A valorização de narrativas plurais.

15/abr

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, inaugurou três novas exposições que reforçam seu compromisso com a valorização de narrativas plurais e a articulação entre arte, memória, cultura e presença afro-diaspóricas. As mostras – que ocupam diferentes espaços do museu – dão continuidade ao trabalho de reestruturação curatorial iniciado sob a gestão de Hélio Menezes, atual diretor da instituição, e se inscrevem em um projeto museológico voltado à escuta, à experimentação e ao tensionamento de fronteiras.

Entre os destaques está a exposição “Proteção”, da artista visual e fotógrafa Rafaela Kennedy. A partir de uma série de retratos íntimos e simbólicos, o projeto apresenta um olhar sensível e potente sobre as relações de cuidado, afeto e acolhimento dentro da comunidade trans e da espiritualidade afro-brasileira. Através da fotografia, a série ressignifica a presença de corpos travestis em espaços de benção e proteção, destacando as diferentes formas pelas quais mães – biológicas, de criação ou espirituais – ancoram e legitimam a existência de suas filhas. A exposição, que acontece na Marquise do Museu Afro Brasil, um espaço aberto e acessível mesmo após o horário de funcionamento do museu, amplia esse diálogo ao levar a temática para um público diverso, fomentando o reconhecimento das múltiplas formas de maternidade e proteção dentro das comunidades afro-indígenas e LGBTQIA+. A série reforça a potência das relações que sustentam a existência trans no Brasil, promovendo um espaço de reflexão e visibilidade.

A exibição de “Acervo em Perspectiva: M’barek Bouhchichi, Nen Cardim, Washington Silvera”, é uma proposta que busca estabelecer conexões entre obras e artistas do acervo do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo. O programa expositivo propõe novos arranjos a partir das peças já presentes na coleção, incorporando também aquisições e doações recentes. Nesta edição, entram em diálogo os trabalhos de Washington Silvera, Nen e M’barek Bouhchichi – dois artistas brasileiros e um marroquino -, que exploram materiais como madeira, vidro e terra, estabelecendo conexões entre matéria, território e experiência. Embora utilizem elementos semelhantes, cada artista imprime sua própria linguagem, atravessando as fronteiras entre escultura e instalação. “Os três artistas em diálogo nesta primeira edição do Acervo em Perspectiva deixam transparecer ao público a riqueza de nosso acervo, colocando em diálogo instalações substancialmente diferentes, que partem de materiais semelhantes, ressaltando as múltiplas formas de se interpretar, narrar e exibir as artes africanas e afro-brasileiras”, conforme destaca Hélio Menezes.

E, ainda houve a inauguração da Sala de Projeção, novo espaço do museu voltado à exibição de videoinstalações, filmes e obras em movimento. Para abrir a programação, entra em exibição “Thinya”, da diretora Lia Letícia, que propõe um instigante jogo de narrativas e deslocamentos: a partir de álbuns de família encontrados num mercado de pulgas em Berlim, imagens de uma mulher chamada Inge passam a ilustrar relatos de viajantes europeus no Brasil entre os séculos XVI e XVIII – todos narrados em yathee, a língua do povo Fulni-ô. O resultado é uma obra que desmonta os regimes coloniais de representação, construindo novas camadas de leitura para o passado.

As três estreias se somam aos esforços do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, em promover exposições que desafiem os limites formais e ativem múltiplas vozes no campo da arte contemporânea e da cultura afro-brasileira.

 

Rio dos Pássaros Pintados e o Rio de Janeiro.

14/abr

 

Exposição coletiva no Instituto Cervantes, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, reúne artistas uruguaios e brasileiros, exaltando a cultura e as belezas naturais de cada um.

“Entre o Rio dos pássaros pintados e o Rio de Janeiro”, exibição coletiva que abre no dia 17 de abril, no Instituto Cervantes do Rio de Janeiro, vai além da exposição de obras de arte; é uma imersão num diálogo visual e emocional que liga o Uruguai e o Brasil. Artistas, cada um narrador em sua própria linguagem pictórica, convergem para explorar e celebrar os laços que constroem um rico elo entre essas duas nações. Esta exposição é um convite a uma viagem sensorial, onde cores vibrantes, formas evocativas e narrativas visuais se entrelaçam para criar uma ponte que ultrapassa fronteiras geográficas.

“Além das diferenças estilísticas, as obras partilham um fio condutor na exploração de temas comuns que ressoam profundamente em ambas as culturas. Estes temas, longe de serem isolados, realçam a rica interligação entre as tradições de ambos os países, estabelecendo pontes que transcendem fronteiras ao refletirem as particularidades de cada contexto. As obras não só celebram a diversidade, mas também promovem um diálogo enriquecedor entre os universos de cada cultura, convidando a uma reflexão partilhada sobre o humano, o cultural e o natural. Cria-se assim uma união simbólica que, longe de dissolver as diferenças, as integra numa narrativa comum, o que fortalece a riqueza deste intercâmbio”, diz Carolina Laxalt, coordenadora da exposição.

O título é uma ode poética à essência dos dois países que ressoa com a beleza natural e a liberdade: “Río de los Pájaros Pintados”, tradução de “Uruguai”, evoca a serenidade de suas paisagens e a melodia de sua fauna. Sua história é um símbolo da identidade uruguaia, uma testemunha silenciosa da vida e da cultura do país, fonte de inspiração para inúmeros artistas e poetas. O “Rio de Janeiro”, por outro lado, é um turbilhão de vitalidade, um caldeirão de culturas onde a arte floresce em cada esquina. Música, dança e pintura se entrelaçam numa sinfonia de criatividade, refletindo toda a sua alegria e diversidade. O rio, na sua forma mais abstrata, constitui uma ponte metafórica, unindo estas duas terras através da linguagem universal da arte.

Entre os artistas participantes estão os uruguaios Mercedes Davison, Graciela Montedónico, Miriam Pereyra, Susana Gelbert, Virginia Armand Ugón, Carlos Barrera e Mauricio Borgarelli, e os brasileiros Norielem Martins, David Pedrosa e Paulo de Lira. Empregando ampla gama de técnicas, desde a pintura a óleo e acrílica a técnicas mistas experimentais, demonstram a versatilidade e expressividade da pintura. Eles apresentam uma rica paleta estilística, incluindo paisagens que capturam a essência da natureza, obras surrealistas que desafiam a realidade, abstrações que convidam à introspecção e composições panistas que brincam com forma e cor. Suas obras exploram temas universais, como a beleza da paisagem, a força da figura feminina, a riqueza das tradições (candombe, tango, murga) e do quotidiano do campo e da cidade, o mar, bem como temas que mergulham na identidade e na memória.

Até 27 de abril.

Obras de coleção.

10/abr

 

O Presidente da Câmra Municipal de Odivelas, Portugal, Hugo Martins, convida e anuncia a abertura da exposição “Metamorfoses: O Universo de Renato Rodyner”, composta de pinturas e esculturas do artista brasileiro Renato Rodyner na Coleção do arquiteto Luis Nóbrega, no dia 15 de abril na Galeria D. Dinis no Centro de Exposições de Odivelas.

A mostra estará em cartaz até 01 de junho.

Design versus Desigualdades.

09/abr

O Polo Cultural ItaliaNoRio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a primeira exposição do ano apontando soluções de designers brasileiros, ítalo-brasileiros e italianos para as desigualdades do mundo contemporâneo.

Como o design pode transpor as desigualdades e direcionar o olhar para novas possibilidades, tanto no presente quanto no futuro? Esta é a pergunta que permeia a exposição “Design versus Desigualdades: Projetar um mundo melhor”, que estará aberta ao público a partir do dia 16 de abril. Sob curadoria de Alexandre Rese e Carol Baltar, ambos do Instituto Europeu de Design  (IED Rio), foram selecionadas peças do Instituto Campana e dos designers Franz Cerami, Bernardo Senna, Débora Oigman, Flávia Souza, Giácomo Tomazzi, Giorgio Bonaguro, Gustavo Bittencourt, Jorge Lopes, Júlio Augusto da Silva, Karol Suguikawa, Marco Zanini, Marcos Bravo, Marcos Husky, Maria O’Connor, Paulo Goldstein, Pedro Galaso, Philipe Fonseca, Rafo Castro, Ricardo Graham, Sofia Gama, Pedro Leal, Thiago Antonelli e Thélvyo Veiga, Thiago José Barros e Zanini de Zanine. Mesmo apresentando diferentes propósitos, todas as criações refletem o seu tempo, celebram a diversidade, a inovação e a investigação, explorando soluções e apontamentos que instigam o público a conhecer, experimentar e repensar o papel multidisciplinar do design. Cada criação é um convite à reflexão e à ação, demonstrando que o design não se limita apenas à estética e funcionalidade, podendo também ser utilizado como uma potente ferramenta de transformação social.

Como um elo de ligação com a Itália, a exposição integra a programação referente ao Italian Design Day (IDD) de 2025 uma campanha de promoção a nível global do design e criatividade italiana, promovida pelo Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional da Itália cujo tema é inspirado no Salone Del Mobile de Milão (que acontece de 8 a 13 de abril este ano) e no mote da Triennale Di Milão, “Desigualdades: Como Consertar as fraturas da Humanidade”. As instalações do térreo do espaço são dedicadas ao Compasso d´Oro, mais importante condecoração do design italiano, com imagens dos vencedores dos prêmios desde o ano 2000.

Ao longo dos dois meses de exposição, o Polo Cultural ItaliaNoRio sediará um ciclo de seminários, workshop e encontros sobre as temáticas das desigualdades e o impacto do design nas suas mais variadas facetas, atuando na resolução e redução dos conflitos do mundo contemporâneo.

O Polo Cultural ItaliaNoRio é uma iniciativa do Consulado Geral da Itália no Rio, em parceria com o Instituto Italiano de Cultura (IIC) e do Instituto Europeu de Design (IED) de Rio: “Acreditamos que o design pode ser uma ferramenta poderosa para melhorar a qualidade de vida e enfrentar os desafios da desigualdade em suas diversas formas. É com grande entusiasmo que o Consulado Geral da Itália no Rio de Janeiro, o Instituto Italiano de Cultura (IIC) e o Instituto Europeu de Design (IED Rio) têm a honra de apresentar essa mostra”, destaca o Cônsul Geral da Itália, Massimiliano Iacchini. O projeto conta com produção da Artepadilla e patrocínio da Ternium, Tenaris, Grupo Autoglass, Instituto Cultural Vale e Generali Seguros, via Lei de Incentivo à Cultura, e aportes diretos da TIM Brasil e Saipem do Brasil.

Bergère de chapas de moeda, rostos de artesãs bordados e crânio de fóssil humano do Museu Histórico Nacional reproduzido: alguns exemplos do que será mostrado Partindo da ideia da missão dada ao design, cujo objetivo prático é a resolução de “problemas”, muitas vezes, do cotidiano, a mostra reuniu designers que abordam diferentes temáticas, em variadas superfícies e plataformas de representação. Os projetos apresentados nessa exposição buscam na adversidade e nas desigualdades alternativas para pensar a vida por outro ângulo. Como, por exemplo, o Instituto Campana, que selou parceria com a Associação de Bordadeiras de Entre Montes, em Alagoas, e Novos Sítios, no Sergipe. A partir dessa parceria, foram criadas luminárias com os rostos das próprias artesãs bordados, imprimindo protagonismo a essas mulheres com saberes ancestrais. Sofia Gama, uma jovem designer de ascendência indígena, resgatou com a avó fazeres manuais que reforçam sua identidade, refletindo em peças que fazem uma interação entre designs vestíveis e arte.

A Poltrona Moeda Bergère do Zanini de Zanine apresenta uma estrutura perfurada feita de chapa de moeda, que anteriormente moldava as moedas de 10 centavos ainda em circulação no país. Outro projeto que ilustra a proposta da mostra é o escaneamento em 3D feito pelo BioDesgin Lab da PUC-Rio, que permite desde o entendimento detalhado do corpo humano, servindo como apoio a profissionais da saúde para procedimentos complexos, até a impressão usando as cinzas do Museu Histórico para imprimir e recriar o crânio da Luzia, reproduzindo o registro mais antigo já encontrado da ocupação humana na América Latina. Há também peças do italiano Marco Zanine, um dos fundadores do movimento Memphis, que revolucionou o design e a arquitetura mundial nos anos 70/80. A exposição traz para o Polo Cultural ItaliaNoRio outros tantos projetos que se somam à pluralidade que o design pode alcançar, desde questões religiosas, raciais, de gênero, sustentáveis, mas acima de tudo reconhecíveis e de identificação com público.

“Em um mundo marcado por profundas desigualdades, o design emerge como uma ferramenta poderosa para transformar realidades e construir pontes entre diferentes contextos sociais. A exposição “Design versus Desigualdades: Projetar um mundo melhor” propõe um diálogo urgente e necessário, reunindo designers brasileiros, ítalo-brasileiros e italianos em torno de soluções criativas e inclusivas. Através de novas linguagens visuais, materiais inovadores e abordagens sustentáveis, a mostra convida o público a refletir sobre como o design pode contribuir para promover um futuro mais justo e equilibrado”, afirma um dos curadores, Alexandre Rese.

De 16 de abril a 14 de junho.

Páginas de um sonho global.

01/abr

Brazilism é a primeira individual do renomado artista camaronês Pascale Marthine Tayou em São Paulo – e sua segunda exposição com A Gentil Carioca, em colaboração com a Galleria Continua. Com obras inéditas, a mostra mergulha na prática multifacetada do artista, criando um diálogo vibrante entre culturas e contextos. Além disso, marca o retorno do artista à cidade desde sua participação na 25ª Bienal de São Paulo, em 2002.

Nascido em 1966, em Nkongsamba, Camarões, Pascale Marthine Tayou vive e trabalha entre Ghent, Bélgica, e Yaoundé, Camarões. Reconhecido por sua abordagem inovadora e dinâmica, seu trabalho constrói pontes entre civilizações e explora as interseções ambíguas entre o homem e a natureza. Sua prática, marcada pela fluidez entre diferentes meios, reflete sobre mobilidade, trocas culturais e as complexidades da identidade. Esta exposição dá continuidade à sua investigação sobre suas raízes africanas e as dinâmicas do mundo globalizado.

Com uma trajetória marcada por participações em importantes eventos internacionais, como a Documenta de Kassel, Bienal de Veneza, Bienal Internacional de São Paulo e a Trienal de Turim, Pascale Marthine Tayou também realizou exposições individuais em renomadas instituições, incluindo a Serpentine Gallery (Londres, 2015), o Bozar (Bruxelas, 2015) e o Musée de l’Homme (Paris, 2015).

A palavra do artista.

“O Brasil é a ilustração perfeita do “mundo inteiro”. Um país que é a soma total das paixões humanas, uma exposição para folhear as páginas de um sonho global. Brazilism é um convite para passear aqui e em outros lugares, um passeio por um campo de flores entremeado de suaves espinhos”.

Abordagens pictóricas de Pélagie Gbaguidi.

31/mar

A Fortes D’Aloia & Gabriel tem orgulho de apresentar “Manifestação”, a primeira exposição individual de Pélagie Gbaguidi, na Sala 1 do Galpão, em São Paulo. A artista beninense, nascida em Dakar e radicada em Bruxelas, exibe pinturas inéditas produzidas durante a sua residência no Pivô Salvador, de janeiro a fevereiro de 2025, além de obras que fundamentam a estrutura conceitual de seu corpo de trabalho mais recente. Até 17 de maio.

A pesquisa de Gbaguidi se concentra em narrativas ancestrais e táticas contemporâneas para reformular histórias sob uma perspectiva decolonial. Em suas pinturas e desenhos, ela traduz a natureza sedimentar do tempo histórico em composições de camadas densas, justaposições de cor e forma, pigmentos e traços gestuais. Ao retratar silhuetas humanas fragmentadas e distorcidas junto a padrões abstratos, a artista busca entrelaçar abordagens pictóricas a sistemas simbólicos. Por meio dessa coreografia visual, a artista incorpora o repertório do conhecimento, filosofia e existência africanos. A pintura Mango tree (2025), por exemplo, faz referência a uma imensa árvore em frente ao prédio do Pivô, em Salvador. Inicialmente atraída por sua escala monumental e folhagem exuberante, Gbaguidi depois soube que a árvore marcava o local de um cemitério, onde estão enterradas algumas das pessoas que participaram da Revolta dos Malês em 1835, considerada a maior revolta de escravizados da história do Brasil. O episódio violento marcou um esforço comum empreendido por pessoas retiradas à força de seus territórios nativos como Benin, Togo e Nigéria, entre outros. O encontro entre um conflito antigo e as suas manifestações no âmbito contemporâneo serve como metáfora para sua obra como um todo, assim como para sua posição como griot contemporânea, uma contadora de histórias da África Ocidental, e um arquivo de narrativas orais e tradições ancestrais. Equipando-se com esse conjunto complexo de estruturas estéticas e metodologias conceituais, a prática de Gbaguidi se entrelaça com o contexto brasileiro e sua constituição afro-indígena.

A mostra é acompanhada por uma conversa por escrito entre Gbaguidi e o artista e pesquisador Karamujinho.

Ilusão e Inclusão.

27/mar

 

Exposição destaca a participação ativa do espectador e a evolução da Op-Art para a Arte Cinética.

A Galeria Espaço Arte MM, Jardim Paulista, São Paulo, SP, inaugura a exposição Op-Art – Ilusão e Inclusão, sob curadoria de Denise Mattar, no dia 29 de março. A mostra reúne artistas pioneiros e contemporâneos que exploram a relação entre forma, cor e movimento, proporcionando ao público uma experiência sensorial que ultrapassa a contemplação passiva.

A Op-Art surgiu na Europa na década de 1950 como herdeira do Concretismo, mas rompeu com sua rigidez estática ao propor uma nova forma de interação entre arte e espectador. Caracterizada pela repetição de formas geométricas simples, contrastes de cor e ambiguidades entre fundo e figura, essa vertente cria ilusões de movimento e profundidade, desafiando a percepção visual.

A exposição apresenta obras que dialogam com essa tradição e sua evolução para a Arte Cinética, na qual o movimento virtual torna-se real, seja por meio de mecanismos ou pela interação direta do público. Reunindo nomes fundamentais da Op-Art e da Arte Cinética, como Julio Le Parc, Jesús Rafael Soto, Carlos Cruz-Diez, Victor Vasarely, Yaacov Agam, Dario Perez-Flores e Abraham Palatnik, além de artistas que continuam expandindo essa linguagem, como Yutaka Toyota, Yuli Geszti e José Margulis, a mostra evidencia a força e a atualidade desse movimento artístico.

A Op-Art consolidou-se internacionalmente por meio de exposições como Le Mouvement (Galeria Denise René, 1955), The Responsive Eye (MoMA, 1965) e pela atuação do GRAV (Groupe de Recherche d’Art Visuel), que buscava integrar arte e público. Op-Art – Ilusão e Inclusão reafirma essa trajetória e destaca sua influência contínua em diversas áreas, como Design, Moda e Arquitetura. Com essa exposição, a Galeria Espaço Arte MM reafirma seu compromisso com a promoção da arte contemporânea e convida o público a vivenciar a arte de maneira ativa e imersiva.

Em cartaz até 26 de abril.

Pequenas fábulas visuais de Liliana Porter.

A exposição “Otros cuentos inconclusos”, da artista argentina Liliana Porter, apresenta mais de 30 obras, compondo um panorama da sua produção dos últimos cinco anos. Radicada em Nova York desde 1964, a artista soma mais de 60 anos de carreira, período em que desenvolveu uma sólida e significativa pesquisa em torno da representação da condição humana. Essa é a quinta exposição da artista – até 07 de junho – na Luciana Brito Galeria, São Paulo, SP, que também promoveu sua primeira mostra individual no Brasil, em 2001.

“Otros cuentos inconclusos” empresta o seu título da sua mais recente obra em audiovisual, “Cuentos inconclusos” (2022), concebida em parceria com a artista Ana Tiscornia. Como o título sugere, o vídeo nos coloca diante de pequenas narrativas, cujos desfechos podem ser atribuídos de acordo com a nossa própria imaginação. Para tanto, o vídeo é apresentado em cinco partes, por meio de narrativas construídas com a combinação de frases extraídas da obra de literatura infantil “Simbad, o Marujo” e cenas animadas das instalações da artista. A trilha sonora, assinada por Sylvia Meyer, representa papel importante, ajudando não apenas na ambientação das cenas, como também dando vida aos personagens inanimados.

A produção de Liliana Porter nos coloca diante de pequenas fábulas visuais, ou crônicas atemporais da nossa própria condição de ser humano. Uma de suas grandes habilidades recai no poder de síntese das suas representações, que paradoxalmente (ou ironicamente) acontece a partir do colecionismo. Bibelôs, brinquedos, ornamentos e outros pequenos objetos garimpados ganham vida pelas mãos da artista. Eles permanecem armazenados até serem “licenciados” pela sua poética, por vezes ácida, por vezes bem humorada. O poder da simples combinação desses elementos, muitas vezes acrescidos de pinturas e desenhos, pautam questões profundas e inerentes da sociedade contemporânea, como é o caso da obra “The Anarchist (Woman in Red)” (2022), onde uma pequena figura executa a grande tarefa de desenrolar um novelo de lã inteiro para criar obstáculos àqueles que quiserem adentrar o ambiente. Ou em “The Way Out (with red car)” (2022), em que uma grande barreira não é páreo para um simples carro vermelho. A artista também apresenta um conjunto de 20 pequenas assemblages sobre papel e outras dez micro-instalações, onde objetos minúsculos ganham um grande poder narrativo, por meio de metáforas que tratam do tempo e da memória presente nos nossos repertórios mais íntimos.

Celebrações em torno de Pedro Moraleida.

Organizada pela curadora e crítica de arte Lisette Lagnado, a mostra que homenageia Pedro Moraleida Bernardes ocupará dois endereços – até 21 de junho – da nova Almeida & Dale, São Paulo, SP, como parte das celebrações pelos 25 anos da morte do artista mineiro, que partiu precocemente aos 22 anos de idade. Intitulada Nossa Senhora do Desejo, a exposição propõe diálogos entre sua obra, artistas que o influenciaram e uma nova geração que compartilha de sua inquietação e irreverência.

A produção intensa de Pedro Moraleida, marcada pela desobediência, escatologia e crítica social, segue sendo revisitada e reinterpretada ao longo do tempo. Graças ao empenho de seus pais, Luiz Bernardes e Nilcéa Moraleida, junto a professores e artistas, seu acervo sempre esteve acessível a pesquisadores, estimulando novos estudos sobre a obra. Desde setembro de 2024, a Academia Mineira de Letras (AML), em parceria com o Instituto Pedro Moraleida Bernardes (iPMB), o Viaduto das Artes e o Grupo Oficina Multimedia, tem promovido seminários e exposições em Belo Horizonte, ampliando a reflexão sobre o seu legado. Em 2019, o Instituto Tomie Ohtake realizou a primeira retrospectiva do artista fora de sua cidade natal, com curadoria de Paulo Miyada.

Embora frequentemente associada, de maneira simplista, ao neoexpressionismo alemão, a prolífica obra do artista – que abrange desenhos, pinturas, textos e experimentos sonoros – vai muito além dessa influência. Pedro Moraleida teve acolhida entusiasmada por parte de curadores brasileiros e estrangeiros, e, segundo Lisette Lagnado, “ainda há muito a ser explorado sobre as fontes que o inspiraram”.

Nossa Senhora do Desejo mergulha em temas recorrentes em sua produção, como capitalismo, patriarcado, saúde mental, guerra planetária, direito à vida e vida artificial. Dentre os vários nexos iluminados pela mostra, destaca-se aquele que o aproxima do poeta francês Antonin Artaud: a opção por “uma existência que se recusa a anestesiar as emoções”. Como sintetiza a curadora, “…ambos examinam uma sociedade abusiva e tóxica, vociferando contra o pecado católico e a perversão acumulativa da burguesia”.

Num movimento tentacular, outros elos vão se desenhando, como a sintonia entre sua força insubmissa e a arte de Jaider Esbell e Arthur Bispo do Rosario (em registros flagrados pela lente do mestre da cor Walter Firmo), que brota da violência institucional e a transmuta poeticamente em “energia de combate”. O caráter iconoclasta e a mordacidade política conectam a produção de Pedro Moraleida à de Leon Ferrari, figura fundamental do conceitualismo latino-americano, presente na exposição com a série “Releituras da Bíblia”. Figuras como Jean-Michel Basquiat e José Leonilson, usualmente lembradas como influências para Pedro Moraleida, também fazem parte dessa constelação de referências evidenciadas pela exposição. Além dessas relações de caráter mais histórico, há na seleção proposta por Lisette Lagnado a presença importante de duas artistas que conheceram Pedro Moraleida, a mineira Cinthia Marcelle e a hispano-brasileira Sara Ramo – da mesma geração surgida no final do século passado, elas prestaram uma assessoria especial no processo de pesquisa e concepção da mostra. O conjunto inclui ainda produções recentes que ecoam a mesma inquietude, como as da paulistana Lia D Castro e do suíço-carioca Guerreiro Do Divino Amor, cuja instalação “Civilizações Super Superiores” foi originalmente apresentada no Pavilhão da Suíça da 60ª edição da Bienal de Veneza.

A expografia dos dois espaços é assinada pelo arquiteto e urbanista Tiago Guimarães, formado pela Universidade Federal do Ceará e atuante em São Paulo desde 2005. Além dos nomes já citados, completam a mostra obras de Castiel Vitorino Brasileiro, desali, Flávio de Carvalho, ⁠ Francisco de Almeida, Lia D Castro, ⁠Linga Acácio, Trojany, ⁠Marta Neves, Regina Parra – artista que apresenta uma performance na abertura da exposição – e ⁠Thiago Martins de Melo. O poeta floresta participa da publicação que será lançada durante a exposição com uma seleção de sete poemas extraídos de seu livro rio pequeno (ed. Fósforo, 2022).

Artistas participantes.

Antonin Artaud, Castiel Vitorino Brasileiro, Cinthia Marcelle, desali, Flávio de Carvalho, floresta, Francisco de Almeida, Guerreiro do Divino Amor, Jaider Esbell, Jean-Michel Basquiat, José Leonilson, León Ferrari, Lia D Castro, Linga Acácio e Trojany, Marta Neves, Pedro Moraleida, Regina Parra, Sara Ramo, Thiago Martins de Melo, Walter Firmo.

Classificação indicativa: mão recomendado para menores de 18 anos. Esta exposição contém imagens com teor sexual, sexo explícito e nudez. Acesso mediante a presença do responsável ou acompanhante com autorização por escrito.

Diálogos com Calder.

26/mar

A Central em parceria com Eliana Finkelstein apresenta, a partir do dia 29 de março, a exposição coletiva “Sopra a ave-do-paraíso, voa longe a viúva negra” no primeiro andar e no mezanino do Instituto dos Arquitetos do Brasil de São Paulo (IABsp) e, em exibição até 17 de maio..

Convidada por Eliana e Fernanda Resstom, fundadora e diretora da Central, Galciani Neves realiza a curadoria da mostra que articula obras de mais de 20 artistas que tecem diálogos, relações e elucubrações acerca da Viúva Negra (1948), de Alexander Calder (1898-1976). O móbile, doado pelo artista ao IABsp, é parte da coleção do Instituto e, assim como o edifício, é tombado como patrimônio cultural pelo IPHAN.

“A história de uma obra de arte acumula os registros sobre as vezes que ela foi exibida; os textos sobre ela escritos; as experiências e acontecimentos que sua aparição e circulação geraram. Essas vibrações, por vezes, colocam a obra em uma espécie de presente expandido no tempo, sempre atualizando-a e incansavelmente nos surpreendendo. Admitindo que todas essas possíveis e incontáveis experiências diante de uma obra são contribuições à sua reflexão, essa mostra articula, com esta perspectiva, as obras como uma espécie de sopro que junto com o público e com a efervescência do centro de São Paulo movem a Viúva Negra, animando-lhe de tempos e sensações do agora e lhe dando as tantas “formas fugidias”, como nos disse Sartre sobre Calder” conta a curadora.

Em comum e de muitas maneiras, os trabalhos contemporâneos que integram a exposição são produzidos por meio de materiais e processos que dialogam com formas não-humanas e são, assim, modos de pensar o mundo e seus habitantes.

“Responder pela palavra que dá título à obra, pelas intencionalidades que vislumbrava o artista e pela linguagem que experimentou nos pareceu uma estratégia para lidar com a onipresença e com a movência desse trabalho no espaço do IABsp, como modos de ler o trabalho à luz do nosso tempo e também para perceber como artistas contemporâneos se engajam em questões vizinhas, gerando, assim, afinidades poéticas com o móbile do artista estadunidense.” conclui Galciani Neves.

Alexander Calder, Alice Shintani, Aycoobo, Bozó Bacamarte, Carmela Gross, Carmézia Emiliano, Cleiber Bane e Cleudon Sales Txana Tuin – MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin), Darks Miranda, Davi de Jesus do Nascimento, Diambe, Erika Malzoni, Gilvan Samico, Heloisa Hariadne, Kimi Nii, Liuba Wolf, Mariana Rocha, Mayawari Mehinako, Melissa Stabile de Mello, Nilda Neves, Niobe Xandó, Rayana Rayo, Selva de Carvalho, Véio.