Vânia Mignone no Instituto Tomie Ohatake

13/abr

 

 

Um grande mural dedicado à tragédia yanomami recebe o público que poderá visitar mais de cem obras nos múltiplos suportes constituintes da trajetória da artista. Na esteira dos projetos que o Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, tem realizado nos últimos anos para abrir novas investigações acerca da representatividade e da importância de artistas mulheres, o espaço paulistano traz agora a exposição “De tudo se faz canção” que, com curadoria de Priscyla Gomes, observa em retrospectiva a trajetória de Vânia Mignone, permanecendo em cartaz até 04 de junho.

Com um amplo panorama, a exposição, com mais de uma centena de obras, resgata os percursos da artista nos mais diversos formatos: desenhos, colagens, ilustrações para obras literárias, capas de discos, gravuras e pinturas. O conjunto reunido chama atenção pela vivacidade das cores, pela expressividade de figuras em grande dimensão, além da diversidade de suportes e técnicas que aparecerem conjugados, mostrando um vasto universo de experimentação, em que referências da propaganda, do design, do cinema, das histórias em quadrinhos e da música convivem com trabalhos em escalas distintas. Segundo Priscyla Gomes, “As narrativas exploradas por Vânia destacam-se pelo modo como ela articula desde questões prosaicas até aspectos latentes da cultura e da política brasileiras”.

A mostra empresta seu título de um verso da música Clube da Esquina nº 2, de Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges, composta para o álbum homônimo de 1972. A partir das conversas entre a curadora e a artista, a proposta foi resgatar a importância da MPB no processo criativo de Vânia. A artista paulista faz recorrente alusão ao seu anseio de fazer de sua pintura canção, contagiando aquele que a observa. “Vânia construiu para si uma estrada, incorporando a música popular brasileira ao seu processo criativo cotidiano de ateliê”, destaca a curadora do Instituto Tomie Ohtake.

Priscyla Gomes enfatiza a síntese sinérgica que constitui o repertório da artista, marcado por letreiros de outdoors e pela xilogravura. “Seu vasto léxico remete-se ainda à qualidade de incorporar elementos fundamentais dessas referências, dentre eles, a coesa relação entre imagem e palavra”.

O mural em grande escala e cores vibrantes dedicado ao recente episódio da tragédia humanitária yanomami, prossegue a curadora, não nos deixa esquecer que fazer canção é também refletir sobre o silêncio e suas consequências, sobre como narrar o desmedido e o intragável. “Em meio a tantos gases lacrimogênios, os trabalhos de distintas épocas dessa retrospectiva nos convidam a fabularmos, criando nossa própria canção, uma viagem de ventania pelas estradas por Vânia trilhadas até aqui”, completa.

 

Sobre a artista

Vânia Mignone, 1967, Campinas. Vive e trabalha em Campinas. É Bacharel em Publicidade e Propaganda pela PUC-Campinas e Bacharel em Educação Artística pela UNICAMP. Entre suas exposições individuais destacam-se: Ecos, Museu de Artes Visuais da UNICAMP, Campinas (2019); Eu poderia ficar quieta mas não vou, SESC, Presidente Prudente (2017); Casa Daros, Rio de Janeiro; Cenários, Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo (2014). Participou de diversas exposições coletivas como: Por um sopro de fúria e esperança, Mube, São Paulo (2021); Crônicas Cariocas para Adiar o Fim do Mundo, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro (2021); Língua Solta, Museu da Língua Portuguesa, São Paulo (2021); 1981/2021: Arte Contemporânea Brasileira na Coleção Andrea e José Olympio Pereira, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2021); Mulheres na Coleção do MAR, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro; Mínimo, Múltiplo, Comum, Pinacoteca, São Paulo; 33ª Bienal de São Paulo – Afinidades Afetivas, Fundação Bienal, São Paulo (2018).

 

 

Colección Oxenford em exposição no MAC Niterói

08/nov

 

Com organização da produtora cultural Act. e curadoria do poeta e curador argentino Mariano Mayer, “Un lento venir viniendo – Capítulo I” apresenta uma inédita seleção de obras da Colección Oxenford, uma das principais coleções de arte contemporânea da Argentina.

Entre os dias 19 de novembro e 26 de fevereiro de 2023, o público terá a oportunidade inédita de conhecer um recorte da Colección Oxenford na exposição Un lento venir viniendo – Capítulo I, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC Niterói). A coleção é fruto de uma paixão do empresário e colecionador argentino Alec Oxenford pela arte contemporânea argentina, e de sua convicção na necessidade de apoio à cena local. “Comecei minha coleção em 2008 decidindo incorporar, em sua maior parte, obras de artistas vivos e adquiridas exclusivamente através de galerias de arte. Eu gosto de viver minha época através da arte. O que mais me interessa é que a arte gera uma série de perguntas para as quais eu não tenho respostas”, conta o colecionador.

Os dez primeiros anos da formação do acervo foram assessorados pela curadora Inés Katzenstein, hoje responsável pelo departamento de arte latino-americana do MoMA, em Nova York. Com cerca 550 peças de 150 artistas, a Colección Oxenford reúne um panorama muito seleto de obras da arte argentina das primeiras décadas do século XXI e alguns trabalhos prévios a este período, devido à sua relevância para o contexto da arte contemporânea no país.

Com organização da produtora cultural Act., dirigida por Fernando Ticoulat e João Paulo Siqueira Lopes, curadoria do poeta e curador argentino Mariano Mayer, e patrocínio de Itaú e Globant, a mostra é composta de 57 obras e apresenta uma diversidade de linguagens, entre pinturas, fotografias, vídeos, instalações visuais e sonoras, performances, esculturas, colagens e publicações. Destaque também para trabalhos de artistas fundamentais para a arte contemporânea argentina como Guillermo Kuitca, Julio Le Parc, Alejandra Seeber, Marcelo Pombo, Fernanda Laguna, Diego Bianchi, Claudia del Río, David Lamelas, Valentina Liernur, Juan Tessi, Karina Peisajovich, Eduardo Navarro, Silvia Gurfein e Alberto Goldenstein, entre outros.

Este é o primeiro ato de um projeto itinerante que também será apresentado no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, ao longo de 2023. Cada capítulo vai exibir uma seleção diferente de obras da Colección Oxenford, que, em cada caso, responde a uma proposta curatorial inspirada por um episódio emblemático do contexto cultural local, fortalecendo o diálogo entre os cenários artísticos brasileiro e argentino.

“Ao conhecer a Colección Oxenford, percebi junto a Alec o potencial institucional deste acervo que retrata de forma exclusiva a produção contemporânea argentina. Assim nasceu a ideia de uma exposição sem precedentes nas instituições brasileiras, com o objetivo de reunir as práticas artísticas da Argentina e do Brasil – países que, apesar de vizinhos, carecem de um intercâmbio cultural mais próximo”, afirma João Paulo Siqueira Lopes, um dos idealizadores da exposição e diretor da Act.

“Aproximar o cenário artístico latino-americano, estabelecendo relações entre os países deste território é uma de nossas missões. Temos feito isso por meio de projetos editoriais, mas é a primeira vez que desenvolvemos uma exposição com esse foco”, completa.

O curso livre de pintura de Ivan Serpa, no MAM Rio, e sua atuação no Grupo Frente são alguns dos pontos de partida do curador Mariano Mayer para a seleção de obras argentinas do primeiro ato apresentado no MAC Niterói. “Percorrendo a noção de influência, este primeiro capítulo descobre uma série de proximidades e rupturas que tal ação significou para a arte contemporânea argentina. Advertimos que a transmissão de experiências e posições entre artistas não formou um sistema linear organizado a partir de atos precursores, mas sim uma estrutura complexa, diferenciada e atemporal”, afirma Mariano Mayer. A pintura como matriz e como problema, a cidade e as formas do urbano, os espaços de sociabilidade artística, a literatura e as outras artes, os vínculos afetivos e as formas de desaprendizagem são destacados nesta exposição como chaves para pensar as formas adotadas pelos vínculos de influência na arte contemporânea argentina.

Cada capítulo da exposição contará ainda com uma publicação inédita que apresentará um ensaio de Mariano Mayer, ao lado de um texto de um curador da cena local, ambos produzidos exclusivamente para a ocasião: Pablo Lafuente, diretor artístico do MAM Rio, assina o texto sobre as relações entre arte e pedagogia, publicado no contexto do MAC Niterói. Realizado via Lei de Incentivo à Cultura, o primeiro capítulo da mostra ocupará todos os espaços do MAC Niterói. A expografia conta com painéis planejados por Miguel Mitlag, Sebastián Gordín e Mariana Ferrari, artistas da Colección Oxenford.

 

Participantes: Un lento venir viniendo – Capítulo I

Alberto Goldenstein, Alejandra Seeber, Alejandro Ros, Alfredo Londaibere, Ana Vogelfang, Bruno Dubner, Cecilia Szalkowicz, Claudia del Río, Daniel Joglar, David Lamelas, Deborah Pruden, Diego Bianchi, Eduardo Costa, Eduardo Navarro, Fabio Kacero, Federico Manuel Peralta Ramos, Fernanda Laguna, Florencia Bohtlingk, Guillermo Kuitca, Jane Brodie, Joaquín Aras, Jorge Gumier Maier, Juan Tessi, Julio Le Parc, Karina Peisajovich, Liliana Porter, Luis Garay, Marcelo Alzetta, Marcelo Pombo, Mariana Ferrari, Marina de Caro, Pablo Accinelli, Pablo Schanton, Rosana Schoijett, Sebastián Gordín, Silvia Gurfein, Valentina Liernur.

 

Sobre a Colección Oxenford

A Colección Oxenford apoia, por meio de diferentes iniciativas, o desenvolvimento da cena artística contemporânea argentina. Seu ambicioso programa de aquisições, que durante os dez primeiros anos contou com a seleção da curadora Inés Katzenstein, permitiu reunir uma mostra representativa das diferentes tendências estéticas que dominaram a produção artística contemporânea durante o século XXI, um período excepcionalmente complexo, no qual a arte argentina experimentou transformações fundamentais em suas linguagens e materiais, bem como em suas práticas, imaginários e instituições. As atividades da Colección Oxenford incluem o desenvolvimento de um programa de bolsas de viagem internacionais, que já beneficiou quase 90 artistas, e que, durante a emergência causada pela pandemia de Covid-19, foi transformado em assistência financeira para mais de 60 nomes. Recentemente, a coleção também esteve envolvida na promoção de reflexões sobre a arte contemporânea argentina, convidando 40 importantes pesquisadores locais para escrever ensaios sobre obras do acervo. A Colección Oxenford também tem sido generosa em sua colaboração com museus e galerias, a quem emprestou trabalhos em inúmeras ocasiões, com o objetivo de contribuir para a divulgação da produção artística argentina contemporânea.

 

Sobre o colecionador Alec Oxenford

Cofundador da OLX e da letgo, Alec Oxenford é um empresário argentino residente no Brasil. É grande colecionador e membro ativo de comunidades internacionais em prol das artes latino-americanas. Entre 2013 e 2019, dirigiu a Fundación ArteBA. Atualmente, ocupa postos como: membro do Acquisition Committee do MALBA e Membro da Latin American and Caribbean Fund (LACF) do MoMA.

 

Sobre a Act.

Fundada em 2017 por Fernando Ticoulat e João Paulo Siqueira Lopes, a Act. preenche diversas lacunas do mundo da arte, em escala global, e está envolvida com agentes de todo o circuito: artistas, colecionadores, galerias, museus e instituições culturais. Tem como missão conectar arte e pessoas a partir do desenvolvimento de consultorias, projetos e publicações. Atua em todas as frentes de criação, curadoria, gestão e produção de projetos de arte para empresas, criando elos entre marcas e seus públicos. Além dos projetos, a Act. aconselha interessados em arte – com coleções recém-iniciadas ou já estabelecidas – em como comprar, gerenciar e catalogar suas obras. Un lento venir veniendo é o primeiro projeto de exposição da Act.

 

Sobre o curador

Mariano Mayer nasceu em Buenos Aires, Argentina, 1971, é poeta e curador independente. Entre seus últimos projetos como curador figuram Táctica Sintáctica, Diego Bianchi (CA2M, Móstoles, 2022), Tiempo produce pintura – pintura produce tiempo. Álex Marco (Espaid39; Art Contemporani39, El Castell39, Riba-roja, 2022), Nunca Lo Mismo, junto a Manuela Moscoso (ARCOMadrid2022); Remitente (ARCOMadrid2021); PRELIBROS (ARCOMadrid – Casa de América, Madrid, 2021); Azucena Vieites. Playing Across Papers (Sala Alcalá 31, Madrid, 2020); La música es mi casa. Gastón Pérsico (MALBA, Buenos Aires, 2017); En el ejercicio de las cosas, junto a Sonia Becce (Plataforma Argentina-ARCOmadrid 2017. Publicou Fluxus Escrito (Caja Negra, Buenos Aires, 2019); Justus (Ayuntamiento de Léon, 2007) e Fanta (Corregidor, Buenos Aires, 2002). Dirigiu o programa em torno da arte argentina: Una novela que comienza (CA2M, Móstoles, 2017).

 

Sobre o MAC Niterói

Inaugurado em setembro de 1996, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) é o principal cartão-postal da cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Sua forma futurista criada por Oscar Niemeyer tornou-se um marco da arquitetura moderna mundial. O MAC abriga a Coleção João Sattamini, uma das mais importantes coleções de arte contemporânea do país, e recebe mostras focadas na produção contemporânea brasileira e latino-americana, realizada da década de 1950 até os dias de hoje.

 

 

Dois escultores na Central Galeria

03/out

 

A Central Galeria, Vila Buarque, São Paulo, SP, apresenta até 12 de novembro, “Opositores” exposição de Dora Smék e Paul Setúbal, realizada em parceria com a Casa Triângulo e com texto assinado por Benjamin Seroussi. Refletindo o momento de crescentes tensões sociais no país, os artistas apresentam um projeto instalativo formado por esculturas de bronze e correntes que cruzam todo o espaço da galeria, buscando ampliar o debate a respeito da democracia e das polaridades políticas, éticas e territoriais.

“Opositores” compreende uma série de esculturas criadas colaborativamente por Dora Smék e Paul Setúbal em 2017, até então inéditas. Feitas em bronze a partir dos moldes das mãos dos artistas, elas são unidas e posicionadas como em um jogo infantil – a “guerra de polegares”, cujo objetivo é capturar o polegar do outro usando apenas o próprio polegar. No trabalho da dupla, porém, o movimento dos dedos não aponta nenhum vencedor: cristaliza-se o momento da disputa, dilatando a sensação de impasse e tensão permanente.

Para a exposição, os artistas apresentam as esculturas através de um sistema de tensionamento que envolve o uso de correntes, ganchos e esticadores de aço dispostos como vetores, valendo-se das colunas de concreto da Central. As correntes atravessam o espaço expositivo em diferentes direções, criam obstáculos de passagem e acentuam ainda mais a relação de oposição entre cada um dos movimentos.

Sobre os artistas

Dora Smék (Campinas, 1987) vive e trabalha em São Paulo. Dentre suas exposições recentes, destaca-se a individual “A dança do corpo sem cabeça” na Central Galeria (São Paulo, 2021), além das coletivas: 13ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2022); Arte em Campo, Estádio do Pacaembu (São Paulo, 2020); No presente a vida (é) política, Central Galeria (São Paulo, 2020); Arte Londrina 8 (Londrina, 2020); Hinter dem Horizont, Reiners Contemporary Art/Sammlung Jakob (Freiburg, Alemanha, 2020); “Cuerpos Atravesados”, Reiners Contemporary Art (Marbella, Espanha, 2020); Mulheres na Arte Brasileira: Entre Dois Vértices, CCSP (São Paulo, 2019); 47. Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto (Santo André, 2019); 13. Verbo, Galeria Vermelho (São Paulo, 2017). Sua obra está presente em coleções públicas como o Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro) e o Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro), entre outras.

Paul Setúbal (Aparecida de Goiânia, 1987) vive e trabalha em São Paulo. Realizou exposições individuais em: Museu da República (Rio de Janeiro, 2022); C. Galeria (Rio de Janeiro, 2022 e 2018); Casa Triângulo (São Paulo, 2021); Andrea Rehder Arte Contemporânea (São Paulo, 2016); Elefante Centro Cultural (Brasília, 2015). Dentre as exposições coletivas, destacam-se: 40° Arte Pará, Casa das Onze Janelas (Belém, 2022); No presente a vida (é) política, Central Galeria (São Paulo, 2020); Aparelho, Maus Hábitos (Porto, 2019); 36º Panorama da Arte Brasileira, MAM-SP (São Paulo, 2019); 29º Programa de Exposições, CCSP (São Paulo, 2019); Demonstração por Absurdo, Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, 2018); “Arte, democracia, utopia”, Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro, 2018); entre outras. Sua obra está presente em coleções públicas como o Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro), o Museu de Arte de Brasília e o Museu de Arte Contemporânea de Goiânia, entre outras

 

Coleção Museu Albertina no Instituto Tomie Ohtake

05/set

 

 

Os trabalhos reunidos em “O Rinoceronte: 5 Séculos de Gravuras do Museu Albertina” agora em exibição no Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, são provenientes do maior acervo de desenhos e gravuras do mundo, o The Albertina Museum Vienna, fundado em 1776, em Viena, que conta com mais de um milhão de obras gráficas. A seleção das 154 peças para esta mostra, organizada pelo curador chefe do museu austríaco, Christof Metzger, em diálogo com a equipe de curadoria do Instituto Tomie Ohtake, é mais um esforço da instituição paulistana de dar acesso ao público brasileiro a uma coleção de história da arte, não disponível em acervos do país.

 

Com trabalhos de 41 mestres, do Renascimento à Contemporaneidade, a exposição, que tem patrocínio da CNP Seguros Holding Brasil, chega a reunir mais de dez trabalhos de artistas célebres, para que o espectador tenha uma visão abrangente de suas respectivas produções em série sobre papel. “A exposição constrói uma ponte desde as primeiras experiências de gravura no início do século XV, pelos períodos renascentista, barroco e romântico, até o modernismo e à arte contemporânea, com gravuras mundialmente famosas”, afirma o curador.

 

O recorte apresentado traça um arco, com obras de 1466 a 1991, desenhado por artistas marcantes em suas respectivas épocas, por meio de um suporte que, por sua capacidade de reprodução, desenvolvido a partir do final da Idade Média, democratizou ao longo de cinco séculos o acesso à arte. O conjunto, além de apontar o aprimoramento das técnicas, consegue refletir parte do pensamento, das conquistas e conflitos que atravessaram a humanidade no período.

 

Do Renascimento, cenas camponesas, paisagens, a expansão do novo mundo pautado pela razão e precisão técnica desatacam-se nas calcogravuras (sobre placa de cobre) de Andrea Mantegna (1431-1506), as mais antigas da mostra, e de Pieter Bruegel (1525-1569), e nas xilogravuras de Albrecht Dürer (1471-1528), pioneiro na criação artística nesta técnica, cuja obra “Rinoceronte” (1515) dá nome à exposição. O artista, sem conhecer o animal, concebeu sua figura somente por meio de descrições. O processo, que ecoou em Veneza, fez com que Ticiano (1488-1576) fosse o primeiro a permitir reprodução de suas obras em xilogravura por gravadores profissionais. Já a gravura em ponta seca, trabalho direto com o pincel mergulhado nas substâncias corrosivas, possibilitava distinções no desenho e atingiu o ápice nas obras de Rembrandt (1606-1669), que acrescentou aos valores da razão renascentista a sua particular fascinação pelas sombras.

 

Nos séculos XVII e XVIII, possibilitou-se com a meia tinta, o efeito sfumato, e com a água tinta, a impressão de diversos tons de cinza sobre superfícies maiores. Francisco José de Goya y Lucientes (1746-1828) foi um dos mestres desta técnica, aprofundando a questão da sombra em temas voltados à peste e à loucura. Enquanto Giovanni Battista Piranesi (1720-1778) tem a arquitetura como tônica de suas gravuras em água forte, na mesma técnica Canaletto (1697-1768) constrói panoramas de Veneza.

 

No século XIX com a descoberta da litografia, com o clichê e a autotipia foi possível realizar a impressão em grandes tiragens sem desgaste da chapa de impressão e a consequente perda de qualidade associada ao processo. Diante disso, artistas tiveram disponível um amplo espectro de técnicas, a exemplo de Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901), o primeiro pintor importante a se dedicar também ao movimento artístico dos cartazes. A metrópole, sua face boêmia e libertina foram amplamente reproduzidas pelo francês, um dos pós-impressionistas, como Édouard Vuillard (1868-1940), que revolucionaram a cromolitografia e influenciaram artistas do final do século XIX e começo do XX, como Edvard Munch (1863-1944), precursor do Expressionismo, movimento no qual notabilizaram-se Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938), Max Beckmann (1884-1950) e Käthe Kollwitz (1867-1945). Das joias da coroa austríaca estão dois de seus principais representantes: Gustav Klimt (1862-1918) e Egon Schiele (1890-1918). Como reação ao expressionismo, encontra-se George Grosz (1893-1959), um dos fundadores da Nova Objetividade, corrente de acento realista e figurativo que respondeu ao febril período entreguerras.

 

A exposição, realizada com a colaboração da Embaixada da Áustria no Brasil, reúne outros nomes seminais da história da arte moderna como Paul Klee (1879-1940), um conjunto de várias fases de Pablo Picasso (1881-1973), Henri Matisse (1869-1954), Marc Chagall (1887-1985); alcança ainda artistas pop, que se utilizaram particularmente da serigrafia a partir de 1960, como Andy Warhol (1928-1987), até chegar nos mais contemporâneos como Kiki Smith (1954), além de outros mestres do século XX.

 

Até 20 de novembro.

 

Rodolpho Parigi e a latexguernica

01/set

 

 

 

O artista concebeu especialmente para esta exposição um mural com mais de 8 metros de extensão em que cria seu universo fantástico. Em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, até 30 de outubro. “latexguernica”, é a primeira mostra panorâmica dedicada à produção do paulistano Rodolpho Parigi em uma instituição brasileira, visando narrar seu processo de pesquisa por intermédio de um conjunto significativo de obras, compreendidas entre os anos 2000 e 2022. A individual, com curadoria de Paulo Miyada, Diego Mauro e Priscyla Gomes, composta por cerca de 70 pinturas, percorre momentos-chave da trajetória do artista, destacando a imponência de seus retratos, um dos gêneros pictóricos que atualmente toma grande parte dos seus estudos.

 

Nas obras reunidas, sob a superfície muitas vezes hiperbólica de suas paletas e composições, o artista revisita referências do universo artístico. Conforme apontam os curadores, seu trabalho se estabelece no limiar entre abstração e figuração valendo-se de uma série de referências que vão desde a tradição da pintura acadêmica ocidental ao design gráfico, publicidade, cultura pop e a música. “Há em seu processo pictórico um investimento libidinal que deglute referências, as historiciza e as revisita. Grace Jones, Gian Lorenzo Bernini, Bach, Rubens, Velasquez, Albert Eckhout e RuPaul convivem repletos de atração e contágio, dada a desenvoltura de Parigi em dessacralizar certos dogmas estabelecidos”, esclarecem.

 

Além desse panorama de sua produção, um mural, “Látex Guernica”, com mais de 8 metros de extensão, foi produzido exclusivamente para a mostra, que contou com a colaboração da Galeria Nara Roesler.  Na grande pintura, uma mesa de mármore define os contornos da cena habitada por uma miríade de personagens, volumes, esculturas, corpos e anatomias mascaradas. Ao centro, o Congresso Nacional desenhado por Oscar Niemeyer é atravessado por obras de Tarsila do Amaral e Maria Martins. Ao redor deste arranjo, a pintura está tomada por uma diversidade de formas: mobiliário de Sérgio Rodrigues, esculturas de Érika Verzutti e Hans Arp, urna funerária do povo marajoara, frutos tropicais, e, em especial, os corpos vestidos em body suits de látex que remetem às Sessions do artista performático australiano Leigh Bowery. Há, em especial, fragmentos da monumental pintura feita por Pablo Picasso em protesto contra a destruição perpetrada pelo fascismo, a “Guernica” (1937). “Aliando tradição à perversão, prosaísmo à alta cultura, Parigi condensa, na pintura de grandes dimensões “Latex Guernica”, anos de pesquisa e produção em uma cena que congrega simulacro, realidade e farsa”, completa os curadores.

 

Rodolpho Parigi nasceu em São Paulo, SP, 1977. É um dos integrantes da geração de pintores que despontaram nos anos 2000, com um processo artístico pujante que abarca constantes revisões e novos direcionamentos. Com grande domínio da prática pictórica, o artista aborda de maneira eloquente uma vasta iconografia da história da arte ocidental, revisitando temas à luz de referências contemporâneas.

 

Evandro Carlos Jardim no Instituto Tomie Ohtake

24/ago

 

 

A exposição “Evandro Carlos Jardim: Neblina” está organizada em torno de um conjunto chamado “Tamanduateí Contraluz”, que reúne 50 obras impressas desde 1980 até hoje. A mostra, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, até 16 de outubro, ressalta a perseverança do artista no tema -cidade São Paulo -, ao longo de décadas, e como explorou a infinita capacidade de transformação e nuance da gravura, suporte que adotou como linguagem.

 

Segundo os curadores Paulo Miyada e Diego Mauro, do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake, todas essas imagens foram construídas a partir de uma só matriz de cobre, sobre a qual o artista uma vez desenhou o Palácio das Indústrias e o pilar de sustentação de um viaduto, tal como vistos desde as margens do Rio Tamanduateí, em São Paulo. “A partir desse traçado primeiro, Jardim operou a gravura como uma espécie de avesso da arqueologia, como uma prática de escavação que, ao invés de revelar um fato do passado, produz infinitos novos traçados”, comenta a dupla de curadores.

 

Nesta série evidenciam-se duas persistências notáveis na obra de Jardim: a gravura e a representação da cidade de São Paulo. O título da exposição “Neblina” destaca as inscrições realizadas por Jardim em alguns de seus trabalhos, especialmente a “neblina”, condição atmosférica dessa cidade que Jardim tem acompanhado detidamente ao longo de quatro décadas, por meio de sua produção. “Há essa característica a mais para a imaginação e a memória: se relacionar com essa São Paulo da gravura e, ao mesmo tempo, rememorar um pouco de uma cidade que já foi mais povoada pela neblina e se tornou conhecida pela garoa”, comentam os curadores.

 

A obra de Jardim subverte o princípio serial de uma técnica de reprodução ao aprofundar-se nas possibilidades criativas dos processos de gravação, impressão e transformação da imagem. O compromisso do artista com a gravura já se estende por mais de seis décadas de produção – e por sua incansável dedicação ao ensino, que o levou a atuar como professor na Escola Belas Artes, FAAP e ECA-USP.

 

Segundo os curadores, na longeva série “Tamanduateí Contraluz”, depois de impressa, a matriz fica sujeita a novos polimentos e incisões, enquanto a própria folha impressa pode eventualmente receber riscos e acréscimos por colagem ou, mesmo, por outras matrizes de madeira. “Jardim descobre assim novas formas de apalpar as mínimas e máximas variações do gravar, em uma busca que acompanha a duração do tempo e carrega alguma analogia com a sucessão de grandes e pequenos acontecimentos que perfazem a vida da cidade”, ressaltam.

 

“Assim como para Jardim não existem duas imagens iguais ou equivalentes – e por isso o artista se permite voltar uma e outra vez ao mesmo ponto de partida, à mesma cena, aos mesmos elementos, sutilmente recombinados – também a condensação parcial da umidade do ar tornou-se mais rara ao longo dessas quatro décadas, a ponto de a neblina e a garoa pertencerem cada vez mais ao âmbito da imaginação. Imaginação essa que Jardim também convoca, fazendo nossa mente povoar a multiplicidade de seus trabalhos”, completam Miyada e Mauro.

 

“Evandro Carlos Jardim: Neblina”, viabilizada com o apoio da Galeria Leme, é também uma oportunidade para o público aprofundar o olhar sobre a gravura, em um exercício que poderá se desdobrar no contato com a mostra “O Rinoceronte: 5 Séculos de Gravuras do Museu Albertina” que será inaugurada em setembro próximo, no Instituto Tomie Ohtake.

 

Dudi Maia Rosa na Galeria Millan

03/ago

 

 

Em “Tudo de Novo”, a nova exposição individual de Dudi Maia Rosa na Galeria Millan, Pinheiros, São Paulo, SP, três anos após a mostra “Lírica”, em 2019, apresenta – de 06 de agosto a 03 de setembro –  um vasto recorte da produção do artista, mesclando obras recentes de sua produção com trabalhos mais antigos, sob a curadoria de Victor Gorgulho.

 

Através de uma abordagem não hierarquizante, são apresentados cerca de quarenta trabalhos inéditos, dentre suas conhecidas obras em resina poliéster pigmentada – técnica sobre a qual o artista debruça-se há décadas, ocupando papel central em sua prática – e trabalhos em pequenos formatos onde a resina funde-se a outros materiais diversos: pedaços de vidro, alumínio, latão, plástico e mesmo a pequenos objetos. Muitas vezes encobertos por sutis camadas de cor, seja pelo uso pontual da tinta à óleo, acrílica ou pelo emprego de carvão ou grafite, são peças que resultam em delicadas assemblages bidimensionais, cujas composições pautadas por ruídos visuais contrastam com as propriedades cromáticas e de luminosidade dos trabalhos em maior escala.

 

Ainda que a mistura destes dois grupos de trabalhos sugira, a princípio, relações dicotômicas entre luz e sombra, cor e escuridão, polidez e fratura, a exibição das obras em pequenos grupos e composições pensadas minuciosamente pelo artista junto ao curador, aprofundam e complexificam tais fricções entre eles. Deste modo, trabalhos do artista realizados em uma ampla janela temporal – desde uma pequena obra datada de 1993 até um robusto conjunto de trabalhos feito nos últimos três anos, aproximadamente – ganham novas camadas semânticas a partir de insuspeitadas relações tanto de afinidade quanto de oposição: seja de ordem formal, cromática, material ou de outras naturezas ainda por serem reveladas.

 

“Tudo de Novo”, frase escrita por Maia Rosa em um dos pequenos trabalhos de resina e fibra de vidro, remete, assim, à natureza irrevogável do labor artístico próprio do ateliê, da vivência diária do estúdio onde nascem e concretizam-se as ideias artísticas; bem-sucedidas ou falhas. É celebrada aqui, portanto, tal resiliência intrínseca ao trôpego fazer artístico, nas mais diversas práticas e produções, mundo afora.

 

Dudi Maia Rosa sabe – qualquer artista sabe – que é preciso encarar o ateliê, dia após dia, atravessando-os em seus questionamentos e dúvidas que teimam em povoar a espessa nebulosidade dos pensamentos de cada um. É preciso adentrar, sem medo, as noites infindas de criação, de inspiração e de impasse, surpresas e falhas, gozo e insatisfação. É preciso mesmo fazer tudo de novo, sabemos: adentrar o espaço expositivo, fitar mais uma vez sua própria obra (sua própria vida, afinal?) para então recriá-la, reconfigurá-la, como quem limpa os próprios olhos em busca de enxergar novamente a vida pela primeira vez. Lavada, nua, assombrosa. Tudo de novo, uma vez mais e outra ainda além, assim por diante.

 

Sobre o artista

 

Dudi Maia Rosa nasceu em 1946, São Paulo, SP. Vive e trabalha em São Paulo, iniciou suas primeiras investigações pictóricas com materiais translúcidos, como a resina poliéster pigmentada em fibra de vidro, em 1984. Também se tornou conhecido por conceber trabalhos com volumes e relevos que retêm a luz dentro de si. Suas obras possuem uma certa espacialidade que acaba por sugerir imagens que se dão sem profundidade, puramente na superfície, mas que são, ao mesmo tempo, profundas em si mesmas, se parecem ora com quadros, ora com telas de projeção, ora com vitrais, algumas com relevos de muranos, objetos que insinuam possuir acontecimentos tridimensionais de cores e formas internos. Os trabalhos de Dudi são ocasiões de corporeidade, de presença física, cujas imagens (essas entidades abstratas, que circulam livremente, que não possuem nem tempo e nem lugar) devem responder ao aqui e agora. Apresentou em 1978 sua primeira exposição individual no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo, SP. Desde então, realizou diversas exposições individuais em importantes espaços dentre os quais na André Millan Galeria (1993) e Galeria Millan, São Paulo, SP (2009, 2012, 2016 e 2019), Centro Cultural Maria Antônia, São Paulo, SP (2002 e 2013), Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, SP (2013), Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP (2008), entre outros. Dentre as exibições coletivas destacam-se: “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, Santander Cultural, Porto Alegre, RS, “Modos de Ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos”, Oca, São Paulo, SP (2017), “Auroras – Pequenas Pinturas”, São Paulo, SP (2016), “Uma coleção particular – Arte contemporânea no acervo da Pinacoteca”, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2015), 10ª Bienal do Mercosul, “Mensagens de Uma Nova América”, Porto Alegre, RS (2015), “Brasiliana: Moderna Contemporânea”, Museu de Arte de São Paulo, SP (2006), 5ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS (2005), “Mostra do Redescobrimento: Brasil 500 Anos”, no Pavilhão da Bienal de São Paulo, SP (2000), Bienal de Johanesburgo, África do Sul (1995), Bienal Internacional de São Paulo (1987 e 1994) e Panorama da Arte Atual Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP (1973, 1986, 1989 e 1993). Possui obras em diversas coleções, incluindo a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, SP,  Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP, Coleção de Arte da Cidade, São Paulo, SP, Coleção Dulce e João Carlos Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, SP, Coleção Itaú, São Paulo, SP, “Coleção Metrópolis de Arte Contemporânea”, Stedelijk Museum, Amsterdan, Holanda, entre outras

 

 

Exposição Christian Cravo na Paulo Darzé Galeria

27/jul

 

 

 

Desde o dia 04 de agosto, com temporada até 03 de setembro, e sob o título “Anima”, a Paulo Darzé Galeria, Salvador, BA, expõe 32 fotografias de Christian Cravo. A apresentação da mostra é assinada por Thaís Darzé.

 

Anima. Palavra de origem latina que designa a parte individual de cada ser humano, a “alma”. Em latim, significava literalmente “sopro, brisa, ar” possivelmente a partir daí adquiriu o sentido de “sopro vital, alma”, já que para a humanidade a alma está relacionada a algo imaterial, intangível e espiritual. Em “Anima” exposição individual de Christian Cravo, o artista que tem como suporte a fotografia, apresenta um novo conjunto de trinta e duas imagens imagens realizadas entre 2015 e 2022.

 

Na elaboração desse projeto, o artista utilizou duas series distintas, porém ambas produzidas em tempos praticamente concomitantes. Passando por longas temporadas no continente africano se dedicando a sua difundida série “Luz e Sombra” que já lhe rendeu três publicações e seis mostras, ao voltar dessas viagens “Anima” vinha nascendo de forma silenciosa e oculta para o público. Durante seus retornos para casa, sua esposa Adriana e suas três filhas, Sofia, Helena e Stela, eram suas musas e fontes de inspiração. Apesar do novo recorte, permanecemos diante das questões da construção da imagem, e seus problemas essenciais de luz, tempo e espaço. A fusão dos dois trabalhos, estabelece um diálogo estético tão harmonioso, consagrando a questão estrutural do corpo na obra de Christian Cravo, “luz, tempo e espaço”.

 

Na psicologia Junguiana, existe uma psique arcaica, possuidora de diversos arquétipos, que é a base de nossa mente individual. Jung (1987) diz que o arquétipo “Anima” é o lado feminino da psique masculina e o arquétipo “Animus” compõe o lado masculino da psique feminina. Partindo da compreensão desses arquétipos, podemos estabelecer uma comparação entre eles e a produção de Christian nos últimos anos. Seu lado masculino, cruza o Atlântico e faz sucessivas viagens ao velho continente, para fotografar a vida animal, a natureza selvagem, imagens marcadas por um distanciamento emocional e ausência de figuração humana (presença marcante em produções anteriores do artista). Para essa mostra em específico, apenas as imagens produzidas nos desertos da Namíbia estão presentes, o que confirma excesso de aridez, uma certa atmosfera de esterilidade das imagens, quando vistas de forma isolada. Partindo do pressuposto de que para a personalidade ficar bem ajustada é necessário equilíbrio entre masculino e feminino, a atmosfera infértil das imagens africanas, ganham novo sentido e nova potência quando acompanhas das imagens produzidas no cotidiano do artista, na presença de suas mulheres, “Anima”, emerge e traz o balanceamento necessário. Nas imagens de família, temos excesso, afeto, acolhimento, gestação, poder do feminino que acolhe e nutre a vida. A figura humana retorna na obra de Christian Cravo, mas a questão da espacialidade permanece, o gesto do corte, que subtrai das figuras e da espacialidade uma fatia do real, pontuado por Lidia Canongia em seu texto “A margem do real”, se preservam com a mesma ênfase, apenas partes dos corpos são enquadrados e a tomada de campos visuais bem restritos se mantém. Em tempos de intolerância, como o que vivemos, que se manifestam atualmente no número alarmante de crimes de ódio baseado por questões de gênero, o artista reconhece a urgência contra essas ações violentas que marcam a sociedade brasileira contemporânea. “Anima” é no mínimo um convite a reflexão e apelo por mais respeito e tolerância a todos os arquétipos que coabitam em cada um de nós”.

 

Sobre o artista

 

Christian Cravo nasceu em 1974, de mãe dinamarquesa e de pai brasileiro. Foi criado num ambiente artístico na cidade de Salvador, Bahia, convivendo com o mundo das artes desde a mais tenra idade. No entanto, só começou suas experiências com a técnica fotográfica aos onze anos de idade, enquanto morava na Dinamarca, lugar onde passou toda sua adolescência. Em 1993, interrompeu suas pesquisas fotográficas para cumprir o serviço militar nas forças armadas dinamarquesas. Com vinte e dois anos, volta ao Brasil, sua terra natal, quando começa a ficar profundamente entrosado com a máquina fotográfica. Ao longo dos últimos vinte anos, Christian conseguiu ver seu trabalho reconhecido, não apenas no nível nacional, mas também internacionalmente, por meio de exposições no Museu de Arte Moderna da Bahia, Throck Morton Fine Art em Nova Iorque, Billed Husets Galery em Copenhague, Ministério da Cultura em Brasília, Instituto Tomie Ohtake e no Museu Afro Brasil, ambos em São Paulo e em exposições coletivas como na Witkin Gallery em Nova Iorque, S.F. Camera Works Gallery na Califórnia, Bienal Fotofest em Houston e no Palais de Tokyo em Paris. Recebeu prêmios do Museu de Arte Moderna da Bahia, e do Mother John International Fund for Documentary Photography. Além de bolsas de pesquisa da Fundação Vitae e da Fundação John Simon Guggenheim para sua pesquisa sobre a água e a fé. Em 2016 foi premiado pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) pela melhor exposição fotográfica de 2015. Já foi indicado para prêmios internacionais como o Paul Huff (Holanda 2007) e o Prix Pictet (Suíça/Reino Unido, 2008 e 2015 e 2016). Seu primeiro livro “Irredentos” foi publicado em 2000. Em 2005 o segundo livro “Roma noire, ville métisse”, publicado em Paris, por Autrement. Outros livros de sua autoria são: “Nos Jardins do Éden” 2010, “Exú Iluminado” 2012, “Christian Cravo”, editado pela prestigiada editora Cosac &Naif 2014 e “Mariana”.

 

Anna Maria Maiolino – psssiiiuuu…

10/mai

 

 

 

Mostra antológica traz vida-obra de uma das mais relevantes artistas contemporâneas. A exposição inédita de Anna Maria Maiolino – inaugurada no mês em que a artista completa 80 anos – ocupa, com cerca de 300 obras, todas as três grandes salas do andar superior do Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP, espaço só antes dedicado às individuais de Yayoi Kusama e Louise Bourgeois. O curador Paulo Miyada esteve nos últimos três anos ao lado de Anna Maria Maiolino para juntos desenharem a exposição, construída a partir de muitas horas de conversa que resultaram, além de um ensaio aprofundado do curador sobre a produção da artista, em maquetes que dispõem meticulosamente cada obra selecionada.

A mostra antológica, uma vez que traz momentos, obras e acontecimentos significativos na “vida-obra” da artista, como ela mesma nomeou, traz pinturas, desenhos, xilogravuras, esculturas, fotografias, filmes, vídeos, peças de áudio e instalações.  Segundo Paulo Miyada, Anna Maria Maiolino – psssiiiuuu… (onomatopeia que pode ser assobio, chamado, flerte, pedido de silêncio, segredo, sinal) foi concebida como uma espiral que circula entre todas as fases e suportes da carreira da artista. A analogia com a espiral se refere à maneira de voltar e ir adiante ao invés de seguir uma cronologia linear. “Vai-se adiante para se reencontrar o princípio, consome-se energia para devolver as coisas ao que sempre foram”, destaca o curador.

 

Até 24 de julho.

 

Tiago Sant’Ana na Alban, Salvador

05/mai

 

 

O próximo cartaz da Alban Galeria, Ondina, Salvador, BH, será a exposição “Estrelas flamejantes em manhã de sol”, do artista visual Tiago Sant’Ana, com abertura no dia 12 de maio, às 19 horas. Essa é a primeira mostra do artista baiano na galeria e reúne mais de 20 obras inéditas, especialmente produzidas para a ocasião, dando destaque à linguagem da pintura. O ensaio crítico que acompanha a exposição tem autoria de Marcelo Campos, curador-chefe do MAR – Museu de Arte do Rio e professor da UERJ. O título da exposição é inspirado num texto da década de 1960 do escritor americano James Baldwin, no qual ele tece uma comparação entre a mobilidade social do homem negro da diáspora e elementos celestes. Tendo esse ponto de partida, Tiago Sant’Ana traça uma metáfora em que céu, lua, luz e sombra dão visualidade a um conjunto de trabalhos onde a masculinidade negra assume uma posição central.

 

 

O conjunto principal de pinturas – em acrílica sobre tela e aquarela sobre papel – trazem uma associação do sol com uma posição de poder e da lua como uma alegoria para pensar em ciclos de vida e amadurecimento. Essa imagem se torna proeminente em trabalhos como “Sete luas”, em que, com olhar distante, como um sonhador, um homem é circundado pelo satélite natural da Terra em diferentes fases.

 

 

“Nesta exposição, eu criei uma série de imagens de poder. Seja um poder pelo dado energético dos próprios astros que figuram nas telas, seja porque esses homens retratados possuem uma complexidade e uma posição altiva frente à audiência. Eles têm um rosto nítido apresentado, possuem tensão e particularidades”, comenta o artista, cuja pintura é sua linguagem artística de pesquisa mais recente.

 

 

Na obra de mais de 2 metros de altura e que dá título à mostra, Tiago Sant’Ana traz um homem vestido com um terno à frente de um céu dramatizado por meio de cortinas. O personagem carrega na mão uma máscara de ouro e possui os pés descalços sob um chão de ladrilhos. A obra remete a uma tradição renascentista dos chamados “retratos de corpo inteiro”, no entanto, trazendo uma pessoa negra – que não era retratada numa posição de centralidade de maneira digna até muito recentemente na História da Arte ocidental. É torcendo esses sentidos e imagéticas, preenchendo brechas na representação ou mesmo torcendo o sentido dela, que a mostra do artista baiano toma corpo. A exposição faz parte do projeto artístico desenvolvido por Tiago Sant’Ana ao longo da sua carreira de trabalhar em intersecção com a história e com a memória. Neste caso específico, ao eternizar pessoas próximas e do seu círculo de amizades, o artista constrói uma espécie de pinacoteca afetiva, tornando esses rostos eternizados dentro da História da Arte.

 

 

Sobre o artista

 

 

Tiago Sant’Ana tem alcançado destaque nacional e internacional, ganhando prêmios como o Soros Arts Fellowship da Open Society Foundation e a Bolsa ZUM do Instituto Moreira Salles. Recentemente, suas obras passaram a integrar o acervo do Denver Art Museum, nos Estados Unidos, e do MASP, em São Paulo. Atualmente, o artista está em cartaz em diversas exposições, como “The silence of tired tongues”, na Framer Framed, em Amsterdam, e “Encruzilhada”, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador. Tiago Sant`Ana já participou de uma série de exposições no Brasil e em países como Estados Unidos, Holanda e Reino Unido, a exemplo de “Enciclopédia negra” (2021), na Pinacoteca de São Paulo, “Rua!” (2020) e “O Rio dos Navegantes” (2019), no Museu de Arte do Rio, “Histórias afro-atlânticas” (2018), no MASP e Instituto Tomie Ohtake, “Axé Bahia: The power of art in an afro-brazilian metropolis” (2017), no The Fowler Museum, “Negros indícios” (2017), na Caixa Cultural São Paulo e “Reply All” (2016), na Grosvenor Gallery UK. Suas obras também fazem parte de acervos como o da Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte do Rio e Museu de Arte Moderna da Bahia.

 

 

A exposição é uma realização da Alban Galeria que, com 30 anos dedicados à arte brasileira, realiza um programa expositivo anual com cerca de cinco mostras, promovendo e exibindo a produção artística de nomes consagrados e emergentes do cenário nacional, de diferentes gerações, práticas e regiões do país.

 

 

De 13 de maio até 01 de julho.