Os 50 anos das Cosmococas

17/mar

O Projeto Hélio Oiticica, em colaboração com a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, instalou, na histórica piscina do Parque Lage, hoje, a Cosmococa/CC4 Nocagions (1973). O evento festivo, gratuito, abriu as comemorações dos 50 anos da criação – por Hélio Oiticica e Neville de Almeida – das Cosmococas, que serão realizadas em várias cidades, no Brasil e no exterior, o Cosmococa World Tour.

No dia 13 de março de 1973, o artista Hélio Oiticica (1937-1980) e o cineasta Neville D’Almeida (1941) iniciaram uma colaboração inusitada, e criaram uma série de instalações pioneiras (Quasi-Cinemas), que chamaram de Cosmococas – Programa in Progress, com projeções, trilhas sonoras e proposições para o espectador, elemento ativo, integrante do trabalho.

Cosmococa/CC4 Nocagions (1973/2023) é constituída por dois projetores digitais, trilha sonora de John Cage (1912-1992) e slides.  Duas telas, colocadas em bordas opostas da piscina, exibiram imagens do livro “Notations” (Notações, em inglês), de John Cage, com uma coleção de seus manuscritos musicais. Sobre a capa do livro, Hélio Oiticica e Neville de Almeida fizeram intervenções, as “mancoquilagens”.

O trabalho convidava o público a entrar na piscina, que recebeu uma luz verde formando um padrão geométrico. A obra foi dedicada aos poetas concretos Augusto e Haroldo de Campos. Em 2013, a CC4 Nocagions foi a sensação da Berlinale, o Festival Internacional de Cinema, em Berlim.

Hélio e Neville haviam planejado fazer um filme, e em 1973, em um encontro em Nova York, desenvolveram uma série de slides, onde a câmera fotográfica foi usada como filmadora, o Quasi-Cinema. Na montagem, eles usaram as imagens com duração de alguns segundos, ao contrário das habituais 24 imagens por segundo do cinema. O tempo da obra fica então dilatado, exigindo uma atenção maior do público, que assim se torna ferramenta fundamental no trabalho.  “Dessa forma, a Cosmococa é precursora dessa participação em meio cinematográfico das mídias no século 20″, destaca César Oiticica Filho, que coordena o Projeto Hélio Oiticica.

34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto

15/dez

 

Abertura da 34ª Bienal em Arles, na França com obras de Regina Silveira, Noa Eshkol, Carmela Gross e Daiara Tukano, artistas que estarão na itinerância da 34ª Bienal de São Paulo em Arles.

No dia 16 de dezembro, o programa de mostras itinerantes da “34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto” desembarca em seu último destino: a cidade de Arles. A exposição fica em cartaz até 05 de março de 2023 e foi realizada e produzida pela Fundação Bienal de São Paulo em parceria com o LUMA Arles, com apoio da Fundação ENGIE.

A mostra, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti e Vassilis Oikonomopoulos, é organizada a partir dos enunciados “A ronda da morte de Hélio Oiticica”, “Cantos Tikmũ’ũn”, “O sino de Ouro Preto” e “Os retratos de Frederick Douglass” e conta com trabalhos de Alice Shintani, Amie Siegel, Carmela Gross, Daiara Tukano, Gala Porras-Kim, Jaider Esbell, Manthia Diawara, Naomi Rincón Gallardo, Noa Eshkol, Regina Silveira, Seba Calfuqueo, Sueli Maxakali, Victor Anicet e Zózimo Bulbul. Na abertura da exposição e no dia seguinte, Seba Calfuqueo realizará uma performance inédita. Não deixe de conferir o registro em nossas redes sociais.

O LUMA Arles é localizado no Parc des Ateliers, um parque industrial construído no século 19 voltado à manutenção e construção de locomotivas. Remodelado, desde 2013 ele é voltado a atividades culturais.

Saiba tudo sobre as itinerâncias em nosso site.
34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto
Programa de mostras itinerantes

LUMA Arles
Arles (França)
16 de dezembro de 2022 – 05 de março de 2023
Les Forges, Parc des Ateliers
35 avenue Victor Hugo
13200 Arles

Iberê no Festival de Cinema de Gramado

20/jul

 

 

O filme em curta-metragem sobre a produção de Iberê Camargo será exibido no Festival de Cinema de Gramado. O documentário “Tudo permanece em constante movimento”, da artista visual Cristine de Bem e Canto, foi selecionado para o 50° Festival de Cinema de Gramado, na categoria Curta-metragem Gaúcho. Com sete minutos de duração, o filme será exibido no dia 14 de agosto, no Palácio dos Festivais, com entrada gratuita.

 

O filme nasceu a partir da participação da artista no XVI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, cujo resultado pode ser conferido no Google Arts & Culture da Fundação Iberê Camargo, instituição parceira do projeto “Iberê Camargo: um corpo fotográfico”.

 

Em 1992, ao acompanhar a produção de guaches das séries “Andando contra o vento” (1993) e “O homem da flor na boca – um ato de amor à vida” (1992) e da pintura “Tudo te é falso e inútil V” (1993), no ateliê da rua Alcebíades Antônio dos Santos, Cristine produziu aproximadamente 500 fotogramas em preto e branco. As imagens ficaram guardadas durante 30 anos e foram retomados em 2022 para a produção de um livro digital.

 

Com o transcorrer do tempo, essas fotografias revelaram uma nova potência: ao dedicar-se a transposição do analógico para o digital, no tratamento das imagens, a artista percebeu a integração do corpo do pintor com o próprio corpo da pintura e, também, do espaço que ambos habitavam.

 

“Porque tu tiras tantas fotos?” – perguntou Iberê a Cristine. Esta resposta só viria décadas depois: para colocar o corpo do pintor uma vez mais em movimento. Para isso, ela precisou também da animação que o vídeo possibilita. Aliado ao trabalho de design de som, que reforça a corporificação do espaço e seus afetos, assim surgiu o documentário. No tratamento das fotografias, alguns movimentos e gestos de Iberê Camargo quase imperceptíveis – como abrir e fechar a boca, para assimilar a mesma expressão de seu modelo, foram reativados na sequência animada das fotografias.

 

Cem anos de Pasolini no CCBB

29/jun

 

 

Uma história extraordinária em imagens e palavras, composta por mais de 70 fotografias em preto e branco feitas por Pier Paolo Pasolini e Paolo Di Paolo, muitas delas inéditas, textos de Pier Paolo Pasolini, vídeos, material de arquivo e documentos jornalísticos. No ano em que Pier Paolo Pasolini completaria 100 anos, o Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro traz para o Brasil a exposição itinerante “Por uma longa estrada de areia – La lunga strada di sabbia”, sob curadoria de Silvia Di Paolo, filha de Di Paolo, que conduzirá uma visita guiada no dia da abertura, 02 de julho, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ. A mostra já percorreu Lisboa e Copenhague e depois segue para Santiago e Telaviv. Uma curiosidade: o acervo de Paolo Di Paolo permaneceu escondido durante decênios, perfeitamente conservado, até ser descoberto pela filha Silvia, no início dos anos 2000.

 

Um acordo entre o Ministério das Relações Exteriores da Itália e a Fundação Archivio Di Paolo possibilitou a itinerância da exposição pelo mundo, com a colaboração dos Institutos Italianos de Cultura.

 

“Pier Paolo Pasolini, em suas múltiplas facetas, é uma figura de extrema importância intelectual e artística para o Brasil. Em particular, na sua atuação como cineasta, como demonstram suas relações com alguns protagonistas do Cinema Novo e o fato de ser, ainda hoje, fonte de inspiração para os diretores brasileiros. É na relação com a imagem, unidade básica do cinema, que Pasolini amplia exponencialmente suas ferramentas expressivas e, como ele mesmo afirmou numa entrevista, consegue libertar-se dos limites da língua italiana e abrir-se para uma forma de comunicação universalmente válida. Por isso é para nós de grande relevância trazer duas iniciativas culturais que têm a imagem como meio expressivo, a imagem fotográfica, na exposição “Por uma longa estrada de areia”, e a imagem fílmica, na mostra “O Cinema Segundo Pasolini”. A exposição, através das fotografias de Paolo di Paolo e dos textos de Pasolini, nos acompanha numa interessante viagem pela a Itália do boom econômico, a mesma que, nas suas dinâmicas sociopolíticas e culturais, estimulou uma parte substancial do pensamento crítico do escritor. Acreditamos que o cruzamento das duas linguagens, o fotográfico-jornalístico e o fílmico, na programação que o Instituto Italiano de Cultura, em parceria com o CCBB, oferece ao público brasileiro no mês de julho, possa permitir um aprofundamento ainda maior da atuação desse importantíssimo intelectual e artista”, diz Livia Raponi, diretora do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro.

 

Programação

 

A programação inclui uma retrospectiva cinematográfica composta pelo ciclo “O Cinema Segundo Pasolini” e a estreia nacional do filme-documentário Il Giovane Corsaro (O Jovem Corsário) de Emilio Marrese, Itália, 2022, além de debates. A agenda abre no dia 2, no cinema do CCBB, com “Accattone – Desajuste social” (1961) e segue com “Il Vangelo Secondo Matteo – O Evangelho Segundo São Mateus” (1964), “Mamma Roma” (1962), “Uccellacci e Uccellini – Gaviões e Passarinhos” (1966), “Edipo Re – Rei Édipo” (1967), até o dia 10 de julho. Ainda neste ciclo, haverá a exibição de “Comizi D’amore – Comícios De Amor” (1965), no Instituto Italiano de Cultura. Dentro da comemoração do centenário de Pasolini está previsto ainda outro ciclo de exibições intitulado “Caro Pier Paolo”, na Cinemateca do MAM, que deverá acontecer no final do mês.

 

Contexto histórico remete ao início do milagre econômico

 

Arturo Tofanelli, diretor das revistas mensal Successo e Tempo (semanal), confia a Pier Paolo Pasolini e a Paolo Di Paolo, que até então não se conheciam, uma reportagem sobre as férias de verão dos italianos, publicada em três capítulos na revista Successo, em 1959. O contexto histórico da exposição remete ao início do milagre econômico, quando a Itália tentava esquecer a miséria causada pela guerra e procurava um novo conceito de bem estar. O escritor e o fotógrafo partiram para uma longa viagem de carro com a ideia de atravessar a Itália ao longo da costa, de Tirreno ao Adriático, de ponta a ponta, para documentar o árduo caminho para o “progresso” e as contradições que este desencadeou. Nasceu assim uma parceria complexa e delicada entre os dois intelectuais, que se consolidou no respeito mútuo e na confiança.  “Pasolini procurava um mundo perdido de fantasmas literários, uma Itália que já não existia”, recorda Di Paolo. “Eu procurava uma Itália que olhasse para o futuro.” Cada imagem é uma história contada com cuidado fotográfico e realismo. Embora os temas sejam majoritariamente imortalizados durante umas férias à beira-mar, muitas das fotografias contrastam com uma condição de pobreza ligada a um passado recente. Na Itália da época, biquínis e calções, símbolos da emancipação feminina, coexistem com véus escuros cheios de pesar; o contraste entre os relaxados turistas de férias, desinibidos e emancipados e a população local é muitas vezes evidente. Uma viagem para redescobrir como era a Itália da época, para comparar sonhos, contradições, ilusões presentes e passadas, ao longo da perene estrada de areia.

 

Sobre a curadora

 

Silvia Di Paolo nasceu em Roma, em 1977. Depois de ter conseguido o diploma Artístico experimental em uma escola de Graphic Design cura como Art Director e Designer projetos editoriais, publicitários e de comunicação. Em 2011, funda o site Supernature Visionary Unlimited iniciando novas colaborações na indústria cinematográfica e da moda para a pesquisa de imagens, a criação de moodboards e tratamentos visivos para os roteiros. Em 2017, recebe do pai a doação de seu arquivo fotográfico, que ela mantém como curadora e arquivista.

 

Abertura: dia de 02 de julho, sábado, às 17h.

02, 03, 08, 09 e 10 de julho, às 18h.

Visitação: de 03 de julho a 02 de agosto.

 

 

Fundação Iberê exibe Xadalu Tupã Jekupé

05/mai

 

 

Fundação Iberê aborda o apagamento da cultura indígena

 

 

“Vamos caminhar sobre os raios do sol

Vamos caminhar sobre o som do trovão

Vamos caminhar sobre as palavras no tempo

Vamos caminhar sobre a bruma de fumaça

Vamos caminhar todos juntos

Vamos caminhar todos juntos

Ao alcançar a terra sem males todos iremos nos alegrar

Todos iremos nos alegrar”

Xadalu Tupã Jekupé

 

 

No dia 14 de maio, sábado, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura uma exposição inédita de Xadalu Tupã Jekupé, “Antes que se apague: territórios flutuantes”. Com curadoria de Cauê Alves, curador-chefe do MAM de São Paulo, a primeira individual do artista na instituição é, também, mais do que arte; aborda a questão do apagamento da cultura indígena na região oeste do Rio Grande do Sul, onde diversas etnias foram dizimadas. “O trabalho de Xadalu nos abre uma perspectiva da história a partir da visão dos que perderam as batalhas. Não apenas a Guerra Guaranítica, mas também as pequenas batalhas cotidianas, aquelas que silenciosamente vão sendo travadas e talvez nem sejam percebidas como uma batalha por quem venceu. Contribui para que outro modo de vida ganhe visibilidade e possa se tornar possível. Numa época em que as mudanças climáticas afetam a todos, a promessa de uma nova relação com a terra, antes que ela se apague completamente, só se cumprirá quando os saberes dos povos originários forem respeitados”, destaca Cauê.

 

 

“Antes que se apague: territórios flutuantes” apresenta 19 obras, que ocuparão o segundo andar da Fundação. Quatorze delas foram produzidas para esta mostra. Além do tamanho, que vem justamente para impactar, elas são memórias da infância de Xadalu Tupã Jekupé, bem como de sua mãe, de sua avó e de sua bisavó, na antiga Terra Indígena Ararenguá, na beira do Rio Ibirapuitã, em Alegrete. Memórias da casa de barro, sem luz elétrica, do fogo de chão e da pesca. Memórias das águas geladas que atravessavam todos os dias em busca de alimento e das infinitas noites escuras, apenas iluminadas pelas estrelas.

 

 

Como escreve Cauê para o catálogo da exposição: “Quando Xadalu demarca Porto Alegre, com seus adesivos, cartazes, pinturas ou bandeiras, como “área indígena”, está completamente correto do ponto de vista histórico. Todo o Brasil já foi território indígena. Mais do que a reinvindicação do direito ao território, trata-se de uma reocupação simbólica dele. Uma espécie de reconquista que não é como a conquista colonial, que explora e destrói a terra, seja pelo garimpo, a monocultura ou a construção de cidades e monumentos, mas de modo singelo, chamando atenção para quem sempre esteve ali, sentado, resistindo, mas que foi praticamente apagado, como se os indígenas tivessem perdido sua visibilidade. É inegável que os lambes de Xadalu tencionam o espaço urbano ao agir sobre a noção de pertencimento, exclusão e demarcação simbólica da cidade.” Segue ele: “O trabalho de Xadalu Tupã Jekupé contribui para que outro modo de vida ganhe visibilidade e possa se tornar possível. Numa época em que as mudanças climáticas afetam a todos, a promessa de uma nova relação com a terra, antes que ela se apague completamente, só se cumprirá quando os saberes dos povos originários forem respeitados”.

 

 

Sobre a curadoria

 

 

Cauê Alves é doutor em Estética e Filosofia da Arte e, desde 2020, curador-chefe do MAM São Paulo. Professor do Departamento de Artes da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC-SP, onde também foi coordenador do curso de Arte: História, Crítica e Curadoria. Durante 11 anos, também foi professor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

 

 

Prêmio PIPA 2022

 

 

Pela primeira vez, Xadalu Tupã Jekupé é indicado ao Prêmio PIPA 2022, um dos mais relevantes prêmios brasileiros de artes visuais. Neste ano, fazem parte do Comitê de Indicação 25 nomes, formado por críticos e curadores, artistas, colecionadores e professores de todas as regiões do país.

 

 

Exibição de documentário em diálogo com a exposição

 

 

No dia 14 de maio, sábado, às 16h30, a Fundação Iberê Camargo exibe o episódio de Xadalu Tupã Jekupé para o documentário “Misturados”, seguido de um bate-papo sobre a produção com os diretores Luiz Alberto Cassol e Richard Serraria, o artista e Cauê Alves, curador da exposição “Antes que se apague: territórios flutuantes”.

 

 

A web série fala das influências e das trocas culturais presentes na vida e na obra de sete artistas nas áreas da música, do cinema, da literatura e das artes visuais que vivem no Rio Grande do Sul. A concepção de diversidade contida neste projeto é viva e inovadora, pois reconhece a equidade de etnias e de gênero e destaca significativas contribuições do patrimônio histórico e cultural do Estado, sem separar as culturas “em caixinhas” e sem manter os artistas em territórios isolados. A realização de “Misturados” é da Leososamusica Produções Musicais, com roteiro e direção de Luiz Alberto Cassol, Ricardo Almeida e Richard Serraria. A produção executiva é de Leo Sosa e a produção-geral de Ricardo Almeida.

 

 

A Fundação Iberê tem o patrocínio de Crown Brand-Building Packaging, Grupo Gerdau, Renner Coatings, Grupo Iesa, Grupo Savar, Grupo GPS, CEEE-D Equatorial Energia, DLL Group, Lojas Renner, Sulgás e Unifertil, e apoio de Instituto Ling, Ventos do Sul Energia, Dell Technologies, Digicon/Perto, Golden Lake Multiplan, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, com realização e financiamento da Secretaria Estadual de Cultura/ Pró-Cultura RS e da Secretaria Especial da Cultura – Ministério da Cidadania / Governo Federal.

 

 

De 14 de maio a 31 de julho.

 

Retrospectiva de Walter Firmo

20/abr

 

 

A sede de São Paulo do Instituto Moreira Salles apresenta a exposição “Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito”. A retrospectiva traça um panorama da obra do fotógrafo, marcada, sobretudo, pelas imagens que retratam e exaltam a população e a cultura negra do país. No dia da abertura em 30 de abril, às 11h, haverá um debate presencial com Firmo e os curadores da exposição no cineteatro do IMS Paulista.

 

A curadoria da mostra é de Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do IMS, e da curadora adjunta Janaina Damaceno Gomes, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenadora do Grupo de Pesquisas Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra. A retrospectiva também conta com assistência de curadoria da conservadora-restauradora Alessandra Coutinho Campos e pesquisa biográfica e documental de Andrea Wanderley, integrantes da Coordenadoria de Fotografia do IMS.

 

A seleção ocupa dois andares do centro cultural e reúne cerca de 266 fotografias, produzidas desde a década de 1950, no início da carreira do artista, até 2021. A mostra traz imagens de diversas regiões do Brasil, com registros de ritos, festas populares e cenas cotidianas. O conjunto destaca a poética do artista, associada à experimentação e à criação de imagens muitas vezes encenadas e dirigidas. Grande parte das obras exibidas provém do acervo do fotógrafo, que se encontra sob a guarda do IMS desde 2018 em regime de comodato.

 

Nascido em 1937 no bairro do Irajá, Rio de Janeiro, criado no subúrbio carioca, filho único de paraenses – seu pai, de família negra e ribeirinha do baixo Amazonas; sua mãe, de família branca portuguesa, nascida em Belém -, Firmo começou a fotografar cedo, após ganhar uma câmera de seu pai. Em 1955, então com 18 anos, passou a integrar a equipe do jornal Última Hora, após estudar na Associação Brasileira de Arte Fotográfica (Abaf), no Rio. Mais tarde, trabalharia no Jornal do Brasil e, em seguida, na revista Realidade, como um dos primeiros fotógrafos da revista. Em 1967, já trabalhando na revista Manchete, foi correspondente, durante cerca de seis meses, da Editora Bloch em Nova York. Neste período no exterior, o artista teve contato com o movimento “Black is Beautiful” e as discussões em torno dos direitos civis, que marcariam todo seu trabalho posterior. De volta ao Brasil, trabalhou em outros veículos da imprensa e começou a fotografar para a indústria fonográfica. Iniciou ainda sua pesquisa sobre as festas populares, sagradas e profanas, em todo o território brasileiro, em direção a uma produção cada vez mais autoral.

 

A mostra apresenta sua obra fotográfica a partir de sete núcleos temáticos. No primeiro, o público encontra cerca de 20 imagens em cores de grande formato, produzidas pelo fotógrafo ao longo de toda sua carreira. Há fotos feitas em Salvador, BA, como o registro de uma jovem noiva na favela de Alagados, de 2002; em Cachoeira, BA, como o retrato da Mãe Filhinha (1904 – 2014), que fez parte da Irmandade da Boa Morte durante 70 anos; e em Conceição da Barra, ES, onde o fotógrafo retratou o quilombola Gaudêncio da Conceição (1928 – 2020), integrante da Comunidade do Angelim e do grupo Ticumbi, dança de raízes africanas; entre outras.

 

Nas fotografias, prevalece uma aura de afetividade e valorização da negritude, como afirma o próprio artista: “Acabei colocando os negros numa atitude de referência no meu trabalho, fotografando os músicos, os operários, as festas folclóricas, enfim, toda a gente. A vertigem é em cima deles. De colocá-los como honrados, totens, como homens que trabalham, que existem. Eles ajudaram a construir esse país para chegar aonde ele chegou.” Em texto publicado no catálogo, Janaina Damaceno Gomes também reflete sobre o tema: “Se numa sociedade racista, a norma é o ódio e o auto-ódio, como nos mostram os trabalhos de bell hooks, Frantz Fanon e Virgínia Bicudo, amar a negritude compreende um percurso necessário de cura. Não é à toa que Firmo define a cor em seu trabalho em termos de amor pelo povo e pela cultura negra, mas é necessário entender que o direito a olhar não se restringe à ideia de autorrepresentação.”

 

O segundo núcleo apresenta a biografia do artista, abordando os seus primeiros anos de atuação na imprensa, quando registrou temas do noticiário, em imagens em preto e branco. O conjunto inclui uma fotografia do jogador Garrincha, feita em 1957; imagens de figuras proeminentes da política nacional, como Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek; além de registros de ensaios de escolas de samba do Rio de Janeiro. Desse período inicial, a mostra também traz fotografias realizadas para a matéria “100 dias na Amazônia de ninguém”, publicada em 1964 no Jornal do Brasil, pela qual Firmo recebeu o Prêmio Esso de Reportagem. Para a matéria, que contou com textos e imagens de sua autoria, o fotógrafo percorreu cidades e povoações ribeirinhas do Amazonas e do Solimões, documentando as paisagens, disputas políticas da região e a população, que incluía alguns de seus familiares.

 

Nas próximas seções, a retrospectiva evidencia como, no decorrer de sua carreira, Firmo passou a se distanciar do fotojornalismo documental e direto, tendo como base a ideia da fotografia como encantamento, encenação e teatralidade, em diálogo com a pintura e o cinema. Sobre seu processo criativo, o artista comenta: “A fotografia, para mim, reside naqueles instantes mágicos em que eu posso interpretar livremente o imponderável, o mágico, o encantamento. Nos quais o deslumbre possa se fazer através de luzes, backgrounds, infindáveis sutilezas, administrando o teatro e o cinema nesse jogo de sedução, verdadeira tradução simultânea construída num piscar de olhos em que o intelecto e o coração se juntam, materializando atmosferas.”

 

Essa aproximação com a teatralização e a pintura fica evidente no ensaio realizado em 1985 com os pais (José Baptista e Maria de Lourdes) e os filhos (Eduardo e Aloísio Firmo) do fotógrafo, exibidos na exposição. Nas imagens, José aparece vestindo seu traje de fuzileiro naval, função que desempenhou ao longo da vida, ao lado de Maria de Lourdes, que usa um vestido longo, florido e elegante. O ensaio faz alusão às pinturas “Os noivos” (1937) e “Família do fuzileiro naval” (1935), do artista Alberto da Veiga Guignard (1896 – 1962).

 

O curador Sergio Burgi comenta a poética construída pelo artista: “Walter Firmo incorporou desde cedo em sua prática fotográfica a noção da síntese narrativa de imagem única, elaborada através de imagens construídas, dirigidas e, muitas vezes, até encenadas. Linguagem própria que, tendo como substrato sua consciência de origem – social, cultural e racial -, desenvolve-se amalgamada à percepção da necessidade de se confrontar e se questionar os cânones e limites da fotografia documental e do fotojornalismo. Num sentido mais amplo, questionar a própria fotografia como verossimilhança ou mera mimese do real.”

 

Como destaque, a exposição apresenta ainda retratos de músicos produzidos por Walter Firmo, principalmente a partir da década de 1970. Nas imagens, que ilustraram inúmeras capas de discos, estão nomes como Dona Ivone Lara, Cartola, Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Djavan e Chico Buarque.

 

Nesse conjunto, está ainda a famosa série de fotografias de Pixinguinha. Em 1967, Firmo acompanhou o jornalista Muniz Sodré em uma pauta na casa do compositor. Após o término da conversa, o fotógrafo pegou uma cadeira de balanço que ficava na sala da residência e a colocou no quintal, ao lado de uma mangueira. Propôs a Pixinguinha que se sentasse nela com o saxofone no colo, no que foi prontamente atendido. Composta a cena, registrou o músico a partir de diversos ângulos, numa série de imagens que se tornaram icônicas.

 

A exposição traz também um ensaio com fotografias do artista Arthur Bispo do Rosário, realizado em 1985 para a revista IstoÉ. As imagens foram feitas na antiga Colônia Juliano Moreira, local onde Bispo do Rosário viveu e criou seu acervo ao longo de cerca de 25 anos ininterruptos. Nas fotografias, o artista aparece com obras suas, como o “Manto da Apresentação”, enquanto confronta o local onde permaneceu confinado por anos. A retrospectiva apresenta diversos registros produzidos durante celebrações tradicionais brasileiras, como a Festa de Bom Jesus da Lapa, a Festa de Iemanjá e o próprio Carnaval do Rio de Janeiro. Há também um núcleo com fotos feitas em outros países, como Cuba, Jamaica e Cabo Verde. Sobre essas imagens, Damaceno comenta: “Mais do que uma memória da nação, o trabalho de Firmo faz parte de um “arquivo fotográfico da diáspora”, que se constitui enquanto patrimônio da história negra global”. Na mostra, o público poderá assistir ainda ao curta-metragem “Pequena África” (2002), do cineasta Zózimo Bulbul, no qual Firmo trabalhou como diretor de fotografia. O filme trata da história da região que dá nome ao título, área da zona portuária do Rio que recebeu inúmeros africanos escravizados.

 

O segundo andar da exposição é dedicado à fotografia de Walter Firmo em preto e branco, uma oportunidade única de compreensão dessa produção, ainda pouco conhecida e em grande parte inédita. Nessa parte, um dos destaques é a série de imagens feitas na praia de Piatã, em Salvador, entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000.

 

Em cartaz até setembro, a exposição contará com uma série de atividades paralelas, que serão divulgadas posteriormente no site do IMS. Ao longo do período expositivo, o público poderá conhecer em profundidade a obra de um dos grandes fotógrafos do país, que até hoje, aos 84 anos, mantém seu compromisso pelo fazer artístico, como afirma em suas próprias palavras: “Aí está o meu relato, a história de uma vida dedicada ao fazer fotográfico, dias encantados, anos dourados. Qual a minha melhor imagem? Certamente aquela que em vida ainda poderei fazer. Emoções, demais.”

 

Sobre o catálogo

 

Por ocasião da mostra, o IMS lançará o catálogo “Walter Firmo – No verbo do silêncio a síntese do grito”. A publicação traz as obras do autor presentes na exposição, além de textos de autoria do próprio Firmo, de João Fernandes, diretor artístico do IMS, e dos curadores Sergio Burgi e Janaina Damaceno Gomes. O livro também traz uma entrevista do fotógrafo em conversa com os curadores e com o jornalista Nabor Jr., editor da revista O Melenick. Segundo Ato, além de uma cronologia do fotógrafo assinada por Andrea Wanderley.

 

Com entrada gratuita, mediante apresentação de comprovante físico ou digital de vacinação contra Covid-19 e documento oficial com foto para todos com mais de 5 anos.

 

Tim Burton em São Paulo

09/abr

 

 

Uma mega exposição sobre o universo criativo de Tim Burton chegou em São Paulo. Os fãs do diretor responsável por obras como “Edward Mãos de Tesoura” e os remakes de “Dumbo”, “A Fantástica Fábrica de Chocolate” e “Alice no País das Maravilhas” poderão mergulhar nessas obras com a mostra “A Beleza Sombria dos Monstros: 13 Anos da Arte de Tim Burton”.

“É a mais abrangente antologia da obra do cineasta nos últimos quarenta anos”, ressalta Jenny He, curadora da exposição, que acompanhou o projeto em cada detalhe. “À medida que o público adentra as imersivas e interativas experiências presentes nas diferentes galerias da exposição, a ilimitada criatividade e prolífica produção artística de Tim Burton se revelam intimamente”, destaca ela.

O evento terá uma área de 2600m² para a exposição, ocupando dois andares da Oca, no Parque do Ibirapuera. O evento ocorre entre os dias 08 de maio e 14 de agosto.

Atividades no Museu do Pontal

06/abr

 

 

Alinhado ao Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, a programação do Museu do Pontal, Rio de Janeiro, RJ, do fim de semana de 26 e 27 de março vai exibir “Cinema de Fachada – Juntos contra o racismo”, com a pré-estreia de “Medida Provisória”, filme de Lázaro Ramos, com Taís Araújo, Seu Jorge e Alfred Enoch – da saga “Harry Potter” e da série “How to Get Away with Murder”. Serão exibidos também os curtas “República”, de Grace Passô, “O Senhor do Trem”, de Aída Queiroz e César Coelho, “Disque Quilombola”, de David Reeks, e “Ibeji Ibeji”, de Victor Rodrigues. Para a exibição dos filmes, o Museu do Pontal transforma a área do estacionamento em um cinema ao ar livre, com o público sentado em cadeiras de praia, e a projeção feita na parede de trás do edifício. “Cinema de Fachada no Pontal” é um projeto idealizado e desenvolvido pelas atrizes Bianca Comparato e Alice Braga, em 2020, e já projetou filmes em prédios em várias cidades brasileiras.

 

No dia 26 de março, sábado, antes e depois do “Cinema de Fachada – Juntos contra o racismo”, haverá apresentações da VJ Luv com Juh Barbosa, do DJ Alexiz BcX, e do MovCrew. E ainda barraquinhas de comidas e bebidas.  A classificação etária do dia 26 de março no “Cinema de Fachada” é de 14 anos. Neste dia, as seis exposições em cartaz – “Novos Ares! Pontal Reinventado” – ficarão abertas até as 22h30. As exposições oferecem obras e jogos interativos para todas as idades, como o jogo digital de danças brasileiras, em que o participante aprende passos de frevo, jongo, carimbó, chula ou funk.

Também no sábado, às 16h, será apresentado o espetáculo infanto-juvenil “Nuang Caminhos da Liberdade”, de Tatiana Henrique.

As tradicionais atividades Visitas Musicadas às exposições e o Baú de Brinquedos Populares continuarão sendo realizadas em horários pela manhã e à tarde, no sábado e no domingo.

Para essas atividades recomenda-se agendamento prévio pela plataforma Sympla https://site.bileto.sympla.com.br/museudopontal/, onde se pode também garantir o ingresso ao Museu do Pontal, gratuito ou com contribuição voluntária.

A programação dos fins de semana do Museu do Pontal em março, mês que celebra os dias internacionais da Mulher (08) e contra a Discriminação Racial (21), foi toda em homenagem a essas importantes lutas.

Centenário da Semana de 22

19/ago

 

 

Celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e lançar luz aos traços, remanescências e conquistas que o movimento trouxe, no decorrer dos últimos 100 anos, às artes plásticas do Brasil e refletir, a partir da atualidade, sobre um processo de rever e reparar este contexto.  Este é o objetivo de “Brasilidade Pós-Modernismo”, mostra que será apresentada entre 01 de setembro e 22 de novembro no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, com patrocínio do Banco do Brasil e realização por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, da Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo e Governo Federal.

 

Com curadoria de Tereza de Arruda, a mostra chama atenção para as diversas características da arte contemporânea brasileira da atualidade cuja existência se deve, em parte, ao legado da ousadia artística cultural proposta pelo Modernismo. Nuances que o público poderá conferir nas obras dos 51 artistas de diversas gerações que compõem o corpo da exposição, entre os quais Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Arnaldo Antunes, Cildo Meireles, Daniel Lie, Ernesto Neto, Ge Viana, Glauco Rodrigues, Jaider Esbell, Rosana Paulino e Tunga.

 

 

“Esta exposição não é idealizada com o olhar histórico, mas sim focada na atualidade com obras produzidas a partir de meados da década de 1960 até o dia de hoje, sendo algumas inéditas, ou seja, já com um distanciamento histórico dos primórdios da modernidade brasileira”, explica Tereza de Arruda. “Não é uma mostra elaborada como um ponto final, mas sim como um ponto de partida, assim como foi a Semana de Arte Moderna de 1922 para uma discussão inovadora a atender a demanda de nosso tempo conscientes do percurso futuro guiados por protagonistas criadores”, completa a curadora.

 

 

Organizada em seis núcleos temáticos:

 

 

Liberdade; Futuro; Identidade; Natureza; Estética e Poesia  a mostra apresenta pinturas, fotografias, desenhos, esculturas, instalações e novas mídias. Segundo Tereza de Arruda, por meio deste conjunto plural de obras, “a Brasilidade se mostra diversificada e miscigenada, regional e cosmopolita, popular e erudita, folclórica e urbana”.

 

 

Para aproximar ainda mais o público da Semana de 22, serão desenvolvidas, ao longo do período expositivo, uma série de atividades gratuitas no Espaço de Convivência do Programa CCBB Educativo – Arte e Educação conduzidas por educadores do centro de arte e tecnologia JA.CA. Também haverá um webappl com um conjunto compreensivo de conteúdos da mostra, garantindo a acessibilidade de todos.

 

 

LIBERDADE

 

 

Abrindo a exposição, o núcleo “Liberdade” reflete sobre as inquietações e questionamentos remanescentes do colonialismo brasileiro do período de 1530 a 1822, além de suas consequências e legado histórico. São fatores decisivos para a formação das características do contexto sociopolítico-cultural nacional, que se tornaram temas recorrentes em grande parcela da produção cultural brasileira.

 

 

Em 1922, os modernistas buscavam a ruptura dos padrões eurocentristas na cultura brasileira e hoje, os contemporâneos que integram esse núcleo – Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, José Rufino, Rosana Paulino, Farnese de Andrade, Tunga, Ge Viana e José De Quadros – buscam a revisão da história como ponto de partida de um diálogo horizontal, enfatizando a diversidade, a visibilidade e inclusão.

 

 

FUTURO

 

 

O grupo da vanguarda modernista brasileiro buscava o novo, o inovador, desconhecido, de ordem construtiva e não destrutiva.  E um exemplo de futuro construtor é Brasília, a capital concebida com uma ideia utópica e considerada um dos maiores êxitos do Modernismo do Brasil. “Sua concepção, idealização e realização são uma das provas maiores da concretização de uma ideia futurista”, comenta Tereza de Arruda.

 

 

Com foco em Brasília como exemplo de utopia futurista, este núcleo reúne esboços e desenhos dos arquitetos Lina Bo Bardi, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, obra da artista Márcia Xavier, e registros captados pelo fotógrafo Joaquim Paiva e o cineasta Jorge Bodanzky.

 

 

IDENTIDADE

 

 

A busca por um perfil, uma identidade permeia a história da nação brasileira. E é partir desta busca que se forma o conjunto exibido no núcleo “Identidade”. As obras de Alex Flemming, Berna Reale, Camila Soato, Daniel Lie, Fábio Baroli, Flávio Cerqueira, Glauco Rodrigues e Maxwell Alexandre apresentam uma brasilidade com diversas facetas da população brasileira.

 

 

“Falamos aqui do “Brasil profundo”, enfatizado já em obras literárias emblemáticas e pré-modernistas como o livro “Os sertões”, de Euclides da Cunha (1866-1909), publicada em 1902. Já neste período, o Brasil estava dividido em duas partes que prevalecem até hoje: o eixo Rio-São Paulo, das elites consequência de uma economia promissora proveniente do desenvolvimento financeiro e intelectual, e consequentemente berço da Semana de Arte Moderna realizada 20 anos após esta publicação, e o sertão, desconhecido, acometido pela precariedade e desprezo de seu potencial”, reflete Tereza de Arruda.

 

 

NATUREZA

 

 

O território brasileiro é demarcado por sua vastidão, pluraridade de biomas e importância de caráter global. Neste núcleo, as obras dos artistas Armarinhos Teixeira, Caetano Dias, Gisele Camargo, Luzia Simons, Marlene Almeida, Paulo Nazareth, Rosilene Luduvico e Rodrigo Braga norteiam questões de enaltação, sustentabilidade e alerta quanto à natureza e o relacionamento do ser humano como corpo imerso no legado da “Terra brasilis”.

 

 

ESTÉTICA

 

 

Reunindo trabalhos de Barrão, Beatriz Milhazes, Cildo Meireles, Daiara Tukano, Delson Uchôa, Emmanuel Nassar, Ernesto Neto, Francisco de Almeida, Jaider Esbell, Judith Lauand, Luiz Hermano, Mira Schendel e Nelson Leirner, este núcleo surge a partir da reflexão sobre movimentos como o antropofágico, ação fundamental para o entendimento da essência da Brasilidade e um marco na história da arte do Brasil. Foi através dele que a identidade cultural nacional brasileira foi revista e passou a ser reconhecida.

 

 

E, segundo explica a curadora, isso se deu em 1928 com a publicação do “Manifesto Antropófago” publicado por Oswald de Andrade na Revista de Antropogafia de São Paulo. No texto, o poeta fazia uma associação direta à palavra “antropofagia”, em referência aos rituais de canibalismo nos quais se pregava a crença de que após engolir a carne de uma pessoa seriam concedidos ao canibal todo o poder, conhecimentos e habilidades da pessoa devorada. “A ideia de Oswald de Andrade foi a de se alimentar de técnicas e influências de outros países – neste caso, principalmente a Europa colonizadora – e, a partir daí, fomentar o desenvolvimento de uma nova estética artística brasileira. Na atualidade, como aqui vemos, não está à sombra de uma herança e manifestações europeias, mas sim autônoma e autêntica miscigenada com elementos que compõem a Brasilidade dominada por cores, ritmos, formas e assimilação do díspar universo de linguagens e meios que a norteiam”, comenta Tereza de Arruda.

 

 

POESIA

 

 

A Semana de Arte Moderna e o movimento modernista em si pleitearam a independência linguística do português do Brasil do de Portugal. Os modernistas acreditavam que o português brasileiro haveria de ser cultuado e propagado como idioma nacional.

 

Neste núcleo, são exibidas obras de poesia concreta, poesia visual e apoderamento da arte escrita – a escrita como arte independente, a escrita como elemento visual autônomo, a escrita como abstração sonora – dos artistas André Azevedo, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, Floriano Romano, Júlio Plaza, Lenora de Barros, Rejane Cantoni e Shirley Paes Leme.

 

 

Lista completa de artistas

 

Adriana Varejão, Alex Flemming, André Azevedo, Anna Bella Geiger, Armarinhos Teixeira, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos/Júlio Plaza, Barrão, Berna Reale, Beatriz Milhazes, Camila Soato, Caetano Dias, Cildo Meireles, Daiara Tukano, Daniel Lie, Delson Uchôa, Ernesto Neto, Emmanuel Nassar, Fábio Baroli, Farnese de Andrade, Flávio Cerqueira, Floriano Romano, Francisco de Almeida, Ge Viana, Glauco Rodrigues, Gisele Camargo, Jaider Esbell, Joaquim Paiva, Jorge Bodansky, José De Quadros, José Rufino, Judith Lauand, Júlio Plaza, Lenora de Barros, Lina Bo Bardi, Lúcio Costa, Luiz Hermano, Luzia Simons, Márcia Xavier, Marlene Almeida, Maxwell Alexandre, Mira Schendel, Nelson Leirner, Oscar Niemeyer, Paulo Nazareth, Rejane Cantoni, Rodrigo Braga, Rosana Paulino, Rosilene Luduvico, Shirley Paes Leme e Tunga.

 

 

Sobre a curadora

 

 

Tereza de Arruda é mestre em História da Arte, formada pela Universidade Livre de Berlim. Vive desde 1989 entre São Paulo e Berlim. Em 2021 bolsista da Fundação Anna Polke em Colônia para pesquisa da obra de Sigmar Polke. Como curadora, colabora internacionalmente com diversas instituições e museus na realização de mostras coletivas ou monográficas, entre outras, em 2021, Art Sense Over Walls Away, Fundação Reinbeckhallen Berlin; Sergei Tchoban Futuristic Utopia or Reality, Kunsthalle Rostock; em 2019/2021, Chiharu Shiota linhas da vida, CCBB RJ-DF-SP; Chiharu Shiota linhas internas, Japan House; em 2018/2019, 50 anos de realismo – do fotorrealismo à realidade virtual, CCBB RJ-DF-SP; em 2018, Ilya e Emilia Kabakov Two Times, Kunsthalle Rostock; em 2017, Chiharu Shiota Under The Skin, Kunsthalle Rostock; Sigmar Polke Die Editionen, me collectors Room Berlin; Contraponto Acervo Sergio Carvalho, Museu da República DF; em 2015, InterAktion-Brasilien, Castelo Sacrow/Potsdam; Bill Viola na Bienal de Curitiba; Chiharu Shiota em busca do destino, SESC Pinheiros; em 2014, A arte que permanece, Acervo Chagas Freitas, Museu dos Correios DF-RJ; China Arte Brasil, OCA; em 2011, Sigmar Polke realismo capitalista e outras histórias ilustradas, MASP; India lado a lado, CCBB RJ-DF-SP e SESC; em 2010, Se não neste tempo, pintura contemporânea alemã 1989-2010, MASP. Desde 2016 é curadora associada da Kunsthalle Rostock. Curadora convidada e conselheira da Bienal de Havana desde 1997 e cocuradora da Bienal Internacional de Curitiba desde 2009.

 

 

VISITAÇÃO

 

 

O CCBB-Rio de Janeiro funciona de quarta a segunda (fecha terça), das 9h às 19h aos domingos, segundas e quartas e das 9h às 20h às quintas, sextas e sábados. A entrada do público é permitida apenas com agendamento online (eventim.com.br), o que possibilita manter um controle rígido da quantidade de pessoas no prédio. Ainda conta com fluxo único de circulação, medição de temperatura, uso obrigatório de máscara, disponibilização de álcool gel e sinalizadores no piso para o distanciamento.

 

 

 

Milanesa na Anita Schwartz

10/fev

Será aberta no dia 12 de fevereiro, às 19h, no segundo andar da galeria Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, a exposição “Milanesa”, composta de seis pinturas de Felipe Barsuglia, artista nascido em 1989, Rio de Janeiro, RJ. Felipe Barsuglia é um jovem artista conhecido por transitar por várias mídias. O texto que acompanhará a mostra é de Germano Dushá. A mostra integra o “Projeto Verão#1”, que segue até o dia 14 de março de 2020, com entrada gratuita, e uma programação intensa: performances diversas, com música, poesia, acrobacia, instalações sonoras, exposições-cápsulas, cinema, aula de modelo vivo e bar temático. A exposição permanecerá em exibição até 14 de março.