dos sentidos”, diz Alexandre Vianna.

Além de projeções sobre tecidos que pendem do teto, o site-specific de Alexandre Vianna reúne telas onde ele mistura pintura acrílica e folhas de ouro ou prata, sobre as quais imprimiu fotografias com tintas arquiváveis. “Nos retratos, a partir de silhuetas busco retratar a força invisível que envolve o indivíduo, na busca de sentimentos profundos. São imagens que se contrapõem aos padrões midiáticos contemporâneos de estética, beleza e pasteurização, buscando capturar a essência da força humana”, diz o artista.

Sobre o artista

Nascido no Irã em 1974, Alexandre foi registrado na embaixada do Brasil como brasileiro nato. Aos 12 anos, em São Paulo, encontrou no skateboard um mundo de contracultura e de arte urbana dos anos 1990, do qual fez parte, criando sua identidade criativa. Estudou fotografia e arte, formou-se em Comunicação Social e Roteiro de Cinema, e participou de Masterclass em Cinematografia, em Los Angeles, na ASC – American Society of Cinematographers. Realizou diversas exposições coletivas e colaborativas. Em 2012, lançou seu livro e exposição individual, intitulado “Streeteiro”, no Museu Paço das Artes, SP. Em 2017, foi premiado como melhor diretor de videoclipe do ano no VMF, Festival de Video Music. O trabalho artístico de Alexandre Vianna teve início na fotografia, a partir de experiências com papéis, tintas, tecidos, vídeos e projeções, mesclados aos processos fotográficos tradicionais. Além de realizar seu trabalho autoral, atua como diretor de fotografia na indústria cinematográfica, trazendo a bagagem da narrativa e da luz cinematográfica.

Jovens artistas baianos

Até julho, encontra-se em cartaz no MACBahia, Salvador, BA, a exposição “INICIADAS Ancestralidades Contemporâneas”. A mostra reúne obras de Tiago Sant’Ana, Rebeca Carapiá, Célia Tupinambá, Pedro Marighella, Anderson Ac. e Isabela Seifarth, seis talentosos artistas baianos da nova geração, cujo trabalho não apenas desafia as convenções tradicionais da arte, mas também reflete uma profunda conexão com suas raízes culturais e ancestrais. A exposição, em exibição na Galeria Contemporânea, é uma excelente oportunidade para o público mergulhar na riqueza e na diversidade da produção artística baiana.

Intervenção artística no Instituto Ling

04/abr

O Instituto Ling, Três Figueiras, Porto Alegre, RS,  recebe a artista paraense Bárbara Savannah, para realizar uma intervenção artística inédita em uma das paredes do centro cultural. De 08 a 12 de abril, o público poderá acompanhar gratuitamente a criação da nova obra, observando as escolhas, os gestos, as técnicas e os movimentos da artista. Após a finalização, o trabalho ficará exposto para visitação até 08 de junho, sempre com entrada franca.

A atividade faz parte da terceira temporada do projeto LING apresenta, que em 2024 conta com a curadoria de Vânia Leal, atual diretora de Projetos da Bienal das Amazônias e membro do grupo de crítica do Centro Cultural São Paulo. A artista Bárbara Savannah irá comentar a experiência e o resultado em bate-papo com o público e a curadora, no dia 13 de abril, sábado, às 11h, em frente à obra. Você poderá fazer sua inscrição sem custo.

Amazônias, no tremor das vidas

Uma narrativa histórica da arte na Amazônia brasileira compreende muitas “Amazônias”, pois resguarda realidades diversas. Neste cenário, surge o projeto LING apresenta: Amazônias, no tremor das vidas, como um disparador nessa perspectiva plural, com artistas que desentravam a compreensão da interculturalidade, dos contatos, das provocações e das possibilidades nesses espaços imensos quando a Amazônia se torna o centro de preocupação da humanidade. O tremor das vidas nas Amazônias está nas placas tectônicas, no tremor das pororocas, do jambu na boca e nos sentidos, no treme das aparelhagens, no tremor do mundo, no negacionismo da ciência, nas narrativas dos povos da floresta, no pó de paricá e no transe como parte da ancestralidade florestânica…A partir dessas provocações, a mostra aponta caminhos e impasses da arte compostos por artistas do continente amazônico. Estes discutem, por meio de investigações e territorialidade, as relações afetivas, políticas, sociais e culturais de identidades e de pertencimento, assim como o “imaginário geográfico”. Defende-se que a arte não pode se limitar à expropriação dos valores simbólicos e saberes materiais dos ribeirinhos, povos indígenas, quilombolas, assentados, afro-indígenas, castanheiros e de todo sujeito que mobiliza a sensibilidade de qualquer artista. É importante também ressaltar que, historicamente, esses sujeitos seguem elaborando estratégias criativas de sobrevivência como protagonistas, por meio de tecnologias ancestrais à manutenção da vida que pulsam nesses lugares poéticos e políticos. Entre o “bom selvagem” idealizado de uma visão romântica e o “inferno verde”, a Amazônia quase mitológica é o ambiente em que cabe ao artista criar pontes críticas com o real, dar asas ao imaginário e fortalecer o simbólico coletivo. Este é o desejo para esta edição do projeto LING apresenta.

Vânia Leal/Curadora

Sobre a artista

Bárbara Savannah é uma artista originária da Ilha do Marajó, no Pará, e tem dedicado sua expressão artística a transmitir e desfragmentar elementos da cultura popular amazônica desde 2018. Já residindo em Belém, participou de exposições coletivas como Mãe do corpo (2019), do coletivo Vênus, na galeria Benedito Nunes (Fundação Cultural do Pará), e Mulher ser Mulher (2020), na Fundação Cultural de Ilhabela – FUNDACI – SP, além de realizar a exposição individual Universo entre folhas (2021) na galeria Izabel Aquino. Destacando-se no muralismo, sua arte saudosista ecoa nas paredes das cidades, trazendo a temática amazônica e ribeirinha para o cenário urbano. Participou ativamente de projetos como Igarapé da Paz (2022) e Semana de Arte e Muralismo (2022) na Sede da Fundação Cultural do Pará, em Belém. Além de sua prática artística, Bárbara Savannah é aluna do curso de Arte-Educação no CEFART – Fundação Clóvis Salgado, em Minas Gerais.

Sobre a curadora

Vânia Leal Machado nasceu em Macapá, no Amapá, e vive e trabalha em Belém, no Pará. É mestre em Comunicação, Linguagem e Cultura e atua na área de curadoria e pesquisa em Artes, tendo participado de júris de seleção e premiação e organizações de salões. Foi Curadora Educacional do Projeto Arte Pará e fez a curadoria de exposições como Mastarel: Rotas Imaginais (2019) de Elaine Arruda no Banco da Amazônia, Tecidos de Certeza (2019) de Elisa Arruda na Galeria Elf, Coleção Eduardo Vasconcelos (2021) nas Galerias Theodoro Braga e Benedicto Nunes no Centur, A Inversão do cotidiano (2022) de Elisa Arruda na Galeria Ruy Meira, Nhe Amba (2022) de Xadalu Tupã Jekupe no SESCParaty, Gravado na Alma (2023) de Eduardo Vasconcelos no Banco da Amazônia, entre outras. Também foi curadora da primeira Bienal das Amazônias em 2022-2023. Atualmente, é diretora de Projetos da Bienal das Amazônias e faz parte do grupo de crítica do Centro Cultural São Paulo.

Homenagem para Rochelle Costi

“Corações à Desmedida”  é uma exposição proposta pelo Solar dos Abacaxis (Rio de Janeiro), em parceria com a Casa do Povo e a Casa de Cultura Mario Quintana (Porto Alegre), que cria um gesto coletivo de homenagem à artista Rochelle Costi no marco de um ano de sua passagem ocorrida em novembro de 2022.

A artista Rochelle Costi (1961-2022) conquistou e nutriu muitos corações e amizades, colocando o amor e as relações de afeto no centro de sua prática artística. A obra “Coleção de artista”, uma coleção de corações reunidos ao longo de 30 anos, é uma síntese desta prática e a inspiração desta exposição.

Por meio de convocatória pública, 336 artistas de todo o Brasil doaram obras em formato de coração feitos em tributo a Rochelle Costi, inspirados por sua obra “Coleção de Artista”. Os corações foram expostos junto à fotografia original da artista, na sede do Solar dos Abacaxis em novembro de 2023.

A exposição desta vez chegou a São Paulo na ocasião da SP-Arte 2024 com uma programação pública nas datas da abertura e encerramento. Abertura – 23 de março

Encerramento em 06 de abril.