A Arte Popular vista por Cesar Aché.

01/set

A exposição da Coleção de Arte Popular de Cesar Aché na Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ,  será exibida entre 09 de setembro e  06 de outubro.

Cesar Aché é um dos mais importantes colecionadores de Arte Popular do país. Começou a formar a sua coleção em 1975, quando adquiriu uma peça do artista Nino, em Fortaleza. Um ano depois, inaugurou a sua galeria em Ipanema, centro do mercado de arte naquele tempo. Era um espaço muito charmoso que inovou na decoração de interiores, com um chão de sisal natural e móveis desenhados por ele mesmo. Sua loja iniciou com a venda de gravuras – Cesar Aché sempre gostou de arte em papel – e em 1977 a arte popular foi incorporada ao acervo.

Ele viajava pelo Brasil todo, conhecendo e visitando artistas, escutando histórias locais e comprando obras… Muito rapidamente começou a separar as suas preferências, em meio às compras que fazia para a galeria. “Ao longo dos anos eu fui fazendo uma seleção do que eu mais gostava porque minha coleção nunca foi uma acumulação. Cada uma dessas foi comprada individualmente e por um motivo. Nada aqui veio aos lotes. Mesmo os Ex-votos eu comprei um a um.” (Cesar Aché, 2025).

Em entrevista oral à autora, em julho 2025, Cesar Aché rememorou a história de sua coleção e alguns dos trechos de nossa conversa seguem aqui destacados como citações diretas porque ele explica o processo muito melhor do que eu poderia retransmitir. Transformei as minhas perguntas em intertítulos, interconectando fluxos e temas. Cabe salientar que as peças que ele coleciona foram escolhidas com muito esmero e individualmente, conforme acima. São peças com 40 anos de trajetória e cujas histórias lhe foram passadas pelos próprios artistas. Esta é uma característica fundamental dos trechos que se seguem: as histórias que Cesar Aché conta, ele escutou da própria fonte oral de cada uma dessas tradições. São histórias regionais e populares contadas por meio da arte e expressas nessa exposição.

As obras expostas nesta mostra – concebida e curada por Cesar Aché para acontecer na Galeria Evandro Carneiro Arte, estão todas à venda. Como dito no início deste texto, a concepção de coleção dele nunca foi acumulativa. Primar pela qualidade sempre foi mais importante do que a quantidade. Assim, chegou um determinado momento em que Cesar resolveu passar adiante as suas peças, em conjunto com as histórias que delas emanam. Cada uma com sua peculiaridade e narrativa.

Laura Olivieri Carneiro.

Preservação cultural e usos da cor pelos artistas

“O meu olho sempre foi o da preservação. Eu tinha muito interesse no aspecto formal das obras: como é que esses artistas resolveram a espacialidade, os cortes e o uso das cores? Como a cor foi usada? Porque o uso da cor é diferente em cada um desses artistas. Todos do interior e naquela época em que eu tinha a loja, então, não havia internet nem nada, eles nunca viram nada de arte, nunca viram os fauvistas alemães. E veja, esse Nino aqui como o uso da cor é interessante! Há outros artistas que quase não usam a cor. A Noemiza usa exclusivamente a cor do barro e o branco. O Sr. Ulisses usa mais para realçar os detalhes. A cor no sr. Ulisses sublinha a escultura, mas não é um elemento essencial. É mais ou menos – fazendo um paralelo – como o uso da cor pelo Rubem Valentim em seus relevos, em que o Rubem faz um relevo e toda a silhueta é coberta de uma cor. O sr. Ulisses acentua os volumes com uma linha de cor. Já o Nino usa a cor para definir os planos de corte da obra.” (Cesar Aché, 2025).

Temas e ciclos: memória social e diversidade regional

“Naqueles anos, havia temas, cenas e tipos de criações que deixaram de existir, como os brinquedos populares. Esses brinquedos eram feitos por pessoas pobres para crianças pobres brincarem. Mas as coisas foram mudando no país e no mundo… Em uma viagem mais recente que fiz ao Ceará – que sempre foi um grande centro de Arte Popular e as coisas convergiam para Fortaleza para serem vendidas nos mercados e nas feirinhas das ruas e das praças – perguntei por brinquedos para um artista velhinho que me disse literalmente o seguinte: “Ah, meu senhor, eu sei muito bem o que o senhor está procurando. Já vendi muito brinquedo, mas hoje nem filho de pobre brinca mais com esse tipo de coisa. Filho de pobre quer brinquedo chinês.” O que ainda se acha hoje de brinquedo, são feitos para serem enfeites (como essa roda gigante cujas luzinhas piscam e o carrossel que vou botar na exposição).”

“Alguns artistas eu tenho mais que outros. A Noemiza por exemplo e o Vitalino faziam as obras a partir dos ciclos do casamento, do trabalho, das profissões, dos presépios… E como eu tinha muito acesso eu comprava.”

“Havia dois meninos, primos, que trabalhavam a tradição local: um fazia as lendas do folclore e o outro fazia peças com onças a partir das histórias que eles ouviam. Fábulas com tamanduás (Wanderley) e coisas assim. Eu gostava de recolher as obras porque as peças contam histórias. Tudo na minha coleção tem história e a maioria tem mais de 40 anos. E eu conservo bem, cuido. Aqueles panos bordados (Cesar vai mostrando as peças) estão guardados há 15 anos em um baú, embaladinhos em plásticos. Eu comprei de um comerciante de Minas Gerais. Essa Nena, uma Babel de barro, ela é discípula do João das Alagoas. João montou um ateliê coletivo, fez um forno e ensinou a vizinhança. Esse São Jorge é do Leonilson.”

“O Vitalino não fez escola, os filhos eram seus herdeiros, era uma guilda familiar. Zé Caboclo e Manuel Eudócio aprenderam com o Vitalino, mas não são discípulos dele, criavam com a sua própria característica.”

“Nhô Caboclo, por exemplo, não ensinou ninguém. Vivia na rua, abandonado, quase um indigente mas era um gênio.” (Cesar Aché, 2025).

Todos os trechos acima são partes de uma conversa oral com Cesar Aché em julho de 2025 e transcritas pela autora em agosto do mesmo ano para o folder da exposição de sua coleção na Galeria Evandro Carneiro Arte.

Aberturas inéditas na Artur Fidalgo Galeria.

28/ago

 Os artistas representados pela Artur Fidalgo Galeria, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, Lucas Rubly e Willy Reuter inauguram exposições individuais no dia 09 de setembro, ambas sob curadoria de Vanda Klabin. “Lucas Rubly: A opacidade do mundo”, primeira individual do artista paulista na galeria, reúne 17 pinturas inéditas em óleo e cera sobre tela, realizadas ao longo de 2025. Lucas Rubly investe em questões que envolvem silêncio e contemplação; mesmo com forma contida, seus trabalhos em pequenos formatos revelam narrativas diversas. Fruto de experimentações artísticas, “Willy Reuter: O engano do olhar” apresenta oito objetos em cerâmica, duas pinturas em técnica mista sobre linho e três desenhos sobre papel, conduzindo o espectador através de um universo particular e onírico.

Sobre as exposições e os artistas.

“Lucas Rubly: A opacidade do mundo”.

“As paisagens, as naturezas-mortas e as composições florais suavizadas são temas recorrentes de Lucas Rubly, e são também motivos pictóricos que não contêm uma dramaticidade do mundo ao redor, mas convidam a um demorado olhar pelas suas discretas variações tonais, conjugadas em reduzidos formatos. Os discursos que envolvem a experiência estética aproximam cadeias de ideias opostas umas às outras, elementos contrários que têm seus desdobramentos e seus sobressaltos, muitos são conflituosos. A produção artística de Lucas Rubly traz o seu próprio saber, ancorado no universo da natureza, tratado com valores plásticos que sugerem uma forma de poema legível. Na solidez de suas pinturas, a presença de elementos humanos é subtraída, as cores não colidem entre si, mas reina uma quietude, um exercício do silêncio, orgulhoso de sua solidão. Quase um cenário sussurrando à espreita de algum acontecimento. Um vazio instaura uma margem de opacidade onde as narrativas inconclusivas parecem florescer, subtraídas do fluxo cotidiano da vida, como se fossem lembranças tonais que fazem parte de seu repertório de formas e cores, impõem uma inesperada serenidade, como se fosse a representação de um mundo estável. Talvez o reconhecimento de uma intimidade, de um espaço à disposição das tintas, algo que ali reside à luz da memória, além das aparências”, afirma Vanda Klabin em parte de seu texto curatorial.

Lucas Rubly nasceu em São Paulo, SP, 1991. Graduado em Design Gráfico, Lucas Rubly tem se destacado no cenário artístico contemporâneo com foco expressivo em pintura, tendo iniciado sua pesquisa em 2021. Entre as exposições coletivas, participou de “Funil” (Casa SP-Arte) e “Surge et Venis” (Galeria Millan), em São Paulo, 2024. Destacam-se entre as individuais “Monumentos à Memória”, na Sea View Gallery, Los Angeles e “A Cor do sonho de Ontem” (Verve Galeria, SP), 2024.

“Willy Reuter: O engano do olhar”.

“A exposição de Willy Reuter focaliza um conjunto de suas esculturas recentes e pinturas. Essas obras apresentam elementos fragmentários que se superpõem através de disciplinado e meticuloso exercício de ateliê, quase artesanal, como se tatuasse a realidade que habita o seu imaginário. Ao adentrar o núcleo de sua poética, percebemos que ela incide no seu caráter híbrido, protagonizado por vizinhanças súbitas, sem aparentemente ter uma relação entre si, mas que desestabilizam o nosso olhar. Formado em Arquitetura, passa a frequentar a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. Willy Reuter desenvolve suas experimentações artísticas com obras compostas por objetos ambíguos que adicionam fragmentos em um outro objeto, reativados em uma nova ordem. O objeto original perde a sua aparência natural, fica desprovido de seus usos anteriores e reconfigurados em outra composição pelo acréscimo de elementos díspares, de origens diversas e adentramos, então, nos recantos de uma realidade ampliada. Essas obras adquirem características híbridas ao renunciar as formas previsíveis, pois nascem de encontros inesperados com múltiplas possibilidades de interpretação, geram uma rede de estranhamento com matriz de acentos surrealistas. Nesse descompasso entre objeto original e suas novas sedimentações densamente populosas, cada elemento parece se manter isolado, porém conivente e passa a adquirir a aparência de verdadeiros objetos pictóricos, uma superfície coberta de signos e códigos a serem decifrados”, diz Vanda Klabin.

Willy Reuter nasceu em Minas Gerais, 1970. Formado em Arquitetura pela Universidade Santa Úrsula, Rio de Janeiro. Na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), estudou com Luis Ernesto, Charles Watson e Daniel Senise. Seu trabalho é baseado em uma pesquisa profunda sobre o estilo manuelino – um movimento arquitetônico e decorativo que floresceu em Portugal durante o reinado de D. Manuel I. Já realizou algumas individuais ao longo de sua trajetória, com destaque para “Displacement”, na Tap Gallery (Austrália, 1998), “Metamorfose”, Centro Cultural Correios, (Rio de Janeiro, 2014), e “Fragmentos” na Fundação de Artes Niterói (Niterói, 2002).

Até 10 de outubro.

Destaque na Bienal de São Paulo.

22/ago

Nascido em Salvador, o artista plástico Sérgio Soarez, de 56 anos, será um dos destaques da 36ª Bienal de São Paulo, que acontece de 06 de setembro a 11 de janeiro de 2026. Com mais de três décadas de trajetória e pouca inserção no mercado formal, Sérgio Soarez foi escolhido pessoalmente pelo curador camaronês Bonaventure Soh Bejeng Ndikung antes mesmo da definição do elenco completo da mostra.

Com obras que misturam ferro e madeira, em diálogo com a mitologia afro-brasileira, o baiano já expôs individualmente no Museu Afro-Brasileiro, em Salvador, mas enfrentou longos períodos de invisibilidade e chegou a viver por três meses em um terreno baldio ao tentar espaço no circuito paulista. Para Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, Sérgio Soarez integra uma linhagem de grandes nomes como Abdias Nascimento, Rubem Valentim e Emanoel Araujo. “Ele traduz emoções em objetos melhor do que muitos artistas que conheço”, afirmou o curador ao Valor Econômico. Na Bienal, Sérgio Soarez apresentará 18 obras. Mesmo com o reconhecimento tardio, ele segue criando com consistência, explorando narrativas e símbolos ligados às culturas iorubá e banto.

Sobre o artista

Sérgio Soarez nasceu em Salvador, 1968. Mora em Salvador, é artista multidisciplinar, pesquisador, escritor, músico, ativista e arte-educador. A obra de Sérgio Soarez incorpora materiais reaproveitados e a iconografia de sua religião, o candomblé, na qual detém o título de ogã. O artista tem como referências Mestre Didi, Rubem Valentim e Emanoel Araújo. As esculturas, joias, ilustrações e elementos de cenografia de Sérgio Soarez foram apresentados em exposições coletivas dentre as quais, Afro como ascendência, arte como procedência no Sesc Pinheiros (São Paulo, 2014) e na 25ª Exposição Afro-Brasileira de Palmares (Londrina, 2011). A primeira exposição individual do artista foi realizada no Museu Afro-Brasileiro da Universidade Federal da Bahia em 2014.

Fonte: Redação Alô Alô Bahia.

Duas exposições na Simões de Assis.

21/ago

A Simões de Assis, Jardins, São Paulo, SP, apresenta duas exposições com abertura no dia 30 de agosto. “É pela linha que se desenha: Geometrias Latino-Americanas”, coletiva que reúne obras de Olga de Amaral, Carmelo Arden Quin, Ana Teresa Barboza, Eamon Ore-Giron, Maria Leontina, Mano Penalva e Eduardo Terrazas.

Com texto crítico de Miguel López, a mostra aborda temas como pertencimento e migração, tradição e experimentação, tensionando preceitos modernos e a contemporaneidade. Em comum, esses artistas compartilham uma crença profunda na capacidade da arte de imaginar e representar diferentes ideias e modelos de mundo, por meio de linguagens variadas como pintura, escultura, suportes têxteis, mosaicos e móbiles.

Seus trabalhos exploram escalas que oscilam entre o micro e o macro, o terreno e o cósmico, o íntimo e o coletivo, confrontando diferentes perspectivas latino-americanas sobre geometria, abstração formal e intuitiva, iconografias espirituais e práticas artesanais.

Até 11 de outubro.

Mika Takahashi

Noctiluca

A Simões de Assis apresenta “Noctiluca”, primeira individual de Mika Takahashi em São Paulo. A artista investiga a relação entre os reinos da vida – Animalia, Plantae, Fungi e Archaea, dando ao espectador a chance de apreciar a qualidade aquosa e etérea que a artista desenvolve de maneira singular em suas pinturas.

Com influência tanto do impressionismo como da tradição visual japonesa, especialmente do período Edo, sua técnica é marcada por uma adaptação do sumiê, que mistura pinceladas intuitivas com sobreposições de camadas de tinta. Suas obras transitam entre ciência e ficção científica, dissolvendo o registro natural e explorando relações entre espécies e seus ambientes. A mostra conta com 11 obras inéditas e texto crítico de Lucas Albuquerque.

Até 11 de outubro.

Antônio Poteiro em Fortaleza.

13/ago

Um conjunto de mais de 50 obras do artista português-brasileiro Antônio Poteiro (1925-2010) poderão ser visitadas na exposição “Antônio Poteiro – A Luz Inaudita do Cerrado”, em cartaz até 02 de novembro na CAIXA Cultural Fortaleza, CE. A mostra é uma celebração do centenário de nascimento do artista, com séries de pinturas e esculturas que cobrem a sua produção desde os anos 1970. Na abertura evento que contou com visita guiada do curador Marcus de Lontra Costa. O projeto reúne obras do acervo do artista, hoje pertencente ao Instituto, sediado em Goiânia (GO), fundado em 2011 para preservar o legado de Antônio Poteiro. Ele se destacou no campo das artes visuais, no Brasil e em mais de 40 países, por sua paleta de cores vibrantes, composições densas e temáticas do cotidiano, como a religiosidade e as festividades.

A palavra do curador.

O curador Marcus de Lontra Costa destaca a trajetória de Antônio Poteiro, popular em sua essência criativa, criando pontes entre percepções e saberes diversos. “Ela retrata e reflete cenas do cotidiano. Cria histórias sobre fatos históricos e aproxima a arte e a religião como objetos da fé. Sua obra é uma poderosa ferramenta para enfrentar as incongruências e paradoxos do presente e projetar um mundo futuro, no qual a arte, a religião e a ciência caminhem no sentido de proporcionar à humanidade a sua dimensão maior”.

Oficina e visita mediada com Américo Poteiro.

Na quinta-feira, 14 de agosto, às 10h, será realizada a oficina “Pintando um centenário de cores com Américo Poteiro”, conduzida pelo filho de Antônio Poteiro, o artista Américo Poteiro. A atividade propõe uma imersão no universo visual da arte de Poteiro, explorando suas cores vibrantes, formas simbólicas e temas do cotidiano, marcas registradas de sua contribuição à arte popular brasileira. Após a oficina, na quinta-feira, 14, Américo Poteiro conduzirá uma visita mediada às 11h30 na exposição. Na ocasião, irá compartilhar alguns dos processos de criação e seleção das obras, trazendo à tona reflexões sobre a trajetória do artista e o significado intrínseco de cada peça exposta. É uma oportunidade de descobrir os bastidores do projeto.

Centenário de Gilberto Chateaubriand.

05/ago

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) inaugura no dia 09 de agosto a exposição “Gilberto Chateaubriand: uma coleção sensorial”, que abre as comemorações pelo centenário de nascimento de um dos maiores colecionadores da história da arte brasileira. A mostra estará em cartaz até 09 de outubro. De grande escala, a mostra reúne aproximadamente 350 obras de um dos mais representativos conjuntos da produção artística nacional. Desde 1993, cerca de 6.400 das 8.300 peças que compõem a Coleção Gilberto Chateaubriand estão sob a guarda do MAM Rio, consolidando uma parceria fundamental para a preservação e difusão da arte brasileira.

Com curadoria de Pablo Lafuente e Raquel Barreto, o público será convidado a uma imersão nas camadas de significado, afeto e história que atravessam a coleção, ao longo de mais de cinco décadas cuidadosamente constituída por Gilberto Francisco Renato Allard Chateaubriand Bandeira de Mello (1925-2022), diplomata e presença marcante nas artes visuais do país. Segundo o próprio Gilberto Chateaubriand, o colecionismo surgiu por acaso, em 1953, durante uma viagem a Salvador, quando foi apresentado ao pintor José Pancetti (1902-1958) pelo colecionador Odorico Tavares. Ao visitar o ateliê, adquiriu não só a tela Paisagem de Itapuã, mas a paixão por colecionar.

De acordo com Pablo Lafuente, diretor artístico do museu, “a coleção de Gilberto consegue oferecer um panorama complexo da história da arte brasileira do século 20, atenta aos movimentos e artistas que a compuseram, tornando-se uma das mais importantes do país ao mesmo tempo que revela as relações fascinantes que Gilberto tinha com obras e com artistas”.

“Gilberto Chateaubriand se dedicou com intensidade à formação de uma das coleções particulares mais significativas que temos no Brasil. A coleção é única em sua habilidade de unir tradição e experimentação, incluindo desde os modernistas icônicos a jovens artistas de diversas regiões do país e suas propostas experimentais”, observa Raquel Barreto, curadora-chefe do MAM Rio.

Um olhar sensorial para a arte brasileira

Um século de arte no Brasil

Com obras de Adriana Varejão, Alair Gomes, Anita Malfatti, Anna Bella Geiger, Antonio Bandeira, Artur Barrio, Beatriz Milhazes, Candido Portinari, Carlos Vergara, Cícero Dias, Cildo Meireles, Djanira, Edival Ramosa, Gervane de Paula, Glauco Rodrigues, Iberê Camargo, Ione Saldanha, Ivan Serpa, José Pancetti, Lasar Segall, Luiz Zerbini, Lygia Clark, Maria Martins, Rubens Gerchman, Tarsila do Amaral, Tomie Ohtake e Vicente do Rego Monteiro, entre muitos outros, a exposição cobre cerca de 100 anos de arte no Brasil e permite ao visitante percorrer, de forma não linear, uma ampla e plural história da cultura visual do país.

A exposição “Gilberto Chateaubriand: uma coleção sensorial” é organizada em colaboração com o Instituto Cultural Gilberto Chateaubriand e tem patrocínio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, da Petrobras, da Light, do Instituto Cultural Vale e da Vivo através da Lei Federal de Incentivo à Cultura e da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro

FLECHA encerra temporada na Casa Brasil.

31/jul

A queima de um bastão de ervas e folhas secas marcam o encerramento da exposição FLECHA, da artista multidisciplinar Mercedes Lachmann, na Casa Brasil (ex-Casa França-Brasil), Rio de Janeiro, no domingo, dia 03 de agosto, a partir das 15h. A mostra é uma instalação imersiva, com som, imagem e esculturas, que tem raízes em saberes ancestrais femininos, explorando a conexão com o mundo vegetal, sob curadoria de Cristiana Tejo.

As folhas de plantas tropicais dispostas de forma performática na nave principal da Casa e as ervas que estão em secagem desde o início da temporada de FLECHA vão integrar o bastão, confeccionado por voluntários, acrescido de intenções, afetos e trocas de conhecimentos sobre as plantas e seus usos sagrados.

A exposição tem ainda 55 trabalhos de flechas de ferro, em formatos diferentes, quatro esculturas de madeira com vidro soprado, quatro totens – esculturas de restos de desmate, em composição com esferas de vidro com tinturas de ervas ou com outros vidros, bronze ou flecha, uma instalação de 11 elementos com hastes verticais que portam vidros com tintura de plantas, um braço de bronze, vídeos, um secador de erva e dois vídeos.

“FLECHA” foi apresentada em 2023 no Museu Internacional de Escultura Contemporânea (MIEC) de Santo Tirso, Porto, Portugal. A mostra, exibe no Rio com mudanças, que ampliam a ocupação conceitual do espaço, tem apoio da República Portuguesa e do Programa de Internacionalização do Departamento Geral de Artes de Portugal.

Subjetividade e destruição ambiental.

28/jul

Tatiana Blass ocupa a Albuquerque Contemporânea com instalações, pinturas e esculturas que tratam do silêncio, do tempo e da destruição.

“Tornado Subterrâneo” é o título da exposição individual de Tatiana Blass, em cartaz na Albuquerque Contemporânea, Savassi, Belo Horizonte, MG. A artista apresenta um conjunto de obras que cruzam suportes como pintura, escultura, instalação e vídeo, articulando questões como incomunicabilidade, subjetividade e destruição ambiental. A mostra reúne trabalhos inéditos e outros exibidos anteriormente em diferentes cidades.

No primeiro piso da galeria, Tatiana Blass tensiona os limites entre cena e espaço, matéria e tempo. Em “Meia Luz”, série de sete pinturas de grande escala, a artista evoca narrativas ambíguas a partir de referências ao teatro e ao cinema, construindo atmosferas densas em formas e cores imprecisas.

Já os objetos da série “Teatro de Arena – Tornado Subterrâneo” abordam o impacto da mineração. Paisagens desérticas e figuras diminutas pontuam crateras, evocando a busca por um papel em um cenário de devastação ambiental e a fragilidade da ação humana diante da destruição.

A instalação “Metade da fala no chão – Bateria preta” recria, em nova versão, um de seus trabalhos mais emblemáticos: instrumentos de percussão cortados e preenchidos com cera silenciam qualquer possibilidade de som. Com forte apelo sensorial e rigor formal, Tatiana Blass propõe uma experiência imersiva na qual o silêncio, o derretimento da forma e o esvaziamento das figuras tornam-se alegorias potentes da nossa dificuldade de comunicação e ação no mundo contemporâneo.

Até 30 de agosto.

Depoimentos de artistas dos anos 1980.

24/jul

Ampliando as discussões em torno da grande exposição “Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo até o dia 04 de agosto, o Arquivo Fullgás conta com cerca de 100 depoimentos de artistas visuais que iniciaram suas trajetórias na década de 1980.

Assim como na exposição, o Arquivo Fullgás conta com depoimentos de artistas visuais de todas as regiões do país, uma oportunidade de ter acesso às memórias dos artistas que integram essa geração. Desta forma, estão disponíveis depoimentos de Beatriz Milhazes, Sérgio Lucena, Chico Machado, Mauricio Castro, Cristóvão Coutinho, Gervane de Paula, Rosângela Rennó, Guache Marque, Alice Vinagre, Elder Rocha, Goya Lopes, Sergio Romagnolo, entre muitos outros.

Nas artes visuais, a Geração 80 ficou marcada pela icônica mostra “Como vai você, Geração 80?”, realizada no Parque Lage, em 1984. A exposição no CCBB entende a importância deste evento, trazendo, inclusive, algumas obras que estiveram na mostra, mas ampliando a reflexão. “Queremos mostrar que diversos artistas de fora do eixo Rio-São Paulo também estavam produzindo na época e que outras coisas também aconteceram no mesmo período histórico, como, por exemplo, o “Videobrasil”, realizado um ano antes, que destacava a produção de jovens videoartistas do país”, ressaltam os curadores.

Além das obras de arte, a exposição traz diversos elementos da cultura visual da década de 1980, como revistas, panfletos, capas de discos e objetos, que fazem parte da formação desta geração. “Mais do que sobre artes visuais, é uma exposição sobre imagem e as obras de arte estão dialogando o tempo inteiro com essa cultura visual, por exemplo, se apropriando dos materiais produzidos pelas revistas, televisões, rádios, outdoors e elementos eletrônicos. Por isso, propomos incorporar esses dados, que quase são comentários na exposição, que vão dialogando com os elementos que estão nas obras de fato”, ressaltam os curadores Raphael Fonseca, Amanda Tavares e Tálisson Melo.

Conversa com Carlos Trevi.

21/jul

Na próxima terça-feira, 22 de julho, a Ocre Galeria, Porto Alegre, RS, promove uma conversa com o artista Carlos Trevi, o curador André Severo e o crítico André Venzon, em torno da exposição Ascensão e do percurso poético do artista.

A conversa será uma oportunidade de refletir sobre memória, matéria, simbolismo e sobre como o gesto artístico pode apontar caminhos de reconstrução – estética e existencial – a partir do que já foi quebrado ou esquecido.

A mostra “Ascensão” segue em cartaz até o dia 16 de agosto.