Questões do feminino e da natureza.

30/abr

Os caminhos trilhados por Sandra Felzen perpassam as questões femininas, as causas ambientais e suas várias vivências culturais. Seus instrumentos são a arte, a natureza, o estudo da língua hebraica, tudo imerso no contexto da cultura brasileira.

Em “O Tempo, O Feminino, A Palavra”, que abre no dia 08 de maio, na Galeria do Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, Humaitá, Rio de Janeiro, RJ, a artista constrói artesanalmente um caderno, um útero e inúmeros potes, feitos a partir de tiras de vários tecidos afetivos que coletou ao longo da vida.  O conteúdo do caderno mostra os desdobramentos de sua trajetória artística, suas reflexões sobre a passagem do tempo, sobre o feminino e sua conexão com a Natureza, representada pela árvore. Ela ressalta a importância da palavra como geradora de conteúdos e de sentidos.

Para a artista, a árvore possui uma grande ligação com o feminino. Além da palavra ser feminina em português, ela simboliza o equilíbrio. Ela é o elo entre a terra e o céu. Enraizada, com uma potencialidade de crescimento, doa flores e gera frutos. É a Árvore da Vida.  Árvore da Vida é um conceito na cultura judaica que significa tanto sabedoria como a integralidade do Ser e todas as suas manifestações. As obras de Sandra Felzen contam histórias dos saberes ancestrais e revelam uma visão integrada da experiência humana. Reforçam a ideia de que arte, memória e natureza estão entrelaçadas em um diálogo contínuo com a vida. Esses temas se estendem do caderno, do útero e dos potes até às paredes da galeria, onde suas pinturas se apresentam. Nas telas, a artista se aprofunda nas nuances da cor, da composição e das texturas.

A palavra da artista.

“Meus temas principais, o Feminino e a Árvore, estão entrelaçados e dialogam entre si. Na verdade, são um grande tema único. Ao longo da minha carreira, pintei Umbuzeiros, Umburanas, Bacuris, Bambus, Monjolos, Carnaúbas, Veredas. As árvores representam nossas raízes, que nos dão sustentação. Elas nos fincam na história, em nossas ancestralidades. Ao mesmo tempo, nos dão o sentido de direção e nos remetem às alturas”.

Outros dois temas recorrentes em seu trabalho, inter-relacionados com o todo de sua obra e retratados nas páginas do caderno são os receptáculos (o útero, inclusive) e as janelas/espelhos, que são, segundo a artista, “Portais no Tempo e no Espaço”.

 Sobre a artista. Sandra Felzen

Carioca, Sandra Felzen graduou-se em Química com Mestrado em Ciências Ambientais. Iniciou seus estudos de pintura e desenho durante os anos 1980 em Nova York. Participou de vários cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e MAM, no Rio, entre o final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Realizou várias exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior ao longo dos 40 anos dedicados à arte.

Até 29 de junho.

A investigação metafísica de Alberto Saraiva.

A Galeria Patrícia Costa, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, abre individual de Alberto Saraiva, que apresenta pinturas em diálogo com o pictórico e a investigação metafísica. Usando acrílica e óleo sobre tela, Alberto Saraiva vai construindo uma narrativa própria em nuances coloridas capazes de revelar sutilezas, entre planos e figuras, ao olhar mais atento.

“Sobre Pintura”, exibição individual do artista que ocorre entre maio e 16 de junho, na Galeria Patrícia Costa, apresentará um conjunto com cerca de 20 pinturas. A curadora, Daniele Machado, selecionou um recorte que vai de 2009 à produção recente, de 2025 – algumas obras foram produzidas para esta exposição, como o díptico “Chuvinha de outono”. Segundo Daniele Machado, a pintura de Alberto Saraiva é construída por partes, com centros de gravidade coexistentes, que ora disputam, ora desorientam, ao tensionarem a perspectiva clássica que tanto educou o olhar ocidental. O conjunto reflete a investigação do pintor sobre a metafísica em diálogo com a tradição pictórica.

“Eu busco a presença humana no horizonte, no desconhecido, ainda que ela não esteja dentro da tela, mas fora dela”, afirma Alberto Saraiva.

Ao se interessar por arte aos 7 anos de idade, quando passou a desenhar, foi aos 21 anos que Alberto Saraiva teve seu real encontro com a pintura, tendo Katie van Scherpenberg como a sua grande mestra, durante dez anos, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (onde anos mais tarde ele mesmo viria a se tornar professor). Katie van Scherpenberg foi, para ele, uma referência que o ensinou a compreender a pintura como realidade física e, igualmente, como pensamento. “Costumo sempre relembrar o “paradoxo da Katie”, que dizia que a pintura não é algo que você ensina, no entanto algumas pessoas aprendem. A pintura, na verdade, é um pensamento que parte da matéria, que são os pincéis, as tintas, os lápis; a partir daí criamos uma imagem que se torna um pensamento claro que pode se desenvolver ou não. Pintura é um processo, passa pelo refinamento do pensamento”, diz o artista, que destaca a contribuição de Katie van Scherpenberg em uma das telas a ela dedicada.    A todo tempo, olhar para as pinturas é questionar sobre o que está ali e o que extrapola os limites do mundo físico. Ele vai deixando pistas para que esse movimento seja conduzido e descoberto pelo espectador, alternando a extrema habilidade técnica naturalista com as referências do universo gráfico. É uma obra “sobre pintura” e sobre a condição do homem contemporâneo: o que vive no tempo oportuno, suspendendo o cronos.

Sobre o artista.

Alberto Saraiva naceu em Manaus, em 1967, vive e trabalha no Rio de Janeiro. É artista-curador e pintor, graduado em Arte Educação e Museologia, com pós-graduação-especialização em Arte e Filosofia pela PUC-RIO e mestre em museologia pela UNI-RIO. Estudou desenho e pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage no Rio de Janeiro com Katie van Scherpenberg com quem aprendeu a pintar; estudou cor com o pintor José Maria Dias da Cruz e videoarte no Parque Lage nos anos 1990 com Adriana Varella onde fez parte do grupo de produção de vídeo que se reconectou aos artistas da produção de videoarte dos anos 1970. Fez sua primeira exposição individual na Galeria Candido Mendes no ano 2000, a segunda no Castelinho do Flamengo em 2008 e a terceira individual na Galeria do Lago em 2014. Dentre suas coletivas destacam-se a Bienal do Recôncavo-Bahia onde ganhou o segundo lugar no prêmio aquisição – Coleção Dannemann em 2000; 7a Bienal do Mercosul – Radiovisual com curadoria de Lenora de Barros em 2009. Imagens Paradoxais no Parque Lage em 2000; Rio Trajetórias: Ações Transculturais: Funarte em 2001; Obranome no Museu Nacional de Brasília em 2008; O corpo – entre o público e o privado com curadoria de Christine Mello no Paço das Artes em São Paulo em 2004; Rumos da Videodança – Itaú Cultural São Paulo em 2003; Ensaio sobre a beleza com curadoria de Bruno Miguel na Galeria Movimento em 2025.

Exposição homenagem para Maria Tomaselli.

Onde os pássaros caem e as casas flutuam, é a nova exposição de Maria Tomaselli em exibição no Museu de Arte do Paço – MAPA Praça Montevidéu, Centro Histórico, Porto Alegre, RS.

Com foco numa homenagem que aborda diferentes aspectos da produção de Maria Tomaselli, a exposição “Onde os pássaros caem e as casas flutuam” traça um panorama que une obras da Pinacoteca Aldo Locatelli com obras do acervo particular da artista.

Sob curadoria de Nicolas Beidacki, a exposição mergulha no mundo pictórico e filosófico de Maria Tomaselli, abordando questões que vão das deformidades habitacionais até as agonias do corpo, numa mescla de passado e presente, sem desconsiderar desafios contemporâneos, como o sentido de um futuro ancestral e a abordagem que o mesmo trouxe para pensar o mundo que habitamos, seja nas ocas, nas casas ou em nós mesmos.

Ainda que aberta para visitação do público, a curadoria, considerando a condição de saúde atual da artista – que está em recuperação de um procedimento médico – optou por realizar uma atividade de encerramento em substituição ao evento de abertura. Assim, no dia 17 de maio, sábado, às 11h, no Museu de Arte do Paço, será realizada uma conversa pública com Maria Tomaselli e o curador para abordar a trajetória e os processos criativos da artista, recentemente homenageada no “XVII Prêmio Açorianos de Artes Plásticas”.

Em cartaz até 22 de maio

Exposição de colagens e esculturas.

29/abr

Colagens de Roberto Scorzelli e esculturas de Marcos Scorzelli na Galeria Evandro Carneiro, Gáves, Rio de Janeiro, RJ. Roberto Scorzelli (PB, 1938 – RJ, 2012) foi um importante arquiteto e artista plástico. A Galeria Evandro Carneiro já realizou duas exposições de suas pinturas, em 2019 e 2022. Agora, apresenta seus inéditos trabalhos de colagens em papeis de seda e papeis de origami japoneses.

Texto de Laura Olivieri Carneiro.

Em conversa com sua viúva e mãe de seus dois filhos, um dos quais também presente nesta mostra (Marcos, de quem falaremos adiante) Rosa Bernstein Scorzelli me contou toda a história por trás dessas maravilhosas formas coloridas que ora se apresentam. Assim, usamos a metodologia da memória oral (entrevista gravada em áudio, transcrita e referenciada aqui) na pesquisa para escrever o texto que se segue.

No finalzinho da década de 1960 e início dos anos 1970, Roberto Scorzelli se interessou pelas colagens, desde que se tornou amigo da escultora Mary Vieira, quando ele era arquiteto do Itamaraty e ela estava em Brasília para instalar no palácio dessa instituição a icônica obra Ponto de Encontro (1969-1970). Nessa ocasião, a escultora presenteou o arquiteto com algumas peças de papeis de seda suíços.

Mary viveu muitos anos na Europa e fixou residência em Basel, Suiça. Roberto foi algumas vezes à Berna para reuniões sobre o projeto da embaixada do Brasil que seria construída nesta cidade e era assinado por ele. Foi quando aprofundou suas pesquisas sobre os papeis coloridos de excelente qualidade que ali pôde comprar e trazer para o Brasil.

Rosa lembra que o processo era complicadíssimo à época: primeiramente porque não havia a diversidade de colas que existem hoje. Roberto usava cola de sapateiro para o trabalho pois era mais adequada à lisura dos papeis. Aquilo exalava um cheiro tóxico e ele precisava interromper a produção de quando em vez para não prejudicar a saúde dele e de sua família. Neste momento, Isabella era pequena e Marcos acabara de nascer. Não bastasse isso, em alguns trabalhos, ele desejou criar um efeito diferencial e precisava queimar controladamente os papéis. Para tal, punha-se com o material dentro do box do apartamento para, se preciso, abrir as torneiras d´água e não incendiar a casa. Em conversas de casal, Rosa e Roberto concordaram que aquele processo era demasiadamente arriscado. O artista, então, continuou se dedicando à pintura a óleo e tinta acrílica e aos desenhos. Seguiu uma sólida carreira, com exposições em galerias consagradas, como a Bonino e a Saramenha, abriu uma loja de design na badalada Ipanema e seu escritório de arquitetura “bombava”. Situado em uma casa com quintal em Botafogo, seus filhos têm uma doce e lúdica lembrança da fase das colagens: Roberto enchia uma piscina inflável e com uma mangueira e seus papeis de seda, fazia cachoeiras coloridas com a tinta que o material soltava na água. Passados muitos anos, na década de 1990, Rosa que é física, estudava os meteoritos da Antártica e ia muito a Congressos realizados no Japão. Roberto adorava a cultura japonesa, o Zen-budismo, os monumentos sagrados e acompanhava a esposa. Certa vez ela precisou trabalhar um mês em um laboratório em Kyoto e, nos tempos vagos e andanças pela cidade, Roberto encontrou lojas especializadas em papéis: de seda em coloridos especiais como os dourados, com texturas e ranhuras, cortados geometricamente para origamis. Passava as tardes por ali, experimentando ideias para, no retorno ao seu país, voltar a criar colagens.

Assim, surgiu uma nova série nos anos 1990, com motivos semelhantes aos de vinte anos antes, mas utilizando papéis japoneses e não mais suíços. A amizade com Mary Vieira sempre foi constante e Roberto a presenteou com algumas dessas novas colagens. Mary se casara com Carlo Belloli, crítico de arte e galerista em Milão que quando viu o trabalho, quis realizar uma exposição em sua galeria. A mostra aconteceu em 2000. Depois disso, as colagens não mais foram apresentadas ao público até a presente data. Reunimos aqui 30 colagens dos dois tempos, 1970 e 1990. Guardadas com o primor dos princípios norteadores da conservação de obras de arte, os exemplares da produção foram acondicionados em mapotecas e chegaram até aqui intactos. Ainda inéditos no Brasil, expomos agora estes lindos trabalhos de papeis de seda e papeis de origami colados sobre cartão.

Inspirado na obra do pai, foi a partir dos desenhos de bichos de Roberto que Marcos Scorzelli, designer e artista, criou em 2018, a sua série de esculturas em chapas de aço representando animais brasileiros. Seguindo a premissa de somente dobrar as chapas, sem cortes nem colas ou soldas, o escultor desenvolveu uma técnica genial, com resultado colorido, lúdico e de uma beleza que encanta a todos que entram na galeria e percebem a originalidade do trabalho. Expusemos os Bichos em 2019 e, depois disso, ele seguiu trabalhando com o mesmo conceito em uma série Botânica, com vários espécimes da nossa flora, sobretudo a nordestina e do cerrado. Expusemos essas novas peças em 2022 e agora trazemos 30 exemplares de ambas as séries para complementar, na tridimensionalidade do espaço na galeria, as obras na parede de seu pai Roberto. O diálogo entre os conjuntos escultóricos e das colagens é evidente. Geométrico, colorido, impactante.

A exposição ficará em cartaz na Galeria Evandro Carneiro de 03 a 24 de maio.

 

A obra de Ivens Machado na França.

25/abr

A primeira exposição institucional da obra de Ivens Machado na França será inaugurada no dia 30 de abril, no Carré d’Art – Musée d’Art Contemporain em Nîmes, apresentando uma visão panorâmica do corpo de trabalho do falecido artista.

Com curadoria de Jean-Marc Prévost, a mostra reúne esculturas, vídeos e fotografias, revelando as dimensões eróticas de sua obra, bem como as características violentas e transgressoras que atravessam seus temas e materiais. Despertando paralelos formais e conceituais entre os procedimentos do artista e o contexto sócio-histórico do Brasil nos anos 1970, a exposição faz uma introdução substancial de Ivens Machado para o público francês.

A exposição “Ivens Machado” integra a programação da Temporada França-Brasil 2025, realizada pelos Ministérios das Relações Exteriores e da Cultura do Brasil e da França.

Até 05 de outubro.

Diálogo e conexões formais.

“Mirage”, exposição individual de Marina Rheingantz no Musée des Beaux-Arts, abrirá na próxima semana em Nîmes, França.

A mostra estabelece um diálogo entre os trabalhos de Marina Rheingantz e obras históricas da coleção permanente do museu, revelando conexões formais e simbólicas entre a abstração paisagística da artista e diversos períodos e gêneros da História da Arte.

Com curadoria de Barbara Gouget, “Mirage” integra a programação da Temporada Brasil-França 2025, realizada pelos Ministérios das Relações Exteriores e da Cultura do Brasil e da França.

Até 05 de outubro.

Diferentes fases de Elizabeth Jobim.

24/abr

A Casa Roberto Marinho, inaugura duas exposições dedicadas à obra de Elizabeth Jobim: “A inconstância da forma” e “Entre olhares – Encontros com a Coleção Roberto Marinho”. A ocupação dos dois andares do instituto cultural marca as quatro décadas de carreira da artista carioca, apresentando as diferentes fases de sua produção e traçando relações visuais entre suas obras.

“No térreo, Elizabeth Jobim estabelece um diálogo único com o nosso acervo. Assim, seguimos com a tradição das exposições individuais contemporâneas do Cosme Velho, que promovem não apenas a exibição de trabalhos, mas novas leituras e interações entre passado e presente”, diz Lauro Cavalcanti, o diretor da Casa Roberto Marinho.

No andar superior, a curadoria de Paulo Venancio Filho opta por uma mostra panorâmica com mais de 50 desenhos e pinturas, revelando como, ao longo dos anos, a pesquisa artística de Elizabeth Jobim evoluiu de forma pendular, em constante relação com sua própria trajetória.

A palavra da artista

“As exposições pontuam os principais momentos do meu percurso. Com o Paulo, decidimos incluir trabalhos do início da minha carreira que há tempos não eram expostos. Já na seleção para o térreo, em que faço a curadoria a partir do acervo da Casa Roberto Marinho, entram artistas cujas obras dialogam diretamente com a minha produção”.

Reconhecida como um dos principais nomes da arte contemporânea brasileira, Elizabeth Jobim integrou a icônica exposição Como vai você, Geração 80?, realizada no Parque Lage em 1984. Agora, ao ocupar os espaços da Casa Roberto Marinho, revisita sua obra marcada pela interseção entre pintura, escultura e instalação.

O Instituto Casa Roberto Marinho fica na Rua Cosme Velho, nº 1105, Rio de Janeiro.

Um espaço de formação.

Completando 15 anos de história e compromisso com a arte contemporânea, desde sua fundação, em 2010, a Galeria Tato, São Paulo, SP, tem sido um espaço dedicado à arte contemporânea; consolidou-se como um ambiente de pesquisa, experimentação e construção de trajetórias no circuito da arte.  Hoje, com sede na Barra Funda e atuando na representação de artistas, também desenvolve programas de formação, como a Casa Tato, Clínica para Artistas e 6×6, fortalecendo as conexões entre os profissionais e artistas, já são mais de 200 impactados.

Um novo momento!

Em 2024, a Galeria passou a representar um time de sete artistas de diferentes regiões do Brasil. Suas obras refletem múltiplas poéticas, técnicas e pesquisas, fortalecendo ainda mais o acervo da TATO.

Artistas representados: Ana Michaelis, Anna Guerra, Desirée Hirtenkauf, Juniara Albuquerque, Lucas Quintas, Luiz 83 e Pedro Hórak.

Contradições da contemporaneidade.

A Galatea Salvador apresenta Ininteligibilidade, primeira exposição a itinerar de São Paulo para a capital baiana. Nessa exibição individual Isay Weinfeld apresenta obras elaboradas a partir de objetos garimpados em diferentes contextos, como em feirinhas e mercados ao redor do mundo. Em Salvador, a mostra traz seis obras diferentes daquelas que compõem a seleção original, incluindo três inéditas.

Pequenos objetos como bonecos de porcelana, flores e molduras, que à primeira vista transmitem delicadeza, conduzem o público em uma experiência estética em que o artista utiliza do humor e da ironia para evidenciar contradições da contemporaneidade, utilizando signos e símbolos até então tidos como rotineiros e convencionais. Ao exercitar sua faceta artística, Isay Weinfeld não busca criar discursos, mas desmontá-los com chiste.

Na ocasião da abertura, Isay Weinfeld lançará os catálogos Isay Weinfeld Works – Rizzoli New York e ISAY W – WEINFELD, ISAY, anteriormente lançados em São Paulo, e que apresentam de forma aprofundada a sua produção na Arquitetura e na Fotografia.

Até 31 de maio.

Renato Dib na Galeria Contempo.

23/abr

O universo têxtil – costuras, bordados, tramas e camadas de tecidos – é o aspecto mais recorrente da exposição individual que Renato Dib apresenta até 17 de maio na Galeria Contempo, Jardim América, São Paulo, SP. Em “Labirinto interior” o artista se lança a uma investigação profunda sobre a interioridade e o corpo, tanto em suas dimensões visuais quanto simbólicas. Com organização do próprio artista e texto crítico de Agnaldo Farias, a mostra marca o início da parceria de Renato Dib com a galeria que, assim pode oferecer um recorte abrangente de mais de duas décadas de sua produção, pretendendo funcionar como um panorama generoso de sua poética.

Reunindo obras emblemáticas e outras inéditas, a exposição propõe um mergulho no universo de Renato Dib. “Labirinto Interior” percorre as transformações e permanências que acompanharam a trajetória do artista, destacando como a matéria utilizada se converte em linguagem e, sobretudo, como o corpo – tanto físico quanto o social e psíquico – é o ponto de partida para uma longa especulação. Vibrando entre o íntimo e o coletivo, seu trabalho convoca que se repense ao mesmo tempo a matéria que mobiliza, em especial o campo têxtil, e as analogias possíveis que junto dela se pode experimentar. Gênero, sexualidade, desejo e repulsa são termos correntes de seu extenso léxico. Tornando assim os tecidos, outrora utilizados para proteger e cobrir, suportes de um desvelamento do interior – enquanto aquilo que se oculta – e da interioridade.

Baralhando também os papéis de gênero consagrados, Renato Dib se aventura no universo da delicadeza: recolhe, coleciona e dá nova vida a tecidos finos e raros. Entre o plano e o escultórico, o artista busca compreender como aquilo que outrora servia para vestir e identificar pode ser reutilizado para recriar o dentro – tanto o biológico (feito de vísceras e entranhas), quanto aquele psicológico e sentimental.

O artista lançará um livro que explora seu longo trabalho de colagens-pinturas. “Labirinto de gabinetes”, título da publicação com o selo da Editora Afluente, desenvolvido a partir de um catálogo intitulado “Interior Design Motifs of the 19th Century”, no qual Renato Dib traz a público uma outra investida em direção ao dentro: o universo dos interiores arquitetônicos se desdobra em entranhas e interioridades.

 A palavra do artista.

Há bastante tempo eu quero mostrar meu trabalho de uma maneira mais ampla, apresentando várias técnicas e algumas pesquisas paralelas entre os materiais (o material para mim é sempre muito presente). Então a exposição vai contar com vários tipos de materialidade desde o tecido até o papel, metal e madeira. Fui explorando aí combinações. Como em meu trabalho cada peça já tem dentro dela um pensamento de colagem de aglutinar universos, texturas, cores, formas para criar uma terceira imagem. Dentre todas as técnicas eu me considero uma pessoa que faz colagem, independente do material. Nesta exposição eu pretendo mostrar essa diversidade de exploração de materiais cotidianos, com carga afetiva; manipulando todos esses materiais transformo em objetos, esculturas, painéis, tapeçarias. A ideia de reunir peças antigas com outras inéditas foi levar um pouco do que se vê no meu ateliê – essa mistura essa diversidade”.

Sobre o artista.

Renato Dib é formado em Artes Plásticas pela Faculdade Santa Marcelina (1995). O artista constrói sua obra a partir de um repertório que atravessa a pintura, a colagem e as técnicas manuais associadas ao têxtil. Seu trabalho evoca, de modo literal e metafórico, a noção biológica de tecido: suas obras remetem a entranhas, órgãos e sistemas orgânicos, revelando uma anatomia sensível. Ao longo de sua trajetória, Renato Dib apresentou seu trabalho em espaços como a Galeria Mola (Portugal), Phosphorus (São Paulo), o Museu A Casa (SP) e a Rijswijk Textile Biennial (Holanda), entre outros.