Afrodescendentes na Pinacoteca

18/jan

A Estação Pinacoteca, Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, SP, exibe a exposição “Territórios: Artistas Afrodescendentes no Acervo da Pinacoteca”, que celebra os 110 anos da instituição e apresenta ao público importantes obras assinadas por artistas brasileiros afrodescendentes. A mostra apresenta um olhar singular que pretende dar visibilidade a essa coleção ao mesmo tempo em que valoriza o legado destes artistas.
A proposta do curador é retomar as grandes contribuições da Pinacoteca para a historiografia da arte brasileira introduzida na gestão de Emanoel Araújo (1992 – 2002), primeiro diretor negro da Pinacoteca do Estado, por isso apresenta parte do núcleo de artistas afrodescendentes da Instituição, acrescida de novas aquisições.
São 106 obras entre pinturas, gravuras, desenhos, esculturas e instalações que traçam perfis diferentes da produção artística de afrodescendentes no Brasil do século XVIII até hoje. As obras estão divididas em três conjuntos e dispostas de acordo com a familiaridade dos temas ou territórios: Matrizes Ocidentais, Matrizes Africanas e Matrizes Contemporâneas. Sem preocupação cronológica, a exposição aventa a possibilidade de compreender a produção e a inserção destes artistas na coleção da Pinacoteca assim como no circuito estabelecido em seu contexto.
Entre os trabalhos em exposição está o “Autorretrato” produzido em 1908 por Arthur Timótheo da Costa, doado em 1956, ou seja, 51 anos após a inauguração da Pinacoteca – a primeira obra de um artista negro. Mestre Valentim, Antonio Bandeira, Rubem Valentim, Jaime Lauriano e Rosana Paulino também estão entre os artistas que compõem a mostra. Destaque ainda para a obra de Rommulo Vieira Conceição adquirida em novembro pelo Programa de Patronos da Pinacoteca, que começou em 2012 e hoje já soma 72 casais apoiadores.
“Com a entrada para o acervo da Pinacoteca dos primeiros trabalhos de jovens artistas brasileiros afrodescendentes, surgiu a ideia de formular uma exposição que os articulassem em relação àqueles já existentes no acervo. Seria uma estratégia para a Instituição refletir sobre parte de sua história e, ao mesmo tempo, rever obras produzidas por artistas afrodescendentes já existentes no acervo, à luz dos recém-chegados”, explica Chiarelli.
A mostra segue em cartaz até 17 de abril de 2016 no quarto andar da Estação Pinacoteca – Largo General Osório, 66.

Exposição de Arthur Luiz Piza

16/dez

A Pinacoteca do Estado de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, recebe a exposição “A Gravura de Arthur Luiz Piza”, um importante panorama da obra gráfica de um dos principais artistas contemporâneos brasileiros. A mostra, que acontece na Estação Pinacoteca, Largo Gal. Osório, São Paulo, SP, apresenta pela primeira vez um conjunto de gravuras editadas pelo artista paulistano e doadas à Pinacoteca. A curadoria é de Carlos Martins.

 

Ao todo são 137 obras que mostram o percurso que Arthur Luiz Piza imprimiu à sua produção desde as suas experimentações realizadas em 1952, quando começou. Na primeira sala os visitantes encontram trabalhos que exploram o uso da água forte, da água tinta e a ação dos ácidos sobre a matriz de cobre, que trazem ainda figuração e algumas referências do surrealismo. Obras do período que Piza combinava linhas e formas abstratas também podem ser vistas neste espaço.

 

Na sequência, Piza redefine a sua produção e, na segunda sala, estão as peças deste período, que passam a contemplar formas geométricas reconhecíveis, fruto dos estímulos que os novos rumos da arte proporcionavam. “Aqui as imagens crescem em escala, muitas vezes ocupando toda a superfície do papel. A utilização de cores intensas  de texturas em relevo, minuciosamente gravadas, confere a gravura de Piza um vocabulário próprio e inconfundível, indicando também ao artista possibilidades para o seu trabalho de colagens, pintura, entalhe e escultura. O relevo vai marcar definitivamente o corpus de sua produção”, explica o curador Carlos Martins.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido na cidade de São Paulo em 1928, Arthur Luiz Piza iniciou sua formação artística em 1943 com Antonio Gomide. Após participar da I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Piza se mudou para Paris e frequentou o ateliê de Johnny Friedlaender, com quem aprendeu as técnicas de gravura em metal. Dedicou-se depois à aquarela e à colagem. Realizou mostras individuais no Brasil e em vários outros países como Japão, Equador, França, Alemanha, Suíça, Suécia, Iugoslávia, Itália, Espanha, Dinamarca e Estados Unidos.

 

 

Até 14 de fevereiro de 2016.

Damien Hirst em Ipanema

A Mais Um Galeria de Arte, Ipanema, Rio de Janeiro, inaugurou com com a exposição “Damien Hirst”, reunindo dezenove trabalhos do artista inglês Damien Hirst, um dos nomes icônicos da atualidade. Encontram-se nesta mostra trabalhos em papel, em tiragem limitada, das séries dedicadas a medicamentos, que trazem seus famosos pontos coloridos e o armário com pílulas, e ainda as que têm como tema borboletas, tanto em fundo preto, branco, ou formando imagens caleidoscópicas.

 

Também consta nessa exibição o cobiçado trabalho do trabalho do artista denominado “For the Love of God”, em impressão lenticular sobre plástico, que propicia um efeito holográfico. Há serigrafias e gravuras em metal, algumas em água forte (baixo relevo),
com aplicações manuais de verniz e poeira de diamantes. As obras foram editadas pela prestigiosa Other Criteria, de Londres, parceira no Brasil da Mais Um Galeria de Arte. A exposição tem consultoria curatorial de Fernando Cocchiarale.

 

A Mais Um Galeria de Arte terá como característica principal oferecer obras múltiplas em vários suportes – gravuras, fotografias, vídeos e esculturas – em associação com importantes editoras brasileiras e estrangeiras.

 

A colecionadora Maria Cassia Bomeny decidiu expandir sua paixão pela arte para um espaço aberto ao público. “Após um ano de desenvolvimento do projeto da galeria, decidi por uma casa preservada e megassimpática na Rua Garcia D’Ávila, Ipanema. Vamos apresentar artistas brasileiros e estrangeiros através de trabalhos múltiplos com uma curadoria criteriosa, visando à qualidade da formação da coleção para nossos clientes”, explica.

 

 

Importância da obra múltipla

 

Fernando Cocchiarale ressalta que “múltiplo não é réplica”. “Não pode ser reduzido a mera reprodução, já que ao diferir da obra única – graças a possibilidades poéticas fundadas na reprodutibilidade – amplia o campo de invenção e criação do artista para além da produção de “originais”. O múltiplo não é simplesmente a edição baseada em uma obra única. Tem suas questões próprias. Faz parte de seu conceito ser multiplicado. É uma modalidade de produção”, explica. “Há que ressalvar escultores que querem trabalhar com diferentes escalas, produzindo múltiplos especiais”. “Se olharmos para a história da arte há várias obras múltiplas que se tornam ícones, como por exemplo “Seja marginal seja herói” (1968) e “Mangue Bangue” (1971), de Hélio Oiticica, vários trabalhos de Lygia Pape, Nelson Leirner, Anna Bella Geiger, Andy Warhol,  e do próprio Damien Hirst”. Ele acrescenta que “o múltiplo permite acesso à compra de determinadas obras de arte que de outra forma as pessoas não teriam, criando possibilidades de se organizar coleções com critério, e o colecionismo transforma o conjunto como algo maior do que simplesmente a soma das partes”.

 

 

Vídeoarte na vitrine

 

A vitrine da Mais Um Galeria de Arte terá uma permanente exibição de vídeoarte, que começará com Antonio Dias, em janeiro, e seguirá com uma programação dedicada a artistas mulheres, com seleção de Fernando Cocchiarale.  Maria Cassia Bomeny destaca que  “esta é uma forma de interagir com quem passa pela rua, e também uma bela maneira de aproximar o público”.

 

 

Programação para 2016

 

Dentre as exposições agendadas para o próximo ano, estão a de Antonio Dias, Roberto Magalhães, Richard Serra e Alberto Burri – que é tema de uma grande exposição no Guggenheim de Nova York, aberta em outubro e que segue até 6 de
janeiro.

 

 

 

Sobre Damien Hirst

 

Damien Hirst nasceu em Bristol, Inglaterra, em 1965. Ele chamou a atenção do público em 1988 quando concebeu e fez a curadoria de “Freeze”, uma exibição de seu trabalho e de seus contemporâneos no Goldsmiths College, em um armazém desativado em Londres. Desde então se tornou internacionalmente um dos mais reconhecidos e influentes artistas de sua geração.

 

 

Até 16 de janeiro de 2016.

Wesley Duke Lee e Ricardo Camargo

10/dez

Em atividade há mais de quatro décadas, o marchand Ricardo Camargo, é um personagem reconhecido no cenário cultural brasileiro, e agora, celebra os 20 anos de sua galeria, Jardim Paulistano, São Paulo, SP, com a exposição “Wesley Duke Lee” e, em parceria com Patricia Lee, inaugura o Wesley Duke Lee Art Institute, com o happening “A/TEMPORAL”.

 

 

 

 

A exposição

 

A mostra “Wesley Duke Lee”, composta por 35 obras do período entre 1958 a 2003, exibe trabalhos em técnicas variadas como desenho, pintura, gravura, têmpera, colagens e objetos, propiciando um passeio pela produção de Wesley Duke Lee, um dos grandes ícones da vanguarda brasileira. A diversidade de materiais e técnicas utilizadas permitem inúmeros destaques entre as obras selecionadas, desde a têmpera abstrata “Cloaca” de 1964 à sua última tela de 2003.

 

As obras, sutis e ao mesmo tempo impactantes, produzidas no Japão em 1965, oferecem a visão de Wesley Duke Lee aos elementos representativos da cultura local, em óleos com colagens sobre tela, aquarela e nanquim sobre papel japonês. Desenhos da “Série das Ligas”, de 1962, lembrada pela comoção causada após um happening em São Paulo estão presentes, bem como exemplares de “O Triumpho de Maximiliano I”, de 1966/1986, representando com delicadeza, a “procura da alma do mundo”.

 

 

O início da projeção internacional de Wesley Duke Lee se dá após a premiação na Bienal de Tóquio (1965), onde é também selecionado para a Bienal de Veneza (1966), com a primeira obra arte ambiental “Trapézio”. Durante sua permanência em Nova York, recebe um convite do diretor do Museu Guggenheim e é chamado a expor junto aos mestres do Pop-Art – Robert Rauschenberg, Jasper Johns e Oldenburg – na Galeria Leo Castelli. Os trabalhos representativos do período após seu retorno ao Brasil, que causaram grande impacto no circuito local com séries de quadros-esculturas, culminam com os espaços de seus ambientes tornando-se uma das mais originais contribuições à arte contemporânea brasileira, reconhecido por Helio Oiticica como um dos precursores da “nova objetividade”, lembra a historiadora Cláudia Valladão de Mattos.

 

 

Um dos principais destaques da exposição é o objeto/instalação “O/Limpo: Anima”, de 1971, da qual emana uma força da mistura de materiais díspares, contrastando com o espelho no qual o espectador vê a si mesmo.

 

 

“Sou um artesão de ilusões. O que realmente me interessa é a qualidade da ilusão. Se você conseguir atravessar o espelho e tiver a coragem de olhar para trás, você não vai ver nada”, declarou Wesley em uma de suas entrevistas. Com artistas como Nelson Leirner, Geraldo de Barros, Carlos Fajardo e José Resende, foi um dos fundadores do Grupo Rex, que oferecia um contraponto combativo e bem-humorado ao mercado de arte, na década de 1960. Nesse período, foi também responsável pela realização dos primeiros “happenings” da arte brasileira.

 

 

A proposta única da galeria é aproximar do público “evidências de que foi com sofisticada erudição, verve, estilo e impecável desenho que Wesley Duke Lee realizou toda a sua obra”, define o marchand Ricardo Camargo que assina a curadoria.

 

 

 

O Instituto Wesley Duke Lee Art Institute

 

 

Cláudia Valladão de Mattos, em 1997, descreveu a casa/atelier de Wesley Duke Lee como sendo um lugar mágico: “Lá nascem as ideias e para lá volta sua memória. As paredes repletas de recortes, quadros, desenhos, fotos, objetos, que se agrupam e se sobrepõem num conjunto visual vibrante, chamam a atenção pela sua proximidade com a Merz-Bau de Schwitters. Sua casa é o núcleo unificador de sua produção. Um grande “ambiente”, habitado e constantemente transformado pelo artista. Aqui as “séries” encontram o seu ápice e a verdadeira natureza unitária da obra de Wesley torna-se evidente.”

 

 

Em 2013, Ricardo Camargo e Patricia Lee materializaram um dos sonhos máximos do artista: criar um espaço para fomentar cultura em São Paulo, dar oportunidade a novos talentos e abrir caminhos nas artes. Nascia então o Wesley Duke Lee Art Institute. Após um longo trabalho de garimpo e preparação do espaço com todos os pertences do artista, a casa/museu é entregue ao público, paredes revestidas de lembranças e inspiração. Paredes que contam histórias e revelam a personalidade do artista, que dizia: “Minha casa sou eu virado para fora”. Em meio ao que parece uma bagunça de objetos, um sistema de memória usado pelo artista, na verdade, uma organização de relíquias que remontam a vida e as referências de Wesley Duke Lee.

 

 

 

Os objetivos são claros:

 

  • Preservar a obra, a pessoa, a história e toda a informação referente ao artista, atentando para que tudo seja verificado e organizado corretamente;
  • Fazer circular conteúdo cultural e informativo;
  • Provocar o pensamento artístico e criativo, reinventar a didática à maneira de Wesley Duke Lee e estimular o autoconhecimento.

 

Estão reunidos na casa/museu, textos diversos, cartas, fotografias, filmes, diários, desenhos, fichas de catalogação de obras, livros, objetos e toda sorte de memorabilia do artista. Grande parte do arquivo já está à disposição de estudantes e pesquisadores. O espaço é totalmente dedicado ao Instituto e está aberto para estudantes, pesquisadores e público. “Estou certa de que todo esse trabalho vai, assim, difundir a obra de Wesley e colaborar no reconhecimento e preservação do valioso acervo que o artista nos deixou, confirmando-o na posição merecida de um dos mais importantes de sua geração, líder de vários movimentos e acontecimentos que marcaram e transformaram a arte do século XX no Brasil. Fique tranquilo, Mestre Wesley, sua obra permanece viva e consistente, e o tempo corre a seu favor”, declara Cacilda Teixeira da Costa.

 

 

 

A composição dos membros

 

Diretor Administrativo/Ricardo Camargo; Diretora Cultural/Patrícia Lee; Coordenador de Marketing/Rodrigo Avelar; Analista de Marketing/Julio Jovanolli; Conselho Consultivo/Augusto Lívio Malzoni, Bruno Musatti, Cacilda Teixeira da Costa, Carlos Fajardo, Fabio Cascione, Fernando Stickel, James Lisboa, Jeanete Musatti, José Resende, Kim Esteve, Luisa Strina, Lydia Chamis, Marcelo Cintra, Max Perlingeiro, Olivier Perroy, Paulo Kuczynski, Ralph Camargo, Regina Boni, Roberto Profili, Telmo Porto e Thomaz Souto Correa.

 

 

De 12 de dezembro a 30 de janeiro de 2016.

Livro para Grassmann

01/dez

O Ministério da Cultura, Instituto Olga Koss de Inclusão Cultural e a Cinemateca Brasileira, convidam para o lançamento no próximo dia 10, do livro sobre o M. Grassmann, “Matéria dos sonhos” e abertura simultânea de exposição de obras do artista na Cinemateca Brasielira, Largo Senador Raul Cardoso, 107, Vila Clementino, São Paulo, SP. O livro é de autoria do crítico de arte Jacob Klintowicz.

 

 

A palavra de Jacob Klintowicz

 

 

Eu amaria que o Marcello ainda estivesse entre nós, pois a cada afirmação minha corresponderia  longas conversas, como os comoventes diálogos que mantivemos durante décadas. O meu livro é insuficiente para dizer da grandeza deste artista, mas é capaz de oferecer indícios, rastros, trilhas, sensações, vislumbres, sensíveis aproximações. A obra de um artista não se esgota no afetivo olhar do interlocutor, ao contrário, ela se abre para novos encontros.

Eu separei alguns recortes do meu ensaio para este convite. Também não esgotam o tema, mas enunciam o meu sentimento, pois são, na verdade, como disse mestre Barthes, fragmentos de um discurso amoroso.

 

 

1. Talvez nada seja mais belo, poético, revelador, profético e inspirador do que a “Tempestade”, de 1612, a última peça de Shakespeare (1564-1616). E, é provável, que este texto outonal seja o testamento do poeta, a derradeira mensagem, a sua síntese sobre a humanidade e a saga dos homens. Nele, Próspero, a sublime criatura  sonhada por William Shakespeare, define a natureza do homem e da vida: “Somos feitos da matéria dos sonhos”.

 

 

Ao contemplar as formas criadas por Marcello Grassmann, a extraordinária qualidade do seu desenho, o aprofundamento do tema de maneira tão elevada e com tanta propriedade, resta em nós a convicção de que entramos num universo antes desconhecido e agora revelado pela lucidez do artista. Este mundo que ele nos descobre e do qual sentimos que dele habitava em nós certo conhecimento, agora recuperado e reconhecido, esta enevoada e submersa realidade: a estranheza deste lugar de cavalheiros e armaduras, animais míticos, seres das sombras, quimeras, donzelas intangíveis e belas, e no qual o destino paira sobre todos. É o mundo feito da mesma matéria de que se fabricam os sonhos.

Marcello Grassmann elabora com a matéria sutil e a sua revelação é a de uma estrutura metafísica e ideal, densa e soberana, mas, e aqui uma das marcas do artista, construída na atmosfera da energia delicada e inapreensível, aquela feita de mitos e fábulas, que somente se acende quando a consciência adormece.

 

 

2. E como são figuras arcaicas e atemporais, a perenidade lhes confere, por sua vez, a fatalidade. Eternamente esta cena e este olhar se repetirão.

 

 

3. A característica atemporal da cena e o fantástico das figuras representam uma intervenção nas ordenações rotineiras do nosso mundo.

 

 

4. Em arte a nuança é tudo. Mais que a nuança, o subjacente é tudo. O que permeia, o não explícito, o intervalo, o silêncio entre os ruídos, o oculto entre os sinais, o simplesmente impregnado. A nuança é o sol e a lua, o dia e a noite e, quando se trata de Marcello Grassmann, o subjacente é a treva e o diálogo entre o perecível e o destino, entre a fragilidade do vital e a entropia da morte.

 

 

5. Lilith assumiu o seu próprio destino, a sua natureza, é o ser diante do mundo. Lilith recusou a proteção divina e as regras impostas por Deus às suas criaturas. De certa maneira, Lilith cria o seu próprio metro. Os filhos da lendária Lilith são personagens de Grassmann na recriação do mundo. Marcello Grassmann não nos devolve o paraíso, mas o mundo a partir de Lilith.

 

 

6. …é o mais próximo da intenção do artista, é o confronto do ser humano com o seu inelutável destino. O diferencial entre o ser humano e a vida puramente animal é a consciência que é identificada, fundamentalmente, pela percepção do tempo. O homem é aquele que sabe que morrerá.

 

 

7. Marcello Grassmann penetra neste universo não cotidiano da mesma maneira como isto sempre ocorreu, através da vidência. E a vidência não é um estado de delírio. Ao contrário, é um se colocar noutro tempo e espaço conservando a lucidez e a memória. O vidente é aquele capaz de retornar com a memória da visão. 8. “Eles não entendem. Eu nunca escreverei um grande romance. Meu grande romance é o mosaico de todo os meus pequenos romances. Entende?”. G. Simenon em entrevista a C.Collins. Carvell Collins entendeu. Eu entendi. E o Marcello Grassmann, a seu próprio respeito, sempre soube disto.

Na dotART em Belo Horizonte

16/nov

A renovada Galeria dotART, bairro Funcionários, Belo Horizonte, MG, apresenta na galeria 1, a exposição coletiva “O dia se renova todo“, e na galeria 2, a primeira exposição individual do fotógrafo Fabiano Al Makul denominada “Outros olhos para ver”. No mesmo dia, lança os livros/obra “Galáxias“, de Antonio Dias e Haroldo de Campos e “Galpão Gaveta“, de Paulo Climachauska. Com 41 artistas e 50 obras a coletiva “O dia se renova todo dia” apresenta: pinturas, desenhos, fotografias, gravuras, objetos e esculturas. Os artistas foram convidados pelo curador Wilson Lazaro, diretor artístico da galeria, que exibe a primeira grande mostra e apresenta o conceito da nova identidade da dotART, desenvolvida pelo designer Felipe Taborda.

 

 

O time escalado para as duas exposições e lançamentos é composto dos mais diversos idiomas visuais: Adriana Varejao, Janaína Tschape, AnishKapoor, Leonilson, Cássio Vasconcellos, Pedro Varela, Paul Morrison, Richard Serra, FransKrajcberg, Rubem Ludolf, Tomás Saraceno, Ivan Navarro, Sarah Morris, PhilipeDecrauzat, Lygia Pape, Rubem Valentim, Rubem Ianelli, Alexander Calder, Iole de Freitas, Nelson Felix, Cildo Meireles, Michael Craig-Martin, Antonio Dias, Paulo Pasta, Paulo Climaschauska, Volpi, Andy Warhol,Wanda Pimentel, Lucia Laguna, Marina Saleme, Celso Orsini, Nelson Leirner, Anna Maria Maiolino, Paulo Campinho e Marina Rheingantz.

 

 

Sobre Antonio Dias e o livro obra “Galáxias”

 

Antonio Dias nasceu em 1944, em Campina Grande, na Paraíba e, ainda criança mudou-se para o Rio de Janeiro. Artista multimídia, tem a pintura como elemento de forte presença em seu trabalho. Em meados dos anos sessenta, ganhou uma bolsa do governo francês e foi morar em Paris. Depois de um longo período no exterior, entre Milão, na Itália, e Colônia, na Alemanha, volta, em fins dos anos noventa, a dividir seu tempo com o Brasil, onde tem residência no Rio de Janeiro. O projeto desenvolvido por Antonio Dias junto com Haroldo de Campos (1929-2003) no começo da década de setenta, leva o mesmo nome do famoso livro-poema do poeta concretista – “Galáxias”. E, mais de quarenta anos depois, ganha a participação da designer Lucia Bertazzo em sua produção. Com edição de 93 exemplares, e grande formato – 70cm x 50cm com 7cm de altura – “Galáxias” é um estojo de fibra de vidro revestido em tecido, que contém, em cada exemplar, um conjunto de 32 objetos feitos pelo artista, agrupados e acondicionados em dez caixas de madeira impressa com peles, tema presente em sua obra. Esses objetos – foram realizados manualmente – revêem a trajetória artística de Antonio Dias no período dos anos setenta. A realização de “Galáxias”, a cargo da UQ/ Aprazível Edições, demandou quatro anos de cuidadoso trabalho, com centenas de provas e protótipos, e grande diversidade de materiais empregados: tecido, acrílico, foam, plástico, algodão, pergaminho. As formas de impressão também variam entre fotogravura, tipografia, hot stamping, serigrafia e pouchoir. Metade da edição foi adquirida por colecionadores e importantes museus: MAC de Niterói (Coleção João Sattamini), MAM Rio (Coleção Gilberto Chateaubriand), Pinacoteca  de São Paulo e MoMA de Nova York.

 

 

Sobre Paulo Climachauska e o livro obra “Galpão Gaveta”

 

A obra de Paulo trabalha, sobretudo, com a operação de subtração e de retirada. Trata-se de um déficit que vai além da abstração numérica e se aproxima de questões econômicas, sociais e políticas, mesmo quando o artista elege a natureza como tema. No texto que acompanha a obra de 7 itens e 18 exemplares está escrito: “O Galpão Gaveta, este que você acabou de ler, começou a ser habitado em junho de 2012. Galpão é o lugar em que o extrato dos seres e o sumo das coisas se depositam. Eles podem ser habitados, sim!, por poéticas e por traços. É o que decidiu fazer Paulo Climachauska ao recolher réguas e compassos, telas e tintas, papéis e espelhos. Tudo colecionado dentro de seu imaginário e transformado em matéria-viva: o Galpão Gaveta.” Uma gaveta pode ser uma obra de arte? Pode. Uma não, muitas. O Galpão Gaveta, invento que se atribui ao artista Paulo Climachauska, traz dentro de si uma multidão de objetos. Vamos contar?

 

1. Um estojo em aço, pintado na cor laranja, de 50 x 40 cm (com 9 cm de altura) que contém… uma gaveta. 2. A gaveta, por sua vez, contém seis outros objetos. 3. O primeiro é uma pintura original sobre cartão telado em cada exemplar. Isso mesmo: um original em tinta acrílica, assinado no verso. 4. O Livro de Areia, revestido em tecido, traz arabescos gráficos do que se passa pela cabeça do artista. 5. Já o Livro dos Espelhos, também revestido em tecido, se entreabre num firmamento de números. 6. Outro estojo contém cinco gravuras e um surpreendente texto, todos impressos em serigrafia sobre acetato, revelando galpões em perspectiva – aqui denominados de “Catedrais”. 7. Uma dupla de esquadros em aço niquelado sai do berço da caixa e ficam de pé, como se esculturas fossem.

 

 

Sobre Fabiano Al Makul

 

Fabiano Al Makul é apaixonado, vai ao mundo pelo coração. Sua pesquisa não é sistemática.Os temas parecem escolhidos ao acaso, como se começasse sempre pela curiosidade. Pode ser uma canção musical, um encontro… e ao fim a imagem é sempre um gesto de afeto. Suas representações formam histórias, têm a ver com a liberdade que existe na ficção. Fantasias e sonhos: esse é sempre o começo do criar desse artista. Ele quer fazer você se emocionar diante das suas criações! Uma boa criação é construída com amor, por nuances de cores e lembranças de lugares. Há um momento especial onde o autor captura a passagem da vida e a coloca junto com o sentir “arte”. A beleza da imagem tem o poder da transformação de cada dia vivenciado, é realidade presente em quase todas as esferas do cotidiano, da estética. Vale lembrar a história da arte e seus segmentos, que conseguiam estabelecer-se porque havia “beleza” em todos os movimentos. A cor, o movimento e a música se unem ao desejo e à fragilidade, em momentos únicos da vida e em cada cena retratada por Fabiano nas suas composições visuais. Sua fotografia cria um frescor raro, que está nos romances, na alma da velha-guarda do samba, nas canções populares, nas viagens, nos lugares, na arquitetura e nas pessoas… cada um, quando entra em contato com sua obra, sente que ele traz à superfície um mundo híbrido, onde os limites entre as culturas, os meios ou linguagens são cada vez mais indefinidos. É com um “olhar de beleza” que poderemos ultrapassar quaisquer fronteiras ainda demarcadas e admirar, sentir e penetrar nas criações exibidas. O artista captura suas imagens no instantâneo da ação de ver, registrando com novo olhar as cenas do cotidiano e “escrevendo” textos com rimas de luz e sombra. Esse é o nosso poeta Fabiano!

 

Sobre a Galeria dotART

 
A dotART foi criada por Feiz e Maria Helena Bahmed nos anos setenta e é pioneira na divulgação e promoção da arte  em Belo Horizonte e no estado de Minas Gerais. Agora, surge a renovada Galeria dotART, que, com planejamento e pesquisa, desenvolve um plano para a carreira de cada um dos artistas que representa na região buscando as soluções mais criativas e eficientes, apoiados em pesquisa, consultoria, curadoria, publicações e gestão de projetos para as instituições.

 

A renovação acontece. Fernando Bahmed e Leila Gontijo são herdeiros de Maria Helena e Feiz, atuam no mercado de arte, e assumem a galeria trazendo novo vigor para os projetos. Luciana Junqueira, passa a fazer parte da dotART. Ao grupo, somam-se Wilson Lazaro, diretor artístico, e toda a equipe: Felipe Taborda, Francisco Santos, Hélio Dalseco, Ivanei Souza, Jéssica Carvalho, Robson Gomes e Sérgio Souto.

 

Ao longo dos últimos 40 anos, vários artistas já passaram pela galeria: Volpi, Amilcar de Castro, Leda Catunda, Frans Kracjberg, Cildo Meireles, Fernando Lucchesi, Marcos Coelho Benjamin, Iberê Camargo, Ianelli, Siron Franco, Bruno Giorgi, Amelia Toledo, Iole de Freitas, Marina Seleme, Sara Ramo, Paulo Campinho, Eduardo Sued, Sonia Ebling, Rubem Valentim, Angelo Venosa, Alexandre Calder, Anish Kapoor, Leonilson, Adriana Varejão, Niura Bellavinha, José Bento, Fabiano AL Makul, Adriana Rocha, Regina Silveira, Gonçalo Ivo, Paulo Pasta, Nelson Felix, Daniel Senise, Iran Espirito Santo, Manfredo de Sousa, Vik Muniz, Fernanda Nanam, Cristina Canale, Ana Horta, Paulo Climachauska, Antonio Dias, Anna Maria Maiolino, Paulo Campinho, José Bechara, Judith Lauand, Hércules Barsotti, Cícero Dias, Celso Orsini, Roberto Magalhães e Wanda Pimentel, entre outros.

 

 

A partir de 25 de novembro.

Legendas: Iole de Freitas

Cassio Vasconcelos

Iberê no MAM-Rio

14/set

A mostra “Iberê Camargo: um trágico nos trópicos” abriu as homenagens ao centenário do artista no CCBB/SP em maio de 2014 e, no final do ano, foi reconhecida como melhor exposição retrospectiva pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em sua 59ª edição. A sua reedição no MAM Rio é um marco de encerramento desse ano comemorativo, justamente na cidade onde Iberê morou, de 1942 a 1982, consolidou sua formação artística e consagrou-se como um dos mais importantes artistas modernos brasileiros. As 134 obras que compõem a exposição foram especialmente selecionadas pelo curador, professor e crítico de arte, Luiz Camillo Osorio e incluem pinturas, desenhos, gravuras e matrizes.
Na versão carioca da exposição, o público poderá apreciar desde obras da década de 50 – período em que Iberê retornou da Europa para o Rio após ter estudado com mestres como Carlos Alberto Petrucci, De Chirico e André Lhote – até as grandes e trágicas telas de sua última fase, nos anos 90, que incluem as séries: “Ciclistas”, “As Idiotas” e “Tudo Te é Fácil e Inútil”.

 

“O núcleo da exposição é o processo de amadurecimento da trajetória de Iberê, dos Carretéis até as telas dos anos 1980, quando a figura humana começa a reaparecer. E como não poderia deixar de ser, haverá uma pequena mostra complementar do Iberê gráfico, apresentada como uma exposição de câmara, intimista, em que muitos dos seus temas e obsessões são trabalhados no corte preciso da linha e das várias experimentações realizadas como gravador”, afirma o curador.
Em 1994 foi realizada no CCBB do Rio de Janeiro uma grande exposição retrospectiva de Iberê Camargo. Para o catálogo desta exposição, o curador Ronaldo Brito escreveu um ensaio a que deu o título de “Um Trágico Moderno”. Ao longo da exposição, já doente, o artista veio a falecer. Foi ali que vi pela primeira vez o conjunto de grandes pinturas figurativas de sua última fase, iniciada em 1990. Beirando os oitenta anos Iberê daria naquelas últimas telas um salto trágico, radicalizando a experiência do corpo e da finitude. Tudo ali ganhava uma gravidade exacerbada. As fisionomias são abrutalhadas como na fase negra do Goya, os corpos ganham uma carnalidade aderida à superfície encrespada da tela, a atmosfera, atravessada por uma luminosidade fria, é pós-apocalíptica. Deparar-me com estas telas foi desconcertante. Continua sendo. Quanta força e quanto desencanto.
Esta exposição retrospectiva aqui no MAM, encerrando as comemorações do centenário do artista, tem como premissa uma relação direta entre a presença viva da matéria pictórica e a potência trágica da sua pintura. Não há uma narrativa cronológica, mas um esforço de perceber o modo como ao longo de sua trajetória, ao menos desde o momento em que conquista sua maioridade pictórica com os carretéis, há uma mesma tensão entre pintar um motivo e o próprio motivo da pintura. Uma viva tensão entre algo percebido e a densidade do gesto e das camadas de tinta. Demos ênfase, ao fazer as escolhas curatoriais, à fase madura do artista, mostrando-a como coroamento de sua trajetória, em que a recuperação da figura foi menos um retorno a algo que havia sido abandonado e mais uma explicitação da corporeidade – do homem e da pintura – e sua inscrição como visualidade encarnada.

 

 

 

Até 01 de novembro.

Exposição na Fundação Vera Chaves Barcellos

21/ago

A Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS, apresenta a mostra “Destino dos Objetos | O

artista como colecionador” e as coleções da FVCB. Impressões, desenhos, fotografias,

gravuras, fotocópias, objetos, esculturas, colagens e vídeos integram a mostra que reúne um

diverso grupo de 50 artistas de várias nacionalidades. Com curadoria de Eduardo Veras,

“Destino dos Objetos” examina como, por diferentes caminhos, os artistas se fazem

colecionadores, ou, pelo menos, como seus trabalhos podem replicar algo do furor

colecionista.

 

Há aqueles que tratam de isolar, recolher e sacralizar peças específicas, peças que

imediatamente perdem sua função original, mesmo que não renunciem às memórias que

carregam. Há também aqueles em que, mais do que a escolha, despontam as noções de

acúmulo, ordenamento e classificação. Entre uns e outros, o artista emerge como o sujeito dos

desejos e das decisões, oferecendo ou adivinhando um destino para os objetos.

 

A exposição remonta ao gérmen da própria Fundação Vera Chaves Barcellos, cuja origem

encontra-se nas coleções de arte formadas pelos artistas Vera Chaves Barcellos e Patricio

Farías ao longo dos anos, antes mesmo da formalização desse importante centro de divulgação

de arte contemporânea.

 

Participam da mostra artistas brasileiros, latino-americanos e europeus: 3NÓS3, Albert

Casamada, Almandrade, Amanda Teixeira, Anna Bella Geiger, Antoni Muntadas, Boris Kossoy,

Brígida Baltar, Cao Guimarães, Carlos Asp, Carmela Gross, Christo, Daniel Santiago, Elcio

Rossini, Ester Grinspum, Evandro Salles, Feggo, Gisela Waetge, Gretta Sarfatty, Hannah Collins,

Heloísa Schneiders da Silva, Hudinilson Jr., Jailton Moreira, Jesus R.G. Escobar, Joan Rabascall,

Joaquim Branco, Joelson Bugila, Julio Plaza, Klaus Groh, León Ferrari, Lia Menna Barreto, Mara

Alvares, Marcel-li Antunez, Marcelo Moscheta, Marco Antônio Filho, Marcos Fioravante, Maria

Lúcia Cattani, Mariana Silva da Silva, Marlies Ritter, Mario Ramiro, Mário Röhnelt, Michael

Chapman, Nicole Gravier, Nina Moraes, Patricio Farías, Rogério Nazari, Téti Waldraff, Ulises

Carrión, Vera Chaves Barcellos e Waltércio Caldas.

 

A exposição contará com uma programação paralela com palestras, conversas com artistas,

além das visitas mediadas e da promoção do Curso de Formação Continuada em Artes – ações

permanentes do Programa Educativo da FVCB, que segue oportunizando vivas experiências

com a arte e estimulando a formação de novos públicos.

 

 

De 22 de agosto a 12 de dezembro.

Em memória de artistas plásticos brasileiros

18/ago

Grandes representantes da arte visual brasileira da segunda metade do século XX já partiram

deixando saudades, mas perpetuam-se na história através de suas criações. A exposição “Era

só saudade dos que partiram”, no Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, Portão 10, São

Paulo, SP, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, homenageia alguns dos

artistas que fazem parte da trajetória artística do artista plástico Emanoel Araújo, fundador e

Diretor Curador da instituição.

 

A mostra é composta por aproximadamente 40 obras, entre pinturas, gravuras, esculturas e

fotografias, que revelam a diversidade de personalidades marcantes que partiram nos últimos

anos, como Antônio Henrique Amaral, Antonio Maluf, Arcangelo Ianelli, Edival Ramosa, Gilvan

Samico, Hércules Barsotti, Ivens Machado, Odetto Guersoni, Marcelo Grassmann, Maria Lidia

Magliani, Mestre Didi, Sonia Castro, Tomie Ohtake e Otávio Araújo, recém-falecido, aos 89

anos, no último dia 25 de junho de 2015.

 

Emanoel Araújo comenta: “Esta exposição é uma homenagem à memória dos artistas plásticos

brasileiros, falecidos em diferentes momentos, deixando lembranças das suas humanidades e

de suas criações.”

 

Alguns destes artistas fazem parte do Acervo do Museu Afro Brasil, como: Maria Lidia Magliani

(1946 – 2012), artista irreverente e marcante com suas pinceladas e cores; Mestre Didi (1917 –

2013) um “sacerdote-artista”, que foi um dos fundadores de uma linguagem afro-brasileira

com sua obra escultórica; Arcangelo Ianelli (1922 – 2009) que com cores fortes e uma

particular geometria, o acompanhou por toda sua vida em suas pinturas e esculturas; Edival

Ramosa (1940 – 2015), autor de pinturas, objetos, esculturas e jóias que se manteve fiel as

suas escolhas formais e cromáticas por toda sua carreira, unindo materiais naturais e

industriais e Otávio Araújo (1926 – 2015), que produziu gravuras, desenhos e pinturas

sensuais, aglutinadoras de uma poesia de mistérios e imagens e evocadoras de uma magia

atemporal.

 

 

De 18 de agosto a 18 de outubro.

Francisco Dalcol apresenta Antônio Augusto Bueno na Galeria Mamute

12/ago

A Galeria Mamute, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, divulga e convida para a abertura da

exposição “Antes era só o vão”, do artista Antônio Augusto Bueno. A mostra com curadoria de

Francisco Dalcol apresenta um conjunto de trabalhos abrangendo pinturas, instalação, vídeo

com participação de Bebeto Alves, Eduardo Montelli e Luís Filipe Bueno e, gravuras em metal

impressas por Marcelo Lunardi.

 

 

A palavra do curador

 

Antes era só o vão

 

Os trabalhos de Antônio Augusto Bueno parecem atravessados por algo que não lhes

pertence, mas ao mesmo tempo os constitui. Esse aparente desacerto vem de uma indisciplina

do artista, no sentido de uma postura interessada na liberdade de experimentar no trânsito

entre linguagens, sem se prender a uma ou outra, intercambiando constantemente técnicas e

procedimentos.

 

Nas obras que integram a nova série “Antes era só o vão”(1), pintura é também gravura, assim

como escultura é desenho, e gravura é pintura. Os inversos também, pois um está sempre no

outro, formando zonas de indefinição. E ao se contaminarem, trazem como recompensa a

descoberta, com todas as aberturas e possibilidades que os momentos de incerteza ensejam.

 

A montagem da exposição na Mamute busca tirar força desses rebatimentos, do ir e vir que se

estabelece entre as obras e as diferentes modalidades artísticas que as compõem, propondo

ao espectador, a partir da disposição dos trabalhos, algumas relações visuais; umas mais

imediatas, outras menos explicitadas.

 

A instalação na entrada da galeria ocupa o pequeno espaço vago ao lado da escada. Se antes

era só um vão, há agora ali a tentativa de transformar esse não lugar em uma situação.

Realizado especialmente para esta mostra, o trabalho é composto por gravetos que Antônio

Augusto recolhe e estrutura em forma de armações, filiando-se a uma série de outras obras de

viés escultórico que tem realizado ao longo de sua produção. É como se ele desenhasse o

objeto no espaço, vendo nos galhos as linhas do desenho, mas também as manchas, quando

reunidos como espécie de grandes maços e ramalhetes.

 

As salas expositivas do andar de cima apresentam as novas pinturas e gravuras da série “Antes

era só o vão”. Nas telas em grande formato, as manchas carregam um aspecto de vestígios

ancestrais, como marcas de um tempo passado. Também lembram os troncos das árvores do

quintal do Jabutipê, o ateliê na antiga casa que Antônio Augusto mantém em uma rua ainda

silenciosa no Centro Histórico de Porto Alegre. Remetem ainda às paredes rachadas,

descascadas e fraturadas que permanecem em pé no casarão em ruínas próximo ao Jabutipê

onde foi gravado o vídeo do qual vem o título desta exposição.* De algum modo, essa

visualidade do entorno cotidiano do artista está impregnada nessas pinturas.

 

Mas nada seria assim sem a bem-vinda intromissão da gravura. Nessas pinturas, está plasmado

um processo alongado e pausado, fruto de um procedimento experimental. Sobre a massa de

pigmentos e tinta acrílica, o artista sobrepõe betume em algumas áreas. Esse material, muitas

vezes usado nos processos de gravura, vira tinta também, compondo novas manchas. As

camadas acumuladas são frequentemente raspadas, em um gesto de adição e subtração de

matéria, e também cavoucadas, como nos procedimentos de incisão da gravura. É um

processo não imediato, que leva dias, como o tempo de espera que muitas vezes a gravura

demanda. E nesse transcorrer, que permite um olhar mais vagaroso e, por isso, reflexivo, as

dúvidas advindas sempre dão a ver possibilidades a serem testadas e encaminhadas.

 

Pode-se pensar nesse sentido as gravuras da série. Pela primeira vez, Antônio Augusto

apresenta em público um conjunto representativo de trabalhos gráficos, essa modalidade

artística de tanta tradição e relevância histórica na arte gaúcha. Novamente, interessa ao

artista a margem experimental, aqui oferecida pela gravura em metal e pelo tempo próprio a

seu processo. Isso começa nos modos com que explora o desenho sobre as matrizes, passa

pela alquimia de ácidos e outros materiais aplicados nas placas como se ele as estivesse

pintando, e chega à etapa de impressão, cujas primeiras provas sempre levam o artista a

refazer o percurso do processo em busca de novos efeitos. Assim, a imagem final fixada sobre

o papel é antecedida por uma série de testes e experimentos. O que se obtém são resultados

sobrepostos e acumulados. Ao fim, continua sendo gravura, mas também desenho e pintura. E

ainda escultura. Se na instalação os gravetos se articulam como linhas no espaço, na gravura se

dá o oposto, com as linhas do desenho se tramando como se fossem elas os gravetos.

 

Em um olhar atento, é possível perceber que, ao longo da série “Antes era só o vão”,

evidencia-se um aspecto central que perpassa a totalidade da obra de Antônio Augusto de um

modo tão pessoal: o gosto pela artesania e pelo vagar que lhe é inerente, opções que, ao

serem assumidas pelo artista, ganham certo caráter político em tempos tão apressados e

automatizados como os nossos. Tempos esses dos quais apartar-se conscientemente significa

não só um ato de resistência, mas um gesto autêntico e singular de se colocar no mundo.

 

Francisco Dalcol

(1) “Antes era só o vão” é um trecho do texto de Luís Filipe Bueno que integra o vídeo

apresentado na exposição.

 

 

Sobre o artista

 

Antônio Augusto Bueno é Bacharel em Desenho (2004) e Escultura (2008), pelo Instituto de

Artes da UFRGS. Desde 1998 vem realizando exposições individuais, dentre elas “Cabeças –

armadilhas para um significado” no Museu do Trabalho / POA; “Anotador de Faces” Galeria

Municipal de Arte em Florianópolis, “Uma Maneira de Pensar” no MALG, Pelotas/RS, “As

desórbitas do avesso” na Arte&Fato galeria, POA/RS, “Gravetos Armados” no MAC RS,  Galeria

Iberê Camargo,  Porão do Paço Municipal, POA/RS, “Desenhos” no Estudio Dezenove, Rio de

Janeiro/RJ, “Um outro outono” MARGS.  Desde 1996 participa de exposições coletivas como

“Do Atelier ao cubo branco”, “A bela morte” e “O Cânone Pobre” no MARGS, POA/ RS, “Idades

Contemporâneas”, ”Entre A-Z” e “Da matéria sensível” no MAC-RS em POA/RS, “Desvenda” no

Museu da República, Brasília/DF, ArtLive 2011 na CATM Chelsea, Nova York/EUA. Participou de

salões, dentre eles o Salão do Jovem Artista no MARGS, POA/RS, Salão da Câmara, POA/RS e o

Salão Nacional de Cerâmica no Museu Alfredo Andersen, Curitiba/PR. Em 2015 lançou o livro

Jabutipê, em 2012  o livro “O último homem na lua” com exposição no MAC-RS e Ilustrou o

livro “Arame falado” editado pela editora 7 letras do Rio de Janeiro/RJ . Em 2007 recebeu o

Prêmio Açorianos na categoria Melhor Exposição Coletiva com o Grupo Passos Perdidos e em

2008, o Prêmio Açorianos na Categoria Cerâmica com o Bando do Barro, além de ser indicado

na categoria Artista Revelação. No ano de 2009 foi indicado na categoria Desenho, pela

exposição “Tempo sobre Papel”, em 2012 foi indicado na categoria Escultura pela exposição

“Gravetos Armados” e em 2013 foi indicado em cinco diferentes categorias. Em 2013 recebeu

menção honrosa no 2° `Prêmio IEAVi pela exposição “Circulando linhas”. Tem trabalhos em

acervos do MARGS, MACRS, UFRGS, Fundação Franklin Cascaes e Fundação Kingler Filho.

Participou em 2000, da criação do Atelier João Alfredo 512, onde trabalhou até 2007. Em 2007

e 2008 integrou o grupo do Atelier Subterrânea. Desde 2008 realiza seus trabalhos, ministra

aulas e coordena o espaço expositivo do Jabutipê, situado no centro histórico de Porto Alegre.

É artista representado pela galeria Mamute.

 

 

Sobre o curador

 

Francisco Dalcol é doutorando em História, Teoria e Crítica pelo Programa de Pós-Graduação

em Artes Visuais (PPGAV) do Instituto de Artes da UFRGS. Mestre pelo Programa de Pós-

Graduação em Artes Visuais (PPGART), da UFSM, na linha de pesquisa Arte e Cultura, com

ênfase em história, teoria e crítica (2013). Graduado em Comunicação Social, com habilitação

em Jornalismo, pela Universidade Federal de Santa Maria (2003), com especialização em

Comunicação e Projetos de Mídia, ênfase em arte, cultura, internet e cibercultura, pelo Centro

Universitário Franciscano – Unifra (2008). Também trabalha como jornalista (repórter e editor)

no jornal Zero Hora – Grupo RBS, sendo setorista de artes visuais. Tem experiência na área de

Comunicação, com ênfase em Jornalismo, Editoração, Jornalismo Cultural e Jornalismo Digital,

e também na de Artes e Cultura, atuando principalmente nos seguintes temas: história, crítica

e discursos sobre a arte e a produção cultural.

 

 

Até 09 de outubro.