Artistas brasileiros em Londres

29/set

Em cartaz na instituição independente britânica Ruby Cruel (Hockney) entre 29 de setembro a 14 de outubro, a exposição MUAMBA: brazilian traces of movement (MUAMBA: rastros brasileiros de movimento) reúne mais de 25 artistas das diferentes regiões do Brasil. Com a curadoria do carioca Lucas Albuquerque, a coletiva traça um panorama da arte brasileira refletindo sobre a condição do objeto artístico e a sua dificuldade de circulação no âmbito internacional. Parte da programação paralela da 20ª edição da feira de arte Frieze London, a mostra abrange diferentes poéticas de jovens nomes brasileiros que foram convidados pelo curador a refletir sobre as questões em torno do movimento e da circulação de suas obras, tanto no campo simbólico como físico.

Entre trabalhos inéditos e outros de grande projeção no cenário brasileiro contemporâneo, a exposição permeia discussões históricas, culturais e identitárias que apresentam o Brasil como um complexo emaranhado de signos em trânsito que, por sua vez, encontram novos ecos por meio de seu transporte e contemplação no circuito europeu. Inspirado na caixa-valise de Duchamp, dispositivo móvel que continha versões miniaturizadas de suas obras e ready-mades – que em 1942 foi despachado da Europa para os Estados Unidos como uma “caixa de utensílios domésticos” -, mas sem esquecer das Flux Kits do grupo dadaísta Fluxus, da Valoche de George Brecht e, em terras brasileiras, de toda a relevância do pensamento de arte como meio em trânsito de Paulo Bruscky, o projeto parte desses interlocutores para instigar artistas brasileiros a pensar maneiras de habitar esse espaço, burlando a política de apagamento pautado em questões econômicas que assola poéticas latino-americanas e sua livre circulação.

“Quando fui convidado pelo espaço para pensar uma exposição que pudesse vencer a distância transatlântica entre Brasil e Reino Unido e superar os limites financeiros dessa empreitada, logo pensei na inteligência latino-americana elaborada por nós para conseguirmos nos ver em espaços que durante tanto tempo nos foram negados. Logo, convidei os artistas a pensarem trabalhos que coubessem em uma única mala e comportassem outros vinte e tantos parceiros de viagem”, explica Lucas Albuquerque, que estabeleceu como principal foco deste projeto artistas ainda sem representação comercial, como Ana Hortides, Darks Miranda, Keila Sankofa e Yhuri Cruz; além de também trabalhar com nomes representados por galerias recentemente através de programa voltados a práticas artísticas experimentais, como Arthur Palhano, Íris Helena e Laryssa Machada. “Refleti sobre o lugar simbólico que permeia esse lugar da informalidade e fui abraçado pela ideia da muamba, palavra da língua angolana quimbundo, que designa tanto um cesto comprido usado para transportar cargas em viagem, como também se popularizou durante o período da escravatura por se referir aos produtos trazidos clandestinamente de África e vendidos em solo brasileiro. Fala, portanto, de meio e de condição e está intrincado à formação da nossa cultura”, completa o curador.

Esta é a primeira iniciativa que irá reunir tantos nomes brasileiros no Ruby Cruel, instituição artística sem fins lucrativos fundada e dirigida pelo artista Blue Curry em 2019 com a missão de estabelecer diálogos por meio de exposições e residências, colaborando tanto com artistas locais quanto com profissionais criativos de renome internacional. “Meu encontro com Lucas Albuquerque em Londres foi marcante, inspirando-me a convidá-lo para colaborar conosco. Na ocasião, discutimos sobre como produzir uma exposição com soluções econômicas de maneira a superar as barreiras espaciais. E eis que aqui estamos!”, revela Blue Curry.

Nascida em Porto Alegre (RS) e baseada em Salvador (BA), a artista Laryssa Machada é um dos nomes que fazem parte da coletiva. Em sua produção, ela debate o processo de formação cultural colonial da identidade brasileira e como o trabalho de arte pode funcionar em uma lógica inversa de “desinvasão” e emancipação deste imaginário. “A gente precisa de fato circular essas contra-narrativas. Ganhar na repetição. Essa história colonial vem sendo repetida há mais de 500 anos. Então, penso inclusive o ato da muamba como coletar outros saberes e trocar por aí. E é o que viemos fazendo, ainda que desacertados em alguns territórios. Estranhados”, comenta a artista.

Já o paulistano Kauê Garcia (Campinas, SP) reflete sobre como a cultura underground brasileira pode reverter – ou mesmo prenunciar outras possibilidades históricas – a influência britânica na cena brasileira. “Procuro levantar uma contra narrativa em relação à origem do nome da banda Sex Pistols através da criação de uma outra, brasileira e periférica, nomeada Pistolas Sexuais. Busco discutir algumas questões atuais como a sede por pioneirismo, os movimentos de revisão histórica e decolonialidade, o apagamento da cultura local pela hegemonia global, as maneiras como são construídas as narrativas históricas oficiais”, conta.

Apesar da exposição nascer em uma urgência de ordem prática, Lucas Albuquerque observa que é interessante pensar o lugar do informal no que se convencionou como a formalidade do circuito contemporâneo brasileiro de arte. Necessidades estas que não se encerram apenas quando pensamos na passagem de tantos artistas brasileiros e latino-americanos entre continentes de maneira informal, na base da muamba, mas que é traçado em pequenos gestos, como o jovem artista que leva consigo o trabalho para uma exposição coletiva. “Isso sem falar no tanto de muambeiros e muambeiras que foram necessários a labuta para que corpos como o meu e de muitos artistas aqui chegassem em terras europeias”, comenta o curador, que finaliza “E, claro, não vejo potência de estar aqui se não para usar meu trabalho como anúncio de todas essas potências que estarão aqui, pulsando em suas poéticas. Quando vou, carrego os meus comigo.”

Fonte: DasArtes.

Arte fluminense em Madrid

01/set

A mostra “Notícias do Brasil: Carybé, Cícero Dias e Glauco Rodrigues”, composta por obras dos três artistas pertencentes ao acervo do Sesc RJ que foram recuperadas e recolocadas no circuito expositivo, entram em exibição em Madri, Espanha, de 08 de setembro a 07 de outubro. A mostra será na Casa de América, um dos mais importantes centros de arte da Espanha.

A exposição é uma das atrações do Festival ¡Hola Rio!, ação inédita de internacionalização da arte produzida no estado do Rio de Janeiro e realizada pela Casa de América, Sesc RJ e Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa com o apoio de diversos parceiros, entre eles, a prefeitura da capital espanhola.

A mostra estreou em janeiro de 2022 no Espaço Cultural Arte Sesc em celebração ao centenário da Semana de Arte Moderna. Ela marcou a reabertura do ambiente, após a instituição restaurar a Mansão Figner – casarão centenário que foi residência do empresário considerado o pioneiro da indústria fonográfica no Brasil, Frederico Figner.

A proposta do espaço cultural localizado no bairro do Flamengo, além de apresentar uma série de manifestações artísticas, foi publicizar o acervo de obras de arte do Sesc RJ. São mais de 500 peças que estão sendo recuperadas e tornadas públicas por meio de diferentes recortes curatoriais – entre eles a exposição “Notícias do Brasil”.

Com curadoria de Marcelo Campos e Pollyana Quintella, “Notícias do Brasil” é composta por 48 gravuras através das quais é possível perceber um Brasil de forte tradição popular, nas festas, nas relações interétnicas, nas vendedoras de tabuleiro, nas janelas e sacadas dos sobrados coloniais.

“Carybé, Cícero Dias e Glauco Rodrigues noticiaram um Brasil por entre as frestas das janelas, nas praças públicas, nas festas de largo. E, assim, escancararam singularidades étnico-raciais, tanto em personagens quanto nos fatos culturais que vão das tradições afro-religiosas, do catolicismo popular à prostituição. Esses artistas perceberam que o país do futuro já se desenhava pelos avessos da história. Seus heróis advêm do povo. Seus afetos se revelam através das janelas, nos interiores das casas. Suas praças são repletas de comércios informais, vendedoras de acarajé, na compra e venda do pescado”, reflete Marcelo Campos.

 

O legado de Emanoel Araujo

30/ago

 

Texto de apresentação da Galeria Jack Shainman que agora representa o legado de Emanoel Araujo!

 

A Galeria Jack Shainman tem a honra de anunciar a representação do Espólio de Emanoel Araújo e a próxima exposição Emanoel Araújo. Esta não será apenas sua apresentação de estreia na galeria, mas também o primeiro grande levantamento de sua obra em Nova York desde os anos 1980. O falecido artista, curador e colecionador brasileiro teve uma carreira que desafiou qualquer categorização; Emanoel Araújo forjou plataformas pessoais e públicas para expressar as nuances da vida e da cultura afro-brasileira – repensando as filosofias da estética moderna, criando espaço para artistas marginalizados exibirem seus trabalhos e preservando a história material de sua herança ancestral em uma época anterior à cultura afro-brasileira. vozes foram defendidas por audiências regionais ou internacionais.

 

Sobre o artista

 

Nascido em 1940 em Santo Amaro da Purificação, Bahia, em uma família modesta de ourives afro-brasileiros, a adolescência de Araújo orbitou a produção criativa – ao longo de sua juventude trabalhando tanto com o marceneiro e entalhador Eufrásio Vargas quanto como designer gráfico para sua Imprensa Oficial da cidade natal. Após sua primeira exposição individual em Santo Amaro da Purificação, em 1959, matriculou-se na Escola de Belas Artes da Bahia, em Salvador. Ainda na escola, estudou gravura – na linha de seus predecessores modernos e contemporâneos Lygia Clark, Hélio Oiticica e Lygia Pape – desenvolvendo uma prática orientada para a expressão comunitária e a abstração geométrica. Desde o início, Emanoel Araújo se preocupou em trabalhar com mídias gráficas e tridimensionais, divergindo da apropriação da abstração da tradição colonial européia – visualizando o Modernismo nascido de um contexto singularmente brasileiro e compreendendo a capacidade da abstração de inflamar o poder político e a transformação social.

 

O trabalho de Araújo funciona em múltiplos registros, mesclando a linguagem formal desenvolvida em seus estudos, o abraço sem remorso de sua identidade queer, negra e brasileira e as intrincadas ideologias de sua vida como curador e colecionador de arte e artefatos afro-brasileiros. Com figuras simplificadas, estruturas primárias e palatos de alto contraste, suas gravuras, relevos e esculturas são montagens de referência: um mosaico de sua criação na capital afro-brasileira, traumas herdados do comércio transatlântico de escravos no Brasil, padrões nigerianos e beninenses têxteis e símbolos iorubás dos espíritos dos orixás. Embutida em seu trabalho está uma crioulização, reunindo segmentos de obras anteriores e objetos encontrados que cortam, interferem, refratam no plano da imagem – refletindo a grande dimensão da sociedade em camadas do Brasil; celebrando a vida cotidiana além dos epicentros internacionais do Rio de Janeiro e desmantelando o racismo sistêmico de dentro do estúdio e da instituição para promover, exibir e colecionar seu trabalho e o de outros artistas afro-brasileiros.

 

No centro da carreira criativa e profissional de Emanoel Araújo estava a ambição de desafiar a si mesmo e ao seu país para superar as adversidades e imaginar uma sociedade mais inclusiva através da arte, em vez de se contorcer ao mercado ou ao establishment. Ao longo de sua vida, suas realizações incluíram transformar a Pinacoteca de São Paulo em um museu de renome internacional, fundar a primeira instituição estabelecida por artistas no Brasil dedicada a promover o trabalho de artistas negros (Museu Afro-Brasil) e acumular um arquivo de cerca de seis mil objetos e quatro mil documentos da diáspora afro-brasileira. Emanoel Araújo era um visionário, afirmando corajosamente sua presença criativa de uma forma grandiosa, totêmica e vibrante; sua vida compreende um retrato de uma nação e geração, e as infinitas complexidades dentro delas.

 

Um prêmio internacional

19/jul

Cildo Meireles ganhou o maior prêmio de arte da Europa. O escultor foi vencedor do Prêmio Roswitha Haftmann, com um valor de 150 mil euros. A premiação será feita em 22 de setembro deste ano.

O artista brasileiro foi consagrado com o Prêmio Roswitha Haftmann – o mais conceituado da Europa -, sendo, em 22 anos, o primeiro latino-americano a recebê-lo. Com um valor de 150 mil euros (cerca de R$ 800.000,00), a premiação é apresentada desde 2001 por um júri presidido pelo diretor do Kunsthaus Zürich.

Sobre o artista

Nascido no Rio de Janeiro, Cildo Meireles, de 75 anos, é conhecido por suas obras que questionam a censura e a violência ao longo da História Brasileira. Com uma variedade de expressões artísticas, que vão de esculturas até performance, o artista surpreende com suas instalações altamente sensoriais e imersivas, trazendo um trabalho com grande valor poético, conceitual e social.

Premiação de Rosângela Rennó

17/jul

Uma das maiores pensadoras brasileiras da fotografia, Rosângela Rennó recebeu o prêmio Women In Motion de Fotografia 2023, tornando-se a primeira brasileira na lista de ganhadoras. O anúncio foi feito pelo Grupo Kering e o Festival Les Rencontres d’Arles, que é um dos mais importantes festivais de fotografia do mundo.

Desde a criação do prêmio, em 2015, no Festival de Cannes, a Women In Motion tem destacado a criatividade e a contribuição das mulheres na cultura e nas artes, com produções que nos levam a questionar nossa visão de mundo e a pensar em novos futuros. O prêmio inclui a aquisição de obras da artista para o acervo do festival Rencontres d’Arles. Anteriormente, o prémio foi atribuído a Susan Meiselas em 2019, Sabine Weiss em 2020, Liz Johnson Artur em 2021 e Babette Mangolte em 2022.

O prêmio será entregue a Rennó em uma cerimônia no Théâtre Antique d’Arles. Na ocasião, a artista realiza uma mostra individual de seu trabalho, apoiada pela Women In Motion, e dedicada a ela no La Mécanique Générale, em Arles. Ainda, divide com o público sua trajetória e suas perspectivas sobre o lugar da mulher na fotografia e na sociedade em geral. Essa será a primeira grande exposição monográfica de Rennó organizada na França.

Rosângela Rennó já foi premiada no Les Rencontres em 2013, quando recebeu o Prix du Livre Historique 2013, por seu livro de artista baseado na história do furto da coleção de fotografias de Augusto Malta que pertencia ao Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Até 24 de setembro, a artista expõe uma mostra individual de sua carreira durante o Encontro de Fotografia de Arles, um importante festival anual do segmento fundado em 1970.

Siamo Foresta

29/jun

 

Quinze artistas brasileiros participam de mostra internacional concebida pela Fondation Cartier na Triennale Milano.

Até o dia 29 de outubro, a Triennale Milano e a Fondation Cartier pour l’Art Contemporain apresentam a exposição “Siamo Foresta”. Com curadoria do antropólogo francês Bruce Albert e do diretor artístico da Fondation, Hervé Chandès, a mostra reúne 27 artistas de diferentes países. Desses, 15 brasileiros, entre os quais nove são indígenas: Adriana Varejão, Aida Harika (Yanomami), Alex Cerveny, André Taniki (Yanomami), Bruno Novelli, Cleiber Bane (Huni Kuin), Edmar Tokorino (Yanomami), Ehuana Yaira (Yanomami), Jaider Esbell (Makuxi), Joseca Mokahesi (Yanomami), Luiz Zerbini, Morzaniel Ɨramari (Yanomami), Roseane Yariana (Yanomami), Santídio Pereira e Solange Pessoa.

Para sublinhar as conexões emocionais, afinidades estilísticas e conceituais entre as obras, os artistas estão idealmente conectados entre si também por meio das soluções cenográficas de Zerbini, que concebeu um projeto expositivo que abarca todos os trabalhos e permite que a floresta, com seus elementos e ritmo vital, entre nas salas da Triennale Milano.

Mais de 70% das obras pertencem acervo da Cartier pour l’Art Contemporain e contam, em especial, a história de sua relação com artistas de algumas comunidades indígenas da América do Sul. O encontro com esses mundos estéticos e metafísicos, indígenas e não, foi a ocasião para dar vida a novos projetos artísticos, obras inéditas e colaborações.

“Siamo Foresta apresenta um diálogo inédito entre pensadores e defensores da floresta, artistas indígenas e não indígenas que se inspiram em uma visão estética e política comuns da floresta como um multiverso igualitário de povos vivos, humanos e não humanos, e, como tal, oferece uma alegoria vibrante de um mundo possível além do nosso antropocentrismo. Desde suas origens, a tradição ocidental dividiu e hierarquizou os seres vivos segundo uma escala de valores da qual o ser humano é o ápice. Essa supremacia do humano distanciou progressivamente a humanidade do resto do mundo vivo, abrindo caminho para todos os abusos de que resultam a destruição da biodiversidade e a catástrofe climática contemporânea. A filosofia das sociedades indígenas americanas, por outro lado, acredita que seres humanos e não humanos – animais e plantas – embora se diferenciem pela aparência de seus corpos, estão profundamente unidos por uma mesma sensibilidade e intencionalidade”, explica Bruce Albert, antropólogo francês que trabalha há quase 50 anos com os Yanomami.

Para sublinhar as conexões emocionais, as afinidades estilísticas e conceituais entre as obras selecionadas, os artistas estão idealmente conectados entre si também por meio das soluções cenográficas orquestradas por Luiz Zerbini. De fato, o artista concebeu um projeto expositivo contínuo que abarca todas as obras e permite que a floresta, com seus elementos e ritmo vital, entre nas salas da Triennale Milano.

Por um lado, a floresta já não é um espaço alheio à cidade e à cultura, mas o lugar onde se celebra o encontro de culturas: Siamo Foresta é um grito de reivindicação de artistas que pensam a unidade do planeta através da ideia de floresta. Por outro lado, é por meio da arte que diferentes culturas podem dialogar e se transformar: a exposição relata as influências que as populações nativas da Amazônia e de outras regiões exerceram sobre as culturas visuais não nativas. O espaço expositivo torna-se o local onde as artes mostram o caminho para repensar o planeta e o seu futuro de forma diferente.

Siamo Foresta é enriquecido por uma publicação dedicada, contendo a documentação iconográfica do percurso expositivo, e por um guia com atividades exploratórias para crianças que exploram os conteúdos das obras, a par de um conjunto de workshops nas salas expositivas.

Os artistas em exibição

Adriana Varejão (Brasil), Aida Harika (Yanomami, Brasil), Alex Cerveny (Brasil), André Taniki (Yanomami, Brasil), Angélica Klassen (Nivaklé, Paraguai), Bruno Novelli (Brasil), Brus Rubio Churay (Murui-Bora, Peru), Cai Guo-Qiang (China), Cleiber Bane (Huni Kuin, Brasil), Efacio Álvarez (Nivaklé, Paraguai), Edmar Tokorino (Yanomami, Brasil), Ehuana Yaira (Yanomami, Brasil), Esteban Klassen (Nivaklé, Paraguai), Fabrice Hyber (França), Fernando Allen (Paraguai), Floriberta Fermín (Nivaklé, Paraguai), Fredi Casco (Paraguai), Jaider Esbell (Makuxi, Brasil), Johanna Calle (Colômbia), Joseca Mokahesi (Yanomami, Brasil), Luiz Zerbini (Brasil), Morzaniel Ɨramari (Yanomami, Brasil), Sheroanawe Hakihiiwe (Yanomami, Venezuela), Roseane Yariana (Yanomami, Brasil), Santídio Pereira (Brasil), Solange Pessoa (Brasil) e Virgil Ortiz (Cochiti Pueblo, Novo México, Estados Unidos).

Figuras Centrais da Op Art e da Arte Cinética

23/mai

A Nara Roesler New York apresenta até 16 de julho a exposição Parallel Inventions: Julio Le Parc e Heinz Mack, que reúne cerca de 25 obras históricas e recentes de ambos artistas, figuras centrais da Op Art e da Arte Cinética, que exploram a luz e o movimento em suas práticas artísticas. A exposição inclui trabalhos icônicos dos artistas. 

Com trajetórias iniciadas na década de 1950, os Heinz Mack e Julio Le Parc direcionaram suas poéticas para a compreensão e o estudo de fenômenos visuais de forma pura, tanto através da interação dos mesmos quanto por meio da experiência sensorial que estes causam no espectador. Dessa forma, acabaram tanto rompendo com suportes e materiais artísticos tradicionais, utilizando em seus trabalhos materiais como areia, espelhos, motores e aço, quanto promovendo uma crescente participação do espectador nos trabalhos. 

Ao longo de sua trajetória, Heinz Mack (n.1931, Lollar, Alemanha) desenvolveu uma produção artística pioneira marcada por investigações com a luz, a cor, a temporalidade e o movimento. Mack iniciou sua carreira na década de 1950, ao fundar o Grupo ZERO (1957-1966) ao lado de Otto Piene em 1957, ao qual viria a se juntar Gunther Uecker, em 1961. O objetivo do coletivo estava em criar um espaço desprovido de estruturas prévias, um lugar silencioso no qual poderiam se originar novas possibilidades. “O objetivo é alcançar a clareza pura, grandiosa e objetiva, livre da expressão romântica e arbitrariamente individual. Em meu trabalho eu exploro e busco fenômenos estruturais, cuja lógica estrita eu interrompo ou amplio por meio de intervenções aleatórias, ou seja, de eventos fortuitos.” Em consonância com esse pensamento, a prática de Mack passou a se apoiar em três pilares principais – luz, movimento e cor -, que ele explorou por meio de uma produção variada que vai desde esculturas cinéticas, estruturas em metal ou espelho, até projetos de land art, assim como pinturas compostas por modulações cromáticas. 

Julio Le Parc (n.1928, Mendoza, Argentina), por sua vez, também é reconhecido internacionalmente como um dos principais nomes da arte óptica e cinética e foi co-fundador do Groupe de Recherche d’Art Visuel (1960-68), um coletivo de artistas que se propunha a incentivar a interação do público com a obra, a fim de aprimorar suas capacidades de percepção e ação. De acordo com essas premissas, somadas à aspiração bastante disseminada na época de uma arte desmaterializada, indiferente às demandas do mercado, o grupo se apresentava em locais alternativos e até na rua. As obras e instalações de Julio Le Parc, feitas com nada além da interação entre luz e sombra, são resultado direto desse contexto, no qual a produção de uma arte fugaz e não vendável assumia claro tom sociopolítico. Ao longo de seis décadas, Le Parc realizou experiências inovadoras com luz, movimento e cor, buscando promover novas  relações entre arte e sociedade a partir de uma perspectiva utópica. Suas telas, esculturas e instalações abordam questões relativas aos limites da pintura a partir de procedimentos que se aproximam da tradição pictórica na história da arte, como o uso de acrílico sobre tela, ao mesmo tempo que investigam potencialidades cinéticas em assemblages, instalações e aparelhos que exploram o movimento real e a atuação da luz no espaço.

 

 

Mostra individual de Gustavo Nazareno

A Cassina Projects, Milão, tem o prazer de anunciar a representação de Gustavo Nazareno (1994, Minas Gerais, Brasil), que se junta à galeria após sua estreia na Itália e sua primeira individual na Cassina Projects, “Notas pessoais de fé”, com curadoria de Deri Andrade, em 2022. Gustavo Nazareno vive e trabalha em São Paulo, Brasil.

Trabalhando com pinturas a óleo e carvão sobre papel, Gustavo Nazareno parte para uma exploração espiritual e visual dos Orixás, divindades veneradas pelo culto sincrético da Umbanda brasileira e outras religiões da diáspora africana relacionadas aos iorubás, que encontraram seu caminho para a maioria dos mundo como uma emanação do comércio atlântico de escravos.

​Forças híbridas, espíritos ancestrais e negociadores mitológicos entre o mundo humano e o divino – profetas da sabedoria e encarnação de legados históricos -, no universo poético de Gustavo Nazareno os Orixás são figuras gloriosas de um panteão pungente onde se fundem tradições africanas, rituais brasileiros, espiritismo e catolicismo.

​Por meio do enigmático jogo de luz e sombra e da representação de entidades divinas e da paisagem como manifestação alegórica e universal da beleza, Gustavo Nazareno pondera sobre os atributos heterogêneos da identidade e sobre os contornos nebulosos de nossa experiência terrena enquanto confronta a persistência do colonialismo como narração.

 

 

León Ferrari em Buenos Aires

17/mai

Durante 2020, o Museu Nacional de Belas Artes, Buenos Aires, Argentina, apresentou uma série de ações, atividades, propostas virtuais e exposições para comemorar o centenário do nascimento de León Ferrari, o grande artista argentino.

Desde setembro de 2020, o site do museu veicula material audiovisual com depoimentos, documentário e publicações digitais, entre outras iniciativas dedicadas a evocar a vida e a obra do artista.

Em 17 de maio de 2023, a tão esperada exposição antológica “León Ferrari. Recorrências”, com curadoria de Cecilia Rabossi e Andrés Duprat. Inicialmente agendada para abril de 2020, a exposição teve de ser adiada devido à emergência mundial provocada pela pandemia de Covid-19.

Palavras de Andrés Duprat sobre León Ferrari

“Tive a alegria de ser seu amigo e conhecê-lo intimamente. Além de grande artista, era um homem de qualidades excepcionais, de imensa generosidade e de uma inteligência aguçada marcada por uma nobreza extraordinária. Era alguém absolutamente comprometido não só com o seu trabalho, mas com todos os que necessitavam da sua ajuda, promovendo jovens artistas, até ajudando financeiramente quem precisava. Estudioso, prolífico, solidário, dono de uma notável lucidez e senso de humor, às vezes feroz, sem amarras, típico do livre-pensador que era. A sua formação em engenharia deu-lhe método e rigor; nada é casual ou superficial nas suas obras, fruto de meditações amadurecidas, por vezes durante décadas, e trabalhos técnicos, artesanais cultivados obsessivamente até à perfeição.

Em sua carreira, ele colocou em jogo sua aptidão em vários ofícios. Artista multidisciplinar, foi pintor, gravador, desenhista, escultor, também um grande teórico e polemista. Ele se aventurou em outras disciplinas, como música, dramaturgia, produção cinematográfica e redação. Suas experimentações formais incluíam esculturas e cerâmicas; estruturas de arame concebidas como construções geométricas e desenhos abstratos; scripts transbordantes, transcrições e caligrafia; colagens, Brailles e assemblages que, ao colocarem em diálogo elementos díspares, geram novos significados, não sem humor e denúncia; plantas de arquiteturas paranoicas, desenhos de cidades impossíveis e planetas de poliuretano expandido, entre outras pesquisas. Foi definitivamente um humanista, uma personalidade contemporânea de estilo renascentista, interessado em tudo o que diz respeito ao homem e às suas circunstâncias”.

Fotografia: Adrian Rocha Novoa.

Jac Leirner no Swiss Institute

12/mai

O Swiss Institute apresenta a primeira grande exposição individual institucional em Nova York da artista brasileira Jac Leirner. A exposição encapsula um amplo período cronológico da experiência da artista, com obras que vão desde a década de 1980 até hoje.

Em pilhas, pilhas e camadas, a acumulação seletiva de objetos do cotidiano de Jac Leirner segue uma lógica acretiva. O processo de Jac Leirner, ao mesmo tempo controlado e compulsivo, leva a obscurecer parcialmente a própria natureza dos materiais que ela reúne à medida que eles se transformam em escultura. A performance paradoxal do apagamento por acumulação ecoa o desaparecimento dos objetos de escolha de Jac Leirner ao longo dos anos: sacolas plásticas, cigarros, notas e cartões de visita, outrora onipresentes e aparentemente insubstituíveis, são cada vez mais expulsos de circulação.

Ancorando a galeria do andar térreo do Swiss Institute está a Fase Azul de Leirner (1992), uma escultura em loop feita de notas de cruzeiro, cuja forma empilhada esconde a antiga identidade e função da moeda agora sem valor. Referências ao minimalismo também são encontradas em várias esculturas de parede espalhadas pela galeria, onde coleções de objetos do cotidiano, como espirais de cadernos, níveis de bolha, lápis de instituições de arte e limas de unhas, entre outros materiais, são metodicamente transformadas em linhas e fileiras.

A galeria vault reúne uma peça-chave da série Lung de Leirner (1987) e a recém-produzida 4 de julho (2023). Enquanto o novo trabalho consiste em um monte de réplicas antigas em pergaminho falso da Declaração de Independência dos Estados Unidos manuscrita original, Pulmão/Lung (Vegetal/Mineral) é uma pilha de centenas de papéis forrados de alumínio, minuciosamente extraídos de maços de cigarro. A fusão de histórias, do pessoal ao político, do diarístico ao sistêmico, aponta para o interesse do artista pelos materiais que sustentam as interações sociais cotidianas.

Atravessando o edifício, Straight with Rounds (2023) reúne uma grande seleção de objetos que Jac Leirner escolheu em virtude de sua circularidade, leveza e tamanho modesto. Como contas díspares em um cabo de tensão aparentemente sem fim esticado, retirado de seu contexto de uso e extraído do que a artista descreve como “a infinidade de materiais”, as rodas e anéis convidam à admiração e ao exame, como se fossem vistos pela primeira vez.

A galeria do segundo andar apresenta Village Inside I e II (2023), feito de material impresso selecionado de todo o East Village. Cobrindo duas telas, a miríade de folhetos, menus, guardanapos, caixas de fósforos e muito mais oferecem uma representação pictórica da vibrante vida cotidiana do bairro histórico. Sua qualidade estridente ressoa em Hardcore Drummer (Talco) I (2023), uma nova peça feita de baquetas quebradas outrora usadas na cena punk paulistana dos anos 1980. Esses objetos ecoam exemplos dos primeiros experimentos geométricos do artista em duas aquarelas exibidas lado a lado no mesmo espaço.

Amarrado entre um desejo essencial de acumular e formas incidentais de serendipidade, o compromisso de Jac Leirner ao longo de mais de 40 anos para reunir materiais, objetos e produtos compõe “um léxico idealista de signos em que a própria vontade de viver é discernível em uma materialidade cada vez mais distante”. como Baudrillard escreveu sobre objetos de consumo. (1) Seu tributo formal contínuo a materiais descartáveis ​​eleva o efêmero ao biográfico, ao coletivo e ao sublime.

(1) Jean Baudrillard, O Sistema dos Objetos, trad. James Benedict (Londres: Verso, 1996), 203.

O Swiss Institute agradece a Jac Leirner Exhibition Circle, Consulado Geral do Brasil em Nova York / Instituto Guimarães Rosa, Esther Schipper e Fortes D’Aloia & Gabriel.

Esta exposição é organizada por Simon Castets, ex-diretor do Swiss Institute, e Alison Coplan, curadora sênior e chefe de programas.

 

Sobre a artista

Jac Leirner nasceu em 1961 em São Paulo, onde vive e trabalha. Em 1984, recebeu seu BFA em Belas Artes pela Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo. As exposições individuais selecionadas incluem: Prêmio Wolfgang Hahn 2019, Museu Ludwig, Colônia (2019); Jac Leirner: Add It Up, The Fruitmarket Gallery, Edimburgo (2017); Fantasma Institucional, IMMA Dublin (2017); As bordas são desenhadas à mão, MoCa Pavilion, Xangai (2016); Jac Leirner. Funções de uma variável, Museo Tamayo, Cidade do México (2014); Jac Leirner: Pesos y Medidas, Centro Atlantico de Arte Moderno, Las Palmas de Gran Canária (2014), Jac Leirner, Hardware Silk, Edgewood Avenue Gallery, Yale University School of Art, New Haven (2011); Jac Leirner, Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo (2011); Adhesive 44, Miami Art Museum, Miami (2004); Projeto Parede, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo (1999); Directions, Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, Washington D.C. (1992); Jac Leirner, Museu de Arte Moderna, Oxford (1991), Currents, ICA, Boston, (1991), Viewpoints, Walker Art Center, Minneapolis (1991) e Hip-Hop, Bohen Foundation, Nova York (1998). Recebeu inúmeras bolsas e residências, entre elas: Prêmio APCA 2012: Melhor Exposição do Ano – Estação Pinacoteca, São Paulo; 2012 artista residente na Yale University School of Art; 2001 Bolsa John Simon Guggenheim; 1998 artista visitante na Rijksakademie van Beeldende Kunsten, Amsterdam; 1991 artista visitante no University College, Oxford; 1991 artista visitante na Ruskin School of Drawing and Fine Arts, University of Oxford; Artista residente em 1991 no Museu de Arte Moderna de Oxford, e artista residente em 1991 no Walker Art Center, Minneapolis.