Representantes da obra de Miriam Ines da Silva.

31/out

A Almeida & Dale, São Paulo, SP, anuncia a correpresentação internacional do espólio de Miriam Inez da Silva (1937, Trindade, GO – 1996, Rio de Janeiro, RJ, Brasil), em parceria com a Travesía Cuatro.

“Para mim pintar é vida. Pinto o que amo e sinto no coração. O povo para mim, o Brasil, são uma atração grande demais. Curto ouvir causos, música popular e o mais importante, estou muito com gente, mas não importa a escala social. Minha pintura deve muito aos grandes mestres que tive em Goiás. E, no Rio, o Ivan Serpa”. 

Miriam Inez da Silva, O Popular, Goiânia, 1983

As pinturas e xilogravuras da artista conjugam referências à história da arte, a ícones da cultura pop e da literatura, assim como cenas que unem o fantástico ao cotidiano do interior – um repertório visual construído a partir de suas memórias de infância. Suas obras adquirem um caráter narrativo por meio da construção geométrica do espaço e da inserção de molduras e formas abauladas de cortinas nos vértices da tela, sugerindo um palco.

Formada pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Goiás nos anos 1950, e aluna de Ivan Serpa na década seguinte, Miriam conservou o apreço pelas técnicas artesanais de manufatura, como as envolvidas na confecção de ex-votos.

Entre as exposições mais recentes dedicadas à obra de Miriam Inez da Silva, destacam-se as realizadas na Travesía Cuatro, Madri, Espanha (2025); Cerrado Galeria, Goiânia (2024); Museu Nacional da República, Brasília (2021) e Almeida & Dale, São Paulo (2021). Seu trabalho também figurou em exposições coletivas na Pinacoteca de São Paulo (2025); Museo Madre, Nápoles, Itália (2024); Instituto Çarê, São Paulo (2022); MASP, São Paulo (2022, 2017, 2016); Fundación Juan March, Madri, Espanha (2018), além da Bienal da Gravura de Santiago, Chile (1969) e Bienal de São Paulo (1967, 1963).

 

Invisibilidade e pertencimento com poesia.

A exposição “Os Outros” marca a estreia individual do pintor Gustavo Schossler e apresenta pinturas a óleo de beleza densa e comovente. São obras que, por meio de rigor técnico e sutileza afetiva, reposicionam o olhar do espectador e fazem uma pergunta incômoda e essencial: quem é digno de ser pintado? Historicamente reservado a reis, generais e figuras dentro de padrões hegemônicos de beleza, o gênero do retrato ganha aqui uma nova dimensão. Gustavo Schossler direciona seu olhar para aqueles que raramente ocupam o centro da imagem: pessoas albinas, homens e mulheres trans, um imigrante africano. Rostos e corpos que por muito tempo permaneceram invisíveis na história da pintura encontram no trabalho do artista não apenas espaço, mas dignidade, beleza e pertencimento. 

“Os Outros” abre dia 1º de novembro no Museu de Arte do Paço, Centro Histórico, Porto Alegre, RS. O artista explora em sua pintura a alteridade como força criativa e humana. É no encontro com o outro, no diálogo com o que nos é diferente, que somos capazes de refletir sobre quem somos. Assim, suas pinturas não apenas retratam, mas instauram relações. O olhar do espectador é convidado a se deslocar, a atravessar fronteiras de estranhamento e, nesse processo, a reformular a própria percepção de mundo. 

Formado em desenho e pintura no Studio Escalier, na França – onde posteriormente também atuou como professor – e no Ryder Studio, nos Estados Unidos, Gustavo Schossler é herdeiro do que se chama de Clássico Contemporâneo: uma tradição que transmite técnicas de pintura há séculos, mas que hoje pode ser reapropriada para novas narrativas. O domínio técnico adquirido nesses anos é colocado a serviço de uma investigação sensível sobre identidade, alteridade e humanidade. Todas as figuras retratadas em “Os Outros” são pessoas que o artista conheceu ao longo dos últimos anos. Através de encontros casuais na rua, redes sociais, amigos de amigos o pintor foi selecionando pessoas interessantes, que fogem do padrão do que foi historicamente retratado. O contato direto, o tempo partilhado, a escuta atenta são fundamentais para sua prática: “Acho importante conhecer quem retrato. Busco usar o que aprendi para pintar essas pessoas com carinho e respeito, sem transformá-las em caricaturas do que são”, afirma.

A trajetória de Gustavo Schossler inclui participações em importantes exposições coletivas, entre elas a Herbert Smith Freehills Portrait Award, na National Portrait Gallery de Londres, um dos principais museus do mundo. Agora, com “Os Outros”, ele inaugura um novo capítulo em sua carreira, afirmando sua voz autoral com força e delicadeza. Mais do que retratos, suas telas são encontrosque desarmam preconceitos e convidam à empatia e nos lembram que é o contato com a diferença que nos completa. 

Até 16 de janeiro. 

 

Curadoria de Paulo Herkenhoff e Ailton Krenak.

30/out

A FGV Arte, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição “Adiar o fim do mundo”, com curadoria de Paulo Herkenhoff e Ailton Krenak, pensador indígena, escritor e ativista ambiental, membro da Academia Brasileira de Letras e uma das vozes mais influentes do pensamento contracolonial contemporâneo. Coincidindo com o período da COP 30, a mostra articula arte, ecologia e filosofia em torno de um enunciado que é, ao mesmo tempo, uma advertência e um convite: adiar o fim do mundo é reinventar o presente.

Inspirada na produção e no pensamento de Ailton Krenak, a exposição reúne mais de 100 obras de diferentes períodos e contextos culturais, com técnicas e suportes que abordam as urgências da crise ambiental, o legado do colonialismo, o racismo estrutural e os modos de resistência dos povos originários e das comunidades tradicionais. Mais do que uma metáfora, “Adiar o fim do mundo” é uma proposição estética e política que entende a arte como instrumento de reencantamento do mundo e de reconstrução das relações entre humanos e natureza. “Não se trata de uma exposição sobre o fim, mas sobre a continuidade da vida”, afirma Paulo Herkenhoff. “A arte aqui é compreendida como um território de insurgência e imaginação, capaz de propor novas alianças entre corpo, natureza e espírito. O diálogo com Krenak nos convida a repensar o lugar da arte dentro de uma ecologia da existência.”. “Enquanto insistirmos em olhar o planeta como um objeto a ser explorado, seguiremos acelerando o colapso. A arte, ao contrário, nos chama a ouvir a Terra e a reconhecer que ela também sonha, sente e fala.”

O projeto ocupa todos os espaços da FGV Arte – instalações e jardins comissionados na esplanada e nos pilotis, além de obras na galeria principal -, estabelecendo um percurso imersivo em diálogo com a arquitetura modernista e o entorno da cidade. A exposição se amplia com ações educativas, oficinas e programas públicos que refletem a dimensão formativa e comunitária do projeto. Para Paulo Herkenhoff, o encontro entre arte contemporânea e pensamento indígena é um gesto de deslocamento epistemológico. “A modernidade ocidental construiu a ideia de humanidade como centro do mundo. Essa exposição propõe um deslocamento: o humano volta a ser parte de um ecossistema simbólico e espiritual”, reflete o curador.

Paulo Krenak conclui com um alerta poético e provocador: “Precisamos inverter o discurso da sustentabilidade, abrir fendas na lógica. Se o pensamento racional não dá conta de salvar o planeta, talvez o gesto poético possa”. Assim, “Adiar o fim do mundo” afirma-se como um manifesto visual pela vida em tempos de crise, em que a arte atua como linguagem de resistência, gesto de esperança e convocação ao cuidado com a Terra – organismo vivo, casa comum e horizonte possível.

A mostra permanecerá em cartaz até 21 de março 2026. 

Prêmio Jane Lombard de Arte e Justiça Social.

A artista e educadora Rosana Paulino é a vencedora do Prêmio Jane Lombard de Arte e Justiça Social 2025-2027, concedido pelo Centro Vera List de Arte e Política, em Nova York, em reconhecimento ao seu livro de artista de 2016, “História Natural?”, que explora as histórias entrelaçadas da ciência e da violência racial. A seleção de Rosana Paulino foi feita por unanimidade por um júri presidido por Chus Martínez e composto por Tony Albert, Carin Kuoni, Sennay Ghebreab e Gabi Ngcobo. Prêmio em dinheiro de US$ 25 mil e uma obra de arte de edição limitada encomendada a Yoko Ono. Como ganhadora do Prêmio, Rosana Paulino será tema de uma exposição individual na The New School, ancorada por uma das obras mais significativas do artista, apresentada em outubro de 2026 como parte do Fórum Vera List Center 2026. 

O Centro Vera List de Arte e Política anunciou a artista, educadora e pesquisadora brasileira Rosana Paulino como a vencedora do Prêmio Jane Lombard de Arte e Justiça Social 2025-2027. Rosana Paulino recebeu o prêmio pela importância e impacto de seu livro de artista de 2016, “História Natural?”. “Estamos entusiasmados em homenagear Rosana Paulino, cuja prática remodelou profundamente a forma como entendemos os legados coloniais e sua marca na vida contemporânea”, disse Carin Kuoni, Diretora Sênior e Curadora-Chefe do Centro Vera List de Arte e Política. 

Expansão junto à arquitetura e ao corpo.

29/out

Será realizada uma visita guiada com o curador Luiz Camillo Osorio na exposição do artista José Pedro Croft. A exposição pode ser vista até o dia 17 de novembro, apresentando cerca de 170 obras do renomado artista português. No dia 30 de outubro, às 16h, será realizada uma visita guiada com o curador Luiz Camillo Osorio na exposição “José Pedro Croft: reflexos, enclaves, desvios”, no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro. Durante a visita, que será gratuita e aberta ao público, o curador percorrerá toda a exposição.

A mostra ocupa todo o primeiro andar e a rotunda do CCBB RJ, com gravuras, desenhos, esculturas e instalações, que ampliarão o entendimento sobre o conjunto da obra do artista e sobre os temas que vem trabalhando ao longo de sua trajetória, como o corpo, a escala e a arquitetura. Esta é uma oportunidade de o público ter contato com a obra do artista, que já realizou exposições individuais em importantes instituições, como no Pavilhão Português na 57a Bienal de Veneza, na Itália (2017), na Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, em Portugal (2020), na Capela do Morumbi, em São Paulo (2015), no Paço Imperial (2015), MAM Rio (2006), entre muitas outras.

“José Pedro Croft é um dos principais artistas portugueses da geração que se formou logo após a Revolução dos Cravos (1974). Ou seja, teve sua trajetória artística toda vinculada aos ideais de liberdade, cosmopolitismo e experimentação. Trata-se de uma poética visual que se afirma no enfrentamento da própria materialidade das linguagens plásticas: a linha, o plano, a cor, o espaço. Sempre levando em conta sua expansão junto à arquitetura e ao corpo (inerente aos gestos do artista e à percepção do espectador)”, conta o curador Luiz Camillo Osorio.

Exposição de Guto Lacaz.

O Instituto Ling, bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS, apresenta “mezo-móbile: síntese do sublime e misterioso”, exposição individual de Guto Lacaz, artista consagrado com mais de cinco décadas de trajetória. Reconhecido por transformar objetos do cotidiano ao subverter suas funções usuais, estéticas ou arquitetônicas, Guto Lacaz também se destaca por suas instalações, performances e intervenções urbanas. Nesta mostra, o artista propõe uma instalação site specific inédita, concebida especialmente para dialogar com o espaço expositivo e com os visitantes do centro cultural. Na abertura da exposição, que acontece na terça-feira, 04 de novembro, às 19h, haverá uma conversa aberta ao público com o artista Guto Lacaz e sua filha, Nina Lacaz – convidada especial que atua no campo das artes com foco em pesquisa, curadoria e mercado. Para participar, basta fazer inscrição prévia e gratuita pelo site!

Mezo-móbile: síntese do sublime e misterioso.

Uma enorme placa de isopor ocupa o espaço expositivo; ela sobe e desce graças a roldanas, produzindo um movimento hipnótico que evoca um pulmão gigante em atividade. No centro dessa placa monumental, um espaço livre permite que pequenos grupos participem da instalação, criando momentos de proximidade entre desconhecidos que se encontram literalmente dentro da obra, enquanto ela respira ao seu redor. Mezo-móbile não nega a colaboração do visitante, mas a controla caprichosamente. Cinquenta anos depois de suas primeiras “máquinas de fazer nada”, Guto Lacaz cria uma instalação que oferece participação sob seus termos: a obra obriga o espectador a negociar – esperar que suba para atravessá-la, observar de fora enquanto desce, ou entrar no vão central e experimentar a respiração da sala ao redor do próprio corpo. A instalação simula um espaço expositivo convencional, mas perturba a fruição de forma provocativa. Subverte o conceito modernista do cubo branco – a própria galeria se torna obra e transforma sua arquitetura em arte. Não mais um receptáculo invisível, mas a protagonista da experiência. Aqui é o próprio cubo branco institucional que ganha vida autônoma e engole o espectador em seu vão, numa inversão conceitual que questiona décadas de convenções curatoriais. Mezo-móbile é, simultaneamente, irônico, democrático, sensível, impactante, tecnológico e cômico. Não há excessos, ornamentos ou efeitos gratuitos, apenas o movimento essencial que faz uma sala inteira ganhar vida. É essa capacidade de extrair o máximo poético do mínimo material que torna Mezo-móbile não apenas uma obra sobre cinquenta anos de uma carreira artística, mas demonstração prática de como essa carreira sempre operou: transformando o simples em sublime, o barato em precioso, o óbvio em misterioso.

Sobre Nina Lacaz.

Nina Lacaz nasceu em São Paulo, SP, 1995. É formada em Design de Moda pela FAAP-SP (2016) e atuou durante quase dez anos no setor, com destaque para o Estúdio Kant, sua marca autoral de estampas exclusivas inspiradas no Art Déco, no movimento neoconcreto brasileiro e em linguagens como Op Art e Arte Cinética. Em 2021, passa a atuar no mercado de arte contemporânea, integrando o departamento comercial de galerias paulistanas como Andrea Rehder Arte Contemporânea e Gomide&Co. Paralelamente, cursa especialização em Arte: Crítica e Curadoria pela PUC-SP (2023-2025), sob orientação do Prof. Dr. Fabio Cypriano. Sua monografia investiga a catalogação do acervo de Guto Lacaz, confrontando os desafios técnicos de documentar mais de cinco décadas de produção artística dispersa – entre intervenções urbanas, instalações site-specific, performances e objetos cinéticos – com as questões afetivas e metodológicas que emergem quando memória familiar e rigor documental se entrelaçam. Atualmente, atua na área comercial da Gomide&Co, em paralelo com a estruturação do primeiro inventário completo da obra de Guto Lacaz e o desenvolvimento de textos curatoriais.

Sobre o artista.

Guto Lacaz nasceu em São Paulo, SP, 1948. É arquiteto formado pela FAU de São José dos Campos (1974) e multiartista cuja produção transita entre intervenções urbanas, instalações site-specific, performances, ilustrações, objetos e design gráfico. Em 1978, o Prêmio Objeto Inusitado marca o início de sua carreira como artista visual, inaugurando uma trajetória dedicada às interações entre arte, humor, ciência e tecnologia. Sua obra integra a memória urbana paulistana, com trabalhos como “Auditório para Questões Delicadas” (1989), no lago do Parque Ibirapuera, “Periscópio” (1994), intervenção para o Arte Cidade II, “Adoraroda” (2017), no Largo da Batata, e os painéis “Quarta Revolução Industrial” (2018), na Avenida Paulista. Participou de exposições como a 18ª Bienal Internacional de São Paulo (1985) e a Gwangju Biennale (1995), além de individuais em instituições como MAM-SP, MASP, Pinacoteca do Estado de São Paulo e Chácara Lane. Em 2024, a retrospectiva “Guto Lacaz: Cheque-Mate”, com curadoria de Rico Lins e Kiko Farkas, ocupou três andares do Itaú Cultural, celebrando mais de 50 anos de produção artística ininterrupta e em plena atividade. Como ilustrador, colaborou com revistas como Caros Amigos, Wish Report e Joyce Pascowitch, além de publicar diversos livros. No design gráfico, criou logotipos, identidades visuais, capas de livros e cartazes, tornando-se membro da Alliance Graphique Internationale (AGI) em 2011. Entre seus prêmios destacam-se: Prêmio APCA (1988, 2007, 2017 e 2024, em diferentes categorias), Prêmio Abril de Jornalismo – Ilustração (1983, 1990, 1991), Bolsa Guggenheim (1995), indicação ao Prêmio PIPA (2016) e Prêmio ABCA Menção Honrosa (2024). Seu processo criativo, marcado pela influência da mecânica e eletrônica, foi tema do documentário “Guto Lacaz: um Olhar Iluminado” (2022).

A exposição estará em cartaz até 27 de dezembro, com visitação livre de segunda a sábado, das 10h30 às 20h. Visitas mediadas para grupos poderão ser agendadas previamente, sem custo, pelo site do centro cultural. Esta programação é uma realização do Instituto Ling e Ministério da Cultura / Governo Federal, com patrocínio da Crown Embalagens. 

 

Uma profusão de formas vegetais.

28/out

A exposição “Quando o corpo toca a terra”, da artista visual Beatriz Balen Susin, na Ocre Galeria, 4º Distrito, bairro São Geraldo, Porto Alegre, RS, tem curadoria de Paula Ramos, crítica e historiadora da arte, e apresenta 30 obras que retratam a Mata Atlântica em painel de 16m. de largura por 1,80cm. de altura. O painel impressiona pelo tamanho e, sobretudo, pela exuberância da pintura que contém. A mostra será aberta no dia  1º e permanecerá em cartaz até 29 de novembro.   

O painel é composto por 20 telas de 0,80cm de largura (e 1,80cm de altura), montadas lado a lado numa grande panorâmica. “Habitadas por uma profusão de formas vegetais, em uma paleta vívida e exuberante, as pinturas parecem exibir, progressivamente, um adensamento da experiência, como se fosse possível tatear a superfície das plantas, acompanhar o transporte da seiva, sentir a absorção das raízes, pulsar no ritmo da mata”, comenta a curadora, no texto de apresentação da mostra.

A exposição abriga ainda dez outras obras da artista sobre o tema da natureza. Cinco igualmente inspirados num trecho da Mata Atlântica em Santa Catarina e cinco, em papel, reproduzindo troncos de árvores de outros lugares. 

Doação física e ganho espiritual

A execução do trabalho ocupou a artista – que completará 79 anos – em dois turnos de maio a agosto passado. “Foi uma grande doação do meu corpo, mas espiritualmente representou o começo de muitas coisas. Do ponto de vista mental, me sinto jovem, tanto que quero fazer outros painéis. Não esmoreço, não me entrego. Tenho essa força, não desanimo jamais”, diz Beatriz Balen Susin. Ex-professora de Artes da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS,  – sua cidade natal -, ela se define como expressionista. “Sou movida pela emoção. Não planejo antes. Já saio com a tinta. Se desenhasse antes, gastaria a emoção. Adoro desenhar com o pincel, com gesto largo”. A cor é um capítulo à parte na sua atividade. “Pra mim, tudo funciona na base da cor. Tanto em paisagens como em figuras as cores vão entrando e mudando durante o processo de criação. Tenho essa mania de transformar as coisas em cores”.

A exposição coincide com a primeira COP realizada no Brasil. A Mata Atlântica, bioma presente em 17 estados do país, será um dos temas debatidos no maior evento das Nações Unidas sobre as mudanças do clima no planeta, em Belém (PA). O desafio do Brasil é alcançar o desmatamento zero em todos seus biomas até 2030, e a Mata Atlântica, por seu histórico de resistência e recuperação, pode ser o primeiro a atingir a meta. Como pessoa e artista intrinsicamente ligada à Natureza, Beatriz Balen Susin torce para que isso aconteça e para que todos possam conviver com a beleza da floresta preservada.  

 

O mundo como matéria em trânsito.

Almeida & Dale, Pinheiros, São Paulo, SP, anuncia a representação de Rodrigo Andrade (São Paulo, 1962).  Nome incontornável da arte contemporânea brasileira, Rodrigo Andrade tem desenvolvido uma obra marcada pela investigação profunda e pela livre experimentação com a pintura – em sua dimensão material, visual e histórica. O artista desenvolve uma reflexão contínua sobre seus fundamentos e possibilidades, explorando as relações entre matéria e expressão, gesto e repetição, imagem e sensação. Em sua prática, a superfície pictórica torna-se campo de permanente tensão, em que camadas espessas de tinta se adensam ou se dissolvem, configurando paisagens, espaços, objetos e grafismos em constante movimento. Suas composições, intensas e carregadas, refletem a pulsão e o caráter mutável da vida, assim como seu corpo de trabalho é um testemunho da vitalidade e da elasticidade da pintura contemporânea, incorporando múltiplas referências, técnicas, gêneros e temas. Entre o rigor conceitual e a manifestação intuitiva, entre a fisicalidade e a iconografia, sua obra busca sempre propor um olhar renovado sobre a história da pintura e sobre sua capacidade de pensar, representar e transformar as dinâmicas do mundo.

“Eu me sinto condenado a um movimento constante. Algo meio picassiano. No meu percurso fiz várias mudanças radicais, rupturas. Desde a grande guinada ocorrida logo em seguida à Casa 7, e até antes disso. Dá pra falar num movimento pendular, ou circular, entre figuração e abstração, mas as questões retornam sempre em outro nível, como uma espiral. (…) Meu processo é menos contínuo, por isso o momento forte da minha pintura é quando encontro uma forma nova de pintar. Procuro muito mais a descoberta e a habitação do território do que propriamente uma depuração. Nos anos 1980, quando começa sua trajetória, os trabalhos de Rodrigo Andrade eram marcados pelo vigor energético, pelo gesto forte e pela densidade matérica, traços que permaneceriam centrais em toda a sua obra. Naquela década, ao lado de amigos artistas, fundou o ateliê coletivo Casa 7, consagrado na 18ª Bienal de São Paulo – na emblemática instalação que ficou conhecida como “A Grande Tela”. Rodrigo Andrade, entrevista com Tiago Mesquita, 2014.

Desde então, Rodrigo Andrade mantém uma prática de experimentação e reinvenção de seu próprio vocabulário, em um movimento pendular entre a abstração e figuração, leveza e densidade, pintura e objeto, histórico e ordinário. Fotografias pessoais, imagens do noticiário, referências da história da arte e pinturas de outros artistas são absorvidas e reformuladas em composições carregadas de densas camadas matéricas e imbuídas de uma dimensão psicológica e emocional. A mutação é tanto o assunto quanto o método: suas pinturas resultam de um processo em que cada gesto se converte em outro, em que a mancha se torna bloco, o bloco se torna objeto e o objeto vira espaço, sublinhando o mundo como matéria em trânsito. Do mesmo modo, sua prática incorpora o ímpeto de transformação, abrindo-se sempre a novos caminhos e possibilidades existenciais. 

Rodrigo Andrade participou da 18ª e 29ª Bienal de São Paulo, do 24º e 29º Panorama da Arte Brasileira do MAM São Paulo; e teve retrospectivas em instituições como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, e Museu Oscar Niemeyer, Curitiba. Suas obras integram coleções de instituições como o MAM São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo; MAC Niterói; MAC USP; Museu de Arte da Pampulha; e Instituto Itaú Cultural.

 

A permanência da obra de Abelardo Zaluar.

27/out

A Galeria de Arte Ipanema apresentou a exposição inédita de Abelardo Zaluar, dedicada a um dos nomes mais singulares da abstração geométrica brasileira. A mostra reuniu 25 trabalhos em vinil sobre tela, produzidos entre as décadas de 1970 e 1980.

O texto crítico que acompanhou a exposição trazia a  assinatura do artista Gonçalo Ivo, ex-aluno de Zaluar, que recuperou memórias de seu convívio com o mestre e ressaltou a dimensão espiritual e humanista de sua obra: “Tenho para mim que, em sua passagem neste ínfimo mundo, Abelardo Zaluar (1924-1987) viveu e criou como um monge. Fez de seu ofício um sacerdócio. Humanista convicto, tal qual um Midas, transformou pigmentos, formas e espaços em um mundo de encantamento e transcendência espiritual”.

A obra de Zaluar

Nascido em Niterói, RJ, Abelardo Zaluar construiu uma trajetória marcada pela independência de filiações a grupos ou correntes, desenvolvendo uma linguagem própria que combinava rigor geométrico e sensualidade barroca. Desde o início de sua carreira, nos anos 1940, transitou da figuração para a abstração, incorporando colagens, sobreposições de áreas de cor e experimentações com tridimensionalidade e trompe l’oeil. Nos anos 1970, incorporou recortes, transparências e colagens de cartões e lâminas de acrílico, criando jogos sensoriais que ampliavam a dimensão pictórica de sua obra. Essa produção, frequentemente comparada por críticos como Mário Pedrosa e Frederico Morais a referências internacionais, como Ben Nicholson, permanece única no panorama brasileiro, ao mesmo tempo rigorosa e lúdica.

Trajetória e reconhecimento

Professor, pintor, desenhista e gravador, Abelardo Zaluar participou de importantes coletivas e bienais entre as décadas de 1950 e 1980. Foi premiado no Salão Nacional de Arte Moderna (1963), recebeu destaque no Prêmio Leirner de Arte Contemporânea (1959), e realizou retrospectivas em instituições como o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) e o Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC/PR). A singularidade de sua produção, à margem das classificações dominantes da crítica, fez de sua obra um território de liberdade criativa, hoje redescoberto como uma das contribuições mais originais da arte brasileira moderna. A exposição, acompanhada de um catálogo organizado pela Galeria de Arte Ipanema, com textos críticos e reproduções das obras, oferece uma visão abrangente da produção de Abelardo Zaluar e sua influência na arte brasileira.

 

Arte com vinho canônico e água benta.

O Instituto Ling, bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS, recebe o artista goiano Valdson Ramos para realizar uma intervenção artística inédita em uma das paredes da instituição. De 27 a 31 de outubro, o público poderá acompanhar gratuitamente a criação da nova obra, durante o horário de funcionamento do centro cultural. Será possível acompanhar, em tempo real, o processo criativo, as técnicas empregadas e os movimentos do artista. Após a finalização, o trabalho ficará exposto para visitação até o dia 27 de dezembro, com entrada franca.

No dia 1º de novembro, às 10h, o artista participará de um bate-papo com o público e o curador Paulo Henrique Silva, no qual comentará sua experiência, os resultados do projeto e compartilhará mais sobre sua pesquisa. A participação é gratuita. A atividade faz parte do projeto LING apresenta: Quando as fronteiras se dissolvem, com curadoria de Paulo Henrique Silva, que tem o objetivo de aproximar o Rio Grande do Sul da cultura do Centro-Oeste, trazendo artistas visuais da região para desenvolverem obras inéditas no centro cultural.

Sobre o artista

Valdson Ramos (Formoso, GO, 1972) é artista visual e arte-educador, graduado em Artes Visuais pela UFG e mestre em Ciências Sociais e Humanidades pela UEG. Suas obras exploram a iconografia religiosa brasileira, utilizando vinho canônico e água benta para refletir sobre questões contemporâneas. Participou de exposições em diversos espaços, como o Centro Cultural São Paulo (São Paulo, SP), Palácio das Artes (Belo Horizonte, MG) e o MAC (Goiás, GO). Entre suas premiações, destaca-se o 4° Salão Nacional de Pequenos Formatos do Museu de Arte de Britânia (2024). Vive e trabalha em Anápolis, GO.

Sobre o curador:

Paulo Henrique Silva (Anápolis, Goiás) foi aluno e professor na Escola de Artes Oswaldo Verano, mantida pela Prefeitura de Anápolis (GO), e graduou-se em Artes Visuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Desde 2004, dedica-se à curadoria, com foco no estudo e na pesquisa da arte contemporânea produzida na Região Centro-Oeste do Brasil. Projetos recentes incluem as mostras Entre Acervos, Dialetos 1 e 2, Novas Aquisições, Um Acervo em Construção, Fotografia no Acervo do Mapa, Conversas – resistência e convergência e Vozes do Silêncio. Foi curador em mais de onze edições do Salão Anapolino de Arte e tem contribuído significativamente para a ampliação do acervo do MAPA e o fortalecimento da arte contemporânea no interior do Brasil. De 2020 a 2024, foi responsável pela Coordenação do Fundo Municipal de Cultura e Editais, Curadoria e Gestão do MAPA e da Galeria de Artes Antônio Sibasolly, em Anápolis.