Museu Nacional Vive 

28/fev

O Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro inaugurou exposição com 103 peças resgatadas do incêndio que destruiu o prédio principal do Museu Nacional – UFRJ (MN), na zona norte da cidade, em setembro do ano passado: “Museu Nacional Vive – Arqueologia do Resgate”.

 

O diretor do MN, Alexander Kellner, avalia que o pessimismo inicial dá hoje lugar à confiança de que muito será recuperado.

– O que poderia ter sobrevivido às gigantescas e intensas labaredas que destruíram grande parte do palácio? Graças a um trabalho intenso e heroico de servidores da instituição é que hoje podemos ver parte do material resgatado, e, felizmente, ainda há muito mais por vir. Essa exposição é uma demonstração clara de que o Museu Nacional VIVE !, celebra  Alexandre Kellner.

 

Sob curadoria da Comissão de Resgate do MN, “Museu Nacional Vive – Arqueologia do Resgate” ocupa duas salas do segundo andar do centro cultural, com cerca de 180 itens, dos quais 103 são peças resgatadas das cinzas inteiras ou danificadas. As demais são as preservadas, que estavam fora da área do incêndio ou emprestadas. O conjunto contempla todas as áreas de pesquisa da instituição: Antropologia, Botânica, Entomologia, Geologia e Paleontologia, Invertebrados e Vertebrados.

 

A exposição resulta de um trabalho coletivo de profissionais dos diversos departamentos do museu. No processo curatorial se identificou um novo campo que se abria no presente: a arqueologia do resgate.

 

– Apresentar para o público parte do trabalho de resgate do acervo do Museu Nacional é algo muito especial não só para o CCBB, mas também para todas as instituições culturais do Brasil e do mundo e para a população de uma forma geral, que viu e sofreu com o incêndio que destruiu uma história de 200 anos. Com esta exposição, celebramos o reinício do Museu. Poder fazer parte deste momento marcante é motivo de muito orgulho para nós, diz Marcelo Fernandes, gerente geral do CCBB Rio. Com interesse e colaboração vigorosa de todos, a mostra pretende dar ao visitante, do curioso ao pesquisador, um panorama da vida do Museu Nacional, como um convite a uma aventura pela imaginação.

 

 

Exposição

 

No térreo do CCBB, estará o Meteorito Santa Luzia que caiu do espaço em Luziânia, Goiás, em 1922, e homenageia o antigo nome da cidade. Ele pesa cerca de duas toneladas, mede 136 x 80 x 40 cm e é composto por 95,33% de ferro, mais níquel, cobalto, fósforo, cobre e outros elementos.

 

A grande sala do segundo andar apresenta a “Arqueologia do Resgate”, em que peças recuperadas guiam o percurso associadas a outras preservadas. O público encontrará animais taxidermizados; crânios de rinoceronte, boto, pacamara; peixes, tartarugas, sapos, pouquíssimos insetos (segmento muito afetado pelo incêndio); corais, peças-tipo (primeira vez que foram classificadas) como conchas e crustáceos.

 

O crânio de um jacaré-açu foi resgatado dos escombros e é um dos destaques da mostra. Além dele, há outros exemplares resgatados, que caracterizam as coleções de D. Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina – vasos, ânforas e lamparina romanos e etruscos e peças mochica e chimú (Peru).

 

Esculturas de cerâmica Marajoara, elementos ligados aos rituais dos orixás como flechas, argolas africanas do século XIX, agogô e búzios do Benin; bonecas Karajá, panelas do Xingu e um conjunto de miniaturas de cerâmica da região norte-nordeste.

 

No térreo do CCBB, estará o Meteorito Santa Luzia que caiu do espaço em Luziânia, Goiás, em 1922, e homenageia o antigo nome da cidade. Ele pesa cerca de duas toneladas, mede 136 x 80 x 40 cm e é composto por 95,33% de ferro, mais níquel, cobalto, fósforo, cobre e outros elementos.

 

A grande sala do segundo andar apresenta a Arqueologia do Resgate, em que peças recuperadas guiam o percurso associadas a outras preservadas. O público encontrará animais taxidermizadas; crânios de rinoceronte, boto, pacamara; peixes, tartarugas, sapos, pouquíssimos insetos [segmento muito afetado pelo incêndio]; corais, peças-tipo (primeira vez que foram classificadas) como conchas e crustáceos.

 

O crânio de um jacaré-açu foi resgatado dos escombros e é um dos destaques da mostra. Além dele, há outros exemplares resgatados, que caracterizam as coleções de D. Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina – vasos, ânforas e lamparina romanos e etruscos e peças mochica e chimú (Peru).

 

Esculturas de Shabti de Haremakhbit de faiança, do Egito Antigo, de 1380 a.C., se salvaram e estarão em exibição. Shabti são pequenas estatuetas, colocadas nas tumbas, representando servos cuja função era substituir o morto em seus trabalhos na pós-vida.

 

Ainda no mesmo espaço estarão as coleções regionalistas, como as peças em pedra em forma de ave e peixe (zoólitos) de Santa Catarina, cerâmica Marajoara, elementos ligados aos rituais dos orixás como flechas, argolas africanas do século XIX, agogô e búzios do Benin; bonecas Karajá, panelas do Xingu e um conjunto de miniaturas de cerâmica da região norte-nordeste.

 

O trono de Daomé, uma das primeiras peças constatadas como perdidas no fogo e assim noticiada pela mídia, ganhou uma réplica perfeita em papier maché, assinada por um aluno do ensino fundamental comovido com a destruição, e doada ao museu. O Miguel Monteiro Nunes ainda anexou um mosaico de fotos com o passo a passo da feitura da réplica.

 

Da biblioteca, que não foi atingida pelo incêndio, a exposição traz  a publicação “Meteorito de Bendégo”, de José Carlos de Carvalho, de 1888. É o relatório apresentado pela comissão formada por ordem D. João VI, D. Pedro I, Dom Pedro II, da Imperatriz Teresa Cristina, da Princesa Isabel de D. Pedro II para remoção e transferência do meteorito Bendegó para o Museu Nacional. A peça, de cinco toneladas, foi descoberta, em 1784, nas proximidades da cidade de Monte Santo, Bahia. O texto é bilíngue, em português e francês, encadernação de luxo com símbolo do império na capa. O exemplar está disponível na biblioteca digital do Museu Nacional.

 

Do herbário, um dos cinco mais importantes do mundo, há um conjunto de amostras de plantas prensadas (exsicatas) das coleções de D. João VI, D. Pedro I, Dom Pedro II, da Imperatriz Teresa Cristina, da Princesa Isabel e de grandes expedições estrangeiras ao Brasil, como a missão francesa.

 

Com a diversidade de itens resgatados e preservados, equacionados em expografia acolhedora, o público terá a sensação de visitar uma versão do Museu Nacional e experimentar o prazer do convívio com as raridades que a instituição preserva para todos, leigos e iniciados.

 

 

Sobre o Museu Nacional

 

O projeto Museu Nacional Vive já é uma realidade. Até o final de março, a empresa contratada para as obras emergenciais do Museu Nacional vai concluir as obras de estabilização, instalar uma cobertura provisória no prédio e entregar um laudo das patologias derivadas do incêndio. As obras já realizadas permitiram que a imprensa pudesse ver de perto, no dia 12 de fevereiro, como estão as estruturas do Palácio após o incêndio assim como acompanhar o esforço e dedicação dos pesquisadores que integram a equipe de resgate. Também neste dia a UFRJ lançou edital para a licitação de projetos executivos, necessários para a contratação de obras de recuperação do telhado e estruturas de sustentação e a fachada do prédio, tombadas pelo IPHAN. A licitação, contratação e o início destes investimentos deverão ocorrer na segunda metade de 2019 e será financiada, em grande parte, pelos recursos da emenda impositiva que a bancada do Rio (Deputados e Senadores) alocou para o Museu Nacional, no valor de R$ 55 milhões. Para promover um planejamento e gestão eficiente e transparente do projeto Museu Nacional Vive o MEC alocou R$ 5 milhões que serão executados pela UNESCO, órgão das Nações Unidas dedicado à educação e cultura. O apoio do MEC, inicialmente através dos recursos emergenciais e agora em seus desdobramentos, se revela de importância estratégica para a recuperação deste patrimônio único e valioso do país. O MCTIC, através da FINEP, com R$ 10 milhões) e da CAPES (com R$ 2,5 milhões) e o Ministério da Economia, através do BNDES (com recursos da ordem de R$ 20 milhões) também estão apoiando a reconstrução da capacidade de pesquisa do Museu Nacional.

 

 

CCBB 30 anos

 

Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o Centro Cultural Banco do Brasil celebra 30 anos de atuação com mais de 50 milhões de visitas. Instalado em um edifício histórico, projetado pelo arquiteto do Império, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, o CCBB é um marco da revitalização do centro histórico da cidade e mantém uma programação plural, regular, acessível e de qualidade. Mais de três mil projetos já foram oferecidos ao público nas áreas de artes visuais, cinema, teatro, dança, música e pensamento.  Desde 2011, o CCBB incluiu o Brasil no ranking anual do jornal britânico The Art Newspaper, projetando o Rio entre as cidades com as mostras de arte mais visitadas do mundo. Agente fomentador da arte e da cultura brasileira segue em compromisso permanente com a formação de plateias, incentivando o público a prestigiar o novo e promovendo, também, nomes da arte mundi.

 

 

Até 29 de abril.

Artes visuais e teatro na Carpintaria

20/fev

 

“Perdona que no te crea” investiga o cruzamento entre os campos das artes visuais e do teatro, em suas interseções e particularidades, reforçando a vocação da Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, na proposição de diálogos entre artistas, linguagens e disciplinas. O título da exposição inspira-se no bolero “Puro Teatro”, do compositor porto-riquenho Tite Curet Alonso, composto em 1970.

 

“Como em um cenário, finges sua dor barata”, anunciam os primeiros versos da canção, famosa na versão da cantora cubana La Lupe. Logo na entrada, a ideia de espaço expositivo funde-se a uma atmosfera cênica à medida em que produções contemporâneas compartilham o ambiente com registros fotográficos históricos. As colagens em tecido, linha e papel de Sara Ramo operam como cortinas que abrem-se e revelam “Marionete” (2018) de Marina Rheingantz e “Cruzeiro” (2018) de Leda Catunda, obras que empregam materialidades quase teatrais, apresentadas ao lado de fotografias de espetáculos como “Melodrama” (1995) da Cia. dos Atores e “Otelo”, de Shakespeare, encenada pelo Teatro Experimental do Negro, de Abdias do Nascimento, em 1946. Em conversa, travam relações entre aparatos e encenação, materiais e drama, representação e farsa.

 

Pensar uma dimensão da teatralidade na arte remonta ao Barroco, ainda no século XVI, quando pintura e escultura são tomadas por expressividade e exagero, através do uso de jogos de luz e da reprodução realista de gestos e encenações. Se “o espaço barroco é o da superabundância”, nas palavras do poeta e crítico Severo Sarduy, a “Ruína Modernista” (2018) de Adriana Varejão bebe desta herança ao realizar uma encenação da carne, dando corpo a uma matéria que não se quer verossímil mas sim teatral. Ao lado da obra, as pinturas de natureza naïf de Surubim Feliciano da Paixão arquitetam uma dinâmica de encenação ao passo em que o pintor autodidata – zelador e cenotécnico do Teatro Oficina, em São Paulo, na década de 80 – documenta sua vivência dos ensaios da peça “Mistérios Gozosos”, montada em 1984 pela companhia.

 

Na parede oposta, são apresentadas práticas artísticas que se instauram em território limítrofe entre teatro e arte. “Jussaras” (2019) de Cristiano Lenhardt são vestimentas que tridimensionalizam o pensamento geométrico desenvolvido pelo artista há cerca de uma década em suas gravuras, funcionando com presença escultórica e também performática, sendo ativada – vestida – ao redor do espaço expositivo. Na mesma parede, estão as máscaras de alumínio de autoria de Flávio de Carvalho, feitas originalmente para “O Bailado do Deus Morto”, texto de autoria do próprio levado aos palcos em 1933, junto do seu grupo “Teatro de Experiência”. Flávio de Carvalho, cuja atuação se deu em diversas esferas da arte, transitou pelos dois campos ao longo de sua trajetória, realizando experiências que turvam fronteiras entre o teatro e a performance, como em seus famosos new looks – blusas e saias vestidas em happenings na década de 1950. Ao fundo da sala, “Ghosts” (2017) de Ana Mazzei reúne um conjunto escultórico de presença teatral, em que cada peça – ou atores – confrontam o espectador. Quem assiste a quem, afinal?

 

Na sala da frente da Carpintaria, a fisicalidade das formas da pintura “Blue Violet Eckout” (2019), de Rodolpho Parigi, trava um duelo com a bidimensionalidade ao passo em que parecem querer exceder o plano, transbordá-lo. É o que parece estar em jogo também na engenhosa composição de “Chat and Drinks” (2018), de Yuli Yamagata, em que a artista costura tecidos como lycra e fibra de silicone, sem deixar de ter como ponto de partida um pensamento pictórico. Esta espécie de blefe dos materiais também aparece nas pequenas esculturas em cerâmica de Daniel Albuquerque, que levam ao extremo a vontade mimética da forma ao reproduzirem em escala humana trechos de um corpo fragmentado, ausente.

 

A voz trôpega que paira sobre o ambiente expositivo (cênico?) vem de “Carta” (2019), obra em que o artista português Tiago Cadete lê a íntegra do relato de Pero Vaz de Caminha quando de sua chegada em terras brasileiras. Velada em um dos armários da Carpintaria, a voz distorce e satiriza o texto do navegador português, que relata com a arrogância eurocêntrica de então o primeiro encontro entre portugueses e indígenas. A eloquência das palavras de Caminha, na voz de Cadete, permite leituras dúbias acerca do contraditório encontro. “Perdona que no te crea… me parece que es teatro?”

 

Artistas participantes

Adriana Varejão | Ana Mazzei | Cia. dos Atores | Cristiano Lenhardt | Daniel Albuquerque | Erika Verzutti | Flávio de Carvalho | Francesco Vezzoli | João Maria Gusmão & Pedro Paiva | Leda Catunda | Luiz Roque | Marina Rheingantz | Mauro Restiffe | Nuno Ramos | Rodolpho Parigi | Sara Ramo | Surubim Feliciano da Paixão | Teatro Experimental do Negro | Teatro Oficina Uzyna Uzona | Tiago Cadete | Tiago Carneiro da Cunha | Valeska Soares | Vania Toledo | Yuli Yamagata

 

Até 09 de março.

Angelo Venosa na Galeria Nara Roesler

18/fev

Um dos poucos artistas – dedicado à escultura – egresso da Geração 80, cuja tônica era a pintura, o paulistano radicado no Rio de Janeiro, Angelo Venosa, traz a sua cidade natal a exposição “Penumbra”. Com curadoria da historiadora e curadora de arte Vanda Klabin, a mostra na Galeria Nara Roesler, Jardim Europa,  deriva de outra de mesmo nome realizada no ano passado em Vila Velha, ES. Nesta exposição o artista exibe oito esculturas. Dessas, seis são provenientes da exposição no museu capixaba, enquanto as outras duas, ainda que produzidas em 2017, serão exibidas pela primeira vez. “Inquietas e interrogativas, suas obras problematizam a visão do espectador, residem em um mundo fluido permeado pela artesania e pela tecnologia digital, que fazem parte de sua lógica de trabalho e ampliam o campo da sua poética”, pontua a curadora. A mostra reúne obras produzidas em materiais como bronze, madeira, tecido e fibra de vidro que exploram áreas cheias e vazias, criando formas que adquirem inesperada plasticidade. As esculturas formam com a sombra produzida pela iluminação incidente um corpo enigmático e, juntas, constroem particular atmosfera onírica. “A inclusão real da sombra abre um espaço possível, articula a nossa percepção, os nossos modos de ver, e essa simultaneidade de acontecimentos que segmenta um novo território parece sonegar a verdade do olho e possibilita uma grande variedade de acessos a uma realidade cifrada”, afirma a curadora. Segundo Vanda Klabin, ainda, a nova série de trabalhos de Angelo Venosa desperta muitas desconcertantes indagações. “O agenciamento de outros materiais para construir um novo continente de trabalho vai presidir a criação de um núcleo de obras envoltas em incidências luminosas que se desenvolve numa turbulência interna, em que as formas oscilam e tomam posição, no sentido de multiplicar os planos, criar uma ambiguidade espacial”.

 

 

Sobre o artista

 

Angelo Venosa nasceu em 1954, em São Paulo, SP. Brasil. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.  É um dos poucos artistas da chamada “Geração 80” que se dedicou à escultura, em detrimento da pintura então em evidência. A partir da década de 1990, passou a utilizar materiais como mármore, cera, chumbo e dentes de animais, realizando obras que remetem a estruturas anatômicas, como vértebras e ossos. Mais recentemente, o artista começou a utilizar impressões em 3D e desenho assistido por computador para criar estruturas e exoesqueletos de compensado e metal que se assemelham a corais. Participou de exposições como a 19ª Bienal de São Paulo, 1987, a 45ª La Biennale di Venezia, 1993 e a 5ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, 2005. Uma grande retrospectiva em comemoração pelos seus 30 anos de carreira foi realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, MAM Rio, em 2012, passando pela Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2013 e pelo Palácio das Artes, Belo Horizonte, MG, e pelo Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, MAMAM, Recife, PE, em 2014. Atualmente, possui esculturas públicas instaladas em diversos locais do país, como Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Jardins), Museu de Arte Moderna de São Paulo (Jardim do Ibirapuera), Pinacoteca do Estado de São Paulo (Jardim da Luz) e Praia de Copacabana/Leme, Rio de Janeiro.

 

 

Até 16 de março.

Maiolino na Luisa Strina

15/fev

A segunda mostra individual de Anna Maria Maiolino na Galeria Luisa Strina, Cerqueira César, São Paulo, SP, (até 23 de março) antecede em poucos meses uma grande retrospectiva que está sendo preparada para o PAC – Padiglione d’Arte Contemporanea, de Milão. Intitulada “O amor se faz revolucionário”, de 28 de março a 09 de junho, a exposição tem curadoria de Diego Sileo e é a maior já realizada pela artista em seu país natal, e segue do PAC Milano para a Whitechapel Gallery, em Londres, de outubro de 2019 a janeiro de 2020. Celebração dos 60 anos de trajetória da artista – que engloba mais de 50 mostras individuais, além de participações em mais de 300 exposições coletivas -, “O amor se faz revolucionário” envolve todas as mídias com as quais Maiolino trabalha: desenho, escultura, vídeo, performance, arte sonora, instalação, fotografia e gravura, e na mostra em Milão ela apresentará uma performance inédita.

 

Antes de embarcar para a Itália, Anna Maria Maiolino exibe “EM TUDO – TODO”, 19 obras que tem como protagonista a linha, com seus pontos constitutivos, tanto nas esculturas como nos desenhos expostos. São 4 peças da série “Cobrinhas”, realizadas em 2018, trabalhos escultóricos que a artista vem desenvolvendo há quase 30 anos com a mesma metodologia e técnica, em que o gesto de confeccionar rolinhos (como linha), repetido, configura as esculturas, finalizadas em cimento estrutural branco e pó de mármore. Completam a mostra 15 trabalhos sobre papel, pertencentes às séries “Conta-Gotas”, de 2016; “Pulsões & Traços”, de 2015; “Meandros”, de 2014; “Projetos de Escarificações”, de 2012; e “Vestígios”, de 2012.

 

“Do ponto e da linha já nos falou Kandinsky lindamente, basta recordar seus pensamentos como: “Tudo começa num ponto, e nasce a linha”. É ela que confere a materialidade dos rolinhos ou cobrinhas, e é ela também que compõe as experiências gráficas dos desenhos – e do desenho de todos os tempos, mas que se renova na poética aqui apresentada”, explica a artista. Anna Maria Maiolino já discorreu, em diferentes oportunidades, sobre a importância da linha em seu trabalho. Em uma conferência proferida em Nova York, em 2010, a artista esclarece: “Tomo como ponto de partida a linha desenhada. Pois o desenho foi e é a primeira ferramenta a ser utilizada, que me serve de ponte para agenciar minha mente do imaterial para o tangível e faz com que eu diga: “existo porque desenho”. Pois, quem desenha, desenha seus próprios desejos, na conjunção com as experiências do viver”.

 

No curso deste “ver originário” e se apoiando em sua própria experiência de artista, Anna Maria Maiolino reafirma que o desenho é produto do agenciamento da mente com as funções e as ações básicas do viver humano. “Estas funções e ações tão ancestrais tornam o desenho UNO com as possibilidades da construção da linguagem – substrato do nosso código genético. Construindo a linguagem, materializando sentimentos, damos e recebemos, numa relação simbiótica de intercâmbios. Nesse sentido, a percepção – atividade originária da consciência – faz eclodir e manifesta a significação junto com o objeto. (…) Os surrealistas diziam que o desenho é o ECO das nossas pulsões e dos nossos sonhos. Para mim ele é isso, mas é também construção de materialidade, porque a linha materializada pode ocupar as múltiplas dimensões do espaço real.”

 

 

Sobre a artista

 

Em 2017, uma ampla retrospectiva da obra de Maiolino foi apresentada no MoCA Los Angeles, como parte do projeto Pacific Standard Time: LA/LA, patrocinado pela Getty Foundation. Em 2010, uma importante retrospectiva itinerante foi apresentada na Fundação Antoni Tàpies, Barcelona, viajou para o Centro Galego de Arte Contemporânea, em Santiago de Compostela, Espanha, e para o Malmö Kunsthalle, na Suécia (2011). A obra de Maiolino integra mais de 30 coleções de museus e instituições culturais no Brasil e no exterior, entre os quais se destacam MoMA, MoCA Los Angeles, MASP, Malba, Reina Sofia, Centre Pompidou, Tate Modern e Galleria Nazionale di Roma. Suas principais exposições individuais, a partir da década de 2000, incluem Errância Poética (Poetic Wanderings), Hauser & Wirth, Nova York (2018); TUDO ISSO, Hauser & Wirth, Zurique (2016); CIOÈ e performance in ATTO, Galleria Raffaella Cortese, Milão (2015); Ponto a Ponto, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2014); Afecções, Prêmio MASP Mercedes–Benz de Artes Visuais, MASP, São Paulo (2012); Continuum, Camden Arts Centre, Londres (2010); Territories of Immanence, Miami Art Center, Miami (2006); Muitos, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2005); Vida Afora/A Life Line, The Drawing Center, Nova York (2002); e N Times One (da série Terra Modelada), Art in General, Nova York (2002). Entre as mostras coletivas de que participou em anos recentes, destacam-se Mulheres Radicais, Pinacoteca do Estado, São Paulo (2018); Radical Women: Latin American Art, 1960–1985, Hammer Museum, Los Angeles (2017); Delirious: Art at the Limits of Reason, 1950-1980, MET Breuer, Nova York (2017); Lugares do Delírio, MAR – Museu de Arte do Rio (2017); Resistence Performed – Aesthetic Strategies under Repressive Regimes in Latin America, Migros Museum, Zurique (2015); The EY Exhibition: The World Goes Pop, Tate Modern, Londres (2015); International Pop, Walker Art Center, Minneapolis (2015); The Great Mother, Palazzo Reale, Milão (2015); Impulse, Reason, Sense, Conflict, CIFO Art Space, Miami (2015); Artevida, MAM Rio de Janeiro e Casa França-Brasil, Rio de Janeiro (2014); DOCUMENTA 13, Kassel (2012); On Line: Drawing Through the Twentith Century, MoMA, Nova York (2010); 29ª Bienal de São Paulo (2010).

 

 

Até 23 de março.

Alex Flemming, exposição inédita 

13/fev

A partir do dia 14 de fevereiro, a Emmathomas Galeria, Jardim Paulista, São Paulo, SP, recebe “Alex Flemming – Ecce Homo”, individual inédita do artista paulistano radicado em Berlim. Nesta exposição, Alex Flemming apresenta seus trabalhos mais recentes, frutos da série que também dá nome à exposição. O artista brasileiro, radicado em Berlim, reflete sobre cenário político do País, fazendo uso de metáfora bíblica.

 

Com curadoria de Ricardo Resende, a mostra reúne 27 trabalhos que tomam como suporte pias de banheiro fabricadas nos anos 1970 e 1980. Sobre elas, Alex Flemming desenha com o auxílio de um esmeril – ponta de diamante capaz de marcar a superfície da louça. Preciso, os traços gravados na cerâmica rasgam a camada de tinta que cobre as pias, trazendo à tona uma materialidade em traços brancos sob as cores vívidas e esmaltadas das louças. No ato, ganham forma mãos de amigos e pessoas próximas do artista, que, antes de registrá-las, primeiro as fotografou.

 

“Flemming grava o gesto do cotidiano em que se lava as mãos da imundice que carregamos e faz referência ao cenário político brasileiro, assolado pela corrupção e malfeitos da sociedade mancomunada com os políticos”, afirma o curador, para quem, simbolicamente, o artista trata daquela sujeira oculta encontrada na alma humana: a da hipocrisia, da falsa moral e da falsa religiosidade. “O trabalho, de certo modo, desmascara esse antagonismo moral entre o bem e o mal da vida social, feita hoje de perversão, de decadência, de fraquezas, de mentiras, do escárnio, da negação e da imoralidade. No gesto poético de lavar as mãos, busca-se encontrar a pureza: a limpeza não só das mãos, mas também da moral e da sanidade mental”, completa Resende.

 

No espaço expositivo, as obras são mostradas de forma não convencional: os lavatórios ganham pedestais, tais como os altares domésticos típicos do Barroco brasileiro. O tom sacro, inclusive, surge daquela que foi a inspiração da exposição: a passagem bíblica que antecede a crucificação de Jesus Cristo.

 

“Ecce Homo” (Eis o homem, em latim) teria dito Pôncio Pilatos, em um momento crucial para a humanidade: a entrega do homem de Nazareth ao povo judeu, ordenando à multidão que escolhesse o destino do filho de Deus, lavando então suas mãos para o destino que Ele teria e eximindo-se da responsabilidade por sua posterior crucificação.

 

“Esta série propõe uma reflexão plástica do fato de lavarmos nossas mãos em questões nacionais importantes, deixando-as para serem decididas por políticos e outros poderosos, invertendo assim a relação bíblica”, comenta Alex Flemming, para quem os conflitos e as questões sociais são caras e, muitas vezes, estopim para suas criações artísticas. Idealizada em 2018, ainda em Berlim, a série foi realizada ao longo de um mês, em um ateliê que o artista improvisou na Fábrica de Arte Marcos Amaro, sede da Fundação Marcos Amaro, em Itu, interior de São Paulo.

 

 

Sobre o artista
Alex Flemming é pintor, escultor e gravador. Nasceu em 1954 em São Paulo e, desde 1993, reside em Berlim, na Alemanha. Entre 1972 e 1974, frequentou o curso livre de cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Cursou também serigrafia e gravura em metal. Na mesma década, realizou curtas-metragens e participou de festivais variados. A partir dos anos 1990, realizou intervenções em espaços expositivos e pinturas de caráter autobiográfico. Passou a recolher móveis para utilizar em seus trabalhos, aplicando sobre eles tintas e letras ou textos. Apesar da vivência na Alemanha, sempre expôs no Brasil. Em 1998, realizou painéis em vidro para a Estação Sumaré do Metrô de São Paulo, com fotos de pessoas comuns, às quais sobrepõe com letras coloridas trechos de poemas de autores brasileiros. A representação do corpo humano e os mapas de regiões em conflito estão na série Body Builders, 2001-2002. Também de 2002, a série “Flying Carpet”, que toma como ponto de partida o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos. Já a série “Anaconda”, de 2016, uma reflexão plástica sobre os horrores da ditadura do Estado Islâmico e o seu cruzamento com as tradições culturais do Oriente.

Josafá Neves na Baró Galeria

A Baró Galeria, Consolação, São Paulo, SP, apresenta “Visceral Art SP”, exposição individual de Josafá Neves com curadoria de Marcus Lontra Costa.

 

A IMAGEM DA VERDADE

“Não sou escravo de nenhum senhor

Meu paraíso é meu bastião

Meu Tuiuti, o quilombo da favela

É sentinela da libertação”.

Meu Deus, está extinta a escravidão?

G.R.E.S. Paraíso do Tuiuti, 2018

 

A obra de Josafá Neves revela a potência de imagens obliteradas pelo discurso oficial colonizador e patriarcal. Aqui não há espaço para acomodações, para discursos conciliatórios que objetivam criar uma falsa ideia de harmonia e integração racial num país majoritariamente formado por mestiços, filhos do estupro de mulheres negras da parte do homem branco, e que continua a marginalizar e desmerecer a enorme contribuição cultural da arte afro-americana. A história da arte oficial brasileira é o retrato dessa imagem apagada, desse silêncio que ignora a contribuição africana para valorizar tão-somente a presença européia, seus movimentos, suas estratégias de articulação de poder e dominação. Mesmo no modernismo, em sua proposta igualitária e transformadora, a presença de grandes artistas negros se justificava através de discursos críticos que equivocadamente aliavam tais artistas a movimentos construtivos europeus, esquecendo deliberadamente a geometria primeva, essencial, presente nos totens, nos ritos, nas máscaras, nos troncos, nos corpos. A exposição que o artista apresenta reúne obras de potência visual marcante, nas quais imagens resultantes do sincretismo religioso constroem o imaginário místico brasileiro, como no caso de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do Brasil, afirmando a sua negritude, e aludem à saga de violência contra as mulheres negras no país, da escrava Anastácia amordaçada até Marielle Franco, mulher negra assassinada por defender a liberdade e a democracia. Até quando? Este é o brado que as telas de Josafá expressam: até quando esse país insistirá em não admitir a violência que embasa a nossa história e que justifica a tragédia de um povo que não se reconhece no espelho? Entretanto, é preciso lutar, é preciso resistir, é preciso revelar. Josafá abraça esse compromisso, “todo artista deve ir aonde o povo está”, e assim cria imagens povoadas de beleza e sofrimento, realidade e mistério, medo e encantamento. A pintura é, nesse caso, ferramenta poderosa do discurso e ela se justifica pelo seu contexto de luta e participação, pela sua verdade, pela força de sua ideia que a forma e a cor constroem de maneira determinante. Visceral art reúne obras de contundência raras vezes vista no comportado circuito comercial das artes. O artista optou pelo título em inglês no sentido de desprezar nacionalismos e acentuar o caráter internacional de denúncia da violência de raça cometida no Brasil. Elas são trabalhadas de maneira direta, criando uma epiderme pictórica de conteúdo fortemente gráfico e são, elas próprias, resultado de fontes de inspiração distintas, acentuando seu caráter mestiço e multicultural, pois dialogam com a gráfica expressionista de origem germânica e com a pintura corporal africana, prática tradicional de celebração e identificação étnica e cultural. No momento em que, apesar dos pesares, a voz negra se projeta no cenário cultural com ações institucionais de destaque e com a existência, pela primeira vez em nossa história, de um segmento poderoso de artistas negros reconhecidos pelo circuito artístico contemporâneo, a presença, entre eles, de Josafá Neves reafirma os compromissos de construção de uma estética nacional verdadeira e corajosa, que assuma as nossas desigualdades e preconceitos no intuito de superá-los para que possamos criar um país que ofereça a todos os seus habitantes cidadania plena e igualdade de oportunidades.

 

Marcus de Lontra Costa

 

 

São Paulo, janeiro de 2019

 

Até 16 de março.

Pele & Sombra no MARGS

12/fev

 

Intitulada “Magna Sperb/Pele e Sombra”, é a exposição individual que Magna Sperb – apresentando 15 esculturas em aço carbono oxidado – exibe na Sala Iberê Camargo, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS. Com curadoria de André Venzon, as peças foram criadas entre 2016/2018, inspiradas em elementos orgânicos e artesanais – como tramas, redes, telas, panos, cipós, galhos, cascas, raízes, teias e ninhos – são tapeçarias metálicas finas e delicadas que, colocadas sob a luz, projetam sombras em formas de desenhos, sugerindo movimento e leveza.

 

Para o curador André Venzon, mais que o reconhecimento da trajetória artística de Magna Sperb – que trabalha no campo do desenho, da pintura, da fotografia e da escultura -, a exposição propõe a expansão de sua obra. Conhecida no meio da arte e também da arquitetura – Magna Sperb prestou assessoria em cor para projetos arquitetônicos durante quinze anos – a artista retoma a poética da transformação, que caracterizou etapas anteriores da sua pesquisa artística no campo da representação. “Da pintura na tela, para os recortes em MDF, depois para as revistas e destas para o outdoor, agora são as placas de aço que traçam e expressam todos estes caminhos, processos e trânsitos que entranham a sua criação artística que continua a se metamorfosear e nos surpreender”, afirma o curador.

 

Os estudos de tramas, cuidadosamente colecionados pela artista, são o ponto de partida para a criação das esculturas de “Pele e Sombra”. Magna redesenha essas tramas e as tece digitalmente, trabalhando em seguida o aço carbono com corte a laser. As peças são dobradas e amassadas à mão e expostas às intempéries do tempo, para adquirir textura. “Minhas esculturas são intencionalmente incorporadas à própria sombra: delicadas, leves, quase um desenho no ar, mas agressivas, com pontas que riscam o espaço. Valorizar tanto a sombra como a forma é aceitar e compreender que cada coisa é muito mais do que se vê e se percebe”, afirma a artista.

 

“É na subtração, no recorte e na ausência que sua obra se materializa”, explica o curador. “Portanto, tudo tem uma estrutura profunda, até a sombra que provem da arquitetura da luz. Enquanto a natureza e o humano teimam em cobrir e fechar, a artista prossegue a vazar sua pele de aço”, completa.

 

 

Sobre a artista

 

Magna Sperb nasceu, vive e trabalha em Novo Hamburgo/RS. Possui Pós-Graduação em Poéticas Visuais e Processos Híbridos, Pós-Graduação em Artes Visuais, Especialização em Cor e é formada em Licenciatura em Desenho e Plástica pela Feevale. Desenvolve sua pesquisa em desenho, pintura, fotografia e escultura. Foi professora de História da Arte e Educação Artística na rede de ensino pública e privada. Durante quinze anos prestou assessoria em cor para projetos de arquitetura. É uma das idealizadoras do Mesa de Arte na Praça, um projeto de ocupação artística contemporânea para formação de público. Desde 2007 participa de exposições coletivas no Brasil e exterior. Dentre as individuais destacam-se: Recortes, IAB/RS – Porto Alegre, 2014, Metamorfose, MAC/RS – Porto Alegre, 2011 e (Des)Encontros, Usina do Gasômetro – Porto Alegre, 2009. Suas obras fazem parte dos acervos do MARGS, MAC e IAB/RS.

 

 

Até 12 de maio.

Modernos & Arte Sacra no MAS/SP

18/jan

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS-SP, Luz, São Paulo, SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, exibe “O Sagrado na Arte Moderna Brasileira”, com obras de Agostinho Batista de Freitas, Alberto Guignard, Aldo Bonadei, Alex Flemming, Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Antonio Poteiro, Arcângelo Ianelli, Cândido Portinari, Carlos Araújo, Clóvis Graciano, Cristina Barroso, Emeric Marcier, Fé Córdula, Fúlvio Pennacchi, Galileu Emendabili, Glauco Rodrigues, Ismael Nery, José Antonio da Silva, Karin Lambrecht, Marcos Giannotti, Mestre Expedito (Expedito Antonio dos Santos), Mick Carniceli, Miriam Inês da Silva, Nelson Leirner, Nilda Neves, Oskar Metsavaht, Paulo Pasta, Raimundo de Oliveira, Raphael Galvez, Rosângela Dorazio, Samson Flexor, Sérgio Ferro, Siron Franco, Tarsila do Amaral, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret e Willys de Castro, sob curadoria de Fábio Magalhães e Maria Inês Lopes Coutinho. A mostra expõe cerca de 100 obras – entre esculturas, desenhos, gravuras e pinturas – que formam um conjunto expressivo de artistas cujas produções abordam poéticas que aludem à fé e à religião, algumas de modo claro e explícito, outras, por meio de metáforas.

 

Até 1808, a temática religiosa dominou por completo a produção artística no país, entre o período que engloba o século 16 até a primeira década do século 19 – com exceção das obras de Franz Post e Albert Eckhout, que retrataram a paisagem, a flora, a fauna, a dança dos índios Tapuias, os tipos humanos e os empreendimentos açucareiros em Pernambuco. A partir de 1808, com a chegada da família real ao Brasil, os temas profanos passaram a ser adotados pelos artistas brasileiros, e algumas décadas depois já prevaleciam nas artes plásticas em nosso país.  “No século XIX, com a presença da missão francesa de arquitetos e artistas no Brasil, também ocorreu a representação do país e de sua sociedade por artistas como Debret e Taunay, entre outros. No correr do segundo império, os temas das pinturas brasileiras serão sobretudo patrióticos. Com o advento da semana de Arte moderna em 1922, inverteu-se a situação com o predomínio do profano e nossos modernistas e depois nossos contemporâneos se fizeram conhecidos do grande público por obras que não expressavam o sentimento religioso”, comenta o diretor executivo do MAS-SP, José Carlos Marçal de Barros.

 

Este conjunto de obras que compõem a nova mostra temporária do MAS-SP pode ser dividido entre os artistas modernos – Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Victor Brecheret, Vicente do Rego Monteiro, Ismael Nery, Cândido Portinari, entre outros -, os populares – entre eles José Antonio da Silva, Agostinho Batista de Freitas, Antonio Poteiro – e os artistas contemporâneos, como Alex Flemming, Marcos Giannotti, Nelson Leirner, Oskar Metsavaht, entre outros. Nos dizeres de Fábio Magalhães e Maria Inês Lopes Coutinho: “Os modernistas foram, antes de tudo, transgressores e não apenas na expressão artística, também adotaram novos modos de vida, muitos deles, incompatíveis com os hábitos da sociedade brasileira, ainda fortemente rural. Influenciados pela grande metrópole francesa que vivia sua “folle époque”, esses jovens transgressores trouxeram novas ideias que tumultuaram os costumes até então estabelecidos na conservadora sociedade brasileira”.

 

A expressão do artista popular parte na maioria das vezes de experiências vividas, das crenças, dos rituais e das festas da sua comunidade. Procissões, as festas juninas, tão populares no Nordeste, e o folclore regional nutrem, muitas vezes, os temas religiosos. Em relação à arte contemporânea, os curadores destacam a presença não rara do tema religioso, “se o entendemos como manifestação de poéticas do sagrado, do sobrenatural, como forças da natureza que inquietam a cultura, ou mesmo os aspectos intangíveis que pressentimos nas coisas e nas pessoas, ou como apropriação de símbolos consagrados”. “Lograram o magnifico resultado que o Museu de Arte sacra apresenta nesta mostra, pois todos e cada um de nossos grandes artistas continuaram mantendo dentro de si a antiga religiosidade com que conviveram desde a sua infância”, conclui José Carlos Marçal de Barros.

 

 

Sobre o museu

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, é uma das mais importantes do gênero no país. É fruto de um convênio celebrado entre o Governo do Estado e a Mitra Arquidiocesana de São Paulo, em 28 de outubro de 1969, e sua instalação data de 28 de junho de 1970. Desde então, o Museu de Arte Sacra de São Paulo passou a ocupar ala do Mosteiro de Nossa Senhora da Imaculada Conceição da Luz, na avenida Tiradentes, centro da capital paulista. A edificação é um dos mais importantes monumentos da arquitetura colonial paulista, construído em taipa de pilão, raro exemplar remanescente na cidade, última chácara conventual da cidade. Foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1943, e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico do Estado de São Paulo, em 1979. Tem grande parte de seu acervo também tombado pelo IPHAN, desde 1969, cujo inestimável patrimônio compreende relíquias das histórias do Brasil e mundial. O Museu de Arte Sacra de São Paulo detém uma vasta coleção de obras criadas entre os séculos 16 e 20, contando com exemplares raros e significativos. São mais de 18 mil itens no acervo. O museu possui obras de nomes reconhecidos, como Frei Agostinho da Piedade, Frei Agostinho de Jesus, Antônio Francisco de Lisboa, o “Aleijadinho” e Benedito Calixto de Jesus. Destacam-se também as coleções de presépios, prataria e ourivesaria, lampadários, mobiliário, retábulos, altares, vestimentas, livros litúrgicos e numismática.

 

 

 

De 26 de janeiro a 31 de março.

Roberto Scorzelli, esculturas inéditas

07/jan

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ,  apresenta a exposição “Scorzelli”, que reúne obras de Roberto Scorzelli e de seu filho, o designer Marcos Scorzelli. A mostra exibirá 16 obras em acrílica de Roberto Scorzelli, entre telas e papéis e trará, pela primeira vez, 40 esculturas de animais criados no papel por Roberto, e concluídos por Marcos. As peças são inéditas e desenvolvidas em aço após o falecimento de Roberto Scorzelli.

 

Sobre as esculturas em forma de bichos que serão expostas, Marcos Scorzelli conta que, em 1998, encontrou o desenho técnico original dos anos 1960 em um envelope. O acervo era oriundo do “Bestiário” – desenhos litográficos de diversos animais feitos por Roberto. O artista ainda estava vivo e os dois imediatamente começaram a rememorar o contexto em que tudo se originou: a infância de Marcos e Isabella, os dois filhos do artista que inspiraram a criação dos bichinhos em papel espalhados ludicamente pela casa do Joá. Iniciou-se, assim, a brincadeira entre pai e filho que trabalhavam juntos no escritório de arquitetura e design. Durante 14 anos, criaram novos modelos para além dos originais e passaram para os programas de computador, sempre pensando a execução do projeto em papel e ligada à editoração gráfica. O desafio era não perder o conceito. A concepção original era em papel e o rigor conceitual de Roberto o fez perseguir a ideia de não perder material durante a confecção, ou seja, não se poderia romper as matrizes dos bichos durante a execução. Foram anos pensando formatos editoriais diferentes, entre livros, folhetos e cartões de natal, com propostas mais didáticas ou mais lúdicas.

 

 

Até que no ano 2000, quando reformavam a sede da OAB-RJ, cujo projeto envolvia o uso de alumínio, Marcos foi à Alcoa (Camaçari, BA) e teve a percepção de tentar desenvolver os bichos neste material. Havia, contudo, a exigência conceitual de não se perder material em cortes. O conceito original se dava em dobraduras.

 

Em 2012 Roberto faleceu sem ver o resultado da brincadeira apaixonada dos bichos. Marcos desmotivou com a perda do pai, afinal trata-se de um projeto extremamente afetivo. Mas em julho de 2018, entusiasmou-se com uma nova tecnologia a laser capaz de dar forma à chapa de aço, material maleável, que se permite moldar e dobrar, sem perdas nem remendos. Dobras duras de animais que foram se ampliando nas mãos criativas do designer. Assim nasceu a bicharada em memória desse grande artista que foi Roberto Scorzelli e com a ternura que esta história encerra. Ou inicia.

 

 

Sobre o artista

 

Roberto Scorzelli nasceu em 1938, em João Pessoa, PB, e ainda criança, sua família se transfere para o Rio de Janeiro. Em 1955 cursou a Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) e, em seguida, Arquitetura na Universidade do Brasil (hoje UFRJ). No início dos anos 1960 expôs na OCA (1963), inaugurando uma série de participações em exposições coletivas e individuais. Uma década mais tarde, passou algumas temporadas em Berna (Suiça), quando trabalhava como arquiteto no Itamaraty. Nesta cidade, desenvolveu o projeto da Embaixada do Brasil e conviveu com Mary Vieira. Segundo ele próprio dizia, foi bastante influenciado pela obra desta artista, captando o rigor geométrico, o uso de papeis finos e transparências em superposições fortes, mas singelas em seu trabalho. Em 1976, criou o seu espetacular “Bestiário” – desenhos litográficos de diversos animais-, expondo-o na Galeria Bonino e iniciando uma trajetória artística também dedicada aos bichos, vivida à luz de muita observação, conforme anota Marc Berkowitz na introdução da edição original deste projeto: “São animais bem e pacientemente observados, por um artista de grande sensibilidade e muita percepção que soube captar e transmitir a graça, a majestade e até a monumentalidade de certos animais”.

 

Ainda nesta época, sempre antenado às tendências artísticas, criou a loja de design Senha, em Ipanema. Scorzelli era um artista bastante diversificado, mesmo porque exercia também a arquitetura. Clarival do Prado Valadares observou e escreveu sobre essa característica múltipla de Scorzelli, em 1979: “Desenho explica pintura porque é corpo e alma dela. Ela, pintura, é somente a voz. Roberto Scorzelli mostrando desenho, está falando em nome de sua pintura.” Na década de 1980, se aprofundou na pintura a óleo, buscando na paisagem a observação das transparências naturais. Desta fase, destacam-se as exposições na Galeria Saramenha (1978, 1981), dentre outras experiências importantes, inclusive internacionais. Nos anos 1990 retorna às composições geométricas, agora na técnica contemporânea da tinta acrílica.

 

Até 16 de fevereiro.

Abstração informal

A exposição “Oito décadas de abstração informal”, – em conjunto com o Museu de Arte Moderna de São Paulo – encontra-se em cartaz na Casa Roberto Marinho, Cosme Velho, Rio de Janeiro, RJ. Em exibição, obras assinadas, dentre outros, por Tomie Ohtake, Roberto Burle Marx, Vieira da Silva, Antônio Bandeira, Iberê Camargo, Maria Martins, Fernando Lindote, Lucia Laguna, Maria Polo, Ivald Granato, Jorge Guinle, Takashi Fukushima, Shirley Paes Leme, Tatiana Blass, Yolanda Mohaly, Nuno Ramos, Maria Bonomi, Leda Catunda, Edith Derdyk, Luiz Aquila, Manabu Mabe e Dudi Maia Rosa. Os trabalhos apresentados datam entre os anos de 1940 a 2010.

 

 

Texto de Felipe Chaimovich e Lauro Cavalcanti

 

A arte abstrata começou a ser praticada no Brasil, na década de 1940. Desde o início, surgiram duas linhas: a abstração informal e a abstração geométrica. A abstração informal caracteriza-se pela expressão de gestos do artista, seja com os materiais da pintura, ou da escultura; como resultado, o estilo de cada artista torna-se muito singular. A abstração geométrica, por outro lado, parte de princípios universais da matemática e da geometria, criando uma identidade mais coletiva. Os artistas que praticaram a abstração informal no Brasil não constituíram grupos permanentes, pois a singularidade do estilo de cada qual se impunha sobre princípios gerais. Assim, não há uma escola da abstração informal, ao contrário da geométrica, que levou à formação de grupos como o Ruptura, o Frente e o Neoconcreto. Da mesma forma, não se destacaram críticos de arte que representassem os artistas informais, embora houvesse aqueles que defendessem a abstração geométrica e acusassem a abstração informal de excessivo subjetivismo.

 

Entretanto, a abstração informal semeou no Brasil um extenso campo de arte gestual e da exploração da matéria da obra de arte. Ao reunirmos duas das coleções mais importante do Brasil, a do Museu de Arte Moderna de São Paulo e a do Instituto Casa Roberto Marinho, exibimos a permanência e a potência da abstração informal ao longo das últimas oito décadas. Apesar de ataques recorrentes contra o informal e dos modismos que defendem a arte geométrica, os artistas que praticaram a abstração informal no Brasil testemunham a coerência de seus estilos singulares, a radicalidade na exploração da matéria artística e o lirismo visual de suas composições. Convidamos o público a reencontrar-se com oito décadas de nossa abstração informal.

 

 

Até 09 de junho.