A luta ambiental de Frans Krajcberg.

12/mai

O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, Avenida Paulista, Bela Vista, apresenta até 19 de outubro, a exposição “Frans Krajcberg: reencontrar a árvore”. A mostra reúne mais de 50 obras – entre esculturas, relevos, gravuras e pinturas – de grandes dimensões e formatos que desafiam o convencional, refletindo tanto o apreço do artista pela natureza brasileira quanto seu engajamento crescente com a denúncia das agressões ao meio ambiente.

Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Laura Cosendey, curadora assistente, MASP, a mostra apresenta um panorama abrangente da produção de Frans Krajcberg (Kozienice, Polônia, 1921-2017, Rio de Janeiro, Brasil). Pioneiro na integração entre arte e ecologia, o artista se destacou por evidenciar questões ambientais no Brasil. Ao longo de sua trajetória, desenvolveu pesquisas artísticas ramificadas em eixos temáticos, como samambaias, florações, relevos e sombras. Essas investigações culminaram em obras criadas a partir de cipós, raízes, resquícios de troncos e madeiras calcinadas, além de pigmentos naturais, com os quais ele compõe o corpo de sua obra.

Frans Krajcberg rompeu com a tradição escultórica ao empregar elementos orgânicos e estruturas naturais como matéria-prima e suporte, desafiando os limites entre representação e figuração, além de fundir os campos da pintura, escultura e gravura. A flor do mangue, circa 1970, composta por madeira residual de árvores de manguezal e pigmentada com piche, reflete essa abordagem. Com sua grande escala e forma retorcida, a obra sensibiliza o observador para a vulnerabilidade e a resistência do ecossistema dos manguezais.

“De certa forma, a escultura é a própria árvore, ainda que resultante da justaposição de diferentes elementos naturais. A arte, para Krajcberg, precisa sair dos limites da moldura e reencontrar a natureza. Ele se afasta progressivamente da ideia de representar o mundo natural para incorporá-lo como corpo da obra. O caráter de denúncia emerge como um desdobramento natural desse processo, conforme Krajcberg percebia o potencial da arte de sensibilizar e comunicar sua luta ambiental”, comenta Laura Cosendey.

Em 1978, durante uma expedição pela Amazônia, Frans Krajcberg experiencia o que chamou de “choque amazônico” diante da exuberância da floresta equatorial. Anos depois, uma nova viagem – desta vez ao Mato Grosso – expõe o artista à devastação provocada pelas queimadas, marcando uma virada em sua trajetória, em que a natureza, além de ser inspiração, se torna causa a ser defendida. A expressão “reencontrar a árvore”, presente em suas reflexões, resume esse retorno da arte à natureza como fonte de criação e consciência ecológica.

“Frans Krajcberg: reencontrar a árvore” integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da ecologia. A programação do ano também inclui mostras de Abel Rodríguez, Claude Monet, Clarissa Tossin, Hulda Guzmán, Minerva Cuevas, Mulheres Atingidas por Barragens e a grande coletiva Histórias da Ecologia.

Sobre o artista.

Naturalizado brasileiro, Frans Krajcberg (1921–2017) nasceu na Polônia e, por ser de origem judaica, perdeu toda a sua família durante o Holocausto. Nos anos 1950, estabeleceu-se no Brasil, onde desenvolveu seu trabalho como artista. A partir da década de 1960, passou a viajar à Amazônia e ao Pantanal, coletando resquícios de troncos em áreas devastadas por queimadas. Em uma dessas expedições, redigiu, com Pierre Restany e Sepp Baendereck, o Manifesto do Naturalismo Integral (1978), que consolida seu pensamento socioambiental. Sua experiência ecológica também influenciou suas escolhas de vida, passando a residir em seu sítio em Nova Viçosa, cercado pela Mata Atlântica.

Catálogo.

Por ocasião da mostra, um catálogo amplamente ilustrado será publicado em edição bilíngue, em português e inglês, e em capa dura, reunindo imagens e ensaios comissionados que abordam a trajetória de Frans Krajcberg. O livro tem organização editorial de Adriano Pedrosa e Laura Cosendey, e textos de Cosendey, Felipe Scovino, Malcolm McNee, Paulo Herkenhoff e Patricia Vieira. Frans Krajcberg: reencontrar a árvore é realizada por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio da Vivo, apoio de Mattos Filho e apoio cultural da Henry Moore Foundation e do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC).

CCBB de Brasília exibe mais de 40 artistas.

A partir dos anos 1930, mais precisamente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), países econômica e socialmente vulneráveis passaram a ser denominados “subdesenvolvidos”. No Brasil, artistas reagiram ao conceito, comentando, posicionando-se e até combatendo o termo. Parte do que eles produziram nessa época está presente na mostra Arte Subdesenvolvida, que tem curadoria de Moacir dos Anjos e da Tuîa Arte Produção. A mostra fica em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (CCBB Brasília) de 20 de maio a 03 de agosto.

O conceito de subdesenvolvimento foi corrente por cinco décadas até ser substituído por outras expressões, dentre elas, países emergentes ou em desenvolvimento. “Por isso o recorte da exposição é de 1930 ao início dos anos 1980, quando houve a transição de nomenclatura, no debate público sobre o tema, como se fosse algo natural passar do estado do subdesenvolvimento para a condição de desenvolvido”, reflete o curador Moacir dos Anjos. “Em algum momento, perdeu-se a consciência de que ainda vivemos numa condição subdesenvolvida”, complementa. A mostra, com patrocínio do Banco do Brasil e BB Asset, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, apresenta pinturas, livros, discos, esculturas, cartazes de cinema e teatro, áudios, vídeos, além de um enorme conjunto de documentos. São peças de coleções particulares, dentre elas, dois trabalhos de Candido Portinari e duas obras de Anna Maria Maiolino. Há também obras de Paulo Bruscky e Daniel Santiago cedidas pelo Museu de Arte do Rio – MAR.

Na mostra “Arte Subdesenvolvida”, o público pode ver peças de grande importância para a cultura nacional. Duas obras de Candido Portinari, Enterro (1940) e Menina Ajoelhada (1945), fazem parte do acervo da exposição. Muitas pinturas do artista figuram o desespero, a morte ou a fuga de um território marcado pela falta de quase tudo. Outra obra que também se destaca na mostra é Monumento à Fome, produzida pela vencedora da Bienal de Veneza, a ítalo-brasileira Anna Maria Maiolino. Ela é composta por dois sacos cheios com arroz e feijão, alimentos típicos de qualquer região do Brasil, envoltos por um laço preto. Esse laço é símbolo do luto, como aponta a artista. O público também terá acesso a uma série de fotografias da artista intitulada Aos Poucos.

Outro ponto alto da mostra é a obra Sonhos de Refrigerador – Aleluia Século 2000, de Randolpho Lamonier. “A materialização dos sonhos tem diversas formas de representação, que inclui um grande volume de obras têxteis, desenhos e anotações feitos pelas próprias pessoas entrevistadas, objetos da cultura vernacular e elementos que remetem à linguagem publicitária”, ressalta o artista. “Entre os elementos que compõem a obra, posso listar, além dos têxteis, neons de LED, letreiros digitais, infláveis, banners e faixas manuscritas, até conteúdos sonoros com relatos detalhados de alguns sonhos”, completa Lamonier. Assim como em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, lúdica e viva, a instalação multimídia realizará um inventário de sonhos de consumo, que inclui desde áudios e manuscritos das próprias pessoas entrevistadas a objetos e peças têxteis. A instalação ocupa o Pavilhão de Vidro do CCBB Brasília e, como explica o curador Moacir dos Anjos,”faz uma reflexão, a partir de hoje, sobre questões colocadas pelos artistas de outras décadas”.

Ao todo, mais de 40 artistas e outras personalidades brasileiras terão obras expostas na mostra, entre eles: Abdias Nascimento, Abelardo da Hora, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Artur Barrio, Candido Portinari, Carlos Lyra, Carlos Vergara, Carolina Maria de Jesus, Cildo Meireles, Daniel Santiago, Dyonélio Machado, Eduardo Coutinho, Ferreira Gullar, Graciliano Ramos, Henfil, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, José Corbiniano Lins, Josué de Castro, Letícia Parente, Lula Cardoso Ayres, Lygia Clark, Paulo Bruscky, Rachel de Queiroz, Rachel Trindade, Solano Trindade, Regina Vater, Rogério Duarte, Rubens Gerchman, Unhandeijara Lisboa, Wellington Virgolino e Wilton Souza.

A arte de Beatriz Milhazes em NY.

09/mai

“Beatriz Milhazes: Rigor and Beauty” é o cartaz do Solomon R. Guggenheim Museum, New York até o dia 07 de Setembro.

Sobre a exposição.

A exposição apresenta a obra da artista contemporânea global Beatriz Milhazes (nascida em 1960, no Rio de Janeiro), que dialoga com sua herança cultural e identidade brasileira por meio da linguagem da abstração. A complexa obra da artista abrange quatro décadas – da década de 1980 até o presente – e abrange escultura, colagem, gravura, têxteis, arte pública e, especialmente, pintura. Esta exposição apresenta um conjunto de quinze pinturas e obras em papel, de 1995 a 2023, retiradas do acervo permanente do museu e complementadas por empréstimos importantes, que, juntas, contextualizam a narrativa mais ampla da evolução artística de Beatriz Milhazes.

A obra de Beatriz Milhazes está profundamente enraizada na história e na tradição brasileiras, inspirando-se na arte e arquitetura coloniais, nas artes decorativas e na vibrante celebração do Carnaval – um festival de uma semana no Rio de Janeiro que expõe a cultura brasileira por meio de desfiles, música, performances e fantasias elaboradas. Ela também é influenciada pela Tropicália, movimento cultural dos anos 1960 que mesclava arte, música e literatura para celebrar a identidade brasileira e, ao mesmo tempo, protestar contra o regime militar repressivo. Os ritmos e as cores da Bossa Nova, estilo musical nascido no Rio de Janeiro no final da década de 1950, também ecoam em sua obra. Além dessas influências, Beatriz Milhazes dialoga com a obra de artistas como Henri Matisse e Piet Mondrian, além de fazer referência a Tarsila do Amaral, cujas criações foram fundamentais para o desenvolvimento visual e estético do Modernismo brasileiro. Em 1989, Beatriz Milhazes desenvolveu uma técnica inovadora que chama de “monotransferência”, inspirada no processo de impressão monotípica, no qual uma imagem pintada é transferida de uma chapa para o papel, produzindo uma imagem espelhada. Ela inicia seu processo pintando motivos em folhas de plástico transparente com tinta acrílica. Assim que o acrílico seca, ela aplica camadas e adere as películas pintadas à tela e, em seguida, descola o plástico, revelando as formas invertidas. As composições resultantes são vibrantes e dinâmicas, combinando formas abstratas, padrões orgânicos e estruturas geométricas em superfícies texturizadas imbuídas da memória das ações da artista.

As primeiras pinturas desta exposição, principalmente do acervo do museu – como Santa Cruz (1995), In albis (1995-96) e As quatro estações (1997) – inspiram-se na opulência das igrejas coloniais barrocas brasileiras do século XVIII e em suas vestimentas ornamentais. Beatriz Milhazes sintetiza essas influências em motivos abstratos e representativos, com círculos e arabescos, delicados crochês e rendas, flores e padrões florais, além de pérolas ornamentadas e trabalhos em ferro que emergem em suas composições. Em 2000, ela começou a explorar efeitos ópticos em suas pinturas, utilizando repetições lineares para criar padrões ondulantes e ritmos visuais, como visto em Paisagem carioca (2000), O cravo e a rosa (2000) e O Caipira (2004). As obras em papel desta exposição, criadas entre 2013 e 2021, demonstram a contínua experimentação de Beatriz Milhazes com a colagem. Ela combina elementos produzidos em massa, como sacolas de compras de marca, embalagens de barras de chocolate e papel estampado, com recortes de suas próprias serigrafias de cores sólidas para criar padrões intrincados e configurações abstratas ousadas. As pinturas recentes de Beatriz Milhazes, incluindo Mistura Sagrada (2022), marcam uma mudança na exploração do poder espiritual da natureza após a pandemia de COVID-19. Embora referências ao mundo natural estejam presentes desde o início de sua carreira, aqui ela se aprofunda em ciclos de renovação – vida e morte – por meio de formas coloridas e angulares e padrões intrincados. Elementos orgânicos, reflexos da proximidade da artista com o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a Floresta da Tijuca e a Praia de Copacabana, ecoam nas geometrias harmoniosas, nos sistemas conceituais e nos universos cromáticos que permeiam sua obra.

A exposição é organizada por Geaninne Gutiérrez-Guimarães, curadora do Museu Guggenheim de Bilbao e do Museu e Fundação Solomon R. Guggenheim, Nova York. “Beatriz Milhazes: Rigor e Beleza” é a segunda edição da série de exposições Coleção em Foco, que destaca o acervo permanente do museu. A série faz parte de um esforço revigorado para tornar o acervo mundialmente renomado do Guggenheim de Nova York mais acessível ao público. O apoio visionário à Coleção em Foco é fornecido por Aleksandra Janke e Andrew McCormack. O Comitê de Liderança de “Beatriz Milhazes: Rigor e Beleza” agradece sua generosidade, com agradecimentos especiais a Laura Clifford, Peter Bentley Brandt, Christina e Alan MacDonald, Cristina Chacón e Diego Uribe, Alberto Cruz, Ilva Lorduy, Karina Mirochnik e Gaby Szpigiel, Pace Gallery, White Cube, Fortes D’Aloia & Gabriel e Galerie Max Hetzler. Financiamento adicional é fornecido pelo Círculo Latino-Americano do Guggenheim de Nova York.

Uma coleção visita o Instituto Tomie Ohtake.

07/mai

O Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, exibe até 25 de maio a “Coleção Vilma Eid – Em cada canto”, exposição que se dedica a examinar o histórico acervo de Vilma Eid, que nos últimos quarenta anos construiu uma coleção singular, reunindo trabalhos de mais de 100 artistas entre os ditos populares, modernos e contemporâneos. A mostra integra o programa de exposições Instituto Tomie Ohtake visita, que busca criar conexões com colecionadores e agentes do circuito da arte, proporcionando acesso a coleções que, em parte, são pouco exibidas ao grande público.

Com uma atuação fundamental na valorização da arte popular no Brasil, Vilma Eid construiu uma coleção onde obras de artistas populares, modernos e contemporâneos convivem e dialogam, abrangendo diversos contextos e épocas do país. Em sua casa, a galerista dispõe as obras de tal forma a criar conexões inesperadas. Trabalhos de artistas modernos e contemporâneos como Geraldo de Barros, Mira Schendel, Paulo Pasta ou Tunga convivem com os ditos populares, como José Antonio da Silva, Isabel Mendes da Cunha, Itamar Julião ou Veio. As duas salas que compõem a mostra trazem conexões entre artistas e obras encontradas na casa da colecionadora e outras propostas pela curadoria. Estão lá representadas questões recorrentes na História da Arte: a relação entre tradição e inovação; temporalidade e espaço; cor e forma ou figuração e abstração.

Instituto Tomie Ohtake visita Coleção Vilma Eid – Em cada canto é uma realização da Casa Fiat de Cultura e Instituto Tomie Ohtake  via Lei Federal de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, e conta com o patrocínio da Stellantis, sob a chancela Apresenta; do Itaú Unibanco, sob a chancela Platina; do Redecard sob a chancela Prata; BMA Advogados, sob a chancela Bronze e Galeria Estação, sob a chancela Apoio.

Artistas participantes

Agnaldo Manuel dos Santos, Agostinho Batista de Freitas, Alcides Pereira dos Santos, Aldo Bonadei, Alex Cerveny, Alexander Calder, Amadeo Luciano Lorenzato, Amilcar de Castro, André Ricardo, Anna Maria Maiolino, Antonio Ballester Moreno, Antônio de Dedé (Antônio Alves do Santos), Antônio Poteiro (Antônio Batista de Souza), Arnaldo Ferrari, Arthur Luiz Piza, Artur Pereira, Aurelino dos Santos, Cardosinho (José Bernardo Cardoso Júnior), Carlos Fajardo, Carmela Gross, Célia Euvaldo, Chico da Silva (Francisco Domingos da Silva), Chico Tabibuia (Francisco Moraes da Silva), Cícero Dias, Clovis Aparecido dos Santos, Conceição dos Bugres (Conceição Freitas da Silva), Eduardo Berliner, Eleonore Koch, Elza de Oliveira Souza, Emmanuel Nassar, Erika Verzutti, Ernesto Neto, Fabrício Lopez, Geraldo de Barros, Germana Monte-Mór, G.T.O. (Geraldo Teles de Oliveira), Heitor dos Prazeres, Iole de Freitas, Itamar Julião (Itamar de Pádua Lisboa), Ivan Serpa, Izabel Mendes da Cunha, Jadir João Egídio, Jandyra Waters, João Pereira de Andrade, Jorge Guinle, José Antonio da Silva, José Bernnô, José Bezerra, José Resende, Judith Lauand, Judith Scott, Julia Isidrez, Júlio Martins da Silva, Julio Villani, Lafaiete Rocha, Leda Catunda, Leonilson (José Leonilson Bezerra Dias), Lia Chaia, Liuba Wolf, Lúcia Suanê, Luiz Paulo Baravelli, Madalena Santos Reinbolt, Marepe, Maria Auxiliadora, Mario Rubinski, Mestre Vitalino (Vitalino Pereira dos Santos), Mira Schendel, Mirian Inêz da Silva, Nelson Felix, Neves Torres, Nhô Caboclo (Manoel Fontoura), Nino (João Cosmo Felix), Noemisa Batista dos Santos, Nuca de Tracunhaém (Manoel Borges da Silva), Paulo Monteiro, Paulo Pasta, Paulo Pedro Leal, Pedro Figari, Placedina Fernandes do Nascimento, Ranchinho (Sebastião Theodoro Paulino da Silva), Rodrigo Andrade, Rubem Valentim, Santídio Pereira, Sergio Camargo, Sonia Delaunay, Thiago Honório, Tunga, Ulisses Pereira Chaves, Vânia Mignone, Véio (Cícero Alves dos Santos), Victor Vasarely, Waltercio Caldas, Zé do Chalé (José Cândido dos Santos), Zica Bérgami (Maria Elisa Campiotti Bérgami).

Exposição homenagem para Maria Tomaselli.

30/abr

Onde os pássaros caem e as casas flutuam, é a nova exposição de Maria Tomaselli em exibição no Museu de Arte do Paço – MAPA Praça Montevidéu, Centro Histórico, Porto Alegre, RS.

Com foco numa homenagem que aborda diferentes aspectos da produção de Maria Tomaselli, a exposição “Onde os pássaros caem e as casas flutuam” traça um panorama que une obras da Pinacoteca Aldo Locatelli com obras do acervo particular da artista.

Sob curadoria de Nicolas Beidacki, a exposição mergulha no mundo pictórico e filosófico de Maria Tomaselli, abordando questões que vão das deformidades habitacionais até as agonias do corpo, numa mescla de passado e presente, sem desconsiderar desafios contemporâneos, como o sentido de um futuro ancestral e a abordagem que o mesmo trouxe para pensar o mundo que habitamos, seja nas ocas, nas casas ou em nós mesmos.

Ainda que aberta para visitação do público, a curadoria, considerando a condição de saúde atual da artista – que está em recuperação de um procedimento médico – optou por realizar uma atividade de encerramento em substituição ao evento de abertura. Assim, no dia 17 de maio, sábado, às 11h, no Museu de Arte do Paço, será realizada uma conversa pública com Maria Tomaselli e o curador para abordar a trajetória e os processos criativos da artista, recentemente homenageada no “XVII Prêmio Açorianos de Artes Plásticas”.

Em cartaz até 22 de maio

Celebrações em torno de Pedro Moraleida.

27/mar

Organizada pela curadora e crítica de arte Lisette Lagnado, a mostra que homenageia Pedro Moraleida Bernardes ocupará dois endereços – até 21 de junho – da nova Almeida & Dale, São Paulo, SP, como parte das celebrações pelos 25 anos da morte do artista mineiro, que partiu precocemente aos 22 anos de idade. Intitulada Nossa Senhora do Desejo, a exposição propõe diálogos entre sua obra, artistas que o influenciaram e uma nova geração que compartilha de sua inquietação e irreverência.

A produção intensa de Pedro Moraleida, marcada pela desobediência, escatologia e crítica social, segue sendo revisitada e reinterpretada ao longo do tempo. Graças ao empenho de seus pais, Luiz Bernardes e Nilcéa Moraleida, junto a professores e artistas, seu acervo sempre esteve acessível a pesquisadores, estimulando novos estudos sobre a obra. Desde setembro de 2024, a Academia Mineira de Letras (AML), em parceria com o Instituto Pedro Moraleida Bernardes (iPMB), o Viaduto das Artes e o Grupo Oficina Multimedia, tem promovido seminários e exposições em Belo Horizonte, ampliando a reflexão sobre o seu legado. Em 2019, o Instituto Tomie Ohtake realizou a primeira retrospectiva do artista fora de sua cidade natal, com curadoria de Paulo Miyada.

Embora frequentemente associada, de maneira simplista, ao neoexpressionismo alemão, a prolífica obra do artista – que abrange desenhos, pinturas, textos e experimentos sonoros – vai muito além dessa influência. Pedro Moraleida teve acolhida entusiasmada por parte de curadores brasileiros e estrangeiros, e, segundo Lisette Lagnado, “ainda há muito a ser explorado sobre as fontes que o inspiraram”.

Nossa Senhora do Desejo mergulha em temas recorrentes em sua produção, como capitalismo, patriarcado, saúde mental, guerra planetária, direito à vida e vida artificial. Dentre os vários nexos iluminados pela mostra, destaca-se aquele que o aproxima do poeta francês Antonin Artaud: a opção por “uma existência que se recusa a anestesiar as emoções”. Como sintetiza a curadora, “…ambos examinam uma sociedade abusiva e tóxica, vociferando contra o pecado católico e a perversão acumulativa da burguesia”.

Num movimento tentacular, outros elos vão se desenhando, como a sintonia entre sua força insubmissa e a arte de Jaider Esbell e Arthur Bispo do Rosario (em registros flagrados pela lente do mestre da cor Walter Firmo), que brota da violência institucional e a transmuta poeticamente em “energia de combate”. O caráter iconoclasta e a mordacidade política conectam a produção de Pedro Moraleida à de Leon Ferrari, figura fundamental do conceitualismo latino-americano, presente na exposição com a série “Releituras da Bíblia”. Figuras como Jean-Michel Basquiat e José Leonilson, usualmente lembradas como influências para Pedro Moraleida, também fazem parte dessa constelação de referências evidenciadas pela exposição. Além dessas relações de caráter mais histórico, há na seleção proposta por Lisette Lagnado a presença importante de duas artistas que conheceram Pedro Moraleida, a mineira Cinthia Marcelle e a hispano-brasileira Sara Ramo – da mesma geração surgida no final do século passado, elas prestaram uma assessoria especial no processo de pesquisa e concepção da mostra. O conjunto inclui ainda produções recentes que ecoam a mesma inquietude, como as da paulistana Lia D Castro e do suíço-carioca Guerreiro Do Divino Amor, cuja instalação “Civilizações Super Superiores” foi originalmente apresentada no Pavilhão da Suíça da 60ª edição da Bienal de Veneza.

A expografia dos dois espaços é assinada pelo arquiteto e urbanista Tiago Guimarães, formado pela Universidade Federal do Ceará e atuante em São Paulo desde 2005. Além dos nomes já citados, completam a mostra obras de Castiel Vitorino Brasileiro, desali, Flávio de Carvalho, ⁠ Francisco de Almeida, Lia D Castro, ⁠Linga Acácio, Trojany, ⁠Marta Neves, Regina Parra – artista que apresenta uma performance na abertura da exposição – e ⁠Thiago Martins de Melo. O poeta floresta participa da publicação que será lançada durante a exposição com uma seleção de sete poemas extraídos de seu livro rio pequeno (ed. Fósforo, 2022).

Artistas participantes.

Antonin Artaud, Castiel Vitorino Brasileiro, Cinthia Marcelle, desali, Flávio de Carvalho, floresta, Francisco de Almeida, Guerreiro do Divino Amor, Jaider Esbell, Jean-Michel Basquiat, José Leonilson, León Ferrari, Lia D Castro, Linga Acácio e Trojany, Marta Neves, Pedro Moraleida, Regina Parra, Sara Ramo, Thiago Martins de Melo, Walter Firmo.

Classificação indicativa: mão recomendado para menores de 18 anos. Esta exposição contém imagens com teor sexual, sexo explícito e nudez. Acesso mediante a presença do responsável ou acompanhante com autorização por escrito.

Diálogos com Calder.

26/mar

A Central em parceria com Eliana Finkelstein apresenta, a partir do dia 29 de março, a exposição coletiva “Sopra a ave-do-paraíso, voa longe a viúva negra” no primeiro andar e no mezanino do Instituto dos Arquitetos do Brasil de São Paulo (IABsp) e, em exibição até 17 de maio..

Convidada por Eliana e Fernanda Resstom, fundadora e diretora da Central, Galciani Neves realiza a curadoria da mostra que articula obras de mais de 20 artistas que tecem diálogos, relações e elucubrações acerca da Viúva Negra (1948), de Alexander Calder (1898-1976). O móbile, doado pelo artista ao IABsp, é parte da coleção do Instituto e, assim como o edifício, é tombado como patrimônio cultural pelo IPHAN.

“A história de uma obra de arte acumula os registros sobre as vezes que ela foi exibida; os textos sobre ela escritos; as experiências e acontecimentos que sua aparição e circulação geraram. Essas vibrações, por vezes, colocam a obra em uma espécie de presente expandido no tempo, sempre atualizando-a e incansavelmente nos surpreendendo. Admitindo que todas essas possíveis e incontáveis experiências diante de uma obra são contribuições à sua reflexão, essa mostra articula, com esta perspectiva, as obras como uma espécie de sopro que junto com o público e com a efervescência do centro de São Paulo movem a Viúva Negra, animando-lhe de tempos e sensações do agora e lhe dando as tantas “formas fugidias”, como nos disse Sartre sobre Calder” conta a curadora.

Em comum e de muitas maneiras, os trabalhos contemporâneos que integram a exposição são produzidos por meio de materiais e processos que dialogam com formas não-humanas e são, assim, modos de pensar o mundo e seus habitantes.

“Responder pela palavra que dá título à obra, pelas intencionalidades que vislumbrava o artista e pela linguagem que experimentou nos pareceu uma estratégia para lidar com a onipresença e com a movência desse trabalho no espaço do IABsp, como modos de ler o trabalho à luz do nosso tempo e também para perceber como artistas contemporâneos se engajam em questões vizinhas, gerando, assim, afinidades poéticas com o móbile do artista estadunidense.” conclui Galciani Neves.

Alexander Calder, Alice Shintani, Aycoobo, Bozó Bacamarte, Carmela Gross, Carmézia Emiliano, Cleiber Bane e Cleudon Sales Txana Tuin – MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin), Darks Miranda, Davi de Jesus do Nascimento, Diambe, Erika Malzoni, Gilvan Samico, Heloisa Hariadne, Kimi Nii, Liuba Wolf, Mariana Rocha, Mayawari Mehinako, Melissa Stabile de Mello, Nilda Neves, Niobe Xandó, Rayana Rayo, Selva de Carvalho, Véio.

Roberto Magalhães no Paço Imperial.

20/mar

Xilogravuras em uma coleção

Roberto Magalhães: xilogravuras da Coleção Mônica e George Kornis

Comemorar. Sempre. E com a alegria proporcionada por múltiplas comemorações, melhor ainda. Isso porque, ao mesmo tempo que o Paço Imperial completa e festeja seus 40 anos de presença ativa na cena artística e cultural do Rio de Janeiro, o artista plástico Roberto Magalhães completa 85 anos de vida, e celebra sete décadas de produção em arte – gravuras, desenhos e pinturas – que construíram uma obra extensa e qualificada. E com imensa satisfação, a Coleção Mônica e George Kornis comemora os 30 anos da sua primeira exposição, intitulada O papel da coleção – desenhos e gravuras da Coleção Mônica e George Kornis nesse mesmo Paço Imperial. Na ocasião, trabalhos de Roberto Magalhães foram exibidos, com destaque para sua obra em xilogravura, que integrava nossa coleção desde os seus primórdios, em meados dos anos 1970.

Potência. Essa é a palavra-chave desta exposição que revela, de modo claro, a envergadura das cerca de 100 obras em xilogravura produzidas em um curto e intenso período de tempo (1963-1966), quando Roberto Magalhães já era reconhecido como artista, na plenitude de seus 20 e poucos anos. Sua primeira mostra individual de desenhos aconteceu na Galeria Macunaíma da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), em 1962. A partir de 1963, Roberto começou a frequentar o curso de gravura da ENBA, quando tomou contato, através da biblioteca da escola, com as obras de Durer e Rembrandt, entre as de outros autores. Em 1964, expôs xilogravuras na prestigiosa Petite Galerie (RJ). Nesse mesmo ano, participou da Primeira Exposição da Jovem Gravura Nacional, realizada no Museu de Arte Contemporânea da USP; da IV Bienal de Gravura em Tóquio; e também da mostra Brazilian Art Today, realizada na Royal Academy of Arts, em Londres. Em 1965, além de receber o Prêmio de Viagem ao Exterior (com duração de dois anos) no XV Salão Nacional de Arte Moderna/RJ, foi contemplado com o Prêmio de Gravura na IV Bienal de Paris, premiação importante para a história da gravura brasileira. Ainda em 1965, participou da icônica mostra Opinião 65, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ). Juntamente com os também jovens Antônio Dias, Carlos Vergara e Rubens Gerchman, entre outros artistas nacionais e estrangeiros, essa exposição apontava para uma ruptura no panorama artístico do país, e afirmava a presença de uma nova figuração no campo das artes plásticas. Dois anos depois, esse quarteto integrou a também icônica mostra intitulada Nova Objetividade Brasileira, no mesmo MAM-RJ, sendo que, em 1966, a Galeria G-4, no Rio de Janeiro, exibira suas obras, juntamente com trabalhos de Pedro Escosteguy. Em 1967, Roberto seguiu para Paris em função do prêmio obtido de viagem ao exterior.

Além de potência: intensidade. A obra em xilogravura de Roberto Magalhães, composta, segundo ele próprio, por 100 obras foi produzida em apenas três anos! Ele mesmo revela em entrevistas desconhecer a razão de ter interrompido seu trabalho em xilogravuras, apesar de ter aprofundado ao longo desses anos um amplo conhecimento da história da gravura no Ocidente. Esse final, súbito e surpreendente, deixa uma certa aura de mistério diante da obra gráfica absolutamente singular desse artista carioca, nascido em 1940 na Ilha do Governador.

A quase totalidade da produção de Roberto Magalhães em xilogravura está exibida nesta mostra, que inclui ainda uma matriz e sua impressão em papel de arroz. A presença em nossa coleção de outras obras do artista produzidas em outras técnicas, na mesma década de 1960 – pintura a óleo sobre tela (1961), desenho em grafite (1962) e pintura sobre papel em nanquim com pó de café solúvel, que atuava como substituto do caro e importado vieux-chêne (1964) – pretende aqui revelar o pensamento artístico de Roberto Magalhães expresso nas várias técnicas que dominou, e que permanece, a partir dos anos 1970 até hoje, com foco no desenho e na pintura.

Não há uma ordem cronológica na exibição dessas xilogravuras. Com a força do preto e branco, muito ocasionalmente interrompido pela cor vermelha, agrupam-se retratos e autorretratos, rodas que sugerem movimento, cenas de batalhas, figuras humanas que se confundem com animais, em meio a um peculiar senso de humor e sátira, reforçado pelos títulos que confere a seus trabalhos. Estamos diante de uma singular figuração que, com uma dicção própria, constrói um imaginário denso e complexo, por vezes violento. Um mundo de tormentos, fantasmagórico.

Dos desenhos e caricaturas que Roberto Magalhães produziu desde a adolescência, até os desenhos e pinturas que produz até hoje, destacamos nesta mostra três anos de uma produção em xilogravura absolutamente autoral e consistente que, com energia, resiste ao tempo. Já se passaram 14 anos da realização da uma mostra de um conjunto expressivo de desenhos a nanquim e xilogravuras do artista na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, intitulada Roberto Magalhães – PretoBranco 1963-1966. O Paço Imperial felizmente rompe esse silêncio com a realização desta exposição, que pretende ampliar o acesso ao conhecimento de parte expressiva da obra desse artista, além de disponibilizar ao público uma parte de nossa coleção de arte em papel. Uma iniciativa artística e cultural a ser comemorada. E parabéns, Roberto!

Mônica e George Kornis

Até 22 de maio.

 

Os 4 de Bagé em Brasília.

11/mar

A Caixa Cultural Brasília e a Fundação Iberê Camargo apresentam o legado do Grupo de Bagé. Mostra com mais de 180 obras de Carlos Scliar, Danúbio Gonçalves, Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti, abre no dia 18 de março e permanecerá em cartaz até 29 de junho.

Uma trincheira em defesa da liberdade na arte e na vida, cavada com as armas da inteligência e do bom humor na região sul do Rio Grande do Sul e conectada com os principais polos culturais do país. É o que caracteriza o legado de Pedro Wayne (1904-1951), escritor, poeta e jornalista e agitador cultural com enorme capacidade de articulação, inclusive nacional. Baiano que passou a infância em Pelotas, na metade sul do Rio Grande do Sul, chegou em Bagé em 1927, e lá exerceu uma extensa gama de atividades. Carlos Scliar (1920-2001), que tinha parentes morando em Bagé e ideias semelhantes às de Pedro Wayne, frequentava sua casa e o tinha como bom amigo.

Foi em torno deste importante personagem da cultura local que, na metade da década de 1940, Glauco Rodrigues (1929-2004) e Glênio Bianchetti (1928-2014), com 16 e 17 anos respectivamente, começaram a desenhar e a pintar. Pedro Wayne “adotou os guris” e mostrou a eles o que havia de mais avançado nas artes visuais na Europa. Mais tarde, o escritor introduziu Danúbio Gonçalves (1925-2019) ao “ateliê”, que trouxe para o Grupo, a partir de sua experiência na França. Já a influência da pintura moderna veio com a passagem do artista carioca José Moraes, que ficou um período na cidade quando ganhou uma bolsa de viagem de estudos.

Carlos Scliar, quando voltou de sua estada na Europa e participação na II Guerra Mundial, se interessou pelo movimento daqueles jovens e passou a frequentar, e praticamente liderar as atividades do Grupo interessados em realizar uma crítica social, levando-os a se envolver, na década de 1950, na criação do Clube de Gravura de Porto Alegre (1950) e do Clube de Gravura de Bagé (1951).

Inspirados no movimento do Taller de Gráfica Popular do México, os Clubes (que posteriormente foram unidos) criaram um importante e independente sistema de divulgação dos artistas regionais. Contar essa história é o objetivo principal da exposição. A versatilidade e a rica produção dos quatro artistas serão exibidas através de gravuras, pinturas, aquarelas e capas de revistas, a partir de novas leituras e percepções acerca do trabalho do Grupo. Com curadoria de Carolina Grippa e Caroline Hädrich, a exposição reúne mais de 180 itens como obras, ilustrações dos clubes de gravura de Bagé e de Porto Alegre, além de exemplares raros das revistas Horizonte, Senhor.

Sobre os artistas.

Carlos Scliar (1920-2001) – Nasceu em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul, e foi ainda pequeno para Porto Alegre, onde, com 11 anos, colaborou com as seções infanto-juvenis de jornais locais e, mais tarde, frequentou o departamento gráfico da Revista do Globo. Em 1940, foi para São Paulo e começou a fazer parte da Família Artística Paulista, mas após quatro anos foi para a Itália a serviço da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial, entre 1958 e 1961, trabalhou como diretor artístico na Revista Senhor. Comprou, em 1964, um sobrando em Cabo Frio, RJ, onde morou e trabalhou por quarenta anos. No ano de seu falecimento, foi criado o Instituto Cultural Carlos Scliar, na cidade de Cabo Frio, e seu acervo se encontra atualmente tombado pela municipalidade.

Danúbio Gonçalves (1925-2019) – Nasceu em Bagé, fazendo parte de uma tradicional família de estancieiros da campanha. Aos sete anos, partiu para o Rio de Janeiro onde mais tarde teve aulas no ateliê de Cândido Portinari, manteve contato com outros pintores modernistas e participou de diversas edições do Salão Nacional de Belas Artes, recebendo prêmios e menções honrosas. Em 1950, foi estudar em Paris. Com um espírito imbuído dos ideais revolucionários e uma ligação com o Partido Comunista, Danúbio Gonçalves voltou ao Brasil e se juntou a Carlos Scliar, Glênio Bianchetti e Glauco Rodrigues, formando o Clube de Gravura de Porto Alegre e, posteriormente, o de Bagé. A partir de 1962, a convite do escultor Francisco Stockinger, passou a trabalhar no Ateliê Livre da Prefeitura de Porto Alegre, chegando a ser diretor. Lá, durante trinta anos ensinou litografia (técnica que aprendeu com Marcelo Grassmann, em 1962) e formou muitos artistas gravadores, atualmente reconhecidos no âmbito regional e nacional.

Glaudo Rodrigues (1929-2004) – Nasceu em Bagé e foi colega de escola de Glênio Bianchetti, com quem dividiu o interesse pela pintura. Recebeu ensinamentos sobre pintura de José Moraes e aproximou-se da gravura e, junto com Glênio, Danúbio e Scliar fundou, em 1951, o Clube de Gravura de Bagé e iniciaram suas viagens de estudos a estâncias da região. Com a união do Clube de Bagé ao de Porto Alegre, Glauco mudou-se para a capital gaúcha e, depois, em 1958, seguiu para o Rio de Janeiro.  Glauco Rodrigues participou da primeira Bienal de São Paulo, entrou na equipe da revista Senhor e começou a sua produção abstrata, que perdurou por 10 anos. Em 1962, viajou a Roma a convite do embaixador Hugo Gouthier para trabalhar no setor gráfico da embaixada brasileira, e ficou alguns anos na Itália. Nesse período, participou da delegação brasileira na Bienal de Veneza (1964), no mesmo ano em que os estadunidenses chamaram atenção pela sua produção pop. Retornou ao Brasil em 1966 e, aos poucos, a figuração voltou à sua obra, que seguiu até a sua morte.

Glênio Bianchetti (1928-2014) – Nasceu em Bagé, oriundo de uma família ligada ao comércio na cidade. Foi a mãe de sua namorada, Ailema (com quem posteriormente casou-se), que passou ensinamentos iniciais de pintura para ele e Glauco Rodrigues, que depois foram aperfeiçoados com a chegada de José Moraes a Bagé. Interessado pela pintura, ingressou no Instituto de Belas Artes em Porto Alegre no ano seguinte – mas não chegou a finalizar o curso.   Fundou, em 1951, ao lado de Glauco Rodrigues, Danúbio Gonçalves e Carlos Scliar, o Clube de Gravura de Bagé, tendo Bianchetti a maior produção de gravuras da época. Na década de 1960, mudou-se com sua família para Brasília (cidade onde viveu o resto de sua vida), devido ao convite de Darcy Ribeiro para lecionar na recém-inaugurada Universidade de Brasília, mas sendo afastado devido à perseguição na ditadura militar, sendo reintegrado apenas em 1988. Atualmente, sua casa-ateliê, com seu grande acervo, é mantida por sua família.

Ars, Artis. Techne, Digitalis.

10/mar

O marchand Sergio Gonçalves abre exposição coletiva que aborda mídias digitais nos trabalhos de artistas brasileiros e estrangeiros. Vem do latim o nome da mostra que será apresentada a partir do dia 11 de março na Sergio Gonçalves Galeria, em uma casa na Alameda Gabriel Monteiro, Jardim América, São Paulo, SP.

“Ars, Artis. Techne, Digitalis.” segue o tema da edição deste ano da DW – Design Week de São Paulo,  “Mãos x Máquina”, destacando a interação entre tecnologia e criatividade na produção artística e no design contemporâneo. Nessa exposição, o marchand Sergio Gonçalves reúne artistas cujas obras provocam a reflexão sobre o impacto das mídias digitais nos tempos atuais. Em sua primeira participação na DW, a galeria reforça sua posição como um espaço de experimento na Arte Contemporânea, abrindo as portas para novas narrativas visuais, sempre em busca de inovação. Nesta curadoria, ele selecionou artistas que experimentaram e que ainda experimentam novas maneiras de expressão, unindo arte e tecnologia e criando um diálogo entre o toque humano e a precisão das máquinas. Nomes como Abraham Palatnik, Cruz-Diez e Martha Boto, por exemplo, que foram pioneiros com o uso de inovações, fazem parte desta seleção apurada, que conta ainda com Bruce Maclean, Julian Opie, Michael Craig-Martin, Vik Muniz e Toyota.

A palavrado curador.

Nosso objetivo é mostrar que, longe de substituir o artista, a tecnologia poder ser uma extensão da criativadade humana, ampliando possibilidades e transformando a maneira como percebemos a Arte e o Design, por exemplo.

Artistas participantes.

Abraham Palatnik, Alexandre Mazza, Bernard Pras, Bernardo Mora, Bruce Mclean, Catherine Yass, Cruz-Diez, Duda Rosa, Iván Navarro, Jê Américo, Julian Opie, Julio Le Parc, Martha Boto, Marcelo Magnani, Michael Craig-Martin, Sarah Morris, Vik Muniz, Yutaka Toyota.

Até 22 de março.