Exposições de Paulo Pasta e Iberê Camargo 

05/mar

 

Paulo Pasta retornou à Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS. Em diálogo com sua exposição, Paulo Pasta fez a curadoria de obras de seu professor e amigo Iberê Camargo para “Eclipses”. São 19 obras, algumas de grandes dimensões, em que percebe cores crepusculares na produção do pintor. As duas aberturas ocorreram no dia 02 de março. O artista e Lorenzo Mammì, um dos nomes mais importantes da crítica cultural brasileira, conversaram sobre a sua produção.  

Após um hiato de dez anos, Paulo Pasta, um dos artistas mais respeitados e bem-sucedidos do país, retornou à Fundação Iberê Camargo – em exibição até 19 de maio – para celebrar 40 anos de trajetória. A exposição “Paulo Pasta Para que serve uma pintura conta com 40 trabalhos de formas distintas faixas horizontais e verticais, quadros, retângulos que desafiam o artista a enfrentar a superfície das telas. A pintura de Paulo Pasta é uma forma de construir um lugar, um ambiente que se transforma conforme as variações de cor e de luz.    

Por outro lado, suas combinações cromáticas, marcadas por baixos contrastes e passagens suaves entre um tom e outro, acabam por tensionar os limites dessas divisões. Paulo Pasta cria a sensação de que áreas do quadro parecem pulsar para fora da tela, como se quisessem se espalhar pelo mundo. Seu processo de construção, em algumas obras, inclui também a utilização da cera, que tira o brilho do óleo, dando “lentidão” para a cor. O trabalho de acrescentar e testar misturas dá origem aos tons impuros e únicos que caracterizam sua pintura.   

No catálogo da mostra, Lorenzo Mammì, doutor em Filosofia pela USP, onde é professor de História da Filosofia Medieval desde 2003, escreve: “Os retângulos não são apenas combinações de linhas e planos: parece que alguma vez, num passado semiesquecido, foram alguma coisa como portas, vigas, colunas, reais ou pintadas, sem que o pintor nos diga (o saiba) o que foram. O mesmo quanto às cores. Elas funcionam, em parte, como timbres musicais, determinando a estrutura do espaço. É um princípio da pintura tonal: cada instrumento de uma orquestra tem um som específico que faz com que pareça mais próximo ou distante. Instrumentos mais carregados de harmônicos (sons secundários que envolvem o som principal) parecem naturalmente mais longínquos: uma trompa será sempre mais distante que um trompete, um oboé de uma clarineta. Da mesma forma, um vermelho, no limite inferior do espectro cromático, será sempre mais encorpado que um azul, que pertence ao limite superior; portanto, o vermelho será mais profundo, o azul mais superficial. Mas o uso da cor nas pinturas de Pasta não leva em conta apenas essas relações físicas e sim, também, o caráter afetivo que toda cor carrega e que é dado tanto pelas experiências anteriores de cada um, quanto, no caso das pinturas, por ser o resultado de uma série de operações e decisões calculadas. Nos trabalhos de Pasta, estas não se revelam por rastros do movimento do pincel na superfície da tela, que costuma ser muito lisa, mas pelo esforço perceptível com que cada cor procura um ajuste com aquelas que estão ao redor. As cores de Pasta são geralmente muito elaboradas, fruto de uma combinação minuciosa de pigmentos. Se, uma vez distendidas na tela, elas parecem simples, é porque atribuímos boa parte de suas características à luz atmosférica, e não à matéria pictórica. Nesse sentido também, as obras de Pasta conservam algum ilusionismo.”   

 

Os Eclipses de Iberê pelo olhar de Pasta  

Em diálogo com sua exposição, Paulo Pasta fez a curadoria de obras de seu professor e amigo Iberê Camargo para “Eclipses”. São 19 obras, algumas de grandes dimensões, em que Pasta percebe cores crepusculares: “Iberê lançava mão da matéria, quase um barro original, de onde tudo poderia brotar. Suas cores também não estariam dissociadas dessa matéria, lugar do qual, no dizer de Ferreira Gullar, elas surgiriam “como gemas sujas da noite, arrancadas ao caos” (…) A melhor metáfora, para mim, sobre as cores de Iberê, é a do eclipse. Para além do aspecto noturno de seus trabalhos, a luz construída por ele parece não iluminar, não aquecer, mais ou menos como a sugestão de um sol que foi fechado.”   

Paulo Pasta conheceu Iberê Camargo no início da década de 1990, em um workshop com artistas consagrados, no Centro Cultural São Paulo. A partir daí, começaram a trocar cartas e telefonemas. Para Paulo Pasta, aquele encontro foi a confirmação de sua vocação, a prova da existência da pintura, e do pintor.  “Naquele momento (que conheceu Iberê), ele representou, para mim, a confirmação da vocação, a prova da existência da pintura, do pintor. No final da década de 1970, quando comecei a fazer faculdade, existia um predomínio da arte conceitual. Também nesse sentido, Iberê representava uma exceção: ele vivia a vida da própria pintura, perfazendo uma relação simbiótica entre arte e vida. Na contramão das tendências nacionais/populares, ele se evidenciava como uma espécie de outsider, construindo uma visão singular dentro da pintura brasileira. Seu realismo era uma escavação interior, o que fazia repercutir, em seu trabalho, um raro acento subjetivo e expressionista. Desde então, eu o vi como uma espécie de exilado, buscando arquitetar uma “pintura grande”, no Brasil, enfrentando o mal-estar de ser um pintor em um contexto carente de tradição (ou, pelo menos, a tradição que ele gostaria). Iberê buscava, assim, criar um lugar de origem, onde memória e autobiografia pudessem se unir para fundar essa espécie de pátria real: a de pintura. Concentrando-se na experiência da pintura e do pintor, e longe de quaisquer bairrismos, sua obra revelava, por meio do seu fazer obsessivo, a gênese do próprio indivíduo, uma verdadeira condensação do próprio tempo. (…) Também penso as cores de Iberê como sendo crepusculares. Elas nos remeteriam a uma escuridão primordial, mesmo porque, na sua prática, o pintor anoitecia as cores, criando uma espécie de blackout. Só assim, talvez, ele poderia terminar uma pintura e se reconhecer nela. Possivelmente, a melhor metáfora, para mim, sobre as cores de Iberê, seja a do eclipse. Para além do aspecto noturno de seus trabalhos, a luz construída por ele parece não iluminar, não aquecer, mais ou menos como a sugestão de um sol que foi fechado. A palavra eclipse vem do grego, que significa despedida, abandono. A experiência com as cores de Iberê, para mim, obedeceria a esse mesmo conteúdo poético. Nelas, no seu sentido de não cor, somos desertados da luz solar, apesar de toda a intensidade reinante”, escreveu Paulo Pasta.    

 

Sobre o artista 

 

Paulo Pasta nasceu em 1959, em Ariranha, São Paulo, e hoje vive e trabalha na cidade de São Paulo. Formou-se no curso de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), em 1983, tornando-se mestre e doutor pela mesma universidade. Em 1984, realiza sua primeira exposição individual na Galeria D. H. L., em São Paulo. Recebe a Bolsa Emile Eddé de Artes Plásticas do MAC/USP, em 1988. Impacta na formação de uma nova geração de pintores através de relevante atividade docente, lecionando pintura na Faculdade Santa Marcelina e desenho na Universidade Presbiteriana Mackenzie, na USP e na Fundação Armando Álvares Penteado FAAP. Atualmente, ministra um curso livre de pintura. Entre as exposições individuais realizadas, destacam-se: Pintura de bolso, Millan, São Paulo (2023); Recent Paintings, David Nolan Gallery, Nova York, EUA (2022); Paulo Pasta, Cecilia Brunson Projects, Londres, Reino Unido (2022); Correspondências, Millan, São Paulo (2021); Paulo Pasta: Luz, Museu de Arte Sacra de São Paulo (2021); Projeto e Destino, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2018); Lembranças do futuro, Millan, São Paulo (2018); Setembro, Palácio Pamphilj, Roma, Itália (2016); Correntes, Sesc Belenzinho, São Paulo (2014); A pintura é que é isto, Fundação Iberê, Porto Alegre (2013); Sobrevisíveis, Centro Cultural Maria Antonia, São Paulo (2011); Paulo Pasta, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2008) e Paulo Pasta, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2006). Entre suas participações em exposições coletivas estão: Abstração: a realidade mediada, Millan, São Paulo (2022); Os Muitos e o Um, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2016); Quase figura, quase forma, Galeria Estação, São Paulo (2014); 30x Bienal, Pavilhão da Bienal, São Paulo (2013); Europalia, International Art Festival, Bruxelas, Bélgica (2011); Matisse Hoje, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2009); Panorama dos Panoramas, Museu de Arte Moderna de São Paulo MAM-SP (2008); MAM [na] Oca, Oca, São Paulo (2006); 3ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2001); Brasil +500 Mostra do Redescobrimento, Pavilhão da Bienal, São Paulo (2000); Panorama das Artes Visuais, Museu de Arte Moderna de São Paulo recebe o Grande Prêmio (1997); Havana São Paulo, Junge Kunsthaus Lateinamerika, Haus der Kulturen Der Welt, Berlim, Alemanha (1995); XXII Bienal de São Paulo (1994) e III Bienal de Cuenca, Equador (1991). Suas obras integram importantes coleções, entre as quais: Museu Reina Sofía, Madri, Espanha; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo MAC/USP; Museu de Arte Moderna de São Paulo MAM-SP; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro MAM-Rio; Museu de Belas-Artes do Rio de Janeiro; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, SP;  Instituto Itaú Cultural, São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Kunsthalle, Berlim, Alemanha, e Kunstmuseum Schloss Derneburg, Hall Art Foundation, Holle, Alemanha.   

 

Sobre o crítico Lorenzo Mammì  

Lorenzo Mammi é formado em Matérias Literárias pela Universidade dos Estudos de Florença e doutor em Filosofia pela USP, onde é professor de História da Filosofia Medieval desde 2003. Como crítico de música e de arte, organizou e publicou ensaios em diversos livros, como Volpi (Cosac Naify, 1999), Carlito Carvalhosa (Cosac Naify, 2000) e Carlos Gomes (Publifolha, 2001). Parte expressiva deles foi reunida nos livros “O que resta: arte e crítica de arte” (Companhia das Letras, 2012), com foco em artes visuais e “A fugitiva” (Companhia das Letras, 2017), que reúne os ensaios musicais. De 1999 a 2005, foi diretor do Centro Universitário Maria Antonia (USP), em São Paulo. De 2015 a 2018, foi curador-chefe de Programação e Eventos do Instituto Moreira Salles.  

 

  

 

Dois conceituados artistas na Paulo Darzé

19/set

 

Com abertura no dia 21 de setembro, a Paulo Darzé Galeria, Corredor da Vitória, Salvador, inaugura as exposições de Paulo Pasta, um dos mais conceituados pintores brasileiros do cenário contemporâneo, (Galeria 1, andar térreo), e com o título de “Linha em expansão”, em sua primeira exposição na Bahia, pinturas de Lúcia Glaz (Galeria 2, segundo andar). As mostras ficam abertas ao público até o dia 21 de outubro.

Sobre o artista

Paulo Pasta nasceu em Ariranha, São Paulo, em 1959, e com suas pinturas busca construir uma temporalidade na pintura. As cores e as formas dos trabalhos do artista parecem planificar a percepção da passagem do tempo: diante de suas telas, o presente se coloca de maneira quase absoluta. As formas e as geometrias representadas nas atmosferas espessas desenhadas pelo artista são vagarosamente reconhecidas através do olhar atento do espectador, que é, por sua vez, colocado entre horizontes e obstáculos que impedem que se veja o espaço da representação com nitidez. A densidade e o tempo criados por Paulo Pasta são contrários a qualquer concessão ao mundo prático e a suas necessidades de presteza e prontidão: é no rumor e na abertura ao tempo presente que recaem sua poética. Doutor em Artes plásticas pela Universidade de São Paulo (2011), realizou as exposições individuais Pintura de bolso (2023), Correspondências (2021) e Lembranças do futuro (2018), na Millan (SP), além de outras mostras individuais em instituições como: David Nolan Gallery (Nova York, EUA, 2022); Cecilia Brunson Projects (Londres, Reino Unido, 2022); Museu de Arte Sacra de São Paulo (SP, 2021); Instituto Tomie Ohtake (SP, 2018); Palazzo Pamphilj (Roma, Itália, 2016); Sesc Belenzinho (SP, 2014); Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre, RS, 2013); Centro Cultural Maria Antônia (SP, 2011); Centro Cultural Banco do Brasil (RJ, 2008); e Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP, 2006). Entre suas participações em exposições coletivas estão: Abstração: a realidade mediada (Millan, SP, 2022); Os muitos e o um (Instituto Tomie Ohtake, SP, 2016); 30xBienal (Pavilhão da Bienal, SP, 2013); Europalia, International Arts Festival (Bruxelas, Bélgica, 2011); Matisse hoje (Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP, 2009); Panorama dos panoramas (MAM-SP, 2008); Mam (na) oca: Arte Brasileira do Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo (Oca, SP, 2006); Arte por toda parte (3ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS, 2001); Brasil + 500 – Mostra do Redescobrimento (Pavilhão da Bienal, SP, 2000); III Bienal de Cuenca (Equador, 1991); entre outras. Suas obras integram diversas coleções, entre as quais estão: Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (Madrid, Espanha), Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP), Museu de Arte Moderna de São Paulo (SP), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (RJ), Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (SP), Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (RJ), Kunsthalle (Berlim, Alemanha), Kunstmuseum Schloss Derneburg (Hall Art Foundation, Holle, Alemanha) e Instituto Figueiredo Ferraz (Ribeirão Preto, SP).

Apresentação da mostra

por Jacopo Crivelli Visconti – “Ser pintura”

Quem acompanha a pintura de Paulo Pasta sabe que ela não opera por meio de saltos ou rupturas, mas por um desenvolvimento silencioso, natural, um prolongar-se de tentativas e exercícios que se dão de uma tela para outra, ao longo do tempo. O prazer de ver, após alguns meses ou anos de intervalo, uma nova exposição de obras do artista é comparável ao de acompanhar, mais ou menos de perto e com uma convivência mais ou menos assídua, o crescimento de filhos de amigos. Pode acontecer que, à distância de meses, eles ainda pareçam iguais, mas pouco a pouco fica evidente que não, eles não são os mesmos. Aliás, já se tornaram totalmente outros. Quando voltei ao ateliê do Paulo, transcorridos anos desde a última vez, para ver as telas que estariam nesta exposição, a conversa se aglutinou ao redor das pequenas mudanças na comparação entre uma tela e outra, ou, para ser mais preciso, na maneira como algo que num quadro chamou a sua atenção e o inspirou, se transforma ao ser levado para outro. Uma linha particularmente sutil, dois retângulos lado a lado contra um fundo homogêneo, uma série de quadrados que se apoiam uns nos outros: diante de um universo tão diáfano e vibrátil, mesmo coisas que a princípio são iguais ou muito parecidas se tornam completamente distintas quando algo ao redor delas muda. A ideia de que um elemento possa “chamar a atenção” do próprio autor do quadro não deve surpreender. Apesar de ter um controle razoável sobre sua composição, como demonstram a nitidez das formas e as variações relativamente limitadas em sua paleta, Paulo é o primeiro a aprender com o resultado. Porque além de pintar, ele olha: é preciso um tempo para fazer, e outro para entender. Não é por acaso que as obras sejam consideradas acabadas, muitas vezes, dias ou semanas depois de terem recebido a última pincelada. É nesse momento que Paulo retira a fita que protege a faixa branca que, frequentemente, fecha a composição em sua parte inferior. Numa das pinturas mais surpreendentes da exposição, na qual três quadrados se empilham num equilíbrio aparentemente instável, ao retirar a fita Paulo percebeu que o branco destoava do resto, e decidiu então transformá-lo num amarelo pálido. O que torna a composição insólita não é tanto esse detalhe, mas a presença dos quadrados. Trata-se de uma forma que também aparece em outras telas da exposição, mas está longe de poder ser considerada frequente no vocabulário do artista. Além disso, a maneira desengonçada como esses quadrados se apoiam uns nos outros, indicando que a torre instável que conformam poderia desmoronar a qualquer momento, sugere um peso, e implicitamente uma tridimensionalidade, ausentes na maioria das outras obras. Apenas outra pintura na exposição sugere algo semelhante ao introduzir um segundo elemento que pode ser considerado raro na poética de Paulo: uma linha diagonal. Nesse caso, a linha fecha na parte superior uma faixa branca vertical, que passa a sugerir, assim, o que poderia ser uma porta ou uma janela entreaberta, e, de novo, a tridimensionalidade. Mas é uma tridimensionalidade que tem a ver antes de mais nada com a própria história da pintura: com o fato de que uma linha diagonal numa tela pode ser usada para sugerir uma perspectiva ou um ponto de fuga. Talvez não seja por acaso, então, que nessa tela, ao invés de uma única faixa branca na parte inferior, Paulo tenha criado uma pequena moldura, quase imperceptível, que percorre os quatro lados da tela, como uma janela por onde olhamos uma cena. Mas é uma cena abstrata, esvaziada, onde as arquiteturas metafísicas de um de Chirico ou as cores de um Piero della Francesca viraram apenas lembranças. É a ideia de uma cena. E uma ideia, no fundo, totalmente alheia a essas pinturas, que nunca contam uma história, nunca pedem para ser “entendidas”, muito menos de um único jeito. As obras de Paulo Pasta parecem afirmar o tempo todo que são apenas campos de cor sobre uma superfície plana, e que qualquer arquitetura ou alusão a elementos do mundo real que possamos ler nelas é apenas isso, uma leitura feita por quem olha, e não algo implícito ou sugerido pela pintura. Não há por que buscar nessas pinturas uma razão de ser ou um significado, não há uma explicação ou uma lógica. Elas apenas existem, como existem uma montanha, uma pedra, uma onda no mar. Essa aparente simplicidade é em realidade o resultado de uma reflexão longa e coerente, a tradução física de um pensamento filosófico, de um olhar e de um profundo conhecimento teórico e prático. As pinturas, porém, não sabem nada disso. Elas são, e nada mais.

Sobre a artista

Lúcia Glaz nasceu em Santos, litoral de SP no ano de 1961. Pintora desde jovem, participou de várias exposições. Entre elas a coletiva “Razão concreta”, ao lado de pintores como Volpi, Rubem Valentim, Judith Lauand e outros, na Galeria Berenice Arvani (SP), em abril de 2016. No ano seguinte participou da coletiva SPART 2001. Em setembro desse mesmo ano na Galeria Berenice Arvani, realizou individual com curadoria de Pedro Mastrobuono, “A beleza é metafísica na pintura de Lúcia Glaz”. Participou da Pinta Miami Art Fair em dezembro de 2017. Em setembro de 2018 fez outra individual, desta vez no Rio de Janeiro, na Galeria Almacén Thebaldi “O diálogo da cor”. Participou da PARTE/Feira de Arte Contemporânea, em 2018. Integrou a exposição coletiva “Modernos Eternos” (Mosteiro de São Bento/SP), em agosto de 2019. Em novembro de 2019 participou do Projeto Felicidade-Clube Hebraica; fez uma individual na Pinacoteca Benedicto Calixto, “A Pintura como processo”, também em novembro de 2019. Participou da feira de arte On Line Arte Viewing Room pela Galeria Berenice Arvani em agosto de 2020, “A geometria como forma de expressão “. Participou da Expo/Sevivon-Beit-Chabat em dezembro de 2020. Em setembro de 2023, individual na Paulo Darzé Galeria, com o título de “Linha em expansão”, com apresentação de Antonio Gonçalves Filho.

Apresentação da mostra

por Antonio Gonçalves Filho – “Liberdade construtiva”

Embora de uma outra geração, a pintura de Lúcia Glaz (1961) guarda uma proximidade com mestres de outras escolas que antecederam sua iniciação na arte nos anos 1980, sendo possível citar pelo menos dois nomes com os quais se identifica: o francês François Morellet (1926-2016), cuja obra, nos anos 1950, prefigura o minimalismo, e o construtivista brasileiro Milton Dacosta (1915-1988). Nesta sua primeira exposição individual na Galeria Paulo Darzé, Lúcia Glaz presta um tributo a Morellet e a Dacosta, exibindo uma nova série de pinturas que evocam tanto a estrutura como a figura do quadrado, marcantes na carreira do francês, de 1953 em diante, como as construções com a referida figura geométrica pintada por Dacosta no mesmo período (e suas composições elaboradas entre 1957 e 1958 justificam essa comparação). Se as primeiras estruturas de Morellet com o quadrado (1953) dividiam a superfície da tela em dezesseis partes iguais, replicando um ordenamento típico de Mondrian, as de Milton Dacosta usavam o quadrado num registro próximo das construções sintéticas de Morandi (sem a pureza formal de Mondrian). Entre os dois, Lúcia Glaz descobre uma solução que não abandona o racionalismo abstrato, mas amplia seu vocabulário. Trata-se de uma investigação que caminha para a forma como Albers caminhou para suas pesquisas sobre a expansão da cor. Uma afinidade, mais que uma influência. Há um projeto gráfico nas pinturas desta exposição que, embora reverente à ortogonalidade, subverte essa ordem para afirmar seu compromisso com a natureza lírica do movimento da figura do quadrado, forma criada pelo homem que, aliás, quer ser perfeita. Pintada sobre a superfície terrosa nas telas de Lúcia Glaz, essa forma, no entanto, resiste à racionalização serialista de Mondrian para sugerir um jogo lúdico com o espectador. A abstração geométrica não extermina a poesia dessa movimentação aleatória de dados que brinca com a aventura cinética de Morellet sem confrontar sua adesão à turma de Sobrino e Julio Le Parc, em 1958. As formas de expressão de Lúcia Glaz não passam pela adesão a qualquer movimento. Antes de se integrar a métodos, ela prefere se render voluntariamente à instabilidade sugerida pela percepção física da figura do quadrado como uma entidade não física que ocupa o espaço, mais ou menos como os quadrados transformados pelas linhas de néon nas pinturas de Morellet. São decisões subjetivas que resistem a uma execução mecânica e revelam o virtuosismo de Lúcia Glaz como renovadora da linguagem construtiva que tanto marcou a arte brasileira. Ela agrega o intimismo de Paul Klee num registro monocromático, sóbrio e próximo das coisas concretas do mundo. Um equilíbrio necessário num mundo desordenado.

Iole de Freitas no Instituto Tomie Ohtake

17/jul

 

Em instalação monumental inédita, a artista retoma a dança para sublinhar o movimento, o espaço e a forma. Ao entrar no grande hall do Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, – até 17 de setembro – o visitante vai se deparar com uma surpreendente instalação de dimensão monumental concebida pela artista visual que completa cinco décadas de carreira. “Iole de Freitas: Colapsada, em pé”, com curadoria de Paulo Miyada, é uma mostra organizada em torno desta instalação, produzida com tubos metálicos e placas de policarbonato marcados pelo uso prévio como partes de instalações feitas pela artista nos últimos vinte e cinco anos. Essa nova peça apoia-se sobre o solo e se ergue como um abrigo aberto repleto de movimento.

“Ela dispensou a possibilidade de criar novas linhas e planos suspensos na idiossincrática arquitetura desse espaço de passagem e cruzamento desenhado por Ruy Ohtake, e desceu ao chão de seu ateliê as peças constituintes de dez de suas exposições. Tubos metálicos e placas de policarbonato marcados pelo uso (com arranhões, manchas, sujidades e desgastes) foram então girados, recombinados, aparafusados, soldados”, explica o curador chefe do Instituto Tomie Ohtake.

Para a concepção da obra, pela primeira vez em seis décadas, a dança retornou direta e explicitamente ao seu fazer artístico, como modo de apreensão do espaço e concepção da forma. Neste processo ela começou a experimentar fragmentos de dança, cenas curtas ou anotações corporais em meio à obra em construção. Conforme Paulo Miyada, mover-se, só ou na companhia de seu neto, Bento, transformou-se numa espécie de notação que antecipa e testa relações entre partes e formas. “Trata-se da dança como régua, sismógrafo, desenho, maquete, laboratório”, ele destaca.

A questão com o corpo contida neste imenso “acontecimento da obra construída” convida as pessoas a percorrer a instalação em livre movimento. “Essa peça é um abrigo aberto, uma cena à espera de atores voluntários, uma partitura espacializada de dança, um dispositivo de medição do corpo e do espaço; é uma máquina para a vivência de múltiplos estados de presença, para a experimentação de modos de aparecer e perceber-se”, completa Paulo Miyada. Os fragmentos filmados dessa experiência com a dança integram duas videoinstalações inéditas como parte da exposição desenvolvida em diálogo entre artista e o curador, que resultará ainda em uma publicação a ser distribuída gratuitamente.

Enquanto no Instituto Moreira Salles, em “Iole de Freitas, anos 1970 / Imagem como presença”, exposição em cartaz com curadoria de Sônia Salzstein, a artista apresenta uma parte de sua história reelaborada por uma instalação contemporânea, no Instituto Tomie Ohtake, ela abre novos caminhos em sua obra ao reprocessar elementos constitutivos de sua trajetória: a dança e a própria matéria de suas instalações.

Sobre a artista

Nascida em Belo Horizonte (MG), em 1945, Iole de Freitas mudou-se aos seis anos para o Rio de Janeiro, onde iniciou sua formação em dança contemporânea. Estudou na Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), cidade em que hoje vive e trabalha. A partir de 1970, viveu por oito anos em Milão, onde começou a desenvolver e expor seu trabalho em artes plásticas a partir de 1973. A artista participou de importantes mostras internacionais, como a 9ª Bienal de Paris, a 16ª Bienal de São Paulo, a 5ª Bienal do Mercosul e a Documenta 12, em Kassel, Alemanha. Além de comparecerem a individuais e coletivas em várias cidades do mundo, seus trabalhos integram importantes coleções, entre as quais, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP); Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP); Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Museu Nacional de Belas Artes, RJ; Museu do Açude, RJ; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio); Museu de Arte do Rio (MAR); Bronx Museum (EUA); Winnipeg Art Gallery (Canadá); e Daros Collection (Suíça).

Antonio Dias entre o Brasil e a Europa

06/jul

O crítico e historiador de arte Sérgio Martins aborda a trajetória do grande artista Antonio Dias (1944-2018) no livro “Arte negativa para um país negativo: Antonio Dias entre o Brasil e a Europa” (Ubu Editora, 2023), com 256 páginas e 95 imagens, fruto de pesquisa dentro de programas da Faperj e do Capes. A história singular de Antonio Dias, que foi para Paris com uma bolsa de estudos em 1966, onde participou dos movimentos de maio de 1968, e depois segue para Milão, onde passou a fazer parte de um dos principais centros de irradiação artística das décadas seguintes, sem nunca se desconectar do Brasil. Em 1999, fixa residência no Rio de Janeiro, sem deixar de fazer constantes viagens internacionais.

Sobre o livro

“Arte negativa para um país negativo: Antonio Dias entre o Brasil e a Europa” lançamento da Ubu Editora, foi lançado na Livraria da Travessa Ipanema, Rio de Janeiro. O legado de Antonio Dias é representado, com exclusividade, pela galeria Nara Roesler (São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York). O projeto para o livro começou em 2018, “embora a ideia já tivesse começado a se delinear um pouco antes, por conta de meus trabalhos prévios sobre a obra do Antonio”, conta Sérgio Martins. “A pandemia e a morte do próprio Antonio trouxeram dificuldades e mudaram os rumos da pesquisa. Mas contei com financiamentos da Capes, da Fundação Alexander von Humboldt – que me permitiram passar um ano e meio como pesquisador visitante na Freie Universität Berlin -, do Getty Research Institute, e sobretudo da Faperj, que foram fundamentais para a pesquisa internacional e para a realização do livro”. Ele acrescenta que “o foco original era o álbum “Trama”, mas isso mudou e o livro acabou se voltando para dois períodos de transição: 1968, com as pinturas negras, e 1971-1974, com a série “The Illustration of Art”. Entretanto, o livro se expande para períodos anteriores e posteriores, diz o autor. O exemplar custa R$ 89,90. A crítica Sônia Salsztein afirma que descobre-se com prazer, no curso da leitura, tratar-se de um notável experimento de reflexão e escrita sobre arte contemporânea, em que o domínio da cultura histórica e o rigor na exposição dos argumentos em nada intimidam o movimento dubitativo e experimental das ideias, diante de questões que ainda se mantêm em aberto no horizonte contemporâneo”.

Sobre o artista

Nascido em Campina Grande, Paraíba, em 1944, Antonio Dias migrou para o Rio de Janeiro em 1958, onde teve aulas com Oswaldo Goeldi (1895-1961) no Atelier Livre de Gravura da Escola Nacional de Belas Artes. Participa da 4ª Bienal de Paris, em 1965, e recebeu uma bolsa de estudos do governo francês, dando então início a um autoexílio na Europa.

Antonio Dias – Trajetória Transnacional

“A ideia era refletir sobre a especificidade da trajetória transnacional do Antonio, na medida em que ele se forma em meio ao debate vanguardista brasileiro, mas logo em seguida adentra uma cena artística muito mais estruturada, mercantilizada – e que rapidamente assumia uma feição pós-vanguardista – a partir da centralidade que Milão tinha em relação ao circuito europeu naquele momento. É como se o Antonio e sua obra encarnassem um ponto de contato muito vivo entre duas dimensões geopoliticamente distintas do fazer artístico naquele momento: uma vanguarda semiperiférica e a circulação da arte num mercado central – ainda que num país, a Itália, que também tinha certos traços semiperiféricos”, observa Sérgio Martins.

Ele acrescenta que no livro tenta “acompanhar as idas e vindas do trabalho do Antonio ao longo de diferentes manobras poéticas que ele experimenta para dar conta dessa fricção”. “O interessante é ver que ele evita tanto se colocar como um artista latino-americano ou brasileiro na Europa – no sentido não buscar cultivar essa identidade como meio de se situar e se promover – quanto aderir a grupos italianos e europeus como a Arte Povera, apesar de aberturas e flertes que acontecem ao longo do caminho. Então eu tento acompanhá-lo nesse limiar tênue, atentando para o diálogo com várias figuras importantes no Brasil e na Europa naquele momento, como Pierre Restany, Hélio Oiticica, Harald Szeemann, Giulio Paolini, Tommaso Trini, Giulio Carlo Argan, o grupo Fluxus e a pintura analítica italiana, entre outros”.

Sobre Sérgio Martins

Nasceu no Rio de Janeiro, em 1977. Estudou história da arte na University College London (UCL), onde obteve o mestrado em 2005 e o doutorado em 2011, com bolsa do Higher Education Funding Council for England e da UCL Graduate School. Sua tese resultou no livro “Constructing an Avant-Garde: Art in Brazil, 1949-1979″ (MIT Press, 2013). Em 2014, tornou-se professor do Departamento de História da PUC-Rio e, entre 2020 e 2022, foi pesquisador visitante na Freie Universität Berlin com bolsa Capes/Humboldt Senior Fellowship. É pesquisador bolsista do CNPq desde 2023 e do programa Jovem Cientista do Nosso Estado (JCNE) da Faperj desde 2018. Em 2012, organizou o número especial “Bursting on the Scene: Looking Back at Brazilian Art” do periodic inglês “Third Text”. Tem artigos publicados também nos periódicos “October”, “ARTmargins”, “Artforum”, “ARS”, “Modos e Novos Estudos Cebrap”, entre outros, e contribuiu para os catálogos de mostras como “Cildo Meireles” (Fundação Serralves/Museo Nacional Reina Sofia, 2013), “Hélio Oiticica: to Organize Delirium” (Carnegie Museum/ArtInstitute of Chicago/Whitney Museum, 2016), “Alexander Calder: Performing Sculpture” (Tate Modern, 2015), “Anna Maria Maiolino” (MoCA Los Angeles, 2017), “Lygia Pape: a Multitude of Forms (The Metropolitan Museum of Art, 2017)”, “Antonio Dias: derrotas e vitórias” (MAM-SP, 2021) e “Louise Bourgeois: Imaginary Conversations” (The National Museum, Oslo, 2023.

Paulo Monteiro no Instituto Ling

06/abr

 

A mostra “Paulo Monteiro: Linha do Corpo” fica em cartaz no Instituto Ling, Porto Alegre, RS, até 17 de junho, com visitas livres de segunda a sábado e a possibilidade de visitas com mediação para grupos, mediante agendamento prévio e sem custo pelo site. O público poderá conferir ao todo 67 obras, criadas de 1990 até 2022. Esta programação é uma realização do Instituto Ling e Ministério da Cultura / Governo Federal, com patrocínio da Crown Embalagens.

 

Paulo Monteiro: Linha do Corpo

Esta exposição traz trabalhos de um segmento decisivo na obra de Paulo Monteiro, subsequente a um período de imersão na pintura, no sentido extremo do Expressionismo Abstrato e da Transvanguarda a que aderiu nos anos 1980-90 com o grupo Casa 7, que agitou essas décadas. Já então, a afinidade com as “caricaturas pictóricas” de Philip Guston e sua produção de quadrinhos denunciava a paixão pelo traço. Esta série de desenhos em grafite, os guaches, as peças de parede, as esculturas e as “pinturinhas” recentes assinalam um deslocamento, partindo daquela urgência e excesso expressivo para uma meditação gráfica: um recuo abrupto ao silêncio da linha. O desenho, em sua nudez de efeitos, é aqui o meio para refazer uma gênese, uma decantação da forma como grafia do movimento. Um traço incerto, que ora desliza, ora resiste expondo rebarbas da fricção com o papel. Um passo aquém para ganhar distância, meditar aquele fazer, autenticá-lo. O empasto anterior se torna rarefeito; a efusão converte-se em absorção, a ponto de se reduzir a elementaridades. O papel branco e o grafite preto que o sulca; a massa de argila (depois fundida em metal) que se erige num breve movimento (achatar, cortar e torcer): um mesmo pequeno gesto. A arte torna-se sua reflexividade; desenho mental, percurso errático do desejo. Dobra-se sobre si mesma, abstrai, duplica-se e sonha outros espaços. Instável, volta a desmoronar na massa amorfa. Mas o traço deve conter-se, descolar dos contornos, abstrair para avançar no espaço e, então, aventurar-se. Foi preciso despir-se de toda “coloração”, concentrar-se no gesto elementar, para, enfim, acessar esse núcleo poético que, desde então, perpassa toda a obra. Uma tensão limite entre a mobilidade e a leveza da linha e o peso das massas escultóricas, que nunca se consolida em “boa forma”, mas se articula numa ambiguidade pulsante, esculpindo corpos nas superfícies.

 

Virginia H. A. Aita

 

Sobre o artista

Conhecido como um dos nomes expoentes da geração surgida nos anos 80 no Brasil e tendo participado do notório grupo Casa 7, Paulo Monteiro desenvolveu ao longo das últimas décadas um extenso, coeso e vibrante corpo de trabalho, marcado por uma vontade profundamente particular, mas cuja capacidade de articulação aspira à linguagem universal. Suas pinturas e esculturas atravessam as influências recolhidas da transição do expressionismo abstrato para o neoexpressionismo e do minimalismo para elaborar estados de espírito e situações radicais em suas manifestações mais espontâneas. Baseado na síntese, o núcleo de sua pesquisa se encontra na natureza da conformação da matéria, que se estica em linhas, esparrama-se em marcas gráficas, demarca relevos, cortes, torções, dobras e desmanches, sempre em exercícios marcados pela combinação de delicadeza e rigidez.

A simplicidade de seus gestos não reduz o disparo de múltiplas experiências. Muito pelo contrário, aponta para uma ambiguidade, tão determinada quanto bem-humorada. Sua obra pode ser encarada a partir de aspectos do pensamento metafísico, mas também em diálogo com noções de coreografia e dança, ventilando questões a respeito do deslocamento, das medidas de distância e dos limites que delineiam o que entendemos como dentro e o que especulamos como fora. São manifestações que lidam, sobretudo, com o estado contínuo de transformação das coisas; e com a consciência que nos permite manter-nos sempre abertos para a chegada de novas imaginações. Seu trabalho integra inúmeras coleções permanentes, incluindo: MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo), Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAC-SP (Museu de Arte Contemporânea de São Paulo), MAM-RJ (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro) e Museu de Arte Contemporânea de Niterói.

 

Sobre a curadoria

Virgina H. A. Aita, possui breve incursão pelas artes nos anos 1990 e mestrado e doutorado em Filosofia, especializou-se em filosofia moderna, estéticas anglo-americanas e Arthur C. Danto. Estudou Filosofia e História da Arte na Universidade de Columbia (Barnard College, NY), onde realizou seu pós-doutorado em Estética entre 2015 e 2016, e participou de cursos temporários na School of Visual Arts. Lecionou na UFRGS, na UFBA, na Casa do Saber (SP) e no Instituto Ling. Atuou como curadora na Fundação Iberê Camargo e em projetos independentes, produzindo textos na área de filosofia e crítica de arte. Recentemente coorganizou o IV Seminário Estética e Crítica de arte da FFLCH-USP (“Sentidos na Asfixia”), onde faz pós-doutorado e integra grupos de pesquisa em estética.

 

Exposição de José Resende

13/mar

A Galeria Marcelo Guarnieri, apresenta, entre 18 de março e 22 de abril, “Notas de Rodapé: Amilcar, Lygia e Weissmann”, primeira exposição individual de José Resende – nos Jardins – , o espaço da galeria em São Paulo. A mostra é formada por um conjunto de onze esculturas inéditas produzidas a partir de cortes e dobras em seis chapas de aço corten aproveitadas integralmente. Embora surjam de chapas idênticas e sofram cortes e dobras muitas vezes iguais, cada uma das onze esculturas pode ser percebida de maneira particular. José Resende propõe a ocupação total do espaço da galeria e assim, um contato mais próximo do espectador, que, ao transitar pelas esculturas, percebe mais facilmente que com apenas a rotação de algumas delas, surgem outras bem distintas. Com o título “Notas de Rodapé: Amilcar, Lygia e Weissmann”, José Resende explicita claramente as referências com as quais esse trabalho está relacionado, convocando, de maneira alusiva, os três artistas neoconcretos para tratar das questões de interesse que compartilham. A exposição conta com texto crítico do curador Diego Matos.

Um dos artistas mais importantes da escultura brasileira, José Resende (1945, São Paulo, Brasil) explora, desde a década de 1960, as potencialidades expressivas de materiais industriais tão diversos como aço, chumbo, cobre, parafina e as relações que estabelecem com o espaço através das dinâmicas de peso e contrapeso. Durante as décadas de 1960 e 1970, José Resende esteve à frente de projetos significativos para a história da arte brasileira que buscavam levantar questões ao redor do ensino de arte, da crítica e do mercado como a Rex Gallery and Sons, a Escola Brasil, a Revista Malasartes e o jornal A Parte do Fogo. A partir da década de 1990, desenvolve projetos de arte para espaços públicos, ampliando sua investigação sobre os efeitos da relação entre suas obras e a dinâmica do espaço urbano. Destacam-se, entre elas: O Passante (1996) no Largo da Carioca, Rio de Janeiro; a peça Sem título (1997) que integra o Jardim de Esculturas do Parque Ibirapuera e os três pares de vagões suspensos à margem da Radial Leste, no Grupo de Intervenção Urbana Arte/Cidade (São Paulo, 2002).

José Resende participou de diversas exposições nacionais e internacionais, entre elas a Bienal de Paris em 1980, a Bienal de Veneza em 1988, a 9ª Documenta de Kassel em 1992, a Bienal de Sidney em 1998 e de diversas edições da Bienal de São Paulo. Em 1984, recebeu a bolsa da John Simon Guggenheim Memorial Foundation e residiu em Nova Iorque durante um ano. Entre suas exposições recentes, destacam-se: “José Resende: Na membrana do mundo”, na Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre, 2021); 33ª Bienal Internacional de São Paulo (2018) e “José Resende”, na Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo, 2015). Seu trabalho faz parte das coleções do MoMA – The Museum of Modern Art (Nova Iorque), MAM-SP – Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAC/USP e Pinacoteca do Estado de São Paulo.

As gravuras de Santidio Pereira no Uruguai

02/mar

 

Exposição do brasileiro Santídio Pereira abre o calendário de 2023 no dia 10 de março (sexta-feira), da Galeria Xippas Punta del Este. Esta é a primeira exposição individual do artista Santídio Pereira no Uruguai.

“Da Mata ao Morro” apresenta quatro pinturas, seis xilogravuras e seis guaches, um trabalho centrado na grandeza da Natureza, provocando ecos de atenção e reflexões sobre um tema tão latente. Ainda este ano, a mostra segue para a sede da Xippas em Paris.

“À primeira vista, é difícil entender como um artista de 26 anos já expôs em importantes instituições no Brasil e no exterior. Entre eles, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP); a Pinacoteca do Estado de São Paulo; a Fundação Cartier pour l’Art Contemporain, de Paris; Power Station of Art, Xangai e agora em 2022 sua exposição individual no Iberê em Porto Alegre, Brasil. Além de fazer parte de coleções renomadas, como Cisneros Collection, EUA; Coleção de arte de SESC, São Paulo; Museu de Arte do Rio (MAR), entre muitos outros”, diz Emilio Kalil, diretor-superintendente da Fundação Iberê, que em maio do ano passado recebeu a primeira individual do artista em um museu, “Santídio Pereira – Incisões, recortes e encaixes”.

Nascido num pequeno povoado no interior do estado do Piauí, nordeste brasileiro, desde criança Santídio Pereira já demonstrava aptidão com as artes através das atividades socioeducativas do Instituto Acaia. O interesse pela xilogravura foi tomando corpo e, atualmente, é o principal suporte de sua pesquisa artística, cuja característica mais importante é a utilização de diversas matrizes em uma mesma composição, técnica ao qual ele denomina “incisão, recorte e encaixe”, o que subverte a função da multiplicidade tão característica da gravura. Dessa forma, as impressões sobrepostas acumulam camadas espessas de tinta em cores diferentes para recriar elementos da sua memória afetiva, como a fauna, flora, pessoas e objetos que fizeram parte de seu contexto. Dentre seus trabalhos mais emblemáticos estão os pássaros da Caatinga do Piauí e as bromélias da Mata Atlântica.

A exposição “Da Mata ao Morro” pode ser visitada até 30 de abril.

Galeria Xippas

Ruta 104, km 5 – Manantiales

Punta del Este – Uruguai

Livros Espelho Consequências

13/out

 

A Mul.ti.plo Espaço Arte, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, apresenta até 02 de dezembro uma exposição de Waltercio Caldas, um dos maiores nomes da cena de arte contemporânea brasileira. Para a mostra, Waltercio preparou, durante dois anos, 14 obras inéditas que trazem a sua assinatura poética de relacionar objetos que à sua visão pertencem à mesma família, entre eles os livros e os espelhos. Ao todo serão apresentados nove objetos e cinco desenhos tridimensionais, além de um catálogo com notas de sua caderneta de trabalho. A exposição pode ser visitada até o dia 02 de dezembro.

O reconhecimento da obra de Waltercio Caldas não encontra fronteiras. Sua arte é tanto poética quanto precisa. Segundo texto do crítico e professor Paulo Sérgio Duarte, “não existe arte contemporânea que não seja experimental. Sabemos disso desde Adorno e sua Teoria Estética. Mas existe algo em Waltercio Caldas além do experimentalismo: um ascetismo que não se confunde com aquele da Minimal Art. Trata-se de uma economia que não é avessa ao campo semântico, à polissemia dos significados. Isso estimula a experiência da obra”.

Nessa exposição, Waltercio Caldas trabalha a partir do conhecimento poético dos objetos e das coisas. “A passagem de uma ideia abstrata para um objeto real é o que permite o aparecimento da obra de arte. Ela entra em nossa vida de forma transversa, como algo que não conhecemos, inaugurando sua própria presença. Me interessa esse aparecimento, essa perplexidade inicial”, diz ele, que prioriza em sua prática artística a tridimensionalidade. “Por enfatizar novos aspectos da gravidade, do peso e das matérias, as obras surgem pondo entre parêntesis sua inserção no mundo”, afirma. Nesses objetos inéditos, Waltercio chega a formas extremamente rigorosas e precisas, carregadas de sugestões impossíveis de serem traduzidas em outras linguagens.

Não por acaso, na exposição da Mul.ti.plo, Waltercio Caldas acrescentou um catálogo com anotações que surgiram no decorrer do processo de criação desses trabalhos, e as chamou de “Consequências”. Escrever sobre as questões relacionadas ao processo criativo dos trabalhos reverbera o conteúdo da exposição em outra atitude. Procurar entender o funcionamento dos espelhos e dos livros é enfrentar mais uma vez o que ainda não sabemos”, diz o artista, que realiza a sua terceira exposição na galeria – a primeira foi em 2012, com múltiplos; e, a outra, em 2017, com desenhos.

 

Sobre o artista

Waltercio Caldas nasceu no Rio de Janeiro, em 1946. Realizou sua primeira exposição individual em 1973, no Museu de Arte Moderna (MAM) da mesma cidade, quando recebeu o Prêmio Anual de Viagem ao Exterior, concedido pela Associação Brasileira de Críticos de Arte. Desde então, tem participado de inúmeras exposições no Brasil e no exterior. Em 1998, recebeu o prêmio Johnnie Walker de Artes Plásticas e, em 2002, o prêmio Mario Pedrosa da Associação Brasileira de Críticos de Arte, ambos pelo conjunto de sua obra. Representou o Brasil nas Bienais de São Paulo de 1983, 1987 e 1996; na Documenta IX de Kassel, em1992; e na XLVII Bienal de Veneza, em 1997. Em 2005 recebeu o “City Light Award”, o grande prêmio da Bienal da Coreia. Em 2007 foi artista convidado para o pavilhão Itália da LII Bienal de Veneza. Em 2008 realizou exposições Centro Galego de Arte Contemporânea (Espanha) e Fundação Calouste Gulbenkian )Portugal). Em 2012 exibiu uma retrospectiva de suas obras na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, que, em 2013, foi para a Pinacoteca de São Paulo e para o Blanton Museum no Texas, EUA. Em 2018 foi artista curador convidado na XXXIII Bienal Internacional de São Paulo. O artista possui esculturas públicas nas cidades de Punta del Este (1982), São Paulo (1989 e 1997), Leirfjord, Noruega (1994), Rio de Janeiro (1997 e 2014), na fronteira do Brasil com Argentina (2000) e em Porto Alegre (2006). A escultura “O Modo Azul” foi instalada permanentemente no Museu do Açude em 2018, no Rio. Seus desenhos, esculturas e livros de artista fazem parte de diversas coleções particulares do Brasil e do exterior, além de museus como o MAM RJ, MAM SP, Museu de Artes de Brasília, Phoenix Art Museum, Neue Galerie Staatliche Museen, Alemanha; Daros Foundation, Zurique; e Centre Pompidou, Paris; Museu Reina Sofia, Madri; entre outros. Em 2001 foi realizada uma retrospectiva parcial de sua obra no CCBB do Rio de Janeiro e de Brasília. O Museum of Modern Art de Nova York adquiriu, em 2006, mais duas de suas obras. No mesmo ano, o artista lançou Notas, ( ) etc., livro que reúne uma seleção de seus textos sobre o trabalho. Em 2007 participou como artista convidado da 52a Bienal de Veneza e, em 2008, realizou mostras na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; e no Centro Galego de Arte Contemporânea de Santiago de Compostela, Espanha. Em 2010 expôs no Museu Vale e no MAM RJ. Em 2011, nas galerias Elvira Gonzalez, em Madri e Raquel Arnaud, em São Paulo, e na mostra Art/Unlimited em Basel, Suíça. No mesmo ano, recebeu o grande prêmio da Bienal de Cuenca. Em 2017 expôs na Galeria Xippas, de Paris. Sobre sua obra já foram publicados uma dezena de livros, com textos dos mais renomados críticos de arte do país.

 

Sobre a Mul.Ti.Plo

Mais do que uma galeria onde as obras ficam expostas para a apreciação do público, a Mul.ti.plo Espaço Arte apresenta-se como um ambiente de encontro com a arte contemporânea. Aqui, artistas consagrados e novos talentos oferecem o melhor de sua produção em múltiplos e obras em papel, objetos e pinturas, além de projetos especiais. A ideia é que o espaço crie as condições para que os olhares do público encontrem formas singulares de se relacionar com a arte. Além de comercializar obras selecionadas a partir de critérios estéticos de extraordinária densidade artística, a Mul.ti.plo realiza permanente trabalho de pesquisa no sentido de identificar e divulgar novos trabalhos. Por seu engajamento na circulação da arte e pela recusa em tomá-la como produto, a galeria vem se consolidando como um espaço que investe no lançamento de edições exclusivas, um lugar que cultiva preciosidades. Com os múltiplos e as obras em outros formatos de grandes artistas brasileiros e estrangeiros, a Mul.ti.plo trabalha no sentido de renovar a reflexão e a fruição estética, atrair não especialistas, despertar novos colecionadores e enriquecer coleções já estruturadas.

 

 

Dois escultores na Central Galeria

03/out

 

A Central Galeria, Vila Buarque, São Paulo, SP, apresenta até 12 de novembro, “Opositores” exposição de Dora Smék e Paul Setúbal, realizada em parceria com a Casa Triângulo e com texto assinado por Benjamin Seroussi. Refletindo o momento de crescentes tensões sociais no país, os artistas apresentam um projeto instalativo formado por esculturas de bronze e correntes que cruzam todo o espaço da galeria, buscando ampliar o debate a respeito da democracia e das polaridades políticas, éticas e territoriais.

“Opositores” compreende uma série de esculturas criadas colaborativamente por Dora Smék e Paul Setúbal em 2017, até então inéditas. Feitas em bronze a partir dos moldes das mãos dos artistas, elas são unidas e posicionadas como em um jogo infantil – a “guerra de polegares”, cujo objetivo é capturar o polegar do outro usando apenas o próprio polegar. No trabalho da dupla, porém, o movimento dos dedos não aponta nenhum vencedor: cristaliza-se o momento da disputa, dilatando a sensação de impasse e tensão permanente.

Para a exposição, os artistas apresentam as esculturas através de um sistema de tensionamento que envolve o uso de correntes, ganchos e esticadores de aço dispostos como vetores, valendo-se das colunas de concreto da Central. As correntes atravessam o espaço expositivo em diferentes direções, criam obstáculos de passagem e acentuam ainda mais a relação de oposição entre cada um dos movimentos.

Sobre os artistas

Dora Smék (Campinas, 1987) vive e trabalha em São Paulo. Dentre suas exposições recentes, destaca-se a individual “A dança do corpo sem cabeça” na Central Galeria (São Paulo, 2021), além das coletivas: 13ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2022); Arte em Campo, Estádio do Pacaembu (São Paulo, 2020); No presente a vida (é) política, Central Galeria (São Paulo, 2020); Arte Londrina 8 (Londrina, 2020); Hinter dem Horizont, Reiners Contemporary Art/Sammlung Jakob (Freiburg, Alemanha, 2020); “Cuerpos Atravesados”, Reiners Contemporary Art (Marbella, Espanha, 2020); Mulheres na Arte Brasileira: Entre Dois Vértices, CCSP (São Paulo, 2019); 47. Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto (Santo André, 2019); 13. Verbo, Galeria Vermelho (São Paulo, 2017). Sua obra está presente em coleções públicas como o Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro) e o Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro), entre outras.

Paul Setúbal (Aparecida de Goiânia, 1987) vive e trabalha em São Paulo. Realizou exposições individuais em: Museu da República (Rio de Janeiro, 2022); C. Galeria (Rio de Janeiro, 2022 e 2018); Casa Triângulo (São Paulo, 2021); Andrea Rehder Arte Contemporânea (São Paulo, 2016); Elefante Centro Cultural (Brasília, 2015). Dentre as exposições coletivas, destacam-se: 40° Arte Pará, Casa das Onze Janelas (Belém, 2022); No presente a vida (é) política, Central Galeria (São Paulo, 2020); Aparelho, Maus Hábitos (Porto, 2019); 36º Panorama da Arte Brasileira, MAM-SP (São Paulo, 2019); 29º Programa de Exposições, CCSP (São Paulo, 2019); Demonstração por Absurdo, Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, 2018); “Arte, democracia, utopia”, Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro, 2018); entre outras. Sua obra está presente em coleções públicas como o Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro), o Museu de Arte de Brasília e o Museu de Arte Contemporânea de Goiânia, entre outras

 

Parceria para exibir Zaluar

25/ago

 

 

Em uma parceria inédita a galeria Arte132, Moema, São Paulo, SP, apresenta, no piso superior da galeria, a exposição individual “Abelardo Zaluar: Rigor e Emoção”, realizada junto à Danielian Galeria de Arte (Gávea, RJ). Em cartaz até 24 de setembro, e com curadoria de Denise Mattar, exibe “… a singularidade do artista, que abraçou o abstracionismo geométrico de forma muito particular, incorporando linhas do barroco à geometria, beirando a sensualidade”.

 

Abelardo Zaluar

 

Rigor e Emoção

 

Nessa exposição a Arte132 une-se à Danielian Galeria de Arte, sediada no Rio de Janeiro, para trazer ao público paulista um conjunto de obras do fluminense Abelardo Zaluar. Uma parceria que é especialmente auspiciosa para o circuito cultural pelo fato das duas galerias desenvolverem um trabalho que transcende o aspecto comercial, realizado através de ações institucionais apoiadas em séria pesquisa.

 

Apesar de sempre ter participado ativamente do circuito cultural, Zaluar nunca se filiou a nenhuma corrente, e abraçou o abstracionismo geométrico de uma forma tão particular que tornou sua obra única. Entre as singularidades de seu trabalho está a incorporação das linhas do barroco à geometria, beirando a sensualidade.

 

O conjunto de obras aqui apresentadas evidencia o processo criativo do artista e a hibridação de técnicas que marca sua trajetória, na qual ele utilizava, sem hierarquia, giz de cera, óleo, acrílica e colagem. Sempre manteve intacta a presença do grafite e do traço, como um lastro – mesmo em meio à progressiva irrupção da cor.

 

A originalidade da produção de Abelardo Zaluar é, ao mesmo tempo, a sua maior qualidade e o motivo do seu apagamento. Sem nenhum par, sua obra não se encaixa nas gavetas da crítica de arte até agora disponíveis – mas oferece ao espectador uma dupla fruição: uma mescla rara de rigor e emoção.

 

Denise Mattar

 

Sobre o artista

 

Pintor, desenhista, gravador e professor. Nasceu em Niterói – RJ, em 1924 e faleceu em 1987, em um acidente de carro. Entre 1944 e 1948, frequenta as aulas da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), no Rio de Janeiro. Na mesma década, cria, com outros colegas, a Escolinha de Arte do Brasil, tornando-se diretor-técnico da instituição carioca. Em 1959, conquista o primeiro lugar em desenho do Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, na Galeria de Artes das Folhas, em São Paulo. Em 1967, ganha prêmio aquisição no 4º Salão de Arte Moderna do Distrito Federal e menção honrosa na 1ª Bienal Ibero-Americana de Pintura, na Cidade do México, em 1978. Participa de diversas mostras coletivas entre 1959 e 1987, como a Bienal Internacional de São Paulo, Panorama de Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), e o Salão Nacional de Arte Moderna (SNAM), Rio de Janeiro, do qual recebe prêmio de viagem ao exterior em 1963. Em 1975 e 1979 expõe em retrospectivas no MAM/SP e no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC/PR), respectivamente. No ano seguinte apresenta trabalhos em outra retrospectiva, desta vez no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs). Faz parte de comissões de seleção e premiação de salões, como o 7º Salão Nacional de Artes Plásticas, em 1984, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Nos anos 1980, recebe título de professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua obra figura, também, em acervos de instituições como o MNBA-RJ, MAM-SP, MAC-Niterói e MASP-SP.