O feminino como princípio criador.

02/set

do mundo”. Uma visão poética e sensível da mulher como matriz, gênese, força-motriz no mundo e no cotidiano é a ideia que agrega as 77 obras de 59 artistas mulheres. Entre as artistas, estão Maria Martins, Lygia Pape, Celeida Tostes, Leticia Parente, Anna Bella Geiger, Sonia Andrade, Regina Silveira, Anna Maria Maiolino, Ana Vitória Mussi, Iole de Freitas, Sonia Gomes, Lenora de Barros, Brígida Baltar, Beatriz Milhazes, Rosângela Rennó, Adriana Varejão, Laura Lima, Aline Motta, Bárbara Wagner e Lyz Parayzo. A curadoria é de Katia Maciel e Camila Perlingeiro, que selecionaram trabalhos em pintura, gravura, desenho, vídeo, fotografia, escultura e objetos.  A mostra ficará em cartaz até 18 de outubro.

O início do mundo é um convite a regressar às origens. 59 mulheres evocam o feminino como princípio criador e força de transformação. Cada imagem, cada matéria carrega em si a potência das metamorfoses cíclicas, antigas e futuras. Aqui, o começo não é um ponto fixo, mas um movimento contínuo: um mundo que se reinventa no corpo feminino, na memória e na arte.

“Essa exposição é um projeto ousado, mesmo para a Pinakotheke”, diz Camila Perlingeiro. “Reunir tantas artistas e obras com suportes tão diversos foi certamente um desafio, mas um que abraçamos com entusiasmo. Há anos pensávamos em uma mostra que envolvesse um número expressivo de artistas mulheres, e a curadoria de Katia Maciel, poeta e artista múltipla, foi a garantia de um projeto ao mesmo tempo criterioso e sensível”. A montagem da exposição não obedece a um critério de linearidade. As aproximações são poéticas, onde obras em diferentes suportes se agrupam – como filmes junto a fotografias, ou pinturas que conversam com objetos, por exemplo. “É um percurso orgânico”, observa Camila Perlingeiro.

A primeira sala é toda em preto e branco, “porque simboliza o começo, antes da cor, antes de tudo”, explica a curadora. As outras salas são uma reunião de obras que conversam profundamente entre si e ao mesmo tempo formam uma cacofonia delicada e potente de tudo o que simboliza o início e o ciclo da vida.

Katia Maciel indaga: “O início é um ponto, uma linha, um círculo?”. “Para a Física, seria um ponto primeiro, um começo que explode. Para a História, uma linha contínua que por vezes se bifurca. Para as Mitologias, um círculo que gira sobre si mesmo. Para a Arte, o início são os três pontos, a reticência, a pergunta, a dúvida, uma forma viva que liga o finito ao infinito. A exposição reúne o trabalho de 59 mulheres cujos aspectos sensíveis e simbólicos expressam um início possível”, afirma.

MAM São Paulo encontra Instituto Tomie Ohtake.

Se os lugares importam, deslocar-se é se transformar – sem, no entanto, apagar os rastros do que já se foi. A arte, nesse contexto, é um campo privilegiado para apreender as camadas de tradução, opacidade, atrito e reinvenção que marcam o movimento de pessoas, formas e histórias. Foi com esse olhar que se iniciou a colaboração entre o Instituto Tomie Ohtake e o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM São Paulo), num momento em que a coleção do museu paulista se coloca em circulação pela cidade e enquanto o Instituto Tomie Ohtake preparava uma exposição dedicada à obra de Édouard Glissant. Logo começamos a conversar sobre o quanto a coleção do MAM São Paulo carrega marcas da demografia heterogênea do país e de sua maior metrópole; sobre como a história de nossas instituições é definida por trânsitos e mutações; e sobre como tanto modernidade quanto contemporaneidade estão imbuídas de legados de trocas e disputas entre territórios, linguagens e pessoas. Glissant usava a expressão aqui-lá para sublinhar que “aqueles que estão aqui vêm sempre de um “lá”, da vastidão do mundo”. Seu foco era afirmar que cada pessoa e comunidade carregam rastros de outras paisagens, línguas e culturas, e que por isso nenhum lugar é homogêneo ou pode ser compreendido como uma unidade coerente. Para o poeta, ao contrário do que alguns afirmam, a diversidade resultante dos movimentos entre territórios enriquece a experiência dos lugares, colocando-os em relação com todas as línguas e lugares do mundo. Partindo dessa premissa, a exposição propõe um exercício de escuta e aproximação, em que as obras da coleção do MAM são reunidas a partir do cruzamento de rastros – ora em ressonância, ora em desvio. Mais do que ilustrar deslocamentos, as obras os incorporam como matéria, gesto e pensamento.

A exposição se estrutura em dois núcleos, distribuídos em salas distintas, cada qual tensionando, à sua maneira, os modos de estar no mundo a partir da experiência do deslocamento e da relação com o outro. As obras presentes no espaço entre as salas introduzem algumas formas fundamentais dessa tensão: o texto, o mapa, e o isolamento. A primeira sala reúne obras marcadas por travessias físicas e simbólicas – migrações, diásporas, exílios, deslocamentos voluntários ou forçados, externos ou internos. Essas obras não apenas tematizam o movimento, mas o incorporam em suas matérias, gestos e construções formais. Elas apontam para as dinâmicas geopolíticas, afetivas e institucionais que moldam quem pode ou não circular, permanecer ou retornar. Aqui, o deslocar-se é compreendido como experiência complexa, feita de perdas, reinvenções e resistências.

A segunda sala se volta para as tensões entre corpo, território e identidade. Reúne obras que elaboram, por meio de imagens, superfícies e símbolos, processos de afirmação individual e coletiva – modos de inscrever a presença em contextos marcados por silenciamento, normatividade ou violência. Essas obras não se pretendem fixas ou ilustrativas: tratam de negociações sempre em curso, onde o corpo se torna lugar de disputa e de criação de sentido.

Cada uma dessas salas é orientada por uma obra que, em sua forma, já enuncia a instabilidade das fronteiras. Em uma, a multiplicidade de bandeiras de diferentes cidades brasileiras, de um mesmo estado, revela o caráter fragmentado e imaginativo dos signos cívicos que organizam o espaço nacional. Em outra, os retratos de pessoas em condição migrante – vendedores ambulantes que falam outras línguas, portam outros gestos, e vivem a precariedade de quem não pôde permanecer onde pertencia – tornam visível uma face cotidiana e estrutural da exclusão. Essas duas entradas não apenas introduzem os núcleos da exposição, mas também operam como dispositivos de leitura que colocam em relação o que se verá a seguir: deslocamentos e afirmações, mapas e corpos, simetrias e tensões, ausências e resistências. Ao caminhar entre as salas, o visitante é convidado a perceber como a arte – e as coleções – podem se tornar campos sensíveis, em que ecos do “lá” se inscrevem no “aqui”, e onde o entre-lugar se faz espaço de sentido.

Ana Roman, Cauê Alves, Gabriela Gotoda e Paulo Miyada, curadores.

Até 02 de novembro.

O universo de Grauben.

Exposição individual de pinturas de Grauben no Museu Inimá de Paula, Belo Horizonte, MG.

Grauben do Monte Lima (Iguatu, CE, 1889 – Rio de Janeiro, RJ, 1972) foi uma figura corajosa e pioneira, mudou-se para trabalhar no Sudeste no início do século XX , ocupando áreas de trabalho pouco convencionais para mulheres. A jornalista Maria Ignez Corrêa da Costa Barbosa conta que “Grauben foi das primeiras mulheres no Brasil a trabalhar na imprensa (na revista Fon-Fon, traduzindo do francês romances de capa e espada), a possuir um cargo público (no Ministério da Fazenda), a ir desacompanhada às confeitarias da cidade, onde ouvia a fala dos boêmios de então, como Olavo Bilac e Alberto de Oliveira, a tomar bonde sozinha.”

Só aos 70 anos de idade Grauben começou a pintar. Autodidata, a artista contou em depoimento de 1968: “Virei pintora por causa do crepúsculo. Eu morava na General Osório. Naquele tempo não havia tantos edifícios. Da janela, eu olhava o mar. O sol estava metade dentro dele, metade fora; e, deitada sobre aquelas águas, aquela esteira de luz. Comecei a chorar de beleza. Minha sobrinha disse que só uma artista choraria por aquilo – e me deu material para pintar.”

Grauben participou de três edições consecutivas da Bienal Internacional de São Paulo (1963, 1965 e 1967), expôs em Paris e realizou individual com 80 pinturas no MAM em 1966. Sua obra foi comparada a nomes como Grandma Moses e Séraphine de Senlis, mas se destacou por um estilo único, descrito como “neo-impressionismo com paisagens imaginárias” por Walmir Ayala. Mário Pedrosa definiu sua arte como um “esbanjamento dos últimos pólens de vida”. Suas pinturas integram acervos como o MAM Rio, o MNBA e a Collection Cérès Franco, além de constarem em importantes dicionários de arte.

A mostra em Belo Horizonte é uma oportunidade rara de encontro com essa artista singular, que retratava a natureza por meio de pontilhismo e uma exuberante variedade de cores tropicais, representando de forma simples elementos da fauna brasileira. Utilizando uma técnica descomplicada, baseada em pequenas pinceladas e pontos, sua pintura se destacava pela abundância cromática e pela delicadeza das formas. Suas obras, hoje preservadas em coleções particulares e galerias, revelam uma pintura marcada por tons crepusculares e motivos alegres, onde a sensibilidade do olhar amadurecido se transforma em celebração da beleza e da imaginação. Ao revisitarmos sua produção, celebramos não apenas a arte, mas a coragem de começar e florescer em qualquer tempo da vida.

A exposição fica em cartaz até 19 de novembro.

Exposição e livro na Pinakotheke Cultural.

Uma das figuras centrais na vida cultural brasileira desde 1956, Frederico Morais (1936, Belo Horizonte) ganha uma publicação em dois volumes, com 912 páginas no total, com seus textos críticos publicados ao longo das décadas de 1970 e 1980. “Frederico Morais – Arte e Crítica” (Edições Pinakotheke, 2025) é fruto de uma pesquisa de dez anos feita por Stefania Paiva e Rodrigo Andrade, que selecionaram 500 textos desse período abordado. O Volume I cobre os anos 1970; o Volume II, os 1980, e os textos foram publicados no jornal “O Globo”.

Para celebrar o lançamento da publicação, que dá a partida para as homenagens dos 90 anos de Frederico Morais, em 2026, a Pinakotheke apresenta uma exposição com 25 obras de 22 artistas próximos ao crítico, entre eles Beatriz Milhazes, Carlos Vergara, Cildo Meireles e Rubem Valentim, em seleção de Stefania Paiva e Diego Matos.

Além das obras, será exibido o filme “Frederico Morais – a crítica-poema”, com direção de Katia Maciel, pesquisa de Stefania Paiva, produção de Camila Perlingeiro e fotografia de Daniel Venosa, com depoimentos feitos pelos artistas Cildo Meireles, Rosana Palazyan, Carlos Zilio, Milton Machado, Ana Vitória Mussi, Evandro Salles, Beatriz Milhazes e Luiz Alphonsus.

A exposição apresenta também uma série de textos fac-similares com aproximação crítica, destacando três caminhos histórico-poéticos relevantes que atravessaram a trajetória de Frederico Morais: experiência e radicalidade (a arte dos jovens artistas dos anos 1960/1970); amplitudes modernas (a diversidade do Modernismo no Brasil) e identidades de um Brasil plural (muito além do moderno, um país único).

“Funcionando como prelúdio de um universo ainda maior, uma espécie de Biblioteca de Babel borgiana da arte brasileira, essa mostra permitirá visualizar algumas conexões selecionadas entre crítica e criação, entre curadoria e participação, entre história e presente”, como assinalam Stefania Paiva e Diego Matos.

As engrenagens de Gabriela Mureb.

 

A Central galeria, Higienópolis, São Paulo, SP, apresenta a partir de 02 de setembro a exibição individual de Gabriela Mureb, “Cavalo-vapor”. A exposição inaugura a nova sede da galeria, ocupando os dois andares do espaço com instalações, esculturas e um filme.

Artista em destaque na Trienal do New Museum em 2021 e na 13ª Bienal do Mercosul em 2023, Gabriela Mureb elabora, em sua obra, ruídos entre corpo, objetos técnicos e máquinas, em trabalhos que se apresentam ora como sobreposições de engrenagens, ora como sistemas em funcionamento.

Alberto Pitta na Nara Roesler.

01/set

Uma das figuras centrais no Carnaval de Salvador, onde atua há mais de 45 anos, o artista Alberto Pitta tem recebido, no Brasil e no exterior, um crescente reconhecimento de sua produção, e participará da 36ª Bienal de São Paulo, a convite de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, que em 2023 já havia incluído obras suas na coletiva “O Quilombismo”, na Haus der Kulturen der Welt, em Berlim. Este ano, Alberto Pitta participou da exposição “Joie Collective – Apprendre a flamboyer”, no Palais de Tokyo, em Paris, entre outras. Na Nara Roesler São Paulo, Alberto Pitta irá mostrar, a partir de 02 de setembro, 24 trabalhos inéditos e recentes, em pintura e serigrafia sobre tela, além de desenhos sobre papel que mostram seu processo criativo, e ainda um carrinho de madeira, alusivo aos usados por vendedores de cafezinho em Salvador. A curadoria é de Galciani Neves.

Na abertura da exposição “Àkùko, Eiyéle e Ekodidé – Uma revoada de Alberto Pitta”, será lançado o livro “Alberto Pitta” (Nara Roesler Books, 2025), com 152 páginas, formato de 17,5 x 24,5 cm, capa dura com serigrafia, bilíngue (português/inglês) e texto de Galciani Neves – curadora da mostra – além de uma entrevista dada pelo artista a Jareh Das, curadora que vive entre a África Ocidental e o Reino Unido. A introdução é de Vik Muniz, amigo do artista desde que ambos participaram da exposição “A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé”, com curadoria de France Morin, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em 2000.

A curadora destaca que na exposição três pássaros “aparecem com protagonismo nas telas de Pitta: Àkùko, Eiyéle e Ekodidé se espalham a partir de uma organização cromática do espaço da galeria Nara Roesler”. “Eles habitam a primeira série de trabalhos, na qual predominam composições em preto, branco, vermelho e amarelo, como se dessem boas-vindas ao público; em seguida explodem em cores vibrantes e composições multicoloridas, para encantar; e, por fim,acontecem na calmaria de telas brancas – onde distintos matizes de branco compõem o trabalho”.

Vik Muniz, na introdução do livro, afirma que “nos panos dos abadás, uniformes dos blocos afro e blocos de índios sua linguagem se moldou, impregnada de referências ancestrais e desafiada pela multitude de propostas temáticas resultante da autonomia criativa dos carnavalescos. Pitta é protagonista e produto desse encantamento pleno de tradição, mas não vazio de liberdade”.

Na Nara Roesler São Paulo, Alberto Pitta vai mostrar um carrinho de cafezinho, feito em madeira, na forma de um caminhão de brinquedo, em alusão aos “carrinhos de cafezinho”, muito comuns em Salvador, usados pelos vendedores ambulantes para vender café, normalmente já adoçado com açúcar, colocado em garrafas térmicas e servido em copos de plástico. Para a exposição “A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé”, em 2000, no Museu de Arte Moderna da Bahia, com curadoria de France Morin, Alberto Pitta desenvolveu um projeto inspirado no seu envolvimento duradouro com esses carrinhos de cafezinho, desde os treze anos de idade, quando criou seu primeiro carrinho de cafezinho.

Até 26 de outubro.

Um sistema vivo e pulsante.

Os 90 anos de Maria Bonomi serão comemorados com exposição antológica no Paço Imperial do Rio de Janeiro com mais de 250 obras, ocupando 11 salas, em 900m2 !

A curadoria da maior retrospectiva da “dama da gravura”, reconhecida também como celebridade na arte urbana, é assinada por Paulo Herkenhoff e Maria Helena Peres.

Dos desenhos à arte pública, das xilogravuras às esculturas, dos cenários aos figurinos, a poética de Maria Bonomi se manifesta como um sistema vivo e pulsante, que se expande em cada detalhe de uma obra que se revela nos mais variados espectros de sua criação e de seus valores existenciais. Maria Bonomi é um marco definitivo na gravura brasileira com amplo reconhecimento internacional.

Bandeiras da Utopia.

Cortejo e exposição acontecerá neste domingo, dia 07 de setembro, abrindo a 1ª Semana de Arte e Cultura do Rio de Janeiro e contando, pela primeira vez, com artistas internacionais.

A edição deste ano abrirá a 1ª Semana de Arte e Cultura do Rio, iniciativa da ArtRio em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, e terá a participação de renomados artistas, como Cildo Meireles, Denilson Baniwa, Ernesto Neto, Jarbas Lopes, Lenora de Barros, Mana Bernardes, Marcos Chaves, Matheus Ribbs, Opavivará, Regina Silveira, Sepideh Mehraban, entre outros. Artistas indígenas de cinco diferentes etnias também participarão do evento.

A “PARADA 7 é um meio de participação efetiva do universo da arte e da cultura na discussão dos problemas do Brasil e do mundo, além de levar às ruas as manifestações da arte contemporânea. Um posicionamento efetivo dos artistas que trazem a visão da arte sobre as questões cruciais do nosso tempo”, afirmam César Oiticica Filho e Evandro Salles, idealizadores e organizadores do evento.

Para o evento deste ano, foram produzidas 100 bandeiras, cada uma com a obra de um artista, com imagens do que imaginam ser um novo mundo. Através das bandeiras, serão apresentadas visões e reflexões sobre as principais questões contemporâneas, pensando temas como: Qual a nossa utopia de mundo? Que mundo queremos construir? Como queremos que o nosso mundo seja? Como gostaríamos que a nossa civilização fosse? E o que queremos fazer de nosso planeta, a mãe Terra que nos acolhe, cria e alimenta?

Dentre os participantes da PARADA 7 deste ano, haverá 40 brasileiros convidados, 20 estrangeiros selecionados pela BRICS Arts Association, que lançará o primeiro número de sua revista durante o evento, e outros 40 artistas selecionados através de chamada pública pelo comitê curatorial do evento – formado por Giselle Lucía Navarro (Cuba), Yang Shu (China), Pooja Sod (Índia), Barbara Santos (Colômbia), Mai Abu Eldahab (Egito), Raquel Schuartz de Vargas (Bolívia), Shabbir Hussain Mustafa (Singapura) e pelos brasileiros Cesar Oiticica Filho, Helmut Batista, Evandro Salles e Sergio Cohn. A PARADA 7 2025 é organizada e produzida pelas seguintes instituições: BRICS Arts Association, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM Rio, Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, Capacete, Companhia de Mysterios e Novidades, Fina Batucada, Florestas Cidade – UFRJ, Guerrilha da Paz, Instituto de Artes da Universidade Federal Fluminense – UFF, Oasis, Programa de Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes (PPGCA-UFF) e Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro.

De 07 de setembro a 15 de novembro.

A Arte Popular vista por Cesar Aché.

A exposição da Coleção de Arte Popular de Cesar Aché na Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ,  será exibida entre 09 de setembro e  06 de outubro.

Cesar Aché é um dos mais importantes colecionadores de Arte Popular do país. Começou a formar a sua coleção em 1975, quando adquiriu uma peça do artista Nino, em Fortaleza. Um ano depois, inaugurou a sua galeria em Ipanema, centro do mercado de arte naquele tempo. Era um espaço muito charmoso que inovou na decoração de interiores, com um chão de sisal natural e móveis desenhados por ele mesmo. Sua loja iniciou com a venda de gravuras – Cesar Aché sempre gostou de arte em papel – e em 1977 a arte popular foi incorporada ao acervo.

Ele viajava pelo Brasil todo, conhecendo e visitando artistas, escutando histórias locais e comprando obras… Muito rapidamente começou a separar as suas preferências, em meio às compras que fazia para a galeria. “Ao longo dos anos eu fui fazendo uma seleção do que eu mais gostava porque minha coleção nunca foi uma acumulação. Cada uma dessas foi comprada individualmente e por um motivo. Nada aqui veio aos lotes. Mesmo os Ex-votos eu comprei um a um.” (Cesar Aché, 2025).

Em entrevista oral à autora, em julho 2025, Cesar Aché rememorou a história de sua coleção e alguns dos trechos de nossa conversa seguem aqui destacados como citações diretas porque ele explica o processo muito melhor do que eu poderia retransmitir. Transformei as minhas perguntas em intertítulos, interconectando fluxos e temas. Cabe salientar que as peças que ele coleciona foram escolhidas com muito esmero e individualmente, conforme acima. São peças com 40 anos de trajetória e cujas histórias lhe foram passadas pelos próprios artistas. Esta é uma característica fundamental dos trechos que se seguem: as histórias que Cesar Aché conta, ele escutou da própria fonte oral de cada uma dessas tradições. São histórias regionais e populares contadas por meio da arte e expressas nessa exposição.

As obras expostas nesta mostra – concebida e curada por Cesar Aché para acontecer na Galeria Evandro Carneiro Arte, estão todas à venda. Como dito no início deste texto, a concepção de coleção dele nunca foi acumulativa. Primar pela qualidade sempre foi mais importante do que a quantidade. Assim, chegou um determinado momento em que Cesar resolveu passar adiante as suas peças, em conjunto com as histórias que delas emanam. Cada uma com sua peculiaridade e narrativa.

Laura Olivieri Carneiro.

Preservação cultural e usos da cor pelos artistas

“O meu olho sempre foi o da preservação. Eu tinha muito interesse no aspecto formal das obras: como é que esses artistas resolveram a espacialidade, os cortes e o uso das cores? Como a cor foi usada? Porque o uso da cor é diferente em cada um desses artistas. Todos do interior e naquela época em que eu tinha a loja, então, não havia internet nem nada, eles nunca viram nada de arte, nunca viram os fauvistas alemães. E veja, esse Nino aqui como o uso da cor é interessante! Há outros artistas que quase não usam a cor. A Noemiza usa exclusivamente a cor do barro e o branco. O Sr. Ulisses usa mais para realçar os detalhes. A cor no sr. Ulisses sublinha a escultura, mas não é um elemento essencial. É mais ou menos – fazendo um paralelo – como o uso da cor pelo Rubem Valentim em seus relevos, em que o Rubem faz um relevo e toda a silhueta é coberta de uma cor. O sr. Ulisses acentua os volumes com uma linha de cor. Já o Nino usa a cor para definir os planos de corte da obra.” (Cesar Aché, 2025).

Temas e ciclos: memória social e diversidade regional

“Naqueles anos, havia temas, cenas e tipos de criações que deixaram de existir, como os brinquedos populares. Esses brinquedos eram feitos por pessoas pobres para crianças pobres brincarem. Mas as coisas foram mudando no país e no mundo… Em uma viagem mais recente que fiz ao Ceará – que sempre foi um grande centro de Arte Popular e as coisas convergiam para Fortaleza para serem vendidas nos mercados e nas feirinhas das ruas e das praças – perguntei por brinquedos para um artista velhinho que me disse literalmente o seguinte: “Ah, meu senhor, eu sei muito bem o que o senhor está procurando. Já vendi muito brinquedo, mas hoje nem filho de pobre brinca mais com esse tipo de coisa. Filho de pobre quer brinquedo chinês.” O que ainda se acha hoje de brinquedo, são feitos para serem enfeites (como essa roda gigante cujas luzinhas piscam e o carrossel que vou botar na exposição).”

“Alguns artistas eu tenho mais que outros. A Noemiza por exemplo e o Vitalino faziam as obras a partir dos ciclos do casamento, do trabalho, das profissões, dos presépios… E como eu tinha muito acesso eu comprava.”

“Havia dois meninos, primos, que trabalhavam a tradição local: um fazia as lendas do folclore e o outro fazia peças com onças a partir das histórias que eles ouviam. Fábulas com tamanduás (Wanderley) e coisas assim. Eu gostava de recolher as obras porque as peças contam histórias. Tudo na minha coleção tem história e a maioria tem mais de 40 anos. E eu conservo bem, cuido. Aqueles panos bordados (Cesar vai mostrando as peças) estão guardados há 15 anos em um baú, embaladinhos em plásticos. Eu comprei de um comerciante de Minas Gerais. Essa Nena, uma Babel de barro, ela é discípula do João das Alagoas. João montou um ateliê coletivo, fez um forno e ensinou a vizinhança. Esse São Jorge é do Leonilson.”

“O Vitalino não fez escola, os filhos eram seus herdeiros, era uma guilda familiar. Zé Caboclo e Manuel Eudócio aprenderam com o Vitalino, mas não são discípulos dele, criavam com a sua própria característica.”

“Nhô Caboclo, por exemplo, não ensinou ninguém. Vivia na rua, abandonado, quase um indigente mas era um gênio.” (Cesar Aché, 2025).

Todos os trechos acima são partes de uma conversa oral com Cesar Aché em julho de 2025 e transcritas pela autora em agosto do mesmo ano para o folder da exposição de sua coleção na Galeria Evandro Carneiro Arte.

Livro de Claudia Calirman pela Pinakotheke.

 

Professora de História da Arte na John Jay College of Criminal Justice (CUNY), em Nova York, onde vive desde 1989, Claudia Calirman ganha uma versão em português pelas Edições Pinakotheke de seu celebrado livro “Dissident Practices: Brazilian Women Artists, 1960s-2020s”, publicado inicialmente em 2023 pela Duke University Press, quando ganhou uma elogiosa página no jornal “The New York Times”, em artigo de Jill Langlois.

O livro “Práticas dissidentes: artistas contemporâneas brasileiras” (2025, Edições Pinakotheke), de Claudia Calirman, com 292 páginas, em formato de 16 x 23 cm, tradução de Mariano Marovatto, examina 60 anos de mais de 18 artistas visuais, preeminentes e emergentes, desde a década de sessenta até os dias de hoje. “Por meio de suas agendas radicais, essas artistas afirmam suas diferenças e produzem diversidade em uma sociedade onde as mulheres continuam sendo alvo de brutalidade e discriminação”, diz a autora. “Apesar de serem aclamadas como figuras-chave da arte brasileira, e de ocuparem uma posição única em termos de visibilidade e destaque no país, essas artistas ainda enfrentam adversidades e constrangimentos por serem mulheres”.

“Ao longo dos anos, tive conversas, trocas e interações com diversas pessoas. Suas vozes, ideias e contribuições constituem o amálgama deste livro”. As artistas apresentadas no livro são Sonia Andrade, Lenora de Barros, Fabiana Faleiros, Renata Felinto, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Aline Motta, Lyz Parayzo, Berna Reale, Rosângela Rennó, Sallisa Rosa, Gretta Sarfaty, Val Souza, Aleta Valente, Regina Vater, Lygia Pape, Letícia Parente, Wanda Pimentel e Márcia X.

“Práticas dissidentes: artistas contemporâneas brasileiras” abrange os anos da Ditadura Militar nas décadas de sessenta e setenta, “o regresso à democracia nos anos oitenta; as mudanças sociais no início do século XXI; a ascensão da direita no final da década de 2010; e o recente advento de uma geração mais jovem e diversificada lutando pela igualdade de gênero e pelos direitos LGBTQ”, detalha Claudia Calirman. “As práticas dessas artistas tornaram-se indissociáveis à uma multiplicidade de lutas contra a censura, a violência de Estado, a desigualdade social, o racismo sistêmico, a brutalidade policial e a exclusão de grupos marginalizados”.

Este projeto teve o apoio da Andy Warhol Foundation ArtsWriters Grant, da MillardMeissPublication Grant, do Office for the Advancement of Research da John Jay College of Criminal Justice, além dos prêmios PSC-CUNY (Professional Staff Congress-City University of New York).