Mostra de João Farkas

31/mai

O povo, a paisagem e a vida na vila de Trancoso e arredores entre 1977 e 1993, compõem a exposição com 27 fotografias (sendo 4 impressas em alumínio de alta permanência, e as restantes emjato de tinta sobre papel de algodão, com qualidade museográfica,  nas dimensões de 60 x 90 cm), que João Farkas apresenta na Paulo Darzé Galeria de Arte, Salvador, Bahia.

 

A relação de João Farkas com Trancoso vem de longas datas, inteiramente verificado ao nos defrontarmos em suas imagens com a construção de casinhas de barro, a subsistência pela pesca, o lazer por meio da natureza, e um cenário da vida de um local pacato, através de seu povo, da sua paisagem e do seu cotidiano em imagens da vila de Trancoso e arredores entre 1977 e 1993.  Para o fotógrafo, a mostra, onde vemos um local pacato, tem o desejo que o hoje tenha orgulho deste ontem e reconheça a cultura local, além de alertar os turistas para a beleza e a magia, e que não se esqueçam de olhar o céu.

 

AntonioRisério, em longo texto no livro, onde analisa antropologicamente e historicamente a região, inicia dizendo: “As fotos de João Farkas me tocam assim, simultaneamente, em três planos: o estético (lembrando-me uma observação de Victor Hugo em Os Trabalhadores do Mar: à beleza basta ser bela para fazer bem), o histórico e o antropológico, sem nunca eclipsar o presente. Deixo a leitura do plano estético para filósofos, artistas e críticos do fazer artístico. E me concentro no Brasil profundo da zona cabralina de nossa fachada atlântica, hoje tantas vezes transformado e desfigurado. Não para analisá-lo, obviamente, que isto aqui não é um estudo ou ensaio. Mas para tocar em alguns pontos memoriais e presenciais que as belas fotos de Farkas avivam”.

 

Durante a abertura da mostra foi lançado – nacionalmente – o livro “Trancoso”, Editora Cobogó, com 128 páginas, projeto gráfico de Kiko Farkas, textos assinados porWalter Firmo e Antônio Risério, com apoio editorial da Paulo Darzé Galeria de Arte.

 

 

 

A palavra do artista

 

João Farkas e a Bahia é um amor antigo. “Tem aí uma história boa também, um parentesco indireto com Jorge Amado, porque meu tio Joelson, muito próximo a nós (casado com a irmã de minha mãe, Fanny) era irmão de Jorge e James. E a Bahia sempre foi uma coisa muito presente em nossa família. Meu pai, Thomas Farkas, tinha um fascínio brutal pela Bahia. Perguntado certa vez quem ele gostaria de ser se não fosse o Thomaz, respondeu: Batatinha. Vim muitas vezes a Salvador com ele e me hospedei algumas vezes na casa do Rio Vermelho, tendo sempre a riqueza cultural baiana muito presente”.

 

“Com Trancoso a coisa aconteceu na época da contracultura, após a ressaca da militância política. Foi uma descoberta do paraíso. E minha ligação foi imediata. Pensei em morar lá, comprei terreno, fiz casa e inúmeros amigos. Mas percebi que se morasse lá não faria o registro daquilo tudo que me parecia tão frágil e tão preciso. Aquele equilíbrio de séculos entre o homem e seu ambiente que nós mesmos os forasteiros acabaríamos alterando. Os fotógrafos que estavam por lá tinham as lentes mofadas e os filmes derretidos pelo calor. Era impossível trabalhar morando lá. Então eu virei um cigano que vinha sempre que possível e fotografava sistematicamente tudo: o trabalho, as festas, as casas, as pessoas. Fui aceito como uma pessoa local. Fotografava livremente”.

 

“Então quando começaram a sugerir que eu fizesse exposição deste material e livro eu pensei que os primeiros que deveriam ver este material e poder usufruir dele seria a própria comunidade. Daí nasceu o projeto de um Memorial do Povo, da Cultura e da Paisagem de Trancoso. Um pequeno museu que inauguramos agora em março de 2016. Foram 30 obras doadas que estão expostas provisoriamente no espaço da comunidade, no centro de Trancoso. Esta foi minha doação a eles. Doei também o uso de minhas imagens da vila para usos culturais. Uma das sensações mais gratificantes de minha vida foi ver o pessoal de Trancoso curtindo a exposição, reconhecendo amigos e parentes, discutindo as fotografias e a forma de vida de então. Maravilhoso”.

 

“Trazer isto a Salvador é outra missão, que o Paulo Darzé me ajuda a cumprir. A gente tem a sensação que a Bahia tem tantas coisas maravilhosas: a chapada, Itacaré, a costa do coco, do dendê, o recôncavo, a Baía de Camamu, é tanta coisa, tanta riqueza, que a região de Trancoso é mais usufruída pelos ‘sudestinos’ como diz Risério ou pelos franceses, italianos, holandeses e americanos do que pelos próprios baianos. É preciso incluir Trancoso na geografia dos soteropolitanos”.

 

 

Texto de Walter Firmo – De Quase Nada, Tudo

 

Ao pousar os olhos nas fotografias obtidas pela retina humanitária de João Farkas – numa memorável viagem aos confins de um paraíso terrestre em vias de extinção – penso no fazer fotográfico; ou como foi bom para a pintura o descobrimento da fotografia, uma vez que, libertada revelaram-se os Picassos e Dalis relegando o homem máquina fotográfica como um instrumento que se alimenta da realidade e que muito circunstancialmente nos devolve algo que vale a pena. A fotografia ainda é demasiadamente jovem (infinitos serão seus rumos) para um vaticínio seguro de sua maioridade como arte ou aquilo. Afinal o que é arte? Nestas fotografias tenho a sensação da gratificação do estar, do viver e isto me basta. O João é um emissário audaz, vigilante na arte de transmitir encantos mil a desafortunados cosmopolitanos. A função social da fotografia é também nos remeter o sopro da aragem e o doce perfume da felicidade e João segreda, na função decimal do segundo eterno “amém” folhas e sentimentos, luzes e arrabaldes daquela comunidade costeira arredia mas hospitaleira.O brilho de Farkas é puro estado sólido do espírito lírico, direito clássico na maneira de olhar o valor das coisas dimensionando o simples e transformando o quase nada em tudo, isto porque o toque mágico da lira do povo – preciso e paulatino – mostra o afago da necessidade de se ver nenhum momento supérfluo, porém, intimista e revelador.Visionário e carinhoso azuleja o singular na razão direta do cidadão que ama seu país, enaltecendo suas cores, expressando sua aldeia e sua gente, discursando o ambiente iluminado e as nuvens glorificadas; de quebra uma inesquecível aula de sociologia desnudando com elegância o caráter dos caboclos, mulatos e cafuzos “com todas as suas roupas comuns dependuradas salpicando de estrelas nosso chão”. É ele quem diz: “Eu queria uma coisa que saísse do coração, não importava o tamanho.” Aí a gente medita e também galopa o prazer do seu olhar, a candura, o mistério, ser feliz é estar, heróis de si mesmos, o riso, o digno, o gesto, a fatalidade de ser simples.Aliás, seu impiedoso olhar equilibra-se na fronteira do fio da navalha flutuando entre o simples e o simplório. Porém, nosso “intrépido” cavaleiro apeando o animal enleva e sublima o passeio – pé-ante-pé, de porta em porta – e empunhando o bisturi de sua intacta retina revela amálgamas da alma primeira valorizando olhos, caras e bocas, decifrando-nos num estudo psicológico “farkiano” toda a sofisticação do simples onde a crítica cede lugar à análise e as doçuras e sutilezas desfilam ao sol dará – pois foi assim que o artista escolheu.

 

 

Até 14 de maio.

Múltiplos expositores

17/mai

A Galeria Espaço IAB, Galeria de Arte do Instituto de Arquitetos do Brasil, Ponto de Cultura Solar do IAB, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, apresenta em seus espaços, diversas exposições de sua programação para 2016. O destaque fica por conta da Sala do Arco com a exibição de “Entrelaçados”, obra conjunta realizada em módulos por Magna Sperb e Débora Lacroix.

 

Os módulos “Recortes” fazem parte da série “Entrelaçados”, construídos a partir de um estudo sobre as tramas de tecidos, redes e telas, transpostos para a linguagem plástica através de recortes eletrônicos sobre chapas (coloridas) em metal oxidado. Para esta exposição dos “Recortes”, 21 peças compõem uma instalação, na qual os módulos são apresentados em composições que constroem caminhos como desenhos num campo expandido. O diálogo entre as tramas e o espaço, se enredam num mix de linguagens entre Arte, Arquitetura e Design.

 

As demais exposições distribuem-se da seguinte forma:

 
Na Sala Negra, “Cruzamentos Cromáticos”, “…experiências e reflexões sobre a pintura e a cor são apresentadas através de trabalhos com fitas de cetim de Angela Zaffari, e alguns trabalhos ainda permanecem no suporte tradicional da tela, mas apontando para o rompimento de algumas amarras no que diz respeito a autonomia da matéria, embora mantendo o foco na sua produção, na repetição sem perder de vista a poética do seu fazer artístico”;

 

Na Sala Anexa, “Vulto”, apresentação dos artistas Anderson Luiz de Souza, Diane Sbardelotto, Paola Zordan, Rafael de Souza e Simone Fogazzi, onde “..o que se mostra são corpos e rostos indefinidos, em fases e localizações distintas, mas todos movimentam-se entre estender, circular, envolver, se contorcem em estágios de ser, deixar de ser para vir a ser outra coisa.  As cinco produções tratam dos problemas da representação, do gesto e da criação de faces, pensando anatomias, superfícies e abstrações. Poéticas visuais próprias, envolvidas numa só pesquisa filosófica sobre o corpo, apresentam inscrições figurativas fugidias, todas expressas pelo conceito de vulto, em desenvolvimento junto a estudos deleuzianos e esquizoanalíticos sobre a dobra e os estratos de subjetivação”;

 

Nas Áreas externas, “IABrasil/IABeabá – 2 St. Arte Urbana: Leonardo Pereira e Paulo Funari”, “…é o resultado do esforço de pesquisa e interesse recente dos artistas pela pintura abstrata, cuja influência pode ser buscada principalmente nos pintores americanos das décadas de 40, 50 e 60 do século XX. A influência da Street Art, graffitis e pichações encontrados em espaços urbanos também é percebida na utilização de grafismos de letras, números e sinais – os cartazes e placas informativos feitos a mão e de origem popular que estão espalhados pela cidade também contribuíram na construção estética deste trabalho”.

 

Até 24 de junho.

Quatro décadas de arte

11/mai

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, exibe a exposição “Ivan Pinheiro Machado: Retrospectiva”, na Pinacoteca do MARGS. A mostra traz cerca de 90 obras que representam um passeio em quatro décadas de produção artística, desde os anos 1970 até os dias de hoje. São trabalhos que tratam, em sua maioria, da temática urbana. Obras extremamente realistas, que procuram captar aspectos inusitados do cotidiano das grandes cidades. O crítico Jacob Klintowitz assim definiu a pintura de Ivan Pinheiro Machado: “…o que no primeiro momento lembra a fotografia documental de uma cena urbana tem a capacidade de nos capturar para uma nova intuição, o peso subjetivo, o olhar do artista e a poética desta construção inteiramente ficcional.”

 

Desde uma mesa de bar, até um sinal de trânsito, a arte de Ivan Pinheiro Machado transita em torno do cotidiano, transformando em arte a banalidade das ruas, da cidade grande com ruas semidesertas, onde a figura humana é uma “presença ausente” conforme definição do crítico Paulo Perdigão. Nas pinturas selecionadas para esta retrospectiva destaca-se a técnica apurada e o empenho constante na busca para aproximar o desenho à fotografia, em um diálogo constante com a realidade. Assim, sua série sobre automóveis em um desmanche, sobressai-se, podendo até causar certo desconforto pela força do excesso e da descartabilidade da sociedade de consumo.

 

Sobre o artista

 

Natural de Porto Alegre, Ivan Pinheiro Machado formou-se em Arquitetura na década de 1970, posteriormente trabalhou como jornalista e fotógrafo em diversos veículos de comunicação no país. Atualmente é editor da L&PM Editores e teve rápida passagem pelo Instituo de Artes da UFRGS. Em 1977 começou sua carreira profissional como pintor ao receber o primeiro prêmio no Salão do Jovem Artista no MASP em São Paulo. Fez dezenas de exposições individuais e coletivas no Brasil e no Exterior.

 

A palavra da crítica

 

“Nova York. O Ivan, como o Paulo Francis, se apaixonou pela cidade.(…) Cada pincelada sua é parte dessa confissão. A confissão do sentimento de amor e solidão que essa gigantesca Babel causa nas pessoas. É essa cidade vazia, para todo o sempre vazia – na linha dramática que Edward Hopper foi, até hoje, quem levou mais alto e/ou mais fundo – que Ivan nos apresenta. Olha, Vermeer, o rapaz é muito bom, no conteúdo e na forma. Um dia ainda vão falsificar ele, você vai ver.” (Millôr Fernandes, Carta ao Passado, revista Isto é, 1996).

 

“Se o contemplador não apreciar tais metamorfoses de fotografias, sugiro-lhe que fale em Hiper-realismo, ou em outros ismos, mas desista de compreender a sutileza da produção pictórica de Ivan. Em resumo: quando Ivan Pinheiro Machado apanha o pincel, ele desinteressa-se de tudo, menos de poesia.” (Armindo Trevisan, 2011).

 

“Ivan Pinheiro Machado demonstra um domínio técnico singular, com um grafismo muito próprio, uma verdadeira Identidade. São pedaços do cotidiano que geralmente não são pintados e que o Ivan descobriu e deu vida, transportando para telas.. É uma pintura que apaixona pela beleza, pela limpeza e pelo contexto importante de simplicidade.” (Walmir Ayala, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1992).

 

“Hiperrealista de sete costados, as pinturas de Pinheiro Machado teriam feito Salvador Dali vibrar de prazer. Para Dali, o grande lance da arte contemporânea era o Hiperrealismo.” (Carlos von Shmidt, O Estado de São Paulo, 1991).

 

“É tão forte o verismo das cenas urbanas de Ivan Pinheiro Machado que podemos não sentir que se trata de ficção. A sua pintura tem a particularidade de uma delicada luz que a percorre e é quase despercebida. É deste diálogo entre o desenho e o diáfano que ela é feita (…) Ivan Pinheiro Machado é dotado deste subterrâneo poder do pintor.(…) As imagens parecem que são iguais às coisas, entretanto elas são idênticas ao olhar do artista. (Jacob Klintowitz, apresentação da exposição “O mundo como ele não é”, Espaço Cultural Citi, São Paulo, 2014).

 

De 17 de maio a 19 de junho.

Marcel Odenbach no Brasil

O MARGS Ado Malagoli, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, apresenta nas galerias João Fahrion, Pedro Weingartner, Ângelo Guido, Iberê Camargo e Oscar Boeira, exposição individual “Stille Bewegungen/Movimentos Silenciosos”. A mostra em parceria com o Instituto de Relações Exteriores, ifa, Alemanha, apresenta a obra de Marcel Odembach, um dos mais importantes videoartistas alemães através de diversas mídias como videoteipes, videoinstalações e obras em papel das últimas três décadas.

 

O tema do pós-guerra alemão abre-se com Odenbach desde cedo para uma perspectiva mais ampla, na medida em que diferentes culturas e constelações políticas são observadas e impregnadas no conjunto da obra. O artista desenha um retrato ao mesmo tempo analítico e emocional do ser humano na sociedade globalizada. Simultaneamente à mostra, que ocorre no MARGS, o Goethe-Institut Porto Alegre apresenta também 6 vídeos de Odenbach selecionados especialmente pelo artista para o espaço expositivo do instituto.

 

Organizada pelo ifa em colaboração com o curador Matthias Mühling, a seleção dos trabalhos apresentada em “Movimentos Silenciosos” combina um enfoque retrospectivo com a tentativa de cobrir as principais temáticas abordadas pelo artista. O intenso questionamento da problemática da elaboração do passado ilustra, em especial, como as obras de Odenbach refletem a Alemanha pós-guerra e a situação de sua sociedade. Esse foco temático, entretanto, foi situado já bem cedo pelo artista dentro de um horizonte mais amplo, que abria o questionamento especificamente alemão para uma perspectiva mais geral. Ele aproximou-se de diferentes culturas e constelações políticas e integrou suas observações dentro da obra, traçando, assim, linhas de conexão do trauma alemão com o regime nazista até o genocídio em Ruanda, do imaginário sobre o masculino na Turquia até o papel da mulher na Venezuela, do familiar até o desconhecido, da própria biografia até a história dos outros.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em 1953, em Colônia, Marcel Odenbach é um pioneiro da videoarte. Seus trabalhos são narrativas complexas criadas por meio de uma técnica de colagem de trechos de produções para cinema e televisão, material de arquivo e imagens feitas por ele mesmo. A edição de imagens públicas e privadas gera enredos que conectam sutilmente a história, num nível superior, com o sentimento do ser humano individual e a biografia do artista.

 

Até 29 de maio.

Iole de Freitas na Bahia

10/mai

Uma das mais celebradas artistas da cena contemporânea ocupa com suas esculturas todo o espaço da Roberto Alban Galeria, Ondina, Salvador, BA, apresenta a exposição “Iole de Freitas – A escrita do movimento”, com um site specific e 12 obras, entre inéditas e históricas, da artista mineira radicada no Rio, um dos expoentes do panorama contemporâneo. Com uma celebrada trajetória que inclui exposições no MoMA de Nova York, e na Documenta 12, em Kassel, Alemanha, Iole de Freitas ocupará todo o espaço da galeria, e criará no local um trabalho com 3,5 metros de diâmetro e seis metros de altura. Em junho, será lançado um livro-catálogo da exposição, com entrevista dada pela artista a Marc Pottier, curador da exposição, em design gráfico de Bitty Nascimento e Silva. A Roberto Alban Galeria representa Iole de Freitas na Bahia.

 

Além do site specific, estarão na Roberto Alban Galeria seis obras “Sem título” feitas este ano especialmente para esta mostra, em chapas de aço inox, como as duas esculturas com 2,20 metros e 2,45 metros, e outras quatro com dimensões que variam de 75cm a 40 centímetros. As obras recentes e inéditas mantêm a mesma investigação sobre a relação entre peso e leveza – “os grandes vôos e grandes escalas”, como observa Iole de Freitas – que a artista vem desenvolvendo desde 2000, e que passaram a ser feitas, desde 2013, com chapas de aço pesadas. Ela conta que esta investigação foi “radicalizada” na exposição realizada no Espaço Monumental do MAM Rio de Janeiro, entre julho de 2015 e abril último. E é o desdobramento deste trabalho, em outra escala, que será visto na Galeria Roberto Alban. “Esses trabalhos guardam a mesma tensão interna, e a investigação entre peso e leveza, já que trabalho com pesadas chapas de aço, e não com policarbonato”.

 

O curador Marc Pottier selecionou para “A escrita do movimento” dois trabalhos de 2013, em policarbonato e tubos de aço inox, que marcaram a produção desde 2000, um deles uma coluna vertical, com 2,70 metros. Estarão ainda na exposição outros quatro trabalhos emblemáticos feitos por Iole de Freitas em 1992 e recriados em 2013, em que utiliza telas metálicas em aço inox, latão e chapa de cobre. Na entrevista que estará no catálogo da exposição, o curador indaga à artista: “por que a palavra ‘dança’ surge tantas vezes quando estamos lendo os textos sobre seu trabalho?”, e pede para que ela comente o movimento que se vê em sua obra. “De fato a ideia  de movimento está impregnada tanto nas sequências fotográficas feitas a partir de fotogramas dos filmes Super 8 e 16 mm, nos anos 70, como nas grandes instalações realizadas em 2000 no Centro de Arte Hélio Oiticica, na Documenta de Kassel em 2007 e no MAM Rio em 2015/16. Ela percorre diversos e contínuos momentos da minha linguagem até hoje”, responde Iole.

 

 

Sobre a artista

 

Nascida em 1945, em Belo Horizonte, Iole de Freitas vive e trabalha no Rio de Janeiro. Estudou na Escola Superior de Desenho Industrial no Rio de Janeiro (ESDI), em 1964 e 1965. De 1970 a 1978 viveu em Milão, Itália, onde trabalhou como designer no Corporate Image Studio da Olivetti. A partir de 1973 produz e expõe seu trabalho artístico. Entre as diversas exposições individuais e coletivas em todo o mundo destacam-se: 9a Bienal de Paris (1975); 15a Bienal Internacional de São Paulo (1981); exposição itinerante “Cartographies” (1993), na Biblioteca Luis Ángel Aranjo (Bogotá, Colômbia), no Museo de Artes Visuales Alejandro Otero (Caracas, Venezuela), na National Gallery (Ottawa, Canadá), no Bronx Museum (Nova York, EUA) e na La Caixa (Madri, Espanha); Bienal Brasil Século XX (São Paulo, 1994); a individual “O corpo da escultura: a obra de Iole de Freitas”, curada por Paulo Venancio Filho, no Museu de Arte Moderna de São Paulo e no Paço Imperial do Rio de Janeiro (1997);  Projeto de instalações permanentes do Museu do Açude, no Rio de Janeiro (1999); individual no Centro de Arte Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 2000), “Iole de Freitas”, no Museu Vale (Vila Velha, 2004), e “Iole de Freitas”, no Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro, 2005), todas com curadoria de Sônia Salzstein; 5ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2005). Em 2007 Iole foi convidada para realizar um projeto específico para a Documenta 12, de Kassel, Alemanha, e em 2008 apresentou seu trabalho na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre. Em 2009/2010 expôs na Casa França-Brasil (Rio de Janeiro) e na Pinacoteca do Estado de São Paulo, e participou da mostra “O Desejo da Forma” na Akademie der Kunst, em Berlim, Alemanha. De julho de 2015 a abril último, Iole de Freitas ocupou o Espaço Monumental do MAM Rio de Janeiro com obras de sua nova pesquisa escultórica. Sua trajetória encontra-se documentada em vários textos e publicações de renomados críticos de arte. É representada pela Galeria Raquel Arnaud desde 1988.

 

 

De 18 de maio a 19 de julho.

Pinturas e objetos na SIM

06/mai

A SIM Galeria, Curitiba, Paraná, apresenta a exposição “Chafariz” em que o artista plástico Paolo Ridolfi apresenta seus mais recentes trabalhos de pintura e objetos.

 

O trabalho pictórico de Paolo Ridolfi, em janelas ora mais, ora menos figurativas, promove com a exposição “Chafariz”, sobretudo, uma série de encontros fortuitos entre cores incisivas, linhas vigorosas e superfícies diversas. Conservando o que é informal e comunitário, próprios do espaço que ocupa o chafariz, o título da exposição articula a integração em suas obras entre marcas de memórias individuais do artista – como traços de um rabiscar aprendidos na infância – e coletivas – como os índices tipográficos de cartazes urbanos que o cercam.

 

Paolo revela em “Chafariz” um momento de abertura em sua criação para a intervenção do acidental e do acaso revelados tanto na alteridade do seu inconsciente como na cidade ao redor. O movimento que primordialmente ordena e coordena toda a produção aqui cede lugar a graciosas surpresas que escorrem sobre suas telas, cobrem os tridimensionais rígidos, que espontaneamente evocam elementos recorrentes ao mesmo tempo em que convidam a presença de formas inéditas.

 

A data de abertura da exposição marca também o lançamento do livro intitulado “Paolo Ridolfi” com organização da SIM Galeria e curadoria de Agnaldo Farias, assim fazendo da exposição “Chafariz” um marco de dupla importância na trajetória de Paolo Ridolfi e na trajetória da Arte Contemporânea no Brasil.

 

De 12 de maio a 18 de junho.

Acontece no Paraná

12/abr

Encontra-se em cartaz no Museu de Arte Contemporânea do Paraná  -MAC-PR-, a mostra “A cor no espaço, o espaço na cor”, com obras de 62 artistas, e “Alumbramento”, do artista Luis Lopes, com cerca de 20 pinturas.

 

Com curadoria de Ronald Simon, a exposição “A cor no espaço, o espaço na cor” tem origem em um segmento de obras do acervo na qual a cor e o espaço conduzem a organização das obras, sua composição, sem levar em conta a dicotomia figuração/abstração. Mesmo não se atendo à história da arte contemporânea, a exposição registra passagens importantes de alguns movimentos da arte como a pop-art brasileira, o abstracionismo geométrico, o expressionismo abstrato, etc. Entre os artistas em exposição estão: Alfredo Volpi, Amilcar de Castro, Andréia Las, Bia Wouk, Cristina Mendes, Domicio Pedroso, Fernando Bini, Fernando Burjato, Fernando Velloso, Guilmar Silva, Helena Wong, Henrique Leo Fuhro, Leila Pugnaloni, Luiz Áquila, Marcus André, Mário Rubinski, Pietrina Checcacci, Samico, Sérgio Rabinovitz, Uiara Bartira, Werner Jehring.

 

A mostra apresenta ainda uma sala especial com pinturas de Osmar Chromiec – importante artista para a história da arte paranaense – e uma série de esboços e estudos de obras, recentemente doados ao museu.

 

Na exposição “Alumbramento”, Luis Lopes abre mão do figurativismo e faz da luz corpo e espírito. Pinta a memória e para isso se vale da sombra para prestigiar a luz. Sua pintura se apresenta de imediato, mas não se entrega por inteiro à primeira vista em sua narrativa poética. Há uma dança de cores a ser desvendada.

 

 

Até 12 de junho.

Mostra em Joinville

28/mar

O Museu de Arte de Joinville, SC, apresenta a exposição individual “Cosmos”, do artista visual Carlos Wladimirsky. A mostra é constituída de quinze desenhos de pequenas dimensões aproximadas de 28 x 38 cm, em técnica mista sobre papel de algodão. Os desenhos, produzidos em 2015, são resultado de dezenas de diluições de pigmentos e gestos gráficos, com o uso de técnicas do desenho com aquarela, giz, pastel seco e guache, gerando uma veladura. Esta superposição de aguadas criam imagens que remetem a um mundo sideral e cósmico com formas abstratas em contínua transformação.

 

Serão apresentados também ao público, quatro vídeos que abordam os processos de criação do artista, seu ateliê e a performance “Cosmos, Parada 547”; realizada na Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS, em 2014. A performance tem roteiro e direção de Carlos Wladimirsky. O artista estará presente na abertura da exposição e conversará com o público.

 

Sobre o artista

 

Carlos Wladimirsky nasceu em 1956, em Porto Alegre, RS, vive e trabalha na mesma cidade. Foi integrante do “Espaço NO” de 1979 a 1982, grupo pioneiro e de relevante importância para as artes visuais e a contemporaneidade gaúcha. Dedicou-se inicialmente ao teatro, ao cinema experimental e às performances e, nos anos 80, ao desenho e à pintura. Em 1990 fez viagem de residência artística a Portugal e entrou em contato com a pintura de Maria Helena Vieira da Silva e com a joalheria de René Lalique, iniciando trabalhos com joias em prata, e pedras brutas semipreciosas. Wladimirsky iniciou em 2002, sua pesquisa com cerâmica, produzindo pratos, bowls e máscaras esmaltadas que têm configurações enraizadas em suas investigações com o desenho. Em cerca de 40 anos de carreira realizou diversas exposições entre as quais “Desenhos” no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, 1981; “Artistas Gaúchos Contemporâneos”, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP, 1981; “OS NOVOS”, Espaço Cultural Yázigi”, curadoria de Renato Rosa, 1983; “Panorama da Arte Atual Brasileira”, MAM, SP, 1984; Projeto Macunaíma, FUNARTE, RJ, 1985; “Velha Mania – o Desenho Brasileiro”, EAV- Parque Lage, RJ, 1985; Trienal de Desenho de Nuremberg – Alemanha, 1985; “Desenho Contemporâneo Brasileiro”, INAP, Funarte, RJ, 1988. Lançou em 2009 livro sobre sua obra organizado por Mário Röhnelt.

 

Até 1º de maio.

No Museu Correios, Brasília

17/mar

Até dia 03 de abril, o público pode conferir a exposição “Elifas Andreato, 50 Anos” no Museu Correios Brasília, Setor Comercial Sul

 

Quadra 04, Bloco A, 256, Brasília, DF. A mostra comemora meio século de carreira do artista paranaense e traz obras que marcaram a fase áurea da música popular brasileira, a luta contra a ditadura e o teatro brasileiro.

 

Os visitantes têm oportunidade de conferir capas e cartazes feitos para os principais nomes da MPB, como Paulinho da Viola, Elis Regina, Martinho da Vila, Tom Zé, Chico Buarque, Adoniran Barbosa e Vinicius de Moraes, entre outros. Um dos destaques é a releitura da histórica capa do disco ‘Ópera do Malandro’, de Chico Buarque – uma das mais caras produções de arte para a indústria fonográfica.

 

O universo infantil está representado através da reprodução em grande escala da arca e dos bichinhos que compõem a capa do inesquecível ‘Arca de Noé’, de Vinicius de Moraes. Crianças e adultos podem se colocar dentro da capa, em uma proposta expográfica que desdobra os planos da obra, quase como em um livro pop-up.

 

A contribuição de Elifas Andreato para o teatro ganha espaço com cartazes de peças como ‘A Morte de Um Caixeiro Viajante’, de Arthur Miller, com direção de Flávio Rangel; ‘Mortos Sem Sepultura’, de Jean-Paul Sartre, dirigida por Fernando Peixoto; e ‘Murro em Ponta de Faca’, de Augusto Boal, com direção de Paulo José.

 

A atuação política, sobretudo durante o regime militar, é representada através das cópias de alguns dos trabalhos que ilustraram a resistência à Ditadura, como capas para publicações alternativas que fundou e dirigiu: os jornais ‘Opinião’ e ‘Movimento’ e a revista ‘Argumento’.    Como denúncia dos crimes cometidos pelo regime, estão ‘25 de Outubro’ (1981), onde Elifas escancarou em tela o assassinato do jornalista Vladimir Herzog nas instalações do DOI-CODI, e o majestoso painel ‘A Verdade Ainda que Tardia’ (2012), encomendado pela Comissão da Verdade da Câmara, presidida pela deputada federal Luiza Erundina. A mostra traz ainda um raro exemplar do Livro Negro da Ditadura Militar, com capa assinada pelo artista, além de outras reproduções e objetos valiosos que ajudam a recontar a trajetória de Elifas Andreato e seu compromisso com a cultura e a história do País.

 

Depois de Brasília, a exposição ocupará o Centro Cultural Correios, em São Paulo, de 16 de abril até 07 de junho.

Planopinturas na SIM

15/mar

A SIM Galeria, Curitiba, Paraná, realiza exposição individual de nova série de trabalhos assinados por Tony Camargo. O artista recebeu texto de apresentação de Arthur do Carmo e a obras obedecem a titulação geral de “Planopinturas”, o mesmo título da mostra.

 

 

A Arquitetura Originária das Coisas

 

Como se constroem abrigos físicos para as ideias? Como tornar matérias invisíveis em algo palpável, sem se restringir à representação, mantendo suas complexas dinâmicas espaciais e temporais? O trabalho de Tony Camargo sempre envolveu a construção de aparelhos que de alguma maneira desvendam o funcionamento do mundo, apreendendo essas descobertas de real num espaço determinado, entre linhas e planos. O seu laboratório de fenômenos se constitui pelos próprios materiais e conceitos envolvidos. Ao lidar com a pintura, entretanto, surgem problemas incalculáveis, como criar um abrigo físico para a cor, em sua energética ambivalente de onda e partícula.

 

Seu trabalho nos mostra o quanto ainda somos primitivos, mesmo em nossos mais avançados processos tecnológicos. Os poucos elementos formais que temos à disposição são combinados infinitas vezes por projetistas, produzindo todas as coisas de nossa paisagem humana. Olhe ao redor: verá execuções de círculos ovais em maçanetas e sistemas de portas, quadrados, retângulos e suas metades triangulares nas paredes e nos telhados, distâncias formadas por linhas nas ruas, nos mapas e tantas outras formas que estruturam nossa sociedade. Diferentes materiais formando todos os sistemas artificias da vida. Por desbravar os interiores das máquinas, em seus funcionamentos e matérias, como tintas automotivas, conhecidas como laca nitrocelulose, além de verniz poliuretano e outras sobre pesadas chapas de MDF, Tony Camargo alcança um poder de síntese estrutural sobre os recursos que temos disponíveis, assim como já havia alcançado outras sínteses em trabalhos anteriores, reduzindo imagens de massa plenamente virtuais e midiáticas com suas Planopinturas Iconográficas.

 

As suas Novas Planopinturas operam por uma matemática sideral, paisagens formadas por elementos reduzidos a suas formas originárias de conceito – quadrados, retângulos, círculos, semicírculos ovais, indicativos de movimentos, obtendo um cálculo capaz de suspender o fenômeno pintura em pleno acontecimento. Tony faz uma redução do mundo, e põe seu funcionamento em estado de inércia, vibrátil e estático. As atmosferas conquistadas por esses trabalhos mantém um corpo que vibra sem cessar. Como se campos de cor ganhassem um corpo para se presentificar diante do nosso olhar. Ao invés de movimentos efêmeros, a cor tomada por um estado de inércia, permanente em seu movimento.

 

Arthur do Carmo, fev. 2016

 

 

De 16 de março a 30 de abril.