No Centro de Arte Hélio Oiticica

29/ago

Chama-se “Gabinete de Soluções”, a exposição individual de Guga Ferraz no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro, Rio de Janeiro, RJ, um desdobramento da investigação do artista sobre a cidade. A mostra busca ressignificar a ideia de “gabinete de crise”, que costuma ser organizado pelas autoridades para atender a demandas urgentes.

A crise é o status quo na cidade e no país como um todo. Enraizada no cotidiano, essa palavra tão repetida nas mídias de massa parece não provocar surpresa nos brasileiros. Uma vez que evidenciar um estado de crise seria redundante, Guga Ferraz apresenta soluções e convida o público a fazer o mesmo. A mostra é composta por projetos de soluções do artista para problemas urbanos, alguns deles utópicos – apresentados por meio de desenhos -, como um projeto de reconstrução do Morro do Castelo, e outros já realizados – apresentados por meio de registros -, como um tobogã que permite ao público deslizar na paisagem para acessar a praia.

Desde o início de sua trajetória, ao participar da ação coletiva “Atrocidades Maravilhosas”, no ano 2000, o principal objeto de investigação de Guga Ferraz é a cidade. Há quase vinte anos trabalhando, sobretudo, com intervenções em espaços públicos, o artista levanta questões como a violência urbana, problemas habitacionais, processos de exclusão na cidade, relações entre o indivíduo e o meio urbano e a própria cidade como lugar. Um bloco da exposição apresenta vestígios de suas interferências na paisagem urbana realizadas desde o início da década de 2000, como o emblemático “Ônibus Incendiado” (2003), produzido a partir da colagem de adesivos em formato de chamas em placas de sinalização de pontos de ônibus, como forma de sinalizar os recorrentes casos de incêndios a veículos que ocorriam no Rio de Janeiro. Guga também apresenta interferências que realizou nos transportes públicos, como “Proibido ser cadeirante” (2011), que denuncia a falta de acessibilidade nos ônibus, e “Em caso de assalto, ao avistar uma arma de fogo, não reaja” (2006), que oferece instruções aos passageiros sobre como (não) reagir diante de um assalto. A apresentação desses trabalhos produz uma pequena retrospectiva que visa apontar para a atualidade dos temas abordados pelo artista ao longo de sua trajetória.

Além de projetos e vestígios de intervenções na cidade, Guga Ferraz apresenta desenhos, pinturas e esculturas – em grande parte inéditas e produzidas especialmente para a exposição – onde observamos desdobramentos de seu pensamento sobre a cidade. Pela primeira vez, o artista apresenta trabalhos em vídeo, mídia que começou a experimentar durante a preparação da mostra. A exposição pretende tornar-se um lugar de convívio e trocas. Ao longo do período expositivo, convidados de diversos campos ocuparão a galeria, junto ao público, para promover debates sobre a cidade, expor ideias e soluções. No dia 28 de setembro, será realizado no auditório do Centro Municipal de Arte Hélio Oititica o encontro “Cidade Ocupada”, com convidados cujas trajetórias esbarram na de Guga Ferraz e marcam o cenário artístico carioca dos anos 2000. A curadoria da exposição é assinada por Thiago Fernandes, historiador de arte que há alguns anos vem desenvolvendo pesquisas sobre o trabalho de Guga Ferraz e sobre a geração de artistas cariocas que utilizou as ruas como campos de ação na virada do século XXI.

Encontro Cidade Ocupada

A exposição individual de Guga Ferraz, Gabinete de Soluções, apresenta em sua programação o encontro Cidade Ocupada. O artista em exposição no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica faz parte de uma geração que, no início dos anos 2000, em meio a um circuito artístico incipiente no Rio de Janeiro, decidiu criar seus próprios circuitos atuando em coletivos e tomando as ruas como campos de ação. O encontro Cidade Ocupada toma emprestado o nome do livro de Ericson Pires, poeta, artista e grande pensador falecido em 2012, que acompanhou essa geração e transitou entre coletivos que menciona em seu livro.

O evento, que será realizado no auditório do CMAHO, consiste em um encontro de amigos que fizeram parte das histórias contadas por Ericson em seu livro e possuem papel importante na trajetória artística de Guga. Entre as presenças confirmadas estão Alexandre Vogler, André Amaral, Clara Zúñiga, Ducha e Ronald Duarte, além de Guga Ferraz e do curador Thiago Fernandes, que fará a mediação do evento. O encontro pretende contextualizar o trabalho de Guga e contribuir com pesquisas sobre a arte carioca dos anos 2000, além de prestar homenagem a Ericson Pires, figura de extrema importância para essa geração de artistas. Localizado na Praça Tiradentes, coração do centro da cidade, em setembro o Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica completa 23 anos em atividades desde a abertura. Para celebrar o marco, o espaço oferece uma programação completa para os quatro sábados do mês.

Organização

Guga Ferraz e Thiago Fernandes

Data: 28/09/2019

Horário: 14h às 17h

Panorama de Arte Brasileira

26/ago

Sertão é palavra de origem desconhecida. Na língua portuguesa, há registros de sua existência desde o século XV. Quando aqui aportaram, os colonizadores já trouxeram consigo o termo, usando-o para designar o território vasto e interior, que não podia ser percebido da costa. Desde então, a esse vocábulo atribuem-se diversos sentidos, sem nunca ser fixado numa ideia pacificada. É constituído, inclusive, por oposições: pode referir-se à floresta e ao descampado, ao lugar deserto e também ao povoado, àquilo que é próximo e ermo. Qualifica o visível e o desconhecido, trata da aridez e da fertilidade, do inculto e do cultivado.
Ainda que tenha chegado ao Brasil na caravela, sertão não cessa de se insurgir contra o colonialismo e de escapar de seus desígnios. Mantém sua potência de invenção, não se rende aos monopólios dos saberes patriarcais, exige novos pactos sociais, desierarquiza sua relação com a natureza, reverencia o mistério, festeja. Sertão é, antes e depois de tudo, experimentação e resistência, qualidades fundamentais para viver a arte e que nos trazem a este 36º Panorama da Arte Brasileira, em exibição no MAM, até o dia 15 de novembro, no Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP.
No Brasil que pleiteava sua modernização, no início do século XX, sertão passou a referir-se, sobretudo, à região do Nordeste de clima semiárido, ilustrada por sua vegetação de caatinga, em oposição ao litoral. Nesse momento, reforça-se o projeto de um lugar seco, primitivo, rude, propagandeando um outro na iminência do flagelo. Forja-se, dessa maneira, uma condição de submissão que justificaria políticas assistencialistas, mas sobretudo a atualização de medidas de exploração. Suas imagens estão presentes por toda a cultura brasileira, ainda que nenhuma delas dê conta de tudo o que pode significar.
Contrariando determinismos, e sob a luz de uma certa produção de arte do Brasil, Sertão é modo de pensar e de agir. Termo evocativo, traz consigo afetos transformadores, formas políticas, ideais de criação, memórias de luta, rituais de cura, ficções de futuro. Esta arte-sertão que aqui se apresenta está no deslizar das linguagens. Mais que um lugar, essa condição sertão é a travessia. Espalha-se Brasil afora, está no manejo do roçado, supera-se na viela da favela, desce pelo leito do rio, está escrita nos muros da cidade e presente na terra retomada. Manifesta-se nos encontros e nos conflitos.
No 36º Panorama da Arte Brasileira, 29 artistas e coletivos reúnem-se para compartilhar estratégias de resistência e modelos de experimentação, a partir de suas histórias. Se sertão está no limite do que se pode apreender, por definição, a ideia de panorama é complementar na forma de sua contradição. A importância de juntar essas instâncias e acolher essas oposições, no entanto, se dá pela necessidade cada dia mais atual de defender existências não hegemônicas e de compartilhar outros modos de vida. Enquanto a arte puder afirmar sua condição sertão, vai ter sempre luta, vai haver sempre a diferença, vai existir sempre o novo.
Júlia Rebouças

 

 

Curadora

 

Artistas:
1- Ana Lira (Caruaru – PE, 1977. Vive no Recife); 2 – Ana Pi (Belo Horizonte, 1986. Vive em Paris); 3 – Ana Vaz (Brasília, 1986. Vive em Lisboa); 4 – Antonio Obá (Ceilândia – DF, 1983. Vive em Brasília); 5 – Coletivo Fulni-ô de Cinema (Águas Belas – PE); 6 – Cristiano Lenhardt (Itaara – RS, 1974. Vive em São Lourenço da Mata – PE); 7 – Dalton Paula (Brasília, 1982. Vive em Goiânia); 8 – Daniel Albuquerque (Rio de Janeiro, 1983. Vive no Rio de Janeiro); 9 – Desali (Contagem – MG, 1983. Vive em Belo Horizonte); 10 – Gabi Bresola & Mariana Berta (Joaçaba – SC, 1992 / Peritiba – SC, 1990. Vivem em Florianópolis, SC); 11 – Gê Viana (Santa Luzia – MA, 1986. Vive em São Luís); 12 – Gervane de Paula (Cuiabá, 1961. Vive em Cuiabá); 13 – Lise Lobato (Belém, 1963. Vive em Belém); 14 – Luciana Magno (Belém, 1987. Vive em São Paulo); 15 – Mabe Bethônico (Belo Horizonte, 1966. Vive em Genebra e Belo Horizonte; 16 – Mariana de Matos (Governador Valadares – MG, 1987. Vive no Recife); 17 – Maxim Malhado (Ibicaraí – BA, 1967. Vive em Massarandupió – BA); 18 – Maxwell Alexandre (Rio de Janeiro, 1990. Vive no Rio de Janeiro); 19 – Michel Zózimo (Santa Maria – RS, 1977. Vive em Porto Alegre); 20 – Paul Setúbal (Aparecida de Goiânia – GO, 1987. Vive em São Paulo); 21 – Radio Yandê (Rio de Janeiro, 2013); 22 – Randolpho Lamonier (Contagem – MG, 1988. Vive em Belo Horizonte); 23 – Raphael Escobar (São Paulo, 1987. Vive em São Paulo); 24 – Raquel Versieux (Belo Horizonte, 1984. Vive no Crato – CE); 25 – Regina Parra (São Paulo, 1984. Vive em São Paulo); 26 – Rosa Luz (Gama – DF, 1995. Vive em São Paulo); 27 – Santídio Pereira (Curral Comprido – PI, 1996. Vive em São Paulo); 28 – Vânia Medeiros (Salvador, 1984. Vive em São Paulo); 29 – Vulcanica Pokaropa (Presidente Bernardes – SP, 1993. Vive em Florianópolis).

 

 

50 anos de Panorama

 
O Panorama da Arte Brasileira teve sua primeira edição em 1969 e foi idealizado como forma de o museu recompor seu acervo e voltar a participar ativamente do circuito artístico contemporâneo. A princípio evento anual, o Panorama passou a ser realizado a cada dois anos a partir de 1995, contando até o momento 35 edições.
Parcerias
O 36º Panorama da Arte Brasileira: Sertão procurou ampliar seu tempo e espaço de atuação por meio de parcerias estratégicas: com a Festa Literária Internacional de Paraty, serão promovidas duas mesas de debate convidando um participante da Flip e um participante do Panorama, com a mediação de Júlia Rebouças e Fernanda Diamant, curadora da 17ª edição da Flip; com o Auditório Ibirapuera, vizinho do museu, foi organizada uma programação musical a partir dos conceitos trabalhados no Panorama para o dia 18/08, dia seguinte à abertura no MAM; e, com a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, novos debates acontecerão em setembro e outubro, promovendo o encontro entre artistas, psicanalistas e o público.
Irmãos Campana na loja mam

 
O estúdio Campana, dos irmãos Fernando e Humberto Campana, que celebra em 2019 seus 35 anos de trabalho, ficará a cargo da curadoria da loja mam durante o período do Panorama, com o patrocínio do Iguatemi São Paulo. O trabalho dos Campana incorpora a ideia da transformação, reinvenção e integração entre o artesanato e a produção em massa, oferecendo um design com identidade própria, mixando a individualidade dos materiais à preciosidade das características comuns no cotidiano brasileiro, como as cores, as misturas, o caos criativo. A partir do olhar único dos irmãos Campana, que contam com um extenso trabalho de pesquisa da cultura vernacular nordestina presente em suas coleções, os visitantes poderão vivenciar um novo espaço da loja mam e encontrar peças cuidadosamente selecionadas que trabalham com o conceito expandido de sertão.
Equipe do 36º Panorama da Arte Brasileira: Sertão
Curadoria – Júlia Rebouças (Aracaju, 1984. Vive entre Belo Horizonte e São Paulo) curadora, pesquisadora e crítica de arte. É curadora do 36o Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna – SP, em 2019. No mesmo ano, realiza a curadoria de Entrevendo, mostra antológica de Cildo Meireles, a ser inaugurada no Sesc Pompeia -SP, em setembro. Foi co-curadora da 32a Bienal de São Paulo, Incerteza Viva (2016). De 2007 a 2015, trabalhou na curadoria do Instituto Inhotim, Minas Gerais. Colaborou com a Associação Cultural Videobrasil, integrando a comissão curadora dos 18o e 19o Festivais Internacionais de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil, em São Paulo. Foi curadora adjunta da 9a Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, em 2013. Realiza diversos projetos curatoriais independentes, dentre os quais destacamos a exposição Entrementes, da artista Valeska Soares, na Estação Pinacoteca, São Paulo, de agosto a outubro de 2018, a mostra MitoMotim, no Galpão VB, São Paulo, de abril a julho de 2018 e Zona de instabilidade, com obras da artista Lais Myrrha, na Caixa Cultural, São Paulo, em 2013. Graduou-se em Comunicação Social/ Jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco (2006). É Mestre e Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal de Minas Gerais.
Assistência curatorial – Catarina Duncan (Rio de Janeiro, 1993. Vive em São Paulo) curadora e programadora cultural. Formada em Culturas Visuais e História da Arte pela Goldsmiths College, University of London (2010 – 2014), foi assistente curatorial da 32a Bienal de São Paulo (2015- 2016), do ‘Pivô Arte e Pesquisa’ (2014 – 2015) e das exposições ‘Terra Comunal Marina Abramovic’ no Sesc Pompeia (2014), entre outros. Coordenou a programação pública da obra ‘Cura Bra Cura Té’ de Ernesto Neto na Pinacoteca (2019). Participou de diversas residências artísticas, entre elas a ‘Residents Art Dubai’ (2019) com curadoria de Fernanda Brenner, e ‘Lastro’, na Bolívia e Guatemala (2015 – 2017), ao lado da curadora Beatriz Lemos. Assinou a curadoria das exposições ‘⦿‘ na Galeria Leme (2018), ‘Somos Muitxs’ no Solar dos Abacaxis (2018), ‘Oráculo Piedoso’ de Martin Lanezan na Galeria Sancovsky (2018), ‘Travessias Ocultas – Lastro Bolivia’ no Sesc Bom Retiro (2018), Fio Corpo Terra’ no espaço Saracura (2017). Integrou o coletivo Terreyro Coreográfico (2015- 2016). Atua como representante do programa COINCIDENCA da fundação suíça para cultura Pro Helvetia no Brasil.
Arquitetura – Estudio Risco. Inaugurado em 2007, o estúdio Risco é um coletivo formado por artistas de trajetórias variadas e interesses múltiplos. Presta serviços de arquitetura, cenografia, expografia, desenho de produto, desenho gráfico e videografia. Hoje é formado por Humberto Pio, Juliana Amaral, Marcelo Dacosta e Tiago Guimarães. Nos últimos quatro anos, desenvolveu o desenho de mostras de arte como: “O que os Olhos Alcançam – Cristiano Mascaro” (Sesc Pinheiros, 2019), “Arte-Veículo (Sesc Pompeia, 2018)”, “Estou Cá” (Sesc Belenzinho, 2016-7), “Sempre Algo Entre Nós” (Sesc Belenzinho, 2016), “Potlatch: Trocas de Arte” (Sesc Belenzinho, 2016), “Provocar Urbanos” (Sesc Vila Mariana, 2016), “Arno Rafael Minkkinen: O corpo como evidência” (Sesc Jundiaí e Sesc Vila Mariana, 2016) e VI Mostra de 3M de Arte Digital (Fundição Progresso, Rio de Janeiro, 2015).
Design – Elaine Ramos (São Paulo, 1974) é designer atuante na área cultural e sócia da editora paulistana Ubu. Foi, por 11 anos, diretora de arte da editora Cosac Naify, onde também coordenou a edição dos títulos sobre design. É co-organizadora da Linha do tempo do design gráfico no Brasil, foi co-curadora da exposição Cidade Gráfica, no Itaú Cultural em São Paulo e é membro da Alliance Graphique Internationale (AGI).

 

Hamish Fulton na Bergamin & Gomide

13/ago

A Galeria Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP, apresenta Hamish Fulton A Walking Artist “Caminhar transforma, andar é mágico. Caminhar é um bom remédio.” Na terceira exposição do ano, a Bergamin & Gomide apresenta a individual do artista britânico Hamish Fulton, entre os dias 13 de Agosto e 05 de Outubro de 2019, reunindo obras que compreendem diversas mídias e períodos ao longo da trajetória do artista, cuja poética dialoga com a experiência do caminhar. Hamish Fulton (Londres, 1946) afirma ser um “artista caminhante” e desenvolve uma pesquisa que evidencia a intenção de transformar ideias em experiências reais. Sua obra não se limita ao ato de caminhar – Fulton é reconhecido pela trajetória singular que possui como essência a fusão entre natureza, fotografia e texto. Na segunda exposição do artista no Brasil, a galeria apresentará 25 trabalhos produzidos desde a década de 1960 até os dias atuais, entre esculturas, desenhos, fotografias e uma obra Site-Specific. A obra “Sem título (EUA, 1969) / Untitled (USA, 1969)” reúne registros fotográficos em preto e branco de uma das muitas vezes em que realizou travessias pela Península Ibérica. Neste trabalho é possível assimilar a experiência sutil e poética do trajeto de Fulton, assim como os obstáculos e descobertas do caminho, representados pela carcaça de um animal, a sombra do tronco de madeira refletida na terra, o desenho circular que se expande no espelho d’água e o rebanho de gado que atravessa a estrada. Também serão apresentados trabalhos com referências ao Nepal e à Noruega; desenhos com linhas que remetem as formas das montanhas combinados a textos que fazem referência aos trajetos percorridos, como no Monte Fuji, na obra “Fuji. Japan” de 1988, e nas montanhas rochosas de Wyoming, na obra “Seven Small Mountains” de 2017. Estarão expostas também obras em que o artista usa a madeira como suporte e cria uma concepção simétrica particular dessas experiências; como na travessia de Serra Nevada na Espanha, com a obra “A Walk to the top of Mulhacen Sierra Nevada Spain Easter” de 1984, e o vulcão Licancabur na fronteira entre Chile e Bolívia, na obra “Licancacur Bolivia” de 2012. Sobre Hamish Fulton: Ao longo de quase 50 anos de carreira, Hamish Fulton realizou exposições individuais e retrospectivas nas mais importantes instituições, como Centre George Pompidou em Paris, MoMA em Nova York e Tate Britain em Londres; participou de exposições coletivas como a Documenta 5 e Documenta 6 em Kassel, e integra os principais acervos mundiais como do National Museum no Japão e o Guggenheim Museum em Nova York. Possui mais de 40 publicações sobre sua obra e as experiências nas viagens ao redor do mundo para países como Nepal, Tibete, Japão, Bolívia, Chile, França, Espanha, Escócia e outros. Sua produção artística envolve recursos diversos como desenhos, textos, fotografias, wall paintings, pinturas, vídeos, caminhadas coletivas em espaços urbanos e projetos editoriais. Embora sua produção artística seja muitas vezes associada à Land Art; aspecto ironizado pelo próprio artista no convite de uma de suas exposições com o uso da frase “ISTO NÃO É LAND ART”; a mesma transborda o conceitualismo normalmente presente em intervenções na natureza, manifestando-se através da diversidade da produção de materiais e do rígido processo de documentação daquilo que experiencia. Rotas, mapas, percursos, diários, datas, fotos, desenhos, colagens e anotações, tudo coexiste e está sob controle do artista. Suas rotas devem ser bem definidas, os mapas de fácil leitura, a barraca e o saco de dormir de alta qualidade e fácil manuseio, seus calçados adequados a cada itinerário, a comida deve estar seca e não ter invólucros que ocupem espaço, e acima de tudo, o artista deve ter um bom livro e um bloco de anotações à sua disposição. O processo criativo de Fulton, isto é, o caminhar, confere à terra uma importante evidência na sua obra, trazendo à tona uma espécie de conhecimento que excede o compreensível. Em sua obra, sem qualquer ato de interferência na natureza, é possível sentir a presença humana, e ver o reflexo da identificação entre artista e homem, ou até uma resposta à necessidade instintiva e primitiva que os seres humanos têm de entrar em contato uns com os outros. Hamish Fulton pode estar nos mostrando, talvez inconscientemente, que antes de ser um artista, ele é um indivíduo. Como ele mesmo declarou, uma caminhada não é uma recriação nem um estudo da natureza, caminhar é uma maneira de melhorar a si mesmo, física e mentalmente, a fim de experimentar um estado temporário de euforia, uma conexão íntima entre sua mente e o ambiente. O caminhar é antigo e contemporâneo; o caminhar é a relação com tudo.

 

A palavra do artista

 

WALKing (Caminhar) é uma palavra de sete letras. Os primeiros sete passos. LUA CHEIA DO SOLSTÍCIO. UMA CAMINHADA DE SETE DIAS NAS MONTANHAS DE CAIRNGORM NA ESCÓCIA. JUNHO 1986. Simplicidade. Caminhar é transformador, caminhar é mágico. Caminhar é um bom remédio. Uma longa caminhada. Hoje 2013, caminhar é mais importante que usar a internet. Wiki-walks. Opinião é uma palavra de sete letras. Caminhar é antigo e contemporâneo. Consistentemente, caminhar é a relação com tudo. LUA CHEIA SOLSTÍCIO INVERNAL. UMA CAMINHADA CONTÍNUA SEM DORMIR PELO CAMINHO DOS PEREGRINOS DE WINCHESTER ATÉ CANTERBUTY. INGLATERRA 21 22 23 DEZEMBRO 1991. (Rotas de peregrinação – uma perda do ego.) Sou o que chamo de um ‘artista caminhante’. Nenhuma dessas duas palavras descrevem uma técnica artística convencional (Não sou um escultor nem um fotógrafo de paisagem.) Não sou um artista conceitual. Transformo ideias em realidades vivenciadas. Sou um artista que anda, e não um andarilho que cria arte. Walking art é a aproximação de duas atividades completamente separadas. CAMINHAR É UMA FORMA DE ARTE POR MÉRITO PRÓPRIO. CAMINHAR É O CONSTANTE, A TÉCNICA DE ARTE É QUE É VARIÁVEL. Com Richard Long, realizei a minha primeira ‘artwalk’ (uma palavra de sete letras) quando era estudante na St Martins em Londres em 2 de fevereiro 1967. Porém levaria ainda mais seis anos para estabelecer progressivamente uma prática de trabalho através de tentativa e erro. (As caminhadas são construídas com regras auto-impostas). 16 de outubro 1973 após a realização de uma caminhada de costa a costa de mais de mil milhas do nordeste da Escócia até o sudoeste da Inglaterra, aos 27 anos, me comprometi com o seguinte: FAZER 100% DE ARTE RESULTANTE DA EXPERIÊNCIA DE CAMINHADAS INDIVIDUAIS. Criatividade. Acredito na diversidade (debate e discussão, concordamos em discordar) Uma diversidade de categorias de caminhadas, uma diversidade de criação de arte, uma diversidade de artistas. Mais importante, uma diversidade de formas de vida, GRAMAS INSETOS. Mercadorias? Os Direitos da Natureza (Oceanos.) Deixar a arte falar por si? Até agora não. Os historiadores de arte nos anos 70 presumiram que a minha walking art se encaixa nos seus temas escolhidos, a saber – pintura paisagista do passado e escultura ao ar livre no presente. Nenhuma pesquisa sobre a caminhada. L.A. Confidentiel: Nunca fui influenciado pelos Românticos e não quero ser associado ao landArt (uma palavra de sete letras.) A colisão entre os E.U.A. ‘não-deixe-rastros’? Para que fique registrado, a data do começo da minha postura foi 1959 quando li sobre a vida de Wooden Leg. da tribo Northern Cheyenne que lutou contra Custer. (25 de junho 1876.) História? História de quem? Justiça? Justiça para quem? Os direitos dos povos indígenas. Dez anos depois, em 13 de setembro 1969 caminhei – com Nancy Wilson, carregando comigo aquele mesmo livro sobre o campo de batalha de Little Bighorn. (Celebridade? Não existem fotografias de Crazy Horse.) Por volta de 1977, precisei ‘escapar’ da arte paisagística (jardinagem e o sistema de classe inglês). Assisti a palestras de alpinistas internacionalmente famosos como Doug Scott e mergulhei na literatura de expedições. Tornei-me um ‘alpinista de poltrona’. GRAVIDADE. Não sou alpinista nem escalador. Não sou científico nem um engenheiro. Sendo caminhante, considero o alpinismo inspirador. Nas palavras do alpinista contemporâneo norte-americano Steve House, ‘O meu machado de gelo pode ser o seu pincel’. Faço caminhadas em cidades. INDOORS (dentro), é uma palavra de sete letras. Acredito em caminhadas solitárias OUTSIDE (ao ar livre) em combinação com acampamento ‘selvagem’. Vida de tenda de acampar, rente ao chão, mais perto da natureza. Gramas, insetos. Posso caminhar o dia inteiro, mas não sou um caminhante rápido. Slowalk (caminhada lenta), é uma palavra de sete letras. No Tate Modern (30 de abril 2011) realizei uma caminhada comunitária indoor chamada, slowalk em apoio a Ai Weiwei. Protegido pelo Estado de Direito? T.A.A. Trekking de alta altitude. No 49º dia da expedição ficamos imóveis no topo do monte Everest, Chomolungma. Bardo. Essa experiência só me foi possível graças aos meus guias xerpas. Fui guiado por Ang Dorje xerpa de Pangboche. Alto e baixo, perto e longe. longe e há muito tempo atrás. Uma boa pergunta é, até onde você consegue andar?. Até a presente data, a minha caminhada mais extensa cobriu uma distância de 2838 quilômetros (carregando toda a minha bagagem), costa a costa da Espanha até os Países Baixos. CAMINHANDO NA DISTÂNCIA ALÉM DA IMAGINAÇÃO. É importante ressaltar que essa caminhada não muito longa foi ‘fácil’. Uma caminhada muito mais difícil, ‘cheia de nós’, duraria uma mera fração dessa duração. Os alpinistas me ensinaram a importância da rota e do estilo. Depois de vários anos de tentativas fracassadas, finalmente consegui: CONTAR 49 PASSOS DESCALÇOS NO PLANETA TERRA DURANTE CADA NOITE DAS DOZE LUAS CHEIAS DE 2010. Minha pegada de carbono oculta. Apenas uma consequência de persistentemente ignorar a natureza é o aquecimento global. Quem se importa com datas? Números é uma palavra de sete letras. Ursa Maior. Quipu. Horário do relógio, duração da vida, morte. Primavera, verão, outono, inverno. A migração das baleias, a migração das borboletas. (Calendário lunar.) No thing (nenhuma coisa), é uma palavra de sete letras. Tudo é feito de alguma coisa. Uma montanha não é feita de pedra, ela é pedra. UM OBJETO NÃO PODE COMPETIR COM UMA EXPERIÊNCIA. Desde 1973 toda obra de arte que eu materializei (coisas) contém um texto sobre a caminhada. Não proporciono o alivio de uma arte sem palavras. (Também não crio arte abstrata.) NÃO HÁ PALAVRAS NA NATUREZA. O peso físico de palavras (faladas). Talk the walk (“pratique o discurso”), A CAMINHADA É A ARTE. ARTE PEQUENA EXPERIÊNCIA GRANDE. Caminhar é transformador, caminhar é mágico. Kora Tibetana. Monjas tibetanas. Os derradeiros sete passos. Até o momento em que escrevo, 99 tibetanos têm se auto-imolado. História? História de quem? Hamish Fulton, 2013.

 

 

Stockinger 100 anos 

05/ago

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul, MARGS, Porto Alegre, RS, inaugura uma ampla e extensa exposição em homenagem ao centenário de nascimento de Francisco Stockinger (1919-2009). Ocupando as três galerias das Pinacotecas, o espaço mais nobre do museu, “Stockinger 100 anos” reúne mais de 100 obras, procedentes do acervo do MARGS e de coleções públicas e privadas.

 

A exposição percorre as diferentes fases do artista que, com seus “Guerreiros”, “Gabirus”, esculturas em pedra e figuras femininas, é reconhecido como um dos mais importantes representantes da escultura no Brasil, também aclamado ainda em vida como um dos mais consolidados referenciais da arte produzida no Rio Grande do Sul. A abertura da exposição se dá exatamente no dia de nascimento de Stockinger. Além do centenário de nascimento, o ano de 2019 também registra uma década de sua despedida. A curadoria de “Stockinger 100 anos” é de Francisco Dalcol, diretor-curador do MARGS, e Fernanda Medeiros, curadora-assistente.

 

 

STOCKINGER 100 ANOS

 

Sobre o artista

 

Nascido em Traun, na Áustria, em 1919, Francisco Alexandre Stockinger criou-se em São Paulo e iniciou-se na escultura no Rio de Janeiro, com Bruno Giorgi. Conviveu com personagens fundamentais na fixação da arte moderna no Brasil: além de Bruno Giorgi, Di Cavalcanti, Milton Dacosta, Maria Leontina, Marcelo Grassmann e Iberê Camargo. Transferiu-se para Porto Alegre nos anos 1950, onde seria um dos fundadores do Atelier Livre da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e, por duas vezes, diretor do MARGS. Depois de ter construído obra importante em xilogravura, ganhou projeção nacional com seus guerreiros em ferro e madeira, que costumam ser associados com a resistência à ditadura militar. Xico foi antes aviador, meteorologista e diagramador. Também coleciona cactos (é responsável pela identificação de pelo menos duas novas espécies). Nas palavras do diretor-curador do MARGS, Francisco Dalcol, a exposição em homenagem a Stockinger é como que um dever do MARGS: “Por ser Stockinger um dos mais consolidados referenciais da arte produzida no Rio Grande do Sul, e também porque sua arte extrapolou as fronteiras. Além disso, teve um papel institucional decisivo no sistema da arte no Estado, o que faz dele um personagem fundamental na nossa cultura”. No texto curatorial da exposição, o diretor-curador escreve que, com esta exposição o MARGS afirma o compromisso com a nossa história artística: “E em seu dever de prestar esta importante homenagem, cuja solenidade se torna necessária para que a relevância de um grande artista seja recolocada e não se apague da memória coletiva. Ao assinalar e afirmar a importância de Stockinger, o esforço é tomar o seu centenário de nascimento, e os 10 anos de sua despedida, como um momento oportuno para se difundir o seu legado. O intento é proporcionar um reencontro e um renovado interesse com uma produção tão conhecida e aclamada, mas sobretudo oferecer uma experiência intensa e enriquecedora para um público mais amplo e não totalmente familiarizado com a importância de sua obra e vida, notadamente as novas gerações”.

 

Sobre a exposição

 

“Stockinger 100 anos” reúne mais de 100 obras, entre esculturas, gravuras, documentos e outros itens. Na concepção curatorial, optou-se por uma exposição que não segue uma ordem cronológica estrita, preferindo estabelecer aproximações e possíveis relações entre diferentes fases e vertentes da extensa obra de Stockinger, produzida ao longo de seis décadas. Dessa estratégia de organização, resulta uma mostra estruturada em torno de núcleos temáticos, formais e conceituais. No texto curatorial, Francisco Dalcol escreve: “Reconhecendo se tratar de um artista já legitimado e amplamente abordado, a exposição se assume mais panorâmica do que retrospectiva, tendo sido organizada segundo estratégias que procuram oferecer compreensão e legibilidade frente a uma produção tão extensa quanto diversa em suas etapas. Reforçam a opção por esse viés os diversos textos de mediação apresentados no espaço expositivo, com os quais se procura situar e contextualizar a obra e a trajetória do artista”.

Na galeria central das Pinacotecas, estará reunido um grande conjunto da estirpe dos “Guerreiros”, na qual se incluem figuras como profetas, sentinelas, touros, cavalos e personagens femininas. O diretor-curador escreve: “No começo dos anos 1960, depois de um período dedicado às artes gráficas (desenho de imprensa e gravura), Stockinger retomou a prática e pesquisa em escultura. Começou a fundir em bronze no quintal da casa, de modo caseiro e mesmo rudimentar. Nesse processo artesanal e experimental, desenvolveu formas e texturas que o levariam a elaborar a estirpe em torno da figura mítica do guerreiro. Seguindo em suas experimentações, passou a trabalhar os “Guerreiros” com troncos de árvore e peças metálicas soldadas, desenvolvendo aí um inventivo processo construtivo – colagem e sobreposição, e não mais modelagem ou entalhe -, que configura a sua mais particular e notável contribuição para o campo da escultura”.

 

Já nas duas galerias laterais, estão contempladas as demais vertentes de sua produção. Em uma delas, estão reunidas dezenas de gravuras realizadas entre os anos 1950 e 1960, juntamente a uma seleção de itens que destaca a sua atuação na imprensa, em especial a gaúcha, onde trabalhou com diagramação, ilustração, caricatura e charge. Sobre a produção em gravura, Francisco Dalcol descreve: “Ainda no final da década de 1950, Stockinger passou a praticar gravura. Dessa experiência, ficou notabilizado por uma importante produção em xilo (gravura impressa a partir de matriz de madeira), manifestando já aí forte pendor tanto à consciência social como às vertentes expressionistas. Contudo, a produção em gravura de Stockinger não se valeu das intensidades da expressão para uma dramatização documental da vida. Por outra via, abordou o drama social coletivo pela chave do conflito existencial, a partir de personagens excluídos e marginalizados da sociedade, tanto urbana como rural, a exemplo de pobres, boêmios, prostitutas e abigeatários”.

 

Nesta mesma galeria, outra seção destaca o seu trabalho de escultura em pedra, sobretudo o mármore. Segundo Dalcol: “São esculturas serenas e silenciosas, que enfatizam o apelo à contemplação. Convidam ao deleite da beleza lírica e poética, mobilizando uma sensibilidade própria à forma e à matéria, e também ao que pode haver de prazer e sensual no resgate desses sentidos. Esculpindo em pedra, Stockinger não mais acrescenta nem molda, apenas subtrai o excesso. Há volume e cor, mas também ausência. A narrativa e o comentário da realidade social dão lugar à opção pelo silêncio, da arte como objeto em si. Aqui, o artista deixou-se guiar pela operação de reconhecer na forma bruta da matéria a sua vocação, encontrando assim a via de uma abstração informal”.

 

Por fim, na terceira galeria, estão reunidas peças diversas, como os seus conhecidos “Gabirus”, que retratam a miséria do povo do nordeste, e também sua “Magrinhas”, figuras femininas que se destacam pelo aspecto longilíneo. O diretor-curador comenta: “Nos anos 1990, Stockinger recobrou as cargas de um comentário social mais explícito em sua produção artística. Sensibilizado pelas notícias da fome e miséria que teimavam a chegar do nordeste brasileiro, concebeu as figuras dos “Gabirus”, os seus seres nanicos, expressivos do drama humano que persiste a recair sobre as populações menos favorecidas. Como modo de denúncia, Stockinger procurava intencionalmente chocar com suas impactantes peças fundidas em bronze, que também já apontavam, uma vez mais, para a aproximação com algo do grotesco presente em sua produção”.

 

Nesta última sala, também estão reunidas diversas esculturas que explicitam o aspecto ancestral e primitivo da produção de Stockinger, a exemplo de grandes mestres da arte moderna. O diretor-curador salienta: “Nessas esculturas, evidencia-se que a produção de Stockinger sempre apontou para o lastro da tradição artística ocidental. Mais precisamente, para a revalorização da escultura primitiva sugerida por grandes mestres europeus, filtrada por um viés humanista e por uma figuração livre. Entre essas referências figuram como incontornáveis escultores a exemplo de Alberto Giacometti, Aristide Maillol, Auguste Rodin, Constantin Brancusi, Henry Moore, Jean Arp e Marino Marini. Ao se valer a seu modo desse aspecto primitivo, arcaico e ancestral encontrado nos artistas modernos, tornado emblema de sua fidelidade e coerência artísticas, Stockinger alcançou uma obra que continua a significar por sua dimensão tão humanista quanto universal”.

 

 

Texto curatorial

 

Aclamado como um dos mais consolidados referenciais da arte do Rio Grande do Sul, Francisco Stockinger (1919-2009) é também reconhecido como um dos mais importantes representantes da escultura no Brasil. Hábil desenhista e artesão, esculpiu em gesso, madeira, metal e pedra, trabalhando também com desenvoltura em gravura, desenho, ilustração, charge e caricatura.

 

Nos anos 1950, trilhando o caminho inverso ao tradicional – do centro para a província -, mudou-se do Rio de Janeiro para Porto Alegre, cidade onde passaria a vida, tornando-se uma personalidade fundamental do cenário cultural com sua forte e atuante presença. Além de artista, teve um papel decisivo como agente do sistema da arte no Estado, participando de sua constituição ao se engajar em causas coletivas à frente de instituições culturais como o MARGS, o Atelier Livre e a Associação Chico Lisboa.

 

Ao lado de Iberê Camargo e Vasco Prado, Stockinger formou o tripé de maior projeção da arte moderna gaúcha, compondo uma espécie de santíssima trindade das artes visuais do Estado. Comungavam de certa visão na abordagem artística moderna, especialmente no tratamento dado à condição humana, seja em sua dimensão social ou existencial.

 

Com séries escultóricas como a dos seus afamados “Guerreiros”, iniciada nos anos 1960, Stockinger foi figura decisiva na fixação de valores modernos na cultura artística do Rio Grande do Sul, consolidando uma vertente de matriz expressionista. Também estabeleceu um fecundo diálogo entre a tradição da arte ocidental e os temas regionais, emprestando à sua obra um sentido coletivo e ao mesmo tempo universal.

 

Com esta exposição que celebra o centenário de nascimento de Stockinger, o MARGS afirma o compromisso com a nossa história artística, em seu dever de prestar esta importante homenagem, cuja solenidade se torna necessária para que a relevância de um grande artista seja recolocada e não se apague da memória coletiva.

 

Ao apresentar a quase totalidade das obras de Stockinger pertencentes ao acervo do MARGS, onde está suficientemente bem representado, esta exposição ainda reúne um significativo número de peças de acervos públicos e coleções particulares, que gentilmente aceitaram o convite de tomar parte na comemoração, apoiando este projeto com realização própria do museu.

 

Resulta disso uma exposição ampla, que traz a público obras bastante relevantes, mas não isenta de alguma lacuna pontual. Seja como for, o conjunto aqui apresentado é altamente expressivo e representativo da produção do artista. Stockinger obteve consagração ainda em vida, tendo sido frequentemente reconhecido ao longo de sua trajetória, como atesta a extensa fortuna crítica, teórica e histórica encontrada nos inúmeros textos, catálogos, livros e exposições a ele dedicados.

 

Reconhecendo se tratar de um artista já legitimado e amplamente abordado, esta exposição se assume mais panorâmica do que retrospectiva, tendo sido organizada segundo estratégias que procuram oferecer compreensão e legibilidade frente a uma produção tão extensa quanto diversa em suas etapas. Reforçam a opção por esse viés os diversos textos de mediação apresentados no espaço expositivo, com os quais se procura situar e contextualizar a obra e a trajetória do artista.

 

Ao assinalar e afirmar a importância de Stockinger, o esforço é tomar o seu centenário de nascimento, e os 10 anos de sua despedida, como um momento oportuno para se difundir o seu legado. O intento é proporcionar um reencontro e um renovado interesse com uma produção tão conhecida e aclamada, mas sobretudo oferecer uma experiência intensa e enriquecedora para um público mais amplo e não totalmente familiarizado com a importância de sua obra e vida, notadamente as novas gerações.

 

Francisco Dalcol

Diretor-curador do MARGS/Doutor em Teoria, Crítica e História da Arte

Até 24 de novembro.

 

 

 

 

60 anos de arte na TNT

25/jul

TNT Arte Galeria, Fashion Mall, São Conrado, Rio de janeiro, RJ, apresenta a exposição a exposição “Pietrina Checcacci – pasmo essencial”, um recorte da produção da artista e trabalhos inéditos. Nascida em Taranto, sul da Itália, em 1941, radicou-se no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Em exposição mais de 30 obras dentre elas: pinturas, esculturas e objetos de design. Pintora, escultora, designer e poeta, a artista abre exposição em novo projeto da galeria TNT Arte para comemorar aniversário e seis décadas de arte.

 
Suas reflexões são atemporais onde aborda questões em relação a humanidade com o planeta. Com um ar de denúncia, mas ainda com sensualidade, a artista trata dessa conexão/desconexão ao longo de toda sua trajetória, tendo principalmente o feminino e elementos da natureza presentes em seu trabalho. “O ser humano não só vive e consome o universo, mas ele é parte dele, como a água, o céu, as folhas, flores e tudo que o constituem”, afirma a artista. Em sua obra, pernas e corpos aparecem como formas de montanhas, rosas representam a sensualidade do corpo, da pele, espinhos são dores ou defesas. Tudo em sua obra é homem e natureza.

 

Para essa mostra, a artista apresenta pinturas inéditas tomando partida em uma das séries para assuntos sobre comportamento social, sobre relações na atualidade que figuram ao lado de um recorte da sua produção desde os anos 1970 onde figuram trabalhos das séries; “Rosas”, “Paraíso Tropical”, esculturas em bronze e fibra de vidro como a obra “Eleonor” e objetos de design. “Estou comemorando meu aniversário e seis décadas de produção, nosso desejo foi trazer as obras mais recentes, mas sem deixar de contar um pouco da minha história ” diz a artista sobre o eixo curatorial escolhido ao lado dos diretores da galeria.

 

Produzida em 2016, mas inédita ao público, a artista apresenta a série “Fake” onde revela um viés que gira em torno do empoderamento da mulher. Composta por sete pinturas, Pietrina constrói uma narrativa sequencial, mas que faz sentido mesmo quando separadas. Nas pinturas da série, Checcacci pinta mulheres que possuem uma proporção grandiosa em relação a área da tela, com cabelos esvoaçantes e a sensualidade sutil que trata o feminino em sua produção. Ao percorrer as telas, homens passam a figurar ao lado dessas mulheres, revelando questões em relação a solidão, expectativa, desapego e independência.

 

Sobre o processo criativo a artista revela “ A primeira pintura partiu das mulheres que se montam, aquelas que constroem uma imagem com foco em serem poderosas através de sua aparência, depois introduzi um casal, em seguida homens, e eu não conseguia mais parar, fiquei aficionada pelo desdobramento que encontrava de uma pintura para outra. Agora cada um pode receber as pinturas com seu repertório”, revela Pietrina que gosta de provocar a reflexão.

 

Texto de Denise Mattar.

 

Até 07 de agosto.

Amador Perez, DVWC

23/jul

A exposição “Amador Perez DVWC Fotos e Variações”, com curadoria de Marcia Mello, apresenta no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, de 02 de agosto a 27 de outubro, uma série de fotografias, produção inédita que marca em 2019 a trajetória de 45 anos do celebrado artista carioca. A mostra soma um total de 155 obras, com duas séries realizadas entre 2016 e 2019 – fotografias originais e variações gráficas destas imagens – e uma seleção retrospectiva de obras relacionadas ao campo da fotografia.

 

A palavra do artista

 

A partir da minha admiração e constante observação das obras de Dürer, Vermeer, Watteau e Courbet, fotografei com o celular meus dedos brincando com uma reprodução impressa de Gilles, célebre pintura de Watteau, uma instigante representação do personagem Pierrô, e assim originou-se a série “DVWC Fotos e Variações”.

 

Atualmente utilizo a fotografia como mais um meio e extensão do meu trabalho, e em DVWC Fotos e Variações, dou continuidade às questões, materialidade e imaterialidade, singularidade e multiplicidade, que investigo há décadas, estabelecendo relações entre as imagens das obras originais e suas reproduções. Nos anos 1970, baseado em imagens fotográficas publicadas na imprensa, trabalhei com os recursos do desenho a grafite e da xerografia, e a partir dos anos 1980 comecei a experimentar com reproduções de obras de arte que encontrava em livros e cartões postais, e utilizando técnicas manuais e digitais em uma fusão de linguagens, estabeleço um jogo triádico interativo entre as imagens criadas pelos autores das obras originais, as imagens elaboradas por mim, e as imagens geradas pela fantasia do espectador. Nunca limitei meu trabalho a um tipo de técnica apenas e pretendo que a diversidade de meios que uso exprima a coerência das minhas ideias, que os transcendem, e atendam às possibilidades de uma poética.

 

A palavra da curadora

 

DVWC Fotos e Variações, trabalho mais recente de Amador Perez, põe em evidência sua ligação com as reproduções de obras de arte – seu principal campo de pesquisa -, e com as novas tecnologias, frequentemente incorporadas a um arsenal de interesses e habilidades. As fotografias, realizadas com aparelho celular, registram a mão do artista em contato com imagens impressas de obras de Albrecht Dürer, Johannes Vermeer, Jean-Antoine Watteau e Gustave Courbet. Sua retórica poética incorpora, assim, o gesto, traduzido em imagens surpreendentemente impalpáveis e concebe fabulações que oscilam entre o velar e o revelar. No jogo de epidermes, o artista propõe uma fusão de tempos e espaços, num silencioso fluxo amoroso que deflagra suas fantasias, desejos e obsessões. A tensão entre as superfícies – do papel e da pele – acaba por cerzir mundos, aproximando representação e realidade no registro em preto e branco de imagens que se apresentam, ora em versão positiva, ora negativa. A cada narrativa criada no sequenciamento de dezesseis diminutas imagens – e suas variações com intervenções do desenho e cores do processo CMYK versus RGB – ouvimos o sussurrar inaudível de afetos e nos deparamos com sentimentos insuspeitados revelados por algo que não está na aparência das coisas.

 

Sobre o artista

 

Amador Perez nasceu em 1952 no Rio de Janeiro onde reside e mantém ateliê. Iniciou sua carreira como artista visual em 1974 participando da exposição Jovem Arte Contemporânea no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Graduou-se em 1976 em Projeto Gráfico na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1977 realizou sua primeira exposição individual, Vaslav Nijinski a convite do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A partir de 1981 começou a expor no circuito de galerias de arte do eixo Rio/São Paulo e a participar, como artista representado, em feiras internacionais de arte contemporânea no Brasil, Alemanha e Japão. O desenvolvimento de sua trajetória inclui participação na XXI Bienal Internacional de São Paulo (1991), assim como a realização de diversas exposições individuais convidado por importantes instituições, tais como, Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro, 1992), Instituto Moreira Salles (Poços de Caldas, 1993 e 1997, e São Paulo, 1998), Scuola Internazionale di Grafica (Veneza, 1996), Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro, 1998), e Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2005). Ao longo de sua carreira tem participado de exposições coletivas no Brasil, Argentina, Colômbia, México, França, Inglaterra e China, e em 2012 integrou “Da Margem ao Limiar: Arte e Design Brasileiros no Século XXI”, na Somerset House, em Londres. Em 2014 comemorou 40 anos de atividades realizando as exposições “Quantos Quadros”, no Centro Cultural Cândido Mendes-Ipanema, e Memorabilia – Amador Perez – 40 Anos, no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro. Acervos de renomadas instituições culturais brasileiras e estrangeiras possuem suas obras, tais como, Museu Nacional de Belas Artes, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte do Rio, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, e Coleção de Arte Latino-Americana da Universidade de Essex (Inglaterra); e também importantes coleções particulares, tais como, Gilberto Chateaubriand e Luis Antonio de Almeida Braga (Rio de Janeiro), Bruno Musatti, Guita e José Mindlin, e Kim Esteves (São Paulo), Harlan Blake (Nova Iorque), e Richard Hedreen (Seattle). Sua trajetória é citada em bibliografias especializadas, tais como, História da Arte Geral no Brasil (Walter Zanini, São Paulo, Instituto Moreira Salles, 1984) e Cronologia das Artes Plásticas no Rio de Janeiro – 1816/1994 (Frederico Morais, Rio de Janeiro, Top Books Editora, 1994). Em 1983 publicou o livro de desenhos Nijinski: imagens (Amador Perez, Rio de Janeiro, edição do autor), em 1999, o livro Coleção do Artista – Amador Perez (Editora Fraiha, Rio de Janeiro), um resumo de sua obra, e em 2014, os “livros de artista”, Vaslav Nijinski: SOU e Nijinski: Imagens (Amador Perez, Edição Holos Arte, Rio de Janeiro). Atuou como professor universitário desde 1981, principalmente na ESDI-UERJ – Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, desde 1984, e desde 1991 no Departamento de Artes e Design da PUC-Rio – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

 

Sobre a curadoria

 

Marcia Mello é bacharel em Letras pela UFRJ, pesquisadora, curadora e conservadora de fotografia. Participou da implantação do Departamento de Fotografia do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde foi curadora entre 1988 e 1997. Prestou serviços para instituições públicas e privadas como o Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da FUNARTE e o Arquivo Nacional. Sua formação se completou em estágio no Atelier de Conservation et Restauration de Photographie de la Ville de Paris. Participou dos projetos de conservação dos acervos fotográficos da família do fotógrafo Marc Ferrez, do artista plástico Rubens Gerchman e do crítico de arte Mário Pedrosa. Entre 2006 e 2015 foi diretora-curadora da Galeria Tempo (RJ). Nesse período, além de organizar inúmeras exposições, participou como expositora das feiras SP/ARTE e ART/RIO. No Centro Cultural da Justiça Federal curou a mostra “Tempos de Chumbo, Tempo de Bossa – os anos 60 pelas lentes de Evandro Teixeira” (2014) e na Galeria do Espaço SESC, “Deveria ser cego o homem invisível?”, fotografias de Renan Cepeda (2015). Entre suas atividades mais recentes, destacam-se a co-curadoria das exposições “Kurt Klagsbrunn, um fotógrafo humanista no Rio (1940-1960)”, “Rossini Perez, entre o morro da Saúde e a África” e “Ângulos da notícia, 90 anos de fotojornalismo em O Globo” no Museu de Arte do Rio, todas em 2015. Foi curadora da exposição “Artesania fotográfica – a construção e a desconstrução da imagem” no Espaço Cultural BNDES (RJ, 2017), além de “Hiléia” de Antonio Saggese, “Retraço | Vestígios” de Walter Carvalho e “Fluxos” de Luiz Baltar no Paço Imperial em 2018/19. Como pesquisadora, participou das exposições e livros: “Alair Gomes – A new sentimental journey”, (Cosac Naify, 2009), e “Caixa-preta – fotografias de Celso Brandão” (Estúdio Madalena, 2016), ambas com curadoria de Miguel Rio Branco e exibidas na Maison Européenne de la Photographie em Paris. Realizou a pesquisa e a edição de imagens do livro “Milan Alram” (Edições de Janeiro e Bazar do Tempo, 2015) de Joaquim Marçal. Autora dos livros “Só existe um Rio” (Andrea Jakobsson Estúdio, 2008) e “Refúgio do olhar, a fotografia de Kurt Klagsbrunn no Brasil dos anos 1940”, (Casa da Palavra, 2013) em parceria com Mauricio Lissovsky. Tem participado regularmente como leitora de portfólio nos diversos festivais de fotografia realizados no Brasil e organizado debates em torno da fotografia.

 

Até 27 de outubro.

 

 

Da Linha, O Fio

22/jul

O Espaço Cultural BNDES, Av, Chile, 100 – Centro, Rio de Janeiro, RJ, – próximo ao metrô Carioca -, exibe a exposição inédita “Da Linha, O Fio”, uma coletiva de 23 artistas modernos e contemporâneos com curadoria de Shannon Botelho.

 

Sobre a exposição

 

A mostra apresenta um panorama recente da arte brasileira, abordando as noções de “linha” e “fio” como tema. A partir da ideia de fiar – transformar linhas em fios –, as obras são expostas de forma complementar, estabelecendo um modo de interação entre si e com o espaço. O visitante é convidado a refletir não somente sobre a expressão gráfica da linha, mas também sobre como o fio, ao ganhar o espaço real, transforma-se em novo material ou suporte.

 

Ao reunir bordados, esculturas, instalações, pinturas, desenhos, fotografias, vídeos e objetos, “Da Linha, O Fio” apresenta uma possibilidade de compreender linha e fio como elementos nas artes visuais, destacando sua condição poética nas imagens e apontando para um novo meio de significação no pensamento artístico contemporâneo.

 

Artistas participantes

 

Aldo Bonadei, Anderson Dias, Bispo do Rosário, Cabelo, Carolina Ponte, Cristina Lapo, Daniel Murgel, Frida Baranek, Ismael Nery, Janaina Mello Landini, Laura Lydia, Lothar Charoux, Marcus André, Maria Laet, Mariana Guimarães, Milton Dacosta, Mira Schendel, Pedro Varela, Raphael Couto, Rodrigo Mogiz, Simone Moraes, Vera Bernardes, Walter Goldfarb.

 

Até 20 de setembro.

 

 

 

Para Reynaldo Roels Jr.

15/jul

No mês que marca dez anos da morte do crítico de arte, coordenador do Núcleo de Pesquisa do MAM de 1991 a 1992 – e curador do Museu de 2007 até a sua morte súbita em 2009 -, Reynaldo Roels Jr, ganha mostra e livro em sua homenagem. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no próximo dia 6 de julho de 2019 uma exposição em homenagem a Reynaldo Roels Jr. (1951-2009), com curadoria de Fernando Cocchiarale, que reúne obras de 15 artistas que Reynaldo admirava e com os quais mantinha contato permanente, como José Bechara, Iole de Freitas, Ivens Machado, Anna Maria Maiolino, Vicente de Mello, Ione Saldanha, Manfredo de Souzanetto, Franz Weissmann e Victor Arruda.

 

As obras reunidas pertencem à Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – em doação de Eduardo de Barros Roels e Ana Beatriz de Barros Roels, Ferreira Gullar e Projeto Colecionadores MAM 3 – à Coleção Hélio Portocarrero, e à Coleção Gilberto Chateaubriand / MAM Rio.

 

A trajetória profissional de Reynaldo Roels Jr. se entrecruza com diversos momentos da história recente do MAM Rio, de onde foi curador de 2007 até a sua morte súbita em 2009, e coordenador do Núcleo de Pesquisa do Museu de 1991 a 1992. Foi ainda curador da Coleção Gilberto Chateaubriand de 1997 a 2000, e diretor da Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage entre 2002 e 2006, e crítico de arte do “Jornal do Brasil”, de 1985 a 1990.

 

Artistas na exposição

 

Anna Maria Maiolino, Cláudio Fonseca, Franz Weissmann, Iole de Freitas, Ione Saldanha, Ivens Machado, João Magalhães, João Carlos Goldberg, Jorge Duarte, José Bechara, Manfredo de Souzanetto, Ronaldo do Rego Macedo, Victor Arruda, Vicente de Mello, Walter Goldfarb.

 

Até 25 de agosto.

 

Dia 18 de julho de 2019, das 15h às 18h: conversa aberta/lançamento do livro “Escultura – 3-D”

 

 

Novíssimos 2019, 48ª edição

12/jul

Frases retiradas do Tinder viram instalação, escritas com sal da água do mar são reveladas em telas, números de velhas cadernetas de telefones sendo contatados por um celular de última geração. Foram gravados em vídeo, cerca de 3.000 fotografias dispostas como uma paleta de Pantone que podem ser manuseadas. Estas e outras linguagens compõem as obras da 48ª edição do Salão de Artes Visuais “Novíssimos”, que abrirá no dia 18 de julho, às 18h, na Galeria de Arte Ibeu, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ. Sob curadoria de Cesar Kiraly, a coletiva conta com pinturas, instalação, objeto, vídeo e desenhos de 13 artistas selecionados: Cláudia Lyrio, Evandro Machado, Fernanda Sattamini, Fernando Soares, Henrique de França, Juliana Gretzinger, Marcus Duchen, Mariana Hermeto, Nicole Kouts, Thais Stoklos, Talita Tunala e Tangerina Bruno, uma dupla de artistas gêmeos. Na noite de abertura, será divulgado o nome do artista contemplado com uma exposição individual na Galeria de Arte Ibeu em 2020. A edição deste ano será composta por temáticas diversas. Inspirado pelos últimos debates sobre o poder que as cores têm de identificar segmentos, o artista Evandro Machado, por exemplo, irá expor imagens que buscam sabotar a transformação das cores em discurso político. As obras retratam um mundo frio e calculista, onde tudo tem que ser levado a uma construção geométrica da realidade e os objetos não têm peso, não há gravidade. Dentro deste universo existem monolitos, presenças de imposição neste lugar inerte, no qual cubos flutuam carregando uma bandeira similar a brasileira.
“Parte do discurso do trabalho é a vontade de criar confusões, a partir da contaminação desses campos cromáticos. O verde e o amarelo têm o poder de serem representativos do que o brasileiro acredita. Nesse momento nacionalista, percebemos que o vermelho, por exemplo, se tornou uma cor mais difícil de ser aceita”, explica Evandro, que se inspirou no filme “2001: uma odisseia no espaço” para compor estas obras.

A dupla de gêmeos Tangerina Bruno irá expor a série “Para uma pintura”, composta por 2.971 fotografias em forma de objetos que são oferecidos ao público para serem manuseados. As obras mostram a origem do processo de criação dos artistas, que pintam a partir de fotografias tiradas por eles mesmos realizando ações, da maneira mais natural possível, em casa. “São imagens muito cruas, pois não estávamos preocupados se seria uma foto bonita, mas queríamos entender qual a ideia e chegar na imagem. Pegamos uma única imagem e usamos de referência para pintura, ou juntamos para colagem, reunimos no Photoshop para fazer a cena, passamos o desenho para a tela e começamos o processo de pintura. Quando pensamos neste processo, geralmente temos acesso ao resultado final. Mas, dessa forma, estamos representando todas as possibilidades que poderiam ser dadas à pintura”, analisa a dupla.

 

“O sigilo é a garantia do replay”, “nunca vou gostar de você mais do que gosto de beber”, “só me curta se tiver todos os dentes na boca”, “desaprendi a flertar, mas ainda sei comer e tomar vinho” são algumas das frases presentes no oráculo que será apresentado pela carioca Juliana Gretzinger, todas retiradas de aplicativos de relacionamento há cerca de dois anos. “Vejo o oráculo com humor, pois há um deboche envolvido. É um oráculo que, na verdade, não está preocupado em responder nada”, resume a artista.

 

Fernanda Sattamini irá apresentar o trabalho “As ondas que nos separam”, composto por gravuras com mensagens que a artista escreveu pensando em enviar para alguém e, depois, molhou na água do mar.

 

O paulistano Marcus Duchen irá expor duas obras inspiradas em uma viagem feita durante cerca de quatro anos por cidades do Sul de Minas, na qual o artista captou as impressões e as cores dos locais. Segundo ele, esta é uma pesquisa, quase geográfica, de alguém que não tinha naturalidade com os ambientes visitados e que, por meio da abstração, pode captar as sensações proporcionadas pela viagem.

 

Mariana Hermeto irá apresentar parte de objetos e materiais presentes em uma casa. Em um exercício de agrupamento, a artista trabalha a geometria e a (des)função de cada um deles, buscando a poesia na ressignificação do que é ordinário. O trabalho de Mariana se baseia na pesquisa da construção de uma arquitetura íntima e se assenta no cotidiano e nas relações estabelecidas a partir dele.

 

Na série “Força”, Fernando Soares utiliza a borracha de câmaras de bicicletas e as ressignifica para abordar a maleabilidade da matéria. O artista recolhe o material em uma loja de bicicletas perto de seu ateliê e tenciona a borracha em um chassi de madeira, retratando as nuances entre o tenso e o relaxado, como a respiração. A ideia é abordar movimentos completamente opostos mas que, na verdade, são complementares. “Nos trabalhos de Novíssimos, os selecionados são os mais tensionados. Na superfície de borracha, forço um pouco o material para ter abertura e criar conceitos de espacialidade. O próprio material se contrai e, por vezes, está solto, relaxado, tendendo apenas para a força da gravidade”, explica o artista.

 

Os desenhos figurativos de Henrique de França exploram o branco do papel através de mínimas insinuações de linha e sombra. Sua inclinação a abandonar figuras no vazio é audaciosa e intrigante. Assim, o artista define artificialmente os limites entre o urbano e o rural como os limites da civilização, de modo a criar dramáticas composições onde algo parece estar para acontecer ou acabou de acontecer. Há um sentimento de reflexão, como se os personagens estivessem em profundo pensamento sobre a vida, memória, esperança e mudança. Os trabalhos criam histórias com as quais todos podem se relacionar de um ponto de vista pessoal e nostálgico, mas ao mesmo tempo relatam o confronto de gerações, tradições e classes, como modo de refletir sobre a construção de uma sociedade, por uma perspectiva latino-americana.

 

Thais Stoklos irá apresentar a série “Sol, estou acordada”, falando sobre o dia e noite, luzes do céu, o pôr do sol, de intensidades de energia, de sentimentos humanos. Seus trabalhos são apresentados como verdadeiras pinturas feitas através da sobreposição de tules, que foram introduzidos nas obras da artista através da confecção de saias de bailarinas para suas filhas. Neste sentido, ela lança mão de tudo aquilo que é descartado: linhas, papéis, galhos, tecidos e pedras são reunidos e, com eles, Thais propõe novas formas, agrupando elementos em uma linguagem urbana, industrial ou natural. Como que se traçando caminhos ou construindo monumentos efêmeros, retrata a importância do sutil, na fugacidade do contemporâneo.

 

Cláudia Lyrio irá expor duas obras: “Teoria” e “Anteparo”. “Teoria” é um trabalho híbrido de desenho e pintura, de ficção e ciência, que tem como objeto o estudo do Pardal, ave da cidade (ave da polis, ave política). Cláudia apresenta esse pássaro de diversas maneiras e aponta algumas de suas características com pequenos textos entremeados. Este trabalho é a ação de observar e traz as etapas do desenho, os rascunhos, as inseguranças e inquietações do estudo. Mostra dados do animal e de seu ciclo de vida, nome científico e ano de sua chegada ao Brasil escritos em retalhos de linho colados sobre um canto da tela. Já a obra “Anteparo” é um desenho a carvão, grafite e aquarela sobre tela de algodão com imprimação transparente, mostrando uma floresta em perspectiva lateral, com árvores secas e queimadas. É um políptico composto de cinco telas que evocam o formato de um biombo dobrável de pequenas dimensões. Na primeira tela à esquerda, um pássaro solitário observa a vastidão da natureza degradada.

 

Inspirada no filme “Blade Runner”, Talita Tunala usa a metáfora das metrópoles chuvosas, sombrias e melancólicas, trazendo para o presente e representando cenas cotidianas atuais com a mesma atmosfera desalentada. Para Novíssimos, a artista procurou dar mais densidade aos tons escuros das obras, retirando com ranhuras a cor do papel cartão, acrescentando pequenas coberturas com lápis de cor, ao invés de usar a tinta sobre o papel branco como normalmente faz. Esse gesto é similar ao de um esculpir sutilmente, fazendo emergir imagens como se estivessem esperando para serem descobertas, exigindo do espectador um certo esforço do olhar para seu desvelamento.

 

A pesquisa central dos trabalhos de Nicole Kouts gira em torno da ressignificação de imagens, lugares da memória, narrativas multiformes, sobreposição de linguagens, dogmas da atualidade e da arqueologia do processo criativo. Todas essas questões são compreendidas dentro de um contexto de convergência e divergência entre os meios analógicos e digitais. Essa investigação é uma constante tentativa de encontrar consistência e novos parâmetros no quebra-cabeças que é a linguagem visual contemporânea. “As interlocuções entre arte e tecnologia, imagem impressa, audiovisual, desenho e colagem são a principal matriz geradora destes trabalhos. Há também a influência de outras linguagens artísticas como a música, o cinema, os quadrinhos, a ilustração, a literatura e o teatro. Os títulos, textos e sobreposição de imagens são um elemento importante, em geral compostos por minúcias que coleto em meus cadernos, abordando a amplitude das transformações de sentido e de narrativas construídas por múltiplas associações”, explica Nicole. “Novíssimos” tem como proposta reconhecer e estimular a produção de novos artistas, e com isso apresentar um recorte do que vem sendo produzido no campo da arte contemporânea brasileira, em suas variadas vertentes. Até 2018, 633 artistas já haviam participado de “Novíssimos”, que teve sua primeira edição em 1962.

 

Sobre os artistas

 

 

Cláudia Lyrio é natural do Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Sua pesquisa busca pensar o ciclo da vida, a natureza e seus elementos, tendo a pintura como linguagem. A artista tem seu interesse voltado para questões cromáticas, alquímicas, processo e artesania. Em seu trabalho, uma ideia de paisagem vem se deixando entrever através de diálogos com pensamentos de campos de cor, Land Art e com as pesquisas dos viajantes naturalistas. Distância, perda, deterioração e efemeridade são parte do seu vocabulário. Formação em Pintura e Letras (UFRJ), especialista em História da Arte (PUC-Rio) e mestre em Literatura (UFRJ). Algumas exposições já realizadas: “Luz Balão” (Galeria Solar/RJ); “Pessoas, Cidades e Afins” (MARCO/MS); “Aos Fios Entreguei o Horizonte” (Galeria Hiato, Juiz de Fora/MG), todas em 2018. Em 2017, destacam-se: “Imersões” (Casa França-Brasil/RJ), “Além da Imagem” (Sem Título Galeria, Fortaleza/CE) e “Miragens” (CMAHO/RJ). Participou dos Salões Rio Claro (2015), Guarulhos e Vinhedo/Prêmio Aquisição Pintura (2016) e Fortaleza (2017). Artista selecionada para individual no Museu de Arte de Blumenau (SC) em 2019.

 

Evandro Machado é natural de Blumenau, mas vive e trabalha no Rio de Janeiro. Foi ilustrador e desenhista de HQ em Santa Catarina. No Rio de Janeiro, em 2007, frequentou a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Em 2006, fez a primeira viagem no Programa Dynamic Encounters e, em 2008, participou da Residência CAPACETE, no Rio de Janeiro. Em 2009, realizou uma campanha da TV Futura para a Organização Mundial de Saúde, com curadoria de Fernando Cochiarale. Recebeu bolsa de estudos no Parque Lage para o Programa, em 2011, e Bolsa de Acompanhamento de Pesquisa, em 2013. Seus trabalhos foram acompanhados por Luiz Ernesto, Lívia Flores e Glória Ferreira.

 

Juliana Gretzinger é formada em Práticas Artísticas Contemporâneas pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage (2015) e em Produção Audiovisual pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro (2017). Atualmente, é estudante no curso de Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFRJ, exercendo função de pesquisadora bolsista no projeto PIBIAC Fotografia Contemporânea. Pesquisa a fotografia, a imagem digital e os efeitos da internet na sociedade contemporânea.

 

Fernanda Sattamini vive e trabalha no Rio de Janeiro. Sua produção explora processos experimentais e alternativos, transitando entre fotografia, gravura, escultura e objetos. Tomando como ponto de partida imagens apropriadas e suas próprias fotografias e anotações, a pesquisa que desenvolve aborda questões acerca da memória, saudade e solidão. Graduada em Publicidade e Marketing pela PUC-Rio, completou seus estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Ateliê da Imagem e Escola sem Sítio, no Rio de Janeiro.

 

Fernando Soares nasceu em São Paulo, onde reside e trabalha. Seu trabalho discute a natureza pictórica da matéria em si, através de pinturas/objetos, colagens e instalações. Sua pesquisa parte das propriedades e/ou ambiguidades dos materiais que utiliza e fatores como ação e reação dos mesmos em seus trabalhos. Iniciou seus estudos e produções de maneira autoditada, aos 17 anos, para posteriormente frequentar o Hermes Artes Visuais, onde ainda participa de elaborações de projetos e acompanhamento de sua produção. Participou de diversas exposições coletivas e individuais em galerias e espaços independentes, além de ser selecionado para salões e feiras de arte contemporânea.

 

Henrique de França nasceu e trabalha em São Paulo. Formado em Artes Plásticas pela USJT e pós-graduado em Design Gráfico pela FAAP, já participou de diversas exposições no Brasil e no exterior, entre elas “No Barrier to Entry”, na Gallery19, em Chicago (2018) e “Desenho Ocupado”, na Galeria Leme, em SP (2009). Entre suas exposições individuais destacam-se “Torpor”, no Sesc Interlagos, em SP (2016), e “Lugares Congruentes”, no Carpe Diem Arte e Pesquisa, em Lisboa, Portugal (2013). Os trabalhos exploram as possibilidades de representação do imaginário latino-americano no tocante à sua história recente, sobrepondo memória individual e coletiva dentro do escopo do desenho contemporâneo figurativo.

 

O paulistano Marcus Duchen iniciou muito jovem sua trajetória pelas artes, com participações em projetos e campanhas como ilustrador, em São Paulo. Em 2001, já em Minas Gerais, se formou em Arquitetura e, em 2004, fez sua primeira mostra coletiva no grupo Poéticas Visuais, no Instituto Moreira Salles, em Poços de Caldas. Depois, veio a exposição individual por premiação no BDMG Cultural, em 2006, em Belo Horizonte, e a coletiva no Espaço Cultural de Guarulhos, em 2008, em São Paulo. Em seguida, uma individual por premiação no Salão de Arte Contemporânea de Guarulhos, no mesmo ano. Outros prêmios vieram, como a menção honrosa no Salão de Arte Contemporânea de Arceburgo, Minas Gerais, em 2018, a seleção pela publicação de arte na Califórnia, Selah Magazine, no mesmo ano, e aprovação na galeria Art Lab Gallery, em São Paulo, entre outros. Em 2018, o artista também teve uma obra incluída no Livro “Arte Sempre”, coletânea dos artistas de Minas Gerais. Sua plataforma de expressão é o óleo sobre a madeira, em grandes painéis que misturam, atualmente, o abstrato a instantâneos da vida, em traços imemoráveis de paisagens mineiras.

 

Mariana Hermeto é designer e artista. Sua pesquisa se assenta no cotidiano e nas relações estabelecidas a partir dele. Numa procura por brechas e encaixes, através da contenção e da ruptura, do acúmulo e do vazio, há uma busca silenciosa pela ressignificação do comum e pela construção de uma arquitetura íntima. Participou de exposições coletivas como “Formação e Deformação”, nas Cavalariças da EAV Parque Lage, em 2018; “Fixo, só o prego”, no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, e “Doze métodos de se chegar a lugar algum”, no Paço Imperial, em 2019.

 

Nicole Kouts é graduada em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e desenvolve seus trabalhos de forma multidisciplinar nas linguagens da arte e tecnologia, do audiovisual, da imagem impressa e do desenho. Participou de exposições coletivas nacionais e internacionais, dentre elas a “SP-Arte” (São Paulo, 2018 e 2019), “MADA – 1ª Mostra Audiovisual do Barreiro” (Belo Horizonte, 2018), Abstratas Moradas (Museu Belas Artes de São Paulo, 2018), “1ª Bienal de Artes de Taubaté” (Taubaté – SP, 2018) e “Cosmovisión Femenina” (Cidade da Guatemala, 2018). Realizou cursos e oficinas com os artistas Paulo Bruscky, Lourenço Mutarelli, Carlos Fajardo, Márcia de Moraes, J. Borges, Helena Freddi e Augusto Sampaio, e é assistente da artista Lia Chaia, importantes referências em sua pesquisa. Dedica-se também à ilustração, figurino e cenografia, fantoches e à música.

 

Thais Stoklos nasceu na África do Sul e reside em São Paulo. É formada em Pedagogia (2000) pela PUC-SP e pós-graduada em Imagem e Som pelo Senac (2005). Participou de residência artística em Londres, na Slade School of Fine Arts (2016), e em Berlim, na Berlin Art Institute (2017). Participou do grupo de acompanhamento de projetos com Pedro França, no Mam (2015), e, atualmente, participa do grupo de acompanhamento com Nino Cais, Carla Chaim e Marcelo Amorim, no Jardim do Hermes. Já expôs individualmente na Galeria Arte Formato e Arte Hall e, coletivamente, em diversas galerias e salões. Foi ganhadora do prêmio do Salão Nacional de Artes no Mac de Jataí.

 

Talita Tunala vive e trabalha no Rio de Janeiro, e é graduada em Psicologia. Sua formação artística foi feita na EAV/RJ e na Escola Sem Sítio/RJ. Dentre as exposições que participou nos últimos três anos, destacam-se a individual “O Melhor Fruto”, no Espaço Cultural Correios, em Niterói (2019) e as coletivas “Aos Fios Entreguei o Horizonte”, na Galeria Hiato, em Juiz de Fora; “A/Fronta/A”, na UNB, em Brasília; “Feminino Gabinete de Curiosidades”, no Museu Palácio Rio Negro, em Petrópolis; “Luz Balão”, na Galeria Solar, no Rio de Janeiro, todas em 2018. Em 2017, destacam-se os salões “68º Salão de Abril Sequestrado”, “Salão das Ilusões” e “Fortaleza”, e as coletivas “Miragens”, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro; “Além da Imagem”, na Galeria Sem Título, em Fortaleza; “Imersões Poéticas”, na Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro.

 

Tangerina Bruno é a dupla formada pelos gêmeos Letícias e Cirillo, naturais de Porto Ferreira, onde vivem e trabalham a quatro mãos e duas cabeças, da concepção à execução. Assinam com o seu sobrenome, Tangerina Bruno. Entre as exposições, destacam-se “Novas Aquisições” (2012-2014); “Coleção Gilberto Chateaubriand”, no MAM/Rio; “Coletiva no Auroras”; “17º Programa Exposições”, no MARP”; “28ª Mostra de Arte da Juventude”, no Sesc Ribeirão Preto. Entre os salões que já participaram estão “50º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba” e o “25º Salão de Artes Plásticas de Praia Grande”.

Até 23 de agosto.

 

 

Djanira na Casa Roberto Marinho

10/jul

 

A mostra “Djanira: a memória de seu povo” reafirma o compromisso da Casa Roberto Marinho, Cosme Velho, Rio de Janeiro, RJ, com a arte moderna. Em exposição até 17 de outubro.

A palavra de Lauro Cavalcanti,

A associação com o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) reforça a nossa prática de parcerias com instituições de excelência. A pintura moderna brasileira é um território pouco explorado pelas novas gerações. Djanira da Motta e Silva possui um valor quase oculto nas últimas décadas. Um dos encantos de uma exposição é tornar presente, sem intermediações, obras criadas há longos anos. Íntegras, não dependem de conversões tecnológicas como os filmes ou as músicas. Atemporais, as telas, muito bem selecionadas por Rodrigo Moura, curador adjunto de arte brasileira e Isabella Rjeille, curadora assistente, chegam novas aos olhos de hoje.

A coleção de Roberto Marinho reúne conjuntos de trabalhos de seus contemporâneos modernos, dentre os quais 10 obras de Djanira. O jornalista nutria um carinho especial pela tela Mercado na Bahia que ocupava uma posição central na biblioteca de sua residência. E o vínculo com o MASP data de 1950 quando a casa do Cosme Velho abrigou durante uma noite festiva, os recém-adquiridos “Retrato de Zborowski” (1916-1919), de Amadeo Modiglani (1884-1920) e o “Retrato de Coco” (Claude Renoir) (1903-1904), de Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), apresentados à sociedade carioca, antes de rumarem para São Paulo.

Djanira é uma artista cuja trajetória começou tarde com muita determinação e esforço. Nenhum artista brasileiro retratou com tamanha atenção a luta pelo sustento das camadas mais desfavorecidas através do trabalho cotidiano. A origem humilde da pintora deu-lhe sensibilidade aguda para captar essas epopeias anônimas, as festas e a fé que tornavam menos dura a história de cada um. Frederico Morais, em palestra recente na Casa Roberto Marinho, ressaltou o equívoco de classificar-se a sua obra como primitiva. Uma leitura que só considere os temas pode levar a esse engano. Seria, contudo, confundir o etnólogo com a sua pesquisa. A economia de sua linguagem, o uso de poucos planos concisos e as cores vibrantes cuidadosamente escolhidas apontam para uma sofisticação absolutamente esperada numa artista de seu tempo. Não à toa alguns neoconcretos chegaram a buscar uma aproximação com a obra de Djanira, nos moldes que os concretos incorporaram a arte de Volpi (1896-1988). Autodidata no início, costureira, dona de pensão em Santa Teresa, se tornou aluna do pintor romeno Emeric Marcier (1916-1990) em troca de um amplo quarto com vista para árvores e a Baía de Guanabara. Djanira em entrevista publicada por Rubem Braga (1913-1990) na revista Visão nos conta:
“Marcier me explicou que eu era muito diferente dele; logo minha pintura tinha de ser muito diferente da pintura dele. Que eu não olhasse seus quadros, mas prestasse atenção às aulas, me ensinando toda a parte técnica da pintura, a começar pelo preparo de telas”.
Quando começa a expor, em 1943 no revolucionário prédio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e, em 1944 no Instituto dos Arquitetos, Djanira é reconhecida por gente importante do meio, tendo trabalhos comprados por Candido Portinari (1903-1962) e a entusiástica acolhida de Lasar Segall (1889-1957): “Você é uma verdadeira artista, não pare de pintar; não faça outra coisa além de pintar; pinte sempre (…)”.

E assim Djanira o fez.
Lauro Cavalcanti

Diretor Executivo/Instituto Casa Roberto Marinho