No auditório do MAM SP

24/mai

 

 

A conversa com Kiki Mazzucchelli e Cauê Alves no auditório do MAM, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, será no dia 04 de junho às 10h. Neste bate-papo, a curadora da exposição “Samson Flexor: além do moderno”, Kiki Mazzucchelli, e o curador-chefe do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Cauê Alves, conversam sobre a mostra que tem como objetivo trazer à luz a obra tardia de Flexor. Esse período marcou a transição do artista do moderno para o contemporâneo ao confrontar questões éticas e estéticas de sua época. Na ocasião, o catálogo da exposição estará à venda.

 

Kiki Mazzucchelli é diretora artística da Galeria Luisa Strina, em São Paulo, curadora e crítica independente, tendo realizado diversas exposições em galerias e instituições.

 

Cauê Alves é mestre e doutor em Filosofia pela FFLCH-Universidade de São Paulo. Desde 2020 é curador-chefe do Museu de Arte Moderna de São Paulo e desde 2010 é professor do Departamento de Artes da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC-SP.

 

 

A trama da Terra na Gentil Carioca, SP

23/mai

 

A Gentil Carioca, Higienópolis, São Paulo, SP, tem o prazer de apresentar a exposição “A Trama da Terra que Treme”. Com curadoria de Victor Gorgulho, a mostra reúne obras de artistas representados pela galeria e convidados: Aleta Valente, Cabelo, Ernesto Neto, Jarbas Lopes, João Modé, José Bento, Laura Lima, Lucas-k, Luisa Brandelli, Maria Laet, Maria Nepomuceno, Mayara Velozo, Novíssimo Edgar, Vinicius Gerheim e Vivian Caccuri.

 

A presente exposição gentilmente apropria-se do título do texto homônimo de Hélio Oiticica, escrito em 1968, para refletir poeticamente acerca das tramas, teias e nós nas quais nos encontramos envoltos e embaralhados. A mostra coletiva investiga a matéria têxtil em suas múltiplas possibilidades de uso e de experimentações – formais, conceituais, políticas – na busca trôpega e errante de tecermos, quem sabe, um novo tecido do comum, uma tramavivência capaz de conectar os muitos retalhos e fragmentos espalhados pelo caminho, até aqui.

 

 

 

 

Um diálogo: vigor, força e tensão.

 

 

A Galeria Mamute, Porto Alegre, RS, exibe até 30 de junho a exposição “O som que o silêncio esconde“. A mostra com curadoria de Henrique Menezes apresenta um diálogo entre duas artistas representadas pela galeria: Camila Elis e Fernanda Valadares. Camila Elis, representante da nova geração de artistas gaúchas, estudou na University of the Arts London e atualmente é mestranda em Artes Visuais pela USP. Através da pintura a óleo, pesquisa sistemas de interação entre objetos, pessoas, ambientes e sensações abstratas. Fernanda Valadares, paulista, Mestre em Artes Visuais pela UFRGS, dedica-se à prática artística há quase duas décadas, investigando por meio da técnica milenar da encáustica os espaços percorridos e as temporalidades.

 

 

A palavra do curador

 

O som que o silêncio esconde

 

 

Conjugar as obras de Camila Elis e Fernanda Valadares em uma única exposição poderia conduzir – por uma análise primeva, assentada na superfície do que se vê – à reflexão sobre as técnicas ensaiadas pelas duas artistas. Seria suficientemente rico descrever os pigmentos e as veladuras, o traço e as pinceladas, perpassar cada fatura e as tantas camadas sedimentadas na epiderme da obra. Apesar de evidenciar a qualidade dos processos, contudo, não daríamos conta do que considero o êxito desse diálogo: a vibração, a harmonia e o tom da exposição. Não é à toa que esses três termos tenham reverberações também no campo da música. Em suas conferências e escritos, o compositor experimental John Cage costumava narrar um episódio ao mesmo tempo físico e poético: certa vez, ao entrar em uma câmara que simulava o absoluto silêncio, Cage percebeu ecos de um som grave e de um agudo. Ao questionar um engenheiro de Harvard sobre suas sensações, foi prontamente surpreendido pela resposta: o agudo era seu sistema nervoso funcionando; o grave, seu sangue circulando. O corpo esconde o som, sendo necessário um exercício de suspender todos os outros sentidos para revelar seus tons através da percepção atenta. Recorrer à ambiguidade da palavra tom nos revela um índice que aproxima a audição e a visão: remete igualmente à inflexão da voz e à intensidade dos instrumentos, mas também denota as qualidades da cor em suas diversas gradações, matizes e nuances. Camila e Fernanda situam-se na fronteira entre a liberação emocional e o limite da disposição racional. No quase silêncio de uma base alva, Camila Elis compõe obras com acordes da psicanálise e da mitologia, nas quais pintura e desenho embaralham-se com traços imprecisos, ladeados com frequência por um vermelho intenso: um possível alerta de que sua produção se distancia de um apelo dócil, inerte ou lentamente ritmado. Em justo equilíbrio, os horizontes e geometrias de Fernanda Valadares, construídos pela alquimia entre pigmentos e cera de abelha, acrescentam unidade não apenas pelas coincidências na paleta de cores, mas também pela demarcação orgânica que mais sugere do que esclarece, entre formas e texturas, entre construções líricas da paisagem e da psique. Ressaltar a harmonia formal que aproxima as duas artistas não significa apaziguar suas distinções: a obra que encerra o percurso – uma densa e soturna encáustica de Valadares – porta-se como um clímax, reverberando a grande tela de Elis que impõe-se suspensa: essas obras lembram-nos que a palavra tom ainda pode significar vigor, força e tensão.

 

Henrique Menezes

 

 

Bispo do Rosário no Itaú Cultural

20/mai

 

 

Um ato de criação libertário, exercido dentro de um sistema opressivo, isto é, numa cela de manicômio. Uma obra ao mesmo tempo única e feita de múltiplas partes, que exibe, sem hierarquias, mantos, estandartes, esculturas e objetos comuns, mas ressignificados. Uma representação do mundo para ser apresentada a Deus no Dia do Juízo. A partir de 18 de maio – Dia Nacional da Luta Antimanicomial -, o Itaú Cultural, Avenida Paulista, apresenta a exposição “Bispo do Rosario – eu vim: aparição, impregnação e impacto”, que reúne centenas de trabalhos de Arthur Bispo do Rosario (1911-1989), em paralelo com outros artistas, modernos e contemporâneos.

 

 

Sobre o artista

 

 

Nascido em Sergipe, Arthur Bispo do Rosario se mudou para o Rio de Janeiro aos 14 anos. Na cidade, foi empregado pela Marinha brasileira – as referências ao trabalho no mar estão presentes na sua obra – e pela companhia de eletricidade Light, além de atuar como boxeador. Em dezembro de 1938, após ter se apresentado no Mosteiro de São Bento como juiz dos vivos e dos mortos, foi diagnosticado como esquizofrênico-paranoico. Primeiro, foi levado ao Hospital dos Alienados; depois, à Colônia Juliano Moreira, instituição em Jacarepaguá voltada para os loucos e outros excluídos. Entre 1940 e 1960, alternou períodos de internação e de moradia em outros lugares. Em 1964, voltou para a colônia em definitivo.

 

 

Nessas décadas posteriores ao seu episódio místico, Bispo construiu sua obra. Na colônia, desfazendo uniformes dos funcionários, além de lençóis, conseguia os fios para tecer as suas invenções. Por meio do escambo com outros internos, juntava diversos itens. Tanto recuperava memórias suas quanto representava acontecimentos da época, colhidos nos jornais, em seu trabalho. Na década de 1980, essa atuação – em meio a debates da luta antimanicomial e de questões da arte de então – passou a impactar o pensamento social e artístico brasileiro. Nesse contexto, suas criações surgiram com uma potência nova.

 

 

Diálogos modernos e contemporâneos

 

 

“Bispo do Rosario – eu vim: aparição, impregnação e impacto” conta também com trabalhos de artistas cujas perspectivas criativas têm afinidades com as de Bispo. Nesse sentido, um dos destaques são os integrantes do Ateliê Gaia, coletivo formado por pessoas que tiveram passagem pelo serviço de saúde mental da Colônia Juliano Moreira. Do grupo, mostram-se, entre outras, obras de Arlindo Oliveira e de Patrícia Ruth, que conviveram com Bispo. Entre os outros artistas contemporâneos presentes estão Carmela Gross, Leonilson, Sônia Gomes, Jaime Lauriano, Fernanda Magalhães, Paulo Nazareth, Rosana Paulino, Rick Rodrigues, Rosana Palazyan e Maxwell Alexandre. Além deles, a mostra traz nomes que marcaram o cenário das artes brasileiras ao longo do século XX, como Abraham Palatnik, Regina Silveira, Aurora Cursino, Flávio de Carvalho, Djanira, Geraldo de Barros, Maria Leontina, Edgar Koetz, Antônio Bragança, Carlos Pertuis, Ivan Serpa, Mônica Nador, Maria Aparecia Dias e Ubirajara Ferreira Braga.

 

 

Esta exposição é realizada em uma parceria do Itaú Cultural (IC) com o Museu Bispo do Rosario, do Rio de Janeiro, e tem curadoria de Diana Kolker e Ricardo Resende.

 

 

Minidocumentário e entrevistas

 

 

Acompanhe o nosso canal no YouTube, em que serão publicados conteúdos exclusivos que aprofundam a experiência da mostra: um minidocumentário sobre Arthur Bispo do Rosario que descreve a sua trajetória e as características da sua produção, e uma série de entrevistas com artistas que participam da mostra, como Maxwell Alexandre, Arlindo Oliveira e Patrícia Ruth. Esses materiais serão vinculados também neste texto

 

 

Até 02 de outubro.

 

 

Escrita-gesto de Rafaella Braga na Kogan Amaro

19/mai

 

 

A artista visual Rafaella Braga exibe a partir de 26 de maio e até 02 de julho a exposição individual  “Céu da Boca”, sob a curadoria de Carollina Lauriano na Galeria Kogan Amaro, Jardim Paulista, São Paulo, SP.

 

 

Texto de Carollina Lauriano

 

 

Quando eu fui até o ateliê da artista Rafaella Braga para acompanhar o desenvolvimento das pinturas que compõem esta exposição, me chamou atenção que a grande escala de suas pinturas e o acúmulo de informações nelas contido trazem uma sensação inversa a essa primeira vista. Isso porque Rafaella consegue transmutar – como poucos – a cacofonia presente nos grandes centros urbanos em sensações opostas às que ela nos oferece. No lugar de desamparo, temos o acolhimento. Da racionalidade, o acaso. E do caos; silêncio. Isso talvez porque para a artista, pintar, antes de mais nada, seja um processo meditativo, de autoconhecimento e cura. No entanto, o texto é algo muito presente em suas pinturas. Rafaella utiliza o suporte como uma espécie de diário o qual a escrita está fora de sua função original de destinação, ou seja, expressam em si a essência do ato de escrever: a gestualidade. Aqui, sua escrita-gesto serve como um elogio ao ilegível, que também retoma aos anos que a artista dedicou-se ao graffiti – que foi seu primeiro lugar de incursão na arte. E aqui precisamos lembrar a marginalidade que esse tipo de expressão artística ainda é colocado e como trazer essa simbologia para dentro de uma pintura contemporânea, ainda hoje, é um ato transgressor. Aliás, aqui eu levanto um ponto importante sobre as pinturas de Rafaella. Elas estão o tempo todo nos fazendo lidar com uma sensação de oposição, e porque não, dualidade. Ao mesmo tempo que a gestualidade da sua escrita se expande a ponto de quase dominar todo o canvas, os gigantescos e imponentes seres imaginários que a artista pinta recorrentemente em suas telas têm um caráter introspectivo. E nesse exercício constante de expansão e retração, Rafaella nos mostra que é preciso um pouco de sonho e fantasia para encarar a realidade, e vice-versa. E é exatamente essa busca de equilíbrio que torna a pintura de Rafaella interessante. Observar uma jovem pintora desbravar lugares antes não dados a ela (geográfico e mentalmente) é pensar que sim: o céu é o limite. Céu, inclusive, é uma palavra que permeia todas as criações da artista. Um lugar de refúgio que ela se conecta para buscar conforto em qualquer lugar do mundo que ela esteja, em uma forma de nos dizer que para voar é preciso tirar os dois pés do chão. Todo esse otimismo pode parecer juvenil, e em parte é (sem aqui invalidar toda história de vida da artista, mesmo com sua pouca idade). Mas aqui precisamos nos atentar que Rafaella faz parte de uma geração comprometida com as mudanças que as gerações anteriores tem proposto como possibilidades de futuros mais plurais, diversos e inclusivos. E a artista decidiu fazer isso numa tentativa de conexão consigo e com seu entorno. Então essa exposição, nada mais é do que um convite a adentrar esse espaço como se entra em um templo meditativo e deixar com que os seres que podem nos assombrar, também nos acolham. Se Rafaella conseguiu docilizar os seus, porque nós não podemos tentar a mesma experiência? Às vezes os mais velhos ensinam os mais jovens. Às vezes o inverso também acontece. Eu tenho aprendido com a troca.

 

 

Sobre a artista

 

 

Rafaella nasceu em Goiânia, Brasil, 1998. Começou a traçar seu próprio caminho nas artes através do graffiti e depois se descobriu na pintura, explorando-a livremente e sem qualquer pré-concepção. Ela tem desenvolvido e materializado suas ideias principalmente em telas de grande porte, que podem ocupar paredes inteiras, revelando um método de trabalho fisicamente intenso. Usando a tela como diário, sua prática tem o corpo como matéria-prima, investigando o próprio delineado por suas vulnerabilidades e segredos, e gira em torno da interação entre realidade e fantasia, identidade e tempo, oferecendo uma alternativa onírica à realidade. A artista vem desenvolvendo projetos próprios, em colaboração com iniciativas internacionais como exposições coletivas. Rafaella Braga atualmente vive e trabalha em Berlim.

 

 

Paulo von Poser, desenhos de nus

13/mai

 

 

A mostra apresenta obras inéditas produzidas pelo artista durante os últimos 40 anos, refletindo sobre o corpo nu masculino e a plataforma do desenho.

 

A VERVE Galeria, Av. São Luis, 192, sobreloja 06, Edifício Louvre, República, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Desenhos nus: 1982-2022”, individual do paulistano Paulo von Poser, com um recorte de trabalhos do artista em suas reflexões sobre o corpo nu masculino. A mostra cobre um arco de 40 anos de produção artística de von Poser, com desenhos, colagens e esculturas, além de um livro de artista dedicado a Hudinilson Jr (1957-2013). A exposição inaugura neste sábado, dia 14 de maio e permanecerá em cartaz até o dia 14 de junho.

 

As obras apresentadas são inéditas, algumas guardadas pelo artista há décadas em seus arquivos, envolvidas por um tom íntimo, observador e confessional. A exposição, que enfatiza o gesto do desenho, as paixões e os trabalhos sobre papel, reapresenta outras narrativas aprofundadas por von Poser, amplamente reconhecido por seus desenhos de rosas e paisagens.

 

Nas palavras de Giancarlo Hannud, curador da exposição, “há mais de quatro décadas, von Poser vem se engajando de forma constante com o desenho, cotidianamente registrando as infinitas possibilidades expressivas do marcar a traços uma dada superfície, à guisa de outra coisa qualquer”. É a partir dos mecanismos do olhar, do admirar e do desenhar que se estrutura a exposição, onde, continua o curador, “seus desenhos do corpo representado falam tão alto quanto seu gesto marcador, desenhador e desenhado, confluindo-se para dar origem a algo novo. Dissolvidos artista e modelo, tornam-se, ambos, desenho, sugestão tátil e imorredoura de um encontro vivido e passado. Como disse o artista: “Se o desenho pode ser considerado amoroso na sua relação com o olhar, essa condição diz respeito ao encontro do traço do carvão com o papel, do encontro do modelo com as outras imagens projetadas do seu corpo, do encontro do artista com seus desejos e medos.” Desses três encontros engendra-se o desenho de von Poser.”, conclui Hannud.

 

Sobre o artista

 

Paulo von Poser (São Paulo, 1960) graduou-se em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU USP) em 1982. Trabalha sobretudo com desenho, cerâmica, escultura, gravura e ilustração, refletindo sobretudo acerca da cidade, do corpo e das flores. Lecionou, de 1986 a 2018, na Universidade Católica de Santos (Unisantos) e leciona desde 2007 na Escola da Cidade, em São Paulo. Há uma forte relação entre o trabalho de professor e de desenhista, uma vez que as caminhadas com seus alunos alimentam a produção. Paulo von Poser participou de dezenas de exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, e seus trabalhos integram inúmeras coleções privadas e públicas, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo (MASP), o Museu de Arte Contemporânea de São Paulo (MAC USP), o Museu da Casa Brasileira (MCB) e o Museu Afro Brasil.

 

Sobre a galeria

Galeria Verve

 

A Verve é uma galeria de arte contemporânea fundada em São Paulo, em 2013. Nascida do entusiasmo e inspiração que animam o espírito da criação artística, a Verve é abrigo para diferentes plataformas de experimentação da arte contemporânea. A eloquência e sutileza que caracterizam o nome do espaço também estão presentes na cuidadosa seleção de artistas e projetos expositivos. Por entender que as linguagens artísticas compreendem processos contínuos e complementares, a galeria representa novos talentos e profissionais consagrados que transitam livremente entre a pintura, o desenho, fotografia, escultura e a gravura. Dirigida pelo artista visual Allann Seabra e o arquiteto Ian Duarte, a galeria ocupa um espaço no mezanino do histórico Edifício Louvre, em franco diálogo com o patrimônio construído da cidade de São Paulo. Na diversidade de seus espaços expositivos emergem possibilidades de curadoria que vão além do cubo branco, estendendo-se para a rua e cumprindo a função integradora entre a arte, o público e a cidade. A Verve é membro da Associação Brasileira de Arte Contemporânea [ABACT] e integra o Comitê Consultivo da SP-Arte.

 

 

A obra original de Artur Lescher

12/mai

 

 

O Farol Santander Porto Alegre, centro de cultura, empreendedorismo e lazer da capital gaúcha, exibe a exposição inédita “Observatório”, do artista visual paulistano Artur Lescher. Trata-se da primeira grande mostra individual de Lescher em Porto Alegre e apresenta, com 28 obras, uma retrospectiva de sua carreira. Observatório fica em cartaz no icônico edifício porto alegrense até 24 de julho. Das obras expostas, sete foram desenvolvidas especialmente para a exposição no Farol Santander.
Artur Lescher se destaca pelas obras tridimensionais e materiais inusitados para a construção de suas esculturas. O artista já teve grandes exposições individuais e coletivas em países como Estados Unidos, França, Alemanha, Argentina e Uruguai. Aos 25 anos já marcava presença na Bienal de São Paulo em 1987, desenvolvendo poética escultórica baseada nas observações e experimentações dos ambientes expositivos.

 

 

“É com grande alegria que o Farol Santander acolhe a exposição Observatório, de Artur Lescher. Um dos artistas com trajetória mais destacada e consistente do país, Lescher relaciona arte, design e arquitetura em uma obra instigante e poética. Através de projetos que trazem grandes nomes da arte brasileira para interagir com o icônico edifício que abriga a sede do Farol Santander Porto Alegre, fortalecemos nossa missão de estimular a cultura, aproximar pessoas e despertar a criatividade de um público que vêm se revelando cada vez mais exigente, dinâmico e plural.”; afirma Patricia Audi, vice-presidente do Santander Brasil.

 

 

Logo na entrada da exposição que ocupará as galerias localizadas no mezanino do edifício, os visitantes se deparam com a instalação “Pivô” (2014), uma grande estrutura suspensa desenvolvida em materiais como latão e cabo de aço, medindo seis metros e pesando trezentos quilos, que simula o funcionamento de um pêndulo.
A exposição segue com uma série de esculturas produzidas por Lescher entre os anos de 1998 e 2022. Uma delas, intitulada “Sputinik” (2021), contém três peças que formam uma esfera de madeira com 25 centímetros de diâmetro, suspensa no ar por três hastes finas de metal dourado, que se movem pela sala na diagonal, também provocando um efeito pendular.

 

 

Além de “Sputinik”, são totalmente inéditas e desenvolvidas para sua primeira grande exposição individual em Porto Alegre as obras Finial # 07, 08, 09 e 10, Rio Leethê #19 e Observatório. Destaca-se ainda a obra “Escada” (1998), que já passou por diversos museus e exposições. A escultura mede 24,5 cm x 265 cm e foi desenvolvida em aço inoxidável. Outras séries de trabalhos com elementos como pêndulos, linhas, granito, madeiras e feltro de lã completam o circuito expositivo, explorando o conceito dos corpos que riscam o espaço, deixando rastros retilíneos e leves. Ao mesmo tempo em que o trabalho de Lescher está atrelado fortemente aos processos industriais, atingindo requinte e rigor extremos, sua produção vai além e não tem por fim único à forma. Essa contradição abre espaço para o mito e a imaginação, ingredientes essenciais para a construção de seu “Observatório”.

 

Waltercio Caldas, exposição na Raquel Arnaud, SP

 

 

A Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta até o dia 18 de junho a exposição “O estado das coisas”, individual de Waltercio Caldas com apresentação do crítico de arte Paulo Sergio Duarte.

 

 

Arte política e política da arte

 

 

Na época que vivemos, e não por acaso, a política contamina a arte mais do que qualquer variante do vírus durante a pandemia. Não faltam razões para isso: razões étnicas, de gênero, fascismo pelo mundo afora e tantas outras. A história da arte está carregada de grandes exemplos de arte política. A morte de Marat, 1793, de David; A Liberdade conduzindo o povo, 1830, de Delacroix; e, antes desta, A jangada da Medusa, 1818-1819, de Géricault; pela primeira vez, um bando de personagens anônimos, marinheiros náufragos, foram retratados em alto-mar numa tela cuja escala estava reservada para grandes eventos históricos, batalhas, coroações de monarcas e outros. Ela mede 491 por 716 centímetros. O artista tomou conhecimento do naufrágio por uma notícia de jornal dois anos antes, um fait divers. Quando os sobreviventes chegaram à terra, contaram suas agruras – até se alimentaram da carne do corpo de companheiros mortos –, e Géricault se motivou. Guernica, 1937, de Picasso, fica como o momento mais elevado da arte política do século XX. Mas nenhuma dessas obras estaria na história da arte pelas suas motivações políticas externas; estão lá porque, cada uma a seu modo, contribuíram para modificar a linguagem da arte de seu tempo: esta, a política da arte.

 

 

Na exposição O Estado das Coisas, de Waltercio Caldas, temos inúmeros exemplos da experiência política em obras com experimentos inéditos na longa trajetória do artista. E não são poucas as surpresas. O modo como conjuga pintura e escultura numa mesma peça é uma delas. Há um jogo e este é dado pela linguagem, a única política estritamente artística passível de ser praticada no interior da obra de arte: a transformação da linguagem, aquela política que não está presente em praças ou manifestações, mas que clama por novas experiências de percepção.

 

 

Examine-se três dessas demonstrações.

 

 

Observe-se Mondrian em casa. Duas reproduções de Mondrian sobre papel estão dispostas diante de nossos olhos, de dimensões diferentes. Dependendo da distância que tomamos, exige um certo estrabismo, a distância que os separa dilata o espaço pela simples presença. A intervenção do elástico esticado traz uma sutil ironia. Sabe-se que no final de 1919, início de 1920, Mondrian começou suas grades, sempre ortogonais; o elástico traça uma diagonal, além de projetar-se em volume para sustentar um copo que se apoia num simulacro de mesa; ao se estender para o copo, soma três diagonais. Além da curva que contorna o volume do copo. Essas transgressões e transformações em relação à obra que se encontra presente no título, sempre sutis e rigorosas, nos ensinam: não há política da arte sem experiências de linguagem.

 

 

Não existe arte contemporânea que não seja experimental. Sabemos disso desde Adorno e sua Teoria Estética. Mas existe algo em Waltercio Caldas, além do experimentalismo: um ascetismo que não se confunde com aquele da Minimal Art, trata-se de uma economia que não é avessa ao campo semântico, à polissemia. Isso estimula a experiência da obra.

 

 

Em Acústica II, o exercício sobre o negro domina a cena, apesar da presença sutil do vermelho e do amarelo. De novo, para quem tem memória, a história da arte se infiltra. Como não lembrar o Quadrado negro, 1916, de Malevich, os anos de pinturas negras de Ad Reinhardt e, pela tela à esquerda, Soulages. Nesta, como em todas as obras desta exposição, é preciso não ver alegorias no sentido tradicional do termo. Não há imagens substituindo narrativas. Existe, sim, associação de ideias, mas não aquela freudiana, a associação livre da situação psicanalítica. Aqui as associações de ideias são induzidas pelas obras com a possibilidade da multiplicação de sentidos na apreensão subjetiva de seus significados.

 

 

Caravaggio pode servir de síntese de tudo que acima foi dito. Não existe referência à vida atribulada do artista que dá título ao trabalho. Sabemos de seus duelos, de suas múltiplas prisões, de seu exílio, de sua vida curta – morreu aos 38 anos, em morte controversa. Nada disso está presente no Caravaggio desta exposição, certamente não é uma alegoria. O que interessa é que o artista pioneiro do que viria a ser o Barroco ficou na história da arte não por esses fatos, mas por ter dominado o chiaroscuro como nenhum outro havia feito anteriormente. E é esse que está presente, com seu nome grafado escultoricamente, na pintura-escultura de Waltercio Caldas. Os exercícios nas duas pinturas, a maior verde-escura e a menor vermelho-escura, apesar das diferentes dimensões, são similares: enunciam duas regiões separadas por uma curva. As regiões se distinguem habilmente, o vermelho e o verde mais escuros seguem em direção a apenas um pouco, apenas um pouco mesmo, mais claro. Observem que a verde, maior, é pintada sobre uma tela bem menos espessa que a menor, vermelha. Mas as pinturas estão conversando com outros elementos escultóricos. São elementos dourados que interferem sobre a visão da pintura verde e deixam a vermelha livre, e ao mesmo tempo constroem uma profundidade. Estabelecem um limite físico de aproximação. Vamos rever Caravaggio de outro modo de agora em diante. Temos entre nós um Caravaggio nosso contemporâneo.

 

 

Essa é a política da arte, diferente da arte política.

Paulo Sergio Duarte, abril de 2022.

 

 

Exposição Enciclopédia Negra no MAR

 

 

A mostra “Enciclopédia Negra”, que esteve em cartaz na Pinacoteca de São Paulo, chegou ao Museu de Arte do Rio (MAR). Para a mostra no MAR, seis artistas foram convidados para retratar personagens como Abdias Nascimento, Heitor dos Prazeres, Tia Ciata, Manuel Congo e João da Goméia. A exposição Coleção MAR + Enciclopédia Negra torna pública obras realizadas por artistas contemporâneos para retratar personagens que tiveram suas imagens e histórias de vida apagadas ou nunca registradas. A mostra procura rever e criar uma reparação histórica para conferir possibilidade de retratos a personalidades negras, já que antes do século XIX, apenas os nobres eram retratados. Já negras e negros, foram registrados, muitas vezes, em condições anônimas e em cenas como carregando mercadorias na cabeça.

 

 

O projeto Enciclopédia Negra, dos consultores e curadores Flávio Gomes, Lilia Schwarcz e Jaime Lauriano, trouxe o trabalho de 36 artistas contemporâneos que reproduziram retratos dos biografados e interromperam a invisibilidade que existia até hoje na vida dessas pessoas que ficaram com os rostos apagados pela falta de registros visuais na história. O trabalho resultou também num livro também que reuniu biografias de mais de 550 personalidades negras, em 416 verbetes individuais e coletivos, publicado em março de 2021 pela Companhia das Letras.

 

 

“O público vai conhecer a história de quase 200 personalidades negras porque as obras estão acompanhadas de pequenas biografias e ter contato com um catálogo sensacional de artistas negros, negras e negris. É uma oportunidade de ver o trabalho de jovens artistas, que têm feito uma arte figurativa, política, ativista e belíssima de grande qualidade e reconhecimento nacional e internacional. Essa é uma exposição em que o público irá de encontro a uma nova forma de se ver, estar e experimentar esse Brasil numa visão mais inclusiva e mais plural porque ela enfrenta de maneira direta uma política de apagamento das populações negras”, ressalta a consultora e curadora Lilia Schwarcz.

 

 

13 novos retratos

 

 

Na exposição “Coleção MAR + Enciclopédia Negra”, das 250 obras de artes expostas, 13 são novos retratos, criados por 6 artistas contemporâneos, convidados pelo MAR. Essas obras vão entrar para a coleção do museu após a mostra. Os artistas são Márcia Falcão, Larissa de Souza, Yhuri Cruz, Bastardo, Jade Maria Zimbra e Rafael Bqueer, que fizeram retratos de personalidades como Abdias Nascimento, Heitor dos Prazeres, Tia Ciata, Manuel Congo, Mãe Aninha de Xangô e João da Goméia. Os curadores do MAR Marcelo Campos e Amanda Bonan também criaram um diálogo, sobretudo, com a coleção africana e afro-brasileira do Museu de Arte do Rio.

 

 

“A exposição é constituída de retratos de personalidades negras da história como políticos, artistas, sambistas, advogados e engenheiros, que foram historicamente importantes, mas que não tiveram seus retratos produzidos. Esses registros, em sua maioria, são ficções, porque você não conhece as imagens dessas pessoas e cada artista criou seus recursos para trazer esse corpo que nunca foi visto até esse momento histórico de ser retratado”, comenta o curador chefe do MAR, Marcelo Campos.

 

 

A “Coleção MAR + Enciclopédia Negra” é a sexta exposição inaugurada neste ano pelo Museu de Arte do Rio, uma parceria com a Pinacoteca de São Paulo, restabelecendo nova conexão com outros museus.

 

 

“Recentemente inauguramos a exposição “Yorùbáiano” na Pinacoteca e agora chegou a vez do MAR receber a Enciclopédia Negra. A parceria com a Pinacoteca de São Paulo é um marco importantíssimo na relação e no desenvolvimento de exposições que conquistam cada vez mais audiência e que por terem perspectivas universais são representativas tanto da realidade do Rio quanto de São Paulo.”, ressalta Raphael Callou, diretor da Organização dos Estados Ibero Americanos (OEI), instituição gestora do MAR.

 

 

Até 03 de julho.

Fonte: ArtRio

 

 

Exposição no Memorial Getúlio Vargas

 

 

No mês em que, no Brasil, é relembrada a abolição da escravatura, os artistas André Vargas e Pedro Carneiro, com participação do DJ Mam, ocupam o Memorial Municipal Getúlio Vargas, na Glória, Rio de Janeiro, com a exposição “Água Banta”, em que propõem uma reflexão que parte do passado colonial e as relações diaspóricas com a água, elemento fundamental à vida, e com múltiplas funções – banhar, lavar, limpar, beber, cozer, purificar, mandingar, benzer. A curadoria é de Shannon Botelho, que reuniu quatro trabalhos de cada artista. A trilha sonora da exposição tem uma playlist criada por DJ Mam, que também pode ser acessada no Spotify.

 

 

O curador Shannon Botelho observa que “…se o corpo humano é composto anatomicamente por água, constituímos fisicamente a história liquefeita, a dor da travessia, o sal e o suor do passado. De certo modo, poderíamos dizer que a água que nos benze e alimenta nos trouxe até aqui, constituindo e significando as nossas existências tão plurais. É curioso pensar, que a exposição acontece fisicamente abaixo de um grande espelho d’água, desativado, dentre outros motivos, a pedido dos moradores do bairro para que a população em situação de rua não faça uso dele para sua higiene pessoal. Um corte muito preciso é estabelecido de imediato: a relação da cidade com o direito à água e sua utilização”.

 

 

A exposição propõe um tempo de reflexão continuado, promovendo simbolicamente a limpeza das mentes e corações, dos conceitos e das construções simbólicas. Nos quatro trabalhos de Pedro Carneiro, o destaque é a videoinstalação, que ocupa com sal grosso um lugar central na exposição, em que a água é tratada como restauradora da vida, e não apenas como fonte de energia. Um “corpo-entre” o passado e o futuro. Estará também em exibição a pintura de Pedro Carneiro, realizada sob direção do multiartista DJ Mam, em parceria com os artistas Tarciov, Batmam Zavareze e o tcheco Jan Kálab, feita para a capa do single “Oloxá, a Cura”, remix para a música de Luedji Luna e Ministereo Público Soundsystem. Os quatro trabalhos de André Vargas constroem no espaço do Memorial Getúlio Vargas um horizonte possível quando se está abaixo do nível do mar. Integrando os meios expressivos contemporâneos, a exposição tem uma trilha sonora, com a playlist exclusiva “Água Banta”, produzida por DJ Mam, disponível também no Spotify.

 

 

A exposição ficará em cartaz até 19 de junho e tem apoio da Galeria Movimento e da Sotaque Carregado Artes.

 

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