Exposição/homenagem na Pinakotheke Cultural

08/mar

A exposição “Anjos com armas”, na Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta até 11 de maio, cerca de 50 obras dos artistas Sergio Camargo (1930-1990), Lygia Clark (1920-1988), Mira Schendel (1919-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980. A curadoria é de Max Perlingeiro, com a colaboração do artista Luciano Figueiredo.

A mostra é um tributo ao crítico e curador britânico Guy Brett(1942-2021), que desempenhou papel decisivo na internacionalização da arte brasileira, ao criar, junto com o artista filipino David Medalla(1942-2020), e outros amigos, a lendária galeria Signals, que de 1964 a 1966 exibiu obras desses fundamentais artistas que são Lygia Clark, Hélio Oiticica, Mira Schendel e Sergio Camargo. Quatro obras que estiveram originalmente na Signals, estarão expostas na Pinakotheke Cultural: “Bicho-Contrário II” (1961), “Espaço Modulado nº 4″ (1958) e “Espaço modulado nº8″ (1959), de Lygia Clark, e “Relief” (1964), de Sergio Camargo.

Na abertura de “Anjos com armas”, estará presente o crítico, historiador e filósofo da arte Yve-Alain Bois (Constantine, Argélia, 1952), pesquisador no prestigioso Institute for Advanced Study, em Princeton, EUA, quando será lançada a dupla publicação “Anjos com Armas” – dois volumes envolvidos por uma “luva” – bilíngüe (port/ingl), em formato de 21 x 27 cm. O primeiro, com 132 páginas, traz na íntegra o texto “Anjos com Armas” (“Angels with Guns”), de Yve-Alain Bois. Quando o filósofo enviou o texto para a tradução em português, ele instigou a Pinakotheke a montar uma exposição com base no ensaio, que trata-se de um texto muito amoroso sobre a importância da Signals e a amizade.

O volume 2, com 128 páginas, contém as imagens das obras da exposição, e fotografias de época, como as que mostram a Signals. Os textos são de Guy Brett sobre os artistas Sergio Camargo, Lygia Clark, Mira Schendel e Hélio Oiticica, apresentação de Max Perlingeiro, e ainda um texto de Luciano Figueiredo, que em 2017 organizou, com Paulo Venâncio Filho, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a exposição “Guy Brett: a proximidade crítica”, em “reconhecimento ao longo interesse intelectual e afetivo do crítico por nossos artistas”, assinala Max Perlingeiro.

Outros destaques da exposição são os “Bichos”, de Lygia Clark, em alumínio: “Bicho caranguejo” (1960) e “Bicho-contrário II” (1961); o conjunto de sete “Metaesquemas” de Hélio Oiticica, de 1957 a 1959; o conjunto de seis “Relevos” de Sergio Camargo, entre eles o “Relevo nº 172″ (Fenditura spazio orizzontal e lungo), de 1967; os seis trabalhos da série “Monotipias” dos anos 1960 de Mira Schendel, além de seu “Caderno de artista” (1966), o “Diário de Londres”, no qual a artista usa, “ao que parece, pela primeira vez, as letras decalcadas (letraset)”, como afirmou Taisa Palhares, no catálogo da exposição “O espaço infindável de Mira Schendel” (2015), na Galeria Frente.

Exposição Rubens Gerchman

19/jan

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Shopping Gávea Trade Center, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 18 de janeiro até 08 de fevereiro, a Exposição Rubens Gerchman. Serão expostas 30 obras do artista, com destaque para as telas Splendor Solis (1971), Nova Geografia (1973) e Ônibus (1962).

Sobre o artista:

“Prefiro sempre dizer que o que faço – minha obra – é meu depoimento diário. Autobiográfico. Costumo dizer que não invento nada. As coisas aí estão. Apenas, é preciso ver, saber ver. Sou constantemente envolvido pelos acontecimentos.” – Rubens Gerchman, 1967, apud. GERCHMAN, Clara (org.), 2013, p. 23.

Rubens Gerchman (1942 – 2008) nasceu no Rio de Janeiro, filho de imigrantes judeus da Ucrânia (URSS à época). Sempre desenhou, desde a tenra infância, até em sala de aula, conforme lembra o seu amigo de escola Armando Freitas Filho  – apud. GERCHMAN, Clara (org.), 2013. Seus pais estimularam seu talento e ainda garoto, ele estudou desenho no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Depois cursou a Escola de Belas Artes, onde já se destacava em exposições coletivas da casa. Daí em diante, nunca parou de criar, em 50 anos de trajetória artística e com toda a pluralidade de sua obra.

Um artista notável que já foi pensado e descrito pelos mais importantes críticos, tais como Mario Pedrosa, Frederico Morais, Wilson Coutinho, Ronaldo Brito e Paulo Sergio Duarte. Ademais, Gerchman tem a sua obra e a sua memória devidamente catalogadas pelo Instituto que leva o seu nome e é cuidadosamente dirigido pela filha Clara, que além de organizar todo o acervo, reconhecidamente dissemina a cultura pujante que envolve o artista pelo website e em publicações institucionais bem produzidas, como o livro Rubens Gerchman: o Rei do Mau Gosto (2013).

Difícil posição esta de tentar escrever sobre esse personagem carioca tão genial, frente ao cabedal de reflexões já existentes. Sugestionada pelo próprio Gerchman, na epígrafe desse texto, pensei em me ater aos fatos, mas a sua trajetória profissional é tão extensa que este folder seria todo tomado pela cronologia das inúmeras exposições que ele realizou, desde a primeira, na Galeria Vila Rica, em 1964, até muito tempo depois de seu precoce falecimento. O Instituto, os colecionadores e o mercado de arte continuam se encarregando de fazer a sua arte aparecer, girar e se mostrar como merece. Coube-me, portanto, a tarefa historiadora de ressaltar aqui algumas memórias, a fim de tentar acrescentar alguma novidade à história desse artista.

Atendo-me à cronologia, primeiramente destaco a exposição do artista na Galeria Relevo, em 1965, não por ter sido mais importante que outras, embora a Relevo tenha sido um marco no mercado de arte. Mas porque eu tinha na cabeça um simpático depoimento de Matias Marcier, coletado por mim há poucos meses, sobre quando ele trabalhava nesse lugar de memória, ainda muito jovem, e organizou a mostra do Rubens Gerchman, numa ocasião em que o Jean Boghici estava em Paris.

“Eu fiz a exposição do Gerchman porque o meu irmão (Carlos André) – que era diagramador da Manchete e também trabalhou como jornalista 13 anos no O Globo – foi colega do Gerchman na Manchete e me pediu “olha, Matias, tem um amigo meu, muito meu amigo, que trabalha lá, e queria fazer uma exposição aí na Relevo”. Eu falei para ele trazer os desenhos para eu ver. O Gerchman chegou com os desenhos, eu gostei muito, e falei com o Jean (Boghici). O Jean falou “não vou me meter nisso, vou viajar, você quer fazer, você faz”. E foi feito. Foi a primeira exposição… porque ele tinha feito uma antes, numa galeria que era um antiquário, da irmã de um  crítico de arte que havia naquela época chamado Harry Laus. Mas na Relevo, o cara expôs e saiu em tudo quanto é jornal, porque a Relevo era uma coisa, entendeu? Então, para fazer a apresentação do Gerchman, eu fui pedir ao Mário Pedrosa que não fazia mais apresentações, mas fez essa porque gostava de mim. Escreveu a apresentação do Gerchman, que é linda! O original ficou comigo. Um dia a empregada foi dar uma limpeza no meu quarto, jogou fora junto com um monte de outras coisas. Mas, existe, no catálogo da Relevo, está lá.” (Matias Marcier, entrevista oral em 5/10/23).

No livro Gerchman (Salamandra, 1989), lemos à p. 36 o artista lembrando o fato: “Devo minha exposição individual a Matias Marcier, que levou a minha pasta para Jean Boghici e depois para Mário Pedrosa. Mário foi até a minha casa, ficou encantado com as obras e escreveu um texto”. Seguindo essa trajetória da memória que resolvemos investigar, uma novidade é chamar a atenção para uma mostra realizada em dezembro de 1975, organizada por Evandro Carneiro na Bolsa de Arte. Gráfica era o título da exposição que reunia obras gráficas de todas as fases do artista até aquele ano.

“Nessa época eu alternava, na Bolsa de Arte, leilões e exposições. Fiz inúmeras exposições e o Gerchman era de uma fertilidade enorme, ele estava produzindo gravuras em São Paulo e também ia começar a fazer coisas com a Lithos aqui no Rio – que eram os grandes impressores da época, o Otávio Pereira em São Paulo e a Lithos aqui no Rio -, então eu propus fazermos essa exposição da obra gráfica dele. E ficou muito bonita, a loja era muito grande, ficou repleta de gravuras. Nesse tempo eu não fazia catálogo e fizemos um poster que dobrava, dobrava, dobrava até virar um folder. Era um folder que se abria em poster e atrás tinha um texto da exposição, mas infelizmente eu não guardei o original e não sei se lá na Bolsa os materiais foram conservados. Mas foi uma magnífica exposição porque a obra gráfica do Rubens é riquíssima!” (Evandro Carneiro, entrevista oral em 15/12/23). Garimpamos no Acervo Digital de O Globo a matéria que nos relembra toda essa história. Repassamos o documento para o Instituto Rubens Gerchman guardar e incluir na cronologia profissional do artista. As memórias vão sempre conformando a história que cresce, infinitamente. Para o artista, o evento teve a importância de democratizar suas obras e se fazer conhecer mais: “Gráfica é uma oportunidade de mostrar o conjunto da minha obra, abrangendo um grande período E tenho o maior carinho por todos os trabalhos que estão lá. A validade de todas as gravuras continua, embora algumas já estejam distantes de mim no tempo. (…) Eu sempre me interessei por gráfica. Meu pai trabalhava nisso e, quando eu entrei para a Escola de Belas Artes, foi apenas por causa do Goeldi. Então eu comprei uma prensa de 800 quilos numa gráfica que estava fechando. (…) e além de eu curtir gráfica, há também o fato de que ela torna a obra mais acessível. É bem mais democrática.” (Rubens Gerchman, 1975, matéria em O Globo de 10/12/1975, p. 33).

Nessa linha minêmica, atrevo-me a compartilhar uma lembrança pessoal. O famoso quadro O Rei do Mau Gosto, capa do livro do Instituto, por longos anos esteve agraciando as paredes da sala de estar da casa dos meus pais. Dizia o artista sobre essa obra: “A ideia é um pouco de provocação, mexer com uma certa arrogância da burguesia, incomodar mesmo. Eu fiz Caixa e Cultura – o Rei do Mau Gosto. É a primeira vez que aparecem asas de borboleta e as bananeiras com dois papagaios. Acho que todo esse clima, quando Hélio cunha o termo tropicália tem a ver com aquelas bananeiras que ele botou depois na entrada.” Rubens Gerchman, 1967, apud. GERCHMAN, Clara (org.), 2013, p. 86.

Mas foi outra obra sua que me impactou na infância, naquele mesmo apartamento: Os desaparecidos. Eu morria de medo daquela pintura porque os olhos dos retratados me acompanhavam aonde quer que eu andasse pela sala. Aquilo me assombrava! Hoje, pelos estudos que realizei sobre o artista, percebo que deve ter sido intenção do Gerchman imprimir aqueles olhares fantasmagóricos à obra, afinal disso se tratava: a denúncia contra os desaparecimentos políticos, pintada em série durante o período da ditadura militar. Uma fantasmagoria, conforme Walter Benjamin.

Frederico Morais destaca que: “(…) a importância de sua obra vai além do campo estético. Esse rio transbordante de imagens que é a sua obra tem implicações sociológicas e políticas, da mesma maneira como falam de nosso imaginário e do inconsciente brasileiro. O que pode mais desejar um artista?” – Frederico Morais, 1986, apud. GERCHMAN, Clara (org.), 2013, p. 39.

Nesse sentido, importa notar algo grandioso que Gerchman também realizou: transformou o Instituto de Belas Artes na vanguardista Escola de Artes Visuais. E fez dali um espaço de criação transdisciplinar entre as mais diversas expressões artísticas, movimentando a cena cultural da cidade nos anos de chumbo. Criou um espaço de liberdade, resistência e encontro no Rio de Janeiro nos anos 1975-1979.   

A mostra que ora apresentamos, organizada por Evandro Carneiro em sua galeria, traz uma diversidade do universo desse artista brasileiro que produzia obras tão importantes quanto plurais, tanto esteticamente quanto sociologicamente. Assim, o acervo aqui reunido tenta dar conta dessa pluralidade temática e temporal: da questão indígena, recorrente nos anos 1970 quando ele lia e relia o Brasil pela ótica do admirado antropólogo Levi Strauss, aos calorosos beijos e bancos de trás de fortuitos carros de passeio. Das malas e outros objetos a serem completados pelo espectador às multidões urbanas e ciclistas. Dos desaparecidos políticos às enormes palavras construídas em trocadilhos, brincadeiras semânticas na criação do espaço formal. Do futebol às violências cotidianas de crimes e destruição ecológica. Estão na mostra o Splendor Solis, reproduzido no catálogo de sua mostra do MAM-RJ, o primeiro Beijo escultórico que foi de seu amigo Gilles Jacquard e algumas outras preciosidades de cada década de sua trajetória.

“O que eu acho do Gerchman? Acho um artista magnífico! Sempre tivemos amizade, sempre tive obras dele. O simples fato de eu fazer uma exposição póstuma na minha galeria diz tudo: tenho o maior respeito e a maior admiração por ele”. (Evandro Carneiro, entrevista oral em 15/12/23).

Laura Olivieri Carneiro

Janeiro 2024

Conversa com artistas

13/nov

Na próxima quinta-feira, dia 16 de novembro, às 19h, será realizada, na Galeria Athena, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, uma conversa, gratuita e aberta ao público, entre o artista Jonas Arrabal, a curadora Fernanda Lopes e a artista Julia Arbex em torno da exposição “Ensaio sobre uma duna”, individual de Jonas Arrabal, que pode ser vista até o dia 02 de dezembro na galeria.

A mostra apresenta trabalhos inéditos, em diversas mídias, reunidos em conjunto, como uma grande instalação pensada especialmente para ocupar a Sala Casa da Galeria Athena. Bronze, sal, chumbo, betume e resíduos orgânicos são alguns exemplos de materiais utilizados pelo artista nos últimos anos, traduzidos aqui entre objetos e desenhos. Em sua pesquisa poética há um interesse particular sobre o tempo e a memória, numa aproximação com a ecologia, meio ambiente e a história, propondo uma reflexão sobre a transformação constante das coisas, dos lugares e como isso nos afeta e nos permite novas percepções.

“Em seus trabalhos há uma operação que transita entre a invisibilidade e a visibilidade, transições e apagamentos concretos (conscientes ou não) numa aproximação com elementos da natureza, opondo materiais industriais com orgânicos, propondo novas mutações”, diz a curadora Fernanda Lopes.

A mostra é apresentada paralelamente à exposição “O que há de música em você”, que traz edições únicas das icônicas obras “Relevo Espacial, 1959/1986″ e “Parangolé P4 Capa 1, 1964/1986″, de Hélio Oiticica.

Sobre o artista

Jonas Arrabal, Cabo Frio (1984). Vive e trabalha em São Paulo. É artista visual, graduado em Teatro pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e mestre em Artes Visuais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Começou sua produção em 2012 em diferentes linguagens, como vídeo, instalação e a escultura, em diálogo com o teatro, o cinema e a literatura. Em seus trabalhos há uma operação que transita entre a invisibilidade e a visibilidade, transições e apagamentos concretos (conscientes ou não) numa aproximação com elementos da natureza, opondo materiais industriais com orgânicos, propondo novas mutações. Há um interesse particular sobre o tempo e a memória, numa aproximação com a ecologia, meio ambiente e a história, propondo uma reflexão sobre a transformação constante das coisas, como isso nos afeta e nos permite novas percepções. Participou de exposições como 10ª Bienal do Mercosul, 1ª Trienal de Artes, The Sun teaches us that history is not everthing (Hong Kong, 2018), Os Vivos e o Mortos (Paço Imperial, 2019) e diversas coletivas e individuais em galerias e instituições no Brasil e no exterior. Em 2016 publicou Derivadores (com Luiza Baldan) pela AUTOMATICA e em 2021 foi indicado para o Prêmio PIPA.

Sobre a curadora

Fernanda Lopes é curadora e pesquisadora, doutora em História e Crítica de Arte pela UFRJ. Trabalhou como curadora adjunta do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2016-2020), e curadora associada em Artes Visuais do Centro Cultural São Paulo (2010-1012). Publicou os livros “Éramos o time do Rei” – A Experiência Rex (Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, Funarte, 2006); Área Experimental: Lugar, Espaço e Dimensão do Experimental na Arte Brasileira dos Anos 1970 (Bolsa de Estímulo à Produção Crítica, Minc/Funarte, 2012)  e Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite (Tamanduá-Arte, 2016 – organizado com Aristóteles A. Predebon), além de diversos ensaios e artigos, especialmente sobre arte brasileira. Entre as curadorias que vem realizando desde 2008 está a Sala Especial do Grupo Rex na 29ª Bienal de São Paulo (2010) e a curadoria adjunta da exposição Maria Martins: Desejo Imaginante no MASP (2021) e na Casa Roberto Marinho (2022). Em 2017 recebeu, ao lado de Fernando Cocchiarale, o Prêmio Maria Eugênia Franco da Associação Brasileira dos Críticos de Arte 2016 pela curadoria da exposição Em Polvorosa – Um panorama das coleções MAM-Rio. Atualmente é Diretora Artística da galeria Athena (RJ) e colaboradora do Atelier Sanitário (RJ) e do Instituto Pintora Djanira (RJ).

Sobre a artista

Julia Arbex é artista, doutoranda em Artes Visuais na UFMG e mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense. Vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Indicada ao Prêmio Pipa em 2023. Participou das exposições Salón Acme (Mexico 2023); The Silence of Tired Tongues (Framer Framed, Amsterdam 2022); Sol a Sol (ArtFasam, SP 2022); Drawing box Pop Up Show, (India; Irlanda e Estados Unidos, 2022); Mirantes (Galeria Anita Schwartz, RJ 2021); Até onde a vista alcança (Galeria Athena, Rio de Janeiro 2020).

A mistura poética de Clara Veiga

06/nov

A Galeria Artur Fidalgo, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, apresenta “De-va-nei-os”, série de obras monocromáticas de Clara Veiga.

Sobre a artista

Clara Veiga nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, 1987, cria composições que resultam em desenhos monocromáticos, quase sempre usando canetas esferográficas. Atualmente, busca um aprofundamento na pintura. Sua investigação nesta técnica caminha em direção ao inconsciente e ao vasto território que é o universo dos sonhos. “Poças, águas, imagens refletidas, piscinas e muitos reflexos. Possibilidades que a água permite ver algumas vezes em seu reflexo e dimensões profundas que nos arriscamos a cada mergulho. Uma mistura poética de Psicologia e Arte. Fusões lacanianas”.

Exposições Individuais

Graduada em Desenho Industrial, pela Universidade PUC-Rio, 2011; Técnicas de pintura em tela, pela Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, 2012; Das formas de navegação: a experiência pintura e além, com a artista e mestre Suzana Queiroga, 2017.

Participou de exposições coletivas como Congresso II SILID/ I SIMAR (exposição organizada pelos departamentos de Artes & Design e de Letras) / RJ, 2011; Centro de Movimento Deborah Colker / RJ, 2013; Palazzina Azzura / Itália, 2014; Escola em Transe, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, 2017; Impressão das coisas, Casavoa, 2018; Sala Anexa, Artur Fidalgo galeria, 2019; O que emana da água, Carbono galeria, Fixo só o prego, Espaço Cultural Sérgio Porto, 2020 Ainda fazemos as coisas em grupos, Hélio Oiticica, Casa de Colecionador – Artur Fidalgo galeria, SP Arte Viewing Room, Artur Fidalgo galeria.

Anjos com armas na Pinakotheke SP

30/out

A Pinakotheke, Morumbi, São Paulo, SP, exibe a exposição “Anjos com armas”, apresentando 42 obras dos artistas Sergio Camargo (1930-1990), Lygia Clark (1920-1988), Mira Schendel (1919-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980), pertencentes a diversas coleções particulares. A curadoria de “Anjos com armas” é de Max Perlingeiro, que explica que a exposição tem como alguns pontos de partida o fascínio do crítico e curador britânico Guy Brett (1942-2021) pela produção artística brasileira, e seu importante papel em sua internacionalização. Guy Brett foi o responsável por exposições de Sergio Camargo, Lygia Clark e Mira Schendel na lendária galeria Signals (1964-1966), em Londres, de que era sócio junto com o amigo e artista filipino David Medalla (1942-2020), entre outros artistas e curadores, e depois, na galeria Whitechapel, na capital inglesa, pela primeira mostra internacional de Hélio Oiticica.

Guy Brett é celebrado também na publicação “Angels with Guns” (“Anjos com Armas”), do historiador e filósofo Yve-Alain Bois, que publicou no ano passado (na revista “October”, do MIT) o ensaio sobre a produção de Guy Brett e sua profunda amizade com David Medalla. O livro, traduzido para o português, será lançado até dezembro pelas Edições Pinakotheke junto com o catálogo da exposição. O artista Luciano Figueiredo é colaborador do projeto.

Até 16 de dezembro.

Neste sábado

26/out

A conversa com a curadora e artistas na exposição “O que há de música em você”, na Galeria Athena, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, será neste sábado, 28 de outubro, às 19h, entre a curadora Fernanda Lopes e os artistas Andro Silva, Atelier Sanitário (Daniel Murgel e Leandro Barboza), Hugo Houayek, Natália Quinderé (Seis gentes dançam no museu) e Rafael Alonso, como parte da exposição “O que há de música em você”, que, devido ao sucesso, acaba de ser prorrogada até o dia 02 de dezembro. A conversa será gratuita e aberta ao público.

A mostra “O que há de música em você” apresenta edições únicas de icônicas obras de Hélio Oiticica, produzidas em 1986. Elas participaram da primeira exposição póstuma de Hélio Oiticica (1937-1980), organizada pelo Projeto HO, na época coordenado por Lygia Pape, Luciano Figueiredo e Wally Salomão, que se chamava “O q faço é música” e foi realizada na Galeria de Arte São Paulo. Desde então, essas obras permaneceram em uma coleção particular, e agora voltam a público, depois de 37 anos, sendo o ponto de partida para a exposição “O que há de música em você”.

A exposição apresenta um diálogo com fotografias, vídeos, objetos e performances de outros 20 artistas, entre modernos e contemporâneos, como Alair Gomes, Alexander Calder, Aluísio Carvão, Andro de Silva, Atelier Sanitário, Ayla Tavares, Celeida Tostes, Ernesto Neto, Felipe Abdala, Felippe Moraes, Flavio de Carvalho, Frederico Filippi, Gustavo Prado, Hélio Oiticica, Hugo Houayek, Leda Catunda, Manuel Messias, Marcelo Cidade, Rafael Alonso, Raquel Versieux, Sonia Andrade, Tunga e Vanderlei Lopes. Na fachada da galeria está a grande obra “Chuá!!!”, de Hugo Houayek, feita em lona azul, simulando uma queda d´água.

A grande celebração

28/set

A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, completou 20 anos com grande celebração. Uma das mais importantes galerias de arte contemporânea brasileiras, A Gentil Carioca, com forte presença e reconhecimento nacional e internacional, traduz o jeito carioca de ser. Marcando a data, foi inaugurada a grande exposição coletiva “Forrobodó”, – em cartaz até 21 de outubro -, com curadoria de Ulisses Carrilho, que celebra o potencial político, poético, estético e erótico das ruas. A mostra ocupa os dois casarões dos anos 1920 onde funciona a sede carioca da galeria, com obras de cerca de 60 artistas, como Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Antonio Dias, Antonio Manuel, Cildo Meireles, Hélio Oiticica, Lenora de Barros, Denilson Baniwa, entre outros, que, de diversas formas, possuem uma relação com a galeria.

Pioneira em vários aspectos, A Gentil Carioca fez história ao longo dos anos, sendo a primeira galeria brasileira fundada por artistas plásticos – Márcio Botner, Ernesto Neto e Laura Lima. Além disso, a galeria, que hoje também tem Elsa Ravazzolo Botner como sócia, está localizada fora do circuito tradicional de galerias, no Saara, maior centro de comércio popular da cidade. Com uma programação diferenciada e agregadora, há dois anos também possui um espaço em São Paulo.

“A Gentil já nasce misturada para captar e difundir a diversidade da arte no Brasil e no mundo. Tem como maior objetivo fazer-se um lugar para pensar, produzir, experimentar e celebrar a arte. Nossos endereços são lugares de concentração e difusão da voz de diferentes artistas e ideias”, afirmam os sócios Márcio Botner, Ernesto Neto, Laura Lima e Elsa Ravazzolo Botner.

A grande celebração

Os 20 anos da galeria marcados pela inauguração da exposição “Forrobodó”, foi uma grande celebração, com performances de diversos artistas, como Vivian Caccuri, Novíssimo Edgar e Cabelo, entre outros, além da obra do artista Yhuri Cruz, na “Parede Gentil”, projeto no qual um artista é convidado a realizar uma obra especial na parede externa da galeria. Além disso, ainda houve o tradicional bolo de aniversário surpresa, criado pelos artistas Edimilson Nunes e Marcos Cardoso: “Os desfiles carnavalescos no Brasil e suas configurações locais da América Latina têm como origem as procissões. Esta performance do bolo é uma espécie de procissão onde o sagrado é alimento para o corpo. Ação familiar e fraternal em que a alegria é alegoria de um feliz aniversário”.

Com curadoria de Ulisses Carrilho, a exposição “Forrobodó” apresenta obras em diferentes técnicas, como pintura, fotografia, escultura, instalação, vídeo e videoinstalação, de cerca de 60 artistas, de diferentes gerações, entre obras icônicas e inéditas, produzidas desde 1967 – como o “B47 Bólide Caixa 22″, de Hélio Oiticica – até os dias atuais.

A palavra do curador

Cruzaremos trabalhos de diversos artistas, a partir de consonâncias e ecos, buscando uma apresentação de maneira a ocupar os espaços da galeria em diferentes ritmos, densidades, atmosferas, cores e estratégias – como dramaturgias distintas de uma mesma obra. O nome “Forrobodó” vem da opereta de costumes composta por Chiquinha Gonzaga. “A grande inspiração para a exposição foi a personalidade da galeria, que tem uma certa institucionalidade, com projetos públicos, aliada a uma experimentabilidade, com vernissages nada óbvios para um circuito de arte contemporânea”, conta Ulisses Carrilho.

Ocupando todos os espaços da galeria, as obras encontram-se agrupadas por ideias, sem divisão de núcleos. No primeiro prédio, há uma sala que aponta para o comércio popular, para a estética das ruas, em referência ao local onde a galeria está localizada. Neste mesmo prédio, na parte da piscina, “…uma alusão aos mares, que nos fazem chegar até os mercados, lugar de trânsito e troca”, explica o curador. Neste espaço, por exemplo, estará a pintura “Sem título” (2023), de Arjan Martins, que sugere um grande mar, além de obras onde as alegorias do popular podem ser festejadas. No segundo prédio, a inspiração do curador foi o escritor Dante Alighieri, sugerindo uma ideia de inferno, purgatório e paraíso em cada um dos três andares. “O inferno é a porta para a rua, a encruzilhada, onde estarão, por exemplo, a bandeira avermelhada de Antonio Dias e a pintura de Antonio Manuel, além das formas orgânicas de Maria Nepomuceno e trabalhos de Aleta Valente sobre os motéis da Avenida Brasil”, conta. No segundo andar, está uma ideia do purgatório de Dante, e, nesta sala, vemos a paisagem, a linha do horizonte, com muita liberdade poética. “É um espaço em que esta paisagem torna-se não apenas o comércio popular, mas o deserto do Saara e as praias cariocas”, diz o curador. No último andar, uma alusão não exatamente ao paraíso, mas aos céus, com obras focadas na abstração geométrica, na liberdade do sentido e na potência da forma, com trabalhos escultóricos de Ernesto Neto, Fernanda Gomes e Ana Linnemann, por exemplo. “São trabalhos que operam numa zona de sutileza, que apostam na abstração e precisam de um certo silêncio para acontecer. Atmosferas distintas, que parte deste forrobodó, deste todo, para de alguma maneira ir se acomodando”, afirma Carrilho.

Artistas participantes

Adriana Varejão, Agrade Camíz, Aleta Valente, Ana Linnemann, Anna Bella Geiger, Antonio Dias, Antonio Manuel, Arjan Martins, Bob N., Botner e Pedro, Cabelo, Cildo Meireles, Claudia Hersz, Denilson Baniwa, Fernanda Gomes, Guga Ferraz, Hélio Oiticica, Neville D´Almeida, João Modé, José Bento, Lenora de Barros, Lourival Cuquinha, Luiz Zerbini, Marcela Cantuária, Marcos Chaves, Maria Laet, Maria Nepomuceno, Maxwell Alexandre, Novíssimo Edgar, O Bastardo, Paulo Bruscky, Rafael Alonso, Rodrigo Torres, Sallisa Rosa, Vinicius Gerheim, Vivian Caccuri, entre outros.

Outras programações

Ainda como parte dos 20 anos, a galeria está com outros projetos, tais como: a exposição “Moqueca de Maridos”, de Denilson Baniwa, na Gentil Carioca São Paulo, que reúne uma nova série de obras do artista que trazem o imaginário de quadros clássicos e uma iconografia colonial num gesto antropofágico. Ainda na sede da galeria em São Paulo, serão apresentadas exposições dos artistas Rose Afefé, Yanaki Herrera e Newton Santanna. Além disso, A Gentil Carioca também participou da ArtRio.

Sobre A Gentil Carioca

Fundada em 06 de setembro de 2003, a Gentil Carioca está localizada em dois sobrados dos anos 1920, unidos por uma encruzilhada, na região conhecida como Saara, no centro histórico do Rio de Janeiro. Em 2021, expandiu sua essência com um novo espaço expositivo na Zona Central de São Paulo. Ao longo dos anos realizou diversas exposições de sucesso, entre as quais pode-se destacar: “Balé Literal” (2019), de Laura Lima, “Chão de Estrelas” (2015), de José Bento, “Parede Gentil Nº05 – Cidade Dormitório” (2007), de Guga Ferraz, e “Gentileza” (2005), de Renata Lucas. Além disso, também realizou diversos projetos, que, devido ao grande sucesso, permanecem na programação da galeria, tais como: Abre Alas, um dos mais conhecidos projetos da galeria, que acontece desde 2005, inaugurando o calendário de exposições, com o intuito de abrir espaço para jovens artistas, e que, atualmente, tem a participação de artistas do mundo todo; Parede Gentil, que desde 2005 recebe convidados para realizar obras especiais na parede externa da galeria, já tendo recebido nomes como Anna Bella Geiger, Paulo Bruscky, Marcos Chaves, Lenora de Barros, Neville D’Almeida, entre muitos outros; Camisa Educação, desenvolvido desde 2005, o projeto convida artistas a criarem camisas que incorporem a palavra “educação” às suas criações e Alalaô, idealizado pelos artistas Márcio Botner, Ernesto Neto e Marcos Wagner, teve início no verão de 2010, onde a cada edição um artista era convidado para realizar uma obra de arte, intervenção ou performance na praia do Arpoador, RJ, mostrando que a praia também pode ser um espaço para a cultura.

Franz Weissmann na Casa França-Brasil

22/set

Após onze anos sem uma individual no Rio de Janeiro um dos mais importantes nomes do movimento neoconcreto brasileiro ganha exposição inédita – até 19 de novembro – na Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Cumprindo um intervalo de 22 anos desde a última exposição individual de Franz Weismann (1911-2005), a Casa França-Brasil inaugura mostra inédita do renomado artista.

A exposição intitulada “Franz Weissmann: Ritmo e Movimento” oferece ao público carioca a oportunidade de contemplar 20 obras que ilustram diversos aspectos da trajetória desse multifacetado artista, que atuou como escultor, desenhista, pintor, professor e como escultor fundamentou as bases de um pensamento escultórico brasileiro. Com o patrocínio da Petrobras e curadoria de Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto, a mostra explora as íntimas  relações entre as obras de Franz Weissmann e a paisagem, ocupando o histórico prédio da Casa França-Brasil através de diálogos de formas e cores no espaço.  Além disso, os visitantes terão a chance de apreciar a diversidade dos procedimentos e manipulações presentes no processo criativo de Franz Weissmann, como as cisões, as dobras, as aglutinações e até mesmo o simples ato de amassar, incorporado pelo artista em obras dos anos 1970. A proposta da exposição é apresentar este importante nome da escultura brasileira para as novas gerações e também oferecer uma importante oportunidade de mergulhar em seu universo e explorar a riqueza de sua expressão artística.

“Weissmann é o escultor das linhas e dos vazios, as suas obras incorporam o espaço, dialogam com a paisagem e entre os grandes artistas marcados pelo concretismo e neoconcretismo Weissmann é essencialmente a voz do Rio de Janeiro, ele incorpora a paisagem luxuriante da cidade, suas formas, sua natureza, sua arquitetura e cria um diálogo permanente entre a arte e a natureza, entre a sensibilidade e a beleza, Weissmann  também dialoga com o espaço criativo  que é a Casa França-Brasil”, diz o curador Marcus de Lontra Costa

Franz Weissmann nasceu na Áustria em 1911 e chegou ao Brasil em 1921. Com ativa relação com o cenário cultural brasileiro, se tornou um dos mais importantes nomes dos movimentos artísticos que, nos anos 1950, transformaram o nosso ambiente artístico. Integrante do Grupo Frente (1955) e do movimento neoconcreto, suas obras sintetizam a proposta de associar o método construtivo à experiência lírica da criação artística, princípios teóricos do projeto neoconcreto carioca que alcançaram repercussão internacional pela profundidade de suas rupturas e por uma proposta de reconexão entre arte e vida.

“A trajetória de Weissmann é fundamental para entendermos a importância do salto que o movimento neoconcreto carioca dá em relação tanto ao objeto artístico como também ao papel da arte e do artista. Através de uma manipulação da geometria ele mantém a liberdade do fazer artístico como um processo de experimentar e não apenas como uma produção estritamente racional. Assim como Lygia Clark, Helio Oiticica, Aloisio Carvão e outros contemporâneos, Weissmann e sua obra representam uma trajetória de emancipação da arte que estrutura toda a produção brasileira, das gerações seguintes ao ambiente contemporâneo”, afirma o curador Rafael Fortes Peixoto.

Esta exposição, encerra o projeto “Paisagens Fluminenses”, que graças ao apoio da Petrobras através da Lei Estadual de incentivo à Cultura, permitiu à Casa França-Brasil revitalizar suas ações culturais ao longo deste ano. Com números de visitação expressivos, estas mostras reforçam a relevância deste espaço como importante equipamento da arte e da cultura fluminense.

“Weissmann constrói volumes que editam a paisagem através de um diálogo de imagens alternadas a partir do ponto de vista do espectador. A cor, como elemento fundamental do processo construtivo, define a obra como uma presença no espaço. Na síntese entre a clareza do método e a experiência barroca da forma, as esculturas de Weissmann habitam a malha urbana. Como elementos de surpresa e provocação do olhar, suas obras revelam ritmos inesperados e novas maneiras de se ver e apreender o mundo”, complementam os curadores Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto, no texto de abertura da exposição. “Franz Weissmann: Ritmo e Movimento” é a terceira de três exposições da série “Paisagens Fluminenses” que foram apresentadas ao longo de 2023 na Casa França-Brasil. Contemplada na chamada do Programa Petrobras Cultural Múltiplas Expressões, conta com o apoio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, e o patrocínio da Petrobras, através da Lei de Incentivo à Cultura, com o intuito de revitalizar o espaço, tomando como ponto de partida sua importância histórica, cultural e de valorização da produção artística brasileira.  A primeira da série, “Navegar é Preciso – paisagens fluminenses”,  ficou ambientada na Instituição com grande sucesso de público, a segunda foi “O real transfigurado | Diálogos com a Arte Povera | Coleção Sattamini/MAC-Niterói”, recebendo mais de 20 mil espectadores em menos de dois meses de exibição.

Oiticica e artistas modernos e contemporâneos.

15/set

 

Em 1986, foi realizada a primeira exposição póstuma de Hélio Oiticica (1937 – 1980), organizada pelo Projeto HO, na época coordenado por Lygia Pape, Luciano Figueiredo e Wally Salomão. Para essa mostra, que se chamava “O q faço é música” e foi realizada na Galeria de Arte São Paulo, o projeto produziu edições únicas das icônicas obras “Relevo Espacial, 1959/1986” e “Parangolé P4 Capa 1, 1964/1986”,  para arrecadar fundos para a organização, catalogação e conservação das obras e documentos deixados pelo artista. Desde então, essas obras permaneceram em uma coleção particular, e agora voltam a público, depois de 37 anos, sendo o ponto de partida para a exposição “O que há de música em você”, na Galeria Athena, Rio de Janeiro, RJ, com curadoria de Fernanda Lopes.

 

Icônicas para o desenvolvimento do pensamento de Oiticica, as duas obras são de grande importância – o “Parangolé”, inclusive, foi vestido por Caetano Veloso na época de sua criação. Partindo delas, e da célebre frase de Hélio Oiticica: “O q faço é música”, a exposição apresenta um diálogo com fotografias, vídeos, objetos e performances de outros 20 artistas, entre modernos e contemporâneos, como Alair Gomes, Alexander Calder, Aluísio Carvão, Andro de Silva, Atelier Sanitário, Ayla Tavares, Celeida Tostes, Ernesto Neto, Felipe Abdala, Felippe Moraes, Flavio de Carvalho, Frederico Filippi, Gustavo Prado, Hélio Oiticica, Hugo Houayek, Leda Catunda, Manuel Messias, Marcelo Cidade, Rafael Alonso, Raquel Versieux, Sonia Andrade, Tunga e Vanderlei Lopes. Na fachada da galeria estará a grande obra “Chuá!!!”, de Hugo Houayek, feita em lona azul.

 

Os diálogos, em diversas formas, seja por um aspecto mais literal da ideia de música, de movimento, seja pela questão da cor e por discussões levantadas por Hélio Oiticica naquele momento que continuam atuais. “A ideia geral é tentar pensar, como pano de fundo, como o Hélio traz questões da passagem para o contemporâneo que continuam sendo debatidas e que estão vivas até hoje de diferentes maneiras”, afirma a curadora Fernanda Lopes.

 

A relação de Hélio Oiticica com o samba e com a Estação Primeira de Mangueira é bastante conhecida, mas a curadora também quer ampliar essa questão. “Quando Hélio fala de música, ele não está se referindo só ao samba, mas também ao rock, que é o que ele vai encontrar quando chega em Nova York. Para ele, são ideias de música libertárias, pois dança-se sozinho, sem coreografia, são apostas no improviso, no delírio. Acho que a partir disso é possível fazer um paralelo com a discussão de arte, repensando seu lugar, seus limites, suas definições e repensando também a própria ideia e o papel da arte”, afirma a curadora.

 

Obras em exposição 

 

Diversas relações são criadas na exposição. Obras que fazem referência mais direta ao samba, como a pintura “Duas Mulatas” (1966), de Flávio de Carvalho, e a obra de Manuel Messias, encontram-se na mostra. “São referências mais literais, de artistas que tinham no samba um lugar de ação, não uma ilustração”, conta a curadora. Ampliando a questão musical, chega-se ao movimento, à movimentação dos corpos, que está sempre associado à música. Na exposição, essas relações são criadas, por exemplo, com os trabalhos de Aloísio Carvão e Celeida Tostes. Composto por uma caixa branca contendo círculos não uniformes, separados por tons diferentes, que vão do amarelo ao vermelho, a obra “Aquário II” (1967), de Aloísio Carvão, dialoga com o trabalho de Oiticica não só por ter a cor como guia, mas também pela ideia de movimento. “Esta obra, de certa forma, também tem algo rítmico ou uma possibilidade de reconhecer isso nessas peças, uma vez que depende do vento ou de outra situação que aconteça no espaço para que as peças se movimentem”, diz Fernanda Lopes. Desta mesma forma, o trabalho de Celeida Tostes, composto por cerca de 60 peças em cerâmica, com formatos circulares vazados no meio, com variações de cores em tons terrosos, sugere um ritmo pela organização modular. Ainda na ideia de movimento, está o trabalho “Escultura mole”, dos anos 1970, de Alexandre Calder, feito em tecelagem, com uma espécie de rede, que, além de resgatar a história, por ser um elemento característico do Brasil e América Latina, remete à ideia de movimento. Na exposição, as questões sobre música estão ampliadas, e a curadora quis trazer outros aspectos, como a dimensão social do samba. “Não é só um estilo musical, existe um confronto de alguma maneira, não é só entretenimento, mas também um lugar de disputa”, afirma. Dentro deste pensamento, está na exposição um tacape (arma indígena), de Tunga. Além disso, alguns trabalhos apostam ou se valem de um desconforto, que esteve presente na figura de Hélio Oiticica. Por exemplo, quando ocorreu a exposição na White Chapel, em Londres, em 1969, muita gente adorou o fato de ele ter colocado areia de praia no chão, mas outras pessoas se incomodaram de terem que tirar o sapato, assim como houve críticas na imprensa. Remetendo a isso, estão os trabalho de Andro de Silva, com palhaços chorando, uma grande pintura de Rafael Alonso, medindo 1,30X1,70, que traz uma imagem incômoda para a vista, e três vídeos de “Sem título”, de Sonia Andrade, que causam apreensão – em um deles ela está com a mão aberta em uma superfície com um prego entre cada dedo, tentando não errar a direção do martelo; em outro, ela depila os pelos de partes do corpo, como os da sobrancelha, e no terceiro, aperta um fio em parte do rosto.

 

Sobre o Projeto HO

 

Em 1981, os irmãos de Hélio Oiticica, Cesar e Claudio, diante da urgência do desafio de guardar, preservar, estudar e difundir a sua obra, formularam o Projeto Hélio Oiticica, uma associação sem fins lucrativos com esses objetivos. Contando com a construção inicial de companheiros e amigos de Hélio Oiticica, com os quais formou-se um conselho e uma coordenação, e com fundos provenientes da venda de obras de terceiros pertencentes ao acervo da família, instalou-se o Projeto HO. Os membros do Projeto, apesar de trabalhando sem remuneração, e durante suas horas de lazer, conseguiram uma série crescente de realizações entre as quais merecem destaque a publicação do livro de textos: ‘Aspiro ao grande labirinto’ e as exposições retrospectivas realizadas em Rotterdam, Paris, Barcelona, Lisboa e Minneapolis com a edição de respectivos catálogos. Além disso, houve a participação em 16 exposições no Brasil, sendo 10 coletivas e seis individuais e 12 exposições no exterior, sendo 11 coletivas e uma individual. Em 1996, foi inaugurado o Centro de Arte Hélio Oiticica com a grande retrospectiva que havia percorrido a Europa e os Estados Unidos, posteriormente, o acervo participou de 39 exposições no Brasil, 11 individuais e 28 coletivas, e de 51 exposições no exterior, sendo 9 individuais e 42 coletivas.

 

Sala Casa

 

No mesmo foi inaugurada a exposição “Jonas Arrabal – Ensaio sobre uma duna”, com trabalhos inéditos em diversas mídias, reunidos em conjunto, como uma grande instalação pensada especialmente para ocupar a Sala Casa da Galeria Athena. Bronze, sal, chumbo, betume e resíduos orgânicos são alguns exemplos de materiais utilizados pelo artista nos últimos anos, traduzidos aqui entre objetos e desenhos. Em sua pesquisa poética há um interesse particular sobre o tempo e a memória, numa aproximação com a ecologia, meio ambiente e a história, propondo uma reflexão sobre a transformação constante das coisas, dos lugares e como isso nos afeta e nos permite novas percepções. “Em seus trabalhos há uma operação que transita entre a invisibilidade e a visibilidade, transições e apagamentos concretos (conscientes ou não) numa aproximação com elementos da natureza, opondo materiais industriais com orgânicos, propondo novas mutações”, diz a curadora Fernanda Lopes.

 

Até 10 de novembro.

 

 

Duas exposições na Fundação Iberê Camargo

18/ago

No dia 26 de agosto, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura a exposição “Palavras cruzadas, sonhadas, rasgadas, roubadas, usadas, sangradas”, do fotógrafo multimídia, artista plástico e cineasta, Miguel Rio Branco. Organizada pelo próprio artista e por Thyago Nogueira, coordenador da área de Fotografia Contemporânea do Instituto Moreira Salles (IMS) e editor da revista ZUM, “Palavras” foi vista no IMS São Paulo (2020) e IMS Rio de Janeiro (2022-23). São 127 obras que mostram a vivência de Miguel Rio Branco pelas cidades por onde andou, com as pessoas com quem cruzou e os ambientes que explorou, de uma maneira muito particular de escrever com imagens. “Vejo que a maior parte da população é marginal. Eu fui atraído por umas situações humanas que me chocavam e que, ao mesmo tempo, me atraíam porque havia uma força vital ali de resistência”, diz o artista. Para Thyago Nogueira, “É possível dizer que Miguel Rio Branco dedicou sua carreira a construir uma elegia da experiência urbana e coletiva, encenada pelas pessoas que cruzaram seu caminho. Rever suas obras hoje é perceber a potência que desperdiçamos e lidar com um sentimento profundo de melancolia. Mas é também encarar nossas contradições com uma nitidez atordoante e abrir-se à oportunidade corajosa de entender como chegamos até aqui. Múltiplas e mutantes, essas obras cruzadas ecoam não apenas o pensamento original do artista, mas uma nova e perturbadora sinfonia”.

Um artista pleno

A fotografia só como documento nunca interessou a Miguel Rio Branco. As referências que o tornaram um dos maiores nomes da fotografia e da arte contemporânea brasileira vêm quase sempre da pintura e do cinema. Conhecido por seu trabalho com a cor, o ponto principal da sua obra é justamente a construção. Em 1983, por exemplo, a 17ª Bienal de São Paulo apresentou, pela primeira vez, a instalação “Diálogo com Amaú”, uma projeção de imagens de um índio caiapó, o Amaú, em diálogo com imagens de sexualidade e morte advindas de outros trabalhos, ao som de um ritual na Aldeia Gorotire, no sul do Pará. Esta instalação foi um marco em sua carreira, onde fica perceptível a força que a imagem em movimento, a música e a montagem têm em sua trajetória. “Palavras cruzadas, sonhadas, rasgadas, roubadas, usadas, sangradas” começa nos anos 1970, por um momento pouco conhecido do artista, quando Miguel Rio Branco se muda para Nova York. Ele pega uma câmera e começa a fazer as primeiras fotografias em preto e branco, algo raro em seu trabalho, ao redor do bairro boêmio East Village e da Rua Bowery, onde conviveu ao lado de artistas como Antonio Dias (1944-2018), Hélio Oiticica (1937-1980) e Rubens Gerchman (1942-2008). Miguel Rio Branco tocava na ferida, registrando os contrastes sociais das metrópoles e a exclusão dos marginais. A mostra avança para trabalhos mais conhecidos, mas com imagens novas, quando o artista viaja pelo interior do Brasil na tentativa de elaborar uma síntese da identidade brasileira através da fotografia. Depois caminha para notórias obras, como a série dos boxeadores da Academia Santa Rosa, na Lapa, Rio de Janeiro, onde Miguel Rio Branco fotografou com uma câmera analógica de médio formato. São imagens mais calmas, mais paradas e mais contemplativas, diferente das em 35 milímetros do começo da carreira, com uma velocidade intensa. A exposição vai mostrando a mudança para uma fotografia mais pictórica, o que ele fez mais recentemente. Imagens que possuem bastante textura, jogo de luzes, elementos muito simples, mas com uma força expressiva muito grande. “Gosto de dizer que esta exposição é uma espécie de antirretrospectiva. Apesar de tentar traçar o desenvolvimento complexo da linguagem do Miguel Rio Branco, tudo que aparece foi montado para este projeto”, afirma Thyago Nogueira.

Sobre o artista

A bagagem genética. Filho de diplomatas, bisneto do Barão de Rio Branco e tataraneto do Visconde de Rio Branco por parte de pai, a genética bateu forte para o lado materno. Miguel Rio Branco é neto de J. Carlos (1884-1950), um dos maiores caricaturistas e cronistas de costumes do início do século 20 no Rio de Janeiro, a quem Miguel dedicou o catálogo desta exposição no Instituto Moreira Salles. Nasceu em 1946 e viveu até os três anos de idade em Las Palmas de Gran Canarias, na Espanha, de onde partiu e passou a infância entre as cidades de Buenos Aires, Lisboa e Rio de Janeiro.  Entre os anos 1961 e 1963, morou na Suíça, onde estudou e desenvolveu os primeiros trabalhos como ilustrador de um jornal local e cenografia de uma peça teatral. Em 1964, envolvido pelo desenho e pela pintura, realizou a primeira exposição “Paintings and drawings”, na Galeria Anlikerkeller, em Berna. Neste mesmo ano, mudou-se com os seus pais para Nova York, onde fez um curso básico de fotografia no New York Institute of Photography. A partir de então, realizou uma série de fotografias nas ruas desta cidade que serviram, principalmente, como colagens em suas pinturas. Em 1972, com a morte de sua mãe, Miguel Rio Branco retornou ao Rio de Janeiro e dedicou-se, principalmente, ao cinema, trabalhando, ao longo desta década, como diretor de fotografia e câmera. Dirigiu 14 curtas-metragens e fotografou oito longas. Ganhou o prêmio de melhor direção de fotografia por seu trabalho em “Memória Viva”, de Otavio Bezerra, e “Abolição”, de Zozimo Bulbul, no Festival de Cinema do Brasil de 1988. Também dirigiu e fotografou sete filmes experimentais e dois vídeos, incluindo “Nada levarei quando morrer aqueles que mim deve cobrarei no inferno”, que ganhou o prêmio de melhor fotografia no Festival de Cinema de Brasília e o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio da Crítica Internacional no XI Festival Internacional de Documentários e Curtas de Lille, França, em 1982. Em 1980, tornou-se correspondente da Magnum Photos. Como registrado no site da empresa, “Miguel Rio Branco, fascinado por lugares de forte contraste, na força das cores e da luz tropical, fez do Brasil sua principal área de exploração.” Em 1985, publicou “Dulce Sudor Amargo”, livro em que traçou um paralelo entre o lado sensual e vital de Salvador, Bahia, e o lado histórico da cidade, que na época (1979) era habitada por prostitutas e marginais. É um ensaio sobre a vida e a morte, sobre as cicatrizes deixadas pelo tempo e pela vivência. Em 1996 veio “Nakta”, uma publicação que explora o tema do bestiário no homem e no animal, seguido de um projeto visual e poético alimentado por um feliz encontro com o poema “Nuit Close”, de Louis Calaferte, colaboração que ganhou o Prix du Livre Photo.  “Silent Book” (1997) trouxe quadros de corpos e espaços afetados pelo tempo; a decrepitude é ampliada pela luz, e a carne ferida, o envelhecimento e a morte assombram a obra por meio de cores terrosas e vermelho-sangue. Já em “Miguel Rio Branco” (1998), Lélia e Sebastião Salgado escreveram no posfácio: “Miguel Rio Branco usa a cor como um pintor e a luz como quem faz cinema.” O livro “Entre os Olhos o Deserto” (2001) aponta uma evolução para uma forma híbrida, usando imagens de fotografias e vídeos extraídos dos filmes experimentais do artista. Da mesma forma, suas exposições funcionam como instalações, conceito crucial para o seu trabalho, pelo qual – sem descurar a importância da imagem única – criar um discurso através das imagens é o objetivo final. A publicação e a exposição “Plaisir la douleur” (2005) confirmam isso. “Você Está Feliz?” (2012) explora diferentes possibilidades de felicidade e de infância, sem excluir os aspectos difíceis do crescimento e do ambiente em que o ser humano se desenvolve. Miguel Rio Branco se distancia de uma concepção romântica, provocando o leitor a refletir sobre os significados atribuídos à felicidade. Em “Maldicidade” (2014), o artista reúne, em fotografias, cenas urbanas de metrópoles de diversas partes do mundo – Japão, EUA, Brasil, Cuba, Peru -, captadas entre 1970 e 2010, abordando o isolamento dos marginalizados das grandes cidades.

Até 12 de novembro.

Afonso Tostes: a arte no desequilíbrio para destacar a fragilidade da vida.

“A realização da escultura, na maneira de trabalho, passa pela tentativa de associar coisas naturais e misteriosas à previsibilidade humana. Busco naquilo que está morto alguma vida escondida. Assim a madeira, antes árvore, deixa de ser apenas material, e, pelo esforço físico, se torna escultura e campo de reflexão. Não obstante, tento encontrar beleza na poética mais simples possível”, afirma Afonso Tostes.

Também no dia 26 de agosto, a Fundação Iberê Camargo abre a exposição “Afonso Tostes – Ajuntamentos”. Nos 25 trabalhos, a maioria esculturas feitas em madeiras e troncos de árvores, observa-se uma produção irrequieta. Esculturas, pinturas e desenhos que nunca se acomodam no lugar comum; as peças dialogam com os espaços.   Conhecido por suas grandes instalações, Afonso Tostes resgata as histórias preliminares dos materiais, principalmente a madeira, expõe e transforma suas narrativas, de acordo com uma sensível reconstrução no espaço expositivo, ou mesmo com a ressignificação de objetos, como ferramentas e utensílios de trabalho.  “Trabalho sobre o que já existe, o que encontro por aí, materiais que sofreram a interferência da mão humana e do tempo. Me interessa a relação do homem com seu entorno, com a natureza. Não falo apenas da relação com o meio ambiente, mas também das relações pessoais, das nossas expressões visíveis e invisíveis”, explica Afonso Tostes. No livro “Entre a cidade e a natureza”, Daniel Rangel, curador-geral do Museu de Arte Moderna da Bahia, descreve muito bem o espírito livre de um dos principais escultores brasileiros, que tem a cultura de um país e seu povo como inspiração: “Capoeirista, homem do mar, do orixá e do fazer manual, Afonso Tostes utiliza em seu trabalho as mesmas ferramentas que os artesãos, carrega o popular em si mesmo, em suas experiências e nos caminhos que decidiu trilhar. (…) Interessa-se mais pela troca com o grupo e pela riqueza cultural que pelos lugares em si. Apesar de executar suas esculturas por meio da observação, em caminhada pela cidade e na natureza, seu assunto principal é o ser humano. Suas obras revelam pessoas, muitas vezes, invisíveis na sociedade (…) Seus olhos pensam e emite mensagens, e, muitas vezes, precisamos estar livres para entender essa comunicação aberta exuniana. Rompe as estruturas com suas mãos, que curam com sua arte. Prazer, alegria, sensibilidade, emoção, um se dar constante com as diversas linguagens que ele expressa com sua mente plural”. Ainda menino, Afonso Tostes tomou gosto pelas viagens, transitando entre Belo Horizonte, onde nasceu em 1965, e fazendas no interior de Minas Gerais. Contemplador das porteiras e árvores, currais e cavalos, desenvolveu interesse pela investigação da natureza e sua relação com o homem.  Desde sempre, demonstrou aptidão para o desenho, aprimorada na Escola Guignard, principal instituição formadora de artistas em Minas Gerais e onde teve o primeiro contato com as tintas. Em 1987, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde prosseguiu os estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage com Carlos Zílio, Charles Watson e Daniel Senise. Das amizades que fez com artistas, críticos e curadores veio o primeiro trabalho como assistente de Antonio Dias e como cenógrafo para teatro e televisão. Sua obra é marcada por influências brasileira e internacional, que vão da arte contemporânea ao fazer livre e espontâneo, em que o belo não é uma construção teórica, mas uma vontade simples do ornamento, uma necessidade fundamental. Atualmente, sua obra figura em coleções como MAM-RJ (Brasil), MAM-BA (Brasil), MAC Niterói (Brasil), Fondation Cartier pour l’Art Contemporain (França) e Coleção SESC de Arte (Brasil).

Até 22 de outubro.