Uma novidade para Salvador

21/dez

É com muita alegria que anunciamos a chegada da Galatea na cidade de Salvador! Em busca de ampliar o nosso público e as nossas conexões para além do eixo Rio-São Paulo, será inaugurada no dia 31 de janeiro de 2024 a nossa nova sede na Rua Chile, no centro histórico da capital baiana. Primeiro logradouro do Brasil, a rua se situa entre a Praça Castro Alves e o Elevador Lacerda. Entre as diversas construções emblemáticas que a rua abriga está o Edifício Bráulio Xavier, cujo térreo passa a ser ocupado pela Galatea. O edifício modernista é famoso por ter em sua lateral o mural intitulado A colonização do Brasil, feito pelo artista Carybé em 1964.

Para a inauguração realizaremos uma grande exposição coletiva reunindo, além de artistas representados pela galeria, como o pernambucano Aislan Pankararu, o baiano José Adário e o pernambucano radicado na Paraíba Miguel dos Santos, outros nomes de diversas áreas do Nordeste.

A reforma do espaço é assinada pelo Estúdio Anagrama. Sediado em Salvador, o estúdio se volta para a restauração e renovação de construções históricas e para a produção de arquiteturas, mobiliários e objetos com o olhar atento ao reuso.​

A chegada da galeria se alinha a um momento em que o centro histórico de Salvador recebe diversas iniciativas de restauração dos seus edifícios e de recuperação da sua vida turística e cultural. Além disso, a cidade como um todo vem acolhendo novas iniciativas e projetos no âmbito das artes visuais, como a criação do MAC – Museu de Arte Contemporânea, inaugurado em setembro; a reabertura do MUNCAB – Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira; a abertura de uma nova sede da Pivô em um casarão histórico no Boulevard Suiço; entre outros.

Estamos muito animados para começar 2024 embarcando nessa nova aventura!

 

Inauguração de uma plataforma tranversal

13/dez

O Arte Clube Jacarandá e a Lagoa Aventuras convidam para a abertura, no dia 16 de dezembro, às 11h, para a exposição “Corpo Botânico”, com curadoria do artista Vicente de Mello, que inaugura a sede do Arte Clube Jacarandá no Parque da Catacumba, na Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro, RJ. 

Na ocasião, será apresentado o projeto arquitetônico de Zanini de Zanine e Pedro Coimbra, para a construção em 2024 da sede do Arte Clube Jacarandá para os próximos 25 anos, em parceria com a Lagoa Aventuras, concessionária do Parque da Catacumba desde 2009. O Arte Clube Jacarandá é uma plataforma transversal para exposições, reflexões e publicações, que congrega artistas visuais diversos, criado em 2014, sob a sombra da mangueira do ateliê de Carlos Vergara.

Até a construção da sede permanente no local, o Arte Clube Jacarandá ocupará com exposições temporárias o Pavilhão Victor Brecheret. Os artistas com obras em “Corpo Botânico” são: Aderbal Ashogun, Adriana Varejão, Afonso Tostes, Ana Bia Silva, Ana Kemper, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Antonio Manuel, Arjan Martins, Ayla Tavares, Barrão, Beth Jobim, Brígida Baltar, Cabelo, Carlos Vergara, Dayse Xavier, Deborah Engel, Denilson Baniwa, Everardo Miranda, Fernanda Gomes, Fessal, Gabriela Machado, Getúlio Damado, Herbert De Paz, Jacques Jesion, Joelington Rios, José Bechara, Luiz Zerbini, Luiza Macedo, Lynn Court, Mãe Celina de Xangô, Manauara Clandestina, Marcela Cantuária, Marcos Chaves, Maria Laet, Maria Nepomuceno, Mariana Manhães, Moara Tupinambá, Mulambö, Nathan Braga, Opavivará, Oskar Metsavaht, Paulo Vivacqua, Rafael Adorján, Raul Mourão, Rosana Palazyan, Siri, Tadáskía, Victor Arruda, Vitória Taborda, Waltercio Caldas e Xadalu Tupã Jekupé.

 

Arte abstrata brasileira

 

Em comemoração aos 70 anos da primeira exposição de arte abstrata feita no Brasil, a Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “Abstrações Utópicas”, com aproximadamente 80 obras de mais de 50 importantes artistas, que exploraram o universo da abstração e criaram as bases desta vertente artística, presente até hoje em nosso cenário cultural, e berço da arte contemporânea brasileira. Com curadoria de Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto, com consultoria de Anna Bella Geiger, que além de ter participado da exposição de 1953, no Quitandinha, em Petrópolis, também é autora junto com Fernando Cocchiaralle do livro-referência sobre o assunto.

Atuante aos 90 anos, Anna Bella Geiger ganhará uma mostra especial, inaugurando o segundo andar do pavilhão recém-construído atrás da casa principal na Danielian Galeria, onde estarão telas e “Macios”, em que vem desenvolvendo suas experiências no campo da pintura nos últimos 30 anos.

Entre os artistas da vertente abstração geométrica estão os que integraram nos anos 1950 os grupos Ruptura, de São Paulo, Frente e o movimento Neoconcreto, do Rio de Janeiro, como Ivan Serpa, Lygia Clark, Lygia Pape, Hélio Oiticica, Décio Vieira, Aluísio Carvão, Franz Weissmann e Abraham Palatnik (Rio), e Geraldo de Barros, Hermelindo Fiaminghi, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto (São Paulo). Dos artistas informais estarão presentes obras de Antonio Bandeira, Iberê Camargo, Fayga Ostrower, Manabu Mabe, Maria Polo, Frans Krajcberg, Flávio Shiró e Glauco Rodrigues, entre muitos outros.

Um Diálogo Artístico Inovador

08/dez

 

 A NONADA ZN, encerrando sua agenda expositiva de 2023, exibe duas mostras distintas que convergem em um espaço de exploração artística único. A exposição coletiva “Caos Primordial”, sob curadoria de Carolina Carreteiro, e a individual “Nada mais disse”, de Raphael Medeiros, estarão em exibição nas três salas expositivas e no Galpão, respectivamente, no térreo da fábrica da Penha, Rio de Janeiro.

“Caos Primordial” é uma exposição coletiva que reúne mais de 40 artistas notáveis, cada um contribuindo para uma narrativa coletiva que se desdobra sob o novo paradigma estético apresentado por Félix Guattari em “Caosmose”. As cerca de 80 obras, entre pintura, escultura, instalação, fotografia e vídeo arte, são assinadas por nomes como Alexandre Canônico, Allan Pinheiro, Amorí, Ana Matheus Abbade, André Barion, Andy Villela, Anna Bella Geiger, Bruno Alves, Bruno Novelli, Camila Lacerda, Chacha Barja, Cipriano, Daniel Mello, David Zink Yi, Ernesto Neto, Fabíola Trinca, Iah Bahia, Lucas Almeida, Luisa Brandelli, Mariano Barone, Marta Supernova, Melissa de Oliveira, Miguel Afa, Nati Canto, Olav Alexander, R. Trompaz, Rafael D’Aló, Rafael Plaisant, Raphael Medeiros, Rena Machado, Richard Serra, Rubens Gerchman, Samara Paiva, Siwaju, Tatiana Dalla Bona, Thiago Rocha Pitta, Tiago Carneiro da Cunha, Túlio Costa,Tunga, Varone e Zé Bezerra que participam deste diálogo artístico sob uma curadoria perspicaz. A abstração radical emerge como uma ruptura profunda com as tradicionais concepções de arte e pensamento, baseadas no paradigma da separação. Esta mesma abstração convida-nos a explorar as dobras entre o caos e a ordem, transformando a estética em um terreno de experimentação que desafia categorias pré-estabelecidas. A curadora Carolina Carreteiro destaca que, “…sob essa perspectiva, a estética se torna uma ferramenta para experimentação e pesquisa, transcendendo os limites da compreensão convencional e criando a partir do próprio caos criativo. “Caos Primordial” é um evento multifacetado, representando uma abordagem diversificada e inovadora no cenário artístico contemporâneo”.

 

“Nada mais disse” de Raphael Medeiros

No Galpão da NONADA ZN, em exibição “Nada mais disse”, a primeira exposição individual de Raphael Medeiros. Este trabalho híbrido transcende as definições convencionais de um filme, apresentando uma instalação cinematográfica composta por pinturas, esculturas e um roteiro. Medeiros faz anotações sobre a linguagem do cinema para além da moldura do plano, convidando os espectadores a explorar a linguagem cinematográfica em sua totalidade. 

Obs: Para uma experiência ideal, recomenda-se visitar o Galpão ao anoitecer, quando a condição de luz oferece a atmosfera perfeita para apreciar a instalação em toda a sua profundidade.

 

A galeria

NONADA, um neologismo que remete ao não lugar e a não existência, também abre “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa e a união desses conceitos representa o pensamento basilar desse projeto. Como o próprio significado de NONADA diz, ela surge com o intuito de suprir lacunas momentâneas ou permanentes acerca de um novo conceito. A galeria, inclusiva e não sectária, enquanto agente promotor de encontros e descobertas com anseio pela experimentação, ilustra possibilidades de distanciar-se de rótulos enquanto amplia diálogos. “NONADA é um híbrido que pesquisa, acolhe, expõe e dialoga. Deixa de ser nada e passa a ser essência por acreditar que o mundo precisa de arte… e arte por si só já é lugar”, definem João Paulo, Ludwig, Luiz e Paulo. A NONADA mostrou-se necessária após a constatação, por seus criadores, da imensa quantidade de trabalhos de boa qualidade de artistas estranhos aos circuitos formais e que trabalham com os temas do hoje, sem receio nem temor em abordar temas políticos, identitários, de gênero ou qualquer outro assunto que esteja na agenda do dia; que seja importante no hoje. “Queremos apresentar de forma plural novos talentos, visões e força criativa”. O processo de maturação do projeto da NONADA foi orgânico e plural pois “abrangeu desde nossa experiência como também indicações de artistas, curadores, e de buscas onde fosse possível achar o que aguardava para ser descoberto”, diz Paulo Azeco. 

 

As formas expansivas de Diambe

A Simões de Assis, São Paulo, Curitiba, anuncia a representação de Diambe (Rio de Janeiro, 1993). Sua prática expande as noções de coreografia e escultura, desdobrando em instalações que também incorporam pinturas, filmes, têxteis e performances. Diambe explora possibilidades fabulativas de novos seres, elevando aspectos estéticos e ornamentais da natureza. Trata da materialidade ao lidar com o bronze e com formas reconhecíveis de povos diaspóricos, agora em novos arranjos, mimetizando outros seres ou criando novos integrantes de seu ambiente criado. Seu trabalho faz parte de relevantes coleções particulares e figura no acervo de importantes instituições, como: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte do Rio (MAR), entre outros.  

 

Joias em reflexão sobre a terra

17/nov

Casulo Escola de Joalheria e M.O.A. Estúdio, Pinheiros, São Paulo, SP, expõe “OQUEVEMDATERRA”, uma mostra coletiva com a presença do artista plástico Marcus Moa e 13 artistas joalheiros exibindo, aproximadamente, 200 trabalhos autorais de refinada técnica criativa e construtiva. Esta exposição, que celebra a estreita relação entre a humanidade e a natureza, tem vernissage agendado para 21 de novembro, terça-feira, às 18 horas, ficando aberta à visitação até 26 de novembro.

“OQUEVEMDATERRA” explora a criatividade de seus artistas, utilizando técnicas inventivas além de conceitos autorais para transmitir suas reflexões sobre a terra, os rios, os minerais, a vida e o conceito primeiro de sustentabilidade.

“A terra, em sua superfície sólida da crosta terrestre onde pisamos, é muito mais do que um mero suporte físico – é a base de nossa existência, um organismo vivo que nutre, sustenta e inspira”, diz Marília Arruda Botelho. Os artistas joalheiros – Adriana Bellinello, Ana Lucia A.G. Marino, Darlene Zambotti, Daniela Rosa, Esperança Leria, Fernanda Colucci, Jacque Basso, João Victor Lioi, Julia Marques, Maria Regina Mazza, Marília Arruda Botelho, Valeria Navarro e Viviana Terra – exploram as complexidades dessa conexão de forma diversa e expressiva. As peças, com conceito e manufatura individual e artesanal, oferecem uma ampla variedade de abordagens artísticas, incluindo serigrafia e jóias, proporcionando a cada um, uma reflexão profunda sobre seu papel na preservação do elemento vital. “OQUEVEMDATERRA” se mostra como um indicador aos visitantes para que comecem a considerar a forma como as consequências de suas ações, tanto individuais como coletivas, podem afetar o meio ambiente, servindo como um lembrete de que somos os únicos responsáveis por cuidar do planeta. Pedras, metais e demais insumos utilizados tanto na confecção das peças como nas obras de arte são certificados e/ou reciclados.

Em participação especial, o trabalho do artista Marcus Moa, cuja inspiração provém da arquitetura brasileira das décadas de 1950 a 1970, bem como de seus elementos constituintes, desde a parte construtiva até o paisagismo. O M.O.A. Estúdio cria projetos utilizando-se da técnica de serigrafia para imprimir suas obras autorais, com materiais de baixo impacto ambiental. Entre suas referências estão mestres renomados como Vilanova Artigas, Oscar Niemeyer, Burle Marx e Athos Bulcão. “OQUEVEMDATERRA” é um tributo à arte, à joalheria e ao planeta com expografia e direção de arte assinadas pela artista e publicitária Patricia Sper, e cenografia botânica de Paulo Sabiá. “A CASULO Escola de Joalheria e M.O.A. Estúdio convidam todos aqueles que se predispõem a inspirar ação, conscientização e um compromisso renovado com o respeito à proteção do nosso planeta”, diz Moa.

O Carnaval no IBEU

Carlos Vergara, um dos expoentes da história da arte brasileira, é o convidado para celebrar a retomada das atividades da Galeria de Arte IBEU, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ. O artista inaugurou a exposição individual “Devassos no Paraíso”, com curadoria de Ulisses Carrilho. Na exposição, o público conhecerá uma série de fotografias produzidas durante a década de 1970, além de pinturas e monotipias recentes relacionadas ao tema do Carnaval do Rio de Janeiro.

A mostra permanecerá em cartaz até 09 de fevereiro de 2024.

Homenageando Emanoel Araujo

14/nov

A Simões de Assis, Jardins, São Paulo, SP, inaugurou a mais recente exposição individual de Emanoel Araujo (Santo Amaro da Purificação, 1940).  Com texto do professor, pesquisador, artista e amigo de longa data de Emanoel Araujo, George Nelson Preston, essa será a primeira mostra após o falecimento do artista em 2022. Em “Afrominimalismo”, vemos sua produção de relevos brancos, alguns inéditos, em que se pode reconhecer uma conexão entre sua visão africanista e universalista. Esses trabalhos congregam a síntese formal do pensamento de Emanoel Araujo quanto à abstração geométrica, estabelecendo também um íntimo diálogo com a instalação do artista na 35ª Bienal de São Paulo. Em cartaz até 16 de deaembro.

OS RELEVOS BRANCOS DE EMANOEL ARAUJO

Relações entre os nexos de causalidade de um visionário africanista/universalista

Prólogo

Nesta exposição em que os relevos brancos de Emanoel Araujo são o foco, reconhecemos um nexo da sua visão africanista e universalista. Em “Emanoel Araujo: Afrominimalista Brasileiro”, propus um cânone do formalismo africano como a principal estética que norteou seu trabalho. Aqui, gostaria de revisitar brevemente essa proposição e atualizá-la. Consideremos também o neoconcretismo brasileiro, o minimalismo, o relevo como meio clássico antigo e o cânone têxtil africano. Se essa mistura parece anômala, consideremos o fato de que, desde o início de sua carreira, Araujo teve um temperamento enciclopédico e considerável interesse pelos relevos greco-romanos, pelo barroco e rococó brasileiros e pela história da arte em geral. Pertinente à nossa discussão aqui é o seu interesse pelos relevos clássicos e tecidos africanos, que têm muito em comum com os cânones gerais da escultura clássica africana.

Estamos habituados a ver antigos relevos gregos e romanos e os seus estilos reavivados em mármore branco, esquecendo-nos de que o tempo corroeu a policromia original. A este respeito, o clima seco foi mais favorável aos relevos egípcios. Os reavivamentos neoclássicos – nos quais o imaculado mármore branco era o suporte – afetam ainda mais nossas percepções. Nos relevos coloridos e nas esculturas de Emanoel, esse drama é representado em tons primários que se refratam em seus próprios tons e matizes.

A ausência de cor nos relevos brancos de Araujo resulta nas sutilezas e na dramaticidade da luz que performa uma escala de cinza – indo do branco, passando pelos cinzas intermediários, até voltar ao branco. Ao visualizar suas peças brancas, os relevos coloridos se tornam uma “película” onipresente em nossa experiência. A nossa experiência é “colorida” da mesma maneira quando nossa imaginação preenche a policromia perdida dos relevos greco-romanos.

A Corrente

No início da década de 1970, o cenário estava sendo montado para uma síntese das inspirações e influências de Araujo. Suas gravuras de formas mínimas feitas em grande escala, evocativas dos têxteis africanos, foram transformadas quando ele dobrou o papel das impressões em forma de máscara e as enrolou a partir da superfície, ocupando as três dimensões. Essas “Gravuras de armar” (1972) foram “o encaminhamento do artista em direção ao tridimentional”.

Devemos considerar também a afinidade dessas gravuras com o neoconcretismo brasileiro do final da década de 1950 e início da década de 1960, talvez, em particular, com a obra de Lygia Clark e de Hélio Oiticica. Nessa exposição, a conversa com o neoconcretismo brasileiro e as formas geométricas bidimensionais das primeiras gravuras podem ser apreciadas nas obras sem título de 2019.

Universalidade e o Cânone Africano

Em 1976 e 1987, e em ocasiões subsequentes, Araujo visitou o Benin e a Nigéria. Os oráculos de seus ancestrais nagô-iorubá haviam-no chamado. Em 1987, não poderia ter conhecido Emanoel Araujo de forma mais oportuna. Isso resultou na publicação de “Emanoel Araujo: Afrominimalista Brasileiro” – meu catálogo para a retrospectiva de dez anos do artista no MASP4.

Aqui estava um suposto minimalista “infectando” flagrantemente o estrito cânone minimalista com inflexões narrativas, culturais e históricas: daí o termo “afrominimalista”.

À época, eu havia identificado vários reflexos da estética africana na obra de Araujo no catálogo do MASP, como a tensão entre um eixo implícito e um eixo real, a repetição rítmica de formas primárias ou mínimas, e a repetição dessas formas interrompidas por surpresas formais, inversões como fugas e motivos pars pro toto – em que uma parte saliente de um objeto representa sua totalidade. O ambiente afro e ameríndio baiano, o barroco e o rococó brasileiros, o concretismo e o minimalismo formam uma corrente interligada. Em 1977, do Prado Valladares descreveu Araujo como um humanista “artista do mundo do conhecimento”. Isto é, não um “investigador de símbolos” paroquial ensinando sobre África. A partir disto, podemos concordar que Araujo projeta seus africanismos como uma linguagem universal em que a iconografia é secundária ao poder emocional e psicológico de um formalismo convincente que desperta em nós a “meta” da iluminação.

Envoi

Quatro níveis de relevo são empregados desde os tempos antigos. São relevos baixos, médios, altos e afundados. O relevo afundado, no qual não há projeção da forma para fora, mas é esculpido abaixo ou no espaço pictórico, é extremamente raro. Em vários relevos brancos, este plano afundado – que é a parede atrás – ganha uma curiosa presença de alteridade palatável. Essa manipulação dos vazios não é de forma alguma recente, sendo um tema recorrente desde a transição de Araujo, no início dos anos setenta, do figurativo para o abstrato.

Para este escritor, é de particular interesse o enorme relevo branco da mostra. É o contraste ou, melhor dizendo, o diálogo entre as suas grandes dimensões e o baixo relevo uniforme que vibra entre ser um enorme repousé e uma gigantesca peça de tecido africano. Penso que este relevo é uma homenagem à criatividade dos pigmeus Twa que vivem entre os povos Kuba , no centro da República Democrática do Congo.

Ainda mais enigmáticas são as obras “Totem angulares vazados” (2015) e sua companheira sem título. Essas obras não são relevos nem esculturas independentes. São estelas – outra forma antiga… São estelas devido à sua esmagadora frontalidade. E combinam aspectos de baixo, alto e médio relevos fluindo entre si. Num intrigante tour de force, como se fosse um léger de main xamânico, o espaço negativo das estelas funciona como o vácuo dos relevos afundados. Na minha imaginação, despejo os rios sinuosos do Brasil nesse vazio, “desdobrando” águas sinuosas na geometria dos têxteis africanos.

George Nelson Preston, PhD, Professor Emérito, CCNY/CUNY – Acadêmico da Cadeira Pierre Verger, Academia Brasileira de Belas Artes, Rio de Janeiro.

Laura González: Nova Consultora

13/nov

É com grande entusiasmo que a Galatea anuncia que Laura González passa a colaborar como Consultora de Desenvolvimento do Programa Internacional, ajudando a expandir os horizontes de nossos artistas e projetos.

Laura é historiadora da arte, consultora e estrategista cultural baseada em Londres. Ela é co-fundadora da themust.co: uma nova plataforma de e-commerce que vende objetos funcionais criados por artistas, utilizando moda e design como oportunidades para cultivar novas comunidades de colecionadores e apoiadores de arte.

Desde 2015, atua como consultora privada e curadora de coleções de arte moderna e contemporânea na América Latina, Europa e Estados Unidos. De 2011 a 2015, co-fundou e dirigiu o departamento de Arte Latino-Americana na Phillips em Nova York, amplamente reconhecido por expandir no mercado internacional o alcance de artistas conceituais e abstratos da região.

Nascida e criada em San Juan, Porto Rico, Laura possui bacharelado em História da Arte pela Universidade de Yale e mestrado pelo Courtauld Institute. Durante seus estudos em Yale, voltou-se para o modernismo da Europa Ocidental enquanto trabalhava como curadora bolsista na galeria de arte da universidade. No Courtauld Institute, se especializou em práticas experimentais na arte latino-americana e do leste europeu a partir dos anos 1950 até o presente, escrevendo sobre os desafios que essas perspectivas trazem para abordagens críticas tradicionais.

Conversa com artistas

Na próxima quinta-feira, dia 16 de novembro, às 19h, será realizada, na Galeria Athena, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, uma conversa, gratuita e aberta ao público, entre o artista Jonas Arrabal, a curadora Fernanda Lopes e a artista Julia Arbex em torno da exposição “Ensaio sobre uma duna”, individual de Jonas Arrabal, que pode ser vista até o dia 02 de dezembro na galeria.

A mostra apresenta trabalhos inéditos, em diversas mídias, reunidos em conjunto, como uma grande instalação pensada especialmente para ocupar a Sala Casa da Galeria Athena. Bronze, sal, chumbo, betume e resíduos orgânicos são alguns exemplos de materiais utilizados pelo artista nos últimos anos, traduzidos aqui entre objetos e desenhos. Em sua pesquisa poética há um interesse particular sobre o tempo e a memória, numa aproximação com a ecologia, meio ambiente e a história, propondo uma reflexão sobre a transformação constante das coisas, dos lugares e como isso nos afeta e nos permite novas percepções.

“Em seus trabalhos há uma operação que transita entre a invisibilidade e a visibilidade, transições e apagamentos concretos (conscientes ou não) numa aproximação com elementos da natureza, opondo materiais industriais com orgânicos, propondo novas mutações”, diz a curadora Fernanda Lopes.

A mostra é apresentada paralelamente à exposição “O que há de música em você”, que traz edições únicas das icônicas obras “Relevo Espacial, 1959/1986″ e “Parangolé P4 Capa 1, 1964/1986″, de Hélio Oiticica.

Sobre o artista

Jonas Arrabal, Cabo Frio (1984). Vive e trabalha em São Paulo. É artista visual, graduado em Teatro pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e mestre em Artes Visuais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Começou sua produção em 2012 em diferentes linguagens, como vídeo, instalação e a escultura, em diálogo com o teatro, o cinema e a literatura. Em seus trabalhos há uma operação que transita entre a invisibilidade e a visibilidade, transições e apagamentos concretos (conscientes ou não) numa aproximação com elementos da natureza, opondo materiais industriais com orgânicos, propondo novas mutações. Há um interesse particular sobre o tempo e a memória, numa aproximação com a ecologia, meio ambiente e a história, propondo uma reflexão sobre a transformação constante das coisas, como isso nos afeta e nos permite novas percepções. Participou de exposições como 10ª Bienal do Mercosul, 1ª Trienal de Artes, The Sun teaches us that history is not everthing (Hong Kong, 2018), Os Vivos e o Mortos (Paço Imperial, 2019) e diversas coletivas e individuais em galerias e instituições no Brasil e no exterior. Em 2016 publicou Derivadores (com Luiza Baldan) pela AUTOMATICA e em 2021 foi indicado para o Prêmio PIPA.

Sobre a curadora

Fernanda Lopes é curadora e pesquisadora, doutora em História e Crítica de Arte pela UFRJ. Trabalhou como curadora adjunta do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2016-2020), e curadora associada em Artes Visuais do Centro Cultural São Paulo (2010-1012). Publicou os livros “Éramos o time do Rei” – A Experiência Rex (Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, Funarte, 2006); Área Experimental: Lugar, Espaço e Dimensão do Experimental na Arte Brasileira dos Anos 1970 (Bolsa de Estímulo à Produção Crítica, Minc/Funarte, 2012)  e Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite (Tamanduá-Arte, 2016 – organizado com Aristóteles A. Predebon), além de diversos ensaios e artigos, especialmente sobre arte brasileira. Entre as curadorias que vem realizando desde 2008 está a Sala Especial do Grupo Rex na 29ª Bienal de São Paulo (2010) e a curadoria adjunta da exposição Maria Martins: Desejo Imaginante no MASP (2021) e na Casa Roberto Marinho (2022). Em 2017 recebeu, ao lado de Fernando Cocchiarale, o Prêmio Maria Eugênia Franco da Associação Brasileira dos Críticos de Arte 2016 pela curadoria da exposição Em Polvorosa – Um panorama das coleções MAM-Rio. Atualmente é Diretora Artística da galeria Athena (RJ) e colaboradora do Atelier Sanitário (RJ) e do Instituto Pintora Djanira (RJ).

Sobre a artista

Julia Arbex é artista, doutoranda em Artes Visuais na UFMG e mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense. Vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Indicada ao Prêmio Pipa em 2023. Participou das exposições Salón Acme (Mexico 2023); The Silence of Tired Tongues (Framer Framed, Amsterdam 2022); Sol a Sol (ArtFasam, SP 2022); Drawing box Pop Up Show, (India; Irlanda e Estados Unidos, 2022); Mirantes (Galeria Anita Schwartz, RJ 2021); Até onde a vista alcança (Galeria Athena, Rio de Janeiro 2020).