Agnieszka Kurant no Brasil

22/fev

A galeria Fortes Vilaça, Vila madalena, São Paulo, SP, exibe a primeira exposição individual no Brasil, da artista polonesa Agnieszka Kurant apresentando uma série de trabalhos que tem como fio condutor o seu interesse por elementos fugazes ou imperceptíveis. Estes elementos norteiam as obras que tem suportes diversos e fazem referências à historia, à ciência e à literatura.

 

A idéia de um “capital fantasma” (Phantom Capital), que dá título à exposição, permeia todos os trabalhos na mostra. Este conceito se refere a uma troca de valores simbólicos, de forças intangíveis ou invisíveis que muitas vezes influenciam nossa sociedade sem que necessariamente tenhamos consciência disto.

 

Na obra “Phantom Library”, a artista produz livros imaginários, títulos que nunca foram escritos, lidos ou publicados mas que aparecem em livros reais de autores como Stanislaw Lem, Roberto Bolaño e Jorge Luis Borges, entre outros. Kurant os apresenta como objetos esculturais para os quais ela comprou números de ISBN e adquiriu códigos de barra dando-lhes assim um status no mundo material.

 

Já “MacGuffin” é uma escultura em forma de tapete que se move misteriosamente. O tapete é uma reprodução de um dos tapetes na sala da conferência de Yalta, onde os líderes mundiais definiram a divisão do mundo no pós guerra. O título da obra é um termo de técnica narrativa que define um objeto ou pessoa cuja importância não se define na trama, de certa forma como um fantasma.

 

Em88,2 mhz”, – o título da obra muda de acordo com a frequência de rádio utilizada na exposição -, um toca-fitas com um rádio transmissor, emite o som de pausas silenciosas extraídas de diferentes discursos políticos, intelectuais ou econômicos. O som é captado por uma antena que o retransmite para um rádio em um terceiro espaço da exposição. A fita com a compilação de silêncios é, por sua vez, a concretização de um trabalho fictício existente no conto de Heinrich Boll “Murke’s collected Silences” , de 1955.

 

A exposição também inclui um mapa-mundi retratando ilhas inexistentes, inventadas por exploradores do passado, impresso com tinta termo sensível que faz a imagem desaparecer conforme o calor. E “Uncertainty Principle”, uma escultura em forma de uma ilha que “magicamente” levita no ar, entre outros trabalhos na mostra, aos poucos revela o universo do desconhecido que alimenta a obra conceitual de Agnieszka.

 

Sobre a artista

 

Agnieszka Kurant nasceu em 1978 na Polônia e vive e trabalha em Nova York. Representou seu país natal na Bienal de Veneza em 2010 com um trabalho em colaboração com a arquiteta Aleksandra Wasilkowska. Já participou de exposições individuais e coletivas tais como, CoCA, Torun, PL, 2012; Witte de With, Rotterdam, 2011; Performa Biennial, Nova York, 2009; Athens Biennale, Greece, 2009; Frieze Projects, London 2008, Moscow Biennale, 2007; Tate Modern, London, 2006; Mamco, Geneva, Italy, 2006 and Palais de Tokyo, Paris, 2004; entre outras. Foi artista residente na Location One, Nova York, 2011-2012; Paul Klee Center (Sommerakademie), Bern, 2009; ISCP, New York 2005; e Palais de Tokyo, Paris, 2004. Foi finalista, em 2009, do International Henkel Art Award, MUMOK, Vienna. Sua monografia “Unknown Unknown” foi publicada pela editora Sternberg Press,  2008.

 

Até 23 de março.

Flurin Bisig em São Paulo

19/fev

 

A KUNSTHALLE, Pinheiros, São Paulo, SP, inicia o projeto LX92 com o artista suíço Flurin Bisig, que apresenta o projeto “The seismographical back”. Seu trabalho é uma pesquisa sistemática que transforma materiais e objetos encontrados na rua em estruturas precariamente equilibradas, geralmente feitas de madeira e papelão e com traços de cores fortes. Ao longo do período de residência do artista na cidade essas estruturas evoluem, criando a obra de arte e alterando o espaço expositivo da galeria.

 

A forma e a história do espaço expositivo, as relações entre artista, curadoria, visitantes, e todas as pessoas envolvidas no processo são elementos que influenciam a realização da obra e o caminho pela qual será desenvolvida. Finalmente, o trabalho será constituído a partir de uma leitura da curva sismográfica gerada por todas essas esferas de relacionamentos, gerando uma instalação para o espaço e um livro de artista. Flurin Bisig poderá ser visto trabalhando no espaço durante todo o período da exposição e a instalação final será apresentada no último dia da mostra (24/02/2013), juntamente com o lançamento da edição do livro do artista.

 

Sobre o artista

 

Flurin Bisig, nasceu em Samedan, Suíça, em 1982, vive e trabalha entre a Alemanha e a Suíça. Estudou na Universität der Künste Berlin e na Hochschule für Gestaltung und Kunst de Lucerna. Entre as exposições que participou estão: Jahresausstellung, no Kunstmuseum Lucerne, 2012; “Werkbeiträge 2011″, na Kunsthalle Lucerne; “Zentralschweizer Kunstszenen”, na Kunstmuseum Lucerne, 2010, todas em Lucerna, Suiça; “Pursue Other Avenues”, no Corner-College, 2012; a individual “Mit dem Rücken zum Publikum”, na Wäscherei, Kunstverein Zurich, 2011, ambas em Zurique; “About Abstraction”, no KTV-Club , 2011; “Wir können auch anders!”, na Bourouina Gallery, 2010, ambas em Berlim; “In the fall of twothousandandten we flowed upstream and had nothing to eat”, na Gallery Suzy Shammah, com Mickael Marchand, 2010, em Milão; e a individual “The first Rendez-Vous”, na Playstation at Gallery Fons Welters, 2010, em Amsterdam.

 

Projeto LX92

 

O projeto “LX92″ consiste em uma série de exposições de artistas estrangeiros na KUNSTHALLE São Paulo, e tem como objetivo criar um diálogo internacional entre a capital paulistana e a Suíça, ampliando a cena artística local para as idéias que estão sendo discutidas naquele país e promovendo os artistas de diversas nacionalidades que nele residem. Da mesma forma, os artistas que realizam suas exposições na KUNSTHALLE São Paulo, têm a chance de experimentar um contato com a cultura brasileira enquanto instalam suas obras, que na maioria das vezes são desenvolvidas para o espaço exclusivamente. O título do projeto é uma referência ao número do vôo direto que liga Zurique a São Paulo.

 

Até 24 de fevereiro

Centenário de Tomie Ohtake

07/fev

Tomie Ohtake

A primeira das três exposições, “Tomie Ohtake – Correspondências”, que o Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, prepara para comemorar, em 2013, o centenário da artista que lhe dá o nome, estabelece relações de aproximação e contraposição entre a sua produção desde 1956 até 2013 e obras de artistas contemporâneos, de Mira Schendel e Hércules Barsotti a Lia Chaia e Camila Sposati, passando por Cildo Meireles e Nuno Ramos, entre outros.

 

Com curadoria de Agnaldo Farias e Paulo Miyada, a mostra aponta intersecções entre os campos de interesse do trabalho pictórico, como a cor, o gesto e a textura. Segundo os curadores, a partir destes núcleos revelam-se temas e sensações inesperados, tanto na obra de Tomie Ohtake, como na de seus interlocutores.
“Partindo do gesto, por exemplo, somos conduzidos pelas linhas curvas das esculturas de aço pintado de branco de Ohtake, que atravessam o espaço e lhe imprimem movimento, as quais se encontram com a linha inefável dos desenhos Waltercio Caldas e a linha espacial composta pelo acúmulo de notas de dinheiro de Jac Leirner”, explicam.

 

Ressalta também a dupla de curadores, que a curvatura do gesto das mãos de Tomie anuncia-se nos indícios da circularidade presentes em suas primeiras telas abstratas produzidas na década de 1950 e culmina no círculo completo e na espiral, formas recorrentes nas últimas três décadas de sua produção. Esse percurso é apresentado em companhia de obras que extravasam o interesse construtivo da forma circular, procurando relações com o corpo do artista e com estratégias de ocupação do espaço, como nas obras de Lia Chaia, Carla Chaim e Cadu.

 

Uma vez que se forma o círculo, discute-se a cor, pele que corporifica toda a produção de Tomie e fundamental aos artistas que são apresentados nesse grupo. “De contrastes improváveis a variáveis que demonstram a profundidade latente em um simples quadro monocromático, exemplos de pinturas dos anos 1970 figuram lado a lado com obras recentes de Tomie e com telas de especial sutileza na produção de artistas como Alfredo Volpi, Paulo Pasta e Dudi Maia Rosa”, destacam os curadores. Segundo eles, em Tomie, a cor é sempre realizada por meio da textura e da materialidade da imagem, que foi deixada a nu em suas “pinturas cegas” do final da década de 1950.

 

Completa o pensamento curatorial a tese de que há uma longa linha de experimentos que desfazem a ilusão da neutralidade do suporte da imagem pictórica, a qual se inicia muito antes das colagens cubistas e possui um momento decisivo nas iniciativas que ousaram liberar-se do verniz em parte de algumas pinturas realizadas no século XIX. “Essa linha de experimentos tem em Tomie uma pesquisadora aplicada, que pode reunir em torno de si figuras tão distintas como Flavio-Shiró, Arcangelo Ianelli, Nuno Ramos, Carlos Fajardo e José Resende”.

 

Em agosto, os estudos de Tomie – desenhos, projetos de esculturas, colagens etc – serão tema da próxima mostra comemorativa de seu centenário em 21 de novembro de 2013. Já no mês em que a artista completa 100 anos, o Instituto inaugura uma grande exposição, “Gesto e Razão Geométrica”, com curadoria de Paulo Herkenhoff e lança um novo livro sobre a obra pública de Tomie.

 

No mês de fevereiro ainda será inaugurada no dia 23 de fevereiro ( com duração até 23 de março), na Galeria Nara Roesler, Jardim Europa, São Paulo, SP, exposição individual da artista, também com curadoria de Agnaldo Farias, apresentando esculturas recentes e sua nova série de pinturas 2012/2013. “Nossa grande artista apresenta duas sereis inéditas de pinturas monocromáticas, uma demonstração da sua maestria em expandir as cores trabalhando-as em profundidade, criando atmosferas luminosas ou ensombrecidas”, afirma o curador.

 

De 06 de fevereiro a 24 de março.

Gianotti: exposições, seminário e livro

30/jan

Na Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP, o pintor Marco Giannotti apresenta “Penumbra”, exposição que reúne 14 telas de grandes e pequenos formatos feitas a base de têmpera, esmalte (spray) e óleo, realizadas em 2012, após sua estada de um ano em Kioto, Japão, em 2011.

 

“Penumbra” é o ponto de transição entre a luz e sombra, trata-se de uma área iluminada a meia-luz. O artista retoma questões presentes já no seu mestrado em filosofia em 1993, quando traduziu parcialmente a “Doutrina das Cores” de Goethe. Na introdução do livro, o autor nos diz que as cores “são ações e paixões da luz”, ou seja,  a cor nasce do embate entre luz e escuridão. Ao retomar uma concepção clássica, Goethe inaugura, por outro lado, uma interpretação fisiológica da cor, que passa a ter uma importância enorme para os pintores a partir do impressionismo. De fato, a teoria física sobre o fenômeno cromático não trata propriamente da percepção da cor, fundamental para a pintura.

 

Ao término da exposição, dia 9 de março, na galeria, o livro será lançado em sua terceira edição pela editora Nova Alexandria, desta vez com ilustrações coloridas, celebrando os vinte anos de sua primeira publicação aqui no Brasil.

 

Além da obra de Goethe, outro ponto de partida para esta exposição é “Em louvor da sombra”, de Junichiro Tanizaki, célebre escritor japonês do século XX. Nesta obra, o autor afirma que o aposento japonês é comparável a uma pintura monocromática a sumi, (tinta a base de nanquim em gradações de preto e branco) em que os painéis (shoji) correspondem a tonalidade mais clara e o nicho (tokonoma) à mais escura. Ele lamenta a introdução da luz elétrica no Japão, analisando como mais um elemento ocidental exógeno que vem a desconfigurar a cultura Japonesa.

 

Por fim, outra referência importante que deve ser levada em consideração é a obra “Shadows” de Andy Warhol, feita em homenagem ao pintor metafísico Giorgio de Chirico após sua morte em 1978 e atualmente presente no Dia Art Foundation. Trata-se talvez da obra menos pop do artista, que flerta com a abstração e uma dimensão mais metafisica da pintura.

 

A exposição de certa forma representa também uma síntese de duas exposições anteriores do artista “Passagens” realizada em 2007 na Pinacoteca do Estado e “Contraluz”, feita em 2009, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud.

 

De 02 de fevereiro a 09 de março.

 

 

Gianotti: livro e exposição 

 

Paralelamente à sua exposição de pinturas na Galeria Raquel Arnaud, será lançado no Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, juntamente com uma exposição, o caderno de viagem de Giannotti, concebido durante a sua permanência em Kioto, em 2011. Ao longo do período em que ministrou aulas de cultura brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros de Kioto, o artista e professor escreveu uma série de artigos para o jornal O Estado de S.Paulo. Esses textos e as obras – colagens e fotografias – produzidas a partir desta experiência no Japão estão reunidos em “Diário de Kioto”, editado pela WMF Martins Fontes.

 

O livro traz as impressões poéticas, plásticas, intelectuais e afetivas de Giannotti sobre suas visitas a templos budistas e xintoístas, a vilas, como a Katsura, bem como a museus contemporâneos, como o Benesse Art Site, em Naoshima, projeto de Tadao Ando, ou o Museu Miho, feito pelo arquiteto I. M. Pei. O dia-a-dia de Kioto e as inúmeras cerimônias e rituais que demarcam a passagem das estações são também observados pelo autor.

 

De 21 de fevereiro a 21 de abril.

 

 

Gianotti : seminário

 

Em março, Marco Giannotti promove um Seminário internacional sobre a Cor, no Centro Universitário Maria Antonia, Consolação, São Paulo, SP, contando com a participação de professores e curadores como David Anfam (editor da Phaidon Press, premiado pelo catálogo raisonné de Rothko), Takashi Suzuki (curador do museu Kawamura em Chiba, Japão) e, Toshya Echizen (professor de estética da universidade Doshisha, em Kioto) e Ana Magalhães, curadora do MAC de São Paulo (Centro Universitário Maria Antonia).

 

Dias 03 e 04 de março.

Fialdini na Raquel Arnaud

Um dos principais fotógrafos brasileiros, Romulo Fialdini, nesta sua primeira individual na Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP, revela a sua poética singular ao apresentar 24 fotografias autorais. A exposição “Pensei que fosse só eu”, reúne imagens selecionadas pela curadora Galciani Neves, que fazem parte de um livro de mesmo nome, que será lançado pela editora Superbacana +, na abertura da exposição, com cerca de 100 fotografias, em preto e branco, concebidas ao longo da extensa carreira do fotógrafo.

 

Para a exposição, a curadora destaca as imagens que evidenciam a singularidade das composições do fotógrafo a partir de seu olhar sobre a arquitetura e os espaços urbanos. Para o livro a curadora pesquisou o arquivo autoral de Romulo Fialdini que contém mais de 8 mil fotos. As obras selecionadas “são recortes de tempo distanciadas do fluxo da vida, como uma pausa ao ritmo do consumo das imagens rápidas atadas aos apelos artificiais”.

 

Depois de 12 anos dedicados ao design, o estúdio Superbacana ampliou a sua atuação ao criar a editora Superbacana +, com a proposta de desenvolver projetos culturais que conjuguem a produção de livros-objeto com exposições das obras publicadas. “Pensei que fosse só eu”, de Romulo Fialdini, é o projeto de estreia da editora, com tiragem inicial de 1500 exemplares, sendo 100 em formato de livros-objeto, em caixa acrílica, numerados, assinados e acompanhados de jogo da memória baseado nas fotos do livro.

 

Sobre o artista

 

Rômulo Fialdini foi fotógrafo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand de 1971 a 1974, onde produziu imagens para catálogos, livros de Pietro Maria Bardi e para o arquivo de documentos de Lina Bo Bardi. Essa experiência repercutiu em sua carreira e até hoje destaca-se como fotógrafo especialista na reprodução de obras de arte. Desde 1975 trabalha como fotógrafo independente, atuando também no campo editorial e de publicidade. Em paralelo, dedica-se à fotografia urbana e de arquitetura, realizando ensaios em preto e banco sobre cidades como Nova Iorque, Chicago e Montevidéu.

 

De 02 de fevereiro a 09 de março.

O design da periferia

22/jan

Depois de realizar exposições sobre as artes popular (2010) e indígena (2011), propulsoras da formação dos respectivos acervos para o Pavilhão das Culturas Brasileiras, a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo agora faz o mapeamento de uma produção que também não surge da erudição, mas da capacidade de invenção do povo brasileiro. A mostra “Design da periferia”, no Pavilhão das Culturas, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, com a curadoria de Adélia Borges, é o resultado de pesquisas pelo Brasil por cidades e comunidades que exibem preciosas lições de design.Todas as obras e fotografias apresentadas na exposição integram o acervo do Pavilhão das Culturas Brasileiras

 

Segundo a curadora, por trás da precariedade de vida da maioria dos brasileiros encontram-se soluções geniais, manifestações inequívocas de sabedoria criativa, em artefatos feitos pelo povo para uso em seu cotidiano.

 

Com cenografia do arquiteto Marko Brajovic e produção da Arx Gestão Cultural, a mostra, com objetos, fotografias e vídeos, está dividida em quatro módulos: “Rua” recebe os empreendimentos que ocupam o espaço urbano, os vendedores ambulantes, carroceiros de sucata, anúncios gráficos, modo de expor produtos; “Casa” destaca as invenções domésticas que, nas camadas populares, confundem-se com a área coletiva; “Corpo” identifica a expressão do vestir, do pentear; e “Brincadeiras” que traz engenhosas releituras do tradicional universo infantil.

 

Churrasqueiras feitas de calotas velhas de pneus, postos de trabalho de vendedores ambulantes, móveis e brinquedos elaborados por pessoas simples a partir de materiais e técnicas disponíveis no lugar em que vivem são alguns dos objetos que estão na exposição. Ao lado de peças sem assinaturas, há algumas de “designers-artistas”, como Getúlio Damado, do bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro; José Maurício dos Santos, de Juazeiro do Norte, Ceará; Fernando Rodrigues, da Ilha do Ferro, município de Pão de Açúcar, Alagoas; José Francisco da Cunha Filho, de Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco; e Espedito Seleiro, de Nova Olinda, Ceará.

 

Os ensaios fotográficos captam alguns momentos de expressão da criatividade popular. O fotógrafo baiano Adenor Gondim mostra os móveis que eram utilizados nas barracas de festas nas ruas de Salvador, com seus grafismos em composições geométricas. Titus Riedl, fotógrafo e historiador alemão radicado no Crato, no Ceará, apresenta a ambiência urbana utilizada na venda de toda a sorte de produtos no Crato e em Juazeiro do Norte.  Já Fernanda Martins, designer paulistana moradora de Belém, fotografa os letreiros dos barcos de várias cidades amazônicas.

 

De 25 de janeiro a 29 de julho.

Presença de Rubens Mano

07/jan

 

Na exposição “corte e retenção”, em cartaz na Casa da Imagem, São Paulo, SP, Rubens Mano apresenta uma instalação no Beco do Pinto, 13 fotografias e um vídeo de curta duração. O material foi criado a partir de uma ação comandada pela prefeitura, que destruiu grande parte das caixas de madeira usadas para o transporte de hortifrutis no Ceasa, em São Paulo. A partir desse episódio, o artista aborda questões referentes às dinâmicas visíveis e e invisíveis presentes na produção do espaço físico da cidade.

 

A palavra de Guilherme Wisnik

 

Apropriando-se poeticamente dessas caixas como ready-mades urbanos, Rubens Mano cria uma grande montanha que obstaculiza a passagem. E se as pilhas originais, tal como vemos nas fotos, se escoravam em espaços estreitos de calçadas contra muros descascados, envolvendo postes e árvores, no Beco do Pinto o artista cria um volume profundo e impenetrável, e autônomo enquanto forma geométrica e cargas portantes. Assim, enquanto o corte no primeiro caso está associado à destruição e remoção das caixas, no segundo ele reaparece como interrupção de um fluxo através das mesmas caixas, em uma espécie de retorno simbólico do reprimido, para falar em termos psicanalíticos. Sendo o trabalho de arte uma ação física real, é como se a dinâmica de transformação de uma parte da cidade ativasse involuntariamente processos em outros locais, reaparecendo então como enigma, e sem deixar de trazer também, nela inscrita, uma componente de violência surda.

 

Quase no pé do antigo Colégio dos Jesuítas, o Beco do Pinto é uma das vielas íngremes construídas para conectar a colina histórica da cidade à baixada do rio Tamaduateí, onde se situa, significativamente, a primeira Zona Cerealista de São Paulo. Fechado por um portão, o Beco já está hoje interditado ao livre trânsito entre essas áreas, deixando de ser um espaço público. Assim, ao edificar uma rigorosa trama de caixas entre a antiga Casa no 1 da cidade e o Solar da Marquesa de Santos, Rubens Mano conecta discursivamente elos invisíveis da metrópole, ainda que na forma física de uma obstrução. Um bloqueio que também funciona como elemento de conexão.

 

Até 31 de maio.

Colagens inéditas

17/dez

A Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP, revela pela primeira vez ao público uma faceta do arquiteto Aurélio Martinez Flores, nascido no México, que chegou ao Brasil nos anos 60. A mostra reune cerca de 30 obras.

 

Nos anos 80, o arquiteto Aurelio Martinez Flores enriqueceu seu espírito de artista ao conceber colagens, a exemplo do renomado colega Richard Méier que também começa a desenvolver trabalhos na mesma técnica, durante suas viagens entre NY e Los Angeles, para o projeto da sede do Getty Institute. Para compor suas colagens – cuja produção é intensificada a partir de 2007 –, Aurelio Martinez Flores recorre a elementos que encontra em torno de si, e outros que vai buscar especialmente, como os bichinhos de brinquedo que compra em Paris.

 

Sobre o artista

 

Aurélio Martinez Flores traz ao país a sua arquitetura formada a partir das influências de Mies van der Rohe, com quem trabalhou, e do convívio com as obras de Luis Barragán. Seu estilo minimalista e preciso se expressa desde seus primeiros projetos aqui no Brasil.

 

Sua carreira no Brasil começa na loja Forma, em 1960. Com sua visão de que o desenho do mobiliário é a extensão do projeto arquitetônico, em seus dez anos de empresa, chegou a desenvolver cerca de 50 projetos de interiores por mês. Em 1970, com o amigo Luis Carta, abre a Interdesign, loja referência em São Paulo, onde, durante 40 anos, desenhou, importou e comercializou peças de design e projetos de arquitetura de interiores.

 

Até 15 de janeiro de 2013.

Ana Maria Pacheco na Pinacoteca

28/nov

 

A Pinacoteca de São Paulo, São Paulo, SP, apresenta a exposição de Ana Maria Pacheco com cerca de 50 obras, entre gravuras, livros de artista e esculturas, realizadas entre 1998 a 2012. Segundo o curador Carlos Martins, os grandes destaques da mostra são as esculturas “Noite escura da alma”, que reúne um grupo de figuras dispostas em torno de uma figura central, compondo uma arena forjada por uma situação intrigante e ameaçadora, e “Memória roubada I” e “Memória roubada II”, que remetem a um tempo passado muito ligado a memória de um universo religioso. Além de uma seleção de gravuras, com obras de pequeno e grande formato, que oferece um significativo panorama da produção da artista, um testemunho de seu rico imaginário.

 

Esta é a primeira exposição de Ana Maria Pacheco na Pinacoteca. Radicada em Londres desde 1973, Ana Maria consolidou seu trabalho em meio ao competitivo cenário artístico europeu, trazendo como traço definitivo a simbiose de influências da vivência londrina com o imaginário de origem brasileira. Sua obra se reporta às tradições da nossa cultura popular a e, por meio de seu amplo conhecimento de história, literatura e da tradição iconográfica, constrói um mundo muito particular de imagens densas e sombrias, carregadas de ironia e metáforas, sempre surpreendentes. “Ana Maria Pacheco sabe provocar nossa imaginação e sensibilidade. Com suas gravuras e esculturas, a artista nos arrebata e, em estado de cumplicidade, somos levados ao seu mundo repleto de situações insólitas, muitas vezes assustadoras”, afirma o curador Carlos Martins.

 

Ana Maria possui múltipla formação nos campos da arte, música e educação – graduou-se em 1965 pela Universidade Católica e pela Universidade Federal de Goiás. A escultura foi a sua forma de expressão privilegiada, desde o princípio, e sua participação na Bienal de Artes de Goiás, em 1970, foi reconhecida com uma premiação; em 1971, expôs na Bienal de São Paulo. Com uma bolsa de estudos concedida pelo Conselho Britânico do Rio de Janeiro, partiu para Londres onde estudou na Slade School of Fine Art, de 1973 a 1975. Atualmente vive e trabalha em Londres, sendo a primeira artista estrangeira a usufruir do projeto promovido pela National Gallery de residência artística.

 

Até 03 de fevereiro de 2013.

Dois na Galeria Estação

23/nov

Para sua última exposição do ano, a Galeria Estação, Pinheiros, São Paulo, SP, apresenta Julio Martins da Silva (1893, Icaraí – RJ / 1978, Rio de Janeiro – RJ) artista praticamente esquecido, embora de grande importância para a arte popular brasileira. Além de participar da Bienal de Veneza em 1978, naquele mesmo ano, foi tema do filme O que eu estou vendo vocês não podem ver, de Carlos Augusto Calil, professor da ECA-USP e hoje Secretário Municipal de Cultura de São Paulo. Agora, tem seu trabalho reconhecido pelo olhar de Paulo Pasta, que faz a curadoria desta mostra com 19 obras do acervo da galeria.

 

Julio Martins da Silva, pintor tardio, passou a usar a tinta a óleo somente depois da aposentadoria definitiva. Interessava-e principalmente pela natureza, sobretudo por paisagens. Suas telas, sempre retratando uma cena organizada, com pinceladas leves de cores calmas e harmoniosas, contrapõem uma vida de muitas dificuldades. “Esse contraste entre uma vida feita de adversidades e privações e uma produção em que isso não aparece, ou melhor, na qual se elabora justamente o oposto dessa condição, constitui, como já procurei apontar, uma das principais contradições da obra de Julio Martins da Silva”, afirma o curador.

 

Segundo Paulo Pasta, as paisagens do artista possuem características muito particulares, mais próximas da imaginação do que da realidade. O curador aponta, ainda, como raramente se pode ver em suas obras a representação de uma natureza selvagem, desregrada e a mata, quando aparece, também é elaborada em formas amenas e ordenadas. “Acredito que o arquétipo mesmo de suas paisagens seja o jardim, nele, Julio M. da Silva parece encontrar o seu tema perfeito”, completa.

 

Sobre o artista

 

Neto de escravos africanos e filho de pais analfabetos, Julio Martins da Silva nasceu no interior do Rio de Janeiro  e começou a trabalhar ainda menino para sobreviver.  Aos 17 anos, já órfão de pai e mãe, mudou-se definitivamente para a capital fluminense onde foi cozinheiro e operário. Apesar da difícil condição social, sempre buscou completar sua alfabetização, sobretudo para ler seus poetas preferidos, Castro Alves e Casemiro de Abreu. Era, também, um amante das artes. Além de desenhar com lápis desde a juventude,  gostava de fazer serenatas e frequentava, sempre que possível, teatros e cinemas. Segundo Lélia Coelho Frota em seu “Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro”,  o artista realizou inúmeras exposições individuais em galerias de arte do Rio de Janeiro e de São Paulo,  entre elas, destaque para a mostra no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, 1975; e  a participação na Bienal de Veneza, 1978 e uma exposição individual em Washington, 1984.

 

Transcursos 

 

Paralela à exposição de Julio Martins da Silva acontece, no 1° andar da galeria, a exposição de Aline van Langendonck, artista que participou do programa de Residência Artística do Ateliê Acaia, em 2012, que recebe apoio da Galeria Estação. Com curadoria de Tiago Mesquita, a mostra “Transcursos” reúne um conjunto de trabalhos que versa sobre as possibilidades de relação de enquadramentos durante o deslocamento no espaço.

 

A mostra reúne o vídeo Rio Grande realizado nas linhas de trem da CPTM em São Paulo; uma série de monotipias nas quais uma faixa preta compõe o espaço de diferentes maneiras, além de sugerir um desdobramento de imagens em sequencia com quebras de linearidade; cadernos de desenho que investigam variações de formas de objetos cotidianos; objetos de madeira instalados entre o vão da sala expositiva; além da documentação do processo de pesquisa e trabalho relacionada ao período da residência nos ateliês do Instituto Acaia.

 

Até 19 de dezembro.