Visita guiada na exposição de Dani Cavalier.

13/jun

A Galatea Oscar Freire, São Paulo, SP, convida para a visita guiada da exposição “Dani Cavalier: pinturas sólidas” no dia 14 de junho, sábado, às 11 horas. Durante a visita, conduzida pela própria artista, o espectador terá a oportunidade de aprofundar nos trabalhos que integram a pesquisa de Dani Cavalier em torno do que ela chama de “pinturas sólidas”.

Por meio da justaposição de blocos de cor formados por retalhos de Lycra reaproveitados da indústria da moda, as “pinturas sólidas” de Dani Cavalier investigam as fronteiras entre pintura, escultura e instalação. Embora remetam à pintura tradicional – com o uso de chassi, composição e suporte -, essas obras rompem com a lógica pictórica ao substituir a tinta por tecidos entrelaçados. Ao incorporar técnicas têxteis associadas a saberes populares, muitas vezes transmitidos por mulheres fora do circuito das Belas Artes, a artista aproxima arte e artesanato, questionando hierarquias e expandindo os limites da prática artística.

Artistas na 36ª Bienal de São Paulo.

Lidia Lisbôa, Marlene Almeida, Maxwell Alexandre, Rebeca Carapiá e Heitor dos Prazeres estão entre os artistas na 36ª Bienal de São Paulo, que inaugura no dia 06 de setembro no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo, SP, e permanecerá em cartaz até 11 de janeiro de 2026.

Intitulada “Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática”, a Bienal tem curadoria geral de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, com cocuradoria de Alya Sebti, Anna Roberta Goetz e Thiago de Paula Souza, além de Keyna Eleison como cocuradora at large.

Inspirada pelo poema “Da calma e do silêncio”, da poeta Conceição Evaristo, a Bienal tem como um dos principais alicerces a escuta ativa da humanidade enquanto prática em constante deslocamento, encontro e negociação. Na exposição, serão apresentados projetos inéditos, concebidos a partir do convite da curadoria a Lidia Lisbôa, Maxwell Alexandre, Marlene Almeida e Rebeca Carapiá.

Sobre os artistas.

Lidia Lisbôa

A prática de Lidia Lisbôa se desenvolve em suportes distintos, sobretudo a escultura, o crochê, em performances e em desenhos. Sua pesquisa tem a tessitura de biografias como eixo fundamental, percorrendo os pólos da paisagem, do corpo e da memória ao utilizar matérias nas quais se imprimem o gesto e a mão da artista. Resultado de uma prática artística constante que se mistura à vida, na obra de Lidia Lisbôa, a costura e a criação de narrativas se colocam como exercício de construção subjetiva e, portanto, de cura e ressignificação.

Marlene Almeida

Marlene Almeida é pesquisadora, escultora e pintora, cuja prática fundamentalmente interdisciplinar combina conhecimentos literários, científicos e artísticos na investigação de um objeto comum à sua produção desde a década de 1970: a terra. Em expedições realizadas especialmente ao Nordeste brasileiro, Marlene Almeida cataloga e armazena amostras de terras coloridas. Essas expedições são guiadas por um projeto audaz: o Museu das Terras Brasileiras, que visa a identificação e estudo das cores encontradas em diferentes formações geológicas de todo território nacional. Em sua trajetória, ela também se nutriu de extensa atuação na militância ecológica e política.

 Maxwell Alexandre

Pautada pelo conceito de autorretrato, a prática de Maxwell Alexandre extrapola as categorias e suportes tradicionais do fazer artístico. Por meio de uma lógica de citação, apropriação e associação de imagens e símbolos, bem como pelo uso de materiais de valor simbólico e biográfico, Maxwell Alexandre constroi uma mitologia imagética que engloba religiosidade e militarismo. Da mesma maneira, sua obra confronta o estatuto institucional da arte contemporânea e os limites do campo da experiência estética.

Rebeca Carapiá

Ao utilizar o ferro e o cobre como seus principais materiais, o trabalho de Rebeca Carapiá se desdobra em esculturas, instalações, desenhos e gravuras, nos quais torção, união e aproximação entre essas matérias constituem uma caligrafia abstrata. Tomando a palavra como ponto de partida, as obras de Rebeca Carapiá insuflam, dobram e seccionam a linguagem em um exercício de deslocá-la de uma posição linear e monolítica. Assim, seus trabalhos se configuram como uma língua particular, que resulta do liame entre corpo, terreno, memória e os saberes oriundos das vivências da artista, bem como daqueles imbuídos na materialidade das peças.

Heitor dos Prazeres

Heitor dos Prazeres (1898-1966) foi um artista plástico, figurinista, compositor e sambista, reconhecido como figura fundamental do contexto cultural carioca no início do século XX e para o Modernismo brasileiro. Heitor dos Prazeres foi um autodidata, e sua inserção no ambiente artístico carioca foi a princípio pela via da música. Na segunda metade dos anos 1930, passou a se dedicar também à pintura, tratando de temas relacionados às tradições e à cultura popular brasileira e cenas do cotidiano das populações negras da cidade. O samba, o carnaval, as paisagens urbanas e as brincadeiras infantis foram seus temas mais frequentes.

Acompanhamento curatorial.

12/jun

A Galeria TATO, Barra Funda, São Paulo, SP, convida para a abertura da exposição “Crise fractal”, mostra que integra o Ciclo Expositivo do Programa Casa Tato – edição 12. Resultado de um processo de acompanhamento curatorial e trocas ao longo de sete meses, “Crise fractal” reúne obras que refletem distintos percursos poéticos e formas de abordagem das urgências do presente, com atenção à potência das construções coletivas. Com curadoria de Lucas Dilacerda e assistência de Maria Eduarda Mota, a exposição apresenta trabalhos desenvolvidos por dez artistas participantes da 12ª edição do programa.

E pelas próprias palavras do curador: “Crise fractal celebra o coletivo como potência estética e política. A exposição nos lembra que nenhuma criação ocorre de forma isolada, que todo gesto artístico carrega as marcas de seus encontros, das suas escutas, das redes que o constituem. Em tempos de crise, imaginar saídas possíveis exige coragem, mas também con-vivências: é preciso criar juntos, resistir juntos, sonhar juntos, pois a beleza está no coletivo”.

Casa Tato 13 | Inscrições abertas

Com a exposição Crise fractal, a 12ª edição da Casa Tato se encerra reunindo os desdobramentos poéticos desenvolvidos ao longo do programa. Agora, a Galeria TATO segue com as inscrições para a 13ª edição do projeto. Voltado a artistas em processo de inserção no circuito, o programa propõe um percurso de acompanhamento crítico e imersão no sistema da arte.

Elementos do cotidiano do artista.

O artista Allan Weber apresenta a itinerância da individual “My Order” no De La Warr Pavilion, em Bexhill-on-Sea, Inglaterra, com abertura no dia 12 de junho. Em seu segundo ato, a mostra ganha um novo subtítulo: “My Order: existe uma vida inteira que tu não conhece”, inspirado no fotolivro homônimo que o artista lançou em 2020. Com curadoria de Joseph Constable, Pablo León de la Barra e João Conceição, a exposição fica em cartaz até 14 de setembro.

A mostra é co-comissionada com a Nottingham Contemporary, onde foi apresentado o seu primeiro ato, chamado “My order: nenhum lugar no mundo é igual ao nosso lugar no mundo”. Ela resulta de um mês de residência artística que Allan Weber realizou em Nottingham em novembro de 2024, durante o qual retomou e complexificou a sua pesquisa em torno do trabalho com entregas por aplicativo e das conexões estabelecidas dentro do caos urbano e do trânsito pelas ruas e culturas.

A nova exposição expande o conjunto apresentado na primeira com obras inéditas. Entre elas, está uma instalação escultórica e fotográfica site-specific na galeria do andar térreo do De La Warr, pensada em diálogo com a arquitetura do edifício e com os seus arredores. A instalação procura trazer para o campo da arte elementos do cotidiano do artista, como assentos de moto de entregadores, mochilas de entrega e capacetes.

O título da mostra alude tanto ao período no qual Allan  Weber trabalhou como entregador de comida, levando “pedidos” (“orders”) aos clientes, quanto às regras internas que operam as comunidades e sistemas que atravessaram a vida do artista. “My Order” é a resposta de Allan Weber a essas regras: uma afirmação de autonomia e agência.

A ênfase na técnica da gravura.

11/jun

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura no dia 14 de junho três exposições, sendo duas com ênfase na técnica da gravura e outra na trajetória de Iberê Camargo. Os curadores da Bienal do Mercosul, Raphael Fonseca, Tiago Sant’Ana e Yina Jiménez Suriel, foram convidados para selecionar obras de Iberê Camargo para a exposição “Iberê Camargo: estruturas do gesto”. São 58 trabalhos, entre desenhos, gravuras e pinturas, produzidos entre 1940 e 1994, ano da morte do artista.

A exposição “Gravura – Experiência matriz” apresenta os diferentes matizes de 43 artistas de renome internacional que passaram pela técnica na Fundação Iberê Camargo.

Artista que incentivou Iberê Camargo na retomada da gravura no final dos anos 1980 e idealizador do Gabinete de Gravura no Museu Nacional de Belas Artes, Carlos Martins faz retrospectiva de seu trabalho na Fundação Iberê Camrago. Mestre supremo de seu ofício, Carlos Martins é um dos gravadores mais apurados, sofisticados e elegantes de sua geração. Dotado de um virtuosismo poucas vezes atingido no campo da repetição da imagem, pode-se dizer também que é um “gravador dos gravadores”. Ele também é arquiteto, museólogo, pesquisador e curador. Por mais de 15 anos, o artista manteve relações profissional e de amizade com Iberê Camargo.

Com curadoria de José Augusto Ribeiro, “Sombra da Terra” sublinha o interesse de Carlos Martins em figurar uma espécie de dimensão metafísica do mundo das coisas. Diversas gravuras de Carlos Martins inspiradas pelos lugares onde foram produzidas. É o caso da série “Journey to Portugal”, de 1976, em que a natureza surge apenas na forma controlada dos jardins, vista entre sombras, por cima de paredes e muros, ou através de janelas. Outro destaque da exposição compõe-se de trabalhos em torno da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes.

“O objetivo da exposição é ressaltar o apuro técnico da produção de Martins na realização de seus trabalhos, a combinação de linguagens e soluções diversas na feitura de uma única imagem e os jogos que se armam, não raro, entre repetições e diferenças em grupos de trabalhos – quando numa série, por exemplo, uma estampa se multiplica por várias unidades, embora cada uma receba tratamento específico e diferente, com cores, formas e soluções de preenchimento variadas. Constitui-se, assim, uma obra que é, ao mesmo tempo, rigorosa, culta e atenta à realidade sensível”, afirma José Augusto Ribeiro.

Sobre o artista.

Há 50 anos, Carlos Martins produz um trabalho gráfico notabilizado pelo apuro técnico empregado nas diferentes etapas de construção de uma imagem, no desenho, gravação e impressão. Carlos Botelho Martins Filho nasceu em Araçatuba, SP, 1946. Iniciou seus estudos em gravura em metal na década de 1970, na Inglaterra, frequentando a Chelsea School of Art, Sir John Cass School e Slade School of Arts, além da Academia Raffaelo na Itália, retornando ao Brasil em 1978. Estabeleceu-se no Rio de Janeiro, trabalhando na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) como professor de gravura. Durante a década 1980 ministrou cursos, ao modelo inglês de evening class, que ocupavam horários ociosos de ateliês de escolas e de universidades para a realização de cursos livres.

“Gravura – Experiência matriz” mostra os diferentes matizes de artistas de renome internacional que passaram pela técnica na Fundação Iberê Camargo, reunindo na exposição obras de 43 artistas que vivenciaram a técnica na prensa que pertenceu a Iberê Camargo. São eles: Afonso Tostes, Alex Cerveny, Angelo Venosa, Antonio Dias, Álvaro Siza, Caetano de Almeida, Carlos Martins, Carlos Fajardo, Carlos Pasquetti, Carmela Gross, Daniel Acosta, Daniel Feingold, Daniel Escobar, Daniel Melim, Elisa Bracher, Iole de Freitas, Janaina Tschäpe, Jorge Macchi, José Bechara, José Patrício, José Resende, Laura Andreato, Léon Ferrari, Lucas Arruda, Luciana Maas, Luiz Carlos Felizardo, Marcos Chaves, Maria Lucia Cattani, Matias Duville, Nelson Felix, Nelson Leirner, Nuno Ramos, Pablo Chiuminatto, Paulo Monteiro, Paulo Pasta, Rafael Pagatini, Regina Silveira, Rodrigo Andrade, Rosângela Rennó, Santídio Pereira, Teresa Poester, Vera Chaves Barcellos, Waltercio Caldas.

A exposição traz um recorte da coleção com artistas de diferentes matizes e suas respectivas obras produzidas nas mais variadas técnicas da gravura em metal em sete módulos temáticos: matéria da memória em P&B, abstrações, figuras, riscados, paisagens, grafismos e cartografias. “Gravura – Experiência matriz” é organizada pela Fundação Iberê Camargo, que, em 1999, ainda na casa do artista no bairro Nonoai, promoveu oficinas de gravura ministradas por Anna Letycia, Evandro Carlos Jardim, Claudio Mubarac e Carlos Martins. Nesse período, foi proposto que as matrizes das obras fossem doadas para a instituição, dando início à Coleção Ateliê de Gravura. Em 2001, foi criado o Projeto Artista Convidado, como programa de residência artística sob a coordenação de Eduardo Haesbaert que foi assistente e impressor de Iberê Camargo. Os artistas experimentaram a gravura, muitos deles pela primeira vez, e produziram obras inéditas criadas a partir de suas poéticas. Desde então, o projeto recebeu mais de 100 artistas residentes. O Ateliê de Gravura conserva a prensa e as ferramentas utilizadas por Iberê Camargo que, desde os anos 1940, teve a prática da gravura simultânea ao seu ofício de pintor. “Estabelecemos uma profícua troca a partir de pesquisas, conceitos e pensamentos de cada residente. Suas expressões são reveladas em obras gráficas e posteriormente multiplicadas, tornando-as parte do acervo do artista e da Fundação”, destaca Eduardo Haesbaert.

Curadores da 14ª Bienal do Mercosul assinam a curadoria da exposição “Iberê Camargo: estruturas do gesto”.

Raphael Fonseca, Yina Jiménez Suriel e Tiago Sant’Ana, curadores da 14ª Bienal do Mercosul, foram convidados para assinar a seleção de obras que fazem parte do acervo da instituição. São 58 trabalhos, entre desenhos, gravuras e pinturas, produzidos entre 1940 e 1994, ano da morte do artista. Chamam a atenção os desenhos de crânios e gatos presentes na mostra e que participaram da mais recente edição da Bienal do Mercosul.

Um dos destaques da exposição é um estudo feito em 1966 para o painel da Organização Mundial de Saúde em guache, pastel seco e grafite sobre papel. Criada no segundo pós-guerra (1947), no contexto da reconstrução e da reorganização do mapa político internacional, a OMS recebeu doações de todos os países membros para construir e equipar a sua sede na Suíça. O Brasil, por meio do Ministério de Relações Exteriores, ofereceu um presente cultural: uma pintura original que Iberê Camargo realizaria in loco. Foram quatro meses de trabalho em uma pintura 49 metros quadrados. Para criar uma “vegetação colorida”, Iberê Camargo realizou uma série de esboços e começou a brincar livremente com as formas. Trinta estudos feitos com grafite, guache, grafite, lápis de cor, nanquim, tinta a óleo e outros materiais ficaram guardados por mais de 40 anos nos porões da agência de Saúde da Organização das Nações Unidas em uma caixa lacrada com o inédito projeto de Iberê Camargo, com uma mensagem do próprio artista escrita na tampa: ”Não dobre e não remova nada sem a autorização do diretor-geral”. Eles só foram descobertos em 2007, após uma consulta da Fundação Iberê Camargo, a pedido de Maria Coussirat Camargo. A caixa foi aberta em janeiro de 2008, na presença de autoridades da Organização Mundial da Saúde, e encontram-se preservados no Arquivo da OMS, em Genebra, como parte do presente do governo brasileiro. Iberê e Maria Camargo mantiveram alguns estudos, que estão sob os cuidados da Fundação Iberê Camargo.

Transformando materiais unidos.

10/jun

Dan Coopey participa de “Noc”, exposição em dupla que inaugurou o espaço físico do projeto Art Dialogues e o Espaço Cultural Gabinete de Curiosidades, em Gonçalves, no sul de Minas Gerais.

A mostra reúne a produção recente de Dan Coopey e peças do marceneiro Juarez Trombetta, ambos residentes na região. Sob o título Noc – palavra que compartilha origem com “nó” e knot, derivada do sânscrito gnod- (amarrar, gerar) – a exposição investiga como os materiais são unidos e transformados pelos dois artistas.

“Cada escultura de Coopey pode levar um mês para ser concluída, e o trançado torna-se uma extensão do corpo do artista durante esse período; cada torção e curva na escultura reflete o vai e vem da produção. O artista nunca pré-determina a forma da obra – cada escultura emerge organicamente a partir de um processo íntimo e instintivo. A artista Anni Albers escreveu sobre dar ao objeto a chance de se desenhar sozinho, e Coopey pensa de forma semelhante – são os próprios objetos que se fazem. Ele aprendeu, inclusive, que lutar contra a direção natural do trançado raramente leva a bons resultados”, pontua o texto de apresentação da mostra.

A potência emocional de Stella Margarita

A trajetória de Stella Margarita pelo circuito artístico do Rio de Janeiro foi breve, mas profundamente marcante. Um recorte significativo de sua produção poderá ser contemplado na exposição “Stella Margarita: Fugas que se movem”, no Instituto Cervantes do Rio de Janeiro, Botafogo, no dia 17 de junho. A expressão “fugas que se movem” é da própria Stella Margarita. A partir dela, foi construído este retrato curatorial, um convite à imersão na força psicológica e humana de sua pintura.

Tendo como ponto em comum a investigação da dimensão humana e do movimento físico e emocional, foram selecionadas algumas de suas principais séries, entre elas Abraços, Álbum de Família e Fotogramas. A proposta desta individual é oferecer ao público uma imersão nessas fugas: uma visão de mundo singular, ancorada na dimensão humana mais do que na estética pura. Embora sua técnica fosse apurada, o verdadeiro motor de sua criação sempre foi o sentimento. Stella Margarita buscava traduzir emoções em imagem – por isso, dedicou-se intensamente a retratar olhares, gestos, abraços. Fundos marcantes, muitas vezes abstratos, revelam atmosferas emocionais. Os personagens parecem levitar, cair, escapar, mas como se trata de fugas que se movem, há sempre a possibilidade do reencontro, da volta.

Atualmente, sua obra pode ser vista na novela Vale Tudo (TV Globo), nas telas assinadas pela personagem Heleninha, interpretada por Paolla Oliveira.

“O movimento é um elemento central na linguagem de Stella. Ele se revela na pincelada livre e marcante, nos flagrantes de cenas cotidianas, e nas apropriações que fez do cinema e da performance, incorporando essas expressões a sua própria. Mas trata-se sempre de um movimento em fuga – fugas que se movem, fugas que retornam. É nessa constante busca e deslocamento que sua obra pulsa com uma densidade psicológica única. Muitas vezes perturbadora. Um convite à fuga, e ao retorno”.

Stella Margarita iniciou sua formação artística tardiamente, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Produziu intensamente por cerca de uma década, combinando urgência criativa e consistência técnica. Reinventou-se diversas vezes; adotou novos nomes, novos projetos e abraçou uma nova missão artística. Ganhou prêmios, como o do IBEU, participou de uma residência em Leipzig, e integrou diversas exposições. Sua ascensão, no entanto, foi abruptamente interrompida em 2020 por um diagnóstico de ELA bulbar, uma forma agressiva e rara da doença. Frente à progressiva limitação motora, Stella Margarita impôs a si mesma uma nova resistência: espalhou em seu ateliê a frase “fuerza carajo” como um grito de vida. E seguiu criando. Em 2021, montou um estúdio improvisado em Genebra, onde considerava iniciar um tratamento experimental. Contudo, optou por voltar ao Rio de Janeiro, e transformou sua casa em espaço de produção. Mesmo com a redução da motricidade e do tamanho dos quadros, a potência emocional se manteve intacta. Talvez como um gesto de ironia poética, suas últimas telas retratam cenas leves da vida familiar, cores quentes, ambientes externos, cotidianos ternos. Uma fuga, ou talvez uma síntese. Stella partiu precocemente em 2022, aos 66 anos de idade, deixando um legado artístico admirável.

Até 19 de julho.

Luiz Zerbini como ativista ambiental.

09/jun

LUIZ ZERBINI/Os Comedores de Terra – (The Earth Eaters) – ART BASEL UNLIMITED – Stand U48

Entre os dias 16 e 22 de junho.

Os Comedores de Terra (2025), de Luiz Zerbini, é uma instalação de 360 ​​graus que reúne uma pintura de cinco metros e esculturas de cores vibrantes, emulando pedras preciosas e minérios. Juntos, eles criam um espaço imersivo no qual uma narrativa apocalíptica se desenrola, condensando imagens de destruição com texturas e efeitos visuais hipnotizantes. Luiz Zerbini constrói sua composição a partir de documentos sobre garimpos ilegais de ouro na Amazônia, transformando-os em uma visão assombrosa de uma paisagem que carrega as cicatrizes de atividades extrativistas, como a exploração madeireira e a agricultura de corte e queima. Em um poço, encontra-se uma massa de gasolina escorrendo, com as cores do arco-íris, formando uma película cintilante sobre a superfície de um corpo d’água, enquanto colunas de fogo se erguem entre as árvores derrubadas. O primeiro plano é marcado por folhagens e flores exuberantes, em forte contraste com as cenas fantasmagóricas de devastação que ocupam o fundo.

Elementos escultóricos e um escopo espacial tridimensional acompanham a obra do artista há muito tempo, dando forma a um ecossistema vivo, em Árvores, na Fundação Cartier (2019), ou replicando a vegetação, como na expografia de sua ampla pesquisa no MASP, em São Paulo (2022). O título da instalação faz alusão ao nome indígena Yanomami para os garimpeiros e madeireiros, que extraem as substâncias e energias vitais da Terra de suas entranhas. A peça condensa os componentes essenciais de um conflito centenário e consolida a posição de Luiz Zerbini como ativista ambiental. Ela denuncia a violência contra as populações nativas, seus territórios e os ecossistemas brasileiros. Nesta investigação política e ecológica, o artista reflete sobre como as economias industriais ameaçam a sobrevivência dos povos indígenas e seus modos de existência.

Esta pintura reflete o espetáculo do colapso – como o fim do mundo pode parecer visualmente deslumbrante. Ela se desenrola como um épico, destinado a ser visto e admirado, mesmo que a maioria das pessoas permaneça incapaz ou relutante em responder à sua narrativa. Parecemos cair em uma espécie de transe diante da beleza da nossa própria ruína.

Entre as exposições individuais recentes do artista estão Afinidades III – Cochichos, MON – Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil (2024); Paisagens Ruminadas, CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília, Brasil (2024); CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil (2024); A mesma história nunca é a mesma, MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo, Brasil (2022); e Razão Intuitiva, South London Gallery, Londres, Reino Unido (2018). O artista também participou das exposições coletivas Lugar de estar – o legado de Burle Marx, MAM – Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil (2024); Siamo Foresta, Triennale Milano, Milão, Itália (2023), Nous les Arbres, Central Elétrica de Arte, Xangai, China (2021); Árvores, Fundação Cartier, Paris, França (2019). As coleções públicas incluem Fondazione Sandretto re Rebaundengo per l’Arte, Torino, Itália; Fundação Cartier pour l’art contemporain, Paris, França; Instituto Inhotim, Brumadinho, Brasil; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil; MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil, MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo, Brasil e Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil.

Exposição retrospectiva de Vik Muniz no Recife.

O Instituto Ricardo Brennand, Recife, PE, convida para a exposição “A olho nu”, com obras de Vik Muniz. Artista reconhecido internacionalmente, Vik Muniz (1961, São Paulo) ganha uma completa e abrangente retrospectiva, com um conjunto de mais de 200 trabalhos produzidos desde os anos 1980 até os dias de hoje, percorrendo 37 diferentes séries, que ocuparão a Galeria Lourdes Brennand, com quase mil metros quadrados de área, e pé direito de sete metros.

O curador Daniel Rangel, diretor do Museu de Arte Contemporânea da Bahia, e observador do trabalho de Vik Muniz há 25 anos, destaca que a exposição “propõe um passeio pela produção do artista”. “Exploramos seus processos e caminhos por meio de um mergulho cronológico que lança luz sobre a criação de um artista cuja genialidade está explícita na rigorosa simplicidade que orquestra ao longo de sua robusta trajetória”, explica.

Neste raro e inédito conjunto de obras, o público verá a escultura “Concretismo Clássico” (2025), em mármores e granitos, produzida especialmente para esta retrospectiva no Instituto Ricardo Brennand, na qual Vik Muniz faz alusão às esculturas do local e também aos seus primeiros trabalhos, que eram tridimensionais. O público verá notórias séries do artista, que explorou diversos materiais – açúcar, feijão, lixo, diamantes, caviar, terra, cédulas de real (fornecidas pela Casa da Moeda), entre muitos outros – para discutir questões de nosso tempo.

A mostra ficará em cartaz de 13 de junho a 31 de agosto. A realização é do Instituto Ricardo Brennand em parceria com a Galeria Nara Roesler, e patrocínio do BC Investimentos S.A., a partir da Lei de Incentivo Federal à Cultura, do Ministério da Cultura.

No Octógono, dentro da Galeria Lourdes Brennand, haverá uma linha de tempo e será exibido um vídeo com depoimentos de Vik Muniz.

Exposição imersiva no Paço Imperial.

As incríveis imagens feitas pelo telescópio espacial James Webb, da NASA, foram a inspiração para a artista Amanda Coimbra criar as 35 obras da exposição “Luz estelar ecoando”, que será inaugurada no dia 14 de junho no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Com curadoria de Natália Quinderé, serão apresentadas obras inéditas, produzidas desde o ano passado em diferentes suportes, como fotografias, caixas de luz, vídeo e instrumentos ópticos variados. A sala expositiva terá uma luz mais baixa, difusa, criando um ambiente escuro, contemplativo e estelar.

“A ideia é que a pessoa tenha uma imersão nesse cosmos, que é concreto e fictício ao mesmo tempo. Cada um pode ver e imaginar seu próprio universo, através de dispositivos que não são mais tão usuais, como o filme fotográfico, o monóculo e o retroprojetor. A intenção é se reconectar, voltar a olhar para as coisas de uma maneira mais lenta, ter essa pausa para imaginar o espaço”, afirma a artista Amanda Coimbra.

Para realizar os trabalhos, Amanda Coimbra fotografa o céu de forma analógica, usando uma câmera Rolleiflex. Com as imagens prontas, ela faz interferências no filme slide com objetos pontiagudos, em geral compassos, desenhando planetas, estrelas e elementos cósmicos na superfície da película. O resultado é surpreendente e o espectador precisa trabalhar sua percepção para entender o que é real e o que foi criado pela artista. Cores variadas surgem nas obras, seja através das interferências feitas por Amanda Coimbra com marcador permanente, seja pelo próprio processo de raspagem do filme fotográfico, que faz brotar tons de azul da sua superfície. “Os usos da luz são muito poéticos no trabalho de Amanda, pois atravessam todo o processo – desde pensar a medida incomensurável dos anos-luz, passando para a importância da luz na fotografia, o uso de uma caixa de luz para desenhar no filme, até os dispositivos utilizados na exposição. A exposição reúne essas multiplicidades de sentido da luz, para além do trabalho de imaginação de pensar o cosmo”, diz a curadora Natália Quinderé.

O nome da exposição, “Luz estelar ecoando”, também teve como referência os títulos das imagens do telescópio James Webb. “São títulos fantásticos, como a colisão de galáxias, a eclosão de estrelas, então pensei em fazer uma composição a partir do fenômeno galáctico que estou tentando criar ou mostrar. Como meu trabalho tem muito a ver com a luz, pensei nela ecoando, pois há várias camadas de estrelas que se repetem nas imagens de formas diferentes, além da fotografia analógica ser um processo muito relacionado com a luminosidade”, diz a artista.

Ao longo da mostra estão previstos uma visita guiada com a artista e a curadora e o lançamento do catálogo virtual da exposição.

Sobre a artista.

Amanda Coimbra nasceu em Brasília, DF, em 1989). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Graduada em Artes Visuais pelo School of the Art Institute of Chicago (2011). Participou das residências artísticas Casa da Escada Colorida (2021-2022), DESPINA (2017), Espacio de Arte Contemporáneo (Montevidéu, 2017), Proyecto ‘ace (Buenos Aires, 2012) e Picture Berlin (Berlim, 2009). Desde 2010 mostra seu trabalho em exposições coletivas e individuais no Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Uruguai, Argentina e Perú. Em 2016 publicou o fotolivro “A Memória de um Álbum de Viagem”, com prólogo da curadora argentina Ana María Battistozzi. Em 2021 seu projeto “Nascer de Terras” foi contemplado pelo edital Retomada Cultural RJ (Lei Aldir Blanc – SECEC RJ). O resultado do trabalho produzido foi mostrado em uma exposição individual na Z42 com curadoria de Fernanda Lopes (2022). Participou do programa de acompanhamento para artistas “Imersões Poéticas”, com orientação de Cadu e Natália Quinderé e exposição coletiva do grupo no Paço Imperial (2023).

Sobre a curadora.

Natália Quinderé nasceu em Fortaleza, vive no Rio de Janeiro. Faz curadorias, pesquisa sobre arte e seus arredores e dança. Fez curadorias individuais de Ana Hupe, Eloá Carvalho, Pedro Victor Brandão, Luciana Paiva, Maria Baigur, Darks Miranda, Cristina de Pádula, Mayra Redin, entre outras. Dentre as curadorias coletivas destaca-se O trabalho trabalha trabalha e Formas de abandonar o corpo – parte 1. Idealizou Seis gentes dançam no museu, um projeto que intersecciona artes visuais, performance em dança e arte sonora (MAM, Rio). Em 2024, foi uma das residentes do Pivô (São Paulo). Foi selecionada para a última edição do Abre Alas (Gentil Carioca), em 2025. Alimentou uma plataforma chamada teteia (teteia.org), com colaborações de artistas e pesquisadoras. Atrelado ao trabalho de edição, traduziu ensaios de Hito Steyerl, Chantal Mouffe, Oksana Bulgakova, o curador Bonaventure Soh Bejen Ndikung, dentre outros