Identidade artística de dois mundos.

09/set

“Re-localizando o Horizonte” inaugurou no Instituto Cervantes de São Paulo, SP. Trata-se de uma exposição coletiva com artistas da Argentina, Cuba, Chile e Brasil que celebra laços históricos, culturais e artísticos que uniram a Espanha à América Latina. Como destacou Gutiérrez Viñuales, catedrático em Arte Latino-americana no Departamento de História da Arte da Universidade de Granada, “a Espanha encontrou na América um espelho cultural onde se olhar e encontrar razões para sua própria identidade, enquanto que a América encontrou na tradição hispânica elementos plausíveis de serem revividos e entrelaçados com sua própria história, sua cultura e, portanto, sua arte, confirmando-se como um sustento da nacionalidade”.

A exposição “Re-localizando o Horizonte” celebra essas conexões, evidenciando como, ao longo do tempo, esses vínculos experimentaram tanto momentos de aproximação quanto de distanciamento. A mostra busca explorar a rica diversidade da arte latino-americana, ao mesmo tempo em que reflete sobre a influência mútua e as complexas relações que forjaram a identidade artística de ambos os mundos.

Curada por Mahara Martínez, a exposição coletiva apresenta uma seleção de obras de artistas latino-americanos que, através de diversos enfoques e meios, exploram a interseção entre a identidade cultural e as experiências pessoais. Os artistas Vero Murphy (Argentina), Mariana Tocornal (Chile), Larry Gonzalez (Cuba), Julia Retz (Brasil), Camila Bardehle (Chile), Nestor Arenas (Cuba), Evelyn Sosa (Cuba) e Renato Almeida (Brasil) oferecem, com suas obras, uma visão única que questiona e reinterpreta o ambiente natural e urbano a partir de uma perspectiva crítica e poética.

A exposição integra o projeto intitulado “Sentidos e sons de uma ilha”, que durante o mês de setembro incluirá eventos de música, exposições, palestras, literatura e cinema cubano.

Em cartaz até 05 de outubro.

A síntese da obra de Bob Wolfenson

05/set

A Galeria Mario Cohen, Jardim Europa, São Paulo, SP, apresenta em exibição a mostra “Instante Construído”, individual de Bob Wolfenson.

Ao longo de uma carreira, Bob Wolfenson, em mais de 50 anos se consolidou como um dos principais fotógrafos brasileiros. Transitando entre diversos gêneros, como fotografias autorais, retratos e editoriais de moda. Esta exposição apresenta uma síntese deste vasto percurso na fotografia.

Para J.R.Duran, que assina o texto crítico, “Bob Wolfenson sabe muito bem que a fotografia não é sobre a coisa fotografada; é sobre como aquela coisa aparece fotografada”. Nesta exposição, dentre o grande acervo de Bob Wolfenson, o foco está nas fotografias de moda. J. R. Duran também comenta que “As fotos de moda de Bob Wolfenson não saem de moda. É uma caraterística ímpar.” Para Bob Wolfenson, a fotografia de moda precisa de uma imersão, as sessões duram horas até chegar ao resultado esperado, a cena que se concretiza no que o artista chama de o “instante construído”.

German Lorca mestre da fotografia

26/ago

A exposição “German Lorca, Mestre da Fotografia” resgata a trajetória artística do fotógrafo, reconhecida nacional e internacionalmente. Exibindo desde os seus primeiros trabalhos como fotógrafo amador, em 1947, a mostra conta com cerca de 160 fotografias, além de câmeras e outros itens pessoais. Até 27 de outubro no MON, Museu Oscar Niemayer, Curitiba, PR.

Com curadoria de Adriana Rede e José Henrique Lorca, filho do fotógrafo, a exposição é organizada em oito núcleos que evidenciam o olhar afetivo do fotógrafo para o mundo. Ao longo de sua carreira, German Lorca experimentou diversas modalidades de fotografia, desde o analógico ao digital, sempre mantendo sua linguagem única nas cenas que registrou.

“German Lorca é simplesmente um dos maiores nomes da fotografia brasileira”, afirma a secretária de estado da Cultura do Paraná, Luciana Casagrande Pereira. “Nossa expectativa para esta exposição de Lorca no MON é de que ela será um marco para o Museu por conta da grandeza de sua trajetória, que merece ser vista, revista e conhecida pelo grande público aqui no Paraná”. Segundo a diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer, Juliana Vosnika, a mostra nos faz viajar no tempo e no espaço. “São imagens geniais que têm poesia, que tocam e inspiram, que permitem um diálogo silencioso com cada visitante”. Ela comenta que, “com essa exposição, o MON confirma sua vocação de, entre outras vertentes artísticas, colecionar e expor fotografias, levando-as até o imenso e interessado público espectador”.

Dividida em núcleos, a exposição compreende a retrospectiva de sua obra, incluindo desde seus primeiros trabalhos como fotógrafo amador, em 1947. São cerca de 160 fotografias, além de câmeras e outros itens pessoais. A mostra percorre a trajetória de Lorca como artista e profissional na fotografia, por mais de 70 anos, com excepcional dedicação, conquistando diversas premiações e reconhecimento, no Brasil e no exterior.  “Sua obra compõe um grande recorte da história da fotografia brasileira, acompanhando um novo movimento, uma nova forma de expressão fotográfica e o alvorecer de uma estética moderna na nossa fotografia brasileira”, informam os curadores.

Os oito núcleos que compõem a exposição são: “Lorca na coleção do MoMA”, “Primeiros tempos: Foto Cine Clube Bandeirante”, “Um olhar livre”, “E fez-se a cor”, “New York e seus personagens”, “A geometria das sombras”, “Sobreposição do tempo” e “O Mago dos Anúncios”.

Sobre o artista

German Lorca nasceu em São Paulo, SP (1922-2021) foi um dos poucos a vivenciar de modo pleno a fotografia, em suas mais diversas modalidades: de amador a profissional, do analógico ao digital, das câmeras aos smartphones. Com uma visão peculiar sobre os mais variados temas, estabeleceu sua linguagem de maneira única. Sua obra faz parte dos mais importantes acervos do mundo, como o do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), entre muitos outros. Sete de suas fotografias fazem parte da coleção permanente do Museu Oscar Niemeyer. No final dos anos 1940, Lorca afiliou-se ao Foto Cine Clube Bandeirante, em São Paulo, hoje objeto de estudo internacional por seu vanguardismo. “Quando a fotografia moderna toma impulso e vem revolucionar a cena brasileira, ele se destaca com seus cortes e enquadramentos, tanto na captura da foto quanto no ato da revelação”, esclarecem os curadores.  German Lorca passou por uma fase chamada “concreta”, em que explorou planos inusitados e ângulos diferenciados. Na fotografia publicitária, foi pioneiro. Incessantemente atrás de novidades, com audácia nas buscas cromáticas, nos ângulos ousados e nos temas irreverentes e provocativos, conquistou o mercado publicitário, que se iniciava no Brasil. Com trajetória reconhecida, nacional e mundialmente, nunca parou. Seguiu com seu olhar atento, formando gerações de fotógrafos que se inspiraram, não só em sua técnica, mas em seu jeito afetivo de olhar o mundo. “Sempre atemporal, seguiu fotografando até os últimos dias de sua vida extraordinária”, explica a curadoria.

Diálogo entre artes

23/ago

Art Lab Foto & Circuito Contemporâneo explora a fotografia e a arte do handmade em exposição coletiva. Curadoria de Juliana Mônaco une fotografia, joias e objetos de arte em diálogo com a história da arte e as transformações culturais.

A Art Lab Gallery, Vila Madalena, São Paulo, SP,  apresenta a exposição coletiva “Foto & Circuito Contemporâneo”, com a participação de 55 artistas, em uma homenagem ao Dia Mundial da Fotografia. A mostra reúne uma diversidade de expressões artísticas, destacando a fotografia como protagonista. A exposição celebra o poder da fotografia em capturar e refletir as transformações culturais, tecnológicas e sociais da contemporaneidade. Juliana Mônaco, em sua curadoria, selecionou uma variedade de obras que transita entre o tradicional e o inovador, desde registros documentais até experimentações abstratas, evidenciando a evolução da prática fotográfica ao longo do tempo, estabelecendo um paralelo com a história da arte e suas respostas às mudanças da sociedade.

O espaço dedicado à fotografia na mostra se torna um ambiente de diálogo intergeracional, onde novos talentos encontram-se com mestres consagrados, criando um circuito de troca e aprendizado contínuo. Essa pluralidade de olhares e técnicas oferece uma perspectiva abrangente do cenário fotográfico atual, refletindo as diversas maneiras como a fotografia continua a moldar e ser moldada pelo contexto cultural. Além da fotografia, a exposição também abre espaço para outras linguagens artísticas. Joias e obras de arte de suportes diversos como pintura, aquarela, criteriosamente selecionados, complementam a mostra. Esta integração reforça a proposta de Juliana Mônaco de expandir a compreensão da arte contemporânea, conectando diferentes práticas artísticas e oferecendo ao público uma experiência multifacetada.

“Foto & Circuito Contemporâneo” convida o espectador a explorar as interseções entre fotografia, design e arte, revelando as múltiplas possibilidades que emergem da interação entre essas disciplinas. A exposição reafirma o compromisso da Art Lab Gallery com a promoção de um circuito criativo dinâmico e inclusivo, que valoriza tanto o novo quanto o estabelecido, em um contínuo diálogo com a história da arte.

Foto & Circuito Contemporâneo

Curadoria: Juliana Mônaco

Artistas: Adriana Kling, Adriana Piraíno Sansiviero, Amanda Rigobeli, Arsenio Gallinaro Filho, Barrieu, Bernarda Ergueta, Bruno Góes, Carlos Sulian, Carol Lavoisier, Crys Rios, Dani Braido, DMs Tring Art, Emanuel Nunes, Evandro Oliveira, Felipe Manhães, Flavio Ardito, Gabi Castejon, GERMANO, Graça Tirelli, Gray Portela, GUS, Heitor Ponchio, Jorge Herrera, Juliana Rimenkis, Junior Aydar, Leo Fonteviva, Lena Emediato, Lidiane Macedo, Luciano Alarkon, Luh Abrão, Luiza Whitaker, Margareth Stewart, Maria Bertolini, Maria Eduarda Comas, Marina Nasser, Mari Kirk, Maurizio Catalucci, Pakatatu, Paola Lazzareschi, Patricia Falàbella, Rapha Mais, Rebeca Bedani, Ricardo Massolini, Ricárddo P. Pínto, Roger Mujica, Suzy Fukushima, Tomaz Favilla

Designers: Boreale, Liló, Marcelo Lopes, Sadhana Joias, Stella Abreu, Vivian Victor.

Abertura: 24 de agosto, sábado, das 16h às 18h

De 27 de agosto a 7 de setembro.

Mostra coletiva sobre o mar

16/ago

O Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ abre, no dia 21 de agosto, às 17h, a exposição coletiva “Tanto Mar”, com curadoria de Shannon Botelho. A mostra reúne 30 obras dos artistas Adriana Amaral, Ana Herter, Andrea Antonon, Andréa Brächer, Consuelo Veszaro, Erica Iassuda, Flavia Fabbriziani, Liliana Buzolin, Lourdes Colombo, Lucy Copstein, Marcia Rosa, Marilene Nacaratti, Rhyshy Soriani, Sandra Gonçalves, Simone Dutra, Simone Moraes, Tuca Chicalé Galvan e Vitória Kachar, que transitam entre pinturas, gravuras, fotografias, objetos, vídeo e esculturas.

Segundo o olhar do curador, o mar é um ponto de encontro entre o visível e o desconhecido, carregando em si o peso das histórias humanas. Ao longo dos séculos, foi palco de navegações que impulsionaram a colonização, mas também de despedidas e sofrimentos, especialmente para aqueles submetidos à escravidão e ao pensamento colonial. No contexto das grandes guerras e das crises migratórias atuais, o mar permanece como um símbolo de desafio, fuga e esperança, representando tanto a descoberta de novas realidades quanto a busca por salvação.

A exposição “Tanto Mar” é fruto de uma provocação que teve origem na leitura coletiva de “O conto da ilha desconhecida”, do escritor português José Saramago. As artistas envolvidas no projeto foram reunidas em grupos distintos e, ao longo do ano de 2023, encontraram-se mensalmente para compartilhar os avanços de seus trabalhos e discutir suas inquietações. A pergunta inicial, “Quanto mar há em você?”, guiou o processo criativo, levando cada uma das participantes a explorar suas próprias memórias e sensações ligadas ao mar.

“A resposta de cada uma das artistas é partilhada aqui como uma obra-reflexão, algo que evoque em cada visitante uma lembrança do mar, dos dias ensolarados da infância ou de um pôr do sol inesquecível. Importa que os momentos com o mar que trazemos conosco estão cravados em nós e, de certo modo, definem um pouco do que somos em nosso cotidiano”, afirma Shanon Botelho.

A obra de Roseno no CCBB Rio

A exposição “A.R.L. Vida e Obra”, do fotógrafo e pintor brasileiro Antônio Roseno de Lima (1926-1998), entra em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro no dia 04 de setembro. Com visitação gratuita, esta é uma oportunidade para o público conhecer a produção do artista outsider, natural de Alexandria, RN, que migrou para São Paulo e encontrou na arte a forma de se expressar.

Semianalfabeto e morador da periferia de Campinas, A.R.L., como decidiu assinar suas obras, afirmando sua identidade como um cidadão, foi descoberto no final da década de 1980 pelo artista plástico e professor doutor Geraldo Porto, do Instituto de Artes da Unicamp, que assina a curadoria da mostra. A exposição reúne mais de 90 obras, na sua grande maioria pinturas, principal suporte usado pelo artista. Há ainda à disposição do público três reproduções em 3D, facilitando a acessibilidade para pessoas com deficiência visual. A mostra, que já passou pelos CCBBs SP, BH e DF, fica no CCBB Rio até 28 de outubro, encerrando sua temporada.

O pintor tirou da sua própria realidade a inspiração para criar obras que são reflexo da mais pura e encantadora Art Brut, termo francês, criado por Jean Dubuffet, para designar a arte produzida livre da influência de estilos oficiais e imposições do mercado da arte, que muitas vezes utiliza materiais e técnicas inéditas e improváveis. Seus temas centrais foram autorretratos, onças, vacas, galos, bêbados, mulheres e presidentes. Apesar das condições precárias em que vivia na favela Três Marias, em Campinas (onde morou de 1962 até sua morte, em junho de 1998), Roseno expressava seus sonhos e observações do cotidiano através de suas pinturas, muitas vezes utilizando materiais improvisados encontrados no lixo: pedaços de latas, papelão, madeira e restos de esmalte sintético.

Quando encontrava algum desenho que fosse do seu gosto, recortava-o em latas de vários tamanhos para usar como modelo, além de usar outros materiais que encontrava pelo caminho, como a lã, mais disponível em épocas de frio. Seu barraco era sua tela, onde cores vibrantes e figuras contornadas em preto ganhavam vida, revelando uma poesia visual única. Nas obras, as diversas aspirações do artista são representadas, mas uma delas se repete em toda a sua arte: “Queria ser um passarinho para conhecer o mundo inteiro!”.

Mesmo sendo semianalfabeto, as palavras sempre fizeram parte de sua expressão poética, como signos herméticos, expostos respeitando a anterioridade das figuras e evidenciando desconhecimento das regras gramaticais. Amigos e crianças da favela o ajudavam com a leitura e as anotações em um caderno, que eram fotocopiadas para serem coladas na parte de trás dos quadros. Os bilhetinhos, carregados de informação com as mais diversas letras, avisavam sobre os materiais, processo de criação, execução, conservação da pintura e arrematavam: “Quem pegar esse desenho guarda com carinho. Pode lavar. Só não pode arranhar. Fica para filhos e netos. Tendo zelo, dura meio século”.

Impressionado pela singularidade da obra de Roseno, o curador conta que a primeira vez que viu seus quadros foi em uma exposição coletiva de artistas primitivistas no Centro de Convivência Cultural de Campinas, em 1988. “Naquele instante, tive a certeza de estar diante de um artista raro”. Ele acrescenta que o pintor já se destacava entre os demais. Depois de ganhar notoriedade , passou a ser “chamado pelos jornalistas de “pintor pop da favela”, – fazendo referência ao Pop Art, movimento norte-americano dos anos 1960 – porque seus quadros misturavam imagens, fotografias, propagandas e palavras como nos cartazes comerciais”, explica Geraldo Porto, acrescentando que Antônio Roseno desconhecia não somente este, como qualquer outro movimento artístico, mas queria ver o seu trabalho nos outdoors da cidade. Em 1991 Geraldo Porto fez a curadoria da primeira exposição individual de A.R.L., na galeria de arte contemporânea Casa Triângulo, de Ricardo Trevisan, em São Paulo. Logo após, uma televisão alemã fez uma matéria sobre Roseno, veiculada na Europa durante a Documenta de Kassel, uma das maiores e importantes exposições da arte contemporânea e da arte moderna internacional que ocorre a cada cinco anos na cidade de Kassel, na Alemanha

Roseno faleceu em 1998, quando uma boa parte de seus trabalhos já estava em coleções de arte no Brasil e no exterior. Infelizmente, outra grande parte foi descartada pelo caminhão da prefeitura, chamado pela família para limpar a casa. Assim como Arthur Bispo do Rosário, A.R.L. faz parte desses “artistas virgens” ou “outsiders”, autores dessa “arte incomum”. Para Geraldo Porto, Antônio Roseno “é sim um artista outsider, pela originalidade do seu processo criativo. Sua criatividade desconhecia limites entre fotografar, pintar ou escrever. Analfabeto, ele escrevia; fotógrafo, ele pintava; pintor, ele tecia. Pintava para não adoecer”. Ele retratava o cotidiano, coisas simples que o faziam feliz. “Perguntei-lhe por que pintava tantas vacas: “Porque eu gosto muito de leite”, ele me respondeu”.

Viagem Pitoresca pelo Brasil

13/ago

Nara Roesler São Paulo apresentará, a partir do dia 17 de agosto, a exposição “Viagem Pitoresca pelo Brasil”, com dezenove fotografias em grande formato, recentes e inéditas, de Cássio Vasconcellos, produzidas nos últimos três anos, em que faz uma homenagem às florestas brasileiras, resultado de incursões pelos vestígios de mata atlântica em São Paulo, Paraná, e Rio de Janeiro. Em cartaz até 12 de outubro.

No salão com pé direito duplo, um painel curvo, com doze metros de extensão por três de altura, com a imagem de uma figueira da mata gaúcha, dará um caráter imersivo para o público. A curadoria é de Ana Maria Belluzzo, crítica e pesquisadora, professora titular de Historia da Arte da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da Universidade de São Paulo. O evento integra o Circuito Jardim Europa, que acontecerá neste dia.

Para produzir cada fotografia, muitas vezes o artista leva um dia inteiro de buscas pela luz e pelo ângulo perfeitos. As imagens são então trabalhadas digitalmente em várias etapas e camadas, até obter o resultado desejado. “Em uma representação que lembra muito os artistas viajantes, como Thomas Ender e Rugendas, Cássio faz um trabalho requintado, em que mesmo em fotos panorâmicas é possível identificar cada um dos elementos, em um naturismo e detalhismo tais que por instantes há a dúvida se é fotografia ou gravura”, observa o pesquisador e curador Theo Monteiro.

Na abertura, no dia 17 de agosto, será lançado o livro “Cássio Vasconcellos – Viagem Pitoresca pelo Brasil” (Fotô Editorial, 2024), com 192 páginas, formato 32 x 23,5cm, e textos da curadora e pesquisadora Ângela Berlinde, do historiador Julio Bandeira e do botânico Ricardo Cardim.

O título da exposição faz referência aos primeiros registros conhecidos das florestas brasileiras, iniciados pelo aristocrata e arqueólogo francês Conde de Clarac (1777-1847), com seu desenho “Floresta Virgem do Brasil”, gravado em metal por Claude François Fortier (1775-1835), em 1822, referência para os chamados “artistas viajantes” do século 19, integrantes da Missão Artística Francesa, como Jean-Baptiste Debret (1768-1848), que ao voltar à França publicou “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil” (1834-1839).

O curador e pesquisador Theo Monteiro salienta que “é muito difícil fotografar mata fechada, e com o tratamento feito por Cássio ele consegue criar um tipo de representação que lembra muito o que os viajantes estrangeiros faziam – Clarac, Rugendas (1802-1858), Thomas Ender (1793-1875) – só que é fotografia”. “Com este tratamento muito requintado e elaborado, ficamos na dúvida por alguns instantes se é fotografia ou gravura, que é uma ideia da fotografia e da arte contemporânea: de que meio estamos falando? Até que ponto aquele meio é verídico ou não, se é real ou imaginário? Não é simplesmente uma releitura de um trabalho acadêmico. Tem um jeito de fazer um enquadramento no olhar que fica compreensível. Por mais panorâmico que seja o trabalho do Cássio, você consegue identificar cada um dos elementos. Tem um naturismo, um detalhismo. Não é simplesmente bater uma foto da mata”, afirma.

Cássio Vasconcellos ressalta: “Não tenho a preocupação de revisitar os locais feitos pelos artistas viajantes, e até nem seria possível, com a transformação havida na paisagem desde então”.

Para o público perceber este diálogo proposto pelo artista com os pintores viajantes, estarão na exposição reproduções em alta qualidade das obras “Fôret Vierge Du Brésil” (“Floresta Virgem do Brasil”),1822, buril, 68 x 87 cm, gravura em metal de Claude Francois Fortier a partir de desenho do Conde de Clarac; “Forêt Vierge (Le bords du Parahiba)” e “Valle da Serra do Mar” (“Chaine de Montagnes près de la Mer”), litografias de Charles Motte (1784-1836), a partir de desenhos de Jean-Baptiste Debret, presentes na edição de “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, Paris, Firmin Didot Frères, tomo I,1834.

Ana Maria Belluzzo, no texto que acompanha a exposição, destaca que “o artista apura valores inerentes à fotografia, acentua e transforma registros do real, que são interpretados com aplicação de recursos de edições digitais”. “A imagem ganha teor expressivo ao aparecer revestida de dimensões plásticas, gráficas, táteis”, observa. “Sob comando da escrita da luz, os raios luminosos emitidos pela vegetação chegam até nós. Vistas em contraluz introduzem o sujeito/observador no interior da mata. Em contrapartida, o desfoque do fundo das fotos e o aspecto turvo de entes vegetais, em destaque, tendem a recriar cenários enigmáticos, até fantásticos. Motivam sensações oníricas. A visão da natureza nos escapa. A irrealidade da paisagem também se insinua pela extrema limpidez de pormenores ampliados. Imagens nos transportam para um mundo fantástico, por vezes fantasmático”.

Vania Toledo – O Terceiro Olhar

01/ago

A Galeria Base, Jardim Paulista, São Paulo, SP, abre a exposição “O Terceiro Olhar”, uma homenagem à artista Vania Toledo, falecida em 2020. A mostra homônima foi apresentada em 2001 na Pinacoteca do Estado de São Paulo, com textos de Antonio Bivar (in memoriam), Emanoel Araújo (in memoriam) e Diógenes Moura. A Galeria Base tem o prazer de reeditar a citada exposição, tal qual a vontade da artista, segundo seu filho Juliano Toledo. Ao todo são 22 fotografias. A abertura será no dia 03 de agosto, sábado, das 12 às 15h, ficando em cartaz até 31 do mesmo mês.

No dizer do escritor e dramaturgo Antonio Bivar, amigo íntimo de Vania “Esta exposição é diferente de tudo que Vania Toledo já fez, mas absolutamente pertinente com tudo que ela tem feito, como artista e experimentalista, em sua carreira de fotógrafa.” E acrescentou “Dos seus trabalhos, este é um dos mais originais”. Pela primeira vez, em quase uma década de existência da galeria, uma individual será apresentada exclusivamente no andar superior do espaço, “o que se justifica pela potência e diálogos viscerais entre as obras”, afirma Daniel Maranhão, diretor da galeria.

“É um imenso prazer poder realizar tal mostra, algo só possível pela convergência de interesses entre a família da artista, a galeria e o conceituado escritor Diógenes Moura”, comemora Daniel Maranhão. No texto de Diógenes Moura, ele narra os muitos encontros que teve com a artista, cujas conversas culminaram na ideia de executar a série “O Terceiro Olhar”, vejamos, “Ela tudo olhou, sorriu com certeza, colocou os pesos sobre os papéis e, outra vez, o inesperado: seus pesos e leveza, as sombras, os contornos iluminados, as cores e transparências de um mundo suspirando dentro dos vidros pareciam terem sido pensados um para o outro. Como nos casos de amor que apenas a fotografia é capaz de imortalizar”.

Já segundo Emanoel Araújo, igualmente muito ligado a Vania Toledo e então diretor da Pinacoteca, durante a exposição ora em comento, “Linda ideia de ver unido o mundo de Vania ao mundo da Pinacoteca, através dos seus pesos de papel, alguns venezianos, outros franceses, possivelmente outros brasileiros. Não importa. Vania Toledo é Vania Toledo. E assim o tenho dito.”.

Dois artistas na Paulo Darzé Galeria

29/jul

A exposição “Trilha dos ossos”, exibição individual de Fábio Magalhães, terá sua mostra na Paulo Darzé Galeria, Salvador, BA, com abertura no dia 30 de julho e também promove a abertura da exposição “Num rastro de relâmpago”, do fotógrafo Aristides Alves. .

Construída em três atos, a mostra “Trilha dos ossos” propõe uma reflexão sobre o tempo e a complexidade da condição humana diante do devir, tentando compreender e lidar com uma realidade inevitável: o fim experiência humana. A mostra tem curadoria de Tereza de Arruda.

Sobre o artista

Fábio Magalhães nasceu em Tanque Novo, Bahia, em 1982. Vive e trabalha em Salvador. Ao longo da carreira, realizou exposições individuais, a primeira em 2008, na Galeria de Arte da Aliança Francesa, em Salvador. Na sequência, “Jogos de significados” (2009), na Galeria do Conselho; “O grande corpo” (2011), Prêmio Matilde Mattos/FUNCEB, na Galeria do Conselho, ambas em Salvador; e “Retratos íntimos” (2013), na Galeria Laura Marsiaj, no Rio de Janeiro. Foi selecionado para o projeto Rumos Itaú Cultural 2011/2013. Entre as mostras coletivas estão: “Convite à viagem” – Rumos Artes Visuais, Itaú Cultural, em São Paulo; “O fio do abismo” – Rumos Artes Visuais, em Belém (PA); “Territórios”, Sala Funarte, em Recife (PE); “Espelho refletido”, Centro Cultural Helio Oiticica, no Rio de Janeiro (RJ); “Paraconsistente”, no ICBA, em Salvador (BA); 60º Salão de Abril, em Fortaleza (CE); 63º Salão Paranaense, em Curitiba (PR); XV Salão da Bahia, em Salvador (BA); e I Bienal do Triângulo, em Uberlândia (MG), entre outras. Entre os prêmios que recebeu, destacam-se: Prêmio Funarte Arte Contemporânea – Sala Nordeste; Prêmio Aquisição e Prêmio Júri Popular no I Salão Semear de Arte Contemporânea, em Aracaju (SE); Prêmio Fundação Cultural do Estado, em Vitória da Conquista (BA), e Menção Especial em Jequié (BA).

“A cada dia que entro no meu espaço de produção artística, reafirma-se em mim que a Arte nos dá a capacidade de imaginar e interagir criticamente com o mundo em que vivemos.”

Fábio Magalhães

A Paulo Darzé Galeria também promove a abertura da exposição “Num rastro de relâmpago”, do fotógrafo Aristides Alves. As fotos constroem uma narrativa com base na memória pessoal e familiar, mas com uma perspectiva universal, compondo um arco que contempla desde o firmamento até o interior do próprio corpo, em diálogo constante com a impermanência e a efemeridade.

Sobre o artista

Aristides Alves nasceu em Belo Horizonte. Desde 1972 mora em Salvador, onde se formou em Jornalismo e Comunicação pela Universidade Federal da Bahia. Realizou a exposição coletiva Fotobahia (1978/1984); foi coordenador do Núcleo de Fotografia da Fundação Cultural do Estado da Bahia, produziu e editou o livro A fotografia na Bahia (1839/2006). Foi um dos fundadores da primeira agência baiana de fotografia, a ASA, e correspondente da agência paulista de fotojornalismo F4. Participou da diretoria executiva da Rede de Produtores Culturais de Fotografia no Brasil e do Fórum Baiano de Fotografia. Realizou diversas exposições individuais e participou de importantes coletivas no Brasil e no exterior. Atualmente realiza trabalhos autorais, projetos editoriais, curadoria e montagem de exposições. Tem 19 livros publicados, dedicados à investigação da paisagem humana e natural do Brasil. Suas imagens estão nos acervos de importantes instituições culturais brasileiras: MAM-Bahia, MAM-Rio de Janeiro, MASP-São Paulo, Museu Afro Brasil-São Paulo e Museu da Fotografia Cidade de Curitiba.

Celebrando a obra de Iberê Camargo

26/jul

Em setembro de 1984, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, inaugurou uma grande exposição em homenagem aos 70 anos de Iberê Camargo. Agora, além de retribuir  e celebrar as sete décadas do MARGS, “trajetórias e encontros” tem outros sentidos. A tragédia causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul ressoa no posicionamento público do artista, ligado a urgência de uma “consciência ecológica”. É pelo olhar dele que as duas instituições de memória, e enquanto sociedade, apelam a um compromisso definitivo com a preservação da arte e do meio ambiente

A Fundação Iberê Camargo e o Museu de Arte do Rio Grande do Sul inauguram a exposição “Iberê e o MARGS: trajetórias e encontros”. Com curadoria de Francisco Dalcol e Gustavo Possamai, a mostra em homenagem aos 70 anos do MARGS (27 de julho de 1954) apresenta 86 obras do artista pertencentes aos acervos das duas instituições e permanecerá em exibição até 24 de novembro. Aproximadamente 80% delas nunca foram expostas, especialmente desenhos – uma vez que as curadorias de Iberê tendem a focar nas pinturas -, juntamente com fotografias do artista, de modo a oferecer um percurso em segmentos, identificados conforme os textos que as acompanham.

O título da exposição foi inspirado em um dos mais importantes eventos no MARGS relacionados ao artista: a mostra “Iberê Camargo: trajetória e encontros”. Ela se deu no contexto das comemorações de seus 70 anos, que incluíram uma retrospectiva apresentada pelo próprio MARGS em 1984 e o lançamento do livro Iberê Camargo em 1985, considerado ainda hoje uma das mais completas publicações de referência sobre o artista. A retrospectiva ocorreu, simultaneamente, a quatro exposições individuais: em Porto Alegre, duas no Rio de Janeiro, e em São Paulo.

Nas décadas seguintes, Iberê ganhou mostras individuais, um livro monográfico, participou de inúmeras exposições coletivas e ministrou cursos. Teve também o ingresso de outras obras suas no acervo por meio de compra, transferência e doação, além de um espaço de guarda de parte de seu arquivo pessoal, o qual destinou à instituição em 1984. Foi também no MARGS que ocorreu sua despedida, com o velório público que teve lugar nas Pinacotecas, o espaço mais nobre e solene do Museu. Iberê Camargo é o artista que mais expôs no MARGS. Até o momento, foram mapeadas sete exposições individuais e mais de cem coletivas. Gustavo Possamai, responsável pela obra do artista na Fundação Iberê Camargo, lembra que aquela exposição reuniu o maior conjunto de obras de Iberê Camargo até então: “Foi um marco na trajetória de Iberê que, com mais de 40 anos de trabalho, ainda produzia em jornadas que chegavam a somar 12 horas ininterruptas pintando em pé.” A organização de uma exposição durante a maior catástrofe ambiental no estado, além de trazer novos sentidos a esta exposição, o trágico contexto do Rio Grande do Sul ressoa no posicionamento público de Iberê, um crítico ferrenho dos governantes pelo descuido irresponsável com a natureza. Agora abriga simbolicamente, como um lar temporário, parte do acervo do MARGS que foi fortemente afetado pelas enchentes.

“Comungamos do entendimento de que seria impossível a exposição se dar em uma espécie de vácuo factual e histórico, compreendendo que não poderia estar alheia à situação e ao momento em que nos encontramos. Assim, a exposição também permite “olharmos” para tudo isso através das “lentes” de Iberê, considerando que notoriamente sempre criticou duramente a falta de cuidado com a natureza, frente aos processos de dominação e destruição do meio ambiente e mesmo das cidades perpetrados pelo homem. Esperamos que os apelos que Iberê fazia à necessidade de consciência ecológica, muito antes dessa tragédia toda acontecer no Rio Grande do Sul, possam agora se renovar encontrando ainda maior ressonância hoje, face aos acontecimentos. Enquanto ainda haja tempo de agirmos para projetar alguma esperança de um futuro para esta e as próximas gerações que assuma maior responsabilidade e compromisso com o cuidado pela preservação da natureza e pelo meio ambiente”, diz Francisco Dalcol.

Sobre os acervos

O acervo da Fundação Iberê Camargo é composto, em sua grande maioria, pelo fundo Maria Coussirat Camargo, a viúva do artista. São mais de 20 mil itens doados por ela, além de mais de 10 mil incorporados após seu falecimento, ainda não processados. Iberê recebia correspondências quase diariamente e mantinha cópias das que enviava.

“O casal fotografou e catalogou a maioria das obras produzidas por ele, além de reunir uma extensa quantidade de materiais, como entrevistas, críticas e notas, praticamente tudo o que se referia a Iberê na imprensa. Os amigos tiveram um papel fundamental nessa compilação, contribuindo com materiais publicados no exterior e de norte a sul do Brasil. Tome-se a biblioteca de Iberê: ela foi verdadeiramente fundida com a biblioteca de Dona Maria, a ponto de ser difícil determinar quem adquiriu ou leu determinado livro, inclusive os mais técnicos, pois ambos os consultavam. Os documentos cobrem toda a trajetória artística de Iberê, incluindo aspectos de sua vida doméstica, desde agendas para a manutenção da casa até carteirinhas de vacinação dos gatos acompanhadas de receitas para dietas felinas”, recorda Ricardo Possamai.

Já o Acervo Artístico do MARGS possui 75 obras do artista, adquiridas a partir de 1955, no ano seguinte à sua criação, por meio de compra, doação e transferência entre instituições do Estado. O conjunto contempla seis pinturas a óleo, além de obras em papel (gravura e desenho). O Acervo Documental do Museu conta com uma extensa documentação sobre o artista, reunindo jornais, revistas, publicações, textos, documentos, fotografias, correspondências, convites e catálogos de exposições. Esse conjunto inclui, em grande parte, os arquivos pessoais que o próprio Iberê destinou ao MARGS, em 1984, para fins de guarda, preservação e disponibilização para pesquisa, aos quais se somam documentos colecionados pelo Museu ao longo de 70 anos até aqui.