Revisão do POP nacional.

17/jul

Made in Brazil: Entre desejo, bandeiras e censura, arte pop brasileira ocupa a Pinacoteca de São Paulo.

Às vésperas do carnaval de 1968, centenas de pessoas se reuniram em Ipanema, no Rio de Janeiro, para um evento que ficaria conhecido como o “Happening das bandeiras na Praça General Osório”. Estandartes se espalharam em uma intervenção coletiva de artistas que queriam extrapolar o ambiente dos museus e galerias e criar espaços alternativos de cultura, reivindicando a esfera pública que havia sido silenciada e esvaziada pela ditadura militar. Transformando a rua em festa – com a presença, inclusive, de músicos da Estação Primeira de Mangueira -, estes sujeitos articularam a participação do espectador nas obras, questionando o sentido da arte em um mundo difícil e violento.

Hoje, as bandeiras serigrafadas que fugiam do espaço institucionalizado agora ganham destaque na exposição “Pop Brasil: vanguarda e nova figuração, 60-70″, em cartaz na  Pina Contemporânea, São Paulo, SP, até outubro. Reunindo cerca de 250 obras emblemáticas da segunda metade do século 20, a mostra faz uma espécie de “retrato de geração” de artistas que exploraram a linguagem da pop arte em um contexto de crise política e ascensão da cultura de massa, tendo reagido ao golpe militar de 1964, ao endurecimento do regime em 68, ao silêncio depois de 70 e, finalmente, ao processo de redemocratização a partir de 80. Em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, outros aspectos do espaço urbano também chamaram atenção dos artistas da década de 60. Contraditória e em constante transformação, a rua foi compreendida como um ambiente de controle e vigilância e, ao mesmo tempo, como território de expressões populares e de resistência.

Na exposição, diversas obras exploram a visualidade do cotidiano (com a apropriação de signos urbanos como letreiros, anúncios e fachadas); ruídos da cidade o futebol como paixão nacional e identidade coletiva; as manifestações e passeatas estudantis; e os corpos em movimento. Inspirados nessa efervescência, os visitantes poderão ainda experimentar e “ativar” os famosos Parangolés de Hélio Oiticica. Com curadoria de Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, “Pop Brasil: vanguarda e nova figuração, 1960-70″ segue em cartaz até 05 de outubro e é imperdível para quem passa por São Paulo. Depois, a mostra viaja para a Argentina e passa a ser exibida no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (MALBA), a partir de 05 de novembro.

Texto: Carla Gil, pesquisadora independente e graduada em Arte: História, Crítica e Curadoria pela PUC-SP.

Figuras imaginadas de Zélio Alves Pinto.

11/jul

Com curadoria de Agnaldo Farias, a mostra – em cartaz até 15 de agosto – reúne cerca de 20 obras do artista Zélio Alves Pinto realizadas nas últimas décadas do século XX, em técnicas como pintura, desenho, xilogravura e colagem. Trata-se da primeira individual do artista em mais de 10 anos.

A Galeria MAPA, Consolação, São Paulo, SP, inaugura a exposição “ZÉLIO. Imagens e figuras imaginadas”, dedicada à produção do artista Zélio Alves Pinto produzidas entre os anos 1980 e 2000. A mostra, com curadoria de Agnaldo Farias, reúne cerca de 20 obras em técnicas diversas, como pintura, desenho, xilogravura e colagem, e lança foco sobre um período de inflexão em sua trajetória, na qual o artista desloca a prática gráfica cotidiana para uma pesquisa mais contínua e autoral no campo das artes visuais.

Reconhecido por sua atuação múltipla, Zélio Alves Pinto construiu desde os anos 1960 uma trajetória que abrange o cartum, a publicidade, o design gráfico e a direção institucional. Colaborou com publicações nacionais e internacionais como O Pasquim, Senhor, Le Rire (Paris) e Punch Magazine (Londres). A partir dos anos 1970, passou a dedicar-se com maior regularidade à produção artística, realizando exposições em instituições como MASP, MAM-RJ, Museu Real da Bélgica e em Nova York. Essa circulação entre linguagens e contextos fornece um repertório visual que permeia sua produção com referências cruzadas.

A curadoria de Agnaldo Farias propõe uma leitura concentrada nas relações visuais que organizam a obra de Zélio nesse momento. O conjunto apresentado evidencia procedimentos recorrentes – como o uso da linha como contorno e estrutura, a justaposição entre formas orgânicas e elementos gráficos, e a aparição de figuras ambíguas, entre o humano e o fabuloso. Trata-se de um recorte específico, que não busca retrospectiva, mas observação aprofundada de um período onde artista reinventa modos de narrar por meio da imagem. Com mais de uma década desde sua última exposição individual, “ZÉLIO – Imagens e figuras imaginadas” representa a reabertura pública de um segmento expressivo da produção do artista, articulando obras pouco vistas e outras ainda inéditas em São Paulo.

Ampla exposição da trajetória de Leandro Machado.

08/jul

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS, instituição da Secretaria de Estado da Cultura do RS -Sedac, apresenta a exposição “Leandro Machado – Hospícios e balneários (é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança)”. A inauguração será no dia 12 de julho quando em evento que marca também a reabertura do 2º andar do Museu.

Contemplando um panorama da produção de Leandro Machado (Porto Alegre, 1970), esta é a primeira exposição dedicada a uma compreensão mais ampla de sua trajetória e produção, sendo também a sua primeira mostra individual apresentada pelo MARGS. Assim, a seleção de obras abrange desde o início de sua atuação nos anos 1990 até o presente, como parte do processo de recuperação do acervo após a enchente de 2024. A exposição tem curadoria de Francisco Dalcol, e da curadora-assistente, Cristina Barros, com produção e preparação de obras de José Eckert, do Núcleo de Curadoria, e envolvimento de todos os setores do Museu.

Sobre o artista e a exposição.

Leandro Machado desenvolve sua obra transitando entre pintura, desenho, objeto, colagem, fotografia, procedimentos gráficos, apropriação, escrita, som, performance e intervenção, além de empregar a experiência do andar e do deslocamento como expediente artístico. Nessa prática e produção diversificadas, seus trabalhos reverberam temas e questões que encontram um sentido mais amplo de urgência política. Seja a partir de sua  condição e da reflexão sobre sua ancestralidade, seja pela leitura crítica dos sistemas de poder e das relações de desigualdade social-racial.

Já programada antes da enchente de 2024, esta exposição acontece também agora como parte do processo de recuperação do acervo após os danos da inundação parcial do térreo do Museu.

Reencontro com a obra de Darel.

O centenário de nascimento do desenhista, pintor, gravador, ilustrador e professor Darel Valença Lins (Palmares, PE 1924-Rio de Janeiro, 2017) será celebrado com a exposição “DAREL – 100 anos de um artista contemporâneo”, no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro, sob curadoria de Denise Mattar e a abertura da mostra panorâmica será no dia 09 de julho, com temporada que se estenderá até 30 de agosto. Seu legado artístico transita entre a gravura em metal, óleo sobre tela, fotomontagem, guache, pastel, desenho e a litografia à cor – técnica da qual foi pioneiro no Brasil.

Com patrocínio do Itaú Cultural, a exposição reúne cerca de 95 obras, abrangendo 70 anos de produção do artista, que marcou sua importância na história da arte do século XX pela excelência das suas gravuras em metal, desenhos, litografias à cor e pinturas sensuais.

“Apesar de sua relevância histórica, Darel é hoje pouco conhecido do grande público. Sua trajetória reflete a condição de muitos gravadores brasileiros, que enfrentam a marginalização de uma técnica erroneamente considerada “menor” pelo mercado de arte, por sua vocação acessível e multiplicável”, avalia Denise Mattar.

Percurso da exposição

A mostra está organizada por segmentos, a partir da fase mais conhecida de Darel, a dos anos 1950|60, das séries Topografias e Cidades Inventadas, seguidas dos Anjos. São gravuras, inicialmente em preto e branco, às quais o artista introduz pouco a pouco a cor. No começo da década de 1970, ele faz uma mudança radical de técnica e começa a trabalhar com pastel e lápis de cera. É deste período a série Mulheres da Rua Concórdia. “Poéticas, patéticas, dolorosas e sensuais são as cenas que Darel retrata de um prostíbulo, instalado na casa em que ele viveu na infância”, descreve a curadora.

Segue-se a este o conjunto intitulado Baixada Fluminense, no qual ele busca poesia em histórias inventadas sobre personagens reais.  Sem medo de errar, o artista usa a digigrafia (gravação de imagem por meios digitais), associando colagem, desenho, pastel e guache.

Seus últimos trabalhos são pinturas a óleo de temática floral e uma série de videoarte, realizadas em seu ateliê no bairro carioca de São Conrado nos anos 2000. Nas flores imensas transborda, mais do que nunca, a sensualidade de sua obra. A exposição conta ainda com um curta de Allan Ribeiro, em que o artista conversa com o cinegrafista sobre Dostoievski, enquanto desenha, apresentado em loop. O longa documental, também de Allan Ribeiro, que inclui as últimas realizações de Darel, as videoartes, terá sessões programadas, no auditório do Centro Cultural Correios Rio de Janeiro.

Sobre o artista.

Criado na Usina Catende, no interior de Pernambuco, Darel começou a trabalhar muito jovem como desenhista técnico. Em 1949, já morando no Rio de Janeiro, começou a estudar gravura com Henrique Oswald.  Nascido em Palmares, Pernambuco, e falecido em 2017 no Rio de Janeiro, Darel manteve-se lúcido e ativo até o fim da vida. Recebeu prêmios e menções honrosas ao longo da carreira, como o de “Viagem ao Estrangeiro”, do Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e o de “Melhor Desenhista Nacional” na VII Bienal de São Paulo (1963), onde também teve uma sala especial na edição seguinte. Atuou como ilustrador em editoras e veículos como a José Olympio, os jornais Última Hora e Diário de Notícias, além das revistas Senhor e Manchete. Entre 1953 e 1966, Darel foi diretor técnico da Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, ilustrando diversas edições e seis capas de livros de Gabriel García Márquez. Foi ainda professor de gravura e litografia no MASP e na FAAP, em São Paulo, e na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Conviveu e foi amigo de Goeldi, Livio Abramo, Raymundo de Castro Maya, João Cabral de Mello Neto, Iberê Camargo, Carybé, Marcello Grassmann, Portinari, Babinski, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Mário Cravo Jr., Djanira e Morandi (na Europa). Sobre Darel escreveram os principais críticos de arte e luminares, como Clarice Lispector, Vinícius de Moraes, Mário Pedrosa, Roberto Pontual, Ivo Zanini, Leonor Amarante, Olívio Tavares de Araújo, Casimiro Xavier de Mendonça e Frederico Morais. Além de dezenas de exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, Darel tem obras nos acervos do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu Nacional de Belas Artes, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da USP, Museu de Arte Brasileira da Faap, Palácio Itamaraty, Museu do Senado, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Fundação Iberê Camargo, Museu do Estado de Pernambuco.

Uma parceria inédita.

24/jun

A Galatea Salvador, Rua Chile, 22 – Centro, BA, e a Luciana Brito Galeria apresentam “Regina Silveira:Tramadas”, a primeira exposição individual da artista na capital soteropolitana, com abertura no dia 04 de julho, das 18h às 21h. A inauguração da mostra coincide com a Semana da Independência da Bahia, celebrada no dia 02 de julho.

Fruto de uma parceria inédita, a exposição tem curadoria de Adriano Casanova e Tomás Toledo, conta com texto crítico de Ana Maria Maia e reúne obras emblemáticas de Regina Silveira, muitas delas inéditas no Brasil, que sintetizam sua pesquisa em torno do bordado ao longo dos anos.

Elemento recorrente na obra de Regina Silveira desde 1999, o uso do bordado em ponto de cruz, entendido como codificação da imagem, remete a uma herança trans-histórica e intercultural, relacionada à própria história remota da alfabetização das mulheres, em sua trajetória de resistência.

Uma grande instalação site-specific será destaque da mostra. Intitulada “Malfeitos”, faz parte da série dos “bordados malfeitos” e ganha uma reativação inédita adaptada à fachada de vidro da galeria, convidando o público a conhecer mais. Outros trabalhos apresentados incluem “Dreaming of Blue II” (2016), painel em cerâmica com sobrevidrado, em diálogo com a série histórica de gravuras “Risco” (1999), além de gravuras da série “Armarinhos” (2002-2003), representando elementos relacionados à prática do bordado, como agulha, botão e alfinete, e as serigrafias “Tramada” (Pink) (2014) e “Blue Skies” (2015).

Até 11 de outubro.

Mostra institucional de Manuel Messias.

23/jun

O Ministério da Cultura, via Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e o Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, apresentam até 03 de agosto a  exibição de “Manuel Messias – Sem limites”, que conta com o patrocínio do Nubank, mantenedor do Instituto Tomie Ohtake, e o apoio da Danielian Galeria. A exposição traz a assinatura dos curadores Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto.

Primeira mostra individual institucional de Manuel Messias, a mostra reúne cerca de 70 xilogravuras e traça um panorama sensível e contundente de um artista que manteve uma produção contínua e coesa apesar de ter enfrentado grandes dificuldades por ser um homem negro, nordestino e que viveu nos limites da pobreza e da loucura. “Sem limites”, como ele próprio se definia, Manuel Messias é hoje reconhecido como um importante membro de sua geração e um dos mais destacados nomes da gravura brasileira do século XX.

A exposição perpassa três décadas de produção artística, revelando a potência poética e crítica de Manuel Messias dos Santos (1945-2001), sergipano radicado no Rio de Janeiro desde a infância. Segundo os curadores, foi através de sua mãe, que trabalhou como empregada doméstica na casa de nomes influentes da cena artística carioca, que Manuel Messias pôde frequentar aulas de arte no início dos anos 1960, particularmente o curso livre de Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Artistas na 36ª Bienal de São Paulo.

13/jun

Lidia Lisbôa, Marlene Almeida, Maxwell Alexandre, Rebeca Carapiá e Heitor dos Prazeres estão entre os artistas na 36ª Bienal de São Paulo, que inaugura no dia 06 de setembro no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo, SP, e permanecerá em cartaz até 11 de janeiro de 2026.

Intitulada “Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática”, a Bienal tem curadoria geral de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, com cocuradoria de Alya Sebti, Anna Roberta Goetz e Thiago de Paula Souza, além de Keyna Eleison como cocuradora at large.

Inspirada pelo poema “Da calma e do silêncio”, da poeta Conceição Evaristo, a Bienal tem como um dos principais alicerces a escuta ativa da humanidade enquanto prática em constante deslocamento, encontro e negociação. Na exposição, serão apresentados projetos inéditos, concebidos a partir do convite da curadoria a Lidia Lisbôa, Maxwell Alexandre, Marlene Almeida e Rebeca Carapiá.

Sobre os artistas.

Lidia Lisbôa

A prática de Lidia Lisbôa se desenvolve em suportes distintos, sobretudo a escultura, o crochê, em performances e em desenhos. Sua pesquisa tem a tessitura de biografias como eixo fundamental, percorrendo os pólos da paisagem, do corpo e da memória ao utilizar matérias nas quais se imprimem o gesto e a mão da artista. Resultado de uma prática artística constante que se mistura à vida, na obra de Lidia Lisbôa, a costura e a criação de narrativas se colocam como exercício de construção subjetiva e, portanto, de cura e ressignificação.

Marlene Almeida

Marlene Almeida é pesquisadora, escultora e pintora, cuja prática fundamentalmente interdisciplinar combina conhecimentos literários, científicos e artísticos na investigação de um objeto comum à sua produção desde a década de 1970: a terra. Em expedições realizadas especialmente ao Nordeste brasileiro, Marlene Almeida cataloga e armazena amostras de terras coloridas. Essas expedições são guiadas por um projeto audaz: o Museu das Terras Brasileiras, que visa a identificação e estudo das cores encontradas em diferentes formações geológicas de todo território nacional. Em sua trajetória, ela também se nutriu de extensa atuação na militância ecológica e política.

 Maxwell Alexandre

Pautada pelo conceito de autorretrato, a prática de Maxwell Alexandre extrapola as categorias e suportes tradicionais do fazer artístico. Por meio de uma lógica de citação, apropriação e associação de imagens e símbolos, bem como pelo uso de materiais de valor simbólico e biográfico, Maxwell Alexandre constroi uma mitologia imagética que engloba religiosidade e militarismo. Da mesma maneira, sua obra confronta o estatuto institucional da arte contemporânea e os limites do campo da experiência estética.

Rebeca Carapiá

Ao utilizar o ferro e o cobre como seus principais materiais, o trabalho de Rebeca Carapiá se desdobra em esculturas, instalações, desenhos e gravuras, nos quais torção, união e aproximação entre essas matérias constituem uma caligrafia abstrata. Tomando a palavra como ponto de partida, as obras de Rebeca Carapiá insuflam, dobram e seccionam a linguagem em um exercício de deslocá-la de uma posição linear e monolítica. Assim, seus trabalhos se configuram como uma língua particular, que resulta do liame entre corpo, terreno, memória e os saberes oriundos das vivências da artista, bem como daqueles imbuídos na materialidade das peças.

Heitor dos Prazeres

Heitor dos Prazeres (1898-1966) foi um artista plástico, figurinista, compositor e sambista, reconhecido como figura fundamental do contexto cultural carioca no início do século XX e para o Modernismo brasileiro. Heitor dos Prazeres foi um autodidata, e sua inserção no ambiente artístico carioca foi a princípio pela via da música. Na segunda metade dos anos 1930, passou a se dedicar também à pintura, tratando de temas relacionados às tradições e à cultura popular brasileira e cenas do cotidiano das populações negras da cidade. O samba, o carnaval, as paisagens urbanas e as brincadeiras infantis foram seus temas mais frequentes.

A ênfase na técnica da gravura.

11/jun

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura no dia 14 de junho três exposições, sendo duas com ênfase na técnica da gravura e outra na trajetória de Iberê Camargo. Os curadores da Bienal do Mercosul, Raphael Fonseca, Tiago Sant’Ana e Yina Jiménez Suriel, foram convidados para selecionar obras de Iberê Camargo para a exposição “Iberê Camargo: estruturas do gesto”. São 58 trabalhos, entre desenhos, gravuras e pinturas, produzidos entre 1940 e 1994, ano da morte do artista.

A exposição “Gravura – Experiência matriz” apresenta os diferentes matizes de 43 artistas de renome internacional que passaram pela técnica na Fundação Iberê Camargo.

Artista que incentivou Iberê Camargo na retomada da gravura no final dos anos 1980 e idealizador do Gabinete de Gravura no Museu Nacional de Belas Artes, Carlos Martins faz retrospectiva de seu trabalho na Fundação Iberê Camrago. Mestre supremo de seu ofício, Carlos Martins é um dos gravadores mais apurados, sofisticados e elegantes de sua geração. Dotado de um virtuosismo poucas vezes atingido no campo da repetição da imagem, pode-se dizer também que é um “gravador dos gravadores”. Ele também é arquiteto, museólogo, pesquisador e curador. Por mais de 15 anos, o artista manteve relações profissional e de amizade com Iberê Camargo.

Com curadoria de José Augusto Ribeiro, “Sombra da Terra” sublinha o interesse de Carlos Martins em figurar uma espécie de dimensão metafísica do mundo das coisas. Diversas gravuras de Carlos Martins inspiradas pelos lugares onde foram produzidas. É o caso da série “Journey to Portugal”, de 1976, em que a natureza surge apenas na forma controlada dos jardins, vista entre sombras, por cima de paredes e muros, ou através de janelas. Outro destaque da exposição compõe-se de trabalhos em torno da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes.

“O objetivo da exposição é ressaltar o apuro técnico da produção de Martins na realização de seus trabalhos, a combinação de linguagens e soluções diversas na feitura de uma única imagem e os jogos que se armam, não raro, entre repetições e diferenças em grupos de trabalhos – quando numa série, por exemplo, uma estampa se multiplica por várias unidades, embora cada uma receba tratamento específico e diferente, com cores, formas e soluções de preenchimento variadas. Constitui-se, assim, uma obra que é, ao mesmo tempo, rigorosa, culta e atenta à realidade sensível”, afirma José Augusto Ribeiro.

Sobre o artista.

Há 50 anos, Carlos Martins produz um trabalho gráfico notabilizado pelo apuro técnico empregado nas diferentes etapas de construção de uma imagem, no desenho, gravação e impressão. Carlos Botelho Martins Filho nasceu em Araçatuba, SP, 1946. Iniciou seus estudos em gravura em metal na década de 1970, na Inglaterra, frequentando a Chelsea School of Art, Sir John Cass School e Slade School of Arts, além da Academia Raffaelo na Itália, retornando ao Brasil em 1978. Estabeleceu-se no Rio de Janeiro, trabalhando na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) como professor de gravura. Durante a década 1980 ministrou cursos, ao modelo inglês de evening class, que ocupavam horários ociosos de ateliês de escolas e de universidades para a realização de cursos livres.

“Gravura – Experiência matriz” mostra os diferentes matizes de artistas de renome internacional que passaram pela técnica na Fundação Iberê Camargo, reunindo na exposição obras de 43 artistas que vivenciaram a técnica na prensa que pertenceu a Iberê Camargo. São eles: Afonso Tostes, Alex Cerveny, Angelo Venosa, Antonio Dias, Álvaro Siza, Caetano de Almeida, Carlos Martins, Carlos Fajardo, Carlos Pasquetti, Carmela Gross, Daniel Acosta, Daniel Feingold, Daniel Escobar, Daniel Melim, Elisa Bracher, Iole de Freitas, Janaina Tschäpe, Jorge Macchi, José Bechara, José Patrício, José Resende, Laura Andreato, Léon Ferrari, Lucas Arruda, Luciana Maas, Luiz Carlos Felizardo, Marcos Chaves, Maria Lucia Cattani, Matias Duville, Nelson Felix, Nelson Leirner, Nuno Ramos, Pablo Chiuminatto, Paulo Monteiro, Paulo Pasta, Rafael Pagatini, Regina Silveira, Rodrigo Andrade, Rosângela Rennó, Santídio Pereira, Teresa Poester, Vera Chaves Barcellos, Waltercio Caldas.

A exposição traz um recorte da coleção com artistas de diferentes matizes e suas respectivas obras produzidas nas mais variadas técnicas da gravura em metal em sete módulos temáticos: matéria da memória em P&B, abstrações, figuras, riscados, paisagens, grafismos e cartografias. “Gravura – Experiência matriz” é organizada pela Fundação Iberê Camargo, que, em 1999, ainda na casa do artista no bairro Nonoai, promoveu oficinas de gravura ministradas por Anna Letycia, Evandro Carlos Jardim, Claudio Mubarac e Carlos Martins. Nesse período, foi proposto que as matrizes das obras fossem doadas para a instituição, dando início à Coleção Ateliê de Gravura. Em 2001, foi criado o Projeto Artista Convidado, como programa de residência artística sob a coordenação de Eduardo Haesbaert que foi assistente e impressor de Iberê Camargo. Os artistas experimentaram a gravura, muitos deles pela primeira vez, e produziram obras inéditas criadas a partir de suas poéticas. Desde então, o projeto recebeu mais de 100 artistas residentes. O Ateliê de Gravura conserva a prensa e as ferramentas utilizadas por Iberê Camargo que, desde os anos 1940, teve a prática da gravura simultânea ao seu ofício de pintor. “Estabelecemos uma profícua troca a partir de pesquisas, conceitos e pensamentos de cada residente. Suas expressões são reveladas em obras gráficas e posteriormente multiplicadas, tornando-as parte do acervo do artista e da Fundação”, destaca Eduardo Haesbaert.

Curadores da 14ª Bienal do Mercosul assinam a curadoria da exposição “Iberê Camargo: estruturas do gesto”.

Raphael Fonseca, Yina Jiménez Suriel e Tiago Sant’Ana, curadores da 14ª Bienal do Mercosul, foram convidados para assinar a seleção de obras que fazem parte do acervo da instituição. São 58 trabalhos, entre desenhos, gravuras e pinturas, produzidos entre 1940 e 1994, ano da morte do artista. Chamam a atenção os desenhos de crânios e gatos presentes na mostra e que participaram da mais recente edição da Bienal do Mercosul.

Um dos destaques da exposição é um estudo feito em 1966 para o painel da Organização Mundial de Saúde em guache, pastel seco e grafite sobre papel. Criada no segundo pós-guerra (1947), no contexto da reconstrução e da reorganização do mapa político internacional, a OMS recebeu doações de todos os países membros para construir e equipar a sua sede na Suíça. O Brasil, por meio do Ministério de Relações Exteriores, ofereceu um presente cultural: uma pintura original que Iberê Camargo realizaria in loco. Foram quatro meses de trabalho em uma pintura 49 metros quadrados. Para criar uma “vegetação colorida”, Iberê Camargo realizou uma série de esboços e começou a brincar livremente com as formas. Trinta estudos feitos com grafite, guache, grafite, lápis de cor, nanquim, tinta a óleo e outros materiais ficaram guardados por mais de 40 anos nos porões da agência de Saúde da Organização das Nações Unidas em uma caixa lacrada com o inédito projeto de Iberê Camargo, com uma mensagem do próprio artista escrita na tampa: ”Não dobre e não remova nada sem a autorização do diretor-geral”. Eles só foram descobertos em 2007, após uma consulta da Fundação Iberê Camargo, a pedido de Maria Coussirat Camargo. A caixa foi aberta em janeiro de 2008, na presença de autoridades da Organização Mundial da Saúde, e encontram-se preservados no Arquivo da OMS, em Genebra, como parte do presente do governo brasileiro. Iberê e Maria Camargo mantiveram alguns estudos, que estão sob os cuidados da Fundação Iberê Camargo.

A luta ambiental de Frans Krajcberg.

12/mai

O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, Avenida Paulista, Bela Vista, apresenta até 19 de outubro, a exposição “Frans Krajcberg: reencontrar a árvore”. A mostra reúne mais de 50 obras – entre esculturas, relevos, gravuras e pinturas – de grandes dimensões e formatos que desafiam o convencional, refletindo tanto o apreço do artista pela natureza brasileira quanto seu engajamento crescente com a denúncia das agressões ao meio ambiente.

Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Laura Cosendey, curadora assistente, MASP, a mostra apresenta um panorama abrangente da produção de Frans Krajcberg (Kozienice, Polônia, 1921-2017, Rio de Janeiro, Brasil). Pioneiro na integração entre arte e ecologia, o artista se destacou por evidenciar questões ambientais no Brasil. Ao longo de sua trajetória, desenvolveu pesquisas artísticas ramificadas em eixos temáticos, como samambaias, florações, relevos e sombras. Essas investigações culminaram em obras criadas a partir de cipós, raízes, resquícios de troncos e madeiras calcinadas, além de pigmentos naturais, com os quais ele compõe o corpo de sua obra.

Frans Krajcberg rompeu com a tradição escultórica ao empregar elementos orgânicos e estruturas naturais como matéria-prima e suporte, desafiando os limites entre representação e figuração, além de fundir os campos da pintura, escultura e gravura. A flor do mangue, circa 1970, composta por madeira residual de árvores de manguezal e pigmentada com piche, reflete essa abordagem. Com sua grande escala e forma retorcida, a obra sensibiliza o observador para a vulnerabilidade e a resistência do ecossistema dos manguezais.

“De certa forma, a escultura é a própria árvore, ainda que resultante da justaposição de diferentes elementos naturais. A arte, para Krajcberg, precisa sair dos limites da moldura e reencontrar a natureza. Ele se afasta progressivamente da ideia de representar o mundo natural para incorporá-lo como corpo da obra. O caráter de denúncia emerge como um desdobramento natural desse processo, conforme Krajcberg percebia o potencial da arte de sensibilizar e comunicar sua luta ambiental”, comenta Laura Cosendey.

Em 1978, durante uma expedição pela Amazônia, Frans Krajcberg experiencia o que chamou de “choque amazônico” diante da exuberância da floresta equatorial. Anos depois, uma nova viagem – desta vez ao Mato Grosso – expõe o artista à devastação provocada pelas queimadas, marcando uma virada em sua trajetória, em que a natureza, além de ser inspiração, se torna causa a ser defendida. A expressão “reencontrar a árvore”, presente em suas reflexões, resume esse retorno da arte à natureza como fonte de criação e consciência ecológica.

“Frans Krajcberg: reencontrar a árvore” integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da ecologia. A programação do ano também inclui mostras de Abel Rodríguez, Claude Monet, Clarissa Tossin, Hulda Guzmán, Minerva Cuevas, Mulheres Atingidas por Barragens e a grande coletiva Histórias da Ecologia.

Sobre o artista.

Naturalizado brasileiro, Frans Krajcberg (1921–2017) nasceu na Polônia e, por ser de origem judaica, perdeu toda a sua família durante o Holocausto. Nos anos 1950, estabeleceu-se no Brasil, onde desenvolveu seu trabalho como artista. A partir da década de 1960, passou a viajar à Amazônia e ao Pantanal, coletando resquícios de troncos em áreas devastadas por queimadas. Em uma dessas expedições, redigiu, com Pierre Restany e Sepp Baendereck, o Manifesto do Naturalismo Integral (1978), que consolida seu pensamento socioambiental. Sua experiência ecológica também influenciou suas escolhas de vida, passando a residir em seu sítio em Nova Viçosa, cercado pela Mata Atlântica.

Catálogo.

Por ocasião da mostra, um catálogo amplamente ilustrado será publicado em edição bilíngue, em português e inglês, e em capa dura, reunindo imagens e ensaios comissionados que abordam a trajetória de Frans Krajcberg. O livro tem organização editorial de Adriano Pedrosa e Laura Cosendey, e textos de Cosendey, Felipe Scovino, Malcolm McNee, Paulo Herkenhoff e Patricia Vieira. Frans Krajcberg: reencontrar a árvore é realizada por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio da Vivo, apoio de Mattos Filho e apoio cultural da Henry Moore Foundation e do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC).

CCBB de Brasília exibe mais de 40 artistas.

A partir dos anos 1930, mais precisamente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), países econômica e socialmente vulneráveis passaram a ser denominados “subdesenvolvidos”. No Brasil, artistas reagiram ao conceito, comentando, posicionando-se e até combatendo o termo. Parte do que eles produziram nessa época está presente na mostra Arte Subdesenvolvida, que tem curadoria de Moacir dos Anjos e da Tuîa Arte Produção. A mostra fica em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (CCBB Brasília) de 20 de maio a 03 de agosto.

O conceito de subdesenvolvimento foi corrente por cinco décadas até ser substituído por outras expressões, dentre elas, países emergentes ou em desenvolvimento. “Por isso o recorte da exposição é de 1930 ao início dos anos 1980, quando houve a transição de nomenclatura, no debate público sobre o tema, como se fosse algo natural passar do estado do subdesenvolvimento para a condição de desenvolvido”, reflete o curador Moacir dos Anjos. “Em algum momento, perdeu-se a consciência de que ainda vivemos numa condição subdesenvolvida”, complementa. A mostra, com patrocínio do Banco do Brasil e BB Asset, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, apresenta pinturas, livros, discos, esculturas, cartazes de cinema e teatro, áudios, vídeos, além de um enorme conjunto de documentos. São peças de coleções particulares, dentre elas, dois trabalhos de Candido Portinari e duas obras de Anna Maria Maiolino. Há também obras de Paulo Bruscky e Daniel Santiago cedidas pelo Museu de Arte do Rio – MAR.

Na mostra “Arte Subdesenvolvida”, o público pode ver peças de grande importância para a cultura nacional. Duas obras de Candido Portinari, Enterro (1940) e Menina Ajoelhada (1945), fazem parte do acervo da exposição. Muitas pinturas do artista figuram o desespero, a morte ou a fuga de um território marcado pela falta de quase tudo. Outra obra que também se destaca na mostra é Monumento à Fome, produzida pela vencedora da Bienal de Veneza, a ítalo-brasileira Anna Maria Maiolino. Ela é composta por dois sacos cheios com arroz e feijão, alimentos típicos de qualquer região do Brasil, envoltos por um laço preto. Esse laço é símbolo do luto, como aponta a artista. O público também terá acesso a uma série de fotografias da artista intitulada Aos Poucos.

Outro ponto alto da mostra é a obra Sonhos de Refrigerador – Aleluia Século 2000, de Randolpho Lamonier. “A materialização dos sonhos tem diversas formas de representação, que inclui um grande volume de obras têxteis, desenhos e anotações feitos pelas próprias pessoas entrevistadas, objetos da cultura vernacular e elementos que remetem à linguagem publicitária”, ressalta o artista. “Entre os elementos que compõem a obra, posso listar, além dos têxteis, neons de LED, letreiros digitais, infláveis, banners e faixas manuscritas, até conteúdos sonoros com relatos detalhados de alguns sonhos”, completa Lamonier. Assim como em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, lúdica e viva, a instalação multimídia realizará um inventário de sonhos de consumo, que inclui desde áudios e manuscritos das próprias pessoas entrevistadas a objetos e peças têxteis. A instalação ocupa o Pavilhão de Vidro do CCBB Brasília e, como explica o curador Moacir dos Anjos,”faz uma reflexão, a partir de hoje, sobre questões colocadas pelos artistas de outras décadas”.

Ao todo, mais de 40 artistas e outras personalidades brasileiras terão obras expostas na mostra, entre eles: Abdias Nascimento, Abelardo da Hora, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Artur Barrio, Candido Portinari, Carlos Lyra, Carlos Vergara, Carolina Maria de Jesus, Cildo Meireles, Daniel Santiago, Dyonélio Machado, Eduardo Coutinho, Ferreira Gullar, Graciliano Ramos, Henfil, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, José Corbiniano Lins, Josué de Castro, Letícia Parente, Lula Cardoso Ayres, Lygia Clark, Paulo Bruscky, Rachel de Queiroz, Rachel Trindade, Solano Trindade, Regina Vater, Rogério Duarte, Rubens Gerchman, Unhandeijara Lisboa, Wellington Virgolino e Wilton Souza.