Por dentro dos Museus

26/fev

A Lustinha, novo selo na Luste, Ateliê Editorial & Multimídia de Marcel Mariano, chega ao circuito editorial e cultural para apresentar sua primeira publicação: “Por dentro dos Museus”. Um box acondiciona livros com narrativas, curiosidades e explicações de museus selecionados em três estados: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. “Uma série informativa, didática, porém leve e divertida que vai se infiltrar nos museus com os olhos de criança. Tudo para tornar essa experiência muito mais gostosa e divertida”, explica Lica Barros que idealizou o projeto e assina alguns textos em parceria com Monica Figueiredo, responsável pela concepção.

Ciente da importância dos museus para formação cultural de um país, a Lustinha traduz este conceito da conexão entre o passado, presente e futuro em uma linguagem acessível incluindo curiosidades e detalhes da arquitetura e das obras além de explicar termos próprios do segmento como acervo, técnicas, expografia e nomes dos principais artistas e profissionais envolvidos tanto em sua construção como criação. Com a série, que vai abarcar outras praças e instituições pelo Brasil e pelo mundo, coloca leveza na definição de que ao olhar para o passado pode-se conhecer o que foi feito para aprimorar mecanismos que podem influenciar o presente para que novos conhecimentos e técnicas sejam disponibilizadas para a sustentabilidade e informações das futuras gerações.

“Por dentro dos Museus” registra nove instituições em quatro cidades diferentes e, em cada uma, destaca 10 artistas que servem como introdução a um primeiro contato com sua coleção. Em São Paulo, tem-se o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP) e Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). No Rio de Janeiro, o Museu do Amanhã, Museu de Arte Moderna do Río de Janeiro (MAM-Rio) e Museu de Arte do Rio (MAR). Em Belo Horizonte, o Museu de Arte da Pampulha (MAP) e em Brumadinho, o Instituto Inhotim.

Todas estas instituições – museus – estão a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, abertas a todos os públicos, que também funcionam como centros culturais reunindo atividades como música, dança, teatro, fotografia, literatura, gastronomia e todo tipo de arte. Suas funções primordiais incluem as de conservar, investigar, comunicar e expor o patrimônio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e encanto. São estas histórias que a Lustinha, de Lica Barros, quer apresentar e aproximar de seu público!

O evento

Lançamento do box “Por dentro dos Museus”, Editora Lustinha, em 03 de março, domingo, das 15 às 18hs na Livraria da Travessa, Rua dos Pinheiros, 513, Pinheiros, São Paulo, SP. Idealização de Lica Barros, concepção de Monica Figueiredo com pesquisa e textos de Lica Barros, Carolina Porne e Beatriz Alves com patrocínio de Machado & Meyer Advogados.

Ana Maria Maiolino na Luisa Strina SP

05/fev

Foi inaugurada a nova individual de Anna Maria Maiolino na Galeria Luisa Strina, Jardins, São Paulo. Intitulada “Querer e não querer, desejar e temer”, a exposição reúne uma seleção de obras produzidas desde a década de 1990 até o presente, algumas delas expostas pela primeira vez. Em cartaz até 16 de março.

Sobre a artista

O trabalho de Anna Maria Maiolino desenvolve-se por uma variedade de meios: poesia, xilogravura, fotografia, cinema, performance, escultura, instalação e, acima de tudo, desenho. O amplo espectro de interesses e atitudes que fundamentam sua obra não segue um desenvolvimento linear no próprio trabalho ou no tempo. Pelo contrário, pela diversidade de meios, ela cria uma teia em que temas e atitudes se entrelaçam enquanto significados migram entre um trabalho e outro.

Em 2019, Maiolino teve uma grande retrospectiva de seu trabalho no PAC Milano e na Whitechapel, em Londres. Em 2017, uma importante retrospectiva de sua obra foi apresentada no MoCA Los Angeles, como parte do projeto Pacific Standard Time: LA/LA, da Getty Foundation. Em 2010, uma ampla retrospectiva itinerante foi realizada na Fundação Antoni Tàpies, Barcelona, no Centro Galego de Arte Contemporânea, em Santiago de Compostela, Espanha, e no Malmö Kunsthalle, na Suécia (2011). Sua obra integra mais de 30 acervos de museus, como MoMA, MoCA Los Angeles, MASP, Malba, Reina Sofia, Centre Pompidou, Tate Modern e Galleria Nazionale di Roma. Individuais selecionadas incluem PSSSIIIUUU…, Instituo Tomie Ohtake, São Paulo (2022); EM TUDO – TODO, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2019); Errância Poética, Hauser & Wirth, Nova York (2018); TUDO ISSO, Hauser & Wirth, Zurique (2016); CIOÈ e performance in ATTO, Galleria Raffaella Cortese, Milão (2015); Ponto a Ponto, Galeria Luisa Strina, SP (2014); Afecções, MASP, SP (2012); Continuum, Camden Arts Centre, Londres (2010); Territories of Immanence, Miami Art Center, Miami (2006); Muitos, Pinacoteca, São Paulo (2005); Vida Afora/A Life Line, The Drawing Center, NY (2002). Exposições coletivas recentes: Radical Women: Latin American Art, 1960–1985, Hammer Museum, Los Angeles (2017) e Pinacoteca, São Paulo (2018); Delirious: Art at the Limits of Reason, 1950-1980, MET Breuer, Nova York (2017); The EY Exhibition: The World Goes Pop, Tate Modern, Londres (2015); The Great Mother, Palazzo Reale, Milão (2015); Artevida, MAM e Casa França-Brasil, Rio de Janeiro (2014); dOCUMENTA 13, Kassel (2012); On Line: Drawing Through the 20th Century, MoMA, NY (2010); 29ª Bienal de São Paulo (2010)

As formas expansivas de Diambe

08/dez

A Simões de Assis, São Paulo, Curitiba, anuncia a representação de Diambe (Rio de Janeiro, 1993). Sua prática expande as noções de coreografia e escultura, desdobrando em instalações que também incorporam pinturas, filmes, têxteis e performances. Diambe explora possibilidades fabulativas de novos seres, elevando aspectos estéticos e ornamentais da natureza. Trata da materialidade ao lidar com o bronze e com formas reconhecíveis de povos diaspóricos, agora em novos arranjos, mimetizando outros seres ou criando novos integrantes de seu ambiente criado. Seu trabalho faz parte de relevantes coleções particulares e figura no acervo de importantes instituições, como: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte do Rio (MAR), entre outros.  

 

Novas pinturas de Helena Carvalhosa

07/nov

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, apresenta, de 18 de novembro a 20 de janeiro de 2024, “Tinha uma saia rodada e um galope na cabeça”, segunda mostra da artista Helena Carvalhosa na unidade de São Paulo. A exposição reúne um conjunto de pinturas, objetos e cerâmicas produzidas pela artista durante os últimos anos que dão conta de evidenciar sua íntima relação com a poesia. “Tinha uma saia rodada/E um galope na cabeça/O galope virou trote/E passo a passo/ caminho”. Helena Carvalhosa dá forma às suas imagens também através da palavra, reanimando memórias afetivas e reconstruindo, dentre outras arquiteturas, espaços domésticos e jardins. Suas pinturas de jarros de flores, galhos, cadeiras e passarinhos se confortam nas pequenas dimensões de suas telas, assim como os objetos com os quais escolhe trabalhar, coisas que podem caber dentro das mãos. A artista se vale do ritmo de seus poemas, por vezes também curtos, para pensar em sínteses: figuras que se resolvem em pinceladas soltas, descrições abertas, assemblages que rimam. “Eu pinto um ar que me habita”, define a artista. A inauguração desta exposição marca também o lançamento de seu livro de poemas “Tinha uma saia rodada e um galope na cabeça”, publicação que conta com texto de apresentação do artista Paulo Pasta e posfácio do curador Marcelo Salles.

Em “Tinha uma saia rodada e um galope na cabeça”, um centenar de pinturas compõem o espaço como uma espécie de álbum de recordações, cenas banais que adquirem valor pelo equilíbrio entre a simplicidade da abordagem temática e manejo sofisticado do uso da cor. Como observa Paulo Pasta em seu texto de apresentação “Para isso ela se vale desse lugar indefinido entre a figuração e abstração, entre ser e parecer, como também do emprego de relações cromáticas, vivas e sutis, destacando suas possíveis harmonias, e – com coragem, também suas notas dissonantes. Suas pinturas fazem uso igualmente de um claro sentido planar, matisseano, que, a exemplo do ensinamento do mestre, buscam um olhar novo e fresco sobre as coisas.” Complementado essa extensa coleção de imagens, incorporam-se os seus objetos, arranjos entre elementos aparentemente díspares que, ao serem combinados, ressignificam, convidam a leituras múltiplas enquanto poemas tridimensionais. “E, penso mais, que depois de um tempo o poema de Helena é ainda mais potente. A imagem mental que se constrói é tão poderosa e menos literal que sentimos pena das belas e frágeis contas negras, envoltas numa transparência gelatinosa, emolduradas por tons alaranjados que cumprem uma efêmera existência.”, conclui Marcelo Salles.

Desde o final da década de 1970 Helena Carvalhosa explora o campo tridimensional por meio de uma investigação sobre as formas e os significados gerados a partir de associações improváveis entre objetos encontrados, tais como potes de vidro, pedaços de madeira, peças de ferro retorcido e molas. O interesse da artista por tais objetos passa não somente pela particularidade de sua composição material e visual, seus significados e usos, mas também pelo vínculo afetivo que possui com cada um deles e com a possibilidade de conservarem histórias. A partir da segunda metade dos anos 1980, Helena Carvalhosa desenvolve, em paralelo, um trabalho em pintura, onde explora a ambiguidade das formas a partir da observação do mundo ao seu redor, desde paisagens até cenas interiores.

Sobre a artista

Helena Carvalhosa nasceu em 1938 em São Paulo, onde vive e trabalha. Iniciou seus estudos em artes na Escola Brasil em 1970 e em 1977 formou-se em Artes Plásticas pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado). Ainda no final da década de 1970 estudou na New School of Arts, em Nova York e desde os anos 1980 vem fazendo cursos e sendo orientada por artistas como Hélio Cabral, Nelson Nóbrega, Paulo Pasta e Sara Carone. Sua produção transita entre a pintura, a escultura, o desenho e o objeto. O início de sua carreira foi marcado pela participação na “Mostra de Escultura Lúdica” em 1979 no MASP, que contou com artistas como Palatnik, Tomie Ohtake, Leon Ferrari e Guto Lacaz. Na ocasião, a artista expôs “Estruturas Mutantes”, duas peças formadas por tecido, ferro e isopor que remetiam à forma de um casulo e que podiam ser vestidas e transformadas pelo público. A escolha por materiais acessíveis, de uso cotidiano, é ampliada em “O objeto reinventado”, exposição que ocorreu no SESC Pompeia em 1992 e que reuniu assemblages formadas por objetos descartados, já gastos por outros usos. Sobre aquela produção de Carvalhosa, o crítico Pietro Maria Bardi escreveu: “Com o máximo de simplicidade, Helena demonstra, através da combinação de formas, que aquilo que está ao nosso redor pode ser motivo de fruição estética”. No ano seguinte participou da coletiva “Objeto. Objeto-Livro. Fotografia” na Pinacoteca de São Paulo. Segundo a crítica Maria Alice Milliet, em texto de 1993: “Os objetos de Helena pertencem ao universo feminino da sedução, do jogo de aproximações que transforma o banal em inédito, do encantamento surpreendido no arranjo das coisas inúteis cuja gratuidade retém um frescor derivado da fantasia. Atestam a possibilidade de criar a partir do encontrável, do desprezível, de restos e sobras.” Em 1998, Carvalhosa retorna à Pinacoteca para ocupar um dos “vãos livres” do edifício com “O Caminho: Instalação com Flores”, composta por móveis antigos, fotos de família, vasos, quadros e peças em porcelana, propondo uma reflexão sobre as fases da vida e a passagem do tempo. Em paralelo ao seu trabalho com o campo tridimensional, Helena Carvalhosa desenvolve, desde a segunda metade dos anos 1980, uma produção em pintura. Em seus primeiros anos, centrou-se em paisagens e retratos através do uso mais despojado da pincelada, e a partir de 2005 dá início à transição de sua pintura para uma abordagem mais sintética da composição. Segundo o jornalista Antonio Gonçalves Filho, essas pinturas são “quase um diário íntimo sem compromisso com o tempo, como nas composições intimistas de Morandi, feitas de cores sóbrias e perfeito equilíbrio tonal”. Nelas, a artista ainda mantém o seu interesse pelos objetos, agora amalgamando-os, no campo bidimensional, aos outros elementos do quadro, operação que se dá pelo uso da tinta em diferentes cores e texturas. Em texto para o catálogo da exposição “Pulo do Gato”, apresentada no Museu Afro Brasil em 2016, o curador Marcelo Salles escreve: “a artista lida com um fazer que não é orientado por premissas políticas, sociais, mercadológicas; seu interesse reside numa necessidade ancestral, aquela que existia antes de nomearmos todas as coisas e aprisionarmos não somente coisas, mas nós mesmos”. Em mais de quatro décadas de carreira, participou de inúmeras mostras individuais e coletivas, em instituições como: MASP, SESC Pompeia, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu Afro Brasil, SESC Belenzinho e Centro de Arte Dragão do Mar, em Fortaleza. Desenvolveu curadorias para o SESC São Carlos, SESC Santana e Museu da Casa Brasileira. Possui três livros publicados: Fazenda Pinhal; Ócio: obras de Helena e poesia de Manoel de Barros; e Pulo do Gato.

Novo artista representado

10/out

A Simões de Assis, São Paulo, SP, tem a alegria e o prazer de anunciar a representação de Flávio Cerqueira (São Paulo, 1983). O artista explora a construção de narrativas a partir de figuras humanas em bronze, evocando questões importantes de classe, identidade e raça. A partir de suas esculturas, Flávio Cerqueira é capaz de cristalizar o instante e o fragmento de uma ação, tornando desse modo o espectador um coautor na produção de significados da obra.

Seu trabalho faz parte de relevantes coleções particulares e figura no acervo de importantes instituições, como: Instituto Inhotim, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Pinacoteca do Estado de São Paulo, Universidade de Missouri Kansas City (UMKC); Museu Afro Brasil, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) e Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), entre outros.

As resinas de Dudi Maia Rosa

27/set

O Instituto Ling, Três Figueiras, Porto Alegre, RS, inaugura no dia 05 de outubro a mostra individual “Desde A Tona”, de Dudi Maia Rosa, apresentando obras inéditas do artista paulistano. Sob a curadoria de João Bandeira, a exposição apresenta 23 obras datadas de 2007 a 2023, sendo a grande maioria resinas, que são superfícies cromáticas feitas em resina de poliéster e fibra de vidro – uma marca de seu trabalho, além de algumas aquarelas, trabalhos em relevo com diferentes materiais e esculturas em latão. O Instituto Ling ainda convida para a conversa de abertura, com participação de Dudi Maia Rosa e João Bandeira, curador da mostra. O bate-papo poderá ser acompanhado presencialmente, com entrada franca, no auditório do Instituto Ling. Na ocasião, será lançado o catálogo com distribuição gratuita a todos os participantes.

A mostra fica em cartaz até 29 de dezembro.

Desde A Tona  – Dudi Maia Rosa

O trabalho de Dudi Maia Rosa tem um marco, descrito em suas declarações e comentado por vários críticos, que é quase uma fábula de origem – e sabe-se que fabulação não se opõe necessariamente a verdade. O relato diz que, a certa altura, houve uma espécie de revelação, quando ele inventou um objeto artístico basicamente feito de resina de poliéster, fibra de vidro e pigmentos, que tende ao tridimensional. Porém umbilicalmente ligado à longa tradição formal e simbólica da pintura, e no qual a distinção entre imagem e suporte se dissolveu. Com o apelido de “resina”, esses trabalhos têm sido um laboratório da produção de Dudi – embora não exclusivamente -, e seu aspecto geral passou por várias gerações, muitas vezes remetendo ao “quadro”, mas de um modo todo próprio. Feito pelo artista em um molde deitado, uma das particularidades do objeto “resina” é que o que estava no fundo do molde será a superfície, quando ele estiver pronto para ser levantado na vertical e se apresentar a nós. É como se o que vemos nessas obras se originasse do movimento de fazer algo submerso vir à tona. Quase todas as “resinas” desta exposição são trabalhos recentes ou nunca mostrados, mas relacionados a uma linhagem há tempos consolidada na produção de Dudi, que soma a expansão generosa da cor ao afloramento, afetivamente irônico, de referências vindas da história da arte. Por exemplo, a pincelada, o grafismo, a listra, o jogo positivo-negativo, a iconografia simbólica (como a cobra-ourobouros), a apropriação de imagens (lá estão duas musas do cinema, Monica Vitti e Odete Lara), e até o quadro ele mesmo e sua moldura – embebida em humor, a materialidade do objeto de arte é, e não é, a própria representação. Uma certa rusticidade se destaca nessa nova safra: no aspecto fragmentário de grandes chapas de cor, na aspereza franca de algumas superfícies, ou, ainda, no desnudamento da própria substância que dá corpo a essas obras. Rusticidade e fragmento estão igualmente no corpo (e na alma contemporânea) dos pequenos trabalhos que parecem, ao mesmo tempo, atrair e gerar formas, entre materiais no limiar do reconhecimento e coisas identificáveis que surgem na sua superfície compacta. E, desse ponto de vista, são próximos também das esculturas em exposição, já que nelas podemos vislumbrar uma ou outra forma reconhecível do mundo na iminência de aparecer integralmente (uma harpa? um gradil? um ornamento arquitetônico?), ou como se recém-saída da pura matéria (um raio? uma nota musical?). Mais uma família de obras de Dudi, algumas mostradas aqui, faz pensar em fábulas e coisas que vêm à superfície: a série das Cábulas, que ele executa mesclando técnicas industriais e artesanais deslocadas do habitual. Se o que vemos aflorar nas “resinas” pode ser cogitado como um movimento no espaço, nas Cábulas ele transcorreria mais no tempo, através da memória coletiva. Isso porque suas imagens foram processadas a partir do repertório de antigos desenhos animados, guardando traços da visualidade das fábulas de cinema. Com um DNA assim, não é à toa que essas cenas e aparições de objetos isolados flutuando sobre um fundo mais ou menos homogêneo sejam um pouco como as sobras que identificamos de um sonho. O que, por sua vez, sugere analogias desses trabalhos também com as esculturas e os pequenos relevos, onde algumas coisas se deixam ver individualmente em meio ao que não está completamente revelado ou apenas desinteressado de qualquer semelhança. Em paralelo à efetiva sedução da sua materialidade, onde a luz opera de tantas maneiras, poderíamos, então, imaginar uma corrente que sobe e desce, entre o fundo e a tona de todas as obras expostas aqui. Ou, dito de outra forma: ao olhar para aquilo que nos chama com força nesses trabalhos, consideremos também o seu “calado”, aquela parte do barco que vai da ponta da quilha submersa até a linha visível da água. Levados por Dudi, neste barco estamos.

João Bandeira – curador

Sobre o artista

Dudi Maia Rosa tem uma trajetória de mais cinco décadas de trabalho artístico, documentado em publicações e textos de importantes críticos de arte, que destacam sua utilização de técnicas e materiais diferenciados. Realizou sua primeira exposição individual no MASP, em São Paulo (1978), e participou da Bienal de São Paulo (1987 e 1994), da Bienal do Mercosul (2005 e 2015) e da Bienal de Johannesburgo (1995), entre outras mostras coletivas relevantes. Possui obras em coleções dos principais museus do Brasil, além do Stedelijk Museum (Amsterdan) e da Collection Pinault (Paris). Lírica e Tudo de Novo (Galeria Millan, 2019 e 2022) estão entre as suas exposições individuais mais recentes.

Sobre o curador

João Bandeira foi coordenador de artes visuais do Centro Maria Antonia da Universidade de São Paulo (2005 a 2016) e atualmente coordena o Espaço das Artes da ECA-USP. Escreveu textos para artistas como Waltercio Caldas, Regina Silveira, Jac Leirner e David Batchelor e fez a curadoria de exposições de Evgen Bavcar (Itaú Cultural, 2003); Nuno Ramos e Cildo Meireles (Maria Antonia, 2012); Lina Bo Bardi (Sesc Pompeia, 2014); Geraldo de Barros, Rubens Gerchman e Antonio Dias (Sesc Pinheiros, 2018); Iole de Freitas (Instituto de Arte Contemporânea, 2018, e Instituto Ling, 2021); entre outros.

Esta programação é uma realização do Instituto Ling e Ministério da Cultura / Governo Federal, com patrocínio da Crown Embalagens.

Fotos de German Lorca

29/jun

A Galeria Marcelo Guarnieri apresenta, entre 08 de julho e 05, “Galeria São Luís – Geometria das Sombras”, primeira exposição de German Lorca (1922- 2021) em seu endereço de São Paulo. A mostra reúne 50 fotografias produzidas entre as décadas de 1940 e 2010 e se organiza em três núcleos: “Galeria São Luís”, que consiste em uma reedição da exposição do artista na Galeria São Luís, em 1966; “Icônicas”, que apresenta um conjunto de suas fotografias mais clássicas e “Série Geometria das Sombras”, composta por 24 imagens desenvolvidas por Lorca em 2014, já aos 92 anos, e exibidas integralmente pela primeira vez.

Um dos pioneiros da fotografia moderna no Brasil, German Lorca nasceu em São Paulo em 1922 e assim como outros filhos de imigrantes europeus que chegaram à capital paulista no início do século XX, cresceu no operário bairro do Brás. Ali pôde testemunhar, desde criança, a dinâmica da vida do bairro em meio a transformações que alteravam sucessivamente o ritmo e a paisagem urbana. Lorca forma-se como contador no Liceu Acadêmico de São Paulo em 1940 e tem o seu primeiro contato com a fotografia em 1945, registrando eventos familiares. Em 1948 ingressa no Foto Cine Clube Bandeirante, um clube de fotógrafos frequentado por entusiastas, amadores e profissionais, que acreditavam que a fotografia era uma forma de arte que podia revelar a estética oculta da modernidade cotidiana. Lorca pôde explorar, em uma troca constante com os outros integrantes, as especificidades da técnica fotográfica, entendendo os enquadramentos, jogos de luz e solarizações como recursos plásticos e discursivos.

Na década de 1960, German Lorca já havia participado de diversos salões de fotografia no Brasil, na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa, e em paralelo à sua produção artística, se estabelecia como um premiado fotógrafo de publicidade. Em 1966, ano em que transfere seu estúdio para um prédio maior e mais adequado à escala de suas produções comerciais, realiza a segunda exposição individual de sua carreira, na Galeria São Luís, em São Paulo. A Galeria São Luís, que abrigou exposições de importantes artistas brasileiros como Tomie Ohtake, Mira Schendel e Flávio de Carvalho, foi fundada em 1959 pelo empresário e colecionador Ernesto Wolf (1918-2003) e dirigida por Anna Maria Fiocca (1913-1994), antiga proprietária da Galeria Domus. Naquela ocasião, Lorca apresentou fotografias realizadas desde os anos 1950, em que registrava paisagens, retratos e cenas do cotidiano, explorando a geometrização de suas composições de maneira mais sutil. O fotógrafo também experimentava com cenas em movimento, ressaltando os aspectos plásticos da imagem desfocada, como em “Aeroporto 61″ (1961), exibida no ano anterior na VIII Bienal Internacional de São Paulo. A versão original do cartaz da mostra de 1966, reeditado a partir da intervenção de J. Henrique Lorca para a atual exposição na Galeria Marcelo Guarnieri em 2023, é de autoria do designer Alexandre Wollner.

Em outubro de 2014, durante um período em que precisou ficar recluso em sua residência por ordens médicas devido a problemas de saúde, German Lorca dedicou-se ao estudo das formas das sombras causadas pela luz do sol em interação com estruturas, ambientes e objetos que o rodeavam. Naquela ocasião, acompanhado de sua Leica M9 Digital, Lorca registrou as 24 imagens que formam o ensaio fotográfico que ele denominou de “Geometria das Sombras”, impresso em 2015 pelo processo giclée com pigmento Ultrachrome em papel de algodão Hahnemühle Photo Rag Baryta. Esta é a primeira vez que o ensaio, sua última produção em vida, é exibido integralmente.

Sua obra integra importantes coleções ao redor do mundo como Museu de Arte de São Paulo (MASP), Pinacoteca do Estado (São Paulo), Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), MoMA (New York), Cisneros Fontanals Art Foundation (Miami) e Itaú Cultural (São Paulo).

Carmézia Emiliano no MASP

24/mar

Aconteceu no dia 23 de março a pré-abertura da exposição “Carmézia Emiliano: A árvore da vida” no MASP, São Paulo, SP. O MASP possui em seu acervo quatro obras de Carmézia Emiliano, todas comissionadas diretamente à artista no contexto de diferentes projetos desde 2019. Neste sentido, a mostra celebra a relação que o museu estabelece com a sua produção e apresenta os trabalhos mais recentes da artista, parte deles nunca antes visto pelo público. Tanto a exposição como o catálogo que a acompanha pretendem ampliar a compreensão da contribuição de sua obra no cenário artístico nacional e a curadoria é de Amanda Carneiro.

A exposição abre ao público geral no dia 24.

Universo lúdico de descobertas

12/jan

 

Em exibição na Casa do Parque, Alto de Pinheiros, São Paulo, SP, a exposição de Leando Muniz, “Domingo” encontra-se em seus últimos dias. Resguardar a importância do contato entre o mundo da arte e a produção, aliando a criação ao processo de desenvolvimento do produto e a adequação do mesmo nas diversas situações socioeconômicas, são aplicadas e subvertidas de diversas maneiras na arquitetura doméstica brasileira.  Revisitando a estética dos quintais, que comumente cumprem a função prática de não apenas serem um espaço de lazer mas, sobretudo, de serviço, a exposição “Domingo”, de Leandro Muniz, explora, com uma nova série de pinturas diretamente nas paredes do espaço expositivo e outras  realizadas sobre tecidos de tricoline, um universo lúdico e de descobertas, ao mesmo tempo que nos coloca diante de novas formas de pensar os suportes e as maneiras de produzir arte nos dias de hoje.

Com texto crítico do curador independente, pesquisador e professor, doutorando Tarcísio Almeida, “Domingo” ocupa dois espaços expositivos da Casa, sendo eles o “Projeto 280×1020″ e “NoDeck”, ao lado de  “Amálgama do tempo”, de Flávia Ribeiro, José Spaniol e Tiago Mestre e Hoshigaki, de Mariana Serri.

 

Sobre o artista

Leandro Muniz nasceu em São Paulo, em 1993. Atua como artista e curador. Formado em artes plásticas pela USP, é assistente curatorial no MASP. Foi repórter na revista seLecT entre 2019 e 2021 e fez parte do grupo de estudos Depois do Fim da Arte, coordenado por Dora Longo Bahia. Já expôs em espaços e projetos como o Museu de Arte do Rio, Casa de Cultura do Parque, Galeria Aura, DAP Londrina, Espaço das Artes USP, Sesc, Fábrica Bhering, Casa Alagada, Ateliê397, entre outros. Foi curador das mostras Pulso (Bica plataforma, 2021), Torrente (Galeria Karla Osório, 2020), Esquadros (Partilha, 2020), migalhas (Galeria O Quarto, 2019), Lampejo (Galeria Virgilio, 2019), Disfarce (Oficina Cultural Oswald de Andrade, 2017), entre outras. Seus textos podem ser encontrados em publicações e portais como Arte que acontece, Relieve Contemporáneo, Terremoto e Revista Rosa, além de catálogos e exposições. Ministra regularmente cursos e conferências em espaços como MASP, Pinacoteca, Plataforma Zait e EBAC.

 

Histórias Brasileiras

26/ago

 

 

As artistas Marcela Cantuária e Vivian Caccuri participam da exposição coletiva “Histórias Brasileiras”, no Museu de Arte de São Paulo, MASP, SP, entre  26 de agosto e de outubro, com curadoria de Adriano Pedrosa, Lilia M. Schwarcz, Amanda Carneiro, André Mesquita, Clarissa Diniz, Fernando Oliva, Glaucea Brito, Guilherme Giufrida, Isabella Rjeille, Sandra Benites e Tomás Toledo.

A mostra acontece em ocasião do Bicentenário da Independência do Brasil, apresentando trabalhos de diferentes mídias, suportes, tipologias, origens, regiões e períodos.