Coleção Fundação Edson Queiroz

24/mar

A Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “VIRAGENS: arte brasileira em outros diálogos na coleção da Fundação Edson Queiroz”. Construída há mais de três décadas com obras de variados períodos da arte brasileira, esta coleção caracteriza-se por ser uma das mais importantes do país, e encontra-se sediada na Universidade de Fortaleza, no Ceará. Curadoria de João Paulo Quintella, Laura Consendey, Marcelo Campos e Pollyana Quintella e expografia de Helio Eichbauer.

 

A proposta é construir diálogos múltiplos que perpassam alguns capítulos da arte brasileira com obras desde 1913, como a emblemática pintura de Lasar Segall, “Duas amigas”, até os anos 1980. A exposição é constituída por núcleos que apresentam abordagens mais amplas do que os convencionais movimentos e cronologias da história da arte, identificando obras que se relacionam às discussões da forma, aos referenciais da cultura, aos interesses psicológicos e a outros atravessamentos possíveis, observando não só a influência de um artista sobre seus sucessores, mas, antes, as evidências de que arte e sociedade são indissociáveis.

 

Dentre os 43 artistas participantes, constam nomes como Abraham Palatnik, Alfredo Volpi, Amilcar de Castro, Anita Malfatti, Antonio Bandeira, Antonio Gomide, Bruno Giorgi, Candido Portinari, Cícero Dias, Danilo Di Prete, Emiliano Di Cavalcanti, Ernesto de Fiori, Flávio de Carvalho, Frans Krajcberg, Franz Weissmann, Guignard, Hélio Oiticica, Hercules Barsotti, Hermelindo Fiaminghi, Iberê Camargo, Ione Saldanha, Ismael Nery, Ivan Serpa, José Pancetti, Judith Lauand, Lasar Segall, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto, Lygia Clark, Maria H. Vieira da Silva, Maria Leontina, Maria Martins, Maurício Nogueira de Lima, Milton Dacosta, Mira Schendel, Rubem Valentim, Samson Flexor, Sérgio Camargo, Sérvulo Esmeraldo, Tomie Ohtake, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret e Willys de Castro.

 

A exposição também prevê um ciclo de falas com pesquisadores voltados para as questões da arte moderna brasileira.

 

 

De 25 de março a 25 de junho.

Retratos de Assis Horta

O Espaço Cultural BNDES, Centro, Rio de Janeiro, RJ, abriu ao público a exposição “Assis Horta: Retratos”, com mais de 200 fotografias em preto e branco em diversos formatos, do fotógrafo mineiro Assis Alves Horta, que se tornou uma referência ao registrar os primeiros retratos de operários legalmente registrados no Brasil, pela recém-criada carteira de trabalho, em 1943.

 

Assis Horta tem 99 anos e possui um acervo que contempla também cenas do patrimônio histórico nacional. A curadoria é do pesquisador Guilherme Rebello Horta, que revelou a raridade e importância deste acervo fotográfico em uma série de exposições já apresentadas em Ouro Preto, Diamantina, Tiradentes e Belo Horizonte, e em Brasília. A exposição, que chega agora ao Rio de Janeiro, é o desdobramento do projeto vencedor do XII Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da FUNARTE – “Assis Horta: A Democratização do Retrato Fotográfico através da CLT”.

 

Guilherme Horta, que apesar do sobrenome, não é parente de Assis Horta, conta que a partir de 1° de maio de 1943, com a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), milhares de trabalhadores precisaram tirar seus retratos para a carteira profissional – talvez em seu primeiro contato com uma câmera fotográfica. “A fotografia, que até então se destinava a retratar a sociedade burguesa, começou a ser descoberta pela classe operária. O retrato entrou na vida do trabalhador: realizou sonhos, dignificou, atenuou a saudade, eternizou esse ser humano, mostrou sua face”, destaca o curador. Assis Horta manteve estúdio fotográfico em Diamantina entre as décadas de 1940 e 1970, registrando em chapas de vidro praticamente toda a sociedade diamantinense da época. Seu acervo fotográfico de retratos da classe operária brasileira representa um corte nessa nova possibilidade da fotografia no Brasil e é o objeto dessa exposição, que decifra a gênese do trabalhador brasileiro legalmente registrado.

 

Para que o público conheça a potência da obra de Assis Horta, a exposição conterá três módulos. O primeiro módulo é representado pelo Decreto Lei que instituiu o uso da Carteira de Trabalho (CTPS), e os primeiros retratos 3×4 com data. As fotografias são impressas em papel fine art, e montadas em molduras de madeira sem vidro. Em seguida, o visitante encontrará um confronto entre a fotografia de identidade civil e o retrato como gênero artístico. Por fim, na terceira parte, serão apresentadas imagens do trabalhador no estúdio fotográfico. Sozinho, com os amigos ou com a família, o operário brasileiro, que já havia ganhado sua identidade de cidadão, adquiriu sua dignidade e imortalidade por meio do retrato fotográfico.

 

A mostra terá uma parte interativa: uma reprodução do antigo estúdio fotográfico “Foto Assis” permitirá ao visitante interagir com a exposição, fazendo suas próprias imagens (ou selfies) nos mesmos moldes das antigas, revivendo todo o cenário e o clima das fotografias de Assis Horta. Ao lado, vitrines com materiais do estúdio original: filmes, câmera e materiais de laboratório vão mostrar o processo de trabalho de Assis Horta. Por fim, haverá uma fotografia em grande formato, mostrando em 360 graus a cidade mineira de Diamantina, onde ficava o estúdio do fotógrafo.

 

 

Até 05 de maio.

Arte contemporânea angolana

A Caixa Cultural Rio de Janeiro, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, na Galeria 3, a exposição “Daqui pra frente – Arte contemporânea em Angola”, com obras de três artistas da novíssima geração do país: Délio Jasse, Mónica de Miranda e Yonamine. Com a curadoria de Michelle Sales, a mostra exibe fotografias, vídeos e instalações, fazendo um mapeamento da fronteira estética entre a Angola de hoje e as imagens submersas e muitas vezes escondidas de um passado colonial recente. O projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e Governo Federal.

 

“A representação da fronteira, excessivamente recorrente no pensamento atual, discute as trocas culturais que ocorrem na situação de pós-independência que muitas das ex-colônias vivem hoje. “Na maioria das vezes, tais territórios são encarados como esquecidos, vigiados e vazios”, comenta a curadora Michelle Sales.

 

É justamente essa perspectiva que o trabalho dos artistas busca problematizar e questionar sob diferentes óticas. As obras de DélioJasse, por exemplo, consistem, num embate direto de referências que fazem alusão à crise de todo o modelo colonial e seus desdobramentos contemporâneos: guerra, exílio, perdas. Através do retrato de rostos escavados numa antiga feira de antiguidades de Lisboa, Délio nos coloca frente a frente com aquilo que mais as práticas coloniais se ocuparam de apagar: as identidades.

 

Já Mónica de Miranda mostra os pedaços de uma memória coletiva que resiste no tempo. Angolana da diáspora, seu trabalho atravessa diversas fronteiras e esboça uma paisagem de identidades plurais inspiradas pela própria existência e vivência de uma artista itinerante. Sua poética autoral e autorreferencial, inerente a uma geração que cresceu longe de casa, já lhe rendeu diversos prêmios internacionais.

 

E o trabalho de Yonamine remete à arte urbana, usando referências que vêm do grafite, da serigrafia e da pintura, num embate violento com o acúmulo cultural do caótico cenário político-econômico de Angola. A alusão ao tempo presente é recorrente na utilização de jornais como suporte. São muitas camadas históricas que se somam, produzindo imagens profundamente perturbadoras e desestabilizadoras. O artista fala de um país cujo passado foi sistematicamente apagado, seja pela Guerra Civil, pela ocupação russa, cubana e agora chinesa e coreana.

 

 

Até 14 de maio.

 

7ª edição da ArtRio

A ArtRio 2017, que acontece entre os dias 13 e 17 de setembro, tem novo endereço este ano: a Marina da Glória. O espaço, totalmente renovado e com vista para icônicos cartões postais da cidade – a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar – irá receber pela primeira vez as mais importantes galerias brasileiras e internacionais.

 

“A ArtRio chega a sua 7ª edição com uma proposta madura, consistente e baseada na alta qualidade do trabalho que vem realizando. A decisão de levar o evento para a Marina da Glória tem como base a criação de um novo espaço para a feira, mais amplo e integrado, com novas possibilidades de ações e projetos. Nosso foco principal com a ArtRio continua sendo estimular o mercado de arte no Brasil e atuar para que o mesmo seja sério, reconhecido globalmente e baseado em princípios éticos de respeito à arte”, indica Brenda Valansi, presidente da ArtRio.

 

 

A Marina da Glória 

 

A Marina da Glória é administrada pela BR Marinas, que investiu R$70 milhões na revitalização da área. Na parte náutica, toda a estrutura foi renovada com modernos equipamentos nos melhores padrões internacionais e ampliada, triplicando o número de vagas para barcos. Entre outras novidades estão mais espaços para eventos e um parque público projetado pelo escritório Burle Marx, responsável pelo projeto original do Parque do Flamengo, o que garante a total integração com o entorno.

 

Em novembro, o local recebeu a exposição “Monumental – Arte na Marina da Glória”, com trabalhos de grandes proporções de 20 artistas, entre eles Antonio Bokel, Almandrade, Almicar de Castro, Artur Lescher, Caligrapixo, Delson Uchoa, Franz Weissmann, Galeno e Ursula Tautz.  A exposição deu início a uma ocupação das artes plásticas no local, um dos compromissos da administração com os cariocas.

 

“Com a revitalização da Marina da Glória consolidamos seu potencial náutico e turístico, além de termos uma área diferenciada e aberta a diversas intervenções. Queremos transformar o espaço em referência para as artes e a chega da ArtRio nós dá essa chancela. Estamos muito orgulhosos com essa parceria”, disse Gabriela Lobato, presidente do Grupo BR Marinas.

 

 

Inscrições para a ArtRio 2017

 

As inscrições para a 7ª edição da ArtRio, começaram no dia 06 de março.

 

Os formulários de inscrição serão avaliados pelo Comitê de Seleção da ArtRio, que analisa diversos pontos como relevância em seu mercado de atuação, artistas que representa – com exclusividade ou não -, número de exposições realizadas ao ano e participação em eventos e/ou feiras.

 

O Comitê 2017 é formado pelos galeristas Alexandre Gabriel (Galeria Fortes Vilaça / SP); Anita Schwartz (Anita Schwartz Galeria de Arte / RJ); Elsa Ravazzolo (A Gentil Carioca / RJ); Eduardo Brandão (Galeria Vermelho / SP) e Max Perlingeiro (Pinakotheke Cultural / RJ).

 

 

A feira internacional

 

Chegando a sua 7ª edição, a ArtRio tem entre suas metas ser um dos principais eventos de negócios no segmento da arte, além de estimular o crescimento de um novo público através do acesso à cultura. A feira apresenta as galerias em dois programas: PANORAMA, com galerias nacionais e estrangeiras com atuação estabelecida no mercado de arte moderna e contemporânea, e VISTA, dedicado às galerias jovens, com projetos de curadoria experimental.

 

Reconhecida como um dos mais importantes eventos do segmento, a ArtRio faz parte do calendário oficial de eventos da cidade do Rio de Janeiro.

 

Além da presença dos nomes de forte relevância no mercado brasileiro e internacional, a ArtRio tem foco também em apresentar as galerias novas, com artistas jovens, que já estão sendo reconhecidas como grandes apostas para o mercado de arte.

 

A ArtRio é uma grande plataforma de arte, com atividades e projetos que acontecem ao longo de todo o ano para a difusão do conceito de arte no país, solidificar o mercado e estimular o crescimento de um novo público. Entre os focos das ações está o incentivo à visitação de museus, exposições e galerias e o auxílio no resgate da memória da arte com base na valorização dos artistas, galeristas e curadores brasileiros.

 

Desde a edição da feira de 2013, a ArtRio realiza uma parceria com o Museu de Arte do Rio – MAR, estimulando os visitantes do evento a doarem obras expostas – previamente selecionadas e identificadas nas galerias pelos diretores da instituição, para a difusão da prática da doação de obras para museus e coleções públicas no Brasil.

 

A ArtRio é realizada pela BEX Produções e tem patrocínio máster do Bradesco, através da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura.

   

 

PLATAFORMA ARTRIO

 

A ArtRio tem suas bases em três grandes pilares: Conexões, Conteúdo Artístico e Feira Internacional.

 

 Conexões

Ligações e parcerias da ArtRio com outras marcas ou instituições.

 

 

  • ArtRio CARIOCA

 

Evento teve sua primeira edição em 2016 com a participação exclusiva de galerias com atuação no Rio de Janeiro.

 

 

  • Prêmio FOCO Bradesco/ArtRio

 

Em 2017 acontece a 5ª edição do Prêmio FOCO Bradesco ArtRio, que tem como objetivo fomentar e difundir a produção de artistas visuais emergentes, com até 15 anos de carreira. São selecionados três artistas brasileiros, que têm a oportunidade de participar de residência e exposição em três importantes instituições do cenário atual e também expor na feira internacional.

 

A seleção dos vencedores é feita por um Comitê Curatorial independente com direção do curador do Prêmio, Bernardo Mosqueira.

 

 

  • CIGA – Circuito Integrado de Galerias de Arte

 

A 4ª edição do CIGA está prevista para acontecer no primeiro semestre do ano. Durante o CIGA, as galerias de arte têm programação especial como abertura de exposições, visitas guiadas, finissages e performances, entre outras atividades.

 

O CIGA tem entre seus objetivos estimular a visitação às galerias de arte, além dos museus e centros culturais.

 

 

  • ArtRio Social

 

Agenda de atividades que levam cultura, informação e arte para organizações não-governamentais e escolas da rede municipal de ensino. Entre as ações estão visitas guiadas a exposições em centro culturais e museus, organização de palestras e doação de materiais para serem reutilizados por artesãos da ONGs.

 

 

  • Intervenções Bradesco/ArtRio

 

Exposição realizada nos mesmos dias da feira, leva obras de larga escala para espaços públicos. Em 2016, foi realizada nos jardins do Museu da República com obras de importantes artistas como Ernesto Neto, Barrão e Raul Mourão.

 

 

Conteúdo

Informação e entretenimento, com foco na divulgação de conteúdo artístico:

 

  • Portal ArtRio 

 

Com atualização permanente durante o ano, é uma grande central de notícias sobre o universo das artes, com informações sobre o que acontece no Rio de Janeiro e no mundo. Dessa forma, a marca ArtRio traz a arte para uma pauta mais abrangente, estimula a divulgação artística e dos conceitos da arte, enquanto fornece as bases para a formação de um novo público.

 

O portal traz a agenda dos eventos, exposições e mostras realizadas na cidade e tem parceria com os museus egalerias para constante divulgação de suas atividades.

 

 

  • Pílulas de Arte

 

Série de programas, com até três minutos de duração cada, realizados em parceria com o Canal CURTA! com depoimentos de artistas brasileiros contemporâneos sobre seus processos criativos e obras, além de entrevistas com curadores, críticos e galeristas.

 

 

  • Circuitos Artísticos

 

Criação de circuitos de arte na cidade do Rio de Janeiro, com a indicação, dentro de uma linha de visitação e história, de roteiros de arte (pública, imaterial, urbana, arquitetônica etc) que estão em locais de visitação pública (ruas, museus, galerias, paisagens).

 

 

  • Web Rádio

 

Disponível 24 horas por dia com música de qualidade, entrevistas e notícias sobre o cenário de artes visuais. Em sua programação está o primeiro programa nacional totalmente dedicado à Arte Sonora. A rádio conta também com mixtapes assinadas por convidados.

Lygia Pape em NY

Lygia Pape ganha primeira grande retrospectiva nos EUA

 

POR MARCELO BERNARDES

 

Os mais importantes museus de Nova York estão vivendo um verdadeiro caso de amor com o movimento neoconcretista, originado no Rio de Janeiro em 1959.

 

Depois de uma abrangente exposição do trabalho de Lygia Clark (1920-1988), organizada pelo Museu de Arte Moderna, o MoMA, em 2014, e antes de uma superlativa examinação da obra de Hélio Oiticica (1937-1980), que o museu Whitney inaugura em julho, o MetBreuer (anexo do Metropolitan especializado em arte moderna) lança,dia 21, a exposição “A Multitude of Forms”, primeira grande retrospectiva dedicada ao trabalho da artista Lygia Pape (1927-2004) a ser montada nos Estados Unidos.

 

Organizada pela curadora espanhola Iria Candela, expert do Metropolitan em arte latino-americana contemporânea, a mostra de Lygia Pape não supera, em número de trabalhos expostos, a da abrangente exposição “Espaços Imantados”, organizada no museu Rainha Sofia, em Madri, em 2011. Mas Nova York pode ver duas obras não apresentadas na Espanha: a tela “O Livro dos Caminhos” (1963-1976) e as esculturas “Amazoninos” (1991-1992).

 

O fato de a retrospectiva de Pape ter sido organizada no museu MetBreuer tem caráter bastante especial. A artista carioca era grande fã do prédio modernista criado pelo arquiteto húngaro baseado em Nova York, Marcel Breuer (1902 -1981), em 1966. “Lembro-me que, em nossa primeira visita ao local, quando o prédio pertencia ao museu Whitney, Lygia ficou olhando o piso, o teto, as janelas, as formas generosas do museu, e disse que seria fantástico poder exibir aqui um dia”, diz Paula Pape, filha da artista, em entrevista ao blog, na manhã de hoje (20).

 

A curadora Candela contextualiza o diálogo entre as obras de Pape com a arquitetura de Breuer. “Trata-se de uma conexão muito clara, pois é uma ligação histórica. O trabalho de ambos cresceu a partir dos legados do avant-garde europeu”, explica a curadora ao blog. “O neoplasticismo, o suprematismo, a Bauhaus, Mondrian e Kazimir Malevich foram abraçados por ambos”, prossegue. “Lygia foi uma grande herdeira daquele movimento, não só criando um vocabulário universal de cores e formas, mas como também guiando todas aquelas influências em direção completamente inédita”.

 

Como o nome didaticamente oferece, a mostra “A Multitude of Forms” reúne o trabalho de Pape em diversas mídias experimentadas ao longo de sua carreira, iniciada com o concretismo na década de 50, e que incluiu pintura, gravura, escultura, dança, filme, performance e instalação. “Lygia costumava dizer que o grande termômetro de uma exposição vem das pessoas que tomam conta das galerias dos museus”, diz Paula. “E o pessoal responsável pela segurança que encontrei por aqui parece instigado, reagindo com grande interesse pelas obras. É como se estivessem felizes com o que vêem”, conclui.

 

A obra mais representativa do trabalho de Pape, e que serve de pôster da exposição, é “Divisor” (1968), uma performance em que várias pessoas enfiam as cabeças em buracos abertos num gigantesco lençol branco, trabalho que a carioca explicou ser tanto uma celebração do corpo, espaço e tempo (como boa parte de sua obra), mas também uma crítica à burocracia moderna.

 

No sábado (25), como uma espécie de complemento para a instalação em vídeo, o MetBreuer vai apresentar, em alguns quarteirões do Upper East Side (onde está localizado o museu), uma “peregrinação” baseada na obra. Paula Pape, que é fotógrafa, vai filmar a performance. “Divisor” foi o primeiro trabalho de Pape que a curadora Candela tomou conhecimento. “Ao fazer minha dissertação em arte pública, rapidamente me interessei pelo trabalho de Pape”, explica. “Ela foi a pioneira em trabalhos em espaços públicos, mudando a face das performances”.

 

Também chama a atenção a monumental obra “Ttéia, C1” (1976-2004), que encerra a exposição com chave, ou melhor, fios de ouro. A obra é feita por uma sucessão de fios dourados que atravessam o ambiente, dando a sensação de uma tempestade de linhas ou feixes de luz. Onde quer que seja montada, a instalação parece sempre ganhar nova leitura, uma vez que os fios precisam se adequar aos novos espaços ou mudanças na iluminação.

 

Não poderia ser diferente no MetBreuer. “O teto aqui não é plano, mas sim de módulos vazados, então foi-se criada toda uma estrutura para afixar as placas que sustentam os fios no teto”, explicou ao blog o engenheiro e artista plástico Ricardo Forte, genro de Lygia Pape. Por questão de segurança, o MetBreuer vetou que “Ttéia” ficasse muito rente ao chão. “Isso nos obrigou a montar a peça numa plataforma de 30 centímetros de altura, quando o normal é 5 centímetros”, explica Forte.

 

A exposição de Pape reúne cinco décadas do trabalho da artista carioca. Paula Pape disse ter ficado “emocionada” já na primeira galeria, onde as séries “Pintura” “Relevo” e “Tarugo”, da fase concretista, foram montadas de maneira criativa. Há galerias especiais para o manifesto neoconcreto, criado por artistas e poetas cariocas, entre as Lygias e Oiticica, também Ferreira Gullar, Amílcar de Castro e Reynaldo Jardim – e para filmes do Cinema Novo, em alguns dos quais Pape colaborou no projeto gráfico.

 

A proposta do movimento neoconcretista, de favorecer relações mais interativas entre artes e espectadores, é semi-obstruída na exposição do MetBreuer por questões de preservação. As séries “Livro de Arquitetura” e “Poema-Objeto”, livros com elementos arquitetônicos semi-abstratos que as pessoas eram encorajadas a manusear, agora ficam inacessíveis ao tato, trancadas numa caixa de vidro. Mas ainda é possível experimentar, com o auxílio de conta-gotas descartáveis, os sabores da instalação “Roda dos Prazeres” (1967), com vasilhas de porcelana carregadas de líquidos multicoloridos.

 

A retrospectiva Pape é uma das exposições que comemoram o primeiro ano de funcionamento do MetBreuer. A diretora do museu, a inglesa Sheena Wagstaff, que veio do Tate Modern, de Londres, apontou na manhã de hoje que, em 12 meses de funcionamento, o museu teve quatro grandes exposições de mulheres artistas. Começou com a pintora indiana Nasreen Mahamedi (1937-1990), seguida da fotógrafa americana Diane Arbus (1923-1971), da escultora e pintora italiana Marisa Merz, 91, (essa ainda em cartaz até maio) e agora Pape.

 

Candela ressalta que a igualdade de gêneros, tão discutida hoje nas narrativas artísticas, nunca foi problema no Brasil. “Na verdade, o Brasil sempre foi muito inclusivo nas artes plásticas”, explica. “Mulheres sempre destacaram-se muito cedo, como Tarsila do Amaral (1886-1973), por exemplo. Até hoje essa representação é muito igual, com grandes artistas saídas do Rio, São Paulo e mais recentemente de Belo Horizonte também”.

Benjamin em Curitiba

A Simões de Assis Galeria de Arte, Curitiba, PR, abriu a exposição individual do artista Marcos Coelho Benjamim, com apresentação de Guilherme Bueno.

 

 

Benjamin – Tudo está aqui

 

A obra recente de Marcos Coelho Benjamim aglutinou um desdobramento de seus feitos anteriores e um novo passo. Isso não significa ter havido uma “superação” de seus trabalhos realizados até então ou a ruptura com os mesmos; aponta somente para o fato de que certas questões abriram-se para novas abordagens – e nisso, pensamos especificamente no seu trato composicional dos materiais e em suas consequências no entendimento da cor.

 

Característico de seu trabalho pelo menos desde a metade final da década de 1980 é a criação de objetos passíveis de abordarem três frentes: uma primeira em que os campos da pintura e da escultura se mostram intercambiáveis; num segundo caso, eles denotam uma ambivalência entre abstração e figuração, sem, contudo, proporem isso como um dilema ou drama, mas como jogo visual (isto é: como olhamos para uma obra de arte – ou o quê esperamos dela); por fim, na sua capacidade de assimilar simultaneamente uma visualidade “popular” e uma erudita. Exemplificam-nos a série dos Raladores com sua silhueta demarcada e total do suporte (visto que ele não fechava a composição, mas era a forma mesma do trabalho como um todo articulado), a menção a um objeto comum – antes um apelido contingente do que uma descrição, uma legenda ao trabalho – depurada por uma geometria e uma espacialidade pictórica (bidimensional) conjugada a uma plasticidade escultórica (a presença viva da matéria). A paleta terrosa, no seu trato espesso, por sua organicidade, obtinha uma inesperada sensualidade para uma cor quase sempre tratada como tom – uma cor por outros reprimida.

 

Tais colocações, indicativas da parcela de continuidade vista na trajetória do artista, têm sua contrapartida no modo como passam a ser abordadas nos últimos tempos. De imediato, há uma nova paleta em jogo. Benjamim explora cores de uma vibração menos contida; elas decididamente avançam rumo ao espaço. Aqui temos uma interessante comparação: as cores terrosas funcionavam como uma espécie de regulagem entre o quanto a obra tendia a transbordar (por conta de sua textura marcante) ou ter sua área de “influência” e dispersão delimitada ao suporte (dada – perdoe-se o termo – a “frieza” das cores terciárias, a “segurar” a expansão da pintura). A luminosidade média das cores terrosas funcionava como um fiel entre bidimensionalidade do suporte e corporeidade explícita dos materiais. Agora vemo-nos diante de obras cuja luminosidade, ora propelida, ora profunda (e às vezes as duas coisas ao mesmo tempo), optam por uma intercambiável e rica oscilação e vibração do trabalho, algo conquistado paulatinamente pelo seu método de construção.

 

Benjamim persiste em criar obras que não se constroem dentro do suporte, mas com ele. Se o modo disso acontecer anteriormente já foi assinalado, os seus tondi da última década deixam claro como isso tem ocorrido. A forma (e sem querer forçar paralelos, mas apenas sugerir uma analogia) se desenvolve similarmente a certos procedimentos da pintura inicial de Frank Stella, em que uma determinada unidade ou módulo progressivamente se expande. Em Benjamim o tondo também surge a medida em que os arcos metálicos são agregados e conjugados. No entanto, há dentre outras diferenças, uma fundamental – o fato de no artista mineiro tal repetição não ser uma operação programada, mas antes o resultado de escolhas feitas somente no decurso mesmo de realização do objeto. A contraprova está em outras séries que optam por um chassis quadrado, no qual o emaranhado de tiras não replicam o seu perfil, mas que, das pequenas tiras das extremidades às maiores próximas ao centro (onde estão parte dos perfis mais extensos), nele resultam, em uma iridescência luminosa que ora parte, ora proporciona um crescente das bordas para o ápice quase epifânico próximo ao centro do “quadro”.

 

O “emaranhado”, por sua vez, parece fruto de dois problemas: mais uma vez dialogando consigo, o artista encontra aqui uma nova solução para sua investida pictórica por meio de dispositivos escultóricos: as tiras são como linhas desenhadas com objetos reais em um espaço real. Melhor dito, ao invés de desenhar, Benjamim prega uma linha – linha que é também plano e volume. O intervalo entre elas, intensifica, na sua diferença de profundidade, a vibração da cor que, dada variação de ângulos conforme as chapas foram colocadas, obtêm intensidades particulares a partir de uma mesma matriz. Daí o farfalhar vivo e ondulante de algumas peças, como nos quadrados e retângulos, ou o caráter mais grave dos losangos, cujo contraste é acrescido da oposição entre frios e quentes das partes frontais e laterais das lâminas. Resumidamente, Benjamim não se enquadra nem no estereótipo “extremamente mental”, nem no “ingenuamente popular (intuitivo)”, nem no “habilmente formalista”. Sua arte transita entre tudo aquilo que se mostra disponível, cuja validade, porém, se ratifica apenas quando algo faz sentido plástico para ele. Benjamim é um artista honestamente visual: nele, tudo é dito pela maneira como as formas são operadas para dar consecução a um trabalho, cuja validade se traduz em sua aptidão para ser efetivamente autêntico, e não justificar empréstimos formais tomados alhures (sem renegar, contudo, sua amplitude de repertório). A melhor palavra para descrever uma obra sua é presença. A sua verdade está no esplendor e maravilhamento sem culpas ou tergiversações que uma obra de arte pode despertar. Óbvio que não indica nem um método nem um princípio exclusivo como a arte deve ser hoje; outrossim deixa-nos perceber que é uma das inúmeras modalidades autênticas segundo as quais ela pode existir.

 

Resta ainda um aspecto a indicar nisso tudo. Foi dito que Benjamim mostrou-se sempre capaz de entrelaçar uma visualidade popular com aquela outra “erudita”. Esse sempre foi um tema espinhoso, pois abria margem para leituras incompletas e reducionistas do artista. Isso ficava patente na discutível “mineiridade” ancestral e profunda de seu trato com sua invenção (valendo-nos da precisa expressão usada por Olívio Tavares de Araújo ao falar do artista). O princípio de Benjamim não é nem descoberta ingênua e acidental nem a pré-determinação da forma: é acima de tudo a potência de testar os mais discrepantes modos de se chegar a arte. Dito concretamente, é sua generosidade plástica de fazer com que cor, forma e matéria – em um resumo simplista, a tríade inicial de seu processo – lograssem com ele a conjugar uma evidência carnal e matérica dos elementos construtivos, com um esplendor e presença quase “mágicos” que, hoje em dia, apenas a arte (mais verdadeiramente) popular consegue atingir. Seus azuis e violetas têm a potência cativante dos antigos santos, mas são igualmente elementos de um mundo próximo e corriqueiro da cultura visual urbana. O desafio que Benjamim nos oferece é o de ser um artista sem classificações ou molduras. É o desafio da honestidade; simples porque tudo está dito, mas numa plástica generosa e inquiridora de todos os seus horizontes.

Guilherme Bueno

 

 

 

Até 29 de abril.

Waltercio Caldas/desenhos e esculturas

23/mar

A Galeria Marcelo Guarnieri apresenta, em sua unidade de Ribeirão Preto, SP, exposição individual de Waltercio Caldas. A mostra, que reúne desenhos e objetos produzidos, em sua grande maioria, nos últimos cinco anos, nos aproxima do interesse do artista pela construção de significados através do olhar e do encontro com o desconhecido.

 

A busca de Caldas é por um olhar modificado pelo espanto do objeto sem nome e sem história.

 

Pelo estado de suspensão em que nos encontramos quando em situações fronteiriças, do espaço “entre”: entre realidade e ilusão, silêncio e matéria, bidimensional e tridimensional, entre palavra e imagem, entre a linha do horizonte e o abismo.

 

A geometria, sendo estruturada por razões matemáticas, é comumente associada à ideia de certeza, assertividade e previsibilidade, no entanto, dentro do trabalho de Caldas, ela parece nos apontar para uma realidade que vai além desses limites: seja nos desenhos sobre papel, quando a linha ou o ponto ganham um corpo e se lançam no espaço para além da superfície, seja nas arestas de seus sólidos geométricos que, ora se apresentando irregulares entre si, ora sugerindo um caminho ainda a ser percorrido até que o volume se complete, nos projetam para outros planos que não se presentificam no traçado. É uma espécie de dúvida do mundo que mobiliza a produção de Waltercio Caldas e que solicita ao observador especulações sobre ele a partir do olhar.

 

A transparência e o reflexo são elementos igualmente importantes nos trabalhos apresentados nesta exposição, que, embora não sejam constituídos por espelhos ou vidros – materiais presentes em muitas das peças do artista -, possuem em sua composição os dados dessas naturezas. É o caso da obra Sem Título, de 2013, composta por arestas de aço inox que sugerem duas formas tridimensionais que se enfrentam, se espelham e que são mediadas por um bloco preto e maciço de obsidiana negra polida. Na cultura Asteca, tal pedra servia de matéria prima para o poderoso espelho de obsidiana, símbolo do deus da feitiçaria, Tezcatlipoca, cujo significado se dá por “Espelho Esfumaçado”; era utilizado em rituais de adivinhação por xamãs e entendido como um objeto que refletia ao mesmo tempo observador e observado. Esse quase- duplo não-idêntico de arestas que se reflete através de um “Espelho Esfumaçado”, parece nos colocar diante da distorção, condição inerente, embora muitas vezes imperceptível, dos materiais reflexivos e translúcidos, e que pode também dar origem ao efeito, a que chamamos de ilusão, dos arranjos da imagem sobre o olho. Tal efeito é explorado ainda nos desenhos, como, por exemplo, naquele de 2014 em que vemos formas ovais ganharem volume e saltarem do plano por meio do jogo de luz e sombra no uso do pastel, ou em outros que se constroem seguindo as leis da perspectiva euclidiana.

 

O repertório da história da arte é entendido por Caldas como material de trabalho, tanto quanto é  o bronze, o aço inoxidável, o ar, os fios de lã ou os campos de cor. “Considero a arte um fluxo, um rio que cada artista faz movimentar um pouco. Por outro lado, vejo a história da arte como  uma matéria contínua, resultado desse fluxo, onde um ou outro trabalho me interessa particularmente. […] Minha intenção ao utilizar a história da arte como matéria plástica é dar crédito a esse fluxo. Materializá-lo de modo que o reconhecimento dessas mudanças se torne assunto do trabalho […]”

 

O uso que faz das palavras em algumas de suas obras, afirma seu interesse pela linguagem como ponte entre uma imagem visível e uma imagem possível e, mais do que isso, como aquilo que pode provocar um momento de desorientação psíquica, um estranhamento. A palavra ganha uma espécie de vida que extrapola a sua função dominante, sugerindo imagens que rearranjam o funcionamento do organismo que habita, seja no desenho, seja no objeto, seja na instalação.

 

 

 

Sobre o artista

 

Waltercio Caldas nasceu em 1946 no Rio de Janeiro, cidade onde vive e trabalha. Suas obras encontram-se nas seguintes coleções: Museum of Modern Art, Nova York, EUA; National Gallery of Art, Washington, EUA; Fundación Cisneros – Colección Patricia Phelps de Cisneros, Nova York, EUA; Caracas, Venezuela; Blanton Museum of Art, Austin, Texas, EUA; Neue Galerie, Staatliche Museen, Kassel, Alemanha; Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil. Participou de inúmeras exposições individuais e coletivas desde o final dos anos 1960, destacando-se: Bienal de Veneza, Itália; Bienal Internacional de São Paulo, Brasil; Documenta, Kassel, Alemanha; Gwangju Biennale, Coreia do Sul; Bienal de Cuenca, Equador; Bienal de Havana, Cuba; Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil; Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil; Stedelijk Museum Schiedam, Holanda; Queens Museum of Art, Nova York, EUA; MAR – Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil; Malba, Fundación Constantini, Buenos Aires, Argentina.

 

 

De 18 de março a 17 de maio.

 

Individual de Luiz Ernesto

16/mar

O Paço Imperial inaugura dia 16 de março, a exposição “Antes de sair”, de Luiz Ernesto.O trabalho ocupará a sala “Academia dos Seletos”. O artista apresenta uma instalação inédita que une imagem e texto, lidando com os sentidos possíveis dessa relação, na medida em que no cotidiano estamos impregnados de imagens e textos descartáveis e ligeiros.  Para Luiz Ernesto este é um campo fecundo, que amplia a gama desses significados.

 

Em 2007 ao esvaziar o apartamento de sua avó para vendê-lo o artista deparou-se com uma enorme quantidade de objetos, móveis e ambientes repletos de memórias e histórias. Em meio a um processo longo e dolorido, fez registros fotográficos dos cômodos e dos objetos que estavam sendo retirados de uma casa que havia sido marcante em sua infância. O que no início era um registro para recordação deu origem a um novo trabalho de arte.

 

Desde o ano 2000, Luiz Ernesto desenvolve pesquisas que discutem a relação entre imagens e palavras: “Palavras e imagens juntos tornam-se fecundos e têm sua gama de significados ampliada. Neste trabalho, memória e história são minhas principais matérias primas, objetos banais do cotidiano, móveis e ambientes nos quais o tempo imprimiu suas marcas. O que me interessa é explorar seus significados afetivos: as lembranças, as ocasiões, os lugares e as pessoas que aqueles suscitam. Ao longo do processo, fotos e textos tomaram seus próprios rumos libertando-se da obrigação de registrar fielmente a história vivida para gerar uma obra de ficção”, declara o artista.

 

A instalação “Antes de Sair” reúne cerca de 50 fotografias divididas em dez grupos acompanhados de pequenos textos.

 

 

 

Sobre o artista

 

 

Luiz Ernesto Moraes é artista plástico e professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Ex- aluno desta escola, Luiz Ernesto foi seu diretor de 1998 a 2002. Em 1992, contemplado com uma bolsa de estudos pelo Conselho Britânico, passou um ano na Escócia, no Glasgow Print Studio onde desenvolveu uma série de trabalhos em diferentes técnicas de gravura. Desde 1979, tem participado de exposições individuais e coletivas. Seu trabalho desenvolve-se em diversos meios, como desenho, pintura, objetos e fotografia e tem como ponto de partida os objetos banais do cotidiano. Para uma exposição sua em 1999, no Paço Imperial, o crítico Agnaldo Farias, assim se referiu ao trabalho do artista: “As pinturas, desenhos e assemblages de Luiz Ernesto sempre se propuseram a animar as coisas de sua letargia para deixá-las transbordar, fazê-las abandonar seu estado inicial rumo a uma condição próxima. O insólito, dizem seus trabalhos, está aqui mesmo.”

 

Desde 2001, Luiz Ernesto vem desenvolvendo um trabalho em fibra de vidro, resina de poliéster e fotografia. Sobre este trabalho o crítico Paulo Sérgio Duarte, num texto intitulado “ A solidão das coisas calmas”, escreveu: “ O que são esses trabalhos de Luiz Ernesto? Não são telas, nem é pintura, ao menos no sentido convencional. No entanto com esta se assemelham, não pela forma no sentido estrito, digamos que lembram a pintura pelo que em inglês chama-se shape. … Na sua fabricação obedecem aos procedimentos da escultura. Têm um molde e lá o artista deita seus lençóis de fibra, seus solventes e suas figuras e suas palavras. …Apesar de suas dimensões, o verdadeiro tema dos quadros é a nostalgia de um mundo em miniatura, sem violência ou nervosismo, onde as coisas calmas pudessem usufruir a sua solidão.”

 

 

 

De 16 de março a 21 de maio.

Alvaro Seixas em Salvador

15/mar

A poesia romântica e o caráter subversivo que marcam as obras de autores como Lord Byron, Marques de Sade e Álvares de Azevedo estão por trás da mostra que o artista carioca Alvaro Seixas apresenta em Salvador a partir do dia 23 de março, abrindo a temporada de exposições de 2017 da Roberto Alban Galeria, em Ondina. O trabalho de Seixas insere-se entre os mais representativos e expressivos da arte contemporânea brasileira, uma produção marcada por imagens abstratas, gestuais ou, como ele prefere situar, por uma “abstração literária”.

 

Intitulada “O Coxo, o Sádico e o Poeta”, a mostra é a primeira individual de Alvaro Seixas em Salvador. Sua obra, contudo, já é bastante reconhecida no país. Doutor em artes visuais pela Escola de Belas Artes da UFRJ, vem se consolidando como um dos artistas mais relevantes da sua geração. Em 2015, ele foi o mais jovem artista selecionado para concorrer em uma das mais importantes premiações brasileiras em artes visuais: o Prêmio Marcantonio Vilaça. Além disso, sua obra integra importantes coleções particulares, com trabalhos adquiridos recentemente pelo MAR (Museu de Arte do Rio) e pela importante Alex Katz Foundation, nos Estados Unidos. Dentre suas exposições recentes se destaca a X Bienal do Mercosul, Porto Alegre, 2015.

 

“A série de pinturas que apresentarei em Salvador pode ser “conceitualizada” como abstrata, gestual e outros termos familiares, mas eu gosto de pensar em uma outra ideia, a da “abstração literária”, uma vez que meu modo de pintar passou a admitir não apenas elementos do vocabulário das artes visuais, mas da literatura e da poesia, em particular da poesia romântica byronista e da literatura de Sade: suas contradições, fantasias e caráter subversivo”, justifica Alvaro Seixas.

 

Para ele, a academia acaba muito integrada à sua forma de trabalhar porque “ela deve ser um espaço pulsante, justamente para não corrermos o risco de reproduzirmos um novo “academicismo”, ou seja, cheio de regras de como ser um artista contemporâneo(…) Eu procuro sempre “puxar o meu tapete” quando estou dando aula ou pintando um quadro: considero a perplexidade um objetivo louvável do fazer artístico, seja sobre uma tela de pintura ou no âmbito de uma universidade”.

 

Nesse sentido, na exposição da Roberto Alban Galeria, Seixas disse ter buscado inspiração na persona e na obra de um autor não tão debatido nas universidades de artes plásticas brasileiras: Lord Byron. “Quando lemos uma poesia do Byron muitas vezes a cor de fundo é algo a ser decifrado ou inventado. Quando me proponho e decifrar uma obra complexa como “Don Juan”, em campos e rabiscos de cores, estou jogando com a maneira que o expectador ou observador lida com a pintura em contraste com a poesia”, explica.

 

Nas telas de Alvaro Seixas que serão expostas em Salvador, chama a atenção o uso que o artista faz das cores, que surgem de forma viva, com função de “criar contrastes visuais e teóricos, servindo também para seduzir e confundir o expectador”. Nessa profusão cromática, o artista estabelece um rico diálogo entre materiais tradicionais, como a tinta a óleo, e as tintas spray neon e estruturas metálicas pré-fabricadas. “O spray neon é uma paleta industrial de tempos recentes, cada vez mais popular. É a tinta que encontro tanto na loja de materiais de construção do lado do meu ateliê como também numa loja de street wear cool de Botafogo e do Leblon. Misturar esses universos: azul da Prússia e rosa neon, por exemplo, é fazer um jogo metafórico e narrativo com os materiais – a matéria tem a sua própria história para contar e mesclar essa história com a vida de figuras tão impressionantes como Byron, Azevedo e Sade me pareceu um grande e cativante desafio”.

 

O texto de apresentação da mostra é do crítico e curador Felipe Scovino, que ressalta que o caráter pensante da obra de Alvaro Seixas se traduz na sua capacidade de trabalhar conjuntamente a narrativa dos três poetas escolhidos: Lord Byron (o coxo), Sade (o sádico) e Álvares de Azevedo (o poeta). “Esses personagens e suas motivações contaminam e alimentam nesse momento a obra de Alvaro Seixas”, afirma Scovino, para quem o artista “não tem medo do ridículo, pois ele ridiculariza a si próprio antes de mais nada. É por essa atmosfera e personagens que tem o desejo, nas suas mais diversas ambições, o amor, a libido e a paixão violentamente expostas que a sua mostra segue”.

 
De 24 de março a 23 de abril.

Individual de Thiago Honório

14/mar

A Galeria Luisa  Strina, Cerqueira César, São Paulo, SP, apresenta “Solo”, primeira exposição individual do artista mineiro Thiago Honório na galeria.Honório apresenta o trabalho “Roca”. Trata-se de uma cabeça de imagem de roca ou de vestir do século XVIII disposta sobre sólido geométrico produzido com um procedimento construtivo brasileiro utilizado no período colonial no repertório das construções dos séculos XVIII e XIX, conhecido como pau a pique, taipa de mão, taipa de sopapo ou taipa de sebe.

 

Essa técnica vernacular consiste no entrelaçamento de ripas ou toras de madeiras verticais com vigas de bambu horizontais e amarradas entre si por cipó, engendrando uma grande estrutura tramada cujos vãos se preenchem com barro, resultando numa parede. Das práticas da chamada arquitetura de terra é uma das mais recorrentes, principalmente nas zonas rurais.

 

A cabeça, estátua ou imagem de roca designa a tipologia de imagens sacras processionais que são travestidas com trajes de tecidos, perucas e adornadas com pedras preciosas, semipreciosas ou bijuterias. A palavra roca, como substantivo feminino, significa bastão, haste ou vara, possuindo na extremidade um bojo que se enrola a rama do algodão, do linho, da lã: roca de fiar. Também denota a formação volumosa e elevada de pedra, rocha, rochedo, penhasco.

 

Segundo Thiago Honório: “A imagem de roca tradicionalmente aparece em procissões e consiste numa estrutura de madeira articulável que dá a ver apenas a cabeça, mãos ou braços e, às vezes, os pés da peça esculpida, envolta em indumentária e adereços que a caracterizam conforme seus usos litúrgicos. Grande parte dessas imagens era construída numa escala aproximada da escala natural do corpo humano”. Este gênero de imagens adquiriu considerável difusão no Brasil, sobretudo na Bahia e em Minas Gerais durante o período Barroco, estendendo-se até meados do século XIX.

 

No caso de “Roca”, obra que ocupa sozinha grande área da sala de exposições, a cabeça da imagem de roca encontra-se no topo de um “monte” geométrico de pau a pique e taipa de mão.

 

Na exposição “Solo”, a obra “Roca” apresenta-se fincada na terra, solo; com o duplo sentido da ideia de solo, nesse caso tanto a apresentação destinada ao solista quanto a terra. O trabalho busca problematizar à maneira metalinguística as noções de solo, camadas da terra, piso, chão de construção ou casa, ou a superfície que é construída para se pisar; substrato físico sobre o qual se fazem obras. Em sentido figurado, faz referência a nação, país ou região: em solo brasileiro, solo fértil. A etmologia do substantivo solo vem do latim sŏlum, que significa fundo, fundamento, pavimento e planta do pé. E também solo no sentido de só; a solo na ideia de executado por uma só voz ou instrumento; do latim sōlus, a, um a partir da noção de só, solitário; e também pode ser a dança, a ginástica artística, o trecho musical, a apresentação teatral, a exposição individual ou a seção a ser executada por um único intérprete.

 

 

 

Sobre o artista

 

Exposições recentes do artista nascido em Carmo da Paranaíba, em 1979, incluem “Trabalho”, MASP Museu de Arte de São Paulo, 2016; “Boate Azul” em colaboração com Pedro Vieira, Museu de Arte da Pampulha, 2016; “Títulos”, Paço das Artes, 2015. Ainda em 2016, Thiago Honório lançou o seu primeiro livro intitulado {[( )]} – publicado pela editora IKREK – e premiado pelo ProAC. Em 2017 lançará “Augusta”, publicado pela mesma editora. Possui obras nos acervos do MASP; MAC/USP Museu de Contemporânea da Universidade de São Paulo; MAR Museu de Arte do Rio; MAM/SP Museu de Arte Moderna de São Paulo; MAB/FAAP Museu de Arte Brasileira e na Pinacoteca do Estado de São Paulo.

 

 

 

De 14 de março a 29 de abril.