Brennand no Rio, na Carpintaria

11/fev

Brennand - Carpintaria

A Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, e a Gomide & Co têm o prazer de apresentar “Francisco Brennand: Um primitivo entre os modernos”. Com curadoria de Julieta Gonzalez, a exposição é um desdobramento da mostra homônima ocorrida na Gomide & Co entre 27 de novembro de 2021 e 29 de janeiro de 2022, em São Paulo.

“Brennand optou por trabalhar contra a corrente da abstração geométrica, dedicando-se à exploração de formas primitivas e arcaicas. Ao longo de toda sua vida, desenvolveu uma linguagem pessoal independente das narrativas artísticas dominantes que informavam a arte de seus contemporâneos no Rio de Janeiro e em São Paulo”. – Julieta González.

 

Abertura : 19 de fevereiro.

Livro para Manuel Messias

10/fev

 

 

A Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, lança neste sábado, dia 12 de fevereiro, das 16h às 20h, o livro “Manuel Messias – Do tamanho do Brasil”, com 248 páginas, bilíngue (port/ingl), formato 27cmx21cm, e textos de Ademar Britto Junior, Guilherme Gutman, Lilia Schwarcz, Marcus de Lontra Costa, e Rafael Fortes Peixoto, e uma cronologia do artista por Izabel Ferreira.

“Manuel Messias – Do tamanho do Brasil” (Danielian Edições) é o resultado de minuciosa pesquisa, feita a partir de arquivos de jornais, catálogos, e depoimentos de quem conviveu com o artista, como Anna Bella Geiger, Martha Pires Ferreira, Guilherme Gutman, Matias Marcier e Evandro Carneiro, recupera a cronologia do artista e sua importância.

A renda obtida na venda do livro no dia do lançamento será revertida para os projetos sociais Tropa da Solidariedade, do rapper Shackal, e Cidadão Considerado, do mestre de capoeira Toni Vargas.

“Com esse projeto, temos a intenção de abrir espaço para mais discussões e reflexões sobre a obra desse grande artista que migrou do Sergipe para o Rio de Janeiro, onde se estabeleceu e enfrentou na carne as injustiças sociais, o racismo estrutural e a pobreza, resistindo através de sua obra”, diz Ludwig Danielian, que junto com seu irmão Luiz Danielian dirige a galeria fundada em 2005.

A tiragem de “Manuel Messias – Do tamanho do Brasil” é de 1000 exemplares, e o preço é de R$ 120,00.

Arte Mundana

 

 

No centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, o artivista Mundano inaugura sua nova exposição individual “Semana de Arte Mundana” na Galeria Kogan Amaro, Jardim Paulista, São Paulo, SP.

Para a criação das obras, o artista utilizou resíduos dos principais desastres ambientais brasileiros ocorridos nos últimos anos, como as cinzas das florestas queimadas, o óleo que atingiu as praias do nordeste e a lama de Brumadinho.

Os visitantes terão uma experiência provocativa, característica marcante das obras do artista e poderão refletir através de telas, instalações e esculturas, os atuais desafios da emergência climática no planeta entre outros temas .

A curadoria da exposição é assinada pelos artistas Enivo e Denilson Baniwa e ainda conta poesias sonoras selecionadas pela poeta Mel Duarte .

Até 26 de Março.

 

 

 

Semana de Arte Moderna na Art Lab Gallery

 

 

Um marco com importância reconhecida a posteriori pela história e pela sociedade, a Semana de Arte Moderna de 1922 buscou e cumpriu o papel de romper o vínculo existente entre a produção artística brasileira e as matrizes europeias, quebrando as amarras da arte e assim permitindo a construção de umacultura prioritariamente nacional.

Como homenagem aos 100 anos do evento, Juliana Mônaco exibe na Art Lab Gallery, Jardins, São Paulo, SP, a exposição “Semana de Arte – celebração do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922” onde exibe ao público trabalhos originais de Anita Malfatti, Emiliano Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, autores que participaram da mostra. Antonio Peticov, artista contemporâneo convidado, apresenta uma série inédita com 07 pinturas, além de obras de períodos diversos de sua trajetória em linguagem direta com os modernistas e a Semana de 22. Complementando os 300 trabalhos em exibição, 84 artistas apresentam obras em suportes distintos como pinturas, gravuras, fotografias, esculturas, e jóias.

Em 1922, variadas representações culturais participaram do evento, como dança, música, literatura, pintura, arquitetura, escultura, poesia e palestras. Realizada em uma época de turbulências no âmbito político, social, econômico e cultural, a Semana de Arte Moderna teve como uma das figuras mais importantes, os escritores Mário de Andrade e Oswald de Andrade e o pintor Di Cavalcanti. Os destaques que se perpetuaram destacam os modernistas Oswald de Andrade, na literatura, Víctor Brecheret, na escultura, e Anita Malfatti, na pintura, sendo ela responsável pela primeira exposição modernista brasileira, em 1917 onde suas obras, influenciadas pelo cubismo, expressionismo e futurismo,

escandalizaram a sociedade da época. Não havia um conceito que unisse os artistas, nem um programa estético definido. A intenção era destruir o status quo. E eles conseguiram. Nas palavras da curadora Juliana Monaco, “Escritores, pintores, escultores, e músicos sedentos por renovação, chocaram a elite paulistana, provinciana, em um evento central para a arte na Semana de 13 a 17 de fevereiro de 1922 em uma exposição de trabalhos com predileção nacionalista e o objetivo de fincarnuma posição contra o academicismo, contra o passadismo, como eles mesmos, os modernistas, defendiam”.

Semana de Arte

A Art Lab Gallery “…também revisita o passado, reflete o presente e discute novas propostas para a arte brasileira através da perspectiva de 84 jovens artistas que participam como agentes históricos da nossa Semana de Arte”, explica Juliana Monaco. O tributo a Villa Lobos é expresso com a presença de um centenário piano no espaço expositivo que estará disponível ao público durante o período de exibição da mostra.

De 11 a 19 de fevereiro.

 

 

 

 

Alegria, uma invenção

07/fev

 

Central - Galeria  - Alegria

 

A Central Galeria, Vila Buarque, São Paulo, SP, tem o prazer de apresentar “alegria, uma invenção”, exposição coletiva com curadoria de Patricia Wagner que promove uma reflexão acerca do legado do modernismo no Brasil considerando o centenário da Semana de 1922 como seu marco simbólico. Partindo da premissa de que o evento Alegria, uma invenção

 

A Central Galeria, Vila Buarque, São Paulo, SP, tem o prazer de apresentar “alegria, uma invenção”, exposição coletiva com curadoria de Patricia Wagner que promove uma reflexão acerca do legado do modernismo no Brasil considerando o centenário da Semana de 1922 como seu marco simbólico. Partindo da premissa de que o evento, assim como suas reverberações, contribuíram para a criação de ficções alinhadas ao projeto modernista de construção da identidade nacional, a curadoria busca problematizar a caracterização do brasileiro enquanto “povo alegre” como um enredo que ganha impulso no contexto cultural do anos 1920 para se perpetuar no senso comum.

 

A exposição ocupa simultaneamente os três pavimentos do espaço – a galeria, no subsolo, além do primeiro andar e do mezanino do IABsp – e reúne obras de Antonio Manuel, AVAF, Camile Sproesser, Carmézia Emiliano, Cícero Dias, #ColeraAlegria, Felipe Cohen, Gustavo Torrezan, Guy Veloso, Lourival Cuquinha & Luciana Magno, Manauara Clandestina, Mano Penalva, Marcos Bonisson, Nilda Neves, OPAVIVARÁ!, Randolpho Lamonier, Santarosa Barreto, Thiago Honório, Vivian Caccuri & Gustavo Von Ha e Yhuri Cruz.

 

“Ao longo do século, mesmo que a tristeza nunca tenha saído do nosso vocabulário artístico, a versão do povo alegre, lúdico e cordial prevaleceu”, reflete a curadora. “Entretanto, a maneira pasteurizada como a publicidade conduziu a disseminação de uma visão uniforme do carnaval, do samba e das festas populares propiciou a consolidação de narrativas produtoras de estereótipos e exotizações. (…) “alegria, uma invenção” apresenta produções artísticas que afirmam a alegria em toda a sua complexidade. Em meio às possibilidades de criação e fabulação de mundos que a arte possibilita, o objetivo da mostra é apostar na alegria como um bem coletivo. Como potência vital nos diversos modos de existência, em sua forma prosaica ou revolucionária e que se faz e se reinventa cotidianamente nos mínimos e máximos lampejos. A mostra reúne, portanto, trabalhos cujas poéticas se abrem para a multiplicidade política-afetiva-inventiva da alegria como expansão da potência do ser.”

 

Até 26 de março.

 

Palatnik em NY

 

 

Nara Roesler tem o prazer de inaugurar seu calendário anual de exposições de 2022 com a primeira retrospectiva do artista brasileiro Abraham Palatnik (1928-2020) em Nova York. Com curadoria de Luis Pérez-Oramas, “Abraham Palatnik: o sismógrafo da cor” traz ao público uma seleção de obras que revela o papel fundamental de Palatnik para a arte brasileira da segunda metade do século XX, assim como destaca a importância e pioneirismo de sua produção na compreensão das artes visuais como campos de força (force fields), suportes de energia e dinamismo cromático. A exposição fica em cartaz na Nara Roesler Nova York de 13 de janeiro a 01 de março.
Abraham Palatnik é uma figura fundamental nas artes da América Latina. Autor dos primeiros experimentos mecânicos com movimento e cor, Palatnik conquistou uma posição pioneira entre os representantes da Op Art nas Américas e, ao longo de setenta anos de produção, firmou-se como um criador complexo que expandiu os caminhos das artes visuais ao unir em sua obra tecnologia e arte, energia e cor, função e ornamento, natureza e movimento.
Suas obras podem ser encontradas em diversas coleções ao redor do mundo, como no Museum of Modern Art, Nova York (MoMA), na Adolpho Leirner Collection of Brazilian Art, Museum of Fine Arts, Houston (MFAH); no Royal Museums of Fine Arts of Belgium, em Bruxelas; além de no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), entre outros.
Nascido no Brasil, na cidade de Natal (RN), em 1928, Abraham Palatnik mudou-se para Tel-Aviv com sua família ainda na infância, onde permaneceu até 1948. Ali formou-se como artista e engenheiro.
Entretanto, um dos fatores determinantes para o amadurecimento do artista foi sua atuação na Seção de Terapia Ocupacional do Hospital Pedro II, dirigido pela psiquiatra Nise da Silveira que, apoiada pelos ensinamentos de Carl Jung, foi uma das precursoras e grandes defensoras do potencial da arte no tratamento de pacientes psicóticos. Ao lado dos artistas Ivan Serpa e Almir Mavignier, Palatnik coordenava oficinas de pintura e artes. O impacto dessa experiência com os internos e com as imagens produzidas por eles foi tão intenso que levou Palatnik a abandonar a pintura.
Foi na primeira Bienal de São Paulo, em 1951, que Palatnik despontou na cena artística de forma determinante. Na edição, seu primeiro Aparelho Cinecromático (1949) foi recusado por não se encaixar nas categorias previstas. Posteriormente, a obra seria aceita e receberia uma menção especial do júri internacional. O trabalho é pioneiro no uso artístico de fontes luminosas artificiais e, ao longo de sete edições da Bienal, entre 1951 e 1963, outros Aparelhos Cinecromáticos foram expostos. Em 1964, eles foram exibidos também na Bienal de Veneza, conferindo projeção internacional ao artista.
Até o fim de sua vida, Palatnik seguiu investigando e inovando no campo artístico ao criar trabalhos capazes de gerar fascínio pela elegância de sua composição, seja utilizando mecanismos que coreografam um verdadeiro balé de cores e formas, seja pintando e moldando materiais, como a madeira, o metal, o gesso e o papel cartão, para criar imagens abstratas cheias de ritmo e movimento.
Ainda que constantemente associado aos movimentos da arte cinética, o trabalho de Palatnik parece transcender as categorias. Para o curador Luis Pérez-Oramas, isso “talvez signifique que o problema central de sua obra não seja diretamente o movimento e, por isso, sua produção transcende as mesquinhas categorias que a crítica e a história da arte atribuem à Op Art e mesmo à arte concreta. […] Não se trata, é claro, de representar algo na obra de Palatnik, pelo contrário: trata-se precisamente de apresentar, por exemplo, o vestígio, o rastro, o traço do movimento e, portanto, o que a obra torna visível”. A essência do trabalho de Palatnik é o movimento e sua vertigem, a força transformadora que tem na natureza uma das suas mais assertivas metáforas.
De fato, em sua obra, encontramos a conjunção harmônica desses dois universos: o da regularidade maquínica, ligado à racionalidade humana e sua vontade de construção; e o da organicidade do mundo natural, evocando o universo das sensações renovadas pela constante transformação da paisagem.
“Abraham Palatnik: o sismógrafo da cor” traz, além de trabalhos de séries emblemáticas, como Aparelhos Cinecromáticos e Objetos Cinéticos, pinturas figurativas do início da carreira de Palatnik, incluindo um auto retrato, além de rascunhos, desenhos e projetos que permitem adentrar no processo criativo do artista.

 

Por ocasião da exposição, a Nara Roesler Livros, braço editorial da galeria, lançará “Abraham Palatnik: Encantamento/Experimentação”, a maior monografia já publicada sobre o artista. Com organização de Luiz Camillo Osorio, a edição estará disponível em duas versões, inglês e português e, além de um prolífico caderno de imagens de arquivo e de trabalhos do artista, apresenta textos históricos e inéditos assinados por grandes nomes da área, como Hans-Ulrich Obrist, Mário Pedrosa, Luis Pérez-Oramas, Abigail Winograd, Kayra Cabanas e Gabriel Pérez-Barreiro.

 

 

“Jardim de Amílcar”

03/fev

 

 

A partir de 22 de fevereiro, mais de 60 obras de grande porte de um dos maiores nomes da escultura no Brasil irão compor a mostra gratuita que ficará em cartaz ao longo de dois anos nos jardins do Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília, DF.. A exposição, com curadoria de Marilia Panitz, permitirá ao público uma visita a céu aberto, num projeto inédito no Centro-Oeste.

 

Até 2024.

 

 

 

Paisagens de Lorenzato

 

 

No dia 09 de fevereiro, das 10h às 19h, abre na Gomide & Co, Jardins, São Paulo, SP, a exposição Lorenzato: Paisagens com uma seleção de pinturas do artista mineiro Amadeo Luciano Lorenzato.

 

Sobre o artista

 

Amadeo Luciano Lorenzato (1900-1995), nasceu e morreu praticamente junto com o século XX. O trânsito que experimentou entre o Brasil e a Itália permitiu que acompanhasse tanto a construção de uma capital – Belo Horizonte – quanto a reconstrução de cidades devastadas – como a Arsiero do pós-guerra, onde trabalhou entre 1920 e 1924. O conjunto da obra de Lorenzato, contudo, não se volta necessariamente para a ascensão das metrópoles industriais nem para os grandes embates da civilização. Ainda que tenha acompanhado fatos históricos influentes, o artista decidiu dedicar sua pintura a motivos singelos abordados com originalidade e vigor. Assim, como podemos notar nas cerca de 35 pinturas selecionadas para “Lorenzato: Paisagens”, o seu vocabulário se constitui de poentes, lagos, montanhas, fachadas, árvores, rios, naturezas-mortas e congêneres.

 

Até 19 de março.

 

 

Memórias afetivas em xilogravura

 

 

Aos 26 anos, Santídio Pereira, um dos nomes mais importantes da nova geração de artistas contemporâneos brasileiros, expõe na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, a partir de 05 de fevereiro.

 

A Fundação Iberê abre o ano de exposições com a primeira individual em um museu de Santídio Pereira, 26 anos, um dos nomes mais importantes da arte contemporânea no Brasil. Esta é, também, a primeira vez que o artista vê este conjunto de obras, a maioria de colecionadores, reunidas em uma mostra.

 

“Santídio Pereira – Incisões, recortes e encaixes” apresenta 22 obras, em grandes dimensões, que resgatam a infância do artista em Curral Comprido, povoado próximo a cidade de Isaías Coelho, no Estado do Piauí. São memórias afetivas em xilogravura e offset impressas em papeis kashiki, hahnemühle, sekishu, wenzhou, fabriano disegno e de arroz chinês 100% de algodão.
A xilo em três operações: incisões, recortes e encaixes

 

Santídio mudou-se para São Paulo, em 2002, com apenas seis anos de idade. Aos oito, ingressou nas “oficinas de fazeres” do Ateliescola no Instituto Acaia, uma ONG privada, sem fins lucrativos, que atende crianças e adolescentes residentes próximo à Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), local onde também trabalhou. Aos 14, começou a gravar sob orientação de Fabrício Lopez e Flávio Castellan e, aos 18, se despediu do tempo permitido na ONG, determinado a ser artista. E são justamente a obstinação e as imagens das memórias preservadas, tanto de sua terra natal, quanto das experiências posteriores, que compreendem hoje o viés condutor da obra de Santídio Pereira.

 

A xilogravura atendeu aos primeiros interesses do artista, que desenvolveu procedimentos próprios de trabalho, como a que ele denomina “incisão, recorte e encaixe”, ou seja, a composição por meio da combinação de várias matrizes recortadas, como peças de um quebra-cabeça. Além de proporcionar um jogo de cores através do acúmulo e justaposição de tinta, essa técnica permite subverter a função de multiplicidade, tão característica da gravura.

 

Com o tempo, a materialidade das tintas trabalhadas sobre o papel passou a protagonizar a investigação de Santídio e, até hoje, norteia sua produção artística. A experimentação no estudo das cores tornou-se vetor importante para expressar suas memórias, sentimentos e sentidos, que são inerentes também à cultura e aos fazeres populares dos lugares por onde esteve. Não à toa, o artista sentiu a necessidade de aumentar a superfície de apreciação das cores, aumentando a escala de suas obras.

 

São duas as séries de xilogravuras mais representativas de Santídio: “Pássaros” (2018) e “Bromélias” (2019). A memória afetiva levou o artista a investir numa pesquisa iconográfica sobre os pássaros da Caatinga do Piauí. Além de procurar entender os saberes populares e a relação das pessoas com esses animais, Santídio foi estudar biologia e mitologia. Mais tarde, a partir da residência artística Kaaysá, realizada em Boiçucanga, litoral de São Paulo, surgiu a série de bromélias. Da mesma forma que inspirou Roberto Burle Marx, essa planta tropical tipicamente brasileira também foi um grande objeto de investigação de Santídio, que investiu em viagens pelo país para o exercício da observação, além do estudo científico. Em ambas as séries, o conjunto sensível de conhecimentos populares foi associado à um meticuloso estudo de cores, que normalmente emergem da memória visual e das sensações que o artista preserva das experiências da vida. Para ele, reconhecer a relevância dos saberes populares é tão importante quanto entender a importância da natureza no Brasil, principalmente nos dias atuais.

 

Desde o começo da carreira do artista, a investigação com gravura vem abrindo portas para outras técnicas e suportes, sempre atraindo pela materialidade e sua representatividade nas artes visuais. A série de pinturas “Morros” (2021) surgiu com o sentimento de liberdade ao se deparar com visualidade da paisagem natural de Santo Antônio do Pinhal, Serra da Bocaina e da Cantareira, todas em São Paulo, e como ela resgata reminiscências de cores, imagens e sensações. Utilizando tinta offset, a mesma da produção das xilogravuras, Santídio também parte do princípio de “incisão, recorte e encaixe” para criação das composições em pintura sobre papel Hahnemuhle, traduzindo as sensações através das gradações de cores e justaposições. Ultimamente, Santídio vem pesquisando e desenvolvendo trabalhos em Aquarela, tinta Offset, Xilogravura e Monotipia.

 

Para o curador de arte Ricardo Sardenberg, que assina um dos textos do catálogo da exposição, “sendo um artista ainda muito jovem, sua obra rapidamente amadureceu em um curto período de cinco anos, que vai de aproximadamente 2017 a 2022. Este é um período de experimentação quando o artista decanta, apura e condensa sua técnica, os temas e implicações formais. Do ponto de vista do primeiro, o técnico, Santídio revela um pendor para a experimentação, para o trabalho empírico, quando transforma a xilo em três operações que extraem a complexidade pela simplicidade: são incisões, recortes e encaixes. Ao invés de manter-se na técnica clássica da xilo, as criações de imagens na matriz por meio de incisões utilizando uma goiva, o artista acrescenta seu conhecimento de marcenaria para recortar peças que depois serão encaixadas como em um quebra-cabeça. Estas modificações técnicas e processuais não ocorreram de uma vez, mas em pequenos passos experimentais que podem ser apreciados como num fluxo nas próprias gravuras: das incisões para os recortes, e dos recortes para os encaixes”.

 

“Muitas vezes, as ‘xilos’ em preto e branco de Santídio ainda guardam a lembrança do aprendizado e revelam uma aspereza de que ele sabe tirar partido. Em vez de tentar imitar pequenos detalhes de uma folhagem, por exemplo, ele se aproveita das irregularidades da madeira rachada – lembro ao leitor que hoje em dia muitos xilogravadores, por motivos práticos, lançam mão de madeiras compensadas para realizar suas estampas. E, a meu ver, as melhores gravuras envolvem a presença marcante de cores. Ele as utiliza produzindo séries em que, com um mesmo desenho, tira gravuras em que varia as cores (sobrepondo ao negro uma ou mais cores) em trabalhos que contam apenas com a presença de cores (sem a presença do negro) ou em gravuras cujas figuras são delineadas em preto, mas recebem manchas de cor que modificam a percepção que temos delas. Para o crítico que defronta pela primeira vez com um trabalho tão promissor, torna-se quase impossível não projetar sobre trabalhos iniciais uma trajetória longa e grandiosa”, escreveu Rodrigo Naves para a exposição CORES EM PRETO E BRANCO, realizada na Galeria Estação (SP), em 2016. Naves foi a primeira pessoa que Santídio conheceu ao sair do Instituto Acaia e o apresentou ao mercado da arte.

 

A Fundação Iberê tem o patrocínio de Crown Brand-Building Packaging, Grupo Gerdau, Renner Coatings, Grupo Iesa, Grupo Savar, Grupo GPS, DLL Group, Lojas Renner, Sulgás e Unifertil, e apoio de Instituto Ling, Ventos do Sul Energia, Dell Technologies, Digicon/Perto, Golden Lake Multiplan, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria e Isend, com realização e financiamento da Secretaria Estadual de Cultura/ Pró-Cultura RS e da Secretaria Especial da Cultura – Ministério da Cidadania / Governo Federal.

 

Abertura: 05 de fevereiro.
Visitação: até 1º de maio.

 

Lidia Lisbôa na Galeria Millan

 

 

A Galeria Millan, São Paulo, SP, apresenta até o dia 19 de fevereiro, “Acordelados”, primeira individual de Lidia Lisbôa, Guaíra, PR, 1970, na galeria, abrindo o programa institucional de 2022. A artista ganha mostra antológica, com curadoria assinada por Thiago de Paula Souza. A exposição repassa a trajetória da artista desde o final dos anos 1990 até suas investigações mais recentes.

 

A primeira sala da mostra na Galeria Millan contará com as obras da série intitulada “Tetas que deram de mamar ao mundo”, cuja produção foi iniciada em 2011. Tratam-se de esculturas têxteis de grandes dimensões que são alçadas ao teto e caem próximas ao chão, numa forma que remete aos seios femininos. A exposição contará também com trabalhos inéditos, como as esculturas moldadas ora em cerâmica, ora em porcelana, junto a pedaços de vidro fundido que tomam a forma de elementos naturais em “Costelas de Adão” ou antropomórficos, na série intitulada “Alienígenas”. A exposição apresenta ainda desenhos da artista cujas formas reportam aos seus trabalhos escultóricos, em especial, à série “Cupinzeiros”. Nesta série, também presente na exposição, as esculturas em cerâmica estabelecem relações formais e materiais com os cupinzeiros que ocupam a paisagem do campo brasileiro e que remetem às memórias da infância de Lidia Lsbôa.

 

A artista trabalha com diversos materiais e técnicas, como desenho, arte têxtil, crochê, performance e esculturas em cerâmica, argila, porcelana e botões. Segundo afirma, “meu trabalho busca evocar a força e o poder do feminino, a potência da mulher como força motriz da significação de sua própria existência no mundo.” Suas obras se relacionam com a memória e as experiências que a artista vivenciou em sua infância no campo. Assim como abordam as formas do corpo feminino, o processo da maternidade e as relações que os modos de vida estabelecem com a territorialidade. Ao reportar-se à sua produção, ela afirma que “(…) em meus trabalhos quero tecer e moldar para desestruturar, para desfazer o que deve ser desfeito e dar vistas a modos de vida e expressões que muitos anos de ocultação quiseram lançar ao esquecimento”.

 

Sobre a artista

 

Após ter se mudado para São Paulo, em 1986, Lidia Lisbôa trabalhou em ateliê de alta costura e, em 1991, iniciou sua produção artística. Obteve formação de Gravura em Metal pelo Museu Lasar Segall, escultura contemporânea e cerâmica no Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MuBE) e no Liceu de Artes e Ofícios. Em 1997, participou da exposição coletiva “Tridimensional”, no Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MuBE) e, neste mesmo ano, realizou sua primeira exposição individual no Instituto Goethe, em São Paulo. Em 1998, a artista recebeu o Prêmio Maimeri – 75 anos, concedido pelo Liceu de Artes e Ofícios. Em 2020, Lisbôa expôs no Centro Cultural São Paulo e na 12ª Bienal do Mercosul, em 2021, integrou as exposições coletivas “Enciclopédia Negra”, na Pinacoteca de São Paulo; “Carolina Maria de Jesus: um Brasil para brasileiros”, no Instituto Moreira Salles; e a mostra “A Substância da Terra: O Sertão”, com curadoria de Simon Watson, que ocorreu primeiro no Museu Nacional da República com itinerância na Slag Galery em Nova York.