Celebrando a obra de Iberê Camargo

26/jul

Em setembro de 1984, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, inaugurou uma grande exposição em homenagem aos 70 anos de Iberê Camargo. Agora, além de retribuir  e celebrar as sete décadas do MARGS, “trajetórias e encontros” tem outros sentidos. A tragédia causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul ressoa no posicionamento público do artista, ligado a urgência de uma “consciência ecológica”. É pelo olhar dele que as duas instituições de memória, e enquanto sociedade, apelam a um compromisso definitivo com a preservação da arte e do meio ambiente

A Fundação Iberê Camargo e o Museu de Arte do Rio Grande do Sul inauguram a exposição “Iberê e o MARGS: trajetórias e encontros”. Com curadoria de Francisco Dalcol e Gustavo Possamai, a mostra em homenagem aos 70 anos do MARGS (27 de julho de 1954) apresenta 86 obras do artista pertencentes aos acervos das duas instituições e permanecerá em exibição até 24 de novembro. Aproximadamente 80% delas nunca foram expostas, especialmente desenhos – uma vez que as curadorias de Iberê tendem a focar nas pinturas -, juntamente com fotografias do artista, de modo a oferecer um percurso em segmentos, identificados conforme os textos que as acompanham.

O título da exposição foi inspirado em um dos mais importantes eventos no MARGS relacionados ao artista: a mostra “Iberê Camargo: trajetória e encontros”. Ela se deu no contexto das comemorações de seus 70 anos, que incluíram uma retrospectiva apresentada pelo próprio MARGS em 1984 e o lançamento do livro Iberê Camargo em 1985, considerado ainda hoje uma das mais completas publicações de referência sobre o artista. A retrospectiva ocorreu, simultaneamente, a quatro exposições individuais: em Porto Alegre, duas no Rio de Janeiro, e em São Paulo.

Nas décadas seguintes, Iberê ganhou mostras individuais, um livro monográfico, participou de inúmeras exposições coletivas e ministrou cursos. Teve também o ingresso de outras obras suas no acervo por meio de compra, transferência e doação, além de um espaço de guarda de parte de seu arquivo pessoal, o qual destinou à instituição em 1984. Foi também no MARGS que ocorreu sua despedida, com o velório público que teve lugar nas Pinacotecas, o espaço mais nobre e solene do Museu. Iberê Camargo é o artista que mais expôs no MARGS. Até o momento, foram mapeadas sete exposições individuais e mais de cem coletivas. Gustavo Possamai, responsável pela obra do artista na Fundação Iberê Camargo, lembra que aquela exposição reuniu o maior conjunto de obras de Iberê Camargo até então: “Foi um marco na trajetória de Iberê que, com mais de 40 anos de trabalho, ainda produzia em jornadas que chegavam a somar 12 horas ininterruptas pintando em pé.” A organização de uma exposição durante a maior catástrofe ambiental no estado, além de trazer novos sentidos a esta exposição, o trágico contexto do Rio Grande do Sul ressoa no posicionamento público de Iberê, um crítico ferrenho dos governantes pelo descuido irresponsável com a natureza. Agora abriga simbolicamente, como um lar temporário, parte do acervo do MARGS que foi fortemente afetado pelas enchentes.

“Comungamos do entendimento de que seria impossível a exposição se dar em uma espécie de vácuo factual e histórico, compreendendo que não poderia estar alheia à situação e ao momento em que nos encontramos. Assim, a exposição também permite “olharmos” para tudo isso através das “lentes” de Iberê, considerando que notoriamente sempre criticou duramente a falta de cuidado com a natureza, frente aos processos de dominação e destruição do meio ambiente e mesmo das cidades perpetrados pelo homem. Esperamos que os apelos que Iberê fazia à necessidade de consciência ecológica, muito antes dessa tragédia toda acontecer no Rio Grande do Sul, possam agora se renovar encontrando ainda maior ressonância hoje, face aos acontecimentos. Enquanto ainda haja tempo de agirmos para projetar alguma esperança de um futuro para esta e as próximas gerações que assuma maior responsabilidade e compromisso com o cuidado pela preservação da natureza e pelo meio ambiente”, diz Francisco Dalcol.

Sobre os acervos

O acervo da Fundação Iberê Camargo é composto, em sua grande maioria, pelo fundo Maria Coussirat Camargo, a viúva do artista. São mais de 20 mil itens doados por ela, além de mais de 10 mil incorporados após seu falecimento, ainda não processados. Iberê recebia correspondências quase diariamente e mantinha cópias das que enviava.

“O casal fotografou e catalogou a maioria das obras produzidas por ele, além de reunir uma extensa quantidade de materiais, como entrevistas, críticas e notas, praticamente tudo o que se referia a Iberê na imprensa. Os amigos tiveram um papel fundamental nessa compilação, contribuindo com materiais publicados no exterior e de norte a sul do Brasil. Tome-se a biblioteca de Iberê: ela foi verdadeiramente fundida com a biblioteca de Dona Maria, a ponto de ser difícil determinar quem adquiriu ou leu determinado livro, inclusive os mais técnicos, pois ambos os consultavam. Os documentos cobrem toda a trajetória artística de Iberê, incluindo aspectos de sua vida doméstica, desde agendas para a manutenção da casa até carteirinhas de vacinação dos gatos acompanhadas de receitas para dietas felinas”, recorda Ricardo Possamai.

Já o Acervo Artístico do MARGS possui 75 obras do artista, adquiridas a partir de 1955, no ano seguinte à sua criação, por meio de compra, doação e transferência entre instituições do Estado. O conjunto contempla seis pinturas a óleo, além de obras em papel (gravura e desenho). O Acervo Documental do Museu conta com uma extensa documentação sobre o artista, reunindo jornais, revistas, publicações, textos, documentos, fotografias, correspondências, convites e catálogos de exposições. Esse conjunto inclui, em grande parte, os arquivos pessoais que o próprio Iberê destinou ao MARGS, em 1984, para fins de guarda, preservação e disponibilização para pesquisa, aos quais se somam documentos colecionados pelo Museu ao longo de 70 anos até aqui.

Os olhos, o espelho da alma

24/jul

Exposição de fotografias do colombiano David Matiz ocupam o Instituto Cervantes de São Paulo. Com mais de uma década de experiencia, David Matiz desenvolveu um estilo particular que combina a técnica fotográfica com uma narrativa visual única, focado especialmente em retratos. A inauguração acontece no dia 1º de agosto e a exposição estará aberta ao público até o dia 31 do mesmo mês.

Apaixonado por capturar a essência da alma através dos olhos, David Matiz criou uma série de retratos que refletem a profundidade e a emotividade de seus sujeitos. Esta exposição busca demonstrar como as expressões oculares podem revelar os verdadeiros sentimentos e pensamentos de uma pessoa. A metáfora poética de que “os olhos são o espelho da alma” foi uma inspiração central para ele, que utiliza sua lente para captar momentos que transcendem as palavras e as ações externas.

“Os olhos, o espelho da alma” convida os espectadores para uma experiência visual, concetando-se com as emoções e a essência interna das pessoas retratadas. Através de suas obras, David Matiz faz com que o público visitante se confronte com o olhar profundo dos sujeitos retratados, revelando uma verdade que só pode ser percebida através dos olhos. A exposição não só destaca o talento de David Matiz, mas também oferece uma oportunidade única para explorar a natureza humana sob uma perspectiva íntima e contemplativa.

Gustavo Malheiros no Museu Histórico Nacional

23/jul

A jornada de atletas olímpicos brasileiros rumo às Olimpíadas de Paris 2024 – marcadas pela histórica predominância feminina na delegação -, foram registradas pelo fotógrafo Gustavo Malheiros. O resultado poderá ser visto na mostra de fotografias em preto e branco “Olímpicos” no dia 20 de julho, no Museu Histórico Nacional, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Nessa ocasião será lançado o livro homônimo, pela Arte Ensaio Editora. Conhecido por sua longa trajetória dedicada a livros de arte autorais, além do seu trabalho no campo da moda e publicidade, este projeto teve início em novembro de 2023. A grande maioria das fotos, no entanto, foram feitas até maio de 2024. “Pegamos a estrada e nos aventuramos pelo país, documentando a vida de atletas de várias modalidades. Nossa missão era capturar não apenas a habilidade física, mas também o compromisso e a paixão que os movem. Testemunhamos sua busca pela excelência e o sonho de conquistar a medalha olímpica” afirma Gustavo Malheiros.

“Olímpicos” apresenta cerca de 35 imagens em preto e branco selecionadas do livro, além de uma sala de projeção com outros registros. Essas fotografias revelam uma visão íntima e poética do cotidiano dos atletas, destacando a força cultural de suas jornadas pessoais rumo a Paris. Com foco especial nas atletas femininas, que serão predominantes na delegação brasileira (algo nunca ocorrido antes), a mostra celebra a graça, a resiliência e a determinação destas mulheres extraordinárias. Entre os atletas e modalidades retratados, estão: Alice Gomes (Trampolim); Bia Ferreira (Boxe); Bárbara Seixas e Carol Solberg (Vôlei de Praia); Gabriela Roncatto (Natação); Gabriel Medina (Surfe); Giulia Penalber (Luta Livre); Guilherme Costa (Natação); Guilherme Schmidt (Judô); Ingrid Oliveira (Salto Ornamental); Isaac Souza (Salto Ornamental); Isabela Abreu (Pentlato Moderno); Jade Barbosa (Ginástica Artística); Lucas Verthein (Remo); Maria Clara Pacheco (Taekwondo); Pepe Gonçalves (Canoagem); Rayssa Leal (Skate); Tota Magalhães (Ciclismo de Estrada); Ygor Coelho (Badminton). E, na Ginástica Rítmica Brasil: Bárbara Galvão, Débora Barbosa, Gabriella Castilho, Giovanna Silva, Maria Eduarda Arakaki, Maria Fernanda Moraes, Mariana Gonçalves, Nicole Duarte, Sofia Pereira. Time Rugby Brasil: Aline Furtado, Bianca Silva, Chalia Costa, Luiza Campos, Mariana Da Silva, Marina Costa.

Sobre o livro “Olímpicos”

“Olímpicos” celebra os atletas olímpicos brasileiros, documentando sua preparação para os jogos de 2024. Este é o terceiro trabalho de Gustavo Malheiros dedicado a eles, sucedendo suas coberturas para os Jogos Olímpicos do Rio 2016 e Tóquio 2020. Durante meses, Gustavo Malheiros e sua equipe viajaram pelo Brasil, capturando não apenas a habilidade física, mas também a profundidade cultural e emocional das histórias dessas mulheres inspiradoras. O livro é editado pela Arte Ensaio Editora e conta com 256 páginas (R$ 150,00).

Sobre o artista

Gustavo Malheiros é formado pela School of Visual Arts de Nova York, iniciou sua carreira como assistente do renomado fotógrafo Bruce Weber. Com um portfólio diversificado, já realizou exposições em Londres, Hong Kong, Madri, Turim, Paris e Nova York, além de Rio de Janeiro e São Paulo. No campo da publicidade, trabalhou com grandes agências como WMcCann, Lew Lara\TBWA e Giovanni DraftFCB. Suas fotografias já foram publicadas em revistas como Vogue, Trip, TPM e GQ. É autor de diversos livros, incluindo “Brazilyorkers”, “Backstage”, “Pedra e Luz”, “Ilhas Brasileiras”, “Tempestade”, “Verão Passado”, “Superação”, “O Coração do Brasil”, “Anônimos Famosos”, “Marco Zero”, “Artistas e Seus Estúdios”,  entre outros.

Conjuntos que ativam recordações

“Memórias Habitadas”: exposição coletiva do Festival Sesc de Inverno repensa memórias e arquivos através da arte. A mostra reúne obras de 21 artistas e pode ser vista nas galerias das unidades do Sesc RJ em Nova Friburgo, Teresópolis e Três Rios.

A exposição coletiva “Memórias Habitadas” já pode ser vista nas galerias das unidades do Sesc RJ em Nova Friburgo, Três Rios e Teresópolis. A mostra, que integra a programação do Festival Sesc de Inverno, reúne um grupo de artistas que se propõe pensar memórias e arquivos para além de leituras historicamente consolidadas. As obras poderão ser conferidas pelo público até outubro (veja o cronograma por unidade abaixo). A entrada é gratuita e pode ser acompanhada por mediadores. O que pode um arquivo? Como seus acervos são narrados e tutelados? Onde fica a fronteira do que aconteceu e do que foi inventado? Essas são algumas inquietações que a exposição traz ao público a partir das obras de diversos de artistas de vários estados do país.

Exibida concomitantemente nas três unidades do Sesc, “Memórias Habitadas” tem curadoria de Barbara Copque, Letícia Puri e Roberta Mathias e consultoria de Ana Paula Alves Ribeiro, e reúne trabalhos de 21 artistas: Alberto Pereira, Alessandro Fracta, Alice Yura, Asmahen Jaloul, Bruno Gari, Domeio, Eliana Alves Cruz, Gê Viana, Joelington Rios, Marina Feldhues, Mariana Maia, Mayara Ferrão, Mbé, Pérola Santos, Rona, Roberta Holiday, Rodrigo Ribeiro-Andrade, Silvana Marcelina, Tayná Uràz, Xadalu Tupã Jekupé e Yoko Nishio.

“Nas diferentes galerias e transbordando além de seus espaços físicos, propomos conjuntos que ativam recordações e convidam a pensarmos o que está presente, mas também o que está fora dos arquivos. As obras se conectam ao pensamento crítico da escritora Saidiya Hartman que, diante das incompletudes cristalizadas dos arquivos, nos perguntam: “o que há mais para saber?” e nos conduzem a um desaprender, a um exercício de escutas, colagens e narrativas que mesclam histórias pessoais e fabulações, onde os afetos e a beleza insurgem para contestar os silenciamentos e apagamentos dos arquivos oficiais”, declararam as curadoras.

Um dos destaques da mostra, o artista indígena Xadalu Tupã Jekupé aceitou o desafio do Sesc RJ e revisitou os arquivos do IHGB, no Rio, para compor a produção de uma obra inédita que faz parte da exposição.

“Através da pesquisa, a gente revisou esses documentos do período colonial fazendo uma releitura por meio de obras que vão circular nestas três cidades. Além de descentralizar, vamos decolonizar esse pensamento colonial que ainda habita nas instituições – e aos poucos as instituições vão se acostumando a ter esse novo olhar. Com esses espaços de exposição a gente cria narrativas e diálogos com o espectador”, disse o gaúcho da cidade de Alegrete, território da antiga missão jesuítica de Yapeyu, um dos alvos de sua pesquisa. O trabalho do artista está exposto na galeria de Artes Visuais do Sesc Nova Friburgo.

Maior evento multilinguagem do país, o Festival Sesc de Inverno acontece até 28 de julho de 24 localidades do estado do Rio de Janeiro – a maior edição de todos os tempos. São mais de 550 atrações gratuitas ou a preços populares com música, teatro, dança, literatura, cinema, circo e artes visuais. A exposição “Memórias Habitadas”, porém, poderá ser vista até o mês de outubro. Este ano, o conceito do festival celebra a multiplicidade do Brasil, representada pelo acróstico “P-L-U-R-A-L”, que busca resumir em seis outras palavras a diversidade cultural do país: P, de povos, L, de lugares, U, de união, R, de raízes, A, de artes e L, de linguagens. A programação completa pode ser conferida em festivalsescdeinverno.com.br.

Exposição “Memórias Habitadas”

Galerias do Sesc Nova Friburgo, Sesc Teresópolis e Sesc Três Rios. Artistas: Alberto Pereira, Alessandro Fracta, Alice Yura, Asmahen Jaloul, Bruno Gari, Domeio, Eliana Alves Cruz, Gê Viana, Joelington Rios, Marina Feldhues, Mariana Maia, Mayara Ferrão, Mbé, Pérola Santos, Rona, Roberta Holiday, Rodrigo Ribeiro-Andrade, Silvana Marcelina, Tayná Uràz, Xadalu Tupã Jekupé e Yoko Nishio

Curadoria: Barbara Copque, Letícia Puri e Roberta Filgueiras Mathias

Consultoria: Ana Paula Alves Ribeiro

Sesc Nova Friburgo: Av. Pres. Costa e Silva, 231

Sesc Teresópolis: Av. Delfim Moreira, 749

Sesc Três Rios: R. Nelson Viana, 327

Em Salvador urgências do mundo contemporâneo

10/jul

Por meio de uma parceria entre a Fundação Bienal de São Paulo e a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia por meio do IPAC – Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) exibe uma seleção especial da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível. Com curadoria de Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel, a exposição, bem-sucedida em 2023 em termos de público e crítica, estará em exibição na capital soteropolitana até 28 de julho.

Salvador sedia uma das maiores exposições realizadas fora do Pavilhão da Bienal de São Paulo no Ibirapuera, com dezoito participantes: Citra Sasmita, Davi Pontes e Wallace Ferreira, Edgar Calel, Emanoel Araujo, Inaicyra Falcão, Julien Creuzet, Leilah Weinraub, Luiz de Abreu, M’Barek Bouhchichi, MAHKU, Malinche, Marilyn Boror Bor, Maya Deren, Quilombo Cafundó, Rosana Paulino, Simone Leigh e Madeleine Hunt-Ehrlich, Torkwase Dyson e Xica Manicongo.

A 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível explora as complexidades e urgências do mundo contemporâneo ao abordar obras que tratam de transformações sociais, políticas e culturais. A curadoria busca tensionar os espaços entre o possível e o impossível, o visível e o invisível, o real e o imaginário, ao ressaltar diversas questões e perspectivas de maneira  Para os curadores, é crucial que a exposição alcance mais cidades, transcendendo os limites do Pavilhão da Bienal. Segundo eles, “os debates propostos pela 35ª Bienal atravessam inúmeros territórios de todo o mundo; assim, não restringir as coreografias do impossível ao Pavilhão da Bienal é de extrema importância para o trabalho realizado”.

Andrea Pinheiro, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, enfatiza a importância não apenas de levar as coreografias do impossível para um público mais amplo, mas também de fortalecer os laços entre as instituições. Bruno Monteiro, secretário de Cultura do Estado da Bahia, fala sobre a importância de receber um evento como a Bienal de São Paulo: “É uma responsabilidade muito grande para nós, do Governo do Estado da Bahia, recebermos a maior coleção da Bienal fora do pavilhão oficial. Isso é fruto de muita articulação e do compromisso que nós temos de valorização e difusão das expressões artísticas e culturais em nosso estado”, afirma.

Duas exibições prorrogadas

02/jul

As exposições “Toda Noite”, de Vicente de Mello” e “Dragão Floresta Abundante”, de Christus Nóbrega, foram prorrogadas até 15 de julho. Elas estão em cartaz no Centro Cultural Justiça Federal, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

“Toda a Noite” comemora os 33 anos de carreira de Vicente de Mello e reúne 13 séries marcantes de seu trabalho de experimentação fotográfica em distintas técnicas e criações. Uma noite que se repete indefinidamente é o mote da exposição que ocupa o primeiro andar do Centro Cultural Justiça Federal. Na mostra, a poética do artista se desenvolve na transvisão da fotografia: “as imagens com os mais diversos tons de claro-escuro provocam um deslocamento do real”, diz o fotógrafo, que venceu o prêmio APCA 2007 e foi um dos ganhadores do Prêmio CCBB Contemporâneo 2015, entre outros.

“Dragão Floresta Abundante” revela a aventura do primeiro artista brasileiro em residência na CAFA/Pequim, na China. As pesquisas e impressões de Christus Nóbrega resultaram em instalações que ocupam as salas do segundo andar do centro cultural e surpreendem, não apenas pelo tamanho, mas, principalmente, pela forma instigante e provocativa, e também pelo humor fino e inteligente com que o artista exibe as experiências vividas no período da residência. A mostra propõe uma rede de reflexões sobre diferentes tecnologias, desde as mais arcaicas – como a pipa – até as mais modernas como o GPS de celular. A começar pelas imagens: todas  – exceto os autorretratos – foram geradas por IA.

Retrato audiovisual

01/jul

A exposição de Sandra Kogut “No Céu da Pátria Nesse Instante” reproduz falas de um país fraturado e provoca a interação entre o público no Sesc Niterói, RJ.

Sempre transitando entre o cinema, a televisão, a videoinstalação e a arte visual, Sandra Kogut apresenta seu novo projeto: “No Céu da Pátria Nesse Instante”, uma instalação de audiovisual expandido. Em cena, pessoas que participaram ativamente das eleições de 2022, numa espécie de retrato audiovisual de um país dividido. E aí está o trunfo da exposição: para que o visitante possa compreender o que está sendo projetado, ele precisa interagir com o outro, com o vizinho, numa simbologia de reconexão entre as pessoas. A mostra pode ser visitada até 20 de julho.

Numa sala escura, Sandra Kogut projeta frases no ar. São comentários de cidadãos comuns sobre as eleições de 2022, recolhidos ao longo de 2022 e 2023. Ao entrar no local, as pessoas são atingidas por frases que representam posições políticas diversas, tornando-se elas mesmas as telas. “Num lugar que parece não ter nada, você é ao mesmo tempo o suporte e o alvo de comentários de pessoas que não se veem, não se escutam e parecem viver em realidades paralelas. Ao mesmo tempo, para entender o que está acontecendo você precisa do outro. É preciso pedir o apoio de alguém para servir como tela”, explica a artista.

A exposição conta também com um trabalho sonoro de O Grivo, grupo de música experimental, formado pelos mineiros Nelson Soares e Marcos Moreira. Com o apoio de fones, o público pode ouvir um pouco das conversas gravadas pelo projeto. A mostra contempla ainda uma projeção no chão de imagens do 08 de janeiro feitas pela artista. Em 2020, Sandra Kogut ganhou uma bolsa na universidade de Harvard, nos EUA, com a qual registrou os personagens que serviram de matéria-prima para o projeto No Céu da Pátria Nesse Instante. “Meu interesse é falar de política, mas não através das pessoas que estão no centro do poder, os protagonistas usuais, e sim das pessoas comuns, que estão nas ruas. Aqueles que olham para tudo de lado, de trás, do fundo”, diz a artista. O material registrado deu origem ao filme No Céu da Pátria Nesse Instante, documentário longa-metragem que estreou no 56º Festival Brasileiro de Cinema de Brasília e com estreia comercial prevista para o fim do ano. Nessa exposição, a artista utiliza registros que vão além do longa-metragem. “Queria não só fazer um filme como também uma instalação com esse material tão vasto e tão rico, porque tem coisas que não cabem no formato de cinema”, explica a artista.

Sobre a artista

Sandra Kogut nasceu na cidade do Rio de Janeiro. Vive e trabalha entre o Brasil, a França e os EUA. Estudou filosofia e comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. No audiovisual, realizou trabalhos de ficção, documentários, filmes experimentais e instalações. Começou como videoartista nos anos 1980, documentando performances em sua cidade. Uma dessas resultou no vídeo Intervenção Urbana (1984), gravado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Nos dois anos seguintes, realizou uma série de projetos experimentais: Egoclip (1985), com o poeta Chacal; 7 Horas de Sono (1986), com o artista plástico e escultor Barrão; e O Gigante da Malásia (1986). Na década de 1990, criou as Videocabines – uma série de instalações no Metrô carioca, na Casa de Cultura Laura Alvim e no MIS de SP – que deu origem ao trabalho Parabolic People, produzido no CICV Pierre Schaeffer (França) e filmado em Paris, Nova Iorque, Moscou, Tóquio, Dakar e Rio. Sandra participou de exposições no Brasil e no exterior, enquanto paralelamente realizou filmes como os premiados Adieu Monde, Passagers d’Orsay e Um Passaporte Húngaro. Entre seus longas de ficção estão Mutum (2007), Campo Grande (2015) e Três Verões (2019), que receberam prêmios nos grandes festivais e correram o mundo. Entre 2016 e 2022 foi comentarista do programa Estúdio I na GloboNews. Foi professora nas universidades americanas de Princeton, Columbia (Film Program) e University of California, San Diego/UCSD. Foi Visiting Scholar na New York University durante quatro anos.

Exposição Coletiva Diadorim

A NONADA SP, Praça da Bandeira, Centro, São Paulo, SP, exibe até 21 de agosto a mostra  coletiva “DIADORIM”, sob curadoria de Guilherme Teixeira reunindo 17 artistas em torno de 19 obras que exploram temas como corpo, inadequação, pertencimento e gênero, utilizando diversas técnicas e suportes, incluindo pintura, escultura, fotografia, desenho, objetos, videoarte, performance e instalações, atualizando questões conceituais do clássico “Grande Sertão: Veredas” de João Guimarães Rosa, obra da qual a galeria retirou seu nome e conceito. A exibição permanecerá em cartaz até 31 de agosto.

Diadorim, um personagem que se veste como homem para acompanhar os cangaceiros e proteger-se, traz à tona discussões contemporâneas sobre construção de gênero e performance social. Esta narrativa literária oferece um ponto de partida para a reflexão sobre identidades de gênero e seus desdobramentos na sociedade atual.

Guilherme Teixeira, o curador, é reconhecido por seu trabalho que atravessa temas de identidade, sexualidade e pertencimento. A seleção de um grupo diversificado de artistas possibilitou a exibição de suas próprias perspectivas e experiências para o evento. Esta abordagem pluralista permite uma ampla gama de interpretações e provocações sobre as temáticas abordadas. Andre Barion, Andy Villela, Ana Matheus Abbade, Ana Raylander Martís dos Anjos, Amorí, Bruno Magliari, Rafaela Kennedy, Santarosa, Juno, Ode, Diambe, Daniel Mello, Domingos de Barros Octaviano, Linga Acácio, Flow Kontouriotis, Wisrah C. V. da Celestino e Nati Canto trazem uma diversidade de estilos e abordagens. A pluralidade de técnicas e temas reflete o compromisso da NONADA em proporcionar um espaço para a diversidade artística e cultural.

NONADA, cujo nome deriva de um neologismo criado por João Guimarães Rosa, tem como missão preencher lacunas na cena artística contemporânea, promovendo um espaço inclusivo e de experimentação. Seus fundadores, João Paulo, Ludwig, Luiz e Paulo, destacam que a NONADA é um espaço híbrido que acolhe, expõe e dialoga, oferecendo uma plataforma para trabalhos de alta qualidade que abordam temas políticos, identitários e de gênero, entre outros.

Por dentro da paisagem

A exposição coletiva de arte cubana com Alejandro Lloret, Alexis Iglesias e J. Pável Herrera está em cartaz no Instituto Cervantes de São Paulo.

O Instituto Cervantes de São Paulo, Avenida Paulista, inaugurou a exposição “Por dentro da paisagem”, com pinturas e desenhos que mostram manifestações da arte cubana contemporânea, rica em simbolismo e reflexão, tem revelado uma tendência na ressignificação da paisagem e dos objetos do cotidiano através de um olhar singular dos artistas insulares. Na mostra, Alejandro Lloret (1957) Alexis Iglesias (1968), e J. Pável Herrera (1979) se destacam neste movimento, cada um trazendo uma perspectiva única e profunda sobre os espaços da paisagem e suas possibilidades significativas.

Com suas abordagens distintas, os três artistas convergem em uma visão que transcende o mero aspecto visual das paisagens. Eles convidam o espectador a uma contemplação mais profunda, onde cada espaço vazio, cada recorte da paisagem e cada objeto abandonado revelam histórias ocultas e significados transcendentais. Através de suas obras, nos oferecem uma ressignificação do olhar, uma oportunidade de enxergar o mundo com uma percepção mais aguçada, sensível e atemporal, conectando o material ao imaterial e o cotidiano ao permanente.

MASP apresenta Catherine Opie

27/jun

Artista norte-americana faz primeira mostra individual no Brasil e exibe seus retratos nos icônicos cavaletes de cristal em diálogo com obras do acervo do museu desde 05 de julho até 27 de outubro.

O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, Bela Vista, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Catherine Opie: o gênero do retrato”, com obras de um dos principais nomes da fotografia internacional contemporânea. Catherine Opie (Sandusky, Ohio, EUA, 1961) foi uma das precursoras na discussão sobre questões de gênero entre o fim dos anos 1980 e o início dos anos 1990. Sua produção dialoga com a tradição do retrato – um dos mais tradicionais gêneros da pintura ocidental – de modo a dar legitimidade a novos corpos, subjetividades e experiências que emergem na sociedade contemporânea. Em suas fotografias, Catherine Opie retrata diversas expressões e subjetividades de indivíduos e coletivos que se identificam com gêneros e orientações sexuais diversas, especialmente pessoas queer.

Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, e Guilherme Giufrida, curador assistente, a mostra reúne 63 fotografias de suas séries mais emblemáticas, desenvolvidas ao longo de mais de três décadas. Os retratos de Catherine Opie figuram ao lado de 21 importantes pinturas da coleção do MASP, entre elas, de Pierre-Auguste Renoir, Hans Holbein, Anthony van Dyck e Van Gogh. As obras são apresentadas em diálogo com o objetivo de acentuar os diálogos, tensões e reformulações aos quais o trabalho de Catherine Opie se propõe, além de desdobrar a predileção pela arte figurativa, marca da coleção do museu.

A artista explora o gênero clássico do retrato assumindo algumas de suas características, – fundo neutro, os gestos com as mãos, as expressões e os enquadramentos – e adiciona novos elementos, como a diversidade de gênero, as práticas sexuais, os corpos distintos e os relacionamentos familiares homossexuais. “É fundamental que todos os seres humanos sejam legitimados, isso é necessário para a inclusão de todas as pessoas, para a humanidade. Ao utilizar a estética tradicional do retrato, conforme a minha visão sobre a retratística, busco manter o espectador envolvido na obra durante a observação. Além disso, é uma forma de redefinir o corpo queer dentro de uma formalidade conhecida, e não tratar apenas de uma fotografia documental”, comenta Catherine Opie.

Obras e referências

A fotógrafa tem como uma de suas principais referências o pintor Hans Holbein (1497-1534), inspirando-se nos elementos formais que compõem os retratos do pintor alemão, como o uso da cor chapada ao fundo, especialmente o azul. Suas produções também se assemelham por se tratar de conjuntos de retratos que carregam um sentido de comunidade. Em Holbein, tal recorrência reafirma a ascendência ou a aliança familiar. Já em Catherine Opie, as conexões se sustentam por amizade, identificação e proteção, como em uma galeria de retratos de uma espécie de nobreza queer. Na exposição, a fotografia JD da série Girlfriends (Color) (2008) da artista, é apresentada ao lado da pintura O poeta Henry Howard, conde de Surrey (Circa 1542), de Holbein, o que dá destaque às suas semelhanças e particularidades. “Trata-se da apropriação da tradição e de marcadores associados às elites para dar a mesma condição de visibilidade a gêneros que muitas vezes não fizeram parte do universo de possibilidades da representação”, reflete Guilherme Giufrida.

Being and Having (Ser e ter) (1991) foi a primeira série de retratos de Catherine Opie apresentada em uma exposição individual. A série é composta por 13 fotografias que retratam performances de figuras masculinizadas por seus atributos, como bigodes ou bonés, denominadas drag kings. Ao invés do nome oficial da pessoa retratada, Catherine Opie optou pelo nome fictício, de identificação coletiva e afetivo dentro do grupo de amigas do qual faz parte. O título é uma paródia das teorias de Jacques Lacan (1901-1981) sobre o lugar do falo na construção da sexualidade. Essa série inaugurou no trabalho de Catherine Opie um conjunto de retratos em estúdio que se estende até hoje, sendo que alguns deles possuem referências internas, como a cor de fundo vermelha, as roupas, a pose e o banco que se repetem propositalmente em Pig Pen (1993) e Elliot Page (2022). A fotografia do ator, produtor e diretor canadense Elliot Page, conhecido por produções de sucesso como o filme “Juno”, ilustra a capa de sua biografia Pageboy, que conta a história do seu processo de transição de gênero.

Sobre a artista

Catherine Opie nasceu em Sandusky, em Ohio, USA, em 1961. Atualmente, vive e trabalha em Los Angeles, onde foi também professora no departamento de Artes da Universidade da Califórnia (UCLA). Desde o fim dos anos 1980, realizou diversas exposições individuais em instituições de reconhecimento internacional, como o Guggenheim Museum (Nova York), Los Angeles County Museum of Art (Los Angeles), Regen Projects (Los Angeles), Thomas Dane Gallery (Londres), Institute of Contemporary Art (Boston e Canadá). Seu trabalho integra o acervo de instituições internacionais como Guggenheim Museum, Institute of Contemporary Art, J. Paul Getty Museum, Museum of Contemporary Art, Museum of Fine Arts, National Portrait Gallery, Tate e Whitney Museum.

Catálogo

Serão publicados dois catálogos, em inglês e português, compostos por imagens e ensaios comissionados de autores fundamentais para o estudo da obra de Catherine Opie. A publicação é organizada por Adriano Pedrosa e Guilherme Giufrida, e inclui textos de Ashton Cooper, David Joselit, Guilherme Giufrida, Jack Halberstam e Vi Grunvald. Com design do Estúdio Permitido, a publicação tem edição em capa dura.

A exposição “Catherine Opie: o gênero do retrato” integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da diversidade LGBTQIA+ que também inclui mostras de Gran Fury, Francis Bacon, Mário de Andrade, MASP Renner, Lia D Castro, Leonilson, Serigrafistas Queer e a grande coletiva Histórias da diversidade LGBTQIA+.