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AGENDA CULTURAL

Nuno Ramos e Climachauska

A unidade do Sesc Pompeia, São Paulo, SP, recebe a instalação “O globo da morte de tudo”, de Nuno Ramos e Eduardo Climachauska, dois inventivos e múltiplos artistas das artes visuais. O projeto é pensado há mais de quatro anos, a partir do ritual da dádiva, da oferenda, existente em sociedades primitivas. Consiste em dois globos de aço sobrepostos e unidos por um ponto, “formando um oito tombado, o símbolo do infinito”, como aponta Nuno Ramos. Estes globos estarão conectados a quatro paredes de prateleiras de aço, com seis metros de altura, nas quais serão depositados mais de 1.500 objetos, comprados, coletados e doados por amigos e conhecidos ao longo do processo de criação.

 

Os objetos são agrupados em quatro categorias: cerâmica, cerveja, nanquim e porcelana. “Essas categorias podem ter um aspecto antropológico, mas é muito arbitrário”, explica Eduardo Climachauska. “É uma forma que encontramos para organizar as coisas e podemos trocar os objetos de categoria também”, conclui.

 

Segundo descrito pelos artistas, cada uma das quatro categorias presentes nas estantes tem um significado. A categoria cerâmica tem a ver com coisas arcaicas: instrumentos agrários, berrantes e material de construção. A categoria cerveja tem objetos ligados à vida cotidiana, como máquinas, troféus e bolas de sinuca. A categoria nanquim está ligada à morte, às coisas escuras e calcinadas. Já, a categoria porcelana representa o luxo, a frescura e coisas fora de moda, como peças de decoração, frascos de vidro e computadores antigos.

 

Estes elementos empilhados em bandejas de vidros planos formam um frágil equilíbrio, contrastando com a presença dos dois globos. Fazem, assim, uma espécie de inventário da cultura prestes a desabar. No dia 4 de outubro, um mês após a abertura da exposição, às 20h, acontece um evento-performance no qual dois motoqueiros giram dentro dos globos. Com o ruído provocado pelos motores e a trepidação, os objetos despencam parcialmente das prateleiras espatifando-se no chão. A exposição terá dois momentos: o antes e o depois da performance.

 

O momento performático convida à reflexão sobre alguns conceitos, tais como: consumo, acumulação e memória afetiva em relação aos objetos do cotidiano, sem tirar o bom humor da cena: ver as coisas quebrando. “A obra traz um aspecto cômico, um fundo de raiva, com sensação de querer que tudo vá pro inferno”, destaca Nuno Ramos, que ainda ressalta: “é a obra que mais me divertiu”.

 

Para Climachauska, a destruição das coisas, quando se quebram e se separam é, ao mesmo tempo, o momento no qual se misturam, virando matéria. “Surge uma fusão dos materiais, mistura de cores, líquidos, texturas […] e depois existe outra organização que independe da nossa vontade”, conclui o artista.

 

 

 

Sobre os artistas

 

 

Amigos e parceiros de longa data, Nuno Ramos, 1960, São Paulo, e Eduardo Climachauska, 1958, São Paulo, já compuseram juntos diversas canções, nove delas gravadas por Rômulo Froes e uma por Gal Costa, e realizaram os filmes: “Iluminai os terreiros” (2007), “Casco” (2004) e “Para Nelson – Luz Negra” e “Duas Horas” (2002), os dois primeiros com o cineasta Gustavo Moura. O caráter questionador de Nuno Ramos não se apresenta apenas na obra “O globo da morte de tudo”. A transmutação de formas por via violenta adquire caráter procedimental em toda a produção do artista, que possui desdobramentos em várias áreas. Nuno cursou filosofia na Universidade de São Paulo. Realizou os primeiros trabalhos tridimensionais em 1986. Em 1992, em Porto Alegre, expôs pela primeira vez a instalação 111, que se refere ao massacre dos presos na Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru). Publicou, em 1993, o livro em prosa “Cujo” e, em 1995, o livro-objeto “Balada”. Venceu, em 2000, o concurso realizado em Buenos Aires para a construção de um monumento em memória aos desaparecidos durante a ditadura militar naquele país. Em 2002, publicou o livro de contos “O Pão do Corvo”. Para compor suas obras, o artista emprega diferentes suportes e materiais, e trabalha com gravura, pintura, fotografia, instalação, poesia e vídeo. Participou de quatro edições da Bienal de São Paulo (em 1985, 1989, 1994 e 2010, quando levou polêmicos urubus ao Pavilhão da exposição) e da 46ª Bienal de Veneza (em 1995).

 

Formado em cinema pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA-USP (1976-1980), Eduardo Climachauska vem realizando exposições em importantes museus, instituições culturais e galerias de arte no Brasil e no exterior. Já realizou exposições no Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM, no Museu de Arte de São Paulo – MASP, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC USP, no Centro Cultural São Paulo – CCBB, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM-RJ, e em galerias, como a SycomoreArt em Paris, entre outras. Produziu filmes e vídeos experimentais de curta e média metragem, exibidos em mostras e festivais de várias capitais, como “Outono de Bashô” (1994), em parceria com Guto Araujo; “Bólide-Filme” (1995); “Exposto nº 2” (1997); “The RightNumber” (2001), com Guto Araujo; “Três Caras e um Matagal” (2001), com Alexandre Boechat e Guto Araujo; “Pensamento Selvagem” (2002), com Alexandre Boechat; além dos realizados com Nuno.

 

 

A instalação fica aberta para visitação até 06 de novembro.

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