Diáspora asiáticas no Instituto Tomie Ohtake

15/mar

Como aponta o diretor artístico do Instituto Tomie Ohtake, Perdizes, São Paulo, SP, Paulo Miyada, em um espaço cultural que recebe o nome de Tomie Ohtake, pensar as diásporas asiáticas é uma tarefa inevitável. Os numerosos conflitos, crises, invenções, revoluções e guerras ao longo do século XX foram determinantes tanto para a diáspora de importantes parcelas da população asiática quanto para o afluxo de imigrantes de diversas partes do mundo ao Brasil – tendo o estado de São Paulo como um destino comum para muitos fluxos diaspóricos devido a suas dinâmicas econômicas e sociais. “É um processo conflituoso, com perdas e trocas que atravessam as gerações e são definidas pela constante transformação”, completa Paulo Miyada. O programa Diásporas asiáticas procura somar forças a esse processo ao sublinhar o impulso criativo de artistas vindos da China, da Coreia do Sul e do Japão (ou mesmo nascidos aqui, em famílias imigrantes), exemplares de seus fluxos migratórios e, ao mesmo tempo, casos singulares dentro da história da arte brasileira. O programa foi produzido com recursos captados via Lei de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura.

Diásporas asiáticas compreende três mostras, sendo duas individuais: Chen Kong Fang (Tung Cheng, China, 1931 – São Paulo, SP, 2012) e Hee Sub Ahn (Seul, Coreia do Sul, 1940), e uma coletiva, com trabalhos dos ceramistas nipo-brasileiros Akinori Nakatani, Alberto Cidraes, Hideko Honma, Katsuko Nakano, Kenjiro Ikoma, Kimi Nii, Kimiko Suenaga, Luciane Sakurada, Marcelo Tokai, Mário Konishi, Megumi Yuasa, Mieko Ukeseki, Renata Amaral, Shoko Suzuki e Tomie Ohtake. Ao lado das obras dos ceramistas, será possível apreciar haicais do artista Kenichi Kaneko que dedicou suas criações a cada um deles. O programa ainda conta com uma publicação, que apresenta algumas obras públicas de Tomie Ohtake e conta com textos inéditos dos curadores e um texto comissionado de Lais Miwa, pesquisadora que vem se destacando no debate acerca da presença e da visibilidade da população asiática no contexto brasileiro.

Hee Sub Ahn – O Caminho

Hee Sub Ahn – O caminho, com curadoria de Catalina Bergues e Julia Cavazzini, exibe pela primeira vez o trabalho da artista em um contexto institucional. A partir dos mais de cinquenta anos de criação intensa, selecionou-se um recorte das obras produzidas principalmente na década de 1980, poucos anos após sua chegada. Segundo as curadoras, a produção de Hee Sub Ahn é atravessada pelas memórias do lugar de origem, e pela nova comunidade aqui construída no bairro do Bom Retiro, no qual a artista ocupa papel central. “A disciplinada e rotineira criação artística de Hee se torna um íntimo ritual de dar significado ao que percebe em seu entorno”, destacam Catalina Bergues e Julia Cavazzini.

Chen Kong Fang – O Refúgio

Chen Kong Fang – O refúgio tem curadoria de Paulo Miyada e Yudi Rafael e se debruça sobre a carreira e a obra desse artista que construiu sua vida no Brasil, desenvolvendo a sua prática pictórica no cenário artístico paulistano por cerca de cinco décadas. A exposição, primeira retrospectiva do artista em uma instituição brasileira, reúne um conjunto de mais de cem obras, entre pinturas a óleo e sumi-ês produzidos entre o final dos anos 1940 e o início da última década. Segundo os curadores, ao invés de um partido cronológico organizado em fases sucessivas, a mostra enfatiza como o artista, que concebia a pintura como um caminho, fez de seu labor uma lida constante com gêneros pictóricos consolidados. “Tomando partido da reabertura experimental pelas vanguardas modernas, Fang imprimiu sua dicção própria nas ideias de retrato, paisagem e natureza morta”, completam. Essa exposição conta com o patrocínio da CTG Brasil.

Tocar a Terra – Cerâmica Contemporânea Nipo-Brasileira

A mostra Tocar a terra – cerâmica contemporânea nipo-brasileira, com curadoria de Rachel Hoshino e assistência de Ana Roman, elege a cerâmica para tratar do tema diáspora japonesa – “por ser ela, simultaneamente, matéria e metáfora: o terreno no qual se aporta, se planta e se habita é a terra tocada com arte pelo ethos nipônico”, explica a curadoria. São obras de 15 artistas baseados no estado de São Paulo cujas atividades, pesquisas e repertórios são influenciados pelas tradições do Japão, independentemente de sua ascendência. Segundo as curadoras, para além de forma e símbolo, é a experiência de energia latente que faz com que sementes e brotos sejam temas recorrentes em suas obras. “Muitas delas são deixadas em ambiente natural, onde continuam sua metamorfose, sob os efeitos de intempéries e da ocupação por outros seres”. Disso, ressalta Rachel Hoshino, resulta outro importante conceito nipônico: “wabi-sabi” (侘び寂び), ideal estético-filosófico segundo o qual o belo reside no imperfeito, no impermanente e no incompleto. “A plasticidade da argila, o respeito pelo tempo e a consciência da interdependência entre tudo fazem com que a cerâmica seja prática favorável ao diálogo do ceramista com a sua história, seu entorno e consigo próprio”, completa Rachel Hoshino.

Até 26 de maio.

Novas pinturas de Helena Carvalhosa

07/nov

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, apresenta, de 18 de novembro a 20 de janeiro de 2024, “Tinha uma saia rodada e um galope na cabeça”, segunda mostra da artista Helena Carvalhosa na unidade de São Paulo. A exposição reúne um conjunto de pinturas, objetos e cerâmicas produzidas pela artista durante os últimos anos que dão conta de evidenciar sua íntima relação com a poesia. “Tinha uma saia rodada/E um galope na cabeça/O galope virou trote/E passo a passo/ caminho”. Helena Carvalhosa dá forma às suas imagens também através da palavra, reanimando memórias afetivas e reconstruindo, dentre outras arquiteturas, espaços domésticos e jardins. Suas pinturas de jarros de flores, galhos, cadeiras e passarinhos se confortam nas pequenas dimensões de suas telas, assim como os objetos com os quais escolhe trabalhar, coisas que podem caber dentro das mãos. A artista se vale do ritmo de seus poemas, por vezes também curtos, para pensar em sínteses: figuras que se resolvem em pinceladas soltas, descrições abertas, assemblages que rimam. “Eu pinto um ar que me habita”, define a artista. A inauguração desta exposição marca também o lançamento de seu livro de poemas “Tinha uma saia rodada e um galope na cabeça”, publicação que conta com texto de apresentação do artista Paulo Pasta e posfácio do curador Marcelo Salles.

Em “Tinha uma saia rodada e um galope na cabeça”, um centenar de pinturas compõem o espaço como uma espécie de álbum de recordações, cenas banais que adquirem valor pelo equilíbrio entre a simplicidade da abordagem temática e manejo sofisticado do uso da cor. Como observa Paulo Pasta em seu texto de apresentação “Para isso ela se vale desse lugar indefinido entre a figuração e abstração, entre ser e parecer, como também do emprego de relações cromáticas, vivas e sutis, destacando suas possíveis harmonias, e – com coragem, também suas notas dissonantes. Suas pinturas fazem uso igualmente de um claro sentido planar, matisseano, que, a exemplo do ensinamento do mestre, buscam um olhar novo e fresco sobre as coisas.” Complementado essa extensa coleção de imagens, incorporam-se os seus objetos, arranjos entre elementos aparentemente díspares que, ao serem combinados, ressignificam, convidam a leituras múltiplas enquanto poemas tridimensionais. “E, penso mais, que depois de um tempo o poema de Helena é ainda mais potente. A imagem mental que se constrói é tão poderosa e menos literal que sentimos pena das belas e frágeis contas negras, envoltas numa transparência gelatinosa, emolduradas por tons alaranjados que cumprem uma efêmera existência.”, conclui Marcelo Salles.

Desde o final da década de 1970 Helena Carvalhosa explora o campo tridimensional por meio de uma investigação sobre as formas e os significados gerados a partir de associações improváveis entre objetos encontrados, tais como potes de vidro, pedaços de madeira, peças de ferro retorcido e molas. O interesse da artista por tais objetos passa não somente pela particularidade de sua composição material e visual, seus significados e usos, mas também pelo vínculo afetivo que possui com cada um deles e com a possibilidade de conservarem histórias. A partir da segunda metade dos anos 1980, Helena Carvalhosa desenvolve, em paralelo, um trabalho em pintura, onde explora a ambiguidade das formas a partir da observação do mundo ao seu redor, desde paisagens até cenas interiores.

Sobre a artista

Helena Carvalhosa nasceu em 1938 em São Paulo, onde vive e trabalha. Iniciou seus estudos em artes na Escola Brasil em 1970 e em 1977 formou-se em Artes Plásticas pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado). Ainda no final da década de 1970 estudou na New School of Arts, em Nova York e desde os anos 1980 vem fazendo cursos e sendo orientada por artistas como Hélio Cabral, Nelson Nóbrega, Paulo Pasta e Sara Carone. Sua produção transita entre a pintura, a escultura, o desenho e o objeto. O início de sua carreira foi marcado pela participação na “Mostra de Escultura Lúdica” em 1979 no MASP, que contou com artistas como Palatnik, Tomie Ohtake, Leon Ferrari e Guto Lacaz. Na ocasião, a artista expôs “Estruturas Mutantes”, duas peças formadas por tecido, ferro e isopor que remetiam à forma de um casulo e que podiam ser vestidas e transformadas pelo público. A escolha por materiais acessíveis, de uso cotidiano, é ampliada em “O objeto reinventado”, exposição que ocorreu no SESC Pompeia em 1992 e que reuniu assemblages formadas por objetos descartados, já gastos por outros usos. Sobre aquela produção de Carvalhosa, o crítico Pietro Maria Bardi escreveu: “Com o máximo de simplicidade, Helena demonstra, através da combinação de formas, que aquilo que está ao nosso redor pode ser motivo de fruição estética”. No ano seguinte participou da coletiva “Objeto. Objeto-Livro. Fotografia” na Pinacoteca de São Paulo. Segundo a crítica Maria Alice Milliet, em texto de 1993: “Os objetos de Helena pertencem ao universo feminino da sedução, do jogo de aproximações que transforma o banal em inédito, do encantamento surpreendido no arranjo das coisas inúteis cuja gratuidade retém um frescor derivado da fantasia. Atestam a possibilidade de criar a partir do encontrável, do desprezível, de restos e sobras.” Em 1998, Carvalhosa retorna à Pinacoteca para ocupar um dos “vãos livres” do edifício com “O Caminho: Instalação com Flores”, composta por móveis antigos, fotos de família, vasos, quadros e peças em porcelana, propondo uma reflexão sobre as fases da vida e a passagem do tempo. Em paralelo ao seu trabalho com o campo tridimensional, Helena Carvalhosa desenvolve, desde a segunda metade dos anos 1980, uma produção em pintura. Em seus primeiros anos, centrou-se em paisagens e retratos através do uso mais despojado da pincelada, e a partir de 2005 dá início à transição de sua pintura para uma abordagem mais sintética da composição. Segundo o jornalista Antonio Gonçalves Filho, essas pinturas são “quase um diário íntimo sem compromisso com o tempo, como nas composições intimistas de Morandi, feitas de cores sóbrias e perfeito equilíbrio tonal”. Nelas, a artista ainda mantém o seu interesse pelos objetos, agora amalgamando-os, no campo bidimensional, aos outros elementos do quadro, operação que se dá pelo uso da tinta em diferentes cores e texturas. Em texto para o catálogo da exposição “Pulo do Gato”, apresentada no Museu Afro Brasil em 2016, o curador Marcelo Salles escreve: “a artista lida com um fazer que não é orientado por premissas políticas, sociais, mercadológicas; seu interesse reside numa necessidade ancestral, aquela que existia antes de nomearmos todas as coisas e aprisionarmos não somente coisas, mas nós mesmos”. Em mais de quatro décadas de carreira, participou de inúmeras mostras individuais e coletivas, em instituições como: MASP, SESC Pompeia, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu Afro Brasil, SESC Belenzinho e Centro de Arte Dragão do Mar, em Fortaleza. Desenvolveu curadorias para o SESC São Carlos, SESC Santana e Museu da Casa Brasileira. Possui três livros publicados: Fazenda Pinhal; Ócio: obras de Helena e poesia de Manoel de Barros; e Pulo do Gato.

Arte Brasileira na Casa Fiat

11/out

Esta é a primeira vez que uma mostra de tamanha robustez é montada em Belo Horizonte, MG, fora do Museu de Arte da Pampulha (MAP) – algumas obras, inclusive, jamais foram vistas que não na icônica construção encravada às margens da Lagoa da Pampulha, pensada originalmente para abrigar um cassino aberto ao público. A exposição “Arte Brasileira” está organizada em seis núcleos inter-relacionados: Conjunto Moderno da Pampulha, Os Modernos, Pampulha Espiralar: Um Lar, Um Altar, Nossos Parentes: Água, Terra, Fogo e Ar, O Menino Que Vê o Presépio e Novos Bustos. Obras de Cândido Portinari, Guignard, Di Cavalcanti, Burle Marx, Mary Vieira, Oswaldo Goeldi, Antônio Poteiro, Yara Tupynambá, Cildo Meireles, Jorge dos Anjos, Vik Muniz, Nydia Negromonte, Froiid, Wilma Martins, José Bento, Eustáquio Neves e Luana Vitra, entre outros, são artistas de diferentes gerações e movimentos que agora se reúnem na exposição “Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura”, inaugurada em Belo Horizonte.

No terceiro e extenso andar da Casa Fiat de Cultura, cerca de 200 obras, entre gravuras, pinturas, fotografias, esculturas e cerâmicas, nunca antes expostas em conjunto, fazem um importante passeio pela produção artística brasileira dos séculos XX e XXI, ressaltando os principais deslocamentos da arte contemporânea do país. Ali, estão nomes que contribuíram para elevar não só o pensamento estético, mas também uma criação que lançou olhares inovadores e utópicos sobre o Brasil, a partir de uma elaboração da releitura de uma identidade nacional proposta pelo modernismo.

As obras expostas na Casa Fiat evidenciam, também, a característica vanguardista do MAP, como sublinha o curador do Museu de Arte do Rio (MAR), Marcelo Campos, que assina a curadoria ao lado de Priscila Freire, ex-diretora do museu, inaugurado em 1957: “Na arte brasileira, a palavra vanguarda foi inaugurada no modernismo e acompanha essa coleção do MAP, que sempre se mostrou com muita coragem ao constituir seu múltiplo acervo”.

Priscila Freire, que esteve à frente do MAP durante 14 anos, diz que pode contar um pouco dessa história por meio da exposição. “Indiquei obras que considero interessantes da coleção de um museu que passou pelo moderno, pós-moderno e contemporâneo sendo sempre contemporâneo”, comenta.

Fruto da parceria entre a Casa Fiat de Cultura e prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Fundação Municipal de Cultura, “Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura” fica aberta ao público até fevereiro do ano que vem e é parte das celebrações dos 80 anos do Conjunto Moderno da Pampulha, eleito Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

Para a secretária de Cultura de Belo Horizonte, Eliane Parreiras, “a exposição é um marco para a história do MAP, abre portas para pesquisas futuras e olhares que até então não tinham sido feitos sobre o acervo e a instituiçao”. Por sua vez, o presidente da Casa Fiat, Massimo Cavallo enfatiza o aspecto ousado, grandioso e inovador da mostra, “que desvela novos ângulos que habitam esse Patrimônio Cultural da Humanidade, nutrindo vínculos de pertencimento e identidades”.

Vocação contemporânea

“Arte Brasileira” dialoga com as indagações que permeiam o que há de mais atual nos debates sociais e com a literatura de Conceição Evaristo, Ailton Krenak e Leda Maria Martins, homenageados e retratados no núcleo Novos Bustos. Muito antes de termos como decolonial ou pós-colonial se popularizarem no nosso vocabulário, as obras que serão vistas na mostra já traziam questionamentos que hoje encontram o pensamento contemporâneo. Quando Marcelo Campos e Priscila Freire propuseram que a exposição revelasse tal traço, perceberam que a coleção do MAP respondia a esse anseio e unia o que é considerado erudito, popular e contemporâneo.

“Só um acervo de vanguarda poderia nos dar insumos e elementos para constituir uma exposição com quantidade de arte popular que temos, com artistas negros e negras e também com muitas mulheres fundamentais para a arte brasileira. A exposição explicita isso, mas também busca renovar a leitura. Muitas obras aqui pertencem ao acervo, mas nunca tinham sido expostas. Isso é fundamental”, explica Campos.

Os quadros “Os acrobatas” (1958), de Candido Portinari, e “Espaço (da série Luz Negra)”, de Jorge dos Anjos, são dois destaques da exposição. “No Portinari é bonito porque a gente vê um artista modernista observando a cultura popular. Uma das utopias modernistas foi pensar uma sociedade mais justa, igualitária, com os ideais humanistas presentes. A grandeza de Portinari foi alertar para um Brasil que tinha na população suas riquezas culturais”, ressalta o curador.

Sobre Jorge dos Anjos, que tem outras duas obras expostas na Casa Fiat, Marcelo Campos salienta que o ouro-pretano ampliou tradições e “é um artista negro que olha para o seu tempo e, por outro lado, não esquece as discussões ancestrais”.

Entre as obras inéditas, vêm à tona o conjunto de pinturas populares e o presépio pertencente ao núcleo O Menino Que Vê o Presépio, montado em uma das pontas do terceiro andar da Casa Fiat. Exibido pela primeira vez ao público, a obra, inspirada em um conto de Conceição Evaristo, tem cerca de 300 peças e é composta por esculturas em cerâmicas originárias do Vale do Jequitinhonha, com autoria de Cléria Eneida Ferraz Santos e Mira Botelho do Vale.

“Esse é outro grande destaque, vamos colocar isso dentro de uma exposição que, em tese, seria de arte moderna e contemporânea. Esse gesto reforça a ideia de vanguarda do acervo do MAP”, afirma Marcelo Campos. Outra novidade fica por conta do restauro de duas obras: “Estandartes de Minas” (1974), de Yara Tupynambá, e “Tempos Modernos” (1961), de Di Cavalcanti, que se juntarão à mostra.

“Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura” joga luz na potência cromática da arte brasileira e faz as pazes com a diversidade e a força das cores, tão rechaçadas e inferiorizadas por uma leitura antiquada e elitista. Com a mostra, atual e tropicalista, o curador diz que esse trauma pode ser superado: “A cor é uma conquista, horizontaliza a arte”.

Programação paralela

No dia 29 de outubro, às 11h, o Encontros com o Patrimônio convida a diretora de museus da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, Janaina Melo, para o bate-papo “Museu de Arte da Pampulha (MAP): Um Museu e Suas Histórias”. O evento é virtual e gratuito, com inscrição pela Sympla. Já no dia 07 de novembro, às 19h30, a Casa Fiat de Cultura realiza um bate-papo presencial com os curadores Marcelo Campos e Priscila Freire.

A exposição “Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura” fica aberta ao público, na Casa Fiat de Cultura (Praça da Liberdade, 10 – Funcionários), até 04 de fevereiro de 2024.

Novo representado pela Gomide&Co

21/set

É com orgulho que a Gomide&Co anuncia a representação de Megumi Yuasa. A apresentação do seu nome ocorre no contexto de um programa da Gomide&Co que devota especial atenção ao território da cerâmica, tendo como bússola a superação das distinções estabelecidas entre essa técnica e outras linguagens artísticas com vias à afirmação dessa produção no campo da arte contemporânea.

Em uma entrevista de Megumi Yuasa, encontramos a seguinte passagem: “Ao se formar, nosso planeta era uma bola de magma que esfriou e formou a pedra dura. Sobre a pedra veio a água e, dela, a vida. Enquanto isso, a rocha decomposta virou argila. Não fiquei espantado quando a Nasa declarou, há algum tempo atrás, que somos feitos da mesma matéria das estrelas. Todo ceramista sabe isso.” Esse breve trecho resume um dos sentidos centrais da obra do artista, qual seja, nos recordar que há um amálgama entre seres humanos e natureza. Desse ponto de vista Megumi nos apresenta uma série de paisagens imaginadas. Árvores, sóis, luas, montanhas, nuvens, sementes, ganham formas simultaneamente familiares e improváveis, ao mesmo tempo em que se aliam, de forma fiel, ao vazio. Aqui, os espaços preenchidos pelo ar são tão importantes quanto aqueles feitos de matéria concreta. Vazio que, por sua vez, pode nos recordar a dimensão do silêncio. Em meio a um mundo cada vez mais ruidoso, as suas esculturas de acento pictórico evocam uma necessária esfera meditativa. Tendo realizado as suas primeiras exposições ainda no fim da década de 1960, o artistachega aos anos  2020 somando mais de meio século de trajetória como um nome seminal da cerâmica no Brasil. Em realidade, diante das obras de Megumi Yuasa, não se trata de lidar com a especificidade de uma técnica, mas sim pensar na amplitude de sua poética e na sua capacidade de endereçar, a parir dela, um universo de aguda singularidade.

Luisa Duarte

Diretora Artística

Sobre o artista

Megumi Yuasa, 1938. O escultor e ceramista, Megumi Yuasa inicia-se nas artes plásticas em 1964, quando passa a realizar suas primeiras cerâmicas. Viaja em seguida junto a sua companheira Naoko Yuasa ao interior do estado de Goiás, pesquisando técnicas e materiais. Em 1968, realiza em Goiânia sua primeira exposição, e no ano seguinte retorna para São Paulo. Logo seu trabalho passa a ser reconhecido. Já em 1971, frequenta por seis meses a Escola Brasil, a convite do pintor Luiz Paulo Baravelli (1942). Desde o início de sua carreira, Megumi está sempre presente nas mostras de artistas nipo-brasileiros, e nas mostras voltadas para a linguagem da cerâmica. Sempre imbuído de um discurso filosófico e político, é um artista com viés anárquico em suas práticas, na medida que incorpora outros materiais às suas cerâmicas, como metais e tintas, o que foge de um escopo tradicional dentro da cerâmica japonesa. Em 1979, inicia atividades como professor de cerâmica, às quais se dedica até hoje, organizando cursos e oficinas. Entre 1981 e 1982, presta assessoria à Escola Senai Armando Arruda Sampaio. Em 1982, é convidado a ministrar um curso de cerâmica na Universidade Caxias do Sul. No ano de 1984, é convidado pelo Museu de Artes do Rio Grande do Sul – MARGS, a ministrar o curso Observação da Realidade. Em 1987, realiza uma individual na Galeria de Arte São Paulo. Em 1988, recebe o Prêmio Escultura Associação Paulista dos Críticos de Arte – APCA. No mesmo período, morando em Itu, passa a trabalhar na Cerâmica Aruan, de Gilberto Daccache. Lá teve um espaço na fábrica onde modelava suas peças e ensinava o ofício aos jovens operários que produziam utilitários. Além disso, organizou uma biblioteca onde estudavam poesia, música e literatura. Em 1989, viaja a Lisboa (Portugal) para ministrar curso no Seminário de Cerâmica Brasileira em Lisboa. Em 1991, volta a Galeria de Arte São Paulo com nova individual. No fim dos anos 1990 realizou as suas últimas individuais, na Skultura Galeria de Arte (São Paulo), em 1997, e na Galeria LGC Arte Hoje (Rio de Janeiro), em 1998. Das exposições coletivas, cabe destaque às suas participações nas 13ª e 14ª edições da Bienal Internacional de São Paulo (1975 e 1977, respectivamente); na coletiva itinerante Encuentro de Ceramistas Contemporaneos de America Latina, de 1987, que passou pelo Museum of Conteporary Hispanic Art (New York, USA), Museum of Fine Arts (St. Pittsburg, USA), Centro de Arte Contemporâneo (Ciudad de Mexico, México), Museo de la Universidad Nacional de Colombia (Bogotá, Colômbia), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro); Sala Nacional de Exposiciones (Buenos Aires, Argentina), entre outras. Também participa da coletiva Laços do Olhar, em 2008, no Instituto Tomie Ohtake (São Paulo) e, em 2023, integra a coletiva O Curso do Sol, na Gomide&Co, também em São Paulo. Participa de várias edições de festivais e encontros de ceramistas, além de mostras realizadas por ocasião de aniversários da imigração japonesa ao Brasil. Ao longo de sua carreira, e até os dias de hoje, Megumi Yuasa também ministra oficinas, palestras e cursos dentro dos temas que abrangem suas práticas artísticas.

Evento cerâmico no Instituto Ling

17/jul

A “Oficina de Cerâmica: Fūrin – Sino de Vento”, com o ateliê Tori No Su será aberta no Instituto Ling, Três Figueiras, Porto Alegre, RS, sábado, 22 de julho.

Sobre este evento

Nesta oficina, você irá aprender a modelar um sino de vento em cerâmica com os ceramistas Kazue Morita e Denny Chang, do ateliê Tori No Su, de Porto Alegre. O ateliê oferece aulas de torno e oficinas de modelagem manual e tem sua produção de utilitários inspirada na cerâmica do leste asiático. A dupla compartilha mais sobre a história e os significados do fūrin, com referências para estimular a criatividade em cada projeto.

Fūrin, o sino de vento, é um objeto muito conhecido no oriente. Embora sua origem esteja ligada à China, foi no Japão que ganhou popularidade. Em meio ao calor do verão japonês, os sinos de vento anunciam a brisa que ameniza a temperatura e, acredita-se, ainda oferecem proteção aos lares, afastando os maus espíritos e atraindo felicidade e sorte. Durante a oficina vamos trabalhar na construção de todas as partes de um fūrin:

. cúpula

. duas pequenas esculturas

. pintura em uma tira de papel, que fica na extremidade do sino

Para a modelagem dos sinos e seus acessórios, vamos trabalhar a técnica do belisco (pinch), aprendendo a abrir a argila, sentindo sua textura, umidade e espessura à medida que a peça for construída. Também vamos trabalhar o acabamento das peças, aprendendo a tirar o excesso de argila, criar texturas e grafismos a partir de diferentes tipos de ferramentas e materiais. Os alunos não precisam de experiência prévia. Só precisarão respeitar o elemento tempo: após a modelagem, os sinos seguirão para o processo de secagem e queima, sendo entregues aos alunos 45 dias após a atividade.

As vagas são limitadas e os materiais estão inclusos no valor de matrícula. Classificação indicativa: a partir de 14 anos.

Com quem vamos aprender

A cerâmica Tori No Su (鳥の巣), palavra de origem japonesa que significa ninho de pássaro, tem como maior inspiração esse universo imenso, com diferentes elementos e formas de vida, que é a natureza. “Nosso pássaro (tori) é o artesão, a figura que nos inspira na modelagem das peças e nos mostra que, com um galho de cada vez, vamos modelando nossa cerâmica e deixando impressa a marca do fazer manual”. Todas as etapas do processo de produção são feitas por Kazue Morita e Denny Chang, e “…ficamos muito felizes em poder criar objetos manuais que farão parte da vida de outras pessoas”, afirmam os artistas.

Exposição de Cerâmicas de Rodrigo Torres

01/jun

A Simões de Assis apresenta até 29 de julho, “A Trilha do Esquecido”, primeira individual do artista Rodrigo Torres na sede de Balneário Camboriú, SC. O projeto dessa mostra foi criado a partir do interesse de Rodrigo  Torres por resquícios de construções, elementos humanos e da natureza encontrados em uma trilha na floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde ele vive e trabalha.

Embora tenha navegado por técnicas diversas, como pintura e colagens, hoje o artista se dedica principalmente à cerâmica. Vasos, jarras, frutas e legumes tornam-se objetos ornamentados e sofisticados subvertendo dessa maneira o gênero da natureza morta. A série de trabalhos apresentada em “A Trilha do Esquecido”, deriva de um longo caminho de experimentos do artista com o material, testando seus limites e esgarçando suas possibilidades físicas.

León Ferrari em Buenos Aires

17/maio

Durante 2020, o Museu Nacional de Belas Artes, Buenos Aires, Argentina, apresentou uma série de ações, atividades, propostas virtuais e exposições para comemorar o centenário do nascimento de León Ferrari, o grande artista argentino.

Desde setembro de 2020, o site do museu veicula material audiovisual com depoimentos, documentário e publicações digitais, entre outras iniciativas dedicadas a evocar a vida e a obra do artista.

Em 17 de maio de 2023, a tão esperada exposição antológica “León Ferrari. Recorrências”, com curadoria de Cecilia Rabossi e Andrés Duprat. Inicialmente agendada para abril de 2020, a exposição teve de ser adiada devido à emergência mundial provocada pela pandemia de Covid-19.

Palavras de Andrés Duprat sobre León Ferrari

“Tive a alegria de ser seu amigo e conhecê-lo intimamente. Além de grande artista, era um homem de qualidades excepcionais, de imensa generosidade e de uma inteligência aguçada marcada por uma nobreza extraordinária. Era alguém absolutamente comprometido não só com o seu trabalho, mas com todos os que necessitavam da sua ajuda, promovendo jovens artistas, até ajudando financeiramente quem precisava. Estudioso, prolífico, solidário, dono de uma notável lucidez e senso de humor, às vezes feroz, sem amarras, típico do livre-pensador que era. A sua formação em engenharia deu-lhe método e rigor; nada é casual ou superficial nas suas obras, fruto de meditações amadurecidas, por vezes durante décadas, e trabalhos técnicos, artesanais cultivados obsessivamente até à perfeição.

Em sua carreira, ele colocou em jogo sua aptidão em vários ofícios. Artista multidisciplinar, foi pintor, gravador, desenhista, escultor, também um grande teórico e polemista. Ele se aventurou em outras disciplinas, como música, dramaturgia, produção cinematográfica e redação. Suas experimentações formais incluíam esculturas e cerâmicas; estruturas de arame concebidas como construções geométricas e desenhos abstratos; scripts transbordantes, transcrições e caligrafia; colagens, Brailles e assemblages que, ao colocarem em diálogo elementos díspares, geram novos significados, não sem humor e denúncia; plantas de arquiteturas paranoicas, desenhos de cidades impossíveis e planetas de poliuretano expandido, entre outras pesquisas. Foi definitivamente um humanista, uma personalidade contemporânea de estilo renascentista, interessado em tudo o que diz respeito ao homem e às suas circunstâncias”.

Fotografia: Adrian Rocha Novoa.

Na Casa do Povo

28/abr

 

Vale o reencontro com o levante de Carlos Scliar em exposição até o dia 16 de maio. A obra temática encontra-se nos acervos da Casa do Povo, Bom Retiro, São Paulo, SP. O estudo de mosaico, “O Levante do Gueto de Varsóvia”, que o artista Carlos Scliar (1920-2001) realizou para a entrada da Casa do Povo está sendo exibido pela primeira vez. Feito à convite da instituição, esse trabalho esteve perdido mas foi reencontrado em 2023, sendo apresentado ao lado de documentos históricos sobre o Levante.

Em 2023, o Levante do Gueto de Varsóvia comemora 80 anos. A Casa do Povo criou uma programação que se desdobra em uma série de eventos. A comemoração é uma parceria entre o ICUF – Ídiche Kultur Farband, Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil, Federação Israelita do Estado de São Paulo,  Núcleo de Preservação da Memória Política – SP,  n-1 edições, Casa do Povo e mais de 25 organizações de 6 países.

 

80 anos de Levantes

O Levante do Gueto de Varsóvia é o ato inaugural da Casa do Povo. O evento histórico se alastrou entre os dias 19 de abril e 16 de maio de 1943, marcando a resistência judaica no último gueto estabelecido em Varsóvia. O Levante manteve acesa a chama da resistência, mostrando ser possível levantar-se contra a máquina de morte nazista. Não por acaso, após o fim da Segunda Guerra Mundial, a criação da Casa do Povo no Bom Retiro foi anunciada em homenagem a este acontecimento. Se “lembrar é agir”, como temos repetido na Casa do Povo, cada comemoração do Levante é um levante em si. O ano de 2023 não remete somente a um fato que aconteceu há 80 anos, mas marca também a celebração de 80 anos de encontros ininterruptos. A Casa do Povo atravessou tempos conturbados nas últimas décadas – com o fim do Estado Novo, a Ditadura Civil Militar e o frágil processo, ainda em curso, de redemocratização – sem nunca deixar de comemorar a data.

Os partisanos de Varsóvia escolheram a primeira noite de Pessach, a Páscoa Judaica, para iniciar suas ações de enfrentamento ao exército nazista. Seguindo a tradição de Pessach, costumamos lembrar e refletir sobre o significado da saída do Egito Antigo e o fim da escravidão do povo judaico. Através de rezas e cantos, a data é sempre uma convocação para também olhar para as lutas em curso no tempo presente, e com as quais devemos nos solidarizar. Por isso, apesar de o Levante ser uma data secular, ele também carrega a potência dos rituais religiosos, e busca invocar, de geração em geração, uma ancestralidade de luta, resistência e resiliência.

 

Baró representa a obra de Joana Vasconcelos

20/abr

 

Depois de muitos anos acompanhando de perto sua carreira, especialmente desde sua monumental instalação apresentada na Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2008 “Contaminação”, a Baró Galeria – Palma de Mallorca, Lisboa e São Paulo -, une forças com Joana Vasconcelos e passa a representá-la.

Nascida em Paris, Joana Vasconcelos é uma das mais conhecidas artistas contemporâneas internacionais que vive e trabalha em Lisboa. Em sua prática, ela explora temas de identidade, gênero e cultura de consumo, incorporando objetos e materiais cotidianos, como têxteis, cerâmicas e eletrodomésticos, que transforma em esculturas monumentais e provocantes.

A obra de Joana Vasconcelos gira em torno da cerâmica, fios tecidos e tecidos. Esses materiais servem de base para suas vibrantes esculturas tridimensionais maiores que a vida, bem como para suas elaboradas e surreais criações que transformam objetos comuns, móveis, ferramentas, cerâmicas e estatuetas. Joana Vasconcelos eleva estes suportes e as suas técnicas tipicamente associadas às artes aplicadas e artesanais ao estatuto de fine art. Sua abordagem envolve técnicas de alienação e reaproveitamento, o que aproxima seus trabalhos em estilo e estratégia dos artistas surrealistas.

Joana Vasconcelos já expôs internacionalmente, na Bienal de Veneza (2005) (2013), no Museu Guggenheim Bilbao (2018) e no Palácio de Versalhes (2012), sendo a artista feminina mais jovem a expor no palácio. Recentemente, ela expôs uma monumental instalação site specific para o desfile Dior Fall-Winter 2023-2024, na Semana de Moda de Paris. Atualmente, “O Bolo de Casamento”, uma encomenda da Fundação Rothschild para Waddesdon Manor no Reino Unido, está sendo concluído.

Para saber mais sobre a artista, visite nosso site ou dê uma olhada em sua mais nova publicação “Liquid Love” (La Fabrica, 2023) e nos próximos projetos da artista “Arbre de Vie”, na Sainte-Chapelle du Château de Vincennes e “Wedding Cake” at Waddesdon.

 

Novo artista representado

13/abr

 

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, anuncia a representação de Miguel dos Santos, artista nascido em 1944, em Caruaru, PE. O artista reside, desde os anos 1960, em João Pessoa, PB, onde estabeleceu seu ateliê. Artista autodidata, sempre explorou linguagens diversas, como a pintura, a cerâmica e a escultura em mármore e madeira, combinadas a temáticas da cultura popular do Nordeste e a mitologias dos povos originários das Américas e do Norte da África. Ao lado de nomes como Ariano Suassuna, Francisco Brennand e Gilvan Samico, fez parte do Movimento Armorial, lançado no Recife, em 1970. Figuras como Aleijadinho e Mestre Vitalino também influenciam amplamente a sua produção. O artista segue em plena atividade e desdobrando sua pesquisa, que se mantém coesa.

Em comentário da década de 1980, Ariano Suassuna abordou elementos de destaque em sua obra: “Como se pode ver pelo trabalho de Miguel dos Santos, a diferença principal entre nós escritores e artistas atuais do Nordeste – e os anteriores – o que nos caracteriza e distingue mais, é a ligação com o Realismo mágico – e não surrealismo. (…) A pintura de Miguel dos Santos é algo que me entusiasma, povoando seus quadros a óleo, ou cerâmicas, de bichos estranhos: dragões, metamorfoses, cachorros endemoninhados, santos, mitos e demônios – uma obra tão ligada ao Romanceiro e por isso mesmo tão expressiva da visão tragicamente fatalista, cruelmente alegre e miticamente verdadeira que o povo tem do real”.

Em 1977, Miguel dos Santos esteve entre os artistas brasileiros selecionados para o II Festival Mundial de Artes e Cultura Negra e Africana, o FESTAC ’77, na Nigéria, do qual participaram outras figuras de destaque da cultura brasileira, como Emanoel Araújo, Rubem Valentim e Gilberto Gil.

Em 2009, por encomenda da Prefeitura de João Pessoa, o artista criou a escultura A Pedra do Reino, localizada no Parque Sólon de Lucena, importante cartão-postal da cidade. A obra é uma homenagem a Ariano Suassuna e retrata um trecho do livro homônimo do escritor paraibano.

Entre as suas principais exposições, estão: Miguel dos Santos, Galeria Bonino, Rio de Janeiro, 1972; Image du Brésil, Manhattan Center, Bruxelas, 1973; II Festival Mundial de Artes e Cultura Negra e Africana, FESTAC ’77, Nigéria, 1977; XIV Bienal Internacional de São Paulo, 1977; Os ritmos e as formas na arte contemporânea, Kunsthalle Charlottenborg, Copenhague, 1989; A ressacralização da arte, SESC Pompeia, São Paulo, 1999; Miguel dos Santos, Galeria Ricardo Camargo, São Paulo, 2001; Movimento Armorial – 50 Anos, CCBB Rio de Janeiro e CCBB Brasília, 2022. Suas obras fazem parte do acervo de diversos museus, tais como: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP, São Paulo; Museu Casa de Cultura Hermano José, João Pessoa; Centro Cultural Benfica – UFPE, Recife; FAMA Museu – Fábrica de Arte Marcos Amaro, Itu, SP; Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB, Brasília e Museu Janete Costa de Arte Popular, Niterói, RJ.