O grande intérprete do Amor e da Modernidade.

20/out

Para celebrar a vida e o legado do poeta Vinícius de Moraes, que completaria 112 anos, o Museu de Arte do Rio (MAR) abriu a exposição “Vinicius de Moraes – por toda a minha vida” que ficará em cartaz até 03 de fevereiro de 2026.

Com curadoria de Eucanaã Ferraz e Helena Severo, a mostra reúne mais de 300 itens entre manuscritos, fotografias históricas, vídeos, livros raros, capas de discos, objetos e documentos pessoais, instrumentos musicais, esculturas e obras de arte de artistas amigos de Vinicius. 

“Vinicius de Moraes foi um dos construtores do Brasil moderno – aquele que se reconhece na poesia, na música, no afeto e na liberdade. Sua obra atravessa o século vinte como um fio de beleza e humanidade, revelando um país que aprendeu a cantar o amor e a emoção. Nesta exposição propomos um percurso sensível por sua vida e criação, pela alegria e delicadeza com que soube transformar o cotidiano em arte”; analisa a curadora Helena Severo.

A mostra propõe uma viagem afetiva e estética pela vida e pela obra de Vinicius de Moraes – o poeta, diplomata, dramaturgo, jornalista, compositor e cantor que marcou a cultura brasileira do século XX. Organizada em núcleos temáticos, a exposição percorre seus principais eixos de criação: a música, a poesia, o teatro, as artes visuais e as cidades que fizeram parte de sua trajetória.

Entre os grandes destaques está o espaço dedicado a “Orfeu da Conceição” (1956), peça teatral que inaugurou a parceria de Vinicius de Moraes com Tom Jobim. O núcleo apresenta croquis originais de figurinos de Lila Bôscoli e Carlos Scliar, cartazes de divulgação de Djanira, Scliar e Luiz Ventura, fotografias de José Medeiros registrando os ensaios da montagem e um desenho em alto-relevo de Oscar Niemeyer para o cenário do espetáculo, que estreou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O público poderá conferir alguns instrumentos como o piano, utilizado em parcerias como a série “Os afro-sambas” (1966), com Baden Powell, também foi tocado por Tom Jobim durante ensaios da peça “A invasão” (1962), de Dias Gomes.

A mostra traz ainda obras inéditas, como gravuras e desenhos de Lasar Segall, Guignard, Di Cavalcanti, Carlos Leão, Oswaldo Goeldi, Augusto Rodrigues e Dorival Caymmi. Entre os destaques, está o quadro “Retrato de Vinicius de Moraes” (1938), de Cândido Portinari. As artes plásticas e visuais reafirmam a convivência de Vinicius de Moraes com grandes nomes de sua geração. Estão reunidas obras de Portinari, Guignard, Pancetti, Santa Rosa, Cícero Dias, Dorival Caymmi, Carybé e Carlos Scliar, artistas que foram amigos próximos do poeta.

“Vinicius de Moraes – por toda a minha vida” reafirma o legado do poeta como um dos grandes intérpretes do amor e da modernidade, cuja obra permanece viva e presente. Para além de sua produção literária e musical, a exposição evidencia o homem que viveu intensamente as transformações culturais e comportamentais de seu tempo, ajudando a moldar a sensibilidade brasileira.

 

Carolina Cordeiro na Artissima 2025.

17/out

Oval Lingotto Fiere, Turim

A Galatea anuncia sua participação na Artissima, que acontece em Turim, Itália, entre 31 de outubro e 02 de novembro. Em sua estreia na feira, a galeria apresenta um projeto solo da artista Carolina Cordeiro (Belo Horizonte, Brasil, 1983), cuja prática multidisciplinar abrange desenho, fotografia, vídeo, escultura e instalação, explorando sistemas simbólicos e a dimensão poética dos materiais a partir das tradições culturais e espirituais brasileiras.

Ocupando o estande Fuxia 2, na seção New Entries, Carolina Cordeiro apresenta um novo capítulo da série América do Sal (2021/2025), que consiste em uma instalação composta por uma grande trama de barbante de algodão da qual pendem pequenas trouxas de sal envoltas em tecido. Disposta paralelamente ao chão e atravessando o estande, a obra convida o público à interação, uma vez que se deve passar por debaixo dela para chegar à parede de fundo, onde outros trabalhos da série serão mostrados.

Monocromática, silenciosa e, ao mesmo tempo, dotada de forte carga simbólica, América do Sal estabelece diálogo com as artesanias de diferentes povos que formam a identidade brasileira, com práticas vinculadas às religiões afro-brasileiras, especialmente o Candomblé. As trouxas de sal remetem tanto aos patuás, que são amuletos de proteção, quanto aos banhos e rituais de limpeza, que sempre devem ser feitos do pescoço para baixo – a mesma medida corporal que define a altura da instalação.

 

No Museu Chácara do Céu.

16/out

“O Rio de Ciro: A Cidade em Xilogravuras” pelo olhar de Ciro Fernandes.

Retratando a cidade maravilhosa através da força da arte nordestina, o Museu Chácara do Céu, Santa Teresa, Rio de Janeiro, RJ, abre as portas para a exposição “O Rio de Ciro: A Cidade em Xilogravuras”, celebrando a trajetória do artista plástico Ciro Fernandes e a sua paixão pelo Rio de Janeiro. A exposição, que permanecerá em cartaz até 30 de janeiro de 2026, se dá por meio de 76 obras autorais que transitam entre a técnica milenar da xilogravura e demais estilos, como pinturas, calcogravuras, litogravuras e nanquim. Obras que dialogam com as narrativas populares do nordeste e revelam a versatilidade do xilogravador, pintor, ilustrador, escritor e luthier, Ciro Fernandes, em diferentes linguagens visuais

Durante o vernissage, no sábado, 18 de novembro, os convidados poderão desfrutar de uma apresentação do violonista e compositor Jean Charnaux, trazendo a sonoridade carioca em diálogo com a experiência visual de Ciro Fernandes, com direito a uma vista deslumbrante da cidade do Rio de Janeiro.

Distribuindo as obras em diferentes núcleos temáticos, a mostra inicia com “O Rio de Ciro: um Caso de Amor”, que retrata a chegada do artista ao Rio de Janeiro e sua paixão pela Cidade Maravilhosa, com obras que capturam o ciclo urbano e cotidiano dos cariocas. O núcleo seguinte da mostra, “Lapa e Seus Mistérios”, revela a atmosfera boêmia e cultural do bairro, destacando figuras icônicas como Madame Satã e eternizando a diversidade e a essência das ruas da cidade.

A exposição segue conectando às raízes nordestinas por meio dos núcleos “A Tradição Cordelista Chega à Cidade Maravilhosa”, que narra a forma como o artista retomou a xilogravura nos cordéis urbanos da capital; e “A Natureza Exuberante de Ciro” (Sala Imersiva), que transporta os visitantes para dentro de uma sala de vidro com obras do artista em formato de “lambe-lambes” e adesivos, permitindo que as obras dialoguem com a vista panorâmica do Rio de Janeiro. Integrando diferentes formatos, a exposição não se restringe apenas a xilogravura, podendo também ser apreciadas as pinturas em tinta acrílica sobre tela; calcogravuras e litogravuras; ilustrações; artes em nanquim; além de capas de cordéis, LPs, matérias de jornal e livros de grandes escritores ilustrados pelo artista. 

O público poderá se inspirar e imergir no cenário criativo de Ciro Fernandes, a partir da exibição de suas ferramentas de trabalho, como a prensa, materiais de entalhe e as matrizes de madeira das obras. Tais instrumentos auxiliaram a ditar as dimensões variadas das obras, sendo a menor com proporções de 28 x 32cm e a maior com 90 x 220cm. Como medida de democratização do acesso à cultura, a exposição contará com quatro oficinas programadas para crianças de escolas públicas da região de Santa Teresa. Usando gravuras de material reciclado (Tetrapack), os workshops trarão atividades lúdicas e culturais para as crianças, abordando a natureza do Rio de Janeiro e buscando a representação dos pássaros da cidade, à espelho do que inspira Ciro Fernandes.

“O Rio de Ciro: A Cidade em Xilogravuras” tem curadoria de Mariana Lannes, diretora de produção cultural e idealizadora de projetos artísticos, com atuação nacional em música, artes visuais, cultura popular e impacto social; além de Alessandro Zoe, fundador do escritório de gestão artística CRIVO, somando mais de 8 anos de experiência à frente de produções culturais em teatro, música e artes visuais

Sobre o artista.

Desde criança, Ciro Fernandes se encantou pelo desenho e pela arte, imerso na cultura dos cordéis e na tradição da xilogravura popular do sertão da Paraíba, desenvolvendo suas habilidades como gravurista. Ao longo da vida, o artista viveu em diferentes cidades do Brasil, como Natal e São Paulo, mas encontrou seu verdadeiro lar no Rio de Janeiro, onde se apaixonou pelas belezas da cidade, incluindo sua natureza exuberante, o Carnaval, as ruas do centro e da Lapa, e pelo efervescente movimento cultural do bairro. No auge dos 83 anos, Ciro Fernandes é um dos grandes nomes da cena artística brasileira, sendo considerado um patrimônio da xilogravura no país. 

 

A exposição, fica em cartaz até o dia 30 de janeiro de 2026

 

Panorama sobre a obra de Paulo Chimendes.

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS, instituição da Secretaria de Estado da Cultura do RS – Sedac, apresenta a exposição “Paulo Chimendes – A travessia do tempo”, evento aberto ao público. A mostra permanecerá em exibição até 04 de janeiro de 2026 no 2º andar do museu na Galeria Superior 1.

“A travessia do tempo” é uma homenagem que celebra a trajetória de Paulo Chimendes (Rosário do Sul/RS, 1953), um panorama da ampla produção desenvolvida pelo artista desde os anos 1970, focalizando alguns dos segmentos mais notabilizados de sua diversificada obra. São apresentados mais de 60 trabalhos, em sua maioria provenientes da coleção do próprio artista, juntamente a itens que integram o Acervo Artístico do MARGS.

Paulinho – como é carinhosamente conhecido no meio artístico – foi destacado como jovem artista ainda nos anos 1970, com inúmeros prêmios e participações em salões de arte, com trajetória estritamente relacionada ao aprendizado e às experiências a partir do Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, onde ingressou aos 12 anos, em 1966, quando ainda funcionava no segundo andar do Mercado Público. Nesse ambiente, foi estimulado pelas lições e convívio com importantes professores e colegas, que figuram como nomes da história da arte sul-rio- grandense, a exemplo de artistas como Paulo Peres, Danúbio Gonçalves, Armando Almeida, Francisco Stockinger, Paulo Porcella, Clébio Sória, Vasco Prado e Fernando Baril.

O artista também tem a sua trajetória marcada pela atuação de décadas como técnico impressor de gravura, tendo colaborado com diversos outros artistas, como Alice Soares, Léo Dexheimer, Clara Pechansky e Mabel Fontana. Nesse trabalho, destaca-se o seu envolvimento com o MAM Atelier de Litografia de Porto Alegre, criado nos anos 1980 pelas artistas Maria Tomaselli, Anico Herskovits e Marta Loguercio, onde atuou junto a outros artistas, entre os quais nomes como Iberê Camargo, Francisco Stockinger e Vasco Prado. 

“A travessia do tempo” é resultado de mais de um ano de diálogo entre Chimendes e a equipe do Museu. A curadoria é de Francisco Dalcol, diretor-curador do MARGS, e Cristina Barros, curadora-assistente. A exposição também conta com texto de apresentação escrito pela artista e amiga Maria Tomaselli.

 

Memórias em aquarelas das colônias de Gramado.

15/out

Guardião da Memória

Como forma de preservar as raízes e a identidade cultural da cidade de Gramado, RS, transformando o olhar artístico em herança coletiva, o Parque Olivas de Gramado adquiriu uma coleção de aquarelas que retratam o interior do município.  O acervo com 23 quadros é assinado pelo artista plástico Joaquim da Fonseca, e reproduz as belezas e arquitetura das colônias de Gramado, regiões que deram origem à cidade que hoje é um polo turístico do Brasil.

Com a aquisição das obras, o Olivas de Gramado ultrapassa o campo do turismo e da arte e assume o papel de guardião da memória de uma terra. Com a iniciativa, o empreendimento busca preservar para o futuro as raízes, paisagens e memórias que ajudaram a construir a identidade de Gramado.

“Nós do Olivas de Gramado, temos por essência, a valorização da nossa história, das nossas raízes, do legado deixado pelos nossos antepassados. A aquisição deste incrível acervo, retratado pelo talentoso mestre Joaquim da Fonseca, é de grande relevância para a preservação deste importante patrimônio histórico, tornando possível para as próximas gerações a contemplação da arte e o conhecimento sobre nossa verdadeira identidade cultural,” comenta o azeitólogo e sócio do Olivas de Gramado, André Bertolucci.

Uma cerimônia oficial de entrega das aquarelas foi realizada no Espaço Cultural do Olivas de Gramado, marcando o momento em que o acervo passa a integrar definitivamente o patrimônio artístico do parque. Mais que um evento, é um gesto simbólico de reconhecimento a importância das colônias que são um capítulo importante na história de Gramado, além de enaltecer a trajetória de um artista como Joaquim da Fonseca. O acervo ficará em cartaz até o dia 30 de novembro.

A palavra do curador.

“As 23 aquarelas de Joaquim da Fonseca reunidas nesta exposição são testemunhos sensíveis de um tempo fundador. Cada traço e transparência da cor guarda a memória das colônias de imigrantes italianos e alemães que deram origem à cidade de Gramado, na Serra Gaúcha”, resume o curador da exposição, Cézar Prestes, gestor cultural que há anos acompanha o trabalho do artista. “Selecionadas e apresentadas sob minha curadoria, estas obras transcendem o gesto artístico: tornam-se documento, herança e narrativa. O Olivas Gramado, ao acolher e tombar o conjunto de aquarelas, assegura que elas passem a habitar o futuro como guardiãs da história, preservando para sempre as raízes culturais da cidade”.

Sobre o artista.

O artista plástico, designer gráfico e professor universitário Joaquim da Fonseca é referência no cenário cultural gaúcho. Autor de livros sobre viagens e design gráfico, também se destacou como tradutor de obras internacionais de sua área. Aos 90 anos, o alegretense mantém intensa produção artística, tendo na aquarela sua principal forma de expressão. Sua obra registra paisagens litorâneas, urbanas e rurais, explorando os efeitos de transparência da técnica para transmitir sensações de profundidade e distância. Mais que imagens, suas aquarelas se tornaram um exercício de memória e documentação visual de lugares e costumes que marcam a identidade cultural do Rio Grande do Sul. “Encontrei na aquarela a possibilidade de registrar e documentar as impressões da paisagem que me interessa”, explica o artista.

 

Crônica e sonho nas obras de Ismael Nery.

01/out

A curadoria de Tadeu Chiarelli revela um Ismael Nery atual, cujas reflexões sobre o eu e a ambiguidade ecoam no presente. 

Ismael Nery (1900-1934) atravessou o Modernismo brasileiro de modo tão intenso quanto breve. Poeta, pintor, desenhista obstinado e criador de uma filosofia própria – o essencialismo -, sua obra se organiza em torno de uma pergunta central, repetida em diferentes registros: quem sou eu? Essa interrogação aparece de forma insistente nos inúmeros autorretratos que Ismael Nery produziu ao longo da vida, nos quais a identidade é posta em jogo como fragmento, deslocamento e recomposição. A busca não é apenas pela imagem do indivíduo, mas pela sua dissolução em pares de opostos: corpo e espírito, sombra e luz, masculino e feminino. Não por acaso, os retratos que fez ao lado de Adalgisa Nery, companheira e musa, sugerem um processo de fusão – como se o casal fosse uma só entidade, ambígua e indivisa. 

A mostra “Ismael Nery: crônica e sonho”, com curadoria de Tadeu Chiarelli, na Danielian Galeria, Jardins, São Paulo, SP, reúne cerca de 60 obras, entre seis óleos e 56 trabalhos sobre papel – aquarelas, guaches, nanquins e grafites – que percorrem a produção do artista. Entre o cotidiano da metrópole carioca e o mergulho no supra-real, Ismael Nery constrói uma poética da ambiguidade: o duplo, a androginia, a autoimagem, a figura humana deslocada para territórios metafísicos. Nos anos 1920 e 1930, em diálogo com a visualidade art déco e as pesquisas cubistas, já apontava para questões identitárias e existenciais que hoje soam contemporâneas. Em seus últimos anos, marcados pela tuberculose, o corpo se torna tema e território: pulmões, traqueias e vasos sanguíneos transformam-se em paisagens interiores, ao mesmo tempo íntimas e universais. Sua produção, no entanto, não se restringiu às visualidades. Ismael Nery escrevia poemas e promovia encontros em sua casa, dissertando sobre Filosofia, Estética e Religião para amigos como Jorge Burlamaqui, Mário Pedrosa, Antonio Bento, Guignard, Jorge de Lima e Murilo Mendes – este último, decisivo na preservação de sua obra após a morte precoce do artista. 

“Eu sou a tangência de duas formas opostas e justapostas, eu sou o que não existe entre o que existe, eu sou tudo sem ser coisa alguma, eu sou o marido e a mulher, eu sou a unidade infinita, eu sou um deus com princípio, eu sou poeta.” – Ismael Nery, trecho do poema Eu (1933). In: BENTO, Antônio. Ismael Nery. São Paulo: Gráfica Brunner, 1973. 

A obra de Ismael Nery voltou a ganhar destaque em 1969, na X Bienal de São Paulo, na “Sala de Artes Mágica, Fantástica e Surrealista”, um panorama da produção brasileira nesse campo em diálogo com criações internacionais. Nesse contexto, Nery recebeu uma sala retrospectiva dedicada exclusivamente a ele, reunindo 50 trabalhos em papel. Entre os trabalhos exibidos em 1969, presentes também nesta exposição, estão o nanquim Princípio da Divisão (1931), a aquarela Além do feto (1927) e o nanquim Figura n.º 9 (1929). A partir desse momento, a presença do trabalho de Ismael Nery passou a ressoar como influência e antecipação, ecoando posteriormente em artistas como Leonilson e em poéticas que investigam corpo, identidade e transcendência. 

O recorte curatorial proposto por Tadeu Chiarelli articula obras nas quais Ismael Nery observa a vida urbana de seu tempo com outras em que se entrega ao devaneio, ao sonho e à poesia. Nesse cruzamento, sua obra se revela não só como testemunho fundamental das experiências modernas do início do século XX, mas também como palco de reflexão sobre pulsões e identidades que seguem em debate na contemporaneidade. Durante a exposição, será lançado o catálogo com as obras expostas e textos críticos. 

Sobre o curador.

Tadeu Chiarelli é crítico, curador e professor, referência nos estudos sobre a arte moderna e contemporânea no Brasil. Foi diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo (2005-2009) e do Museu de Arte de São Paulo – MASP (2015-2017). Atuou também como chefe do Departamento de Artes Plásticas da ECA-USP, onde é professor titular. Publicou livros e ensaios fundamentais sobre artistas como Ismael Nery, Geraldo de Barros e Nelson Leirner. Sua trajetória articula pesquisa acadêmica, curadoria e reflexão crítica sobre a arte brasileira. 

Sobre a galeria.

A Danielian Galeria nasce da experiência formativa de Luiz e Ludwig Danielian, moldada pelo convívio com a coleção de seus pais, dedicada à arte brasileira. Da primeira galeria em Copacabana, aberta quando ainda muito jovens, ao espaço de grandes dimensões inaugurado na Gávea em 2019, construiu-se uma trajetória de continuidade e expansão. Em 2024, a abertura da sede paulistana, na Rua Estados Unidos, consolida esse movimento. Entre a memória do acervo familiar e a inserção no circuito internacional, a galeria atua há vinte anos como mediadora entre gerações, preservando vínculos históricos e projetando novas presenças no campo da arte. 

Até 18 de outubro. 

 

O retorno da obra de Ubirajara Ribeiro.

29/set

A Galeria Marcelo Guarnieri apresenta, entre 04 de outubro e 07 de novembro, a primeira mostra do artista Ubirajara Ribeiro (1930-2002) na unidade Jardins, São Paulo, SP. Arquiteto de formação e professor universitário, Ubirajara Ribeiro foi considerado um dos principais aquarelistas do país, embora tenha transitado com liberdade por variadas técnicas e linguagens ao longo de sua carreira.

O artista iniciou sua produção durante a década de 1960, atento às discussões da arte pop no Brasil, integrando, naquele momento, o grupo dos cinco arquitetos pintores com Maurício Nogueira Lima, Flávio Império, Sérgio Ferro e Samuel Szpigel. A partir de então, conservou, durante os quarenta anos seguintes, o interesse do arquiteto pelo desenho, entendendo a importância do traço na estruturação de qualquer uma de suas composições, fossem elas abstratas, figurativas, gráficas ou textuais. Desde a década de 1960 até os anos 2000, seus trabalhos circularam anualmente em mostras institucionais no Brasil e fora dele. A exposição, que reúne cinquenta obras realizadas entre as décadas de 1970 e de 2000, formalizadas em uma diversidade de linguagens tais como aquarela, desenho, pintura e colagem, marca um momento de retorno da obra de Ubirajara Ribeiro após vinte anos fora do circuito.

Uma de suas obras, no entanto, está em exposição permanente há sessenta anos. Trata-se do “Mural-Objeto”, feito em parceria com Sérgio Machado para o salão do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) no ano de 1965, e que pode ser visitado até hoje. Tendo a função de dividir os espaços do salão e da cozinha do antigo restaurante do edifício, o “Mural-Objeto” é composto por diversos objetos de madeira, vidro e ferro que remetem a elementos de construção e mobiliários como janelas, caixas, placas, fechaduras e adornos. Configurando-se como uma espécie de mosaico tridimensional que nos dá a impressão de estar diante do seu avesso, é uma peça que encontra ressonância na obra “Mapeinture”, de 1998, apresentada nesta exposição.

Ainda na década de 1960, Ubirajara Ribeiro desenvolveu uma investigação sobre o quadro-objeto, através da qual refletia sobre os elementos constitutivos do quadro, como a moldura, por exemplo, propondo um rearranjo estrutural que fazia a obra transitar entre o bi e o tridimensional. “Mapeinture”, de 1998, se apresenta como frente e verso simultaneamente, um trabalho que, na escrita da junção de duas palavras em francês (Ma peinture: Minha pintura), também pode ser lida como uma espécie de statement bem humorado do artista.

A palavra, aliás, foi um componente com o qual Ubirajara Ribeiro se relacionou em grande parte de sua produção. Leitor de autores do realismo mágico latinoamericano como Gabriel García Márquez, Julio Cortazar e Jorge Luis Borges, e ao mesmo tempo estudioso da cultura oriental e da técnica da caligrafia japonesa, o artista explorou em suas obras as qualidades gráficas, poéticas e filosóficas da escrita. Palavras inventadas, endereços, listas, anotações de horários, garatujas, rabiscos e mensagens passeiam por algumas obras apresentadas nesta exposição.

É o caso do conjunto da série “Nas Vitrines”, realizada durante a década de 1980. O artista apropria-se de sua coleção de postais provenientes de distintas partes do mundo para apresentá-los em nova montagem como dignos de atenção por suas qualidades gráficas e semióticas – o modo como a diagramação e a ilustração representavam elementos urbanísticos e culturais de uma cidade, por exemplo -, mas também pelo valor sentimental que a carta/correspondência carrega em sua materialidade, acessado na maioria das vezes pelo teor do texto e pelo desenho da caligrafia.

A ideia de trânsito e deslocamento também se manifesta em outras obras, como a série de aquarelas e desenhos que registram traçados urbanísticos, fachadas de edifícios ou estruturas de viadutos e que algumas vezes sinalizam endereços como a Boca do Lixo, o Jardim da Luz ou a igreja da Avenida Tiradentes.  Já na década de 1990 e 2000, podemos observar que esses traçados até então reconhecíveis, se libertam, adquirindo uma qualidade mais abstrata na fusão entre caligrafia e outros elementos gráficos como rabiscos, carimbos e até adesivos. Um certo vocabulário próprio que se forma na madurez da obra.

O papel, presença marcante nesta exposição, possuía, para Ubirajara Ribeiro, uma importância de múltiplos sentidos: “O papel se constitui em matéria viva e orgânica que por suas próprias características tem a potencialidade de vir a tornar-se em alguma coisa, inclusive obra de arte. Portanto, não é um mero suporte para grafismos ou camada pictórica, mas é capaz de formar um composto”. O artista questionava o desprestígio que o papel vinha adquirindo no circuito artístico a partir da década de 1980 devido à valorização dos grandes formatos e insistiu em relacionar-se com esse material dentro de sua produção mesmo diante desse contexto. Essa é uma postura que fica clara nas obras apresentadas nesta exposição, onde o papel é objeto e também sujeito. 

Ubirajara Ribeiro participou de importantes exposições individuais e coletivas ao longo de sua carreira, consolidando-se como um nome expressivo nas artes visuais brasileiras. Entre suas exposições individuais mais relevantes destacam-se a retrospectiva no MAC/USP em 1975, que marcou um momento de reconhecimento institucional, além de mostras no SESC Paulista e no Centro Cultural São Paulo. No circuito internacional, apresentou sua obra em 1993 na Sonoma University Art Gallery e na Biblioteca do Congresso dos EUA. No campo coletivo, participou da 11ª Bienal de São Paulo, de edições dos Salões Nacionais e Paulistas de Arte Moderna (onde recebeu prêmios de aquisição), e de exposições emblemáticas como “O Objeto na Arte – Brasil Anos 60″ e “Prospectiva 74″ (MAC/USP). Sua presença também foi notável em eventos internacionais como “10 Artistas Brasileños”, Museo de Arte Moderno de Bogotá e “A Cor e o Desenho no Brasil”, que circulou pela Inglaterra, Holanda, Portugal, Espanha, França e Itália.

 

Mostra de diferentes contextos históricos e sociais.

25/set

Até o dia 1º de dezembro, o CCBB Belo Horizonte, MG, recebe a exposição “Uma História da Arte Brasileira”, que reúne obras e nomes incontornáveis da Arte Moderna e Contemporânea do Brasil, com trabalhos que atravessam diferentes contextos históricos e sociais. 

A mostra apresenta mais de 50 obras do acervo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, compondo um amplo panorama da produção artística nacional nos séculos XX e XXI. Assinada por Raquel Barreto e Pablo Lafuente, curadora-chefe e diretor artístico do MAM Rio, a exposição traz um percurso que evidencia continuidades, rupturas e experimentações que ajudaram a moldar a Arte brasileira ao longo de mais de cem anos. 

A exposição é organizada em cinco eixos temáticos, reunindo trabalhos em variados suportes e linguagens. O trajeto começa com o Modernismo das primeiras décadas do século XX, quando surgia uma estética ligada à busca por identidade nacional. Em seguida, aborda o Abstracionismo e o Concretismo dos anos 1950, avança para a Arte Crítica e Conceitual das décadas de 1960 e 1970 – marcadas pela resistência à Ditadura Militar – e alcança a explosão de cores e a revalorização da pintura na “Geração 80″. Cada núcleo propõe diferentes formas de olhar e representar o Brasil, compondo um mosaico do imaginário coletivo do país. 

A partir dos anos 2000, o recorte curatorial destaca a força de artistas mulheres, negros e negras, indígenas e LGBTQIA+, ampliando as perspectivas históricas e questionando narrativas tradicionais. Essa produção recente evidencia a vitalidade da Arte Contemporânea Brasileira e a sua capacidade de dar visibilidade a vozes antes marginalizadas. 

Dentre os artistas representados estão nomes fundamentais como Adriana Varejão, Anita Malfatti, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Arjan Martins, Beatriz Milhazes, Candido Portinari, Carlos Zilio, Cildo Meireles, Di Cavalcanti, Heitor dos Prazeres, Judith Lauand, Leonilson, Lúcia Laguna, Luiz Zerbini, Lygia Clark, Lygia Pape, Márcia X, Maria Martins, Tomie Ohtake, Tunga, Victor Brecheret e outros que, em diferentes momentos, ajudaram a construir uma narrativa múltipla e diversa da arte no Brasil. 

 

Amazônia em tempos de crise ambiental.

24/set

A mostra “Paisagens em Suspensão”, integra o conjunto de exposições que celebram a abertura da primeira unidade da CAIXA Cultural na Região Norte – no dia 09 de outubro. Reúne obras que propõem uma travessia crítica por diferentes formas de representar, tensionar e imaginar as paisagens brasileiras – naturais, humanas, simbólicas e políticas – em tempos de crise ambiental, social e civilizatória.

O amanhã depende do que fazemos hoje.

Trabalhos de Emmanuel Nassar, Frans Krajcberg, Maria Martins, Farnese de Andrade, Xadalu Tupã Jekupé, Djanira, Adriana Varejão, Ricardo Ribenboim, Siron Franco, Heitor dos Prazeres, Daniel Senise, Portinari, Anna Bella Geiger e Eliseu Visconti, entre outros mestres das artes plásticas, compõem o conjunto de 50 obras selecionadas para a exposição, a partir dos acervos de duas importantes instituições museológicas brasileiras vinculadas ao IBRAM – Museu Nacional de Belas Artes e Museus Castro Maya.

“Paisagens em Suspensão”, que acontece às vésperas da COP 30 na Amazônia, sugere um estado de espera, fragilidade e transformação – um tempo suspenso entre o que ainda resiste e o que ameaça desaparecer. A exposição busca não apenas expor obras, mas fazer da arte um campo sensível para imaginar formas mais generosas e conscientes de habitar o mundo.

Com curadoria de Daniela Matera Lins e Daniel Barretto, as pinturas, esculturas, gravuras, fotografias e instalações selecionadas para a mostra dialogam entre si, atravessando temas como a devastação dos territórios, a expropriação dos corpos, a memória da terra, o colapso climático e a potência de futuros ancestrais.

Organizada em cinco núcleos curatoriais, Paisagens em Suspensão parte da ideia de “paisagem” não apenas como representação da natureza, mas como construção histórica, política e sensível – um território em constante disputa. A curadoria propõe uma leitura da arte como ferramenta de escuta e denúncia diante das urgências do presente, explorando temas como devastação ambiental, memória coletiva, ancestralidade e justiça climática.

Até 18 de janeiro de 2026.

 

A obra de Leonilson resguardada.

23/set

A Almeida & Dale anuncia a representação do espólio de José Leonilson (1957, Fortaleza – 1993, São Paulo) em parceria com a família do artista e o Projeto Leonilson.

Um nome incontornável da arte contemporânea brasileira, Leonilson é reconhecido por uma obra singular que mobiliza aspectos íntimos, um vocabulário próprio de símbolos e uma ampla experimentação com a linguagem e com suportes como pintura, desenho, gravura, bordado, escultura e instalação.

O corpo de obras de Leonilson é registro do gozo das paixões e dos encontros sexuais, do sofrimento das desilusões e da insatisfação com o estado do mundo, assim como do medo e das dúvidas diante da fragilidade e finitude da vida. Ao não se furtar a abordar sua homossexualidade e o seu diagnóstico positivo para HIV após 1991, Leonilson construiu um trabalho sensível, delicado e igualmente político ao fazer emergir a vida privada frente ao moralismo e estigmatização que dominavam a esfera pública.

Em colaboração com o Projeto Leonilson – que há 30 anos trabalha pela preservação, pesquisa, catalogação e divulgação da vida e obra do artista -, a Almeida & Dale busca ampliar a circulação e o reconhecimento do legado de Leonilson, fomentando a inclusão de sua obra em coleções, instituições e exposições ao redor do mundo.

Exposições dedicadas à obra de Leonilson foram realizadas em instituições como MASP, São Paulo; Pinacoteca do Ceará, Fortaleza; Almeida & Dale, São Paulo; Museu Serralves, Porto, Portugal; Malmö Konsthall, Malmö, Suécia; KW Institute for Contemporary Art, Berlim, Alemanha; Americas Society, Nova York, EUA; Pinacoteca de São Paulo, Brasil. Seu trabalho integra renomadas coleções, das quais se destacam Centre Georges Pompidou, França; Tate Modern, Reino Unido; The Art Institute of Chicago, EUA; Museo Nacional de Bellas Artes, Argentina; MoMA, EUA; Lenbachhaus, Alemanha; MAM Rio; MAM São Paulo; MAC-USP; Pinacoteca de São Paulo; Museu Nacional de Belas Artes; Museu d’Art Contemporani de Barcelona, Espanha e MASP, Brasil.

Após a publicação, em 2017, do catálogo raisonné em três volumes, o Projeto Leonilson prepara para este ano o lançamento de um livro organizado por João Carrascoza, que reúne trechos das transcrições de fitas gravadas pelo artista entre 1990 e 1993. A obra integra a iniciativa de preservação de seu arquivo pessoal, desenvolvida pelo Projeto Leonilson nos últimos dois anos e meio com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Esse trabalho contempla a pesquisa e catalogação de todo o acervo do artista – correspondências, fitas, textos, poesias, agendas, cadernos, materiais de trabalho e documentos.