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AGENDA CULTURAL

Wagner Barja na Adrea Rehder

Galeria Andrea Rehder, Jardins, São Paulo, SP, apresenta a partir do dia 20 de outubro a exposição “Experiência Tumulto IV”, um desdobramento da obra de Wagner Barja, com curadoria de Fábio Magalhães. O artista aprofunda e demonstra nessa quarta série o seu interesse pelo simbolismo expresso na instalação “Jonas, o profeta”, exibida em 2015 no CCBB/ DF. Barja traz pela primeira vez sua obra a São Paulo e para essa segunda versão de Jonas, trabalha com três espaços contíguos da galeria onde instala três peças de alumínio e as faz conviver com elementos das tecnologias digitais para criar ambientes imersíveis para os visitantes.

 

 

Sobre a exposição

 

‘’No silêncio do olhar, a obra plástica de Wagner Barja desencadeia processos de reflexão. Para ele, a arte é sobretudo coisa mental. Suas instalações nos levam a transpor o espaço que habitamos (zona de conforto) para vivenciarmos novas experiências frente às provocações de sua plástica. Essas provocações têm como ponto de partida a forma, o material, o espaço, a luz/sombra, ou seja, o impulso de linguagem é eminentemente plástico – e intrigante pelas associações de significados diversos que o artista constrói a partir de objetos híbridos.  O percurso de fruição desta instalação traz um emaranhado de possibilidades interpretativas advinda de símbolos e mitos, ainda assim, somos conduzidos pelas tramas poéticas que o artista urdiu. O título da obra, Tumulto IV, é a porta de entrada para nossa experiência artística, é um tema para nossas reflexões – tumulto é uma irrupção, uma invasão súbita, um transbordamento da ordem que altera e põe em risco o ritmo natural das coisas. Associado ao nome do profeta Jonas, os ossos da baleia nos apontam para o tema bíblico, para a destruição de Nínive, séculos antes da nossa era. Nos faz pensar sobre o poder, a crueldade e a violência.

 

Deus ordena a Jonas: “Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença.” Jonas 1:2 Em apertada síntese do relato bíblico: Jonas, temendo a truculência dos assírios, foge e descumpre a ordem divina. Na fuga o profeta embarca para Társis, mas Deus provoca uma tempestade que só termina quando Jonas é atirado ao mar. Surge nesse momento um enorme peixe branco que o engole. Jonas sobreviveu por três dias e três noites no ventre do monstro, para ser expelido depois de arrepender-se e clamar por perdão. O profeta cumpre então seu desígnio e ao chegar a Nínive faz com que os cidadãos se arrependam de sua conduta sanguinária. Nesta obra Wagner Barja trabalha conceitos de território, de imersão, de inclusão e de afastamento. Faz referências à noção do sagrado, como espaço protegido e de espaço profano, sujeito às forças da natureza. Há proximidade, inclusive, com mitos de origem da cultura Tupinambá (Monan e o dilúvio). O artista já havia tratado o tema Tumulto na instalação realizada em 2015 no CCBB, em Brasília, na qual, as ossadas de baleia portavam nas suas cavidades imagens em vídeo de águas oceânicas – reminiscências de seu elemento natural, do vasto território das suas origens.

 

Na instalação Tumulto IV realizada para a Galeria Andrea Rehder, Wagner Barja apresenta as vértebras, costelas e respirador da Baleia-jubarte, fundidas em alumínio e acrescenta plumárias vermelhas de guará, ave que habita os mesmos manguezais onde foram encontrados os sambaquis com as ossadas da baleia. As esculturas aladas surgem na obra do artista como objetos híbridos, como coisas ou seres fora do lugar; como animais monstruosos, em outras palavras, maravilhosos – como no texto de seres imaginários de Jorge Luis Borges. Vale sublinhar que a beleza da plumária escarlate do Guará deve-se à ingestão de um tipo de caranguejo. Outro protagonista de Tumulto IV é a força permanente das águas oceânicas que atravessam o espaço das ossadas. Barja trabalhou o tema do Tumulto com a inclusão de símbolos contraditórios; com a arqueologia do tempo, de tempos ancestrais como gênesis do presente. Tumulto IV é uma obra que perturbadora. Wagner Barja estabelece relações poéticas com o texto bíblico. Relato do Antigo Testamento farto de crueldade e violência, como nos tempos atuais.’’

Fábio Magalhães

Primavera 2018

 

 

Sobre o artista

 

Wagner Barja, Rio de Janeiro, é artista plástico e educador. Mestre em arte e tecnologia das imagens, pela Universidade de Brasília (UnB). Notório saber em Teoria e História da Arte, Plástica e Arte-Educação, pelo Conselho Superior de Educação/ME. Suas obras fazem parte das principais coleções privadas e acervos institucionais, como, Museu de Arte do Rio MAR, Museu Nacional de Belas Artes RJ, Museu de Arte de Brasília MAB, Museu ONCE, Madri, Espanha, Coleção Cândido Mendes, Coleção Sérgio Carvalho entre outros.

 

 

Sobre o curador

 

Fábio Luiz Pereira de Magalhães (São Paulo SP 1942). Pintor e desenhista. Cursa história da arte no Masp, com Wolfgang Pfeiffer, e estuda com Nelson Nóbrega na Escola de Arte da Faap. Em 1964, viaja para Paris, França, onde freqüenta o Instituto de Arte e Arqueologia e entra em contato com os integrantes do movimento internacional Phases. Nesse mesmo ano, é selecionado pelo MAC/SP para representar o Brasil, ao lado de outros artistas, no Salon Comparaisons de Paris. Ao longo de sua carreira, exerce várias atividades dentre elas: diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo; membro da Comissão de Arte do MAM/SP (1978 a 1980);  conservador chefe do Masp (1990)  e curador das exposições Coleção Pirelli/Masp. Entre as exposições de que participa, destacam-se: Salão do Trabalho, São Paulo, 1962/1963 (Menção Honrosa, 1963); Salão Paulista de Arte Moderna, São Paulo, 1963/1964 (Menção Honrosa, 1963); Exposição do Jovem Desenho Nacional, Porto Alegre e São Paulo, 1963/1965 (Menção Honrosa,  1963); Propostas 65, na Faap, São Paulo, 1965; Bienal ao Ano 2000, no MAC/USP, São Paulo, 1975; Salão Nacional de Artes Plásticas, Rio de Janeiro, 1981.

 

 

De 22 de outubro até 22 de novembro.

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