Homenageando Esmeraldo

15/set

 

 

Sérvulo Esmeraldo foi artista plural que explorou, ao longo de sua carreira, as diversas linguagens plásticas, sendo considerado escultor, gravador, ilustrador e pintor. Para homenagear seu legado, a Pinakotheke São Paulo abriu, dia 13 de setembro, a exposição “Sérvulo Esmeraldo 1929-2017”.

 

 

No espaço estarão reunidas pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, objetos e excitáveis criados pelo artista cearense durante o período, com curadoria assinada por Hans-Michael Herzog. A exposição seguirá aberta para visitação até o dia 16 de outubro.

 

Alice Shintani, Mata À VENDA

 

 

 

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, anuncia “Mata À VENDA”, proposição imersiva de Alice Shintani que surge como um desdobramento de “Mata”, série de guaches em papel que integra a Bienal de São Paulo, Faz Escuro Mas Eu Canto.

 

 

“Mata À VENDA” é composta por dezessete pinturas em grande formato que atravessam as instalações físicas da galeria, entre quinas, portas, colunas e paredes. Metaforicamente, das dezessete obras propostas, nem todas são totalmente visíveis e, algumas, completamente invisíveis. Independentemente do tamanho ou visibilidade, todas as pinturas serão comercializadas pelo mesmo valor. Essa possibilidade faz das pinturas um instrumento de reflexão sobre os limites de nossa percepção estética e política no conhecido contexto de intensa mercantilização da linguagem pictórica.

 

 

Como observado no texto curatorial de “Vento”, mostra antecipatória da 34ª Bienal, “Mata trata-se de uma série produzida a partir de uma leitura livre de imagens da flora e fauna brasileira, sobretudo amazônica. A escolha de um sujeito pictórico clássico e a iconografia convidativa e plana parecem sugerir um trabalho autorreferenciado e pacificado, mas a maioria dos elementos explícita ou implicitamente retratados está em risco de extinção. O fundo intensamente negro, nesse sentido, contribui para ressaltar a luminosidade das cores empregadas pela artista para representar a vivacidade de algo, mas também pode ser lido como uma metáfora do estágio de incerteza e opacidade que caracteriza os dias atuais, de um ponto de vista ecológico, social e político”. Mata À VENDA propõe uma reflexão complementar, ética e econômica, sobre o atual estágio das relações entre espaços ditos comerciais e institucionais de arte, a autodeterminação de seus atores e as possibilidades de resiliência da prática artística.

 

 

Na antessala da galeria, Alice Shintani apresenta um ambiente de escuridão total com duas interferências: “Perus, 31 de março” (2019) é um vídeo em loop que captura uma cena de melancolia e ternura do dia 31 de março de 2019, no terreno de um cemitério que compõe um dos capítulos mais tenebrosos da nossa história. O áudio original captado na cena talvez nos recorde que, inaugurado em 1970, o Cemitério Municipal Dom Bosco foi utilizado como local de desova de corpos de vítimas da repressão da ditadura cívico-militar; em diálogo, um segundo pequeno vídeo, também em loop: “Zika” (2015), precursora da presente série Mata, é uma animação em gif de um dos exercícios em guache realizados a partir do entrecruzamento entre as leituras da artista sobre o Brasil de 2015 e as leituras de “Thought Forms” da escritora, teósofa e ativista Annie Besant. Em “Thought Forms”, livro de 1905 que teve grande influência sobre artistas como Kandinsky e Klee, Besant defende a ideia de que os pensamentos emitem vibrações dotados de cores e formas que podem ser apreendidos por meio de intensa consciência, meditação e atenção. Na antessala, por meio de sons, formas e cores em movimento, somos convidados a pensar sobre as possibilidades de percepção da passagem do tempo, das imagens e narrativas históricas, suas repetições e apagamentos em meio à atual onda de mercantilização da produção artística de explícita crítica social e política. Os dois vídeos da antessala seguem disponíveis gratuitamente nas redes sociais da artista, além de via QR code no local.

 

 

Alice Shintani opera na intersecção entre o fazer artístico e a vida cotidiana, por vezes questionando práticas naturalizadas nessa relação. Como observado em Faz Escuro Mas Eu Canto, “não se trata da arte que comenta as notícias dos jornais, nem da arte que se impõe no tecido urbano como monumento inerte, e sim a vivência próxima dos afetos e violência diários que têm como contraponto o fazer gradual que envolve cores, formas e luminosidades”.

 

Sobre a artista 

 

 

Alice Shintani nasceu em 1971, São Paulo, SP cidade onde vive e trabalha. Alice Shintani desenvolve em seu trabalho exercícios de aproximação com o outro a partir da pintura e de seus desdobramentos. A pesquisa, motivada pelas possibilidades da experiência estética, explora a ideia da “pintura expandida” e se desenvolve em ações que vão desde o preenchimento total do espaço pela cor e pela luz, criando ambientes imersivos, até a proposição de refeições coletivas em que receitas, texturas, sabores, talheres, pratos e bandejas produzem significados e instigam camadas da percepção. Por meio da fricção entre questões formais, conceituais, sociais e mercadológicas, Shintani se debruça sobre as noções de visualidade e visibilidade de maneira a problematizá-las, quando se utiliza, por exemplo, de tons rebaixados de cor e formas abstratas para dar vida à pinturas que abordam narrativas de fantasmas, sombras e camuflagens, originárias da cultura japonesa; ou até mesmo quando infiltra em seus trabalhos elementos das comunidades de imigrantes no Brasil, invisibilizadas em sua maioria. A artista dialoga com a tradição da pintura e da história da arte, situando-as na experiência do presente e do espaço para além do circuito especializado.

 

 

Alice Shintani foi incluída na publicação “100 painters of tomorrow”, da editora Thames & Hudson (2014) e contemplada com o prêmio-aquisição no “II Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea” (2013). Participou de diversas exposições individuais e coletivas, destacando-se as seguintes instituições: Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo, Brasil; Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil; Centrum Sztuki Wspólczesnej, Poznán, Polônia; Centro Cultural São Paulo, Brasil; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil; Museu Rodin, Salvador, Brasil; Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil; Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil. Durante a edição da sp-arte/2017, Alice Shintani foi vencedora do Prêmio de Residência com a instalação “Menas” e passou três meses na Delfina Foundation, em Londres (Reino Unido). Atualmente a artista é uma das convidadas para integrar a 34ª Bienal de São Paulo – Faz Escuro Mas Eu Canto, 2021.

 

 

Período de exposição:  18 de Setembro à 16 de Outubro.

 

 

 

 

 

 

 

Manuel Messias – Do Tamanho Do Brasil

09/set

 

 

O projeto busca corrigir o apagamento cultural sofrido pelo artista, ativo no do circuito de exposições mesmo tendo vivido por longos períodos em situação de rua, em seus últimos dez anos de vida.

 

 

Reavivando Manuel Messias

 

 

A Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, realiza de 10 de setembro a 22 de outubro a exposição “Manuel Messias – Do Tamanho Do Brasil”, com 50 obras de diversos períodos da trajetória do artista nascido em 1945 em Sergipe, e que foi ativo participante do cenário artístico do Rio de Janeiro até sua morte, em 2001, mesmo tendo enfrentado situações de extrema pobreza, e de nos últimos dez anos de sua vida ter estado por vários períodos em situação de rua. A exposição é o ponto de partida de um projeto coordenado por Marcus Lontra e Rafael Peixoto, que pretende “dar visibilidade e reconhecimento para a qualidade artística e poética da produção de Manuel Messias dos Santos (1945-2001)”. A exposição será acompanhada de textos dos dois curadores e também do colecionador, curador e médico Ademar de Britto.

 

 

A segunda ação prevista no projeto consiste na publicação de um livro que se torne referência na pesquisa sobre a trajetória de Messias. “Em função de uma biografia conturbada, marcada pela pobreza, pela situação de rua e por transtornos psiquiátricos, a obra e a vida de Messias sofrem com severo apagamento cultural, eco das desigualdades sociais, do racismo e da total marginalização dos indivíduos”, afirmam Marcus Lontra e Rafael Peixoto.

 

 

“O projeto do livro tem três eixos fundamentais: a pesquisa, a reprodução de obras e o embasamento crítico e teórico”, informam. Estão sendo levantados dados e informações que possam trazer uma cronologia mais precisa dos fatos que marcaram a trajetória de Manuel Messias. “Com mais de 200 artigos em jornais e publicações, pudemos comprovar a sua participação ativa na cena artística brasileira durante 30 anos, com exposições no Brasil e no exterior, sendo premiado diversas vezes e com unanimidade crítica a respeito de sua obra”.

 

 

A partir de intensa pesquisa foram rastreados mais de 180 trabalhos em acervos particulares e instituições. Como resultado desta investigação, foram recuperadas séries criadas por Manuel Messias que estavam pulverizadas em diversas coleções e que revelam uma produção constante, consciente e coesa, de elaborado senso estético e profundo conhecimento artístico, contam Lontra e Peixoto. Autores de diversos campos do conhecimento – críticos, historiadores, antropólogos e psicanalistas que mantém estrita pesquisa vinculada à arte – foram convidados a refletirem sobre a produção de Manuel Messias, “abrindo um espaço amplo de pensamento”.

 

 

 Exposição – Alfabeto próprio

 

 

A exposição reúne principalmente xilogravuras, principal meio de trabalho de Manuel Messias, e também pinturas com tinta a óleo e pastel. São destaques as séries “Via Sacra”, “Your Life – M’fotogram” e um álbum em que o artista cria obras a partir de um alfabeto próprio carregado de referências históricas e da estética sintética que marca a sua produção.

 

 

“Sua produção, desde o início, apresentou forte caráter expressionista. Nos primeiros anos ficam claras as influências dos expressionistas alemães, das gravuras de cordel, dos quadrinhos e de importantes nomes da gravura brasileira como Goeldi e Grassmann”, comentam Marcus Lontra e Rafael Peixoto.

 

Negro e de uma família muito pobre, Manuel Messias migrou para o Rio de Janeiro aos sete anos acompanhando uma tia. Tempos depois sua mãe chega à cidade onde se emprega como trabalhadora doméstica na casa de Leonídio Ribeiro, diretor do Museu de Arte Moderna à época. No início dos anos 1960, ao ver que o menino desenhava, ele lhe deu uma bolsa de estudos com Ivan Serpa (1923-1973), que o estimulou a fazer xilogravura. Manuel Messias estudou ainda com o pintor, gravador e desenhista Abelardo Zaluar (1924 – 1987). A passagem de Messias como ajudante e arte-finalista em uma agência de publicidade ainda nos anos 1960 também foi fundamental para a criação de uma linguagem “de alto poder sintético e comunicativo, que marca grande parte da sua produção”, salientam Marcus Lontra Costa e Rafael Peixoto.

 

 

Mas a pobreza e a falta de estruturas que o amparassem, somadas a problemas psiquiátricos que Manuel Messias e sua mãe passaram a sofrer, o levaram ao extremo da exclusão social. Entretanto, apesar disso ele continuou produzindo, fazendo exposições e recebendo prêmios como os do MAM e do Museu Nacional de Belas Artes.

 

 

Manuel Messias chegou a morar em uma pensão na Lapa onde também vivia Cildo Meireles, e comprou uma casa na Cidade de Deus, com o resultado das vendas de uma exposição feita em 1974 na Bolsa da Arte, de Evandro Carneiro, e a partir da mobilização do circuito de arte. Mas em 1989, com o agravamento de sua condição financeira e também psiquiátrica, abandonou o lugar, dizendo ter sido expulso pela criminalidade.

 

 

A partir daí passou a morar, sempre com a mãe, em ruas próximas às casas de amigos, como a artista Martha Pires Ferreira – que trabalhou anos a fio com a dra. Nise da Silveira – que o amparava e comprava material para suas obras, e guardava suas gravuras.

 

 

Marcus Lontra e Rafael Peixoto observam que, apesar da falta de estrutura em que vivia, Manuel Messias era “um leitor compulsivo, com um profundo conhecimento sobre arte e uma ampla bagagem cultural”.

 

 

Pinturas de Elian Almeida

08/set

 

 

 

A Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, exibe “Antes – agora – o que há de vir”*, primeira exposição individual do artista carioca Elian Almeida. Com curadoria de Luis Pérez-Oramas, a mostra traz ao público os mais recentes desdobramentos de sua já icônica série “Vogue”. A exposição fica em cartaz até o dia 23 de outubro.

 

 

Segundo o curador Luis Pérez-Oramas: “A obra de Elian Almeida – principalmente a série Vogue, que constitui o corpo principal desta exposição – enfatiza, através de retratos singulares, o retorno do que foi ocultado, e não apenas esquecido: a pintura que acende o apagado, retratação do que foi velado.” Nos trabalhos inéditos da série “Vogue” presentes em “Antes – agora – o que há de vir”, Almeida se apropria dos signos da visibilidade instituídos pela famosa revista de moda para compor suas pinturas. O artista atua simultaneamente no sentido de uma reparação e da resistência da memória de indivíduos que se viram apagados pelas narrativas históricas.

 

 

Nesta exposição, Almeida apresenta dezesseis retratos de mulheres negras, entre elas encontram-se personalidades como Conceição Evaristo, que empresta os versos de um de seus poemas para o título da exposição, assim como intelectuais como Lélia Gonzalez. O artista não se baseia apenas em figuras contemporâneas, mas se lança no passado, trazendo à tona as imagens de Esperança Garcia (século XVIII) e Luísa Mahin (século XIX). É inegável que a atuação dessas mulheres na cultura é fundamental, tanto que Almeida também nos apresenta as efígies de Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra do Theatro Municipal, além da atriz Ruth de Souza, e de Tia Maria do Jongo, entre outras “donas”, “mães” e “tias” que contribuíram para o surgimento do samba e a continuidade de diversas expressões culturais diaspóricas no Rio de Janeiro.

 

 

Para elaborar os cenários, vestimentas e adereços que compõem suas pinturas, Almeida mergulha na história das figuras retratadas, revisando arquivos e documentos, em uma prática que ele qualifica como uma verdadeira arqueologia da memória. Contudo, a ausência de face nos aponta tanto para o apagamento desses indivíduos pela narrativa oficial, ao mesmo tempo em que representam um corpo coletivo, uma miríade de rostos possíveis, de todos que sofreram e ainda sofrem os efeitos do racismo estrutural. Para Pérez-Oramas: “São, pois, os retratos que Elian Almeida nos apresenta, a rigor, imagens fúnebres, necroretratos, emergentes: nos olham, sem olhos, a partir do seu esconderijo, e de lá retornam à certeza melancólica de que o que não nos esquece não pode, por sua vez, voltar plenamente, na plenitude da presença da qual foi amputado.”

 

 

Pinturas da série “Vogue” fazem parte da “Enciclopédia negra”, empreendimento editorial da historiografia afro-brasileira encabeçado por Lilia M. Schwarcz, Flávio Gomes e Jaime Lauriano, que se coaduna com os esforços do artista de recuperação dessas figuras históricas. Para a publicação, 36 artistas foram convidados a elaborar retratos das personalidades apresentadas. Esses trabalhos, incluindo os de Elian Almeida, encontram-se em exibição em mostra homônima na Pinacoteca de São Paulo.

 

 

Sobre o artista

 

 

Nascido no Rio de Janeiro e criado na Baixada Fluminense, com passagem pelos cursos de Artes Visuais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e de Cinema e Audiovisual na Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3, Almeida baseia sua prática na pintura, realizando também experimentações nos âmbitos da fotografia, do vídeo e da instalação. Com uma abordagem decolonial, seu trabalho se debruça sobre a experiência e performatividade do corpo negro na sociedade brasileira contemporânea. Para isso, ele recupera elementos do passado, imagens, narrativas e personagens – oficiais e extraoficiais -, de modo a contribuir para o fortalecimento e divulgação da historiografia afro-brasileira.

 

 

*o título da exposição foi extraído do poema “Eu-mulher” de Conceição Evaristo.

 

 

PV Dias e a “Desarmonia”

01/set

 

 

Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, abre para o público no próximo dia 04 de setembro a exposição “Desarmonia”, com trabalhos recentes e inéditos do artista PV Dias, Belém, 1994, em que faz uma crônica visual do movimento popular tecnobrega, com suas festas futuristas, e gigantescas aparelhagens cinéticas. O curador Aldones Nino destaca que “esta é a primeira exposição individual de PV Dias e está marcada pela presença pictórica”. Conhecido pelas intervenções digitais em fotografias de paisagens urbanas, como as cinco obras da série “Obras Cariocas”, que integraram a exposição “Casa Carioca” (MAR, setembro de 2020 a agosto de 2021), PV Dias mostrará pela primeira vez suas pinturas digitais, pinturas sobre papel e sobre tela, e animações. Estarão também na exposição intervenções sobre registros históricos do fotógrafo português Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903), uma referência entre os que atuaram no Norte do Brasil no século 19 e no início do século 20.

 

 

Na vitrine da galeria haverá uma instalação, acompanhada de uma trilha tecnobrega feita especialmente para o local pelo cantor, performer e produtor musical Will Love, que em 2019 participou do Rock in Rio.

 

 

No térreo da galeria estarão reunidas as pinturas da pesquisa recente de PV Dias sobre a visualidade do movimento tecnobrega, com suas “festas de aparelhagens”, surgidas na década de 1980, mas que ganharam a forma atual há pouco mais de vinte anos. Também estará no térreo da galeria o tríptico “Rasurando Fidanza” (2021), com intervenções em três registros históricos de Felipe Augusto Fidanza, suas famosas “cartas de visitas”, em que o fotógrafo registrava pessoas em cuidadosa composição de cenários variados.

 

 

No segundo andar da galeria estarão nove pinturas da série – ou sequência, como prefere nomear o artista – “Festa Silenciosa”, em que registrou o cotidiano de sua família, na casa de sua mãe em Marechal Hermes, onde reside desde o início da pandemia. Três animações digitais também vão estar no segundo andar: uma projeção, outra colocada em um display, e outra impressa, que é ativada ao se passar por cima um celular, com um filtro do Instagram criado pelo artista.

 

 

Atendendo ao novo Decreto Municipal nº 49.335, de 26 de agosto de 2021, os visitantes devem comprovar a vacinação contra a covid-19 para terem acesso e permanecerem na galeria. Para visitar a exposição é necessário o agendamento prévio através dos canais de comunicação: contato@simonecadinelli.com //  +55 21 3496-6821 | +55 21 99842-1323 (WhatsApp)

 

 

Elisa Bracher na Galeria Estação

 

 

Com uma instalação, desenhos, monotipias, pinturas em papel, gravuras e esculturas, a individual “Terra de Ninguém”, de Elisa Bracher, na Galeria Estação, Pinheiros, em São Paulo, propõe, a partir da sua poética contemporânea, figurações e objetos de vestígios de artefatos, matérias-primas e técnicas manuais tradicionais

 

 

Pelo gesto do fazer, presente de modos diversos na produção e no percurso artístico de Elisa Bracher, “Terra de ninguém”, individual da artista na Galeria Estação, em SP, expõe a partir da sua poética contemporânea, figurações e objetos de vestígios de artefatos, matérias-primas e técnicas manuais tradicionais. A exposição, que estreou em 28 de agosto, permanecerá em cartaz até 02 de outubro, apresenta 35 obras dispostas em três espaços da Galeria, entre elas, desenhos, monotipias, pinturas em papel, gravuras, esculturas e uma instalação.

 

 

Na entrada da Galeria Estação, uma enorme escultura em madeira angelim curvada na parede e pousada no chão, inclina-se em direção ao espectador. Na realidade, esse trabalho parte da forma das gamelas, esses antigos utensílios nos quais se guardavam alimentos e refeições, e no espaço expositivo desequilibra o nosso olhar e perde a sua funcionalidade originária.

 

A segunda escultura, um cubo aberto feito em pau a pique – técnica usada para a construção de antigas casas populares do interior -, é cortada, agora não mais, como era tradicionalmente, por uma árvore, mas por uma canha. A terceira é uma escultura em madeira e cerâmica materializada em três blocos de madeira empilhados, nos quais as casinhas típicas do interior, feitas de pau a pique, encontram-se encaixadas, deixando aparentes somente as suas fachadas. A quarta retoma a plástica das casinhas encaixadas nas estruturas, mas, desta vez, com os blocos pregados na parede e posicionados um ao lado do outro. A quinta escultura traz uma base de terra redonda em declive, com uma estrutura de madeira apoiada na parte superior.

 

 

A instalação expõe os vestígios de madeiras, mármores e cerâmicas, materiais que aparecem apoiados uns nos outros, como se tentassem delimitar um espaço entre o interno e o externo da obra. Como pontua Elisa Bracher: “Esta exposição apresenta trabalhos iniciados há mais de dez anos. Desenhos e gravuras mostram montanhas e paisagens que se desfazem e se reconstroem com o passar do tempo. As esculturas só aconteceram no momento em que encontraram lugar para estar. No momento em que acertamos fazer a exposição na Galeria Estação, os trabalhos vieram a existir. Em mim já habitavam, mas faltava o sítio que os acolhesse. A instalação “Restos em novo corpo é a transição”.

 

 

As cinco esculturas e a instalação que serão mostradas ao público, e que trazem elementos da tradição da cultura material brasileira, dialogam com os desenhos. Em seu processo, Bracher parte do material, é ele que sugere a forma e a construção da imagem. De maneira diversa das linhas das gravuras, construídas com a precisão de ferramentas em metal sobre papel de arroz, nos desenhos as colinas traçadas em linhas finas e frágeis sugerem um desprendimento, um afastamento do solo. “Elas pairam sobre uma superfície manchada com um colorido de oxidação ou sangue coagulado. São visões de longe, muito longe, de lugares que estão por lá, mas que ninguém enxerga de perto”, afirma Tiago Mesquita em texto curatorial.

 

 

Por sua vez, o trabalho com as monotipias presentes na exposição parte de um diálogo com o maestro e pianista Rodrigo Felicíssimo. Bracher exercita nessa linguagem visual a marcação espacial formada por linhas desprendidas acima das curvas e formas das montanhas. Trata-se de uma paisagem plástica que dialoga com a pesquisa do pianista.

 

 

A pesquisa de Rodrigo Felicíssimo se debruça sobre um dos métodos de criação do maestro Heitor Villa-Lobos. Para a composição da Sinfonia nº 6, intitulada “Sobre a linha das montanhas”, Villa-Lobos compôs o desenho da partitura musical a partir da observação das curvaturas das linhas que os topos das montanhas traçam no horizonte. Tanto na sinfonia como na pesquisa de Bracher, a forma manifesta no espaço não se desvincula da abstração da sonoridade; em Felicíssimo, a paisagem sonora amplia os sentidos pela percepção da paisagem plástica.

 

 

Houve participação especial da cantora Mônica Salmaso, acompanhada em um pocket show do maestro e pianista Rodrigo Felicíssimo no vernissage de abertura da exposição “Terra de ninguém”. A individual de Elisa Bracher na Galeria Estação relaciona o trabalho em monotipia da artista com a pesquisa musical de Felicíssimo.

 

 

Nas monotipias, Bracher exercita a noção de paisagem visual, com a marcação espacial formada por linhas desprendidas acima das curvas e formas das montanhas. Por sua vez, a pesquisa de Felicíssimo sobre paisagem sonora parte de um dos métodos de criação do maestro Heitor Villa-Lobos; para a composição da Sinfonia nº 6, intitulada “Sobre a linha das montanhas”, Villa-Lobos concebeu o desenho da partitura musical a partir da observação das curvaturas das linhas que os topos das montanhas traçam no horizonte.

 

 

Até 02 de Outubro.

 

 

 

Célia Euvaldo na Roberto Alban Galeria

25/ago

 

 

 

A Roberto Alban Galeria, Salvador, tem o prazer de anunciar a primeira exposição da artista Célia Euvaldo na galeria, também sua primeira mostra individual na Bahia. A artista, amplamente conhecida por suas pinturas em preto e branco, realizadas ao longo de mais de três décadas, apresenta um conjunto inédito de trabalhos em que explora a presença da cor, dando continuidade à sua pesquisa iniciada em 2016. A galeria estará aberta para visitação de 04 de setembro até o dia 16 de outubro. A mostra também poderá ser vista de modo virtual pelo site da galeria (www.robertoalbangaleria.com.br).

 

 

A partir de meados dos anos 1980, Célia Euvaldo investiga, majoritariamente no campo da pintura, as relações entre gesto e matéria. Suas telas de grande formato exploram as múltiplas possibilidades da relação entre o branco e o preto, em uma fatura marcada pela riqueza de texturas, nuances e gestualidade.

 

 

A dimensão física do corpo da artista na realização de seus trabalhos é um dos aspectos fundamentais como chave de leitura para a compreensão de sua produção artística. Suas telas são fortemente marcadas pela relação entre seu corpo e a escala do quadro, revelando – em camadas insuspeitadas e mesmo surpreendentes – a presença do gesto como força motriz e fundamental em sua criação.

 

 

“Um aspecto do meu trabalho é a presença do gesto. Mas não me refiro ao gesto expressivo, impulsivo, de descarga emocional. É o gesto em si, ou melhor dizendo, o esforço, a energia do gesto. Para isso, as dimensões grandes são essenciais. Isso vem desde meus trabalhos mais antigos, de 30 anos atrás”, afirma a artista.

 

 

Desde 2016, Célia Euvaldo tem se dedicado a uma investigação inédita em sua vasta produção pictórica, realizando um corpo de trabalho com a presença de cores abertas, como o vermelho, o laranja e o lilás. Os trabalhos reunidos para sua primeira exposição na Roberto Alban Galeria apontam, justamente, para este momento de ruptura e renovação de sua obra.

 

 

São pinturas que instauram, portanto, uma harmoniosa convivência entre o usual p&b e uma nova paleta de cores – telas que conjugam o preto em suas habituais texturas espessas, a partir de um uso robusto da tinta a óleo, a seções coloridas realizadas com a tinta mais diluída, em tons mais discretos de cinza ou em tonalidades fortes de cores laranja, azul e variações.

 

 

“Em todos os quadros eu deixo uma parte da tela sem pintar. Faço isso porque vejo essas duas matérias como “coisas”, “corpos”, algo quase escultórico. Se eu cobrisse toda a tela, essas “coisas” virariam áreas, e não quero isso. Quero esse peso e materialidade de coisa”, acrescenta a artista.

 

 

O texto do historiador e crítico de arte Ronaldo Brito reflete também sobre esta nova fase da pesquisa de Célia Euvaldo:

 

 

“A meu ver, as cores vibrantes surgem como fatores a mais de irritação e questionamento em uma pintura que opera numa área exígua e tira sua força ao vencer, repetidamente, a ameaçadora entropia. A questão substantiva passa a ser a seguinte: como agem esses contrastes cromáticos, às vezes gritantes, em um espaço pictórico que até então se resumia às invasões maciças do preto sobre o branco, a renegociar os limites entre a forma e o informe? Assim como ocorre com o preto marfim, também as cores abertas não destilam uma química de pintura, empenhadas em revelar a identidade única deste violeta, desse laranja ou daquele azul. Elas irrompem no quadro, resolutas, instintivamente misturadas e diluídas”.

 

 

Sobre a artista

 

 

Pintora e desenhista, Célia Euvaldo nasceu em 1955, em São Paulo, onde atualmente vive e trabalha. Realizou suas primeiras exposições coletivas no circuito nacional em 1987, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e em 1988, no Projeto Macunaíma, Funarte, também na mesma cidade. Obteve o 1º prêmio – Viagem ao Exterior – no 11º Salão Nacional de Artes Plásticas em 1989. Nos anos 90, realizou individuais na Paulo Figueiredo Galeria de Arte, em São Paulo, em 1991 e 93; no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, em 1995 e em 1999; dentre outras. Suas últimas individuais foram na Galeria Simões de Assis, em Curitiba, em 2020, e na Galeria Raquel Arnaud, em São Paulo, em 2018. Suas obras estão em diferentes coleções públicas como no Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Coleção de Arte da Cidade de São Paulo, Fundação Cultural de Curitiba e Museu do Estado do Pará. Célia Euvaldo marca um importante período da arte contemporânea brasileira, participando de mostras como a 7ª Bienal Internacional de Pintura de Cuenca, no Equador, em 2001 e da 5ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, em 2005, e realiza individuais em instituições como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, intitulada “Brancos”, em 2006, Instituto Tomie Ohtake em 2013, entre outros. No âmbito internacional, a artista participou da mostra coletiva “Cut, Folded, Pressed & Other Actions” na David Zwirner Gallery, em Nova York, em 2016.

 

Janelas para dentro

23/ago

 

 

A Galeria Leme e a Central Galeria, São Paulo, SP, têm o prazer de apresentar “Janelas para dentro”, mostra com curadoria de Guilherme Wisnik que ocupa uma casa residencial em São Paulo, Bosque do Morumbi, com obras de mais de vinte artistas contemporâneos. Partindo dos paradoxos presentes no próprio local – um projeto de Paulo Mendes da Rocha de 1970 que visava incorporar a paisagem urbana no espaço doméstico -, os trabalhos guardam forte relação com a arquitetura, atravessando polaridades como o monumental e o cotidiano, o público e o privado.

 

Artistas: Ana Elisa Egreja, Bruno Cançado, C. L. Salvaro, Candida Höfer, Carmela Gross, Clarissa Tossin, Cristiano Mascaro, Damián Ortega, David Batchelor, Débora Bolsoni, Dora Smék, Fernanda Fragateiro, Frank Thiel, Frederico Filippi, Gretta Sarfaty, José Carlos Martinat, Lais Myrrha, Luciano Figueiredo, Mano Penalva, Marcelo Cidade, Marcius Galan, Mauro Piva, Michael Wesely, Raphael Escobar, Ridyas, Rodrigo Sassi, Sandra Gamarra, Sergio Augusto Porto, Vivian Caccuri

 

 

Janelas para dentro Guilherme Wisnik

 

 

Uma mostra de arte na Casa Millan, projetada por Paulo Mendes da Rocha em 1970. Não se trata, simplesmente, da ocupação de um espaço doméstico como se fosse um museu ou uma galeria. Mas, sim, de um conjunto de intervenções artísticas – algumas já existentes, outras do tipo site specific – em um dos espaços mais radicais já produzidos pela arquitetura brasileira e mundial. Concebido no auge da repressão ditatorial no país, esse projeto incorpora um grau de experimentalismo inédito, reinventando os modos de se morar em família. Para tanto, usa asfalto no piso da sala de estar, abre as janelas dos quartos para dentro da casa – num espaço de pé-direito duplo onde ficava a cozinha – e opta por não vedar os sons e odores dos cômodos, já que muitas das paredes não chegam ao teto. Caracterizando as casas de Mendes da Rocha daquele período, o professor Flávio Motta descreve o espaço criado como “projeto social”, cujo despojamento supõe um “relacionamento do viver meio favela racionalizada”, onde “cada um aceita o convívio com os demais, sem muradas sólidas, mas dentro de novas e procuradas condições de respeito humano”1. Era um momento muito intenso da história política e social do Brasil, logo após o AI-5, quando Hélio Oiticica começava a viver em seus penetráveis na Whitechapel Gallery, em Londres, fazendo do espaço público a sua casa. Já em São Paulo, Mendes da Rocha buscava o inverso: urbanizar a vida doméstica, isto é, tensionar o máximo possível a intimidade, extirpando as marcas idiossincráticas pessoais ligadas à ideia romântica e burguesa de lar. Seu desejo, portanto, era problematizar o espaço privado e seus segredos em prol de uma ideia cívica de vida inteiramente pública: a casa como um fórum da vida coletiva da cidade, onde a liberdade de cada um é pautada pela liberdade do outro, pois são as regras da ordem coletiva que devem controlar o arbítrio da vontade individual. Uma casa inteiramente exteriorizada, ainda que espacialmente introvertida. Toda de concreto aparente, com luzes que entram zenitalmente por claraboias, a casa tem uma austeridade que é também lúdica, com uma piscina na fachada frontal e uma bela escada engastada na empena de concreto, cujo patamar se transforma em trampolim para a piscina. A escada nos leva à laje de cobertura, com um jardim de plantas aquáticas, que permite desfrutar da bela visão do arvoredo do Bosque do Morumbi. Organizada pelas galerias Leme e Central, com um conjunto de mais de vinte artistas contemporâneos representados por galerias diversas, esta mostra busca dialogar criativamente com os ambientes da casa, que já é, em si, uma obra de arte. Diálogos que funcionam tanto por afinidade como por subversão, estabelecidos aqui por artistas que operam com a temática da cidade e incorporam em seus trabalhos os problemas e os elementos da esfera urbana, criando curtos-circuitos e atravessamentos entre polaridades como o urbano e o doméstico, o cotidiano e o monumental, o formal e o informal, a elite e a periferia.

 

 

1 MOTTA, Flávio. Paulo Mendes da Rocha. Acrópole. n. 343. São Paulo, setembro de 1967.

 

 

Até 10 de Outubro.

 

Prêmio PIPA 2021

18/ago

 

 

Representada pela Galeria Kogan Amaro, São Paulo, SP, a gravadora Luisa Almeida foi indicada ao Prêmio PIPA 2021. Luisa Almeida se especializou em xilogravuras de grandes formatos e utiliza o alto contraste presente na técnica para se relacionar com sua temática-chave: retratos de mulheres e meninas empunhando armas de fogo no cotidiano. O que propõe é uma investigação sobre relações simbólicas presentes nesse objeto.

Também cenógrafa de óperas e peças teatrais, Luisa mescla recursos cênicos na concepção de sua obra, dando à luz instalações xilográficas. Parte de sua pesquisa se aprofunda em processos alternativos para a impressão de gravuras gigantes, como veículos, empilhadeiras e rolos compressores. Atualmente, é mestranda em Artes pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), mesma instituição onde se formou em 2017. Recebeu menções honrosas no 47º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba (2015) e na Mostra Comemorativa dos 30 anos do Museu da Xilogravura, em Campos do Jordão (2017). Nascida em Viçosa, MG, 1993. Vive e trabalha em São Paulo, SP.

 

 

Carlos Mélo na Galeria Kogan Amaro

16/ago

 

 

O artista multimídia Carlos Mélo reflete sobre o Nordeste em exposição inédita na Galeria Kogan Amaro. Obras em diferentes suportes utilizam-se de jogos de imagens e palavras para desmontar o estereótipo da região brasileira. As flexões semânticas são características marcantes no trabalho processual de Carlos Mélo. É a partir delas que o artista articula e ativa determinados assuntos, como a questão do lugar, especificamente o Agreste e o Nordeste, locais investigados pelo artista na exposição “Transes, rituais e substâncias”, cartaz da Galeria Kogan Amaro, Jardim Paulistano, São Paulo, SP.

 

 

Pinturas, fotografias, esculturas, desenhos e painel de neon são alguns dos suportes do conjunto de 16 obras inéditas exibidas na mostra. Em comum, elas buscam desfazer a ideia de nordeste, construindo um novo campo simbólico. “Todo meu trabalho artístico em torno das questões do nordeste tem como objetivo desmontar o estereótipo do Nordeste como o lugar com determinada comida, um sotaque determinado e com o chão rachado. A minha perspectiva é de uma região contemporânea, industrial e tecnológica, aonde as questões se dão a partir de uma realidade que não depende necessariamente da localização geográfica, mas sim de um campo simbólico.”, explica o artista.

 

 

Três esculturas têxtis da série “Overlock”, apontam para a forte produção da indústria de jeans no Agreste do Pernambuco. As obras são produzidas com diversos tecidos produzidos artesanalmente por uma cooperativa de costureiras que utilizam resíduos de fabricas de confecções. As esculturas criam uma forte referência às golas do maracatu, a mantos cerimoniais, e trazem uma reflexão em torno da modelagem e customização (paetês e spikes) das confecções de jeans na indústria no interior do estado.

 

 

Durante o período em que se aprofundava sobre a indústria têxtil, Carlos constatou o número crescente de motos com a finalidade de transporte de mercadoria, tanto no agreste, como no interior do Brasil, além do grande número de motoboys na cidade devido à pandemia. O resultado é a escultura com capacetes “Cascos”, produzidas com resíduos de capacetes em desuso pelos motoboys de Itu onde o artista residiu e coletou em cooperação com a Associação de Motoboys da cidade.

 

A série “Abismos” apresenta três autorretratos que carregam referências ao Nordeste. Em um deles, a figura com cabeça de carranca, cria uma forte relação com as mitologias do Rio São Francisco e seus projetos de transposição representado com a cabeça de uma carranca, em outro desenho o homem parece flutuar coberto de ossos bovinos carregando entres as mãos um ramalhete de flores, e a terceira imagem traz um corpo barroco onde é possível notar um conjunto de ossos, capacete e flores sobre parte do corpo vestido com uma calça jeans.

 

 

Uma série de fotografias e um backlight, advindos de uma performance de longa duração compõem a série “Sapukaia” (ave que grita ou galinha, no vocabulário tupi). Nela, o artista aparece vestido com um paletó em meio a uma paisagem com galinhas vivas sobre o seu corpo. “Os meus trabalhos artísticos ocorrem a partir do ritual e do transe. Eles surgem a partir da ativação deste lugar, deste território. No caso, este trabalho ativa novos campos simbolistas em meio ao impacto cultural e ambiental causado pela presença das indústrias na região.”, pontua Carlos Mélo.

 

 

Texto curatorial

 

 

Carlos Melo é uma invenção de si mesmo. Artista, humanista, escritor e poeta. Pernambucano, estudioso, de fala branda. Carlos é uma fera! Conquistou prêmios, bolsas e reconhecimentos públicos. Seu trabalho fala com as vísceras. Essa exposição revela uma parte da sua obra. Desenhos, pinturas, fotografias, esculturas, vídeos e performance. Tudo para nos fazer sentir o gosto da sua terra. Carlos incorpora mitos e tradições religiosas em sua poética visual. Retomando ritos e costumes dos povos originários. Carlos é um pesquisador e desbravador da nossa língua. Expandindo significados e interpretações. Carlos Melo é um artista completo. Dos pés a cabeça. Seu legado é uma esfinge. Tenho muito orgulho e admiração pelo seu trabalho e pela nossa amizade.

 

 

Marcos Amaro – julho de 2021

 

 

Sobre o artista

 

Riacho das Almas, Pernambuco – Brasil, 1969.
Carlos Mélo é um artista plástico brasileiro, nascido em Permanbuco, uma região formada por uma cultura complexa vista por várias nações africanas, algumas tribos indígenas e europeias de origem Moura. Seus trabalhos passam por vídeo, fotografia, desenhos, instalação, escultura e performance, em uma investigação do lugar que o corpo ocupa no mundo. Através de anagramas e ações de performance, o artista aborda imagens e palavras praticando o contorcionismo semântico. Busca convergir o corpo em situações de interação com o ambiente e imagens conceituais que sugerem que seja definido de forma relacional, operando simultaneamente um resgate de aspectos da formação cultural brasileira. Para Suely Rolnik, “a obra de Carlos demarca um território, ou melhor, o estabelece. Como nos animais, isso é feito por meio de dispositivos sempre ritualizados, que são, sobretudo, ritmos. No entanto, diferentemente dos animais. Aqui, o ritual e seu ritmo mudam constantemente; são inventados a cada vez, dependendo do ambiente em que são feitos e do campo problemático que procuram enfrentar, para isso o artista se instala na imanência do mundo, aos pés do real vivo, apenas apreensível pelo carinho.”

 

 

Idealizou e realizou a 1ª Bienal do Barro do Brasil, Caruaru (2014). Participou de exposições coletivas como a 3ª Bienal da Bahia, Salvador (2014); No Krannert Art Museum, Universidade de Illinois, Champaign, EUA. (2013); No Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife (2010 e 1999); No Itaú Cultural, São Paulo (2008, 2005, 2002 e 1999); Entre outras. Exposições individuais foram realizadas na Galeria 3 + 1, Lisboa, Portugal (2010); No Paço das Artes, São Paulo (2004); E na Fundação Joaquim Nabuco (Recife, Brasil, 2000). Foi vencedor do Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça de Artes Plásticas (2006). Vive e trabalha em Recife.