Issa Watanabe em São Paulo.

03/jul

O Instituto Cervantes de São Paulo, Avenida Paulista, apresenta uma nova exposição em cartaz em sua sede, até o dia 31 de julho. Trata-se da exibição da autoria da ilustradora peruana Issa Watanabe, “Migrantes” que, como o nome indica, retrata um tema bastante discutido na atualidade: a imigração e os fluxos dos refugiados. As obras que compõem essa mostra são provenientes do livro homônimo publicado pela artista, além de ilustrações de sua mais nova publicação, “Kintsugi”, e outras composições recentes.

Issa Watanabe começou a se aproximar do tema imigração quando foi viver em Mallorca, na Espanha, no início dos anos 2000. No país europeu, ela testemunhou as primeiras tentativas massivas de estrangeiros partirem da África em pequenos barcos rumo à Europa – uma travessia altamente perigosa, feita em embarcações precárias, mas que continuam sendo realizadas até hoje.

Uma das pessoas que se arriscou na travessia foi Abdulai, um estrangeiro proveniente do Mali e que tinha praticamente a mesma idade de Issa e seus companheiros de casa. Os jovens conheceram o rapaz em um ponto de ônibus, quando ele havia acabado de chegar ao país, sem visto, sem documentos e sem nem mesmo falar espanhol. Issa e seus amigos decidiram abrigar o jovem africano, que acabou vivendo com eles por um ano e meio. “Ele falava um pouco de francês e era assim que nos comunicávamos. Pudemos entender os motivos de Abdulai e o que uma viagem desse tipo significava para ele e para sua família. E acompanhar o processo dele tentar se adaptar a uma sociedade que, naquela época, o rejeitava”, conta a artista. Toda essa experiência inspirou Issa a dar aulas de espanhol como voluntária para os estrangeiros que chegavam à Mallorca e fez com que a artista se interessasse cada vez mais pelo tema imigração. Mas os primeiros esboços de “Migrantes” tomaram forma apenas quando ela já estava de volta ao Peru, anos mais tarde. A produção se iniciou espontaneamente, sem planejamento, e foi enchendo os cadernos de rascunhos da ilustradora. “Essa é uma obra que retrata uma situação muito difícil, que fala sobre morte, perdas, mas também esperança. Na história, os animais se ajudam mesmo sendo de espécies diferentes – alguns até mesmo se alimentam de outros na natureza”, diz a artista.

“Migrantes”, de Issa Watanabe, chega ao Instituto Cervantes de São Paulo após passar pela instituição em Roma, Salvador, Brasília e Rio de Janeiro, e faz parte da programação do Festival Cidade da Cultura. O evento conta com o apoio da Embaixada do Peru no Brasil, Consulado Geral do Peru em São Paulo, Centro Cultural Inca Garcilaso, Embaixada da Espanha no Brasil e Cooperación Española.

A arte de Maiolino no Museu Picasso.

A mostra é uma coletânea das principais obras da artista nascida na Calábria, em 1942, que cresceu na Venezuela, antes de se instalar no Brasil. Ao longo de 65 anos de carreira, Anna Maria Maiolino explora múltiplas linguagens artísticas, como disse em entrevista à RFI Fernanda Brenner, que divide a curadoria da exposição com o francês Sébastien Delot. “A ideia é fazer uma amostragem da complexidade e da coerência do trabalho dela”, explica a curadora.

“Esta exposição não é cronológica, não é montada em eixos temáticos de acordo com as décadas ou as mídias que ela trabalha, mas busca apresentar para o público como a Anna tem um vocabulário muito coeso, muito coerente e, ao mesmo tempo, absolutamente experimental em todas as mídias que ela resolve trabalhar”, diz. “Pode ser esculturas em argila, desenhos, pinturas, vídeo, fotografia, performances. Ela transitou por todas as mídias possíveis em arte contemporânea, mas sempre com um vocabulário muito específico e muito ligado com a própria origem dela, como corpo feminino migrante”, continua.

“Ela que saiu da Itália no pós-guerra, quando o país vivia uma situação de precariedade, de fome. Chegou primeiro na Venezuela, ao fim da infância, e depois no Brasil, aos 20 anos, (onde) encontra a cena brasileira e se faz artista a partir desse encontro com o Brasil”, pontua.  Parte de sua formação Anna Maria Maiolino cursou na escola Nacional de Belas Artes Cristóbal-Rojas, em Caracas. Em 1960, ela se mudou com os pais para o Rio de Janeiro, onde continuou sua formação artística, estudando pintura com Henrique Cavalleiro e xilogravura com Adir Botelho. Em paralelo, ela frequentou o curso de estética de Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna.  A artista diz que não trabalha com a intuição, mas pensa e repensa cada passo de sua criação. Em entrevista à RFI, Anna Maria explicou o título da mostra parisiense: “Estou aqui”. “Você busca um discurso próprio, diferente, mas isso é uma grande mentira, porque você vem do passado, com todas as culturas do passado. Isso é uma coisa muito forte para mim, porque eu era imigrante no Brasil”, lembra. “Ao chegar no Rio de Janeiro, que é uma cidade incrível, eu percebi a liberdade que a arte brasileira tinha”, completa.  Em 1968, Maiolino obteve a cidadania brasileira. Durante a ditadura, ela e o marido, Rubens Gerchman, se mudaram para Nova York, onde ela realizou parte das obras expostas em Paris. Nos Estados Unidos, a dificuldade por não falar inglês também acabou virando objeto de pesquisa, especialmente em desenhos e poemas. “Eu estive em vários países, em vários lugares. E sempre quando você muda de fronteira, o que existe é a sua presença no lugar. Então, para mim, este título significa que, mais uma vez, eu estou atravessando a fronteira, eu estou na França, estou em Paris, no Museu Picasso, que para mim é mais um território, pois sou uma andarilha, com alma de imigrante”, define.

A artista retornou ao Brasil em 1972, se instalando primeiro no Rio de Janeiro, antes de se mudar para São Paulo, após o divórcio. Suas obras são inspiradas em diferentes línguas, culturas e contextos políticos em que viveu. “Voltar a Paris é voltar para aquilo que eu sou. Eu nasci na Itália, sou uma europeia do Mediterrâneo, mas pertenço a várias camadas dos países onde vivi”, afirma. “Meu coração é brasileiro, é carioca. São Paulo não tem linha do horizonte, então me sinto prisioneira em São Paulo”, diz.  Leão de Ouro em Veneza em 2024, a artista foi recompensada com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza pelo conjunto de sua carreira. Na ocasião, Anna Maria Maiolino dedicou o prêmio à arte brasileira e ao país que a acolheu. “Uma das coisas básicas da minha obra é a memória. A memória física e emocional”, diz. “É óbvio que a minha chegada ao Brasil me ajudou a encontrar um discurso particular meu”, continua. “Porque o brasileiro começa a sua arte com o Barroco, que é modernidade, não tem uma arte do passado. Tem a arte dos negros africanos, tem a arte dos índios e grande parte da arte brasileira carrega em si um ritual”, observa. No Museu Picasso, no bairro do Marais, a exposição de Anna Maria Maiolino dialoga com a obra do artista espanhol. Ela mesma traça semelhanças com ele. “Qual é a minha relação com o Picasso? Mesmo sendo de épocas diferentes, ele sendo homem e eu uma mulher, nós temos em comum uma coisa: a curiosidade, pois mudamos de suporte”, compara. “Picasso experimentou e “comeu” a arte de todo o mundo e “defecou” Picasso”, analisa. “Picasso foi um grande comilão, antropófago das culturas dos outros, mas transformou tudo em Picasso”, reforça. “Eu acho que eu e ele, com a diferença de idade e de séculos, temos a curiosidade de nos movermos de um suporte a outro, do desenho para a pintura, para a escultura, isso que eu tenho em comum”, afirma.    A exposição “Anna Maria Maiolino: Estou Aqui” fica em cartaz no Museu Picasso, em Paris, até 21 de setembro.

Fonte: Maria Paula Carvalho, de Paris para o Terra.

Exposição “Mix Media” de Patrick Conrad.

02/jul

Artista belga apresentará exposição individual no Museu de Arte do Paço, antigo prédio da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, RS. A exposição “Mix Media” será uma oportunidade única e imperdível para conhecer o artista belga às 10h do dia 12 de julho que permanecerá em exibição aberta para visitação até 26 de setembro.

“Mix Media”, exposição inédita de Patrick Conrad, exibirá cerca de cento e cinquenta obras sobre papel, utilizando técnicas mistas, tais como colagem, desenho e pintura. Patrick Conrad, contista, romancista e poeta é de fato, um artista multimídia, possui mais de cinquenta livros publicados e traduzidos em diversas línguas. Dirigiu filmes entre ficção e documentários pelos quais recebeu inúmeros prêmios. Tem representatividade em diversos museus e galerias em países europeus.

Novas luzes nas pinturas de Patrick Conrad.

Desde o dia que resolvi palmilhar a biografia de Patrick Conrad me convenci de que passaria a ter um convívio com um artista total com carreira internacional exitosa em todas as áreas onde atuou fosse através da linguagem literária, cinematográfica ou plástica. Livre e múltiplo. Agora, em sua escolha (consciente) na maturidade, Patrick Conrad optou por viver em nossa leal e valorosa Porto Alegre e o fez por amor. Vejo Patrick Conrad e sua multifacetada abordagem plástica poderosamente gráfica, crítica e densamente dramática. Contudo percebo muita leveza em seus traços e cores já contaminadas pelas novas luzes da terra de adoção.

Renato Rosa,

marchand e dicionarista.

Sobre Patrick Conrad.

A temporada de inverno acende grande expectativa pela exposição do multifacetado intelectual Patrick Conrad, no Museu de Arte do Paço (MAPA). Belga de nascimento (Antuérpia, 1945), Conrad é em verdade uma dessas personalidades pertencentes ao mundo, com sua ampla visão crítica e destreza naquilo que faz – e o faz de forma magistral. Pintor, novelista, poeta e roteirista – esteve em Porto Alegre pela primeira vez em 1987 para a Mostra Internacional de Cinema, selecionado pelo filme “Máscara”, estrelado por Charlotte Rampling e Michael Sarrazin. Sua filmografia conta mais de 20 inserções. Como escritor, publicou em torno de 50 livros escritos em flamengo, sua língua nativa, traduzidos para diversos idiomas como inglês, francês, alemão e chinês. Tive a oportunidade de encontrar e ler um desses romances, traduzido para o francês sob o título “Au fin fond de décembre” (Nas profundezas de dezembro) – verdadeira joia do romance noir. Desta forma, sua arte está impregnada de recortes de uma vida feita de experiências profundamente ricas – e raramente vividas. Conrad nos premia nesta exposição com cerca de 150 obras em técnica mista, todas criadas em Porto Alegre, cidade que escolheu há dois anos para viver com sua mulher Jane. Trata-se da primeira exposição de artista internacional no recém criado Museu de Arte do Paço (MAPA), motivo de muita honra para a comunidade que acolhe Patrick Conrad com muito orgulho.

Paulo C. Amaral

Coordenador de Artes Visuais da SMC/Prefeitura de Porto Alegre.

Cildo Meireles: Percurso e Presença.

01/jul

“O desenho é a primeira percepção visual. Numa segunda etapa é preciso voltar ao desenho, detalhar. Ele acompanha esse processo de detalhamento de uma ideia. Mas sua função é captar essa coisa que passou como um relâmpago, que ainda não tem forma, cor, tamanho.”

Cildo Meireles

Encontra-se em cartaz na Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, a exposição “Cildo Meireles: percurso e presença”, uma homenagem ao icônico artista, referência na arte conceitual brasileira e internacional. A mostra resgata uma seleção de desenhos produzidos nas décadas de 1960, 1970 e 1980; e gravuras produzidas em 2009, inspiradas em desenhos da década de 1960. Destacando assim uma vertente menos conhecida, mas de grande relevância no processo criativo do artista: os desenhos. Além das obras gráficas, foram reunidos alguns objetos em pequena escala, elementos de instalações simbólicas de sua produção no plano tridimensional.

A prática do desenho permeia a produção artística de Cildo Meireles desde a infância e desempenhou um importante papel em sua trajetória. Desenhar viria a ser uma forma de expressão e reflexão, um meio para detalhamento de ideias e, também, a sua principal fonte de receita até quase 1990. A venda de desenhos para amigos e colecionadores o possibilitou dedicar-se à carreira de artista e realizar projetos mais complexos, pelos quais Cildo Meireles se tornaria mundialmente conhecido. Em entrevista a Frederico Morais, ele conta que quando tinha apenas nove anos de idade, morando em Belém do Pará, ganhou alguns trocados na escola vendendo desenhos. Após se mudar para Brasília, já na escola secundária, seguiu desenhando. Foi a forma que encontrou de estar mais perto do real e de mostrar aos colegas a sua forma de pensar. Em 1963, aos 15 anos, passou a frequentar o Ateliê Livre da Fundação Cultural do Distrito Federal, dirigido pelo artista peruano Felix Alejandro Barrenechea. Lá exercitou o desenho de observação e com modelo vivo. Na mesma época ingressou no curso de cinema do CIEM, escola experimental, vinculada à Universidade de Brasília. Foi nessa ocasião que passou pela cidade uma exposição do acervo de arte africana da Universidade de Dakar, no Senegal, reunindo esculturas e máscaras. A mostra exerceu forte influência na formação do artista, que se sentiu estimulado a enfrentar qualquer superfície com o intuito de resolver o problema da representação, a figura transportada para outro plano. Em 1964, momento de grande adversidade no país com o início ditadura militar, o curso de arte da Fundação Cultural foi fechado, mas Cildo Meireles continuou frequentando o ateliê de Felix Alejandro Barrenechea. Desde então, a prática do desenho o acompanha, e lá se vão mais de seis décadas.

Entre as obras selecionadas para esta exibição, constam desenhos livres de diferentes temáticas e formatos: alguns inspirados nas máscaras africanas mencionadas anteriormente; outros seguindo uma linguagem narrativa, com nichos alusivos aos de histórias em quadrinhos, porém com situações que se desenvolvem de forma arbitrária. Há também composições abstratas com predominância da cor; desenhos que misturam pinceladas arredondadas e tracejados evocando situações de dor e violência; e ainda cenas específicas guardadas na memória do artista.

Distintas vozes na Vaquejada da Meia-Noite.

30/jun

A Almeida & Dale, Pinheiros, São Paulo, SP, inaugurou “Vaquejada da meia-noite”, exposição coletiva com curadoria de David Almeida. Ocupando o novo espaço expositivo da Fradique 1360, a mostra reúne distintas vozes e gerações de artistas conectados ao território cearense por meio de um gesto afetivo que reverbera e amplia a trajetória e a pesquisa de David Almeida. Motivado por uma investigação familiar, David Almeida, nascido em Guará, DF, aproximou-se profundamente do sertão e seus artistas, encontrando reverberações de suas pesquisas nas imagens criadas por eles.

Mais do que explicar ou catalogar a produção local, “A mostra vocaliza testemunhos assombrados da resistência, que se entrelaçam e desafiam o real imaginário do Brasil profundo, onde a reza e a crença são parte indissociável da verdade”.

A noite, a crença e o diabo, assim como a luta, o trabalho e as ferramentas de sobrevivência, são imagens que tecem o ambiente gótico-sertanejo proposto na exposição.

Artistas participantes.

Arivanio, Artur Bombonato, Arthur Siebra, Associação de Artesãos do Padre Cícero, Beatrice Arraes, Darks Miranda, Diego de Santos, Efrain Almeida, Francisco de Almeida, Gilberto Pereira, Gustavo Diogenes, J.F., José Leonilson, José Lourenço, Júlia Aragão, Juno B., Sara Costa, Sérgio Gurgel, Sérvulo Esmeraldo, Stênio Diniz, Terezinha de Jesus, Thadeu Dias.

Até 16 de agosto.

Um retrospecto para Jorge Selarón.

O Gabinete Selarón de Curiosidades em cartaz no Espaço Cultural da Justiça Federal, Centro, Rio de Janeiro, RJ, – os degraus para a gestão compartilhada da Escadaria Selarón é uma exposição que homenageia o multifacetado artista chileno Jorge Selarón, cuja obra transformou a Escadaria Selarón em um dos pontos mais visitados e conhecidos do Rio de Janeiro. A mostra reúne cerca de 300 obras, entre pinturas, azulejos, rascunhos e fotografias, revelando o olhar cosmopolita de Selarón. Mais do que um ponto turístico, a escadaria tornou-se um motor da dinâmica econômica e social da cidade, atraindo visitantes do mundo inteiro, gerando renda para o comércio local e valorizando o patrimônio cultural carioca. Estando localizada a poucos metros do Centro Cultural Justiça Federal, instituição que abriga a exposição, a escadaria estabelece um diálogo simbólico e visual com o espaço, fortalecendo o vínculo entre arte, território e cidadania.

Com curadoria coletiva de Andre Andion Angulo, Marcelo Esteves, Ceci Maciel, Ester Galleguillos, Guilherme Guimarães e Gerardo Millone, a exposição destaca a faceta de pintor de Jorge Selarón e irá propor uma reflexão sobre a preservação e a gestão compartilhada desse patrimônio cultural. O projeto convida o público a pensar formas colaborativas de cuidar da escadaria, ampliando o conceito de gabinete de curiosidades e reconhecendo seu valor como espaço de memória, diversidade e expressão coletiva.

MON realiza nova exposição internacional.

26/jun

“Re-Selvagem”, da artista francesa Eva Jospin, é a nova exposição internacional realizada pelo Museu Oscar Niemeyer (MON) e a primeira mostra da artista no Brasil. Com curadoria de Marcello Dantas, a inauguração aconteceu no Olho e Espaços Araucária. A exposição reúne nove obras de grandes dimensões, entre elas instalações e desenhos, além de dois vídeos. A matéria-prima das instalações é o bordado de seda e o papelão, mas a artista também usa madeira, bronze, tecido e outros materiais.

“Eva Jospin no Museu Oscar Niemeyer reforça nossa missão de conectar o público paranaense com o que há de mais relevante na arte contemporânea mundial”, afirma a secretária de Estado da Cultura, Luciana Casagrande Pereira. “Esta exposição ainda reafirma a diretriz de diplomacia cultural que o Paraná estabelece com a França, em um ano especialmente significativo, marcado pelas celebrações do Ano do Brasil na França e da França no Brasil”.

A diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika, afirma que a sensibilidade da artista francesa Eva Jospin fica evidente nesta exposição. “Ao abordar a natureza e o tempo em poéticas obras de arte, ela evoca nossa memória afetiva”, diz.

O curador Marcello Dantas conta que Eva Jospin é conhecida por seu meticuloso trabalho de criar, com as próprias mãos, ilusões de um mundo imaginário – arquiteturas silenciosas e espaços naturais abundantes, que nascem do gesto paciente e obsessivo de devolver à matéria um sentido de origem. “A floresta, para Jospin, é mais que uma representação da natureza. É um lugar simbólico, onde o mistério, o inesperado e a transformação acontecem”, diz Marcello Dantas. “Como nos contos antigos, suas florestas são territórios onde nos perdemos para nos reencontrar”. Em “Re-Selvagem”, o visitante atravessa trilhas de papel e sombra, entra em universos de folhagens esculpidas, experimentando uma espécie de rito íntimo. As formas evocam memórias esquecidas, despertam imagens do inconsciente coletivo e provocam silêncio.

Sobre a artista.

Eva Jospin nasceu em 1975 em Paris, onde formou-se na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts. Nos últimos 15 anos, vem criando florestas meticulosas e paisagens arquitetônicas, que explora por meio de diversas mídias. Desenhadas a tinta ou bordadas, esculpidas em papelão ou em bronze, suas obras evocam jardins barrocos italianos, decorações rocaille do século XVIII e grutas artificiais. Foi residente na Villa Medici, em Roma, em 2017, e eleita para a seção de Escultura da Academia de Belas Artes em 2024. Entre suas exposições internacionais, destacam-se: “Inside”, no Palais de Tokyo, em Paris (2014); “Sous-Bois”, no Palazzo dei Diamanti, em Ferrara (2018); “Eva Jospin – Wald(t)räume”, no Museum Pfalzgalerie, em Kaiserslautern (2019); “Among the Trees”, na Hayward Gallery, em Londres (2020); “Paper Tales”, no Het Noordbrabants Museum, em Den Bosch (2021); “Galleria”, no Musée de la Chasse and Nature, em Paris (2021); “Panorama”, na Fondation Thalie, em Bruxelas (2023); e “Palazzo”, no Palais des Papes, em Avignon (2023). Em 2024, apresentou duas novas exposições individuais: “Selva”, no Museo Fortuny, em Veneza, durante a 60ª Bienal de Veneza, e “Eva Jospin – Versailles” na Orangerie do Castelo de Versalhes. Também desenvolveu diversas instalações de grande porte como parte de encomendas especiais, incluindo “Panorama” (2016), no centro do Cour Carrée do Louvre, e “Cénotaphe” (2020), na Abadia de Montmajour. Além disso, criou uma série de painéis bordados para o desfile Dior Haute Couture 2021-2022 (Chambre de Soie, 2021).

 Sobre o curador.

Marcello Dantas é um renomado curador, diretor artístico e produtor brasileiro, reconhecido por sua abordagem interdisciplinar que integra arte, tecnologia e experiências sensoriais imersivas. Nascido no Rio de Janeiro em 1968, Marcello Dantas possui uma formação acadêmica diversificada: estudou Relações Internacionais e Diplomacia em Brasília, História da Arte e Teoria do Cinema em Florença, e graduou-se em Cinema e Televisão pela New York University, onde também realizou pós-graduação em Telecomunicações Interativas. Ao longo de sua carreira, Marcello Dantas foi responsável pela concepção e direção artística de diversos museus e pavilhões, tanto no Brasil quanto no exterior. Também é conhecido por curar exposições de grande impacto, que atraem vasto público e crítica especializada. Entre elas “Ai Weiwei: Raiz”, do artista chinês Ai WeiWei, e “Invisível e Indizível”, do artista espanhol Jaume Plensa, ambas no Museu Oscar Niemeyer.

Sobre o MON.

O Museu Oscar Niemeyer (MON) é patrimônio estatal vinculado à Secretaria de Estado da Cultura. A instituição abriga referenciais importantes da produção artística nacional e internacional nas áreas de artes visuais, arquitetura e design, além de grandiosas coleções asiática e africana. No total, o acervo conta com aproximadamente 14 mil obras de arte, abrigadas em um espaço superior a 35 mil metros quadrados de área construída, o que torna o MON o maior museu de arte da América Latina.

Até 03 de agosto.

Artistas na 36ª Bienal de São Paulo.

13/jun

Lidia Lisbôa, Marlene Almeida, Maxwell Alexandre, Rebeca Carapiá e Heitor dos Prazeres estão entre os artistas na 36ª Bienal de São Paulo, que inaugura no dia 06 de setembro no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo, SP, e permanecerá em cartaz até 11 de janeiro de 2026.

Intitulada “Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática”, a Bienal tem curadoria geral de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, com cocuradoria de Alya Sebti, Anna Roberta Goetz e Thiago de Paula Souza, além de Keyna Eleison como cocuradora at large.

Inspirada pelo poema “Da calma e do silêncio”, da poeta Conceição Evaristo, a Bienal tem como um dos principais alicerces a escuta ativa da humanidade enquanto prática em constante deslocamento, encontro e negociação. Na exposição, serão apresentados projetos inéditos, concebidos a partir do convite da curadoria a Lidia Lisbôa, Maxwell Alexandre, Marlene Almeida e Rebeca Carapiá.

Sobre os artistas.

Lidia Lisbôa

A prática de Lidia Lisbôa se desenvolve em suportes distintos, sobretudo a escultura, o crochê, em performances e em desenhos. Sua pesquisa tem a tessitura de biografias como eixo fundamental, percorrendo os pólos da paisagem, do corpo e da memória ao utilizar matérias nas quais se imprimem o gesto e a mão da artista. Resultado de uma prática artística constante que se mistura à vida, na obra de Lidia Lisbôa, a costura e a criação de narrativas se colocam como exercício de construção subjetiva e, portanto, de cura e ressignificação.

Marlene Almeida

Marlene Almeida é pesquisadora, escultora e pintora, cuja prática fundamentalmente interdisciplinar combina conhecimentos literários, científicos e artísticos na investigação de um objeto comum à sua produção desde a década de 1970: a terra. Em expedições realizadas especialmente ao Nordeste brasileiro, Marlene Almeida cataloga e armazena amostras de terras coloridas. Essas expedições são guiadas por um projeto audaz: o Museu das Terras Brasileiras, que visa a identificação e estudo das cores encontradas em diferentes formações geológicas de todo território nacional. Em sua trajetória, ela também se nutriu de extensa atuação na militância ecológica e política.

 Maxwell Alexandre

Pautada pelo conceito de autorretrato, a prática de Maxwell Alexandre extrapola as categorias e suportes tradicionais do fazer artístico. Por meio de uma lógica de citação, apropriação e associação de imagens e símbolos, bem como pelo uso de materiais de valor simbólico e biográfico, Maxwell Alexandre constroi uma mitologia imagética que engloba religiosidade e militarismo. Da mesma maneira, sua obra confronta o estatuto institucional da arte contemporânea e os limites do campo da experiência estética.

Rebeca Carapiá

Ao utilizar o ferro e o cobre como seus principais materiais, o trabalho de Rebeca Carapiá se desdobra em esculturas, instalações, desenhos e gravuras, nos quais torção, união e aproximação entre essas matérias constituem uma caligrafia abstrata. Tomando a palavra como ponto de partida, as obras de Rebeca Carapiá insuflam, dobram e seccionam a linguagem em um exercício de deslocá-la de uma posição linear e monolítica. Assim, seus trabalhos se configuram como uma língua particular, que resulta do liame entre corpo, terreno, memória e os saberes oriundos das vivências da artista, bem como daqueles imbuídos na materialidade das peças.

Heitor dos Prazeres

Heitor dos Prazeres (1898-1966) foi um artista plástico, figurinista, compositor e sambista, reconhecido como figura fundamental do contexto cultural carioca no início do século XX e para o Modernismo brasileiro. Heitor dos Prazeres foi um autodidata, e sua inserção no ambiente artístico carioca foi a princípio pela via da música. Na segunda metade dos anos 1930, passou a se dedicar também à pintura, tratando de temas relacionados às tradições e à cultura popular brasileira e cenas do cotidiano das populações negras da cidade. O samba, o carnaval, as paisagens urbanas e as brincadeiras infantis foram seus temas mais frequentes.

A dança como símbolo multifacetado.

06/jun

Para a Art Basel 2025, A Gentil Carioca propõe um olhar sensível sobre a dança, entendida não apenas como expressão artística, mas como elemento central nas vivências coletivas, nos rituais sociais e nas formas de resistência ao longo dos séculos. A dança surge aqui como símbolo multifacetado: linguagem do corpo, ferramenta de transmissão de saberes, modo de narrar histórias e preservar tradições. As obras selecionadas dialogam com essas múltiplas dimensões, ressaltando a importância da dança na construção de identidades culturais, na delicadeza das relações humanas e na constante busca por pertencimento. Participam desta edição: Agrade Camíz, Ana Silva, Arjan Martins, Denilson Baniwa, João Modé, Kelton Campos Fausto, Laura Lima, Misheck Masamvu, Miguel Afa, Novíssimo Edgar, O Bastardo, OPAVIVARÁ!, Pascale Marthine Tayou, Renata Lucas, Rodrigo Torres, Rose Afefé, Sallisa Rosa, Vinicius Gerheim, Vivian Caccuri, Mariana Rocha, Rafael Baron.

Apresentamos também um Kabinett que propõe um diálogo inédito entre as obras de João Modé, Ivan Serpa e Max Bill. Pioneiro do concretismo, Max Bill teve influência decisiva na arte latino-americana e, em 1951, recebeu o prêmio de escultura na primeira Bienal Internacional de São Paulo, impactando gerações de jovens artistas. Em ressonância com esse legado, João Modé desenvolve desde 2013 a série “Construtivo (Paninho)”, na qual utiliza costura e bordado para homenagear a tradição geométrico-abstrata da arte brasileira, criando formas “construtivo-afetivas”. No espaço, obras inéditas de João Modé dialogam com peças emblemáticas de Ivan Serpa e Max Bill.

Exposição Brígida Baltar – A pele da planta.

04/jun

O Instituto Ling, Três Figueiras, Porto Alegre, RS,  inaugura no dia 10 de junho a exposição individual “A pele da planta”, de Brígida Baltar. Com curadoria de Marcelo Campos, a mostra apresenta uma seleção de obras da artista produzidas especialmente para esta exposição, reunindo desenhos, fotografias, esculturas e bordados.

O projeto original, concebido por Brígida Baltar em 2020 para o espaço expositivo, evoca a atmosfera dos jardins do centro cultural. Após seu falecimento, em 2022, a proposta foi finalizada em diálogo com o Instituto Brígida Baltar, respeitando sua poética e memória.

A mostra fica em cartaz até o dia 09 de agosto, com visitação gratuita de segunda a sábado, das 10h30 às 20h. Também é possível agendar visitas mediadas para grupos, sem custo, pelo site do  Instituto Ling.

No dia da abertura, haverá uma conversa aberta ao público com a participação do curador Marcelo Campos; de Tiago Baltar, filho da artista e diretor-presidente do Instituto Brígida Baltar; de Jocelino Pessoa, gestor cultural e diretor artístico do Instituto; e do artista Ygor Landarin, que foi assistente de Brígida Baltar e hoje segue trabalhando no Instituto Brígida Baltar. Para participar, é necessário realizar inscrição prévia, também gratuita, pelo site do Instituto Ling.