No dia 27 de setembro, a partir das 11h, a Almeida & Dale, Rua Caconde, 152, Jardins, São Paulo, SP, promove o lançamento de “Raymundo Colares: Pista Livre”, publicação concebida por ocasião da exposição homônima, em cartaz na galeria até 25 outubro.
Organizado pela curadora Ligia Canongia, o livro amplia o escopo da mostra ao reunir reproduções de obras, excertos dos diários de Raymundo Colares, textos críticos e uma cronologia detalhada da carreira do artista.
O volume apresenta capítulos dedicados a reproduções de pinturas, desenhos e Gibis – a célebre série de livros -objeto produzidos com papel recortado. Reúne ainda um ensaio de Ligia Canongia, que sublinha a posição singular de Raymundo Colares entre o Construtivismo e a Pop Art no Brasil, e um artigo de Felipe Scovino, que examina sua obra a partir da tensão entre Modernidade e subdesenvolvimento no contexto brasileiro. A publicação se completa com uma cronologia abrangente e a edição inédita de páginas de cadernos do artista, que marcam registros íntimos, reflexões poéticas e fragmentos do cotidiano.
A exposição “Raymundo Colares: Pista Livre”, com curadoria de Ligia Canongia, marca a primeira mostra dedicada ao artista na capital paulista nos últimos quinze anos, sucedendo a realizada no MAM São Paulo, em 2010, sob curadoria de Luiz Camillo Osório.
Raymundo Colares manteve diálogo com o construtivismo brasileiro e suas raízes históricas, embora já sensível ao ideário pop, por sua estreita relação com as histórias em quadrinhos e o cinema. Os trabalhos de Mondrian, Duchamp e dos futuristas italianos foram cruciais em sua formação, mas a obra indiciava sintomas da iconografia urbana e da exuberância cromática da pop art. O universo popular em Colares convergiu para a figura do ônibus, um ícone-síntese do dinamismo nas grandes metrópoles. A experiência perceptiva da multiplicação e da deformação das coisas em movimento, que informara o cubismo e outros movimentos modernos, tornou-se centro de seu interesse. O artista tentava, pois, congregar planos disjuntivos, fatias de espaço que pareciam se colidir, imagens captadas aos estilhaços, sem a nostalgia da perspectiva ou de uma ordem. Ainda assim, suas pinturas são estruturadas, articuladas, e a complexidade desse jogo é que constitui o desafio da obra. Para ele, interessava fragmentar e reconstruir esses fragmentos de forma pulsante e errática, trazendo à luz uma das questões-chave de sua trajetória: a ideia de tempo, visualmente enunciada em planos multidirecionais e em velocidade. Raymundo Colares compreendeu que a questão do movimento, em última instância a questão do tempo, havia arremetido a experiência da pintura para além da estabilidade que conhecera no passado histórico, respondendo aos avanços da ciência e ao viver moderno. Pressentiu que essa atualização se prolongaria na era contemporânea, e que os efeitos da máquina seriam intensos e irreversíveis, mesmo não tendo vivenciado o mundo digital de nossos dias.
Ligia Canongia.