Blocos de cor na Mul.ti.plo

31/mai

No dia 04 de junho, a artista visual Sandra Antunes Ramos inaugura a mostra “Costuras”, na Mul.ti.plo Espaço Arte, Leblon, Rio de Janeiro, RJ. Nessa mostra individual a artista reúne cerca de 30 pinturas em pequenos formatos, em técnicas combinadas: tinta a óleo, costura sobre papel, folhas de ouro, chapas de cobre e latão, tinta acrílica metalizada, caneta metalizada, cera para dourar e linhas metalizadas.

 
Sandra Antunes Ramos trabalha tanto a questão pictórica, com blocos de cor, – sua marca registrada -, como rompe com isso, através de linhas fluídas costuradas, que remetem ao corpo feminino; obras delicadas, tanto no formato quanto no acabamento, que equilibram o geométrico e o orgânico, a rigidez e a fluidez.

 
As pinturas, em média de 21 x 21 cm, em sua maioria, são quadradas e dividas em três planos. O primeiro, pintado a óleo, carrega certa profundidade. O segundo é composto por um traçado de linhas que formam uma renda geométrica, que parecem projetar-se para fora do papel. E, por fim, unindo esses dois planos antagônicos, como numa sutura, rompem traços orgânicos de estudos que a artista realiza há anos a partir da observação de modelo vivo em movimento.

 

 

A palavra da artista

 
Pequenos formatos. Essa escala me é familiar e faz muito sentido para o meu trabalho, pois é a escala da mão, da mão que borda, da mão que pinta, da mão que colore compulsivamente até obter uma camada uniforme, quase contrária ao que o material inicialmente propõe.

 

Eu pinto com os dedos. O material mais forte que uso é o bastão oleoso, que espalho com a mão.
O papel é mais frágil do que a tela. Além disso, uso papéis finos, transparentes, que marcam, vincam, reagem mais. A tinta a óleo, mesmo no papel, demora muito para secar e uso diversas camadas. Depois vem a costura, que é lenta também.

 

 
Opiniões

 
Para o crítico de arte Alberto Tassinari, Sandra cria peças “no tamanho das coisas que a mão pega”. A arte de Sandra pede contemplação, são trabalhos mais condizentes com um canto sereno de uma casa ou algo equivalente. “Precisam ser olhados de perto. Caso contrário, não pulsarão. Ao aproximar-se deles, é como se o olhar os abrisse com uma grande angular. Ou, ainda, com o foco fechado, ora aqui, ora ali, na superfície de seus movimentos infindáveis. Não enchem a sala, mas inundam o olhar”, explica Tassinari.

 
Segundo o artista Paulo Pasta, o trabalho de Sandra organiza-se a partir de “uma indefinição muito poderosa entre o reconhecível e o criado, um lugar entre a figuração e a abstração. E esse lugar ‘entre’ parece algo pessoal e diferente de muita coisa que hoje se vê por aí”. Ele fala também de sua relação com os pigmentos: “Sandra vai descobrindo as cores do desenho à medida que o vai construindo, um pouco como caminhar no escuro. E suas relações de cores possuem também um gosto muito próprio, igual ao seu espaço: são inesperadas, ousadas. Mas principalmente muito vividas e experimentadas”, finaliza.

 

É a segunda individual da artista no Rio de Janeiro, sendo a primeira em 2014, também na Mul.ti.plo. “Sandra nos mostra como uma artista contemporânea pode retomar o gesto manual como condição de uma escolha do seu consciente processo criativo. As silhuetas costuradas por Sandra fogem às obviedades, insinuam um corpo de enigmas. Desconcertante campo da delicadeza”, explica Maneco Müller, sócio da Mul.ti.plo.
 

 

Sobre a artista

 
Sandra Antunes Ramos nasceu em 1964, em São Paulo, SP, onde vive e trabalha. Sua trajetória em arte visual começou tardiamente. Dedicou-se por cerca de dez anos à atividade de educadora. Posteriormente, migrou para as artes gráficas, onde realizou diversos desenhos de livros e capas. Como designer, teve uma larga experiência na diagramação e no desenho de livros de arte. Em 2014, realizou sua primeira individual, na galeria Mul.ti.plo Espaço Arte, no Rio de Janeiro, com curadoria de Alberto Tassinari. Em 2016, realizou uma exposição individual na Galeria Millan, voltando a expor lá em 2017, em uma coletiva no espaço Anexo Millan. Participou de exposições coletivas, como paratodos 2 (2017), na Carpintaria, Rio de Janeiro, e a mostra impávido colosso (2019), n’A Mesa, também na capital carioca.

 

 
Até 11 de julho.

Digigrafias e time-lapses

21/mai

A Galeria São Paulo Flutuante, Jardim América, São Paulo, SP, inaugura “NIN – Novo Impressionismo Numérico”, do artista plástico, desenhista e pintor Fernando Barata, carioca residente em Paris, com 30 obras sobre papel e uma série de time-lapses projetados no ambiente da exposição, onde os temas selecionados são os históricos da pintura : paisagem, natureza morta, os quais variam ao sabor dos locais e países visitados pelo artista. A curadoria é de Regina Boni.

 

Fernando Barata exprime sua vivência utilizando-se de uma linguagem com forte conotação contemporânea e, graças a utilização de técnicas atuais, esta linguagem vai se projetar em suas obras, exprimindo-se livremente através de diversos métodos de transferência de imagens.  Em suas palavras: “Os múltiplos recursos, a simplicidade de utilização e a mobilidade do tablet iPad substituíram o bloco de desenho e a tela como material de observação e registro de viagens. A capacidade de difusão imediata das imagens por Internet, a possibilidade de associar pintura, música, cinema, fotografia e poesia no mesmo corpo de imagem, contribuíram para que eu optasse por esta nova ferramenta de expressão”.

 

Combinado com habilidades e conhecimento profundo de técnicas convencionais de pintura, o uso do iPad na produção de Fernando Barata torna-se um meio de resgatar a delicadeza da pintura e oferecer um conjunto de cores ao observador. “O Impressionismo foi um movimento que rompeu com a arte acadêmica e instaurou a arte moderna e as vanguardas. Com o aparecimento da Internet, surge uma arte numérica ou digital, em ruptura com o funcionamento das vanguardas históricas”, comenta o artista. As primeiras imagens utilizando esta ferramenta foram realizadas em 2017. A delicada passagem da tela do tablet para o papel foi sendo aprimorada com o tempo. Novas técnicas foram incorporadas e aperfeiçoadas. A edição dos time-lapses – vídeos da construção do desenho a partir do primeiro traço, em velocidade alterada – foi se enriquecendo com a inclusão de música.

 

“O trabalho se inscreve em uma História das Imagens onde todas as obras são produto de observação direta. O olhar é fundamental na captura da atmosfera”, define Fernando Barata.

 

 

Sobre o artista

 

Fernando Barata, pintor e desenhista nasceu em 1951 no Rio de Janeiro. Diplomou-se em 1977 pela Escola Nacional de Belas Artes da UFRJ. Reside em Paris desde 1982, onde vive e trabalha. Participou do 25º Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 1974, e da 14ª Bienal Nacional de São Paulo, 1977. Obteve Menção Especial do Júri na 1ª Bienal de Havana, 1984, e participou da 18ª Bienal Internacional de São Paulo, 1985. Realizou um mural em Douai, França, para a Companhia de Águas de Artois-Picardie, 1990. Selecionado para o Prêmio Fortabat (Casa da América Latina, Paris, 1990), seu trabalho foi igualmente premiado no Grande Prêmio Internacional de Arte Contemporânea Michelin, 1998. A partir dos anos 1990, com o surgimento dos computadores pessoais e programas de tratamento da imagem, inicia uma série de experiências, utilizando estas novas ferramentas como complemento da pintura. Suas primeiras exposições de gravuras digitais foram realizadas na Galerie Quadra, Paris, 1998. Entre 2009 e 2015, realizou diversas viagens pela França, que resultaram em uma série de aquarelas e desenhos, retratando locais percorridos pelos artistas modernos e impressionistas: Biarritz, Bordeaux, Nice, Marseille, Cassis, Nîmes, Vallauris, Saint-Paul de Vence, Avignon, Aix-en-Provence e Albi, entre outros. Uma seleção destas aquarelas foi exposta na Galerie Covart, Luxemburgo, 2010 e no Atelier 21, Paris, 2014. Paralelamente a estas viagens na França, continuou sua exploração pelo mundo: Tunísia, Creta, Ilha da Reunião, México, Lisboa, Nova Deli, Dubrovnik, New York, São Francisco, Praga, etc. O bloco de aquarela passa a ser o material mais adequado, durante este período de observação nômade, por sua facilidade de transporte e utilização. Após uma viagem à Índia, 2014, realiza uma série de pinturas sobre sacos de juta, expostas na Galerie Marie-Laure de l’Ecotais, Paris, 2016. Duas destas obras pertencem hoje à coleção da Embaixada do Brasil em Paris. Com o lançamento do iPad Pro, da caneta Apple e de novos aplicativos de desenho tátil, substitui o bloco de aquarela pelo tablet, com o qual passa a trabalhar exclusivamente.

 

 

A palavra de Regina Boni sobre a Galeria São Paulo Flutuante

 

Em 2002, a Galeria São Paulo fechou as portas depois de 21 anos febris no mercado brasileiro de arte, num ciclo em que as cinco mostras de Hélio Oiticica falam em nome de dezenas de outras dedicadas a artistas até ali inseridos com timidez no circuito comercial, pouco aberto às linguagens transgressoras e experimentais. Meu trabalho como figurinista do Tropicalismo, em 1968, fora a origem desse itinerário: muito antes de pensar em ser marchande nos anos 80, havia em mim a crença na originalidade de uma proposição artística brasileira em diálogo com o mundo. Dezesseis anos depois, aqui estamos com a Galeria São Paulo Flutuante. O retorno se deve a uma inquietação equivalente à de 1981, o ano da abertura do primeiro espaço na rua Estados Unidos – mas as razões são bem diferentes daquelas nascidas nas décadas em que contribuímos com a modernização do mercado e dos elos entre galeristas e artistas. Sinto-me hoje desafiada pelos rumos (desvios?) desse mesmo mercado, em suas vertigens de valores abusivos e curadores estelares, distanciados dos caminhos mais soberanos da criação. Não anunciamos um retorno eterno, mas efêmero e flutuante, sem as amarras de um endereço fixo: intervenções em lugares ora vazios da capital paulista, vazios também como metáfora de conceitos e conteúdos abandonados na era dos curadores, do marketing a todo custo e da percepção tola do gesto de Duchamp. Sem dúvida, esse sistema começa a desmoronar no Brasil. A Galeria São Paulo Flutuante pretende regressar às aventuras das linguagens não-domesticadas pelos conceitos da estação. Vem-me assim a lembrança inspiradora do desfile de passistas da Mangueira vestidos com parangolés de Hélio, fechando o trânsito da rua Estados Unidos, em 1986. Arte no calor da rua, no seio dos desejos, no meio do redemoinho. O nosso recomeço de viagem.

 

 

De 25 de maio 02 de julho.

Homenagem à Bahia 

02/mai

Como parte das comemorações dos seus 15 anos, o Museu Afro Brasil, abre no dia 07 de maio, as exposições “A cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também” e “Aberto pela Aduana – Livro de Artista de Eustáquio Neves”, ambas com curadoria de Emanoel Araújo.

 
“Essa exposição (sobre a Bahia) fala de alguns fatos e pessoas, sobretudo dos artistas, dos homens e das mulheres. Mulheres que fizeram da Bahia essa mágica, inusitada e preciosa cidade, de todos os santos, de muita sensualidade e de pouco pudor, que se esvai pelas ladeiras e ruas sinuosas”, declara Emanoel Araújo.

O núcleo central da mostra é composto pelo modernismo baiano, representado por uma robusta seleção de telas de Carlos Bastos (1925 – 2004), tapeçarias de Genaro de Carvalho (Salvador, Bahia, 1926 – 1971), esculturas em ferro ou “ferramentas de santo”, ligadas à religiosidade afro-brasileira, de José Adário dos Santos (1947), esculturas e gravuras de Rubem Valentim (1922 – 1991), além de jóias de Waldeloir Rego (1930 – 2001).
A representação da baiana está presente na escultura de Noêmia Mourão, nos vestidos de renda Richelieu, além de dezenas de bonecas de cerâmica, madeira e louça. Carmen Miranda, a “pequena notável” que celebrizou a figura da baiana mundo afora, é também homenageada com a exibição de fotografias de revistas, iconografia em porcelana esmaltada, além de um vestido original. A seção inclui ainda fotografias de outras baianas ilustres como Marta Rocha (1936), Miss Brasil em 1954, e Helena Ignez, musa do Cinema Novo.

 
Fotografias e pinturas de personalidades baianas do século XX como o escritor Jorge Amado (1912 – 2001), o compositor Dorival Caymmi, aqui homenageado em painel da artista Regina Silveira, Mãe Menininha do Gantois (1894 – 1986), entre outros, se somam aos bustos em gesso patinado dos alfaiates João de Deus do Nascimento e Luiz Gonzaga das Virgens, e dos soldados Lucas Dantas Amorim Torres e Manoel Faustino dos Santos Lira, realizadas em 2004 pelo artista Herbert Magalhães. Estes são heróis da Revolta dos Alfaiates, também conhecida como Conjuração Baiana ou, ainda, Inconfidência Baiana, revolta social de caráter popular ocorrida em 1798, inspirada pelo ideário da Revolução Francesa.

 
A expressão baiana da arte barroca, que no Brasil diferenciou-se da matriz europeia, não poderia ficar de fora da curadoria. Emanoel Araújo reúne nessa seção fotografias de Silvio Robatto, Davi Glatt, óleos sobre tela de pintores baianos do século XVIII como Joaquim da Rocha (1737 – 1807), Teófilo de Jesus (1758 – 1847) e Veríssimo de Freitas (1758 – 1806), azulejaria, livros e revistas, além de um extenso panorama da cidade de Salvador feito por Floro Freire. A exposição conta ainda com um conjunto de fotografias de Mário Cravo Neto e aquarelas do século XIX da artista inglesa Maria Graham (1785 – 1842), retratando o cotidiano das baianas de Salvador.

“A cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também” reserva ao público a projeção de filmes ligados ao imaginário baiano como: “Barravento” (1962), dirigido por Glauber Rocha; “Bahia de Todos os Santos” (1960), com direção de Trigueirinho Neto, além da série de documentários do projeto “Centenário de Alexandre Robatto Filho – Pioneiro do Cinema na Bahia”, que conta com os filmes “Entre o Mar e o Tendal” (1952-1953), “Xaréu” (1954), “Vadiação” (1954), Igreja” (1960), “Desfile dos 4 séculos” (1949), “O Regresso de Marta Rocha” (1955), “Um Milhão de KVA” (1949), “A Marcha das Boiadas” (1949), “Ginkana em Salvador” (1952), e “Os Filmes que Eu Não Fiz” (2013).

 

Paralelamente a abertura da exposição “A cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também”, o Museu Afro Brasil apresenta “Aberto pela aduana – Livro de Artista de Eustáquio Neves”, a primeira exposição individual do premiado fotógrafo e artista multimídia mineiro em São Paulo desde 2015, quando exibiu “Cartas ao Mar”, também no Museu Afro Brasil.
“Aberto pela Aduana”, além de ser o título da exposição, é o nome da principal obra da mostra, o “Livro de Artista de Eustáquio Neves”, produzido a partir da manipulação de materiais de arquivo do fotógrafo, desenhos, colagens entre outras técnicas. Apesar de ter uma estrutura geral semelhante a um livro, a obra é na verdade um objeto de arte que fala por si próprio. Segundo Eustáquio, o nome “Aberto pela Aduana” foi escolhido para estimular a discussão em torno das múltiplas violações do corpo negro, desde o tráfego negreiro aos dias atuais.

 
Aduana, vale lembrar, é o nome dado a repartição governamental de controle do movimento de entradas (importações) e saídas (exportações) de mercadorias para o exterior ou dele provenientes. E é justamente neste ponto que as relações envolvendo a objetificação de milhares de corpos negros durante o tráfico atlântico e, na contemporaneidade, com os estratosféricos números de mortes por causas violentas de jovens negros em todo o território nacional, são traçadas. Entre as obras apresentadas ao público pela primeira vez, além do próprio “Livro de Artista”, estão trabalhos da emblemática série “Máscara de Punição”, formada por imagens construídas a partir da apropriação de um retrato da mãe do artista mesclado a uma foto de uma máscara de ferro. Compõe a mostra obras da emblemática série “Encomendador de Almas”, de 2006.

 
Nas palavras de Emanoel Araujo, curador da exposição, “a fotografia encontra em Eustáquio Neves um homem devoto dos dramas que envolveram e envolvem um passado atormentado e atormentador da nossa história. História de um povo que foi conduzido ao degredo humano e de tamanha força que não se apaga, não sai da nossa alma. (…) Por certo o seu desempenho de grande artista manipulador dessas imagens comove, penetra, sangra e une passado e presente”.

 

 

“O Universo de Emanoel Araujo, Vida e Obra”

 

Juntamente com a abertura das exposições ocorrerá o lançamento do livro “O Universo de Emanoel Araujo, Vida e Obra”, da Capella Editorial. Com imagens de cartazes, livros, xilogravuras, esculturas em aço, madeira, concreto, fibra de vidro; máscaras, painéis em mármore, concreto e granito; gravuras, totens, relevos, estruturas, biombos, além de textos, entrevistas e pensamentos de Emanoel Araujo, também curador e diretor do Museu Afro Brasil, a obra eterniza o trabalho do artista, cuja produção convida à reflexão sobre a sociedade brasileira – ainda violenta, racista, desigual e injusta. Mais que um livro de arte é um registro histórico da cultura brasileira.

 

 

De 07 de maio a 1º de setembro.

Tunga na Itália

A Galeria Franco Noero exibe a segunda exposição individual de obras de Tunga na Itália, pela primeira vez exibida nos espaços da Piazza Carignano 2, Turim, Itália. Tunga foi um dos mais importantes e influentes artistas brasileiros de sua geração, e ele se expressou através de uma variedade extremamente eclética de mídias e linguagens artísticas, variando de desenho a escultura, instalação, fotografia, performance, cinema, vídeo e escrita. Os trabalhos expostos nesta exposição são de grande impacto simbólico. Alguns deles nunca foram exibidos antes e estão sendo apresentados pela primeira vez. O foco está nos processos e referências mais caros ao artista e nas obras que ele criou durante os últimos anos de sua carreira, antes de sua morte prematura. Eles vão desde a escala mais íntima de desenhos e pequenas esculturas ao poder e majestade de uma grande instalação de grande alcance. A exposição abre com dois elementos que são absolutamente típicos da arte de Tunga. Dois fantoches pendurados no teto da sala de entrada, suspensos em expectativa teatral, convidam o visitante a olhar atentamente para os materiais de que são feitos: cristal de rocha e esponja.

 

Até 20 de junho.

 

MON exibe Ivens Machado

15/abr

O Museu Oscar Niemeyer (MON), Curitiba, PR, apresenta a mostra individual de Ivens Machado “Mestre de Obras”. São desenhos, esculturas, fotografias e vídeos relacionados a diferentes períodos da trajetória do artista, procurando criar um diálogo entre as várias vertentes. Ivens Machado foi um dos artistas mais importantes de sua geração e um dos pioneiros da vídeoarte no Brasil.

 

“Partedo legado de um dos artistas mais importantes de sua geração está agora acessível ao público do Paraná e do Brasil, graças a essa imperdível realização do Museu Oscar Niemeyer”, disse o secretário de Estado da Comunicação Social e da Cultura, Hudson José. “A exposição apresentada pelo Museu Oscar Niemeyer apresenta ao público um conjunto expressivo de obras desse importante artista brasileiro, que influenciou várias gerações”, comentou a diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika. “Com genialidade, ele conseguiu extrapolar a matéria, permitindo que seu trabalho evoque sensações”, disse.

 

 

Trajetória 

 

No início da década de 1970, Ivens Machado produziu obras em papel utilizando cadernos pautados ou quadriculados, onde realizou interferências. Na década seguinte, sua obra é marcada por um envolvimento maior com a escultura. Em grande parte de seu trabalho escultórico, utiliza materiais da construção civil, trabalhando com formas e superfícies irregulares. Produzida pelo MON, a exposição apresenta de forma abrangente e expressiva a obra do artista, incluindo trabalhos poucas vezes mostrados no Brasil. A exposição será para o público uma experiência inédita e de grande intensidade artística.

 

“A mostra reúne o conjunto de sua obra, atravessando meio século de uma produção marcada pela sua força, sua crueza e também sua delicadeza e alegria”, diz a curadora Mônica Grandchamp. Ela explica que, num primeiro momento o impacto da obra pode trazer desconforto, mas com um segundo olhar, encontra-se a fantasia, a sutileza e a delicadeza. Segundo a curadora, há uma série de obras ainda pouco vistas pelo público e que são desconhecidas da geração mais jovem, bem como obras icônicas que influenciaram diversos artistas como Adriana Varejão, Ernesto Neto, dentre outros.

 

“Ivens Machado não se filiou a nenhuma escola e sim criou seu próprio caminho, solitário e particular, fundamental no desenvolvimento da arte contemporânea brasileira”, diz Mônica. O conjunto de obras da exposição pretende mostrar toda a diversificação do trabalho de Ivens Machado, que se mantém atual e desconhecido do público.

 

Até 28 de julho.

Marcelo Cipis no Rio

12/abr

A Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, abre no próximo dia 13 de abril, exposição “DeaRio”, que irá ocupar todo o espaço expositivo do térreo e do segundo andar com mais de 40 obras do artista paulistano Marcelo Cipis, entre pinturas, desenhos, objetos, instalações, inéditos ou emblemáticos nos últimos 25 anos de sua trajetória. Esta é a primeira individual do artista no Rio de Janeiro, um dos integrantes da 21ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1991, duas edições da Bienal de La Habana (1991 e 1994), e em diversas exposições individuais e coletivas, como a realizada em 2017 na galeria Spike Berlin, com curadoria de Tenzing Barshee, na capital alemã. Com humor e ironia, Cipis tem um trabalho crítico, em que discute a distopia afirmando a força da arte. A pintura “A utopia é aqui” (2019), feita especialmente para a exposição, “repotencializa pinoquiamente um nariz ampliado, que pode ter alguma alegoria política próxima”, observa Adolfo Montejo Navas, que escreveu um texto sobre a exposição.

TARSILA NO MASP 

05/abr

Tarsila do Amaral (Capivari, SP, 1886 – São Paulo, 1973) é uma das maiores artistas brasileiras do século XX e figura central do Modernismo. Esta exposição que o MASP, Avenida Paulista, São Paulo, SP, exibe é a mais ampla exposição já dedicada à artista, reunindo 92 obras a partir de novas perspectivas, leituras e contextualizações.

 

De família abastada, de fazendeiros do interior de São Paulo, Tarsila desenvolveu seu trabalho com base em em vivências e estudos em Paris a partir de 1923. Por meio das aulas com André Lhote  e Fernand Léger, aprendeu a devorar os estilos modernos da pintura europeia, como o Cubismo, de maneira antropofágica e produzir algo singular. É importante chamar atenção para a noção de antropofagia, criada por Oswald de Andrade: um programa poético através do qual intelectuais brasileiros canibalizariam referências culturais europeias com o objetivo de digeri-las e criar algo único e híbrido, além de incluir elementos locais, indígenas e afro-atlânticos. De volta ao Brasil, declarou: “Sou profundamente brasileira e vou estudar o gosto e a arte dos nossos caipiras. Espero, no interior, aprender com os que ainda não foram corrompidos pelas academias”.

 
O enfoque da exposição é o “popular”, noção tão complexa quanto contestada, e que Tarsila explorou de diferentes modos em seus trabalhos ao longo de toda a sua carreira. O popular está associado aos debates sobre uma arte ou identidade nacional e a invenção ou construção de uma brasilidade. Em Tarsila, o popular se manifesta através das paisagens do interior ou do subúrbio, da fazenda ou da favela, povoadas por indígenas ou negros, personagens de lendas e mitos, repletas de animais e plantas, reais ou fantásticos. Mas a paleta de Tarsila (que serve de inspiração para as cores da expografia) também é popular: “azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante”.

 
Boa parte da crítica em torno de Tarsila feita até hoje no Brasil enfatizou suas filiações e genealogias francesas, possivelmente em busca da legitimação internacional da artista, mas assim marginalizando os temas, as personagens e as narrativas populares que ela construiu. Hoje, após bem-sucedidas mostras nos Estados Unidos e na Europa, podemos olhar para Tarsila de outras maneiras. Nesse sentido, os ensaios e comentários sobre suas obras incluídos na exposição e no catálogo são elementos fundamentais deste projeto. Não por acaso a polêmica pintura “A negra” recebe atenção especial dos autores e é um trabalho central na mostra. Outra peça que fará uma boa repercussão na exibição é a presença do famoso “Abaporu”, obra cedida especialmente pelo MALBA, Buenos Aires, Argentina.

 
“Tarsila popular” não busca esgotar essas discussões, que levam em conta também questões de raça, classe e colonialismo, mas apontar para a necessidade de estudar essa artista tão fundamental em nossa história da arte a partir de novas abordagens.

 

Esta exposição faz parte de uma série que o MASP organiza reconsiderando a noção de “popular”: desde “A mão do povo brasileiro 1969/2016″ e “Portinari popular”, em 2016, até “Agostinho Batista de Freitas”, em 2017, e “Maria Auxiliadora”, em 2018. “Tarsila Popular” é organizada no contexto de um ano inteiro dedicado a artistas mulheres no MASP em 2019 sob o título de “Histórias das mulheres, histórias feministas”. A exposição dialoga com duas outras dedicadas a artistas que exploraram a noção do popular de diferentes maneiras: “Djanira: a memória de seu povo”, em cartaz até 19 de maio, e “Lina Bo Bardi: Habitat”, até 28 de julho.

Tarsila popular tem curadoria de Fernando Oliva, curador do MASP.

 

 

Até 28 de julho.

Museu Afro Brasil, 15 anos

29/mar

 

O Governo do Estado de São Paulo, a Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e o Museu Afro Brasil anuncia a abertura da exposição  “Museu Afro Brasil, nos seus 15 anos, celebra São Paulo – Uma iconografia urbana” que acontecerá no próximo dia 06 de abril. Com mais de 500 objetos que traçam uma cronologia de São Paulo desde a sua transformação em povoado até tornar-se uma megametrópole cosmopolita, a exposição retrata a multiplicidade étnica e cultural da cidade.

 

Visões de Iberê Camargo 

28/mar

Para celebrar os 247 anos da cidade de Porto Alegre, a Fundação Iberê inaugurou a exposição “Visões da Redenção”. A mostra traz um recorte de 77 obras de Iberê Camargo (66 desenhos, três gravuras e oito pinturas), produzidas no início dos anos 1980 – quando o artista retornou à Capital gaúcha, após um período de 40 anos vivendo no Rio de Janeiro. Frequentador assíduo do Parque da Redenção, o artista gostava de observar o ir e vir das pessoas: anônimos, músicos, palhaços, ciclistas, moradores de rua e performers. De simples registros desses passeios, logo as anotações do artista ganharam um significado maior. Os “personagens” da Redenção foram convidados para aturem como modelos vivos em seu ateliê, e, muitos deles, desdobraram-se nas séries “Fantasmagoria”, “Ciclistas” e “Ecológica” (Agrotóxicos).

 

 

Teatro de rua 

 

Em 1985, Iberê Camargo assistiu a performance “A dúzia suja”, do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, se encantou com a apresentação e, durante um final de semana, transformou a Terreira da Tribo – como é chamado o espaço do grupo – em ateliê. Lá desenhou os atores vestidos com o figurino do espetáculo para a série “Ecológica”. A única exposição individual com o conjunto completo da série (mais de 20 guaches) foi realizada em 1986. Parte dela foi exposta em outras capitais do Brasil e Uruguai e, hoje, encontra-se em coleções particulares.

 

Para este trabalho, o artista expressou as formas da natureza e da condição humana, atingidas pela vida, por meio de árvores fantasmagóricas e de figuras que habitavam a cena, sem rumo. O parque mais tradicional da cidade – e palco para as mais diversas manifestações sociais, culturais e políticas – revelou-se como um portal, um deslocamento da realidade para outra ordem no tempo. Delírio e devaneio – um novo estar no mundo.

 

“Não há um ideal de beleza, mas o ideal de uma verdade pungente e sofrida, que é minha vida, e tua vida, é nossa vida nesse caminhar no mundo. Pinto porque a vida dói.” (Iberê Camargo).

 

“Acompanhei inúmeras jornadas de Iberê pela procura dessas imagens que nos ferem com delicadeza, cheias de visualidade e significados. Esses rascunhos, por si só, são maravilhosos, mas serviam para recriações na volta ao estúdio. Surgiam daí guaches sobre papel, elementos novos nas pinturas e potentes gravuras em metal. Foi num dia desses, quando o artista ainda morava na rua Lopo Gonçalves, que saímos a pé para mais um percurso no Parque da Redenção. Chegamos na fonte entre árvores, naquele momento riscada pela luz do sol: um cenário de filme. À volta dela vários mendigos conversavam e lavavam as suas roupas. O artista pareceu iluminado. Apenas com os olhos e a mão em movimento, executou desenhos lindos e fluidos como música. Depois num gesto de gratidão pagou os modelos: entregou uma nota de dinheiro a cada um deles e fomos embora. Nesse dia uma figura me provocou a atenção: o homem flagrado de frente, curvado sobre o espelho d’água da fonte, com o olhar fixo no artista e suas costas acima da própria cabeça, passava uma sensação simultânea de dignidade e sofrimento, como se estava pronto para carregar o peso do mundo”, conta o artista plástico Gelson Radaelli.

 

 

 

Até 21 de abril.

 

 

 

Artes visuais e teatro na Carpintaria

20/fev

 

“Perdona que no te crea” investiga o cruzamento entre os campos das artes visuais e do teatro, em suas interseções e particularidades, reforçando a vocação da Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, na proposição de diálogos entre artistas, linguagens e disciplinas. O título da exposição inspira-se no bolero “Puro Teatro”, do compositor porto-riquenho Tite Curet Alonso, composto em 1970.

 

“Como em um cenário, finges sua dor barata”, anunciam os primeiros versos da canção, famosa na versão da cantora cubana La Lupe. Logo na entrada, a ideia de espaço expositivo funde-se a uma atmosfera cênica à medida em que produções contemporâneas compartilham o ambiente com registros fotográficos históricos. As colagens em tecido, linha e papel de Sara Ramo operam como cortinas que abrem-se e revelam “Marionete” (2018) de Marina Rheingantz e “Cruzeiro” (2018) de Leda Catunda, obras que empregam materialidades quase teatrais, apresentadas ao lado de fotografias de espetáculos como “Melodrama” (1995) da Cia. dos Atores e “Otelo”, de Shakespeare, encenada pelo Teatro Experimental do Negro, de Abdias do Nascimento, em 1946. Em conversa, travam relações entre aparatos e encenação, materiais e drama, representação e farsa.

 

Pensar uma dimensão da teatralidade na arte remonta ao Barroco, ainda no século XVI, quando pintura e escultura são tomadas por expressividade e exagero, através do uso de jogos de luz e da reprodução realista de gestos e encenações. Se “o espaço barroco é o da superabundância”, nas palavras do poeta e crítico Severo Sarduy, a “Ruína Modernista” (2018) de Adriana Varejão bebe desta herança ao realizar uma encenação da carne, dando corpo a uma matéria que não se quer verossímil mas sim teatral. Ao lado da obra, as pinturas de natureza naïf de Surubim Feliciano da Paixão arquitetam uma dinâmica de encenação ao passo em que o pintor autodidata – zelador e cenotécnico do Teatro Oficina, em São Paulo, na década de 80 – documenta sua vivência dos ensaios da peça “Mistérios Gozosos”, montada em 1984 pela companhia.

 

Na parede oposta, são apresentadas práticas artísticas que se instauram em território limítrofe entre teatro e arte. “Jussaras” (2019) de Cristiano Lenhardt são vestimentas que tridimensionalizam o pensamento geométrico desenvolvido pelo artista há cerca de uma década em suas gravuras, funcionando com presença escultórica e também performática, sendo ativada – vestida – ao redor do espaço expositivo. Na mesma parede, estão as máscaras de alumínio de autoria de Flávio de Carvalho, feitas originalmente para “O Bailado do Deus Morto”, texto de autoria do próprio levado aos palcos em 1933, junto do seu grupo “Teatro de Experiência”. Flávio de Carvalho, cuja atuação se deu em diversas esferas da arte, transitou pelos dois campos ao longo de sua trajetória, realizando experiências que turvam fronteiras entre o teatro e a performance, como em seus famosos new looks – blusas e saias vestidas em happenings na década de 1950. Ao fundo da sala, “Ghosts” (2017) de Ana Mazzei reúne um conjunto escultórico de presença teatral, em que cada peça – ou atores – confrontam o espectador. Quem assiste a quem, afinal?

 

Na sala da frente da Carpintaria, a fisicalidade das formas da pintura “Blue Violet Eckout” (2019), de Rodolpho Parigi, trava um duelo com a bidimensionalidade ao passo em que parecem querer exceder o plano, transbordá-lo. É o que parece estar em jogo também na engenhosa composição de “Chat and Drinks” (2018), de Yuli Yamagata, em que a artista costura tecidos como lycra e fibra de silicone, sem deixar de ter como ponto de partida um pensamento pictórico. Esta espécie de blefe dos materiais também aparece nas pequenas esculturas em cerâmica de Daniel Albuquerque, que levam ao extremo a vontade mimética da forma ao reproduzirem em escala humana trechos de um corpo fragmentado, ausente.

 

A voz trôpega que paira sobre o ambiente expositivo (cênico?) vem de “Carta” (2019), obra em que o artista português Tiago Cadete lê a íntegra do relato de Pero Vaz de Caminha quando de sua chegada em terras brasileiras. Velada em um dos armários da Carpintaria, a voz distorce e satiriza o texto do navegador português, que relata com a arrogância eurocêntrica de então o primeiro encontro entre portugueses e indígenas. A eloquência das palavras de Caminha, na voz de Cadete, permite leituras dúbias acerca do contraditório encontro. “Perdona que no te crea… me parece que es teatro?”

 

Artistas participantes

Adriana Varejão | Ana Mazzei | Cia. dos Atores | Cristiano Lenhardt | Daniel Albuquerque | Erika Verzutti | Flávio de Carvalho | Francesco Vezzoli | João Maria Gusmão & Pedro Paiva | Leda Catunda | Luiz Roque | Marina Rheingantz | Mauro Restiffe | Nuno Ramos | Rodolpho Parigi | Sara Ramo | Surubim Feliciano da Paixão | Teatro Experimental do Negro | Teatro Oficina Uzyna Uzona | Tiago Cadete | Tiago Carneiro da Cunha | Valeska Soares | Vania Toledo | Yuli Yamagata

 

Até 09 de março.