Signos na Paisagem no CCBB Rio

08/mar

Última sede da itinerância da mostra BIENALSUR 2023 no Brasil evidencia os olhares de artistas de diferentes origens sobre o impacto que as ações humanas vêm promovendo no planeta. Um dos exemplos notáveis da exposição é o vídeo da argentina Gabriela Golder, gravado no Cerro Mariposa (Valparaíso, Chile), que mostra a devastação provocada por um incêndio de enormes proporções, em 2015!

Signos na Paisagem reúne obras de Rochelle Costi e Dias & Riedweg (BRA); Gabriela Golder e Matilde Marín (ARG); Stephanie Pommeret (FRA); Alejandra González Soca (URY); Gabriela Bettini (ESP); Sara Abdu, Zhara Al Ghamdi e Hatem Al Ahmad (SAU). Os trabalhos problematizam a experiência de vida contemporânea e têm como chave, em sua maioria, a questão do meio ambiente. A mostra faz parte da 4ª edição da BIENALSUR, o evento cultural mais extenso do mundo – 18.730 km de arte contemporânea, em 28 países e mais de 70 cidades nos cinco continentes chega ao Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro permanecendo em cartaz até 15 de maio.

“Uma das premissas do trabalho da BIENALSUR é explorar o panorama artístico internacional por meio de uma convocatória livre e horizontal que realizamos para cada edição. A partir deste chamado, surgem os temas principais sobre os quais trabalhamos, bem como um conjunto de projetos de artistas de diferentes contextos culturais, que são selecionados para serem incluídos nas diversas exposições e intervenções realizadas simultaneamente em cada edição do evento”, explica Diana Wechsler, Diretora Artística da BIENALSUR.

Do último chamado aberto surgiu o tema dominante que orienta a seleção de artistas nesta exposição. A experiência vital contemporânea é problematizada em todas as obras; em algumas delas, a questão ambiental é fundamental. “De diferentes maneiras, nosso olhar sobre o ambiente natural – antes identificado entre as disciplinas artísticas convencionais simplesmente como paisagem – é urgente e exige atenção. Há séculos sabemos que as sociedades humanas vêm modificando a natureza por meio da extração de recursos, o que gera um grande impacto no planeta”, diz a curadora.

A exposição

A observação do entorno próximo durante o período de isolamento social entre 2020 e 2021 devido à Pandemia foi o ponto de partida para as observações de Rochelle Costi (BRA), o que a levou a desenvolver sua série Casa & Jardim;. As fotos registraram insetos encontrados na área externa de sua casa/ateliê (localizada a 4 km do centro da cidade de São Paulo). O trabalho não foi apenas uma observação, mas também uma provocação, pois incorporou na paisagem do jardim doméstico placas de plástico em relevo, criando uma topografia na tentativa de imitar a natureza, ao mesmo tempo atraindo e causando estranheza nos insetos, alterando seus comportamentos habituais. A série exibe o contraponto do que a comunidade global estava passando naquela época, quando as rotinas e paisagens cotidianas estavam sendo alteradas e a sensação de estranhamento dominava a sociedade. Este foi o último trabalho da artista, falecida em novembro de 2022.

Em uma linha de reflexão semelhante, o trabalho de Dias & Riedweg (BRA), a série Silêncio, composta por 16 fotografias digitais, observa as marcas no ambiente urbano e adota um tratamento formal dessas fotografias que remove o volume e a cor, deixando apenas as linhas, aproximando-se da imagem de uma gravura em metal. Esta estratégia escolhida para desafiar o olhar é um convite para descobrir, através de pequenos detalhes, a anomalia, o estranho, o que se torna alheio a uma narrativa visual convencional. Por meio destas imagens tiradas em 2020, eles destacam a questão do risco latente e o aviso de que algo se perdeu.

A abordagem de Gabriela Golder (ARG) em “Tierra Quemada” também evidencia momentos de marcas e perdas. O vídeo (2015), gravado no Cerro Mariposa (Valparaíso-Chile), observa a área devastada pelo incêndio: casas e fauna queimadas por um fogo que, segundo depoimento de um morador, “era tão alto como se o mundo estivesse prestes a acabar. A terra queimou”. A convivência entre as intervenções humanas e a natureza expõe suas tensões, e a sensação de saturação, de “fim do mundo”, emerge.

De uma perspectiva diferente, Matilde Marín (ARG) aborda sua série “Temas sobre a Paisagem”, fotografias que, em seu formato extremamente panorâmico, captam a sensação de infinidade experimentada nesses espaços, criando faixas de atmosferas inesgotáveis, linhas e fugas de luz que se tornam imagens cativantes de um momento efêmero que resgata o conceito de beleza na paisagem e seus limites. O ponto de vista escolhido pela artista é ao mesmo tempo sua marca registrada e a marca de sua presença latente.

Já Gabriela Bettini (ESP) traz para a mostra Paisagens Brasileiras-Pernambuco/Maranhão, realizadas a partir das obras de Frans Post – pintor barroco holandês que trabalhou as paisagens do Brasil levando-as para a Europa. A artista é conhecida por suas pinturas hiper-reais que se aproximam da estética da fotografia de arquivo. A memória pictórica de Bettini, rica em referências visuais, resulta em obras que não apenas remetem para a questão colonial, mas também para as disputas identitárias que ocorreram e ocorrem nestes espaços lidos a priori como “paradisíacos”.

Hatem Al Ahmad (SAU), por sua vez, resgata em sua vídeo-performance “To Speak in Synergy”, junto aos membros da comunidade de Abha (SAU), uma técnica de cuidado antiga que tende a fornecer certos elementos às árvores em seus processos vitais, ao mesmo tempo em que contribui para sua proteção contra mudanças de temperatura ou, por exemplo, alguns insetos. Através da ação dos corpos na paisagem, ele expõe práticas e conhecimentos tradicionais atualizando-os. Hatem afirma: “O sentido prolongado da temporalidade da performance oferece um reconhecimento das histórias e dos corpos que moldaram e habitaram o passado, bem como da racionalidade de nossos futuros”.

A questão das relações com recursos do passado, o tempo e a forma como ele nos interpela aparece reinterpretada como um cenário fictício na obra de Zara Al Ghamdi (SAU) “Echo of the past”, uma instalação com seiscentas peças de blocos de areia e argila fabricados que busca expressar, através do resgate de técnicas antigas de construção, as formas pelas quais o tempo afeta a existência. As rachaduras visíveis nessa orografia imaginária estariam revelando o colapso dos arquétipos tradicionais ou, pelo menos, tensionando as tradições ancestrais vernáculas com um presente que as altera.

Em uma dimensão diferente, a instalação “Moebius” de Alejandra González Soca (URY) tem como objetivo “Cultivar o vazio”. Segundo ela, “convivem dois tempos de um mesmo rosto para gerar uma matriz de eventos onde a germinação e a ação performática modificam constantemente a peça e, portanto, as possíveis relações com ela”.  “Moebius, continua a artista, “aspira a criar um espaço quase ritual que questiona a ideia de um sujeito autoconsciente e seguro de si mesmo, a partir de uma vulnerabilidade assumida e oferecida. Um evento cíclico e efêmero, onde o que acontece de alguma forma evidencia a mínima distância entre os processos de construção e destruição”. A obra da artista se modifica ao longo da exposição.

“Unir a ecologia, a conservação da natureza e a arte permite um diálogo de ideias que vai além das culturas. É necessário aproximar esses mundos e, assim, abrir o campo de possibilidades para ativar um novo imaginário de colaboração”, é o que afirma a artista Stéphanie Pommeret (FRA), que desenvolve em sua série de fotografias “Tous Migrants”, uma síntese poética possível na qual explora as maneiras como nos relacionamos como migrantes com nosso ambiente. Este projeto realizado na reserva natural da baía de Saint-Brieuc a levou a uma longa observação que resultou na operação de apropriação das fotografias naturalistas de Alain Ponsero, combinadas com suas próprias imagens, servindo para reivindicar “a hospitalidade como o único ambiente que favorece o futuro de nossa espécie”. Descobrir o mundo do outro, conhecer seus conhecimentos, sentir sua sensibilidade desencadeia um novo olhar sobre seu horizonte.

Sara Abdu (SAU) “Anatomy Of Remembrance” oferece um conjunto de paisagens imaginárias que procedem do seu interesse em explorar as qualidades indiciais de sentidos distintos da visão. Com base nas memórias olfativas, ela resgata sua imediatez para evocar uma imagem mental do passado e suas emoções, resultando em cartografias psicogeográficas suspensas com as quais Abdu explora o lugar ou loci da memória dentro de nós e cria um ambiente particular ao enfrentar essas topografias do passado.

No dia 20 de março, dia da abertura da exposição, entre as 17h e as 18h, haverá uma visita guiada com a diretora artística da BIENALSUR, Diana Wechsler, e os artistas Maurício Dias e Walter Riedweg (Dias & Riedweg), Matilde Marín e Alejandra González Soca. Os visitantes que estiverem nas galerias poderão participar livremente, sem necessidade de emissão de ingresso específico.

BIENALSUR

Uma ampla proposta de arte, cultura e pensamento contemporâneo que rompe com a ideia de geografia estabelecida, ao criar uma grande rede de unidades autônomas em torno do evento, que tem o quilômetro zero no Museu da Imigração, Buenos Aires, e se estende a mais de 18 mil km, até Tóquio, Japão, na Universidade Nacional de Belas Artes e Música. Criada pela Universidade Nacional de Tres de Febrero (UNTREF), na capital argentina, nasceu com o propósito de buscar outras dinâmicas para a arte e para a cultura, fazendo chamadas abertas a curadores e artistas de todo o mundo, sem temas pré-determinados.

“A BIENALSUR prova que a arte é a melhor ferramenta para superar as fronteiras políticas e identitárias que colocam em tensão as relações internacionais”, comenta Aníbal Jozami, sociólogo que idealizou a BIENALSUR junto com a historiadora e curadora Diana Wechsler. Ambos são acadêmicos – respectivamente Reitor Emérito e Vice-Reitora da Universidad Nacional de Tres de Febrero, universidade pública da Argentina. A primeira edição do evento foi realizada em 2017, com a participação de mais de 400 artistas em pelo menos 80 espaços, em 34 cidades de 16 países. Em 2019 o mapa foi ampliado para 112 áreas em 47 cidades de 21 países; em 2021, apesar da Pandemia, aconteceu em 120 locais, em 48 cidades de 24 países da América, da Ásia e da Europa.  Mais de 1.800 artistas de todo o mundo participaram das três primeiras edições do evento.

Exposições de Paulo Pasta e Iberê Camargo 

05/mar

 

Paulo Pasta retornou à Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS. Em diálogo com sua exposição, Paulo Pasta fez a curadoria de obras de seu professor e amigo Iberê Camargo para “Eclipses”. São 19 obras, algumas de grandes dimensões, em que percebe cores crepusculares na produção do pintor. As duas aberturas ocorreram no dia 02 de março. O artista e Lorenzo Mammì, um dos nomes mais importantes da crítica cultural brasileira, conversaram sobre a sua produção.  

Após um hiato de dez anos, Paulo Pasta, um dos artistas mais respeitados e bem-sucedidos do país, retornou à Fundação Iberê Camargo – em exibição até 19 de maio – para celebrar 40 anos de trajetória. A exposição “Paulo Pasta Para que serve uma pintura conta com 40 trabalhos de formas distintas faixas horizontais e verticais, quadros, retângulos que desafiam o artista a enfrentar a superfície das telas. A pintura de Paulo Pasta é uma forma de construir um lugar, um ambiente que se transforma conforme as variações de cor e de luz.    

Por outro lado, suas combinações cromáticas, marcadas por baixos contrastes e passagens suaves entre um tom e outro, acabam por tensionar os limites dessas divisões. Paulo Pasta cria a sensação de que áreas do quadro parecem pulsar para fora da tela, como se quisessem se espalhar pelo mundo. Seu processo de construção, em algumas obras, inclui também a utilização da cera, que tira o brilho do óleo, dando “lentidão” para a cor. O trabalho de acrescentar e testar misturas dá origem aos tons impuros e únicos que caracterizam sua pintura.   

No catálogo da mostra, Lorenzo Mammì, doutor em Filosofia pela USP, onde é professor de História da Filosofia Medieval desde 2003, escreve: “Os retângulos não são apenas combinações de linhas e planos: parece que alguma vez, num passado semiesquecido, foram alguma coisa como portas, vigas, colunas, reais ou pintadas, sem que o pintor nos diga (o saiba) o que foram. O mesmo quanto às cores. Elas funcionam, em parte, como timbres musicais, determinando a estrutura do espaço. É um princípio da pintura tonal: cada instrumento de uma orquestra tem um som específico que faz com que pareça mais próximo ou distante. Instrumentos mais carregados de harmônicos (sons secundários que envolvem o som principal) parecem naturalmente mais longínquos: uma trompa será sempre mais distante que um trompete, um oboé de uma clarineta. Da mesma forma, um vermelho, no limite inferior do espectro cromático, será sempre mais encorpado que um azul, que pertence ao limite superior; portanto, o vermelho será mais profundo, o azul mais superficial. Mas o uso da cor nas pinturas de Pasta não leva em conta apenas essas relações físicas e sim, também, o caráter afetivo que toda cor carrega e que é dado tanto pelas experiências anteriores de cada um, quanto, no caso das pinturas, por ser o resultado de uma série de operações e decisões calculadas. Nos trabalhos de Pasta, estas não se revelam por rastros do movimento do pincel na superfície da tela, que costuma ser muito lisa, mas pelo esforço perceptível com que cada cor procura um ajuste com aquelas que estão ao redor. As cores de Pasta são geralmente muito elaboradas, fruto de uma combinação minuciosa de pigmentos. Se, uma vez distendidas na tela, elas parecem simples, é porque atribuímos boa parte de suas características à luz atmosférica, e não à matéria pictórica. Nesse sentido também, as obras de Pasta conservam algum ilusionismo.”   

 

Os Eclipses de Iberê pelo olhar de Pasta  

Em diálogo com sua exposição, Paulo Pasta fez a curadoria de obras de seu professor e amigo Iberê Camargo para “Eclipses”. São 19 obras, algumas de grandes dimensões, em que Pasta percebe cores crepusculares: “Iberê lançava mão da matéria, quase um barro original, de onde tudo poderia brotar. Suas cores também não estariam dissociadas dessa matéria, lugar do qual, no dizer de Ferreira Gullar, elas surgiriam “como gemas sujas da noite, arrancadas ao caos” (…) A melhor metáfora, para mim, sobre as cores de Iberê, é a do eclipse. Para além do aspecto noturno de seus trabalhos, a luz construída por ele parece não iluminar, não aquecer, mais ou menos como a sugestão de um sol que foi fechado.”   

Paulo Pasta conheceu Iberê Camargo no início da década de 1990, em um workshop com artistas consagrados, no Centro Cultural São Paulo. A partir daí, começaram a trocar cartas e telefonemas. Para Paulo Pasta, aquele encontro foi a confirmação de sua vocação, a prova da existência da pintura, e do pintor.  “Naquele momento (que conheceu Iberê), ele representou, para mim, a confirmação da vocação, a prova da existência da pintura, do pintor. No final da década de 1970, quando comecei a fazer faculdade, existia um predomínio da arte conceitual. Também nesse sentido, Iberê representava uma exceção: ele vivia a vida da própria pintura, perfazendo uma relação simbiótica entre arte e vida. Na contramão das tendências nacionais/populares, ele se evidenciava como uma espécie de outsider, construindo uma visão singular dentro da pintura brasileira. Seu realismo era uma escavação interior, o que fazia repercutir, em seu trabalho, um raro acento subjetivo e expressionista. Desde então, eu o vi como uma espécie de exilado, buscando arquitetar uma “pintura grande”, no Brasil, enfrentando o mal-estar de ser um pintor em um contexto carente de tradição (ou, pelo menos, a tradição que ele gostaria). Iberê buscava, assim, criar um lugar de origem, onde memória e autobiografia pudessem se unir para fundar essa espécie de pátria real: a de pintura. Concentrando-se na experiência da pintura e do pintor, e longe de quaisquer bairrismos, sua obra revelava, por meio do seu fazer obsessivo, a gênese do próprio indivíduo, uma verdadeira condensação do próprio tempo. (…) Também penso as cores de Iberê como sendo crepusculares. Elas nos remeteriam a uma escuridão primordial, mesmo porque, na sua prática, o pintor anoitecia as cores, criando uma espécie de blackout. Só assim, talvez, ele poderia terminar uma pintura e se reconhecer nela. Possivelmente, a melhor metáfora, para mim, sobre as cores de Iberê, seja a do eclipse. Para além do aspecto noturno de seus trabalhos, a luz construída por ele parece não iluminar, não aquecer, mais ou menos como a sugestão de um sol que foi fechado. A palavra eclipse vem do grego, que significa despedida, abandono. A experiência com as cores de Iberê, para mim, obedeceria a esse mesmo conteúdo poético. Nelas, no seu sentido de não cor, somos desertados da luz solar, apesar de toda a intensidade reinante”, escreveu Paulo Pasta.    

 

Sobre o artista 

 

Paulo Pasta nasceu em 1959, em Ariranha, São Paulo, e hoje vive e trabalha na cidade de São Paulo. Formou-se no curso de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), em 1983, tornando-se mestre e doutor pela mesma universidade. Em 1984, realiza sua primeira exposição individual na Galeria D. H. L., em São Paulo. Recebe a Bolsa Emile Eddé de Artes Plásticas do MAC/USP, em 1988. Impacta na formação de uma nova geração de pintores através de relevante atividade docente, lecionando pintura na Faculdade Santa Marcelina e desenho na Universidade Presbiteriana Mackenzie, na USP e na Fundação Armando Álvares Penteado FAAP. Atualmente, ministra um curso livre de pintura. Entre as exposições individuais realizadas, destacam-se: Pintura de bolso, Millan, São Paulo (2023); Recent Paintings, David Nolan Gallery, Nova York, EUA (2022); Paulo Pasta, Cecilia Brunson Projects, Londres, Reino Unido (2022); Correspondências, Millan, São Paulo (2021); Paulo Pasta: Luz, Museu de Arte Sacra de São Paulo (2021); Projeto e Destino, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2018); Lembranças do futuro, Millan, São Paulo (2018); Setembro, Palácio Pamphilj, Roma, Itália (2016); Correntes, Sesc Belenzinho, São Paulo (2014); A pintura é que é isto, Fundação Iberê, Porto Alegre (2013); Sobrevisíveis, Centro Cultural Maria Antonia, São Paulo (2011); Paulo Pasta, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2008) e Paulo Pasta, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2006). Entre suas participações em exposições coletivas estão: Abstração: a realidade mediada, Millan, São Paulo (2022); Os Muitos e o Um, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2016); Quase figura, quase forma, Galeria Estação, São Paulo (2014); 30x Bienal, Pavilhão da Bienal, São Paulo (2013); Europalia, International Art Festival, Bruxelas, Bélgica (2011); Matisse Hoje, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2009); Panorama dos Panoramas, Museu de Arte Moderna de São Paulo MAM-SP (2008); MAM [na] Oca, Oca, São Paulo (2006); 3ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2001); Brasil +500 Mostra do Redescobrimento, Pavilhão da Bienal, São Paulo (2000); Panorama das Artes Visuais, Museu de Arte Moderna de São Paulo recebe o Grande Prêmio (1997); Havana São Paulo, Junge Kunsthaus Lateinamerika, Haus der Kulturen Der Welt, Berlim, Alemanha (1995); XXII Bienal de São Paulo (1994) e III Bienal de Cuenca, Equador (1991). Suas obras integram importantes coleções, entre as quais: Museu Reina Sofía, Madri, Espanha; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo MAC/USP; Museu de Arte Moderna de São Paulo MAM-SP; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro MAM-Rio; Museu de Belas-Artes do Rio de Janeiro; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, SP;  Instituto Itaú Cultural, São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Kunsthalle, Berlim, Alemanha, e Kunstmuseum Schloss Derneburg, Hall Art Foundation, Holle, Alemanha.   

 

Sobre o crítico Lorenzo Mammì  

Lorenzo Mammi é formado em Matérias Literárias pela Universidade dos Estudos de Florença e doutor em Filosofia pela USP, onde é professor de História da Filosofia Medieval desde 2003. Como crítico de música e de arte, organizou e publicou ensaios em diversos livros, como Volpi (Cosac Naify, 1999), Carlito Carvalhosa (Cosac Naify, 2000) e Carlos Gomes (Publifolha, 2001). Parte expressiva deles foi reunida nos livros “O que resta: arte e crítica de arte” (Companhia das Letras, 2012), com foco em artes visuais e “A fugitiva” (Companhia das Letras, 2017), que reúne os ensaios musicais. De 1999 a 2005, foi diretor do Centro Universitário Maria Antonia (USP), em São Paulo. De 2015 a 2018, foi curador-chefe de Programação e Eventos do Instituto Moreira Salles.  

 

  

 

A arte do bordado em discussão

08/fev

Grupo Almofadinhas ressignifica a arte do bordado em nova exposição. A exposição reúne três artistas contemporâneos – Fábio Carvalho (RJ), Rick Rodrigues (ES) e Rodrigo Mogiz (MG) – numa mostra em cartaz até 29 de março no Viaduto das Artes, um espaço cultural e multidisciplinar instalado na região do Barreiro, Belo Horizonte, MG, com obras que variam desde almofadas bordadas até instalações suspensas e de parede.

Sobre os artistas

Fábio Carvalho é formado na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ) e frequentou cursos livres no MAM-Rio, Itaú Cultural, EBA/UFRJ, Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro Cultural Banco do Brasil, entre outras instituições. Integrou importantes projetos de mapeamento da produção de arte no Brasil e fez inúmeras residências artísticas, sendo 7 no exterior e 4 no Brasil. Realizou ainda dezenas de exposições individuais (18) e coletivas (mais de 150), nacionais e internacionais, com ênfase para sua participação, como artista convidado, na XXII Bienal de Cerâmica (Aveiro, Portugal, 2015), TRIO Bienal (Rio de Janeiro, Brasil, 2015), Bienal de Cerveira (Portugal, 2005) e na VI Bienal de Cuenca, no Museo de Arte Moderno (Equador, 1998).

Rick Rodrigues é graduado em Artes Plásticas, Mestre em Artes pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e formado em Arte Contemporânea pelo Prêmio Energias nas Artes, Instituto Tomie Ohtake e Instituto EDP. Natural de João Neiva/ES, onde reside, já realizou uma série de exposições individuais, como Tratado geral das grandezas do ínfimo, na Galeria de Arte Ibeu, no Rio de Janeiro (RJ), em 2019, com curadoria de Cesar Kiraly. Ministrou cursos e participou de residências artísticas, feiras, festivais, rodas de conversa, mesas de debate e apresentações. Possui obras em acervos institucionais e particulares.

Rodrigo Mogiz é artista visual, graduado pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Desde 2003, se dedica ao bordado como desenho e pintura, estabelecendo conexões entre o artesanato e o design, buscando reflexões sobre relações afetivas a partir da sua homoafetividade e da tradição do bordado. Realizou cerca de 10 exposições individuais e participou de 52 mostras coletivas em Belo Horizonte, onde vive e trabalha, e em outras localidades do país e no exterior. Sua mais recente exposição foi a coletiva Tramas da Memória, da qual foi também curador, reunindo 26 artistas de Minas Gerais que atuam com arte têxtil contemporânea, no Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte, em 2022.

Sobre o curador

Shannon Botelho é crítico de arte, curador independente e professor no Departamento de Artes Visuais do Colégio Pedro II (RJ). É doutor em História e Crítica de Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes/UFRJ em parceria com a École des Hautes Études en Sciences Sociales/CRBC (Paris). É representante do Comitê de História, Teoria e Crítica de Arte da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP). Foi curador em 16 exposições, entre elas, Balangandãs (Zipper Galeria-SP 2018), Da Linha, o Fio (BNDES-RJ 2019), Estruturas Improváveis (Casa das Artes-Tavira 2020), Água Banta (MMGV-RJ 2022) e Coração na Mão (Le Salon H – Paris, 2023).

ALMOFADINHAS

No ano de 1919, meses após a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), um concurso incomum mobilizou a cidade de Petrópolis (RJ). As notícias destacavam que rapazes elegantes haviam se reunido para definir quem se sobressaía na arte de bordar e pintar almofadas trazidas da Europa, especialmente para a ocasião. O escritor Raimundo Magalhães, pesquisador e conhecedor dos costumes da época, conta que o termo “almofadinha” teria surgido naquele momento para designar “tipos afetados, cheios de salamaleques e não-me-toques”. Quase um século depois, três artistas, Fábio Carvalho, Rick Rodrigues e Rodrigo Mogiz, subverteram a nomenclatura utilizada para ridicularizar aqueles homens que bordavam na Região Serrana Fluminense e se organizaram em um coletivo artístico que possui como foco de interesse o desenvolvimento de poéticas visuais centradas no bordado. No ano de 2017, o coletivo apresentou em Belo Horizonte uma exposição que revelava ao público não somente suas obras em bordado, mas também seu pensamento e posicionamento diante de tão grandes desafios. O grupo seguiu produzindo, cada qual em seu lugar – cada um dos artistas vive em uma cidade diferente: Rio de Janeiro, João Neiva e Belo Horizonte -, apresentaram seus trabalhos coletivamente ou individualmente em outros espaços e agora retornam à cidade para apresentar alguns trabalhos inéditos e uma exposição com outro recorte e curadoria. Desde então, o tecido social em todo país foi intensamente desgastado pela polarização política, pela crise econômica e, sobretudo, pelo avanço da lógica individualista que rege o tempo presente. Por esta razão é possível perceber, no contexto da exposição, mudanças significativas nos modos de apresentar os trabalhos, seus temas e suportes. Se por um lado as identidades e visualidades parecem permanecer, os sujeitos e contextos sofreram transformações significativas. Desde o episódio de Petrópolis em 1919, infelizmente, muito preconceito e ignorância permanecem. Mais do que nunca, a perseguição e censura aos comportamentos tidos como desviantes de um certo padrão conservador – aquele que cumpre com os estereótipos impostos por uma sociedade retrógrada, da “moral e bons costumes” – avançam em marcha assustadora. Para muitos ainda parece estranho, ou mesmo emasculante, quando homens se dedicam a atividades normalmente percebidas, pela maioria, como “coisa de mulher”: o ato de bordar lenços, paninhos de mesa e almofadas, pintar pratos de porcelana, construir objetos delicados com flores e borboletas, discutir questões de afeto, memória e sexualidade. Para os padrões de pensamento limitado, estas atividades humanas são impossíveis de coexistir lado a lado a sua noção de masculinidade. No contexto social geral, ao menos desde a Idade Média homens que bordam, certamente, não são uma novidade. No meio artístico tampouco. Bispo do Rosário e Leonilson, figuram como exemplos recentes de artistas que consolidaram as suas poéticas por meio dos bordados. Este também é o caso de Fábio Carvalho, Rick Rodrigues e Rodrigo Mogiz. Nesta exposição cada uma das obras reflete os momentos de sua própria criação e discutem as situações em que se encontram os artistas, constituindo através de suas formas, imagens e cores, narrativas singulares. No caso de Fábio Carvalho e Rick Rodrigues, por exemplo, percebemos que as armas – tema tão em voga no Brasil recente – aparecem nos trabalhos operando como signos das violências reais e simbólicas sobre os corpos e existências não hegemônicas. Já nos trabalhos de Rodrigo Mogiz, a cor é destacada e ganha outras funções, uma vez que opera como veículo de informação e definição. Camuflagens e arco-íris, figuras e textos, utensílios de bordar e objetos prosaicos passam a operar nesta exposição como agentes discursivos, ou melhor, como elementos que ratificam a diversidade, a não violência e a pluralidade – de pensamento e de existência – como sendo formas de interação com o mundo. Por esta razão os trabalhos dos três artistas estão apresentados na galeria sem uma delimitação exata, como espaços a serem ocupados por um ou outro. Cada obra apresenta a outra, completando aquilo que coletivamente é construído. Como discursividade unívoca do coletivo, esta exposição trata do presente, reflete o passado e mira outros futuros possíveis, em que pesem mais as pluralidades, os saberes coletivos, a horizontalidade das relações e a valorização do afeto como um instrumento efetivo de transformação perene do mundo.

Shannon Botelho

2024

Dois conceituados artistas na Paulo Darzé

19/set

 

Com abertura no dia 21 de setembro, a Paulo Darzé Galeria, Corredor da Vitória, Salvador, inaugura as exposições de Paulo Pasta, um dos mais conceituados pintores brasileiros do cenário contemporâneo, (Galeria 1, andar térreo), e com o título de “Linha em expansão”, em sua primeira exposição na Bahia, pinturas de Lúcia Glaz (Galeria 2, segundo andar). As mostras ficam abertas ao público até o dia 21 de outubro.

Sobre o artista

Paulo Pasta nasceu em Ariranha, São Paulo, em 1959, e com suas pinturas busca construir uma temporalidade na pintura. As cores e as formas dos trabalhos do artista parecem planificar a percepção da passagem do tempo: diante de suas telas, o presente se coloca de maneira quase absoluta. As formas e as geometrias representadas nas atmosferas espessas desenhadas pelo artista são vagarosamente reconhecidas através do olhar atento do espectador, que é, por sua vez, colocado entre horizontes e obstáculos que impedem que se veja o espaço da representação com nitidez. A densidade e o tempo criados por Paulo Pasta são contrários a qualquer concessão ao mundo prático e a suas necessidades de presteza e prontidão: é no rumor e na abertura ao tempo presente que recaem sua poética. Doutor em Artes plásticas pela Universidade de São Paulo (2011), realizou as exposições individuais Pintura de bolso (2023), Correspondências (2021) e Lembranças do futuro (2018), na Millan (SP), além de outras mostras individuais em instituições como: David Nolan Gallery (Nova York, EUA, 2022); Cecilia Brunson Projects (Londres, Reino Unido, 2022); Museu de Arte Sacra de São Paulo (SP, 2021); Instituto Tomie Ohtake (SP, 2018); Palazzo Pamphilj (Roma, Itália, 2016); Sesc Belenzinho (SP, 2014); Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre, RS, 2013); Centro Cultural Maria Antônia (SP, 2011); Centro Cultural Banco do Brasil (RJ, 2008); e Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP, 2006). Entre suas participações em exposições coletivas estão: Abstração: a realidade mediada (Millan, SP, 2022); Os muitos e o um (Instituto Tomie Ohtake, SP, 2016); 30xBienal (Pavilhão da Bienal, SP, 2013); Europalia, International Arts Festival (Bruxelas, Bélgica, 2011); Matisse hoje (Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP, 2009); Panorama dos panoramas (MAM-SP, 2008); Mam (na) oca: Arte Brasileira do Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo (Oca, SP, 2006); Arte por toda parte (3ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS, 2001); Brasil + 500 – Mostra do Redescobrimento (Pavilhão da Bienal, SP, 2000); III Bienal de Cuenca (Equador, 1991); entre outras. Suas obras integram diversas coleções, entre as quais estão: Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (Madrid, Espanha), Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP), Museu de Arte Moderna de São Paulo (SP), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (RJ), Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (SP), Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (RJ), Kunsthalle (Berlim, Alemanha), Kunstmuseum Schloss Derneburg (Hall Art Foundation, Holle, Alemanha) e Instituto Figueiredo Ferraz (Ribeirão Preto, SP).

Apresentação da mostra

por Jacopo Crivelli Visconti – “Ser pintura”

Quem acompanha a pintura de Paulo Pasta sabe que ela não opera por meio de saltos ou rupturas, mas por um desenvolvimento silencioso, natural, um prolongar-se de tentativas e exercícios que se dão de uma tela para outra, ao longo do tempo. O prazer de ver, após alguns meses ou anos de intervalo, uma nova exposição de obras do artista é comparável ao de acompanhar, mais ou menos de perto e com uma convivência mais ou menos assídua, o crescimento de filhos de amigos. Pode acontecer que, à distância de meses, eles ainda pareçam iguais, mas pouco a pouco fica evidente que não, eles não são os mesmos. Aliás, já se tornaram totalmente outros. Quando voltei ao ateliê do Paulo, transcorridos anos desde a última vez, para ver as telas que estariam nesta exposição, a conversa se aglutinou ao redor das pequenas mudanças na comparação entre uma tela e outra, ou, para ser mais preciso, na maneira como algo que num quadro chamou a sua atenção e o inspirou, se transforma ao ser levado para outro. Uma linha particularmente sutil, dois retângulos lado a lado contra um fundo homogêneo, uma série de quadrados que se apoiam uns nos outros: diante de um universo tão diáfano e vibrátil, mesmo coisas que a princípio são iguais ou muito parecidas se tornam completamente distintas quando algo ao redor delas muda. A ideia de que um elemento possa “chamar a atenção” do próprio autor do quadro não deve surpreender. Apesar de ter um controle razoável sobre sua composição, como demonstram a nitidez das formas e as variações relativamente limitadas em sua paleta, Paulo é o primeiro a aprender com o resultado. Porque além de pintar, ele olha: é preciso um tempo para fazer, e outro para entender. Não é por acaso que as obras sejam consideradas acabadas, muitas vezes, dias ou semanas depois de terem recebido a última pincelada. É nesse momento que Paulo retira a fita que protege a faixa branca que, frequentemente, fecha a composição em sua parte inferior. Numa das pinturas mais surpreendentes da exposição, na qual três quadrados se empilham num equilíbrio aparentemente instável, ao retirar a fita Paulo percebeu que o branco destoava do resto, e decidiu então transformá-lo num amarelo pálido. O que torna a composição insólita não é tanto esse detalhe, mas a presença dos quadrados. Trata-se de uma forma que também aparece em outras telas da exposição, mas está longe de poder ser considerada frequente no vocabulário do artista. Além disso, a maneira desengonçada como esses quadrados se apoiam uns nos outros, indicando que a torre instável que conformam poderia desmoronar a qualquer momento, sugere um peso, e implicitamente uma tridimensionalidade, ausentes na maioria das outras obras. Apenas outra pintura na exposição sugere algo semelhante ao introduzir um segundo elemento que pode ser considerado raro na poética de Paulo: uma linha diagonal. Nesse caso, a linha fecha na parte superior uma faixa branca vertical, que passa a sugerir, assim, o que poderia ser uma porta ou uma janela entreaberta, e, de novo, a tridimensionalidade. Mas é uma tridimensionalidade que tem a ver antes de mais nada com a própria história da pintura: com o fato de que uma linha diagonal numa tela pode ser usada para sugerir uma perspectiva ou um ponto de fuga. Talvez não seja por acaso, então, que nessa tela, ao invés de uma única faixa branca na parte inferior, Paulo tenha criado uma pequena moldura, quase imperceptível, que percorre os quatro lados da tela, como uma janela por onde olhamos uma cena. Mas é uma cena abstrata, esvaziada, onde as arquiteturas metafísicas de um de Chirico ou as cores de um Piero della Francesca viraram apenas lembranças. É a ideia de uma cena. E uma ideia, no fundo, totalmente alheia a essas pinturas, que nunca contam uma história, nunca pedem para ser “entendidas”, muito menos de um único jeito. As obras de Paulo Pasta parecem afirmar o tempo todo que são apenas campos de cor sobre uma superfície plana, e que qualquer arquitetura ou alusão a elementos do mundo real que possamos ler nelas é apenas isso, uma leitura feita por quem olha, e não algo implícito ou sugerido pela pintura. Não há por que buscar nessas pinturas uma razão de ser ou um significado, não há uma explicação ou uma lógica. Elas apenas existem, como existem uma montanha, uma pedra, uma onda no mar. Essa aparente simplicidade é em realidade o resultado de uma reflexão longa e coerente, a tradução física de um pensamento filosófico, de um olhar e de um profundo conhecimento teórico e prático. As pinturas, porém, não sabem nada disso. Elas são, e nada mais.

Sobre a artista

Lúcia Glaz nasceu em Santos, litoral de SP no ano de 1961. Pintora desde jovem, participou de várias exposições. Entre elas a coletiva “Razão concreta”, ao lado de pintores como Volpi, Rubem Valentim, Judith Lauand e outros, na Galeria Berenice Arvani (SP), em abril de 2016. No ano seguinte participou da coletiva SPART 2001. Em setembro desse mesmo ano na Galeria Berenice Arvani, realizou individual com curadoria de Pedro Mastrobuono, “A beleza é metafísica na pintura de Lúcia Glaz”. Participou da Pinta Miami Art Fair em dezembro de 2017. Em setembro de 2018 fez outra individual, desta vez no Rio de Janeiro, na Galeria Almacén Thebaldi “O diálogo da cor”. Participou da PARTE/Feira de Arte Contemporânea, em 2018. Integrou a exposição coletiva “Modernos Eternos” (Mosteiro de São Bento/SP), em agosto de 2019. Em novembro de 2019 participou do Projeto Felicidade-Clube Hebraica; fez uma individual na Pinacoteca Benedicto Calixto, “A Pintura como processo”, também em novembro de 2019. Participou da feira de arte On Line Arte Viewing Room pela Galeria Berenice Arvani em agosto de 2020, “A geometria como forma de expressão “. Participou da Expo/Sevivon-Beit-Chabat em dezembro de 2020. Em setembro de 2023, individual na Paulo Darzé Galeria, com o título de “Linha em expansão”, com apresentação de Antonio Gonçalves Filho.

Apresentação da mostra

por Antonio Gonçalves Filho – “Liberdade construtiva”

Embora de uma outra geração, a pintura de Lúcia Glaz (1961) guarda uma proximidade com mestres de outras escolas que antecederam sua iniciação na arte nos anos 1980, sendo possível citar pelo menos dois nomes com os quais se identifica: o francês François Morellet (1926-2016), cuja obra, nos anos 1950, prefigura o minimalismo, e o construtivista brasileiro Milton Dacosta (1915-1988). Nesta sua primeira exposição individual na Galeria Paulo Darzé, Lúcia Glaz presta um tributo a Morellet e a Dacosta, exibindo uma nova série de pinturas que evocam tanto a estrutura como a figura do quadrado, marcantes na carreira do francês, de 1953 em diante, como as construções com a referida figura geométrica pintada por Dacosta no mesmo período (e suas composições elaboradas entre 1957 e 1958 justificam essa comparação). Se as primeiras estruturas de Morellet com o quadrado (1953) dividiam a superfície da tela em dezesseis partes iguais, replicando um ordenamento típico de Mondrian, as de Milton Dacosta usavam o quadrado num registro próximo das construções sintéticas de Morandi (sem a pureza formal de Mondrian). Entre os dois, Lúcia Glaz descobre uma solução que não abandona o racionalismo abstrato, mas amplia seu vocabulário. Trata-se de uma investigação que caminha para a forma como Albers caminhou para suas pesquisas sobre a expansão da cor. Uma afinidade, mais que uma influência. Há um projeto gráfico nas pinturas desta exposição que, embora reverente à ortogonalidade, subverte essa ordem para afirmar seu compromisso com a natureza lírica do movimento da figura do quadrado, forma criada pelo homem que, aliás, quer ser perfeita. Pintada sobre a superfície terrosa nas telas de Lúcia Glaz, essa forma, no entanto, resiste à racionalização serialista de Mondrian para sugerir um jogo lúdico com o espectador. A abstração geométrica não extermina a poesia dessa movimentação aleatória de dados que brinca com a aventura cinética de Morellet sem confrontar sua adesão à turma de Sobrino e Julio Le Parc, em 1958. As formas de expressão de Lúcia Glaz não passam pela adesão a qualquer movimento. Antes de se integrar a métodos, ela prefere se render voluntariamente à instabilidade sugerida pela percepção física da figura do quadrado como uma entidade não física que ocupa o espaço, mais ou menos como os quadrados transformados pelas linhas de néon nas pinturas de Morellet. São decisões subjetivas que resistem a uma execução mecânica e revelam o virtuosismo de Lúcia Glaz como renovadora da linguagem construtiva que tanto marcou a arte brasileira. Ela agrega o intimismo de Paul Klee num registro monocromático, sóbrio e próximo das coisas concretas do mundo. Um equilíbrio necessário num mundo desordenado.

O fluxo de narrativas de José Rufino

18/set

Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa e Oi, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, apresentam – até 29 de outubro – a exposição inédita de José Rufino que ocupa três andares do Futuros – Arte e Tecnologia sendo esta a 24ª individual do artista apresentando instalação criada especialmente para a ocupação, e integrou a programação paralela da ArtRio 2023.

Durante mais de 20 anos, José Rufino conciliou a carreira de geólogo e paleontólogo com a de artista visual, iniciada em 1984 – à qual se dedica integralmente há quase três décadas. A influência do trabalho científico em sua produção artística se iniciou de forma esporádica e instintiva, mas ganhou importância crescente em sua pesquisa ao longo do tempo. O “Projeto Fossilium” se propõe a ser um divisor de águas na trajetória do artista ao radicalizar de forma definitiva a junção entre os dois saberes, enquanto lados indissociáveis de sua obra poético-científica. A curadoria é de Franklin Espath Pedroso.

“Sempre disse que a arte tinha surgido para completar aquilo que a ciência e a paleontologia não me permitem ficcionar, subverter o estado das coisas da natureza. O paleontólogo só pode medir, comparar, dar nome científico, enfim, não pode inventar. E por isso vinha a arte, para completar esse outro lado”, explica José Rufino. Ao longo dos anos, compreendeu a ciência também com gosto do pesquisador e com mais sensibilidade. E por outro lado, foi entendendo que a arte também precisava de métodos. “Hoje entendo a arte como ciência da arte. Ela passou a ser encarada como área de conhecimento pelo CNPq desde os anos 80, então não tenho mais pudor de chamar hoje de Ciência da Arte, assim como existem as Ciências Humanas, Exatas e Naturais”, completa.

“Ao propor esse projeto percebi que Rufino já tinha claramente esses dois lados manifestos, que havia espaço para um aprofundamento mais contundente dessa pesquisa que ele vinha desenvolvendo, mas ainda não tão evidenciada em sua obra. Acredito que ele agora teve a ousadia necessária para estabelecer essa comunhão”, analisa Franklin Pedroso, curador da mostra.

“O Projeto Fossilium promove um fluxo de narrativas nas quais se misturam temporalidades, realidade e ficção em um trânsito entre arte, ciência, história e natureza. Esta abordagem de Rufino está em total sintonia com a proposta do nosso espaço”, destaca o diretor artístico do Futuros – Arte e Tecnologia, Felipe de Assis.

A ocupação do Futuros – Arte e Tecnologia começa no térreo, onde vídeos de making of de José Rufino em seu ateliê na Paraíba e uma videoarte produzida pelo artista serão exibidos nos três monitores próximos à escada e no videowall, respectivamente. Nos três andares seguintes, Fossilium recria o percurso do cientista – desde a pesquisa de campo, a coleta de materiais, passando pela catalogação e identificação até a exibição -, desta vez, no entanto, munido da fantasia, da abertura para a ficção próprias do fazer artístico.

Batizado de Mente et Maleo – lema universal da Geologia que significa Mente e Martelo -, o espaço expositivo do primeiro andar, abrigará obras criadas a partir de objetos e impressões coletadas em expedições realizadas por José Rufino em regiões do Cariri, Sertão, Curimataú, Agreste, Seridó e litoral da Paraíba, estado natal do artista, formando uma espécie de reserva técnica,  como se um cientista tivesse acabado de chegar de suas expedições, desembalando os materiais de campo, para começar a classificá-los e apresentá-los ao público. Assim como o paleontólogo resgata histórias, fragmentadas em provas de vida condensadas pelo peso do tempo, José Rufino busca novas possibilidades de um resgate afetivo das memórias, estabelecendo narrativas que buscam unir passado e o presente, marca recorrente de sua trajetória artística.

O nome do segundo andar da mostra, De Natura Fossilium (Sobre a natureza dos fósseis, em latim), mote da exposição, repete o título de um dos livros do cientista alemão Georgius Agricola (1494-1555), considerado o “pai da mineralogia”: “Na época de Agricola, a palavra fóssil tinha um significado mais amplo e se referia a minerais, fósseis, tudo que era retirado do chão”, conta José Rufino. Nesse espaço, cria seu museu imaginário e expande a relação entre a arte e a ciência em peças onde os dois campos se fundem e confundem. Pedras, gesso, ferro, folhagens, areia, conchas, ossos, concreto e terra são alguns dos materiais que dão origem a fósseis quiméricos, mas cuja abstração não se desprende de todo a uma lógica científica, evidenciando a comunhão entre os dois saberes na obra do artista. Compõem ainda a mostra intervenções sobre fotografias e gravuras, algumas com mais de cem anos, que foram as primeiras representações de tempos passados, os paleoambientes.

José Rufino aproveita a ocasião para levantar uma questão que acredita ser fundamental – em nenhuma das obras são utilizados fósseis reais, fato que será sinalizado na exposição. Por seu valor histórico-científico, a legislação brasileira não permite o uso nem a posse particular desses materiais: “Acho pertinente e apropriado em uma mostra que fala sobre o assunto salientar esse fato para o público e alertar inclusive para o tráfico internacional de fósseis e a falta de cuidado com o patrimônio geológico-paleontológico”, destaca.

A última parte da mostra – cujo nome também se apropria do nome de um livro de Agricola, De re mettalica (Da questão dos metais) – ocupa o terceiro andar da instituição, onde José Rufino cria uma instalação site specific sobre a mineração. A obra versa sobre a relação do ser humano com a natureza, os bens minerais como fonte de lucro, o ciclo de decomposição das rochas e a evolução da vida. Blocos de basalto, tecidos com fotografias e desenhos, almofadas pneumáticas e pontas de perfuração usadas na mineração são algumas das peças que são ressignificadas pelo artista em um cenário cujo tom catastrófico convida o público a refletir sobre a urgência do assunto.

Depois de enfrentar, no início da carreira, certa resistência em relação à coexistência entre as duas atividades, José Rufino acredita ter hoje seus dois “eus” um pouco melhor compreendidos: “Havia uma espécie de limbo onde por vezes eu me sentia, como se cada lado me diminuísse em relação ao outro, como se fosse uma coexistência proibida, campos incompatíveis e inconciliáveis”, acredita. Hoje, se entende cada vez mais à vontade como produto desses dois saberes. “Essa mostra é como uma retomada de terreno, de pensamento. Por isso a considero a mais importante de todo o meu percurso artístico. É uma espécie de transe entre as epistemologias da geologia, paleontologia e arte. É um desafio enorme, como se eu estivesse tentando, de fato, propor uma área de atuação conjunta”.

Franklin Pedroso endossa o pensamento do artista e completa: “Ao percorrer a exposição, o visitante é instigado a questionar nossa história, a ciência e, sobretudo, o papel da arte. José Rufino assume o desafio de um grande artista, cujo trabalho transcende as fronteiras da arte e da ciência, deixando um legado de questionamentos sobre a preservação do patrimônio natural e reflexões sobre nosso passado, presente e futuro”.

Sobre o artista

José Rufino (José Augusto Costa de Almeida) nasceu em 1965, em João Pessoa, Paraíba, onde vive e trabalha. Artista e professor de Artes Visuais da Universidade Federal da Paraíba. Ao longo dos 35 anos de trajetória, participou de mais de 300 exposições no Brasil e exterior, entre individuais e coletivas. Desenvolveu sua jornada artística passando da poesia para a poesia-visual e, em seguida, para a arte-postal e desenhos, ainda nos anos 1980.  O universo do declínio das plantações de cana-de-açúcar no Brasil conduziu seu trabalho inicial em desenhos e instalações com mobiliário e documentos de família e institucionais. Nos anos 90, deu início a uma longa série de instalações, Respiratio, Lacrymatio, Plasmatio, Faustus, Ulysses, Divortium Aquarum, dentre outras, sempre vinculadas a questões sociais e políticas. Realizou grandes individuais, em espaços como Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Museu Oscar Niemeyer, Curitiba; Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro; Casa França Brasil, Rio de Janeiro; Museu Andy Warhol, Pittsburgh, USA; e Palácio das Artes, Porto, Portugal.  Participou de Bienais como a 25ª Bienal Internacional de São Paulo, e das Bienais de Havana, Venezuela, Mercosul, Curitiba e Bienal de Cerveira, em Portugal. Integrou em 2019, a Bienal Internacional de Gaia, também em Portugal. Em 2016 ganhou o prêmio Mário Pedrosa – Artista Contemporâneo, da Associação Brasileira de Críticos de Arte. Tem realizado incursões nas linguagens cinematográfica e literária, sendo autor do livro Afagos, editado pela Cosac e Naif, e do livro Desviver, ainda inédito, mas que ganhou o prêmio Bolsa de Criação Literária da Funarte. Produziu os livros de artista “Olholho” e “Mosto”, ambos com tiragem assinada de 100 exemplares. Diálogos dicotômicos entre memória e esquecimento, opulência e decadência ou público e privado contaminam sua produção por completo.

Sobre o curador

Franklin Espath Pedroso é arquiteto formado pela Universidade Santa Úrsula no Rio de Janeiro (1987), cursou o Mestrado em História e Crítica da Arte na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Especializou-se também em Art Administration pela New York University. Além de atuar como curador independente, ocupa-se da coordenação de montagens e produção de exposições. Foi professor adjunto no curso de Arquitetura das Faculdades Integradas Silva e Souza de 1988 a 1992. Foi curador-adjunto da IV Bienal do Mercosul. Foi curador-geral adjunto da Mostra do Redescobrimento em São Paulo e curador dos módulos Moderno e Contemporâneo. É membro do Conselho Curatorial do Instituto de Arte Contemporânea em São Paulo. Realizou também curadoria de mostras no Museo de Arte Moderno de Buenos Aires, CAPC de Bordeaux, National Museum of Women in the Arts em Washington, bem como coordenou diversas mostras como Body and Soul no Guggenheim Museum de Nova York, Museo de Bellas Artes em Santiago, Fundación PROA, Centro de Arte Recoleta e Museo de Bellas Artes, ambos em Buenos Aires. Realizou a curadoria da retrospectiva do artista Luis Felipe Noé para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a exposição da artista Silvia Rivas no Museo de Arte Latino Americano Eduardo Costantini em Buenos Aires e organizou o livro sobre o Palácio Pereda, também em Buenos Aires. Foi curador assistente da coleção do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, tendo experiência também no Museum of Modern Art de Nova York trabalhando na produção, organização e montagem de exposições. Realizou design e execução de montagem de outras exposições, além de ter coordenado a montagem das Salas Especiais da 23ª Bienal Internacional de São Paulo. Sua experiência internacional se estende à produção de exposições de arte em importantes instituições de Nova York, Washington, Chicago, Paris, Bordeaux, Glasgow, Colônia, Sevilla, Lisboa, Copenhagen, entre outras.

Galerias

As galerias do centro cultural já foram ocupadas por expoentes internacionais de diversas vertentes, como Andy Warhol, Nam June Paik, Tony Oursler, Jean-Luc Godard, Pierre et Gilles, David Lachapelle, Chantal Akerman; e brasileiros como Luiz Zerbini, Rosângela Rennó, Daniel Senise, Lenora de Barros, Iran do Espírito Santo, Arthur Omar, Marcos Chaves e outros. Nas artes cênicas, o espaço foi palco de espetáculos inéditos e premiados de Felipe Hirsh, Gerald Thomas, Enrique Diaz, Antonio Abujamra, Denise Stoklos, Victor Garcia Peralta, Aderbal Freire, João Fonseca e outros. Com quase duas décadas de trajetória, Futuros – Arte e Tecnologia também sediou diversos eventos de destaque na cena cultural carioca, incluindo Festival do Rio, Panorama de Dança, FIL, Multiplicidade, Novas Frequências e Tempo_Festival, sendo os três últimos especialmente concebidos para a instituição.

Festival de arte na Lapa

07/jul

Galeria Paulo Branquinho, Lapa, Rio de Janeiro, RJ,  reabre no dia 08 de julho com coletiva de mulheres “Elas”. Paulo Branquinho celebra reabertura de sua galeria com exposição de artistas mulheres e reedita sucesso do Festival de Bandeiras tomando a rua na Lapa.

América Cupello, Andréa Facchini, Antônia Philippsen, Carlota Philippsen, Clarisse Tarran, Claudia Watkins, Ecila Huste, Edineusa Bezerril, Esther Barki, Grasi Fernasky, Lia do Rio, Maria Pitú, Monica Barki e Pérola Bonfanti, integram o “time” montado por Paulo Branquinho para a reabertura da galeria que leva o nome do produtor, fechada desde a Pandemia. O universo feminino está representado pelas 14 mulheres artistas, que apresentarão suas obras em diferentes estilos e técnicas. Partindo de linguagens distintas, elas abrem um diálogo sobre suas diversidades em pinturas, fotografias, objetos e instalações.

Pérola Bonfanti, por exemplo, faz sua obra se expandir além dos limites da tela, transformando o espaço em parte de sua obra.  Monica Barki apresenta sua obra fotográfica de grande dimensão “Dream”, da série “Arquitetura do Secreto/Desejo”, que aguça as fantasias em forma de interpretação dos observadores.  Artista convidada de Mato Grosso do Sul, Carlota Philippsen traz trabalhos de fotografia e arte digital: “Beija Boi” e “Capivara Inusitada”. Lia do Rio se inspirou em Cézanne e sua série de pinturas do monte Saint Victoire, razão pela qual a fotocolagem de uma montanha que avista da janela está intitulada em francês.

A volta do Festival de Bandeiras

Habituado a transformar suas inaugurações em grandes festas entre amigos, artistas e apreciadores de arte, movimentando a tranquila Rua Morais e Vale, na Lapa, onde mantém sua galeria, Paulo Branquinho desta vez fará, em paralelo à mostra, a remontagem da instalação urbana “Festival de Bandeiras”, na Rua da Arte, ocupando as imediações. Montado pela última vez em 2018, em parceria com a Casa França-Brasil, o Centro Cultural Correios e o Centro Cultural Banco do Brasil, o festival, criado em 2016, contou com a participação de duzentos e vinte e oito artistas de diferentes estados e países, a exemplo da mexicana Abril Riveros e da japonesa Harumi Shimizu, que enviaram suas bandeiras. Nesta edição, parte das bandeiras das instalações anteriores será misturada a outras novas, de artistas que passam a integrar o grupo, criadas para a ocasião. Vale todo tipo de material, desde que resista à ação do tempo: madeira, acrílico, ferro, lona, plástico, palha e muita criatividade.

Agenda inclui show e performance

No dia da abertura das exposições, haverá apresentação da Oré Mi, uma performance- manifesto da Oficina Danças e Expressões, dirigida por Laís Salgueiro, às 17h30. Às 18h30, é a vez da banda Tecsônicos, que faz releituras de hits consagrados através da mistura de ritmos afro-brasileiros.

Paulo Verdinho

Após três anos, o produtor de artes visuais Paulo Branquinho volta à cena artística. Durante o período de reclusão forçada pela pandemia, passou a se dedicar, temporariamente, ao meio ambiente. Assumindo o personagem “Paulo Verdinho”, reflorestando sua propriedade em Minas Gerais.

Visitação exposição Elas: de 11 a 28 de julho.

Festival de Bandeiras: até o dia 28

Vânia Mignone no Instituto Tomie Ohatake

13/abr

 

 

Um grande mural dedicado à tragédia yanomami recebe o público que poderá visitar mais de cem obras nos múltiplos suportes constituintes da trajetória da artista. Na esteira dos projetos que o Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, tem realizado nos últimos anos para abrir novas investigações acerca da representatividade e da importância de artistas mulheres, o espaço paulistano traz agora a exposição “De tudo se faz canção” que, com curadoria de Priscyla Gomes, observa em retrospectiva a trajetória de Vânia Mignone, permanecendo em cartaz até 04 de junho.

Com um amplo panorama, a exposição, com mais de uma centena de obras, resgata os percursos da artista nos mais diversos formatos: desenhos, colagens, ilustrações para obras literárias, capas de discos, gravuras e pinturas. O conjunto reunido chama atenção pela vivacidade das cores, pela expressividade de figuras em grande dimensão, além da diversidade de suportes e técnicas que aparecerem conjugados, mostrando um vasto universo de experimentação, em que referências da propaganda, do design, do cinema, das histórias em quadrinhos e da música convivem com trabalhos em escalas distintas. Segundo Priscyla Gomes, “As narrativas exploradas por Vânia destacam-se pelo modo como ela articula desde questões prosaicas até aspectos latentes da cultura e da política brasileiras”.

A mostra empresta seu título de um verso da música Clube da Esquina nº 2, de Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges, composta para o álbum homônimo de 1972. A partir das conversas entre a curadora e a artista, a proposta foi resgatar a importância da MPB no processo criativo de Vânia. A artista paulista faz recorrente alusão ao seu anseio de fazer de sua pintura canção, contagiando aquele que a observa. “Vânia construiu para si uma estrada, incorporando a música popular brasileira ao seu processo criativo cotidiano de ateliê”, destaca a curadora do Instituto Tomie Ohtake.

Priscyla Gomes enfatiza a síntese sinérgica que constitui o repertório da artista, marcado por letreiros de outdoors e pela xilogravura. “Seu vasto léxico remete-se ainda à qualidade de incorporar elementos fundamentais dessas referências, dentre eles, a coesa relação entre imagem e palavra”.

O mural em grande escala e cores vibrantes dedicado ao recente episódio da tragédia humanitária yanomami, prossegue a curadora, não nos deixa esquecer que fazer canção é também refletir sobre o silêncio e suas consequências, sobre como narrar o desmedido e o intragável. “Em meio a tantos gases lacrimogênios, os trabalhos de distintas épocas dessa retrospectiva nos convidam a fabularmos, criando nossa própria canção, uma viagem de ventania pelas estradas por Vânia trilhadas até aqui”, completa.

 

Sobre a artista

Vânia Mignone, 1967, Campinas. Vive e trabalha em Campinas. É Bacharel em Publicidade e Propaganda pela PUC-Campinas e Bacharel em Educação Artística pela UNICAMP. Entre suas exposições individuais destacam-se: Ecos, Museu de Artes Visuais da UNICAMP, Campinas (2019); Eu poderia ficar quieta mas não vou, SESC, Presidente Prudente (2017); Casa Daros, Rio de Janeiro; Cenários, Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo (2014). Participou de diversas exposições coletivas como: Por um sopro de fúria e esperança, Mube, São Paulo (2021); Crônicas Cariocas para Adiar o Fim do Mundo, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro (2021); Língua Solta, Museu da Língua Portuguesa, São Paulo (2021); 1981/2021: Arte Contemporânea Brasileira na Coleção Andrea e José Olympio Pereira, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2021); Mulheres na Coleção do MAR, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro; Mínimo, Múltiplo, Comum, Pinacoteca, São Paulo; 33ª Bienal de São Paulo – Afinidades Afetivas, Fundação Bienal, São Paulo (2018).

 

 

Novo artista representado

 

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, anuncia a representação de Miguel dos Santos, artista nascido em 1944, em Caruaru, PE. O artista reside, desde os anos 1960, em João Pessoa, PB, onde estabeleceu seu ateliê. Artista autodidata, sempre explorou linguagens diversas, como a pintura, a cerâmica e a escultura em mármore e madeira, combinadas a temáticas da cultura popular do Nordeste e a mitologias dos povos originários das Américas e do Norte da África. Ao lado de nomes como Ariano Suassuna, Francisco Brennand e Gilvan Samico, fez parte do Movimento Armorial, lançado no Recife, em 1970. Figuras como Aleijadinho e Mestre Vitalino também influenciam amplamente a sua produção. O artista segue em plena atividade e desdobrando sua pesquisa, que se mantém coesa.

Em comentário da década de 1980, Ariano Suassuna abordou elementos de destaque em sua obra: “Como se pode ver pelo trabalho de Miguel dos Santos, a diferença principal entre nós escritores e artistas atuais do Nordeste – e os anteriores – o que nos caracteriza e distingue mais, é a ligação com o Realismo mágico – e não surrealismo. (…) A pintura de Miguel dos Santos é algo que me entusiasma, povoando seus quadros a óleo, ou cerâmicas, de bichos estranhos: dragões, metamorfoses, cachorros endemoninhados, santos, mitos e demônios – uma obra tão ligada ao Romanceiro e por isso mesmo tão expressiva da visão tragicamente fatalista, cruelmente alegre e miticamente verdadeira que o povo tem do real”.

Em 1977, Miguel dos Santos esteve entre os artistas brasileiros selecionados para o II Festival Mundial de Artes e Cultura Negra e Africana, o FESTAC ’77, na Nigéria, do qual participaram outras figuras de destaque da cultura brasileira, como Emanoel Araújo, Rubem Valentim e Gilberto Gil.

Em 2009, por encomenda da Prefeitura de João Pessoa, o artista criou a escultura A Pedra do Reino, localizada no Parque Sólon de Lucena, importante cartão-postal da cidade. A obra é uma homenagem a Ariano Suassuna e retrata um trecho do livro homônimo do escritor paraibano.

Entre as suas principais exposições, estão: Miguel dos Santos, Galeria Bonino, Rio de Janeiro, 1972; Image du Brésil, Manhattan Center, Bruxelas, 1973; II Festival Mundial de Artes e Cultura Negra e Africana, FESTAC ’77, Nigéria, 1977; XIV Bienal Internacional de São Paulo, 1977; Os ritmos e as formas na arte contemporânea, Kunsthalle Charlottenborg, Copenhague, 1989; A ressacralização da arte, SESC Pompeia, São Paulo, 1999; Miguel dos Santos, Galeria Ricardo Camargo, São Paulo, 2001; Movimento Armorial – 50 Anos, CCBB Rio de Janeiro e CCBB Brasília, 2022. Suas obras fazem parte do acervo de diversos museus, tais como: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP, São Paulo; Museu Casa de Cultura Hermano José, João Pessoa; Centro Cultural Benfica – UFPE, Recife; FAMA Museu – Fábrica de Arte Marcos Amaro, Itu, SP; Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB, Brasília e Museu Janete Costa de Arte Popular, Niterói, RJ.

 

osgêmeos no CCBB Rio

13/out

 

Depois da exibição em espaços como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, e pelo Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, PR, a exposição retrospectiva da dupla osgêmeos chega ao Rio de Janeiro. A mostra, que aborda a trajetória dos irmãos grafiteiros, encontra-se em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com o nome “Nossos Segredos”.

São mais de 850 itens, entre pinturas, instalações imersivas e sonoras, esculturas, intervenções em site specific, desenhos e cadernos de anotações. A exposição é a primeira retrospectiva de grande porte que examina a produção dos artistas desde o começo da década de 1980 até a atualidade. “Esta é a maior exposição já produzida por eles”, comenta o curador da mostra, Jochen Volz.

O objetivo da mostra é revelar novas visões do fazer artístico d’osgêmeos. Objetos pessoais, como cadernos, fotos, desenhos e pinturas que datam desde a infância dos dois irmãos até hoje são apresentados ao público pela primeira vez, incluindo estudos e obras de arte que precedem em muito seus famosos personagens e lançam luz sobre as raízes de seu surgimento. Influências artísticas e colaborações são expostas ao lado de pinturas e esculturas recentes.

A exposição fica em cartaz no CCBB do Rio até o dia 23 janeiro de 2023.

 

 

Cem anos de Pasolini no CCBB

29/jun

 

 

Uma história extraordinária em imagens e palavras, composta por mais de 70 fotografias em preto e branco feitas por Pier Paolo Pasolini e Paolo Di Paolo, muitas delas inéditas, textos de Pier Paolo Pasolini, vídeos, material de arquivo e documentos jornalísticos. No ano em que Pier Paolo Pasolini completaria 100 anos, o Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro traz para o Brasil a exposição itinerante “Por uma longa estrada de areia – La lunga strada di sabbia”, sob curadoria de Silvia Di Paolo, filha de Di Paolo, que conduzirá uma visita guiada no dia da abertura, 02 de julho, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ. A mostra já percorreu Lisboa e Copenhague e depois segue para Santiago e Telaviv. Uma curiosidade: o acervo de Paolo Di Paolo permaneceu escondido durante decênios, perfeitamente conservado, até ser descoberto pela filha Silvia, no início dos anos 2000.

 

Um acordo entre o Ministério das Relações Exteriores da Itália e a Fundação Archivio Di Paolo possibilitou a itinerância da exposição pelo mundo, com a colaboração dos Institutos Italianos de Cultura.

 

“Pier Paolo Pasolini, em suas múltiplas facetas, é uma figura de extrema importância intelectual e artística para o Brasil. Em particular, na sua atuação como cineasta, como demonstram suas relações com alguns protagonistas do Cinema Novo e o fato de ser, ainda hoje, fonte de inspiração para os diretores brasileiros. É na relação com a imagem, unidade básica do cinema, que Pasolini amplia exponencialmente suas ferramentas expressivas e, como ele mesmo afirmou numa entrevista, consegue libertar-se dos limites da língua italiana e abrir-se para uma forma de comunicação universalmente válida. Por isso é para nós de grande relevância trazer duas iniciativas culturais que têm a imagem como meio expressivo, a imagem fotográfica, na exposição “Por uma longa estrada de areia”, e a imagem fílmica, na mostra “O Cinema Segundo Pasolini”. A exposição, através das fotografias de Paolo di Paolo e dos textos de Pasolini, nos acompanha numa interessante viagem pela a Itália do boom econômico, a mesma que, nas suas dinâmicas sociopolíticas e culturais, estimulou uma parte substancial do pensamento crítico do escritor. Acreditamos que o cruzamento das duas linguagens, o fotográfico-jornalístico e o fílmico, na programação que o Instituto Italiano de Cultura, em parceria com o CCBB, oferece ao público brasileiro no mês de julho, possa permitir um aprofundamento ainda maior da atuação desse importantíssimo intelectual e artista”, diz Livia Raponi, diretora do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro.

 

Programação

 

A programação inclui uma retrospectiva cinematográfica composta pelo ciclo “O Cinema Segundo Pasolini” e a estreia nacional do filme-documentário Il Giovane Corsaro (O Jovem Corsário) de Emilio Marrese, Itália, 2022, além de debates. A agenda abre no dia 2, no cinema do CCBB, com “Accattone – Desajuste social” (1961) e segue com “Il Vangelo Secondo Matteo – O Evangelho Segundo São Mateus” (1964), “Mamma Roma” (1962), “Uccellacci e Uccellini – Gaviões e Passarinhos” (1966), “Edipo Re – Rei Édipo” (1967), até o dia 10 de julho. Ainda neste ciclo, haverá a exibição de “Comizi D’amore – Comícios De Amor” (1965), no Instituto Italiano de Cultura. Dentro da comemoração do centenário de Pasolini está previsto ainda outro ciclo de exibições intitulado “Caro Pier Paolo”, na Cinemateca do MAM, que deverá acontecer no final do mês.

 

Contexto histórico remete ao início do milagre econômico

 

Arturo Tofanelli, diretor das revistas mensal Successo e Tempo (semanal), confia a Pier Paolo Pasolini e a Paolo Di Paolo, que até então não se conheciam, uma reportagem sobre as férias de verão dos italianos, publicada em três capítulos na revista Successo, em 1959. O contexto histórico da exposição remete ao início do milagre econômico, quando a Itália tentava esquecer a miséria causada pela guerra e procurava um novo conceito de bem estar. O escritor e o fotógrafo partiram para uma longa viagem de carro com a ideia de atravessar a Itália ao longo da costa, de Tirreno ao Adriático, de ponta a ponta, para documentar o árduo caminho para o “progresso” e as contradições que este desencadeou. Nasceu assim uma parceria complexa e delicada entre os dois intelectuais, que se consolidou no respeito mútuo e na confiança.  “Pasolini procurava um mundo perdido de fantasmas literários, uma Itália que já não existia”, recorda Di Paolo. “Eu procurava uma Itália que olhasse para o futuro.” Cada imagem é uma história contada com cuidado fotográfico e realismo. Embora os temas sejam majoritariamente imortalizados durante umas férias à beira-mar, muitas das fotografias contrastam com uma condição de pobreza ligada a um passado recente. Na Itália da época, biquínis e calções, símbolos da emancipação feminina, coexistem com véus escuros cheios de pesar; o contraste entre os relaxados turistas de férias, desinibidos e emancipados e a população local é muitas vezes evidente. Uma viagem para redescobrir como era a Itália da época, para comparar sonhos, contradições, ilusões presentes e passadas, ao longo da perene estrada de areia.

 

Sobre a curadora

 

Silvia Di Paolo nasceu em Roma, em 1977. Depois de ter conseguido o diploma Artístico experimental em uma escola de Graphic Design cura como Art Director e Designer projetos editoriais, publicitários e de comunicação. Em 2011, funda o site Supernature Visionary Unlimited iniciando novas colaborações na indústria cinematográfica e da moda para a pesquisa de imagens, a criação de moodboards e tratamentos visivos para os roteiros. Em 2017, recebe do pai a doação de seu arquivo fotográfico, que ela mantém como curadora e arquivista.

 

Abertura: dia de 02 de julho, sábado, às 17h.

02, 03, 08, 09 e 10 de julho, às 18h.

Visitação: de 03 de julho a 02 de agosto.