Um espaço de formação.

24/abr

Completando 15 anos de história e compromisso com a arte contemporânea, desde sua fundação, em 2010, a Galeria Tato, São Paulo, SP, tem sido um espaço dedicado à arte contemporânea; consolidou-se como um ambiente de pesquisa, experimentação e construção de trajetórias no circuito da arte.  Hoje, com sede na Barra Funda e atuando na representação de artistas, também desenvolve programas de formação, como a Casa Tato, Clínica para Artistas e 6×6, fortalecendo as conexões entre os profissionais e artistas, já são mais de 200 impactados.

Um novo momento!

Em 2024, a Galeria passou a representar um time de sete artistas de diferentes regiões do Brasil. Suas obras refletem múltiplas poéticas, técnicas e pesquisas, fortalecendo ainda mais o acervo da TATO.

Artistas representados: Ana Michaelis, Anna Guerra, Desirée Hirtenkauf, Juniara Albuquerque, Lucas Quintas, Luiz 83 e Pedro Hórak.

Playground aberto.

23/abr

Pela primeira vez no Brasil, “O Outro, Eu e os Outros” propõe uma reflexão sobre o papel do indivíduo no coletivo e no espaço público. A instalação interativa Iván Argote: O Outro, Eu e os Outros ocupa o vão livre do MASP-Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, Avenida Paulista, até 10 de agosto. Esta é a primeira exposição realizada pelo museu no vão livre após a concessão do espaço para o MASP.

O vão livre de 74 metros de extensão foi projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi como uma praça cívica, um local de encontro e convivência destinado a manifestações culturais diversas, como dança, teatro, música e circo, além de exposições interativas e didáticas. O trabalho de Iván Argote (Bogotá, Colômbia, 1983) reforça a vocação do espaço ao propor uma instalação interativa composta por duas plataformas móveis dispostas nas extremidades do vão, transformando-o em um campo de experimentação sensorial e social.

A obra funciona como uma grande gangorra que se inclina conforme o deslocamento dos visitantes, refletindo as dinâmicas de equilíbrio e movimento coletivo. Quando uma única pessoa se move, o equilíbrio se mantém quase inalterado; no entanto, a ação coletiva pode redefinir completamente a inclinação da plataforma, que pende para um lado ou para o outro. A situação mais complexa ocorre quando os participantes distribuem seu peso de maneira equilibrada, alcançando um estado de estabilidade.

Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, e assistência de Matheus de Andrade, assistente curatorial, a instalação propõe novas leituras sobre espaços públicos, intervenções urbanas e estruturas de poder. As gangorras de Iván Argote desafiam monumentos – símbolos da memória coletiva e da História – ao transformar o espaço público em um playground aberto: um local de encontro que incentiva a convivência, o diálogo e a interação dentro da comunidade.

“É um momento histórico do museu. O projeto de Lina Bo Bardi prevê como uma de suas características centrais a confluência entre o espaço museológico e o vão livre. O trabalho de Argote dialoga com o pensamento de Lina e sugere uma metáfora para a relação entre indivíduo e sociedade, evidenciando o poder da colaboração para provocar mudanças. Ao aliar ludicidade e reflexão, o artista convida o público a repensar suas interações no espaço urbano e na vida em comunidade. Uma obra muito adequada para essa nova fase do MASP”, afirma Matheus de Andrade.

O trabalho agora encontra-se no Brasil, após ser exposto na Bienal de Lyon, na França, em 2024; em Riade, na Arábia Saudita, em 2023; e no Centquatre de Paris, em 2017. Reformuladas para se adequar ao vão livre do MASP, as gangorras têm 15 metros de comprimento, cinco metros de largura e dois de altura. A obra poderá ser vista por quem passar pela Avenida Paulista a qualquer momento, e acessada pelos visitantes todos os dias, das 10h às 22h.

Sobre o artista.

Iván Argote nasceu em 1983, em Bogotá, Colômbia, e está radicado em Paris. Artista e cineasta, realiza filmes, fotografias, esculturas e performances, além de instalações de grandes dimensões, muitas vezes construídas para espaços públicos. Seus trabalhos problematizam as relações do homem contemporâneo com as estruturas de poder, os sistemas de crenças e os espaços urbanos. Em 2024, participou da 60ª Bienal de Veneza e instalou uma escultura no High Line de Nova York, além de ter realizado exposições individuais em Copenhague, Dallas, Berlim e Ardez, na Suíça.

Renato Dib na Galeria Contempo.

O universo têxtil – costuras, bordados, tramas e camadas de tecidos – é o aspecto mais recorrente da exposição individual que Renato Dib apresenta até 17 de maio na Galeria Contempo, Jardim América, São Paulo, SP. Em “Labirinto interior” o artista se lança a uma investigação profunda sobre a interioridade e o corpo, tanto em suas dimensões visuais quanto simbólicas. Com organização do próprio artista e texto crítico de Agnaldo Farias, a mostra marca o início da parceria de Renato Dib com a galeria que, assim pode oferecer um recorte abrangente de mais de duas décadas de sua produção, pretendendo funcionar como um panorama generoso de sua poética.

Reunindo obras emblemáticas e outras inéditas, a exposição propõe um mergulho no universo de Renato Dib. “Labirinto Interior” percorre as transformações e permanências que acompanharam a trajetória do artista, destacando como a matéria utilizada se converte em linguagem e, sobretudo, como o corpo – tanto físico quanto o social e psíquico – é o ponto de partida para uma longa especulação. Vibrando entre o íntimo e o coletivo, seu trabalho convoca que se repense ao mesmo tempo a matéria que mobiliza, em especial o campo têxtil, e as analogias possíveis que junto dela se pode experimentar. Gênero, sexualidade, desejo e repulsa são termos correntes de seu extenso léxico. Tornando assim os tecidos, outrora utilizados para proteger e cobrir, suportes de um desvelamento do interior – enquanto aquilo que se oculta – e da interioridade.

Baralhando também os papéis de gênero consagrados, Renato Dib se aventura no universo da delicadeza: recolhe, coleciona e dá nova vida a tecidos finos e raros. Entre o plano e o escultórico, o artista busca compreender como aquilo que outrora servia para vestir e identificar pode ser reutilizado para recriar o dentro – tanto o biológico (feito de vísceras e entranhas), quanto aquele psicológico e sentimental.

O artista lançará um livro que explora seu longo trabalho de colagens-pinturas. “Labirinto de gabinetes”, título da publicação com o selo da Editora Afluente, desenvolvido a partir de um catálogo intitulado “Interior Design Motifs of the 19th Century”, no qual Renato Dib traz a público uma outra investida em direção ao dentro: o universo dos interiores arquitetônicos se desdobra em entranhas e interioridades.

 A palavra do artista.

Há bastante tempo eu quero mostrar meu trabalho de uma maneira mais ampla, apresentando várias técnicas e algumas pesquisas paralelas entre os materiais (o material para mim é sempre muito presente). Então a exposição vai contar com vários tipos de materialidade desde o tecido até o papel, metal e madeira. Fui explorando aí combinações. Como em meu trabalho cada peça já tem dentro dela um pensamento de colagem de aglutinar universos, texturas, cores, formas para criar uma terceira imagem. Dentre todas as técnicas eu me considero uma pessoa que faz colagem, independente do material. Nesta exposição eu pretendo mostrar essa diversidade de exploração de materiais cotidianos, com carga afetiva; manipulando todos esses materiais transformo em objetos, esculturas, painéis, tapeçarias. A ideia de reunir peças antigas com outras inéditas foi levar um pouco do que se vê no meu ateliê – essa mistura essa diversidade”.

Sobre o artista.

Renato Dib é formado em Artes Plásticas pela Faculdade Santa Marcelina (1995). O artista constrói sua obra a partir de um repertório que atravessa a pintura, a colagem e as técnicas manuais associadas ao têxtil. Seu trabalho evoca, de modo literal e metafórico, a noção biológica de tecido: suas obras remetem a entranhas, órgãos e sistemas orgânicos, revelando uma anatomia sensível. Ao longo de sua trajetória, Renato Dib apresentou seu trabalho em espaços como a Galeria Mola (Portugal), Phosphorus (São Paulo), o Museu A Casa (SP) e a Rijswijk Textile Biennial (Holanda), entre outros.

Obra em contínua reinvenção.

17/abr

Uma trajetória artística marcada por transformações, em que se misturam ironia, política, crítica de arte e memória, é tema de uma exposição no Itaú Cultural (IC), em São Paulo. A mostra Carlos Zilio: uma retrospectiva de 60 anos de criação – A querela do Brasil oferece uma visão panorâmica do artista visual e professor Carlos Zilio. A exposição segue até 06 de julho.

Com curadoria de Paulo Miyada, são apresentadas cerca de cem obras, entre pinturas, objetos e instalações, criadas entre 1966 e 2023, abrangendo todas as fases do trabalho do artista: sua militância contra a ditadura civil-militar de 1964, que o levaria à prisão; sua tese de doutorado, intitulada A querela do Brasil – a questão da identidade da arte brasileira, feita no exílio; seu retorno ao Brasil, quando passa a se dedicar ao ensino; e sua experimentação com a forma e a geometria, a abstração e a subjetividade.

Como disse Pualo Miyada ao Itaú Cultural, é “uma trajetória de muitas vidas”. Carlos Zilio estudou pintura com Iberê Camargo, no começo da década de 1960, período em que integrou mostras importantes como Opinião 66 e Nova Objetividade Brasileira. Em 1975, após produzir obras com o objetivo de promover agitação política e conscientização social e ter se envolvido com a luta armada, é preso. No cárcere, com recursos limitados, cria desenhos. Pouco depois de ser solto, exila-se. De volta ao Brasil, também se dedica ao ensino.

Diálogos e confrontos entre dois artistas.

16/abr

A Pinakotheke São Paulo exibe a exposição “Encontro/Confronto – Hélio Oiticica e Waldemar Cordeiro”, que acontece até o dia 10 de maio. A mostra reúne obras de dois dos mais importantes artistas brasileiros do século XX, que participaram ativamente dos movimentos Neoconcreto e Concreto, defendendo caminhos distintos para a arte nos anos 1950 e 1960.

A pesquisa e os interesses que moveram Hélio Oiticica (1937-1980) e Waldemar Cordeiro (1925-1973) apresentam um paralelismo que, ao longo do tempo, ficou diluído. No Rio de Janeiro, Hélio Oiticica foi um dos principais articuladores do Neoconcretismo, enquanto Waldemar Cordeiro, em São Paulo, se tornou o grande porta-voz dos concretistas. Os embates intelectuais entre os dois grupos marcaram a História da Arte Brasileira.

Na grande sala da Pinakotheke São Paulo, 18 obras de Hélio Oiticica e 19 de Waldemar Cordeiro – provenientes de coleções públicas e privadas – apresentadas frente a frente, proporcionam um encontro que busca revisitar, já com o distanciamento do tempo, os diálogos e confrontos entre os dois artistas. Idealizada por Max Perlingeiro, a curadoria da exposição é compartilhada com o artista Luciano Figueiredo, um dos maiores especialistas na obra de Hélio Oiticica, e Paulo Venancio Filho, pesquisador dos dois movimentos. Além de promover essa reflexão histórica, a mostra celebra o centenário de nascimento de Waldemar Cordeiro.

A valorização de narrativas plurais.

15/abr

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, inaugurou três novas exposições que reforçam seu compromisso com a valorização de narrativas plurais e a articulação entre arte, memória, cultura e presença afro-diaspóricas. As mostras – que ocupam diferentes espaços do museu – dão continuidade ao trabalho de reestruturação curatorial iniciado sob a gestão de Hélio Menezes, atual diretor da instituição, e se inscrevem em um projeto museológico voltado à escuta, à experimentação e ao tensionamento de fronteiras.

Entre os destaques está a exposição “Proteção”, da artista visual e fotógrafa Rafaela Kennedy. A partir de uma série de retratos íntimos e simbólicos, o projeto apresenta um olhar sensível e potente sobre as relações de cuidado, afeto e acolhimento dentro da comunidade trans e da espiritualidade afro-brasileira. Através da fotografia, a série ressignifica a presença de corpos travestis em espaços de benção e proteção, destacando as diferentes formas pelas quais mães – biológicas, de criação ou espirituais – ancoram e legitimam a existência de suas filhas. A exposição, que acontece na Marquise do Museu Afro Brasil, um espaço aberto e acessível mesmo após o horário de funcionamento do museu, amplia esse diálogo ao levar a temática para um público diverso, fomentando o reconhecimento das múltiplas formas de maternidade e proteção dentro das comunidades afro-indígenas e LGBTQIA+. A série reforça a potência das relações que sustentam a existência trans no Brasil, promovendo um espaço de reflexão e visibilidade.

A exibição de “Acervo em Perspectiva: M’barek Bouhchichi, Nen Cardim, Washington Silvera”, é uma proposta que busca estabelecer conexões entre obras e artistas do acervo do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo. O programa expositivo propõe novos arranjos a partir das peças já presentes na coleção, incorporando também aquisições e doações recentes. Nesta edição, entram em diálogo os trabalhos de Washington Silvera, Nen e M’barek Bouhchichi – dois artistas brasileiros e um marroquino -, que exploram materiais como madeira, vidro e terra, estabelecendo conexões entre matéria, território e experiência. Embora utilizem elementos semelhantes, cada artista imprime sua própria linguagem, atravessando as fronteiras entre escultura e instalação. “Os três artistas em diálogo nesta primeira edição do Acervo em Perspectiva deixam transparecer ao público a riqueza de nosso acervo, colocando em diálogo instalações substancialmente diferentes, que partem de materiais semelhantes, ressaltando as múltiplas formas de se interpretar, narrar e exibir as artes africanas e afro-brasileiras”, conforme destaca Hélio Menezes.

E, ainda houve a inauguração da Sala de Projeção, novo espaço do museu voltado à exibição de videoinstalações, filmes e obras em movimento. Para abrir a programação, entra em exibição “Thinya”, da diretora Lia Letícia, que propõe um instigante jogo de narrativas e deslocamentos: a partir de álbuns de família encontrados num mercado de pulgas em Berlim, imagens de uma mulher chamada Inge passam a ilustrar relatos de viajantes europeus no Brasil entre os séculos XVI e XVIII – todos narrados em yathee, a língua do povo Fulni-ô. O resultado é uma obra que desmonta os regimes coloniais de representação, construindo novas camadas de leitura para o passado.

As três estreias se somam aos esforços do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, em promover exposições que desafiem os limites formais e ativem múltiplas vozes no campo da arte contemporânea e da cultura afro-brasileira.

 

Humanismo e naturalidade na fotografia.

14/abr

O fotógrafo paraense Luiz Braga celebra 50 anos de carreira com a exposição “Arquipélago imaginário” no IMS Paulista. Com curadoria de Bitu Cassundé e assistência de Maria Luiza Meneses, a mostra reúne 258 fotografias sendo que 190 são inéditas para o público. No dia da abertura, Luiz Braga e a equipe de curadoria participaram de uma conversa com o público sobre a exposição. O evento é gratuito.

Luiz Braga (1956) nasceu, vive e trabalha em Belém do Pará. Começou a carreira em 1975, fotografando em preto e branco, e na década de 1980 descobriu as cores vibrantes da visualidade ribeirinha. Desde então retrata o cotidiano desse universo, sempre evitando os estereótipos. Com humanismo e naturalidade, suas fotografias mostram uma relação próxima com as pessoas e os ambientes retratados, utilizando técnicas em preto e branco, infravermelho e cores. Atualmente desenvolve um ensaio de longa duração na Ilha de Marajó, no Pará.

As diferentes cores da terra.

09/abr

A Almeida & Dale, São Paulo, SP, anuncia a correpresentação da artista e pesquisadora Marlene Almeida (1942, Bananeiras, PB) em parceria com a galeria Marco Zero, de Recife.

Com uma prática interdisciplinar, Marlene Almeida combina conhecimentos literários, científicos e artísticos na investigação de um objeto comum à sua produção desde a década de 1970: a terra. Em expedições que realiza, a artista cataloga e armazena amostras de terras de diferentes cores e são guiadas por um projeto audaz: o Museu das Terras Brasileiras, que visa a identificação e estudo das cores encontradas em diferentes formações geológicas do território nacional. Em sua trajetória, Marlene Almeida também se nutriu de extensa atuação na militância ecológica e política. Nesse contexto, por exemplo, fundou e dirigiu o Centro de Artes Visuais Tambiá, onde durante uma década coordenou intercâmbios internacionais entre artistas, com destaque para os projetos desenvolvidos em parceria com a Alemanha.

Em maio deste ano, Marlene Almeida apresentará exposições individuais na Fondation Walter Leblanc, em Bruxelas, e na Carlos/Ishikawa, em Londres, que sucedem sua mostra na galeria Marco Zero, Recife, em 2024. Entre suas exposições recentes, estão: Paisagens temporais: perspectivas em evolução, Almeida & Dale (2024); 38º Panorama da Arte Brasileira, Mil graus, realizada pelo MAM São Paulo no MAC USP, São Paulo (2024); 2ª Bienal Internacional de Arte em Cerâmica de Jingdezhen, China (2023) e ROOTED – Brasilianische Künstlerinnen, Vilsmeier-Linhares, Munique, Alemanha (2024).

O pensamento pictórico de Thiago Hattnher.

07/abr

Próximo cartaz da Almeida & Dale, Pinheiros, São Paulo, SP, “Beira do tempo”, será a primeira individual de Thiago Hattnher no Brasil, mostrando o resultado de uma relação persistente e meticulosa com a pintura.

A mostra estará em exibição até 31 de maio.

O artista propõe uma construção vagarosa, atenta. Tem por hábito trabalhar muitas telas simultaneamente, sem saber de antemão como o trabalho vai ser. Utilizando tinta a óleo, cuja secagem é lenta, ele sobrepõe camadas, criando campos de cor e de forma que oscilam entre harmonias e desequilíbrios, articulando-se em um jogo provocativo entre zonas neutras, áreas que sugerem jogos abstratos ou paisagens imaginárias, linhas que simulam horizontes, citações que remetem à paisagem ou ao gênero da natureza morta, evocando assim a história da pintura. São trabalhos, como diz Hattnher, muito mais motivados por atmosferas do que por narrativas. Aspecto que o artista reforça ao optar por não dar título às obras, nem as isolar por meio de molduras. Ao deixar a lateral visível, ele dá visibilidade às camadas de cores (verde limão, laranja florescente…) que, juntas, criam uma aparência brumosa, difícil de definir.

“Trata-se de um pensamento que reluta em fixar-se em ideia e em alcançar sua forma final”, sintetiza Julia de Souza no texto crítico da mostra Beira do tempo. “A cogitação de Hattnher se aproxima mais do pensamento, da meditação e da preparação do que do cálculo”, acrescenta ela. Longe de ser um instrumento para contar histórias, demonstrar virtuosismos ou construir lógicas precisas, a técnica torna-se uma investigação persistente e diária, que cria como que uma temporalidade alargada. “Isso traz uma lentidão na leitura que eu gosto que o trabalho tenha”, afirma Hattnher. Essa desaceleração temporal vai de encontro ao imediatismo contemporâneo. Remete à memória, como uma lembrança borrada, diz ele. Vistas em conjunto, as telas desafiam o espectador, convidando-o a descobrir elos e particularidades no interior de cada uma delas e também nos diálogos entre as várias obras, num movimento incessante de aproximação e afastamento, autonomia e síntese.

A exposição estabelece um diálogo profundo com a tradição pictórica, mas ao mesmo tempo a subverte, transformando a técnica em campo de experimentação e reflexão. Os formatos são normalmente pequenos e modulares. Há apenas uma tela um pouco maior, com 1,4 metro de largura, de um azul profundo, atmosférico, na qual “o impasse entre figura e fundo se exacerba”, como enfatiza Julia de Souza. O tipo de tinta usada é o mesmo, mas os materiais, técnicas e superfícies são diversos. Madeira, linho ou juta mais rústica absorvem a luz e a tinta de forma diferente, jogando com a percepção.

“Cada superfície me permite convocar uma imagem diferente”, destaca. Essas variações de ritmo, intensidade, duração – esse desenvolvimento errante, como ele diz – dão à obra algo de “notação musical”, como observa Mateus Nunes, atual curador do MASP, em seu texto crítico para a exposição que Hattnher realizou em Londres, no ano passado. Não por acaso, a dissertação de mestrado do artista na ECA-USP intitula-se, sugestivamente, Pintura, Silêncio e outros ruídos e trata das aproximações entre a produção de John Cage e Cy Twombly e sua própria investigação. Há uma inquietação permanente na forma como Hattnher constrói sua obra. A pintura desde sempre foi sua linguagem, desde antes de deixar São José do Rio Preto para estudar artes visuais em São Paulo, em 2009. “Nunca tinha sido apresentado a outras práticas, era o que eu conhecia”, brinca.

Focalizando a obra de Zéh Palito.

04/abr

 

A Simões de Assis anuncia o lançamento de “Zéh Palito – Um Lugar ao Sol”, a primeira publicação dedicada à obra do artista.

Realizada em parceria com a Act, a edição reúne cerca de 150 obras realizadas entre 2019 e 2024, além de destacar cinco exposições individuais realizadas no Brasil, Estados Unidos, Itália e México. Com organização de Mariane Beline, Luana Rosiello e o próprio artista, o livro conta ainda com ensaios dos renomados curadores Ademar Britto Jr., Chantel Akworkor Thompson, Larry Ossei-Mensah e Rodrigo Moura, além de uma entrevista entre Zéh Palito, Larry e o também artista Derrick Adams.

SP-Arte | Lançamento e sessão de autógrafos

Sexta-feira, 04 de abril às 18h30

Estande Act Editora – ED4

2º andar

Simões de Assis | Lançamento aberto ao público

Sábado, 05 de abril às 11h – 13h

Al. Lorena, 2050 A – Jardins