A poética de Julio Plaza

18/set

Chama-se “Julio Plaza, Construções Poéticas”, a exposição que a Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS, apresenta na sua Sala dos Pomares. Trata-se de uma revisão do escritor, gravador, artista intermídia, teórico e professor, Julio Plaza, artista nascido em Madrid,1938 e falecido em São Paulo, em 2003. Plaza é um artista importante tanto pelo conjunto de sua obra e seu interesse desbravador no campo da arte e tecnologia, como pelas gerações de artistas que influenciou em suas atividades didáticas exercidas no Brasil.

 

Vera Chaves Barcellos e Alexandre Dias Ramos respondem pela organização e curadoria da exposição propondo uma revisão expográfica inédita no RS de sua produção artística acrescida pelo aval de terem convivido ou estudado com o artista. A obra e a vida de Julio Plaza ainda não foram objeto de publicação e seus trabalhos permanecem pobremente reproduzidos. Programada para 2013, o MAC-USP, prepara uma grande exposição de sua obra.

 

Sobre o artista

 

Artista intersemiótico e com produção multimeios, pesquisador e expert em técnicas gráficas, Julio Plaza consolidou sua obra com pintura, desenhos e objetos ainda nos anos 60, sob o vetor construtivo. Desembarcou no Brasil pela primeira vez em 1967, integrando a representação espanhola que participou da 11ª Bienal Internacional de São Paulo, e como bolsista do Itamarati, para um estágio no ESDI, Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1969, ano em que realizou o “Livro-Objeto”, com o editor Julio Pacello. No contexto brasileiro foi um desbravador da arte interativa promovida pelo surgimento de novas tecnologias da comunicação. Trabalhou com videotexto, slow-cam TV, holografia, fax e computação digital, partilhando e influenciando gerações de artistas no campo da arte mídia e protagonizando o processo de hibridação artística dos meios na chamada cultura das mídias.

 

Autor de vários livros de artistas publicou com o poeta concretista Augusto de Campos, os célebres “Poemóbiles”, de 1968 e “Caixa Preta”, de 1975, volumes impressos que permitem ao leitor transformá-los em objetos poéticos tridimensionais e ainda o livro-poema “Re-Duchamp”, de 1976.

 

Julio Plaza teve grande atuação igualmente como organizador de exposições desde seu estágio na Universidade de Puerto Rico, onde lecionou de 1969 a 1973, ano em que se estabeleceu definitivamente no Brasil.

 

Contestador radical e bastante inconformado com o sistema da arte ao qual criticava de maneira sistemática foi autor de vários aforismos, entre eles: “Arte é um bem que faz mal.”

 

Até 14 de dezembro.

Esculturas de Isaque

Isaque Pinheiro, artista português, realiza sua segunda exposição individual na galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. Desta vez o artista ocupará os dois espaços expositivos, a galeria e o anexo, em uma mostra que contará com 7 esculturas realizadas com diferentes materiais: mármore, couro, aço inox e madeira.

 

O trabalho de Isaque Pinheiro floresce nos limites dos procedimentos hegemônicos da arte contemporânea.  Em sua obra coexistem rasgos de noção greco-romana, renascentista, iluminista e, com certeza, de uma narrativa contemporânea. De fato, o trabalho de Isaque Pinheiro rebela-se contra a própria historia recente da escultura, atendendo tanto ao seu passado como a seu presente, assumindo seus últimos logros sem abandonar a condição formal, o oficio de escultor.

 

Resulta evidente que a evolução escultórica desde o classicismo das estátuas até hoje tem sido um universo de desencontros, inclusive poderíamos falar que a escultura assume uma repetida traição a si mesma em cada novo passo que dá.

 

Tradicional em sua forma de “fazer”, Isaque Pinheiro resolve conceitualmente, desde a tensão própria da poesia, buscando a incongruência do objeto, sua condição abstrata ainda quando se trata de uma proposta figurativa.

 

De 29 de setembro a 27 de outubro.

Nelson Leirner 80

06/set

Artista múltiplo, Nelson Leirner inaugura exposição individual com o nome de “Quadro a quadro: Cem monas”, na Galeria Silvia Cintra + Box 4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ. Esta exposição comemora os 80 anos de Nelson Leirner, completados em janeiro. O artista mantém, antes da abertura, tudo sob muito sigilo, resguardando esta instalação única que ocupará todo o espaço físico da galeria. Serão cem imagens estilizadas da clássica “Mona Lisa”, exibidas em caixas de acrílico. Séries de “Mona Lisa” usando brincos, outra de batom vermelhão, outra com bigode, etc…em suma, uma instalação temática.

 

A ironia, marca registrada em sua carreira, é evidente. Trata-se de uma crítica ao abuso da tecnologia, que banalizou a figura da “Mona Lisa” em tantas piadas recebidas pelo artista por e-mail e encontradas na internet nos últimos anos. Para “banalizar o banalizado”, segundo suas próprias palavras, Leirner retomou o espírito artesão, com intervenções manuais em imagens da criação de Leonardo da Vinci. O próprio tecido que estampa as imagens foi cortado manualmente em um trabalho que se estendeu por 10 meses até a colocação final das peças. Uma síntese de uma carreira contada através de uma espécie de filme feito à mão, visualizado por meio de 100 trabalhos.

 

A “Mona Lisa” já havia sido abordada pelo artista em sua presença na Bienal Internacional de Veneza, em 1999. O artista assina a própria apresentação do trabalho em exposição. Nelson também estará na ArtRio, com outra obra inédita e lançará um livro no final do ano.

 

Até 20 de outubro.

 

Adriana Varejão no MAM-SP

A exposição “Adriana Varejão – Histórias às margens”, no MAM-SP, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, tem seleção de trabalhos fundamentais da artista. A curadoria é de Adriano Pedrosa pois ambos possuem um longo histórico de colaborações; há cerca de 15 anos trabalharam juntos na XXIV Bienal Internacional de São Paulo. Rodrigo Cerviño Lopez e Fernando Falcon, designers que já fizeram para a artista os projetos de dois livros, de seu ateliê e de seu pavilhão em Inhotim, são responsáveis pelo projeto expográfico e pelo desenho gráfico do catálogo da exibição.

 

 

A Grande Sala do MAM terá salas divididas por paredes equidistantes e contíguas, que formam salas cortadas por um corredor central. A transparência dos vidros que separam o museu do parque será mantida, ou seja, a exposição poderá ser vista também do lado de fora do MAM. Nas salas, distribuem-se 42 obras, muitas delas inéditas no Brasil, entre as quais uma em grandes dimensões produzida especialmente para a exposição. Retratando azulejos nos quais figuram plantas carnívoras, esta obra remete ao trabalho da artista presente no Panorama da Arte Brasileira de 2003, no próprio MAM-SP, em que azulejos reais traziam estampas de plantas alucinógenas. Além desse novo painel, de cerca de 18 metros de extensão, composto por 54 módulos de pintura, outros dois trabalhos foram produzidos para o MAM. Uma pintura em grande formato, com o panorama da Bahia de Guanabara, Rio de Janeiro, e um prato, ambos recriados em estilo chinês, nos quais a artista retoma sua série “Terra Incógnita”, iniciada em 1992, introduzindo elementos de seu trabalho atual.

 

Também em exibição, os exemplos mais significativos das séries de “Pratos”, “Saunas”, “Ruínas de Charque”, “Mares e Azulejos”, “Línguas e Incisões”, “Irezumis”, “Acadêmicos”, “Proposta para uma Catequese”, “Terra Incógnita” e trabalhos que a artista apresentou na Bienal de São Paulo em 1994 e 1998.

 

Palavras da artista

 

“Margem remete a mar, mas também àquilo que está fora do centro”, daí o título da mostra. Para Adiana Varejão, “a história é algo vivo, o passado não é fechado nem morto, mas está sendo constantemente recriado, e essa é uma das principais motivações do trabalho”.

 

Sobre a artista

 

Adriana Varejão nasceu no Rio de Janeiro e é hoje um dos nomes da arte brasileira mais conhecidos no mundo, com obras em acervos de instituições tais como o Museu Guggenheim, NY, Tate Modern, Londres,  Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris, Fundación “La Caixa”, Barcelona e no Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho, MG. Participou de quase cem exposições, entre individuais como no Centro Cultural de Belém, Lisboa, 2005, Hara Museum, Tóquio, 2007), Fondation Cartier, Paris, 2005, e coletivas, entre as quais destacam-se as Bienais de Istambul, 2011, Bienal de Bucareste, 2008, Bienal de Liverpool, 2006, Bienal do Mercosul, 2005, Bienal de Praga, 2003, Bienal de Johannesburgo, África do Sul, 1995 e Bienal Internacional de São Paulo, 1994 e 1998. Participou do Panorama da Arte Brasileira 2003, do MAM, sob curadoria de Gerardo Mosquera.

 

Até 16 de dezembro.

Inimá em Brasília

O pintor mineiro Inimá de Paula, nome da renovação da arte moderna brasileira, recebe uma justa homenagem através de exposição retrospectiva no Gabinete da Presidência da Câmara dos Deputados, Brasília, DF. A exposição “Inimá de Paula” é resultado de parceria da Câmara dos Deputados com o Museu Inimá de Paula que cedeu 24 obras pertencentes a seu acervo.

 

Reconhecido pelos críticos como mestre das cores, Inimá de Paula (1918-1999) é um dos mais importantes pintores brasileiros. Suas obras enriquecem acervos de museus e coleções particulares no Brasil e no exterior. O artista revela em suas pinturas paisagens por onde morou e andou, como bairros cariocas, o litoral cearense e cenas da velha Europa. Os caminhos que sua arte percorreu, porém, sempre o trouxeram de volta às montanhas de Minas.

 

Nascido em Itanhomi, no Vale do Rio Doce, Minas Gerais, o pintor tinha um perfil introvertido e reflexivo, que contrastava com a eloquência dos traços vigorosos, características percebidas até pelos leigos, que se comprazem diante de seus quadros. Inimá participou ativamente dos movimentos estéticos de sua época e conviveu com alguns dos maiores artistas brasileiros, como Cândido Portinari e Oscar Niemeyer, que o apoiaram no início da carreira. Atuou no Ceará e no Rio de Janeiro, cidades onde viveu antes de voltar a Minas, no início dos anos 60.

 

O espaço do Gabinete da Presidência da Câmara, abre suas portas nos finais de semana para a população e a curadoria da exposição é do senador e ex-governador mineiro Aécio Neves.

 

 

Até 27 de setembro.

Em dupla

Rodrigo Andrade

Depois de realizar em 2010 a exposição “Arte brasileira: além do sistema”, na qual artistas populares foram expostos ao lado de contemporâneos, a Galeria Estação, Pinheiros, São Paulo, SP, vem promovendo o encontro entre esses dois mundos. Agora, em “O Jogo dos sete erros – Ranchinho e Rodrigo Andrade – 10 pinturas e 10 versões”, Rodrigo Andrade se propôs a fazer releituras de obras de Ranchinho. O resultado desta “pictofagia” está reunido na exposição com 10 trabalhos inéditos do artista contemporâneo expostos lado a lado às telas do pintor egresso da cultura de raiz.

 

Andrade utilizou-se da apropriação, processo da linguagem contemporânea, e procurou a perfeição em suas releituras do mestre popular. O artista fotografou as obras e projetou as imagens em telas brancas, replicando cada pincelada. O deslocamento entre as versões é pequeno, sutil. De longe, chegam a ser idênticas, com as mesmas nuances no desenho e as diferenças surgindo apenas num olhar aproximado. O título da exposição, “O Jogo dos 7 Erros”, parte exatamente dessa semelhança exacerbada, que só revela na camada grossa de tinta, marca característica de Rodrigo Andrade, no olhar aproximado. O musico Toni Belotto, que é de Assis, mesma cidade de Ranchinho, já fez um filme em super 8 sobre o artista e assina texto para o catálogo da exposição.

 

Sobre Ranchinho

 

O artista Sebastião Theodoro Paulino da Silva, o Ranchinho, nasceu em 1923 e faleceu em Oscar Bressane, SP, 2003. Filho de bóias-frias, foi uma criança frágil e fraca, com muita dificuldade para desenvolver-se e aprender. O desenho sempre foi uma prática constante. Com o tempo não parava mais em nenhum trabalho, vivia sempre em casebres abandonados, catando sucata para vender. Por volta de 1970, o escritor e estudioso de arte José Mimessi, ensinou-lhe o manejo do guache e aos poucos sua obra chegou à cidade de São Paulo, provocando o interesse de vários colecionadores, impressionados com as soluções que adotava em suas pinturas. Em 2000, convidado por Emanoel Araújo, fez a releitura da tela de Almeida Jr. “Caipira picando fumo”, de 1893, que integrou na mostra “Almeida Júnior, um artista revisitado”, na Pinacoteca de São Paulo. Ranchinho participou ainda da Bienal Nacional de São Paulo, 1976; Bienal dos 500 anos, 2000;  e de inúmeras coletivas, entre as quais destaca-se “Pintura primitiva no Brasil”, Museu Carrillo Gil do México, 1980 e “40 pintores primitivos”, Museu Guido Viaro, Curitiba, PR, 1981.

 

Sobre Rodrigo Andrade

 

Estudou no Studio of Graphics Arts, em Glasgow, Inglaterra e frequentou o curso livre de gravura e pintura na Escola de Belas Artes de Paris, França. Desde o início de sua carreira, recebeu importantes prêmios em salões nacionais de arte. Participou da 29ª Bienal de São Paulo, SP, em 2010 e recebeu a Bolsa Vitae de Artes Plásticas em 2004. A partir de 1986, realizou diversas exposições individuais em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Participou de inúmeras exposições coletivas no Brasil e no exterior. Em 2000, iniciou uma série de intervenções pictóricas em espaços públicos: “Projeto Parede” no MAM-SP; “Lanches Alvorada”, em um bar no centro da cidade de São Paulo, e “Paredes da Caixa” no museu da Caixa Econômica Federal, São Paulo, SP.

 

 

Até 31 de outubro.

Cores de Willys de Castro

04/set

Willys de Castro

A retrospectiva de Willys de Castro na Pinacoteca do Estado, Praça da Luz, São Paulo, SP, abrange 130 obras do artista cujo pretígio é bastante crescente tanto nos Estados como na Estados Unidos e na Europa. Cada vez mais procurado por colecionadores estrangeiros, os trabalhos de Wyllis de Castro, falecido em 1988, tendem a seguir os mesmo passos da obra de Lygia Clark e Helio Oiticia. Um previsão segura para os anos vindouros. Sob a curadoria de Regina Teixeira de Barros, encontram-se em exibição telas, desenhos, estudos e vários trabalhos tridimensionais. A grande maioria das obras pertencem à Pinacoteca, sendo que um total de 56 peças são doações do companheiro do artista, o pintor Hércules Barsotti, falecido em 2010, mas doadas em 2001. As demais peças da mostra pertencem à Coleção Patricia Phelps de Cisneros, coleção venezuelana, acervos particulares do Brasil, mais o IAC e o Museu de Arte de São Paulo.

 

Nascido em Uberlândia, MG, Willys de Castro mudou-se para São Paulo na adolescência. Atuou durante anos na área de design gráfico, realizou pesquisas das diversas correntes construtivistas e dialogou com o Grupo Ruptura, de Waldemar Cordeiro. Os trabalhos mais antigos exibidos na mostra são estudos para pinturas realizados a partir de 1952, nos quais as formas geométricas e a atenção às cores sobressaem. Nos “Objetos Ativos”, o artista mescla pintura e escultura da passagem da década de 50 para a de 60, quando atinge, segundo a críica nacional, sua plenitude criativa. Em certos momentos, apenas uma pequena tira vertical de madeira já instiga o espectador. A série deu origem, mais tarde, aos chamados “Pluriobjetos”, relevos de parede feitos de materiais como madeira, alumínio ou aço, alguns deles presentes na exposição.

 

Até 14 de outubro.

Carvão: Mestre da cor

A Galeria Bergamin, Jardins, São Paulo, SP, exibe mostra panorâmica da obra de Aluisio Carvão. Denise Mattar, que assina a curadoria, escolheu uma titulação justa para a exposição: “ALUÍSIO CARVÃO  – Mestre da Cor”. Conheça a síntese de seu pensamento curatorial no texto abaixo, uma clara visão da trajetória deste renomado artista brasileiro.

 

 Síntese da curadoria

 

Aluísio Carvão ( 1920- 2001) nasceu em Belém do Pará e autonomeava-se “o amazônico”, pois tinha consciência de que a estética luminosa, vibrante e colorida daquela cidade perpassava toda a sua obra. Quando menino admirava a geometria dos indígenas brasileiros, observava na arte plumária a construção de unidades cromáticas exuberantes e fazia pipas, bandeirinhas e estandartes para enfeitar os arraiais.

…Procurando seu caminho foi ilustrador, cenógrafo, ator, mudou de cidade e por fim viajou para a capital do país para participar de um curso de especialização de professores de desenho.

 

Carvão chegou ao Rio de Janeiro em 1949, num momento efervescente, no qual estava em curso o sonho da modernidade nacional. Nas artes plásticas levantavam-se discussões acirradas e sofisticadas em torno do Abstracionismo Geométrico, uma linguagem que se propunha universal pela construção de um espaço racional, sem emoções, hedonismo ou patriotismo. Eram questões que Carvão desconhecia inteiramente, mas, após completar seu estágio, inscreveu-se, em 1952,  no lendário curso de Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde passou a conviver com  Lygia Pape, Abraham Palatnik, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Mário Pedrosa e Ferreira Gullar. Foi um mergulho vertical e radical …ele participou da criação do Grupo Frente (1954-56).

 

As obras de Carvão realizadas nesse período respondem aos enunciados do Concretismo. …Na série “Cromáticas”, que vai de 1957 a 1960, o artista constrói com a cor, que vive e pulsa, plena de emoção.

 

….O novo grupo, que busca a experimentação, é uma alforria para Carvão. Sua pesquisa intensifica-se a tal ponto que a cor sai dos limites da tela para ganhar o espaço e o artista produz as emblemáticas obras  “Cubo-Cor”(1960) e “Cerne-Cor”(1961). Segundo ele:  “Eu queria uma espécie de resumo da cor, queria, dar corporeidade à cor, o vermelho feito com pigmento e cimento. Todo cor, não só superficialmente pintado”.

 

No final de 1961, Aluísio parte para a Europa utilizando o prêmio de viagem recebido do Salão Nacional de 1960.  Na volta ao Brasil, em 1963, torna-se professor do MAM-RJ e trabalha em artes gráficas e desenho industrial.

 

Nesse período a cor e a geometria quase desaparecem da obra do artista, como que levadas pela ditadura militar que se impõe a partir de 1964. …No final da década, Carvão começa a empregar materiais não tradicionais, como tampinhas de garrafas e pregos, construindo obras óticas como “Superfície I”, e cinéticas/sonoras como os “Farfalhantes”(1967). Essa pesquisa se estende até 1971/3 quando produz as “Constelações” realizadas com barbantes tensionados.

 

Em 1975 Aluísio Carvão recomeça a pintar e a cor volta a ele soberana, luminosa e sensual. Nessas novas pinturas ele revê as memórias de infância, relembra sua cidade amazônica, alude a pipas, mastros e bandeirinhas. Esses signos poéticos, invadidos de cor, alcançam sua plenitude na série de sete obras apresentada 17a Bienal de São Paulo, em 1983.

 

Ainda na década de 1980 Aluísio tornou-se professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. Era adorado pelos alunos e ajudou a formar a chamada “Geração 80. Em 1997, com vigor redobrado,  inaugurou duas obras monumentais : o Mural Lagoa-Barra no Rio de Janeiro e o Cubo-Cor no Parque da Marinha em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

 

Até sua morte, em 2001, Aluísio Carvão continuou pintando, cada vez mais liricamente. Suas obras são um marco na arte brasileira, e quem o conheceu nunca esquecerá de seus olhos luminosos e profundamente azuis, dos quais parecia se desprender a Cor.

 

Denise Mattar

2012

 

Até 14 de setembro

Cinco séries fotográficas

03/set

A Portas Vilaseca Galeria, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, exibe a exposição “Desvios na paisagem”, individual de fotografias de Pedro Victor Brandão. A mostra traz ao público 23 trabalhos produzidos entre 2008 e 2012 abordando a fotografia para além do domínio do visível. São cinco séries que elaboram processualmente a criação de imagens através de transformações químicas, físicas, biológicas e numéricas.

 

Em “Vista para o nada”, o artista utiliza filmes instantâneos vencidos para registrar reações químicas traduzidas como paisagens calcadas no acaso. A latência das imagens é trabalhada na série “Dupla Paisagem”, em que colônias de mofo foram cultivadas em filmes preto e branco que esperaram dez anos pela revelação. Em “WYBINWYS – O que você compra não é o que você vê”, imagens da ação da gravidade são sobrepostas por uma película refratora. Para serem acessadas, tais imagens exigem a busca de um ângulo específico por parte do leitor.

 

A série “Não Civilizada” traz nove impressões de paisagens do Rio de Janeiro completamente retocadas digitalmente para um estado “original” inexistente. Construções, aterros e monumentos são substituídos por elementos ressintetizados, remetendo tanto a um passado inabitado como a um futuro cataclísmico, colocando em dúvida o caráter objetivo da fotografia contemporânea e questionando o padrão de urbanização da cidade. A série “Curta”, retrata o processo de revitalização da zona portuária, alvo de uma complexa operação especulativa com a construção de grandiosos totens urbanos. O texto crítico da exposição foi escrito pelo próprio artista, intuindo reflexões sobre impermanência e o estado da paisagem urbana a partir dessas distorções no espaço e tempo fotográficos.

 

Ativa desde 2010, a Portas Vilaseca Galeria se estabeleceu no panorama da arte contemporânea reunindo artistas de diferentes gerações e firmando parcerias entre colecionadores, instituições e curadores.

 

Sobre o artista

 

Nascido em 1985, Pedro Victor Brandão é artista visual e fotógrafo. Formado na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, em cursos livres de 2005 a 2009 e no programa “Aprofundamento”, em 2010. Em 2009, graduou-se em Fotografia pela Universidade Estácio de Sá. Desde 2005 desenvolve trabalhos autorais que versam sobre ressignificações da imagem fotográfica hoje. Em 2011 faz sua primeira exposição individual dentro do projeto “Ocupação Cofre”, na Casa França-Brasil, com a série “Pintura Antifurto”. Entre as exposições coletivas que participou destacam-se “Novíssimos”, Galeria IBEU, 2012, Rio de Janeiro; “Novas Aquisições”, 2010/ 2012, MAM – Rio, 2012 e “Sem Título #1 – Experiências de Pós-Morte”, Galeria Oscar Cruz, 2011, São Paulo. Em 2008, ganhou o 3º Prêmio do 1º Salão de Artes Visuais de Petrópolis e em 2010, foi premiado no XI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, com o projeto “O Transitório Fóssil”. Seus trabalhos integram coleções públicas e particulares. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.

 

De 05 de setembro a 06 de outubro.

Obra revisitada

Waltercio Caldas

A Fundação Iberê Camargo uniu-se ao Blanton Museum of Art para conceber a exposição “O Ar Mais Próximo e Outras Matérias”, lançando um olhar sobre a carreira de Waltercio Caldas e reunindo pela primeira vez as mais de quatro décadas de produção do artista. Walter Caldas é um dos mais importantes nomes da arte contemporânea brasileira com ressonância internacional. As instalações, esculturas, objetos e desenhos– com diversos trabalhos inéditos – serão exibidos sob a dupla curadoria de Gabriel Perez-Barreiro e Ursula Davila-Villa, curadora adjunta do Blanton Museum of Art. Em 2013, a mostra segue carreira na Pinacoteca do Estado de São Paulo e  após, será exibida na programação do Blanton Museum of Art, no Texas.

 

Até 18 de novembro.