Ilustrações

27/set

A Pinacoteca Aldo Locatelli, localizado na Praça Montevidéu, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, inaugurou a mostra “A Escrita se Fez Imagem”, com ilustrações de Nelson Boeira Fäederich para as obras “Contos Gauchescos” e “Lendas do Sul”, de João Simões Lopes Neto. A exposição faz parte da programação que assinala os 100 anos de morte do escritor pelotense e tem patrocínio da Celulose Riograndense. Na ocasião, foi apresentada a performance “A Casa de Mbororé”, com o ator Hélio Oliveira.

 

Encontram-se expostas cerca de 50 obras de Fäedrich realizadas em têmpera, nanquim e scratchboard (em que se raspa a tinta nanquim preta de uma prancha para revelar as linhas do desenho ) pertencentes ao acervo da Fundacred (empresa que incorporou a Pinacoteca APLUB). A curadoria é de Paula Ramos, autora de “A Modernidade Impressa – Artistas Ilustradores da Livraria do Globo – Porto Alegre”, livro que também recupera e analisa a poética do artista plástico que nasceu em 1912, em Porto Alegre, onde morreu em 1994, tendo atuado também como publicitário, pintor e escultor.

 

O artista, quando trabalhou na Editora Globo, criou capas e ilustrações para livros de vários escritores gaúchos, como Érico Veríssimo e o homenageado Simões Lopes Neto. Os originais de suas ilustrações para “Os Contos de Andersen” estão no acervo do Museu Hans Christian Andersen, na Dinamarca.

 

 
Até 18 de novembro.

Ozi, 30 anos de Arte Urbana

19/set

 

CAIXA Cultural Recife, Praça do Marco Zero – Bairro do Recife Antigo,

PE, apresenta a exposição “Ozi – 30 anos de Arte Urbana no Brasil” em temporada até 20 de novembro de 2016. Ozi é o nome artístico do paulistano Ozéas Duarte, um dos ícones da primeira geração da arte urbana brasileira, que celebra três décadas de trabalho com esta mostra, que tem curadoria de Marco Antonio Teobaldo. Ozi se destaca no Brasil e no exterior pela pesquisa sobre a técnica de estêncil com estética Pop e reúne na CAIXA um raro material sobre o grafitti nacional.

 

São 85 peças de tamanhos variados que representam um inventário desta importante parte da Street Art brasileira: documentos, registros fotográficos, depoimentos e obras do artista em diferentes tipos de suportes, que datam desde 1984 até o período atual. Para o curador Marco Antonio Teobaldo, é um material raro sobre a história do grafitti no Brasil. “Durante a pesquisa para realização da mostra, foram entrevistados artistas que fizeram parte daquela cena urbana inicial e novos artistas, que traçaram um panorama sobre a Arte Urbana no Brasil e a importância da obra de Ozi neste contexto”, explica.

 

A exposição está dividida em quatro segmentos: “Rua”, “Arte fina”, “Matrizes” e “Bio”. No segmento “Rua” são expostas obras em grandes dimensões, trazendo a linguagem utilizada por Ozi nos espaços públicos dos centros urbanos. As paredes da galeria recebem intervenções com os grafites do artista formando um imenso mural multicolorido.

 

Em “Arte Fina” estão obras criadas em suportes variados, normalmente expostas em galerias e adquiridas por colecionadores durante a trajetória do artista. São telas emolduradas, madeiras, metais, objetos de uso doméstico, latas de spray e outros itens, que formam uma coleção de pinturas, esculturas e assemblages. Entre as obras, há uma série de estêncil sobre bolsas falsificadas com marcas de luxo, compradas no mercado popular da Rua 25 de Março, em São Paulo.

 

Em “Matrizes” será exibido pela primeira vez um conjunto de máscaras de estêncil dos trabalhos mais emblemáticos da sua carreira, criados durante o período de 1984 até 2015. São verdadeiras raridades que estarão disponíveis para a observação dos visitantes, como as obras da série “Museu de Rua”, com referências a artistas como Anita Malfati, Van Gogh, Di Cavalcanti, Roy Lichtenstein e Picasso. Em Bio, dois vídeos reúnem depoimentos do artista e de parceiros de profissão, que remontam a história da Arte Urbana no Brasil. Do acervo pessoal do artista, são exibidas imagens históricas dos primeiros grupos de grafiteiros e suas intervenções na cidade de São Paulo, materiais gráficos de época e recortes de jornal.

 

 

Origem da Cena Urbana

 

A “Street Art” no Brasil surgiu em 1978, em São Paulo, durante o período de ditadura militar, com Alex Vallauri, que reuniu outros artistas como Waldemar Zaidler e Carlos Matuck, e posteriormente Hudnilson Jr., John Howard, Julio Barreto, Ozi e Maurício Villaça.  Este último, abriu as portas de sua casa e transformou-a na galeria Art Brut, que se constituiu em um espaço da cena underground daquela época e acolheu artistas visuais e performáticos, poetas e toda sorte de visitantes atraídos por aquela nova forma de pensamento artístico. Foi a partir do encontro destes artistas, que se iniciou uma série de intervenções e ações públicas na capital paulistana, que fariam história na constituição do grafitti brasileiro.

 

 

Sobre o artista

 

Ozi é paulistano e faz parte da primeira geração do grafitti brasileiro, quando em 1985 iniciou suas primeiras intervenções urbanas, junto com Alex Vallauri e Maurício Villaça. Desde então, desenvolve pesquisa sobre a técnica de estêncil, criando suas obras a partir de uma estética Pop. Durante sua trajetória profissional, participou de diversas exposições coletivas e individuais no Brasil e exterior. Atualmente é representado pelas galerias Espace-L, em Genebra (Suíça), e A7MA, em São Paulo. Seus trabalhos figuram em publicações nacionais e estrangeiras. Ozi viveu uma época em que a repressão sufocava, segundo ele mesmo, fugir da polícia e das bombas de gás era costumeiro. “Lembro que o Alex Vallauri escrevia “Diretas já” e o Maurício Villaça chegou a pintar uma Salomé dançando com a cabeça do Sarney em suas mãos. O pensamento geral era que qualquer pessoa ligada à arte era subversiva ou comunista”, recorda. Ozi aprendeu a fazer estêncil com Villaça, que o instruiu tecnicamente como recortar as máscaras. Em 1985, registrou na rua a sua primeira arte com estêncil, técnica que acabou se tornando a sua marca registrada durante toda carreira artística.

 

 

Sobre o curador

 

Marco Antonio Teobaldo é jornalista, curador e pesquisador. Mestre em Curadoria em Novas Tecnologias pela Universidad Ramón Llull, de Barcelona, Espanha. Desde 2007, vem trabalhando como pesquisador e curador de Artes Visuais, com especial atenção à Arte Urbana. Atualmente, Teobaldo dirige a Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea (Região Portuária do Rio de Janeiro), situada em um dos mais importantes sítios arqueológicos da Rota do Escravos (Unesco), onde realiza propostas curatoriais com artistas brasileiros e estrangeiros, reunindo mídias tradicionais (pintura, desenho e escultura), fotografia, novas tecnologias (vídeo, arte sonora e arte digital), arte urbana e performance. É curador residente da Casa da Tia Ciata, com exposição permanente sobre a memória de uma das maiores referências da história do samba. Junto com o artista visual Eduardo Denne, idealizou o Parede – Festival Internacional de Pôster Arte, em 2008 e 2010, no Rio de Janeiro, que reuniu em sua última edição 175 artistas de diferentes partes do mundo.

 

 

Até 20 de novembro.

OLHO : Vídeo arte

15/set

A mostra “OLHO video art cinema”, em sua segunda edição, que apresenta: Território não Mapeado / Uncharted Land, apresenta 16 obras de artes em vídeo de artistas brasileiros e internacionais. Com entrada gratuita, a Cinemateca Brasileira (SP), o Cine 104 (BH) e a Cinemateca do MAM (RJ) recebem mostra de artistas contemporâneos brasileiros e internacionais.

 

A segunda edição da mostra, “OLHO video art cinema”, acontece na Cinemateca Brasileira em São Paulo (nos dias 29, 30 de setembro e 01 e 02 de outubro), no Cine 104 em Belo Horizonte (nos dias 06, 07 e 08 de outubro) e no Rio de Janeiro (nos dias 17, 18 e 19 de outubro) trazendo uma seleção de filmes de artistas hoje relevantes para a Arte Contemporânea.

 

São eles (nome, país e número de títulos na Mostra): Ana Vaz (BR, três títulos), Anri Sala (AL, um título),Basim Magdy (EG, dois títulos), Ben Rivers (EN, três títulos), Graeme Arnfield (EN, dois títulos), Fiona Tan (RI, um título), Letícia Ramos (BR, um título), Mihai Grecu (RO, dois títulos), Shingo Yoshida (JP, um título) e Yael Bartana (IS, um título).

 

A mostra, que apresenta 16 títulos que abrangem o período de produção dos autores entre os anos de 2003 e 2016, tem curadoria de Alessandra Bergamaschi (graduada em Comunicação pela Universidade di Bolonha, doutoranda em História da Arte pela Puc-Rio) e Vanina Saracino (MFA em Estética e Teoria da Arte Contemporânea na Universidade Autônoma de Barcelona, UAB, curadora do canal de arte IkonoTV, Berlim, Alemanha), criadoras, em 2013, do coletivo cultural OLHO, projeto que pretende tornar-se uma plataforma criativa e crítica para os profissionais que estão refletindo sobre o estatuto da obra de arte a partir da imagem em movimento.

 

“Olho – video art cinema” busca apresentar ao público uma mostra internacional  que explora as possibilidades oferecidas pelo cinema como espaço de recepção para a videoarte.

 

Lembrança de Nhô Tim

08/set

Finalista da edição 2015 da Bolsa Funarte de Fomento aos Artistas e Produtores Negros, Tiago Gualberto, apresenta o lançamento do seu projeto artístico com programação repleta de atividades

A produção das Lembranças de Nhô Tim faz parte de um projeto intitulado Passagens sob(re) a Terra: lembranças, memória e territorialidade, de autoria do artista visual Tiago Gualberto. Este projeto foi premiado com a Bolsa Funarte de Fomento aos Artistas e Produtores Negros em sua principal categoria, no ano de 2015. Ele também está vinculado à dissertação de mestrado que o artista elabora na Escola de Comunicação e Artes da USP.

 

Neste ano, o lançamento do projeto apresenta uma série de atividades para o dia 11 de setembro na pequena cidade de Igarapé, Minas Gerais. A programação completa conta com a abertura da exposição individual do artista na Casa de Cultura da cidade; roda e batizado de Capoeira do grupo Congo do Vale; Baile de forró com música ao vivo do grupo Renascer Terceira Idade, e encerramento com a presença do músico Gustavo Borges. Veja mais informações no site: www.lembrancadenhotim.com.br

 

O artista cresceu no bairro Resplendor, às margens da BR-381, na cidade de Igarapé.  Em sua proposta artística foram produzidas cerca de 5000 unidades da Lembrança de Nhô Tim. Nesta etapa, serão escolhidos 15 locais da cidade para a doação da Lembrança e posterior comercialização, a partir do valor de R$ 4,99 reais. Mercadinhos, domicílios, botecos, salões de beleza, escolas e até igrejas farão parte desta rede. Cada um destes lugares terá autonomia para estabelecer o preço final de venda e o dinheiro arrecadado será de propriedade destes moradores. O primeiro destes locais escolhido é o conhecido Bar do Lepa, aonde é possível bater um bom papo e tomar uma típica cachaça mineira.

 

A Lembrança de Nhô Tim é um objeto artístico produzido a partir da junção de dois conhecimentos locais muito populares no bairro Resplendor, em Igarapé. O primeiro refere-se a mistura de terra, rica em minério de ferro, ao cimento com o intuito de se fazer render a massa utilizada na construção de casas. Esta receita, além de baratear os custos, dá ao concreto uma cor levemente vermelha, semelhante a tudo o que a poeira toca quando levada pelos caminhões que transportam o material das mineradoras presentes na região. O formato desta lembrança é bem semelhante ao do sorvete caseiro, chamado chup-chup, em Minas Gerais. Também conhecido como geladinho e sacolé, a venda deste doce gelado garante às famílias um pequeno aumento na renda. O segundo conhecimento popular refere-se, portanto, ao saber de misturar sucos de fruta, sabores, e vende-los domesticamente, o que ainda faz a alegria da criançada.

 

Há alguns anos, o bairro Resplendor 2 era apenas um grande pasto repleto de coqueiros e algumas poucas casas sem reboco em ruas de terra, sem asfalto. O fornecimento de energia elétrica, assim como a água encanada veio aos poucos neste recente processo de urbanização. O nome Resplendor deriva de uma lenda da região onde, ao cair da tarde, uma imensa bola de ouro erguia-se aos céus levando consigo os escravos mortos durante o trabalho nas minas. Talvez, por razão semelhante, o bairro vizinho pertencente a cidade de São Joaquim de Bicas, chama-se Vila Rica.

 

Tiago Gualberto também é pesquisador de conteúdos no Museu Afro Brasil, localizado no parque do Ibirapuera, em São Paulo, e possui obras de arte suas no acervo da instituição desde 2006. Já realizou diversas exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Entre seus prêmios destacam-se a Bolsa Funarte de Fomento a Artistas e Pesquisadores Negros (2015); 20° Programa Nascente-PRCEU-USP (2012); Bolsa Tamarind Institute, EUA (2012) e o de finalista mundial do Concurso de Criação de Padronagem para a produção de Furoshiki, promovido pela Fundação Japão Tóquio e pelo Ministério das Relações Exteriores do Japão (2010).

 

 

SERVIÇO

Exposição: “Passagens sob(re) a Terra: lembranças, memória e territorialidade”

Data: 11 de setembro de 2016

 

PROGRAMAÇÃO:

10h30 – Abertura da Exposição Passagens sob(re) a Terra: lembranças, memória e territorialidade

11h – Roda de Capoeira e batizado do grupo Congo do Vale – Contramestre Jorge

15h – Baile de forró Grupo Renascer Terceira Idade

17h – Dj Gustavo Borges

 

LOCAL

Casa de Cultura Frater Henrique Cristiano José Mattos

Rua São Vicente, 1100, B. Três Poderes – Igarapé, MG

 

 

Livro de artista

29/ago

Na quarta-feira, 31 de agosto, às 11 horas, será lançado na Pinacoteca Barão do Santo Ângelo, no Instituto de Artes da UFRGS, Centro, Porto Alegre, RS, o livro “O livro de artista e a enciclopédia visual”, baseado na tese de doutorado de Amir Brito Cadôr, pesquisador e professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Na obra de Cadôr, o estudo dos livros de artista é apresentado sob a forma de uma enciclopédia, que é ao mesmo tempo um manual de construção de uma Enciclopédia Visual. São mais de 70 verbetes distribuídos em 12 capítulos temáticos, que tratam das poéticas do arquivo, da coleção e do inventário, além da arte da memória, a montagem e a alegoria contemporânea. A poesia visual, a metalinguagem e os paratextos editoriais são destacados em outros capítulos. São abordadas também a produção e a transmissão de conhecimento através de imagens, assim como o uso de mapas, pictogramas e diagramas em livros de artista. São reproduzidas mais de 150 obras, sendo que a maioria dos livros estudados pertencem à Coleção Livro de Artista da UFMG.

 

“Meu objetivo foi colocar os livros de artista em relação uns com os outros, percebê-los como parte de um sistema de conhecimentos e aproximá-los de conceitos associados à prática enciclopédica… Procuro mostrar como se dá a produção e transmissão de conhecimento por meio de imagens, pensadas do ponto de vista dos artistas que se apropriam de ilustrações técnicas e de procedimentos científicos para instaurar a dúvida mais do que produzir certezas”, afirma Amir Brito Cadôr, que falará sobre sua pesquisa no lançamento.

 

O design do livro é da Casa Rex, de Gustavo Piqueira. A publicação tem 656 páginas e foi editada pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Ofício e engenho

25/ago

A arte popular de Silvio Nunes Pinto,Fundação Vera Chaves Barcellos,Viamão, RS, cuja exposição chamada “Ofício e Engenho”, será inaugurada exposição neste sábado, 27 de agosto, apresentando peças e esculturas do artesão morto aos 65 anos. Ao longo de 40 anos, Silvio Nunes Pinto fez de sua pequena oficina de marcenaria, em Viamão, um universo particular no qual deu forma a uma série de engenhosos objetos em madeira. Quando ele morreu, em 2005, a artista Vera Chaves Barcellos decidiu entrar nesse espaço de criação tão íntimo para ver o quanto dessa produção havia sido ali guardada ao longo do tempo.

 

A surpresa foi não só encontrar centenas de peças nunca vistas, mas descobrir que se tratava de um conjunto de trabalhos de força expressiva, situados na tênue linha do que separa o que é arte ou artesanato, artista ou artesão, estético ou utilitário.

 

– O Silvio chamava esse espaço de “meu ateliê”, e os trabalhos dele, de “minha obra” – comenta Vera, que o conheceu ainda nos anos 1960.

 

Autodidata e sem nenhuma instrução artística, Nunes Pinto deu origem a objetos e esculturas que intrigam pela originalidade das construções e pelo grau de invenção formal que ultrapassa a função utilitária. Esse caráter o vincula a toda uma linhagem da chamada arte popular ou naïf. Também pelo fato de que a matéria é a madeira, seja ela trabalhada no entalhe ou como módulos a serem acoplados na elaboração de objetos. E porque a natural feição rústica confere às inventivas criações uma atemporalidade típica da arte primitiva.

 

– Ele não tinha formação artística, mas era muito habilidoso, observador e tinha uma grande sensibilidade – comenta Vera. – A criatividade e certo humor fazem com que muitas das peças não sejam decifradas de primeira em seu motivo ou utilidade.

 

Objetos que chamam atenção pela inventividade podem ser vistos como esculturas

 

Nesse sentido, os móveis nunca parecem ser exatamente móveis, tamanha é a estranheza causada pelo design inusitado. O mesmo vale para os objetos que Nunes Pinto considerava decorativos por não terem função, mas que, observados agora, podem facilmente ser reconhecidos como esculturas. Na exposição, também podem ser vistas diversas ferramentas igualmente intrigantes que o próprio Nunes Pinto construiu, mas não sem subverter a feição que habitualmente se esperaria de instrumentos funcionais. Tudo isso criado no pequeno ateliê que foi reproduzido na exposição em suas dimensões originais para exibir um vídeo com imagens captadas no original espaço de trabalho.

 

Texto de Francisco Dalcol para o jornal Zero Hora/Porto Alegre.

Individual de Maria Tomaselli

16/ago

A pintora e gravadora Maria Tomaselli exibe desenhos em pastel e acrílica sobre papel no StudioClio, Cidade Baixa, Porto Alegre, RS. A mostra, integra o “Projeto Quadro Branco”, uma parceria entre o Café Studio Clio, Cerveja Coruja e Museu do Trabalho.

 

 

Sobre a artista

 

Maria Tomaselli(Cirne Lima), nasceu em Innsbruck, Áustria. Veio para Brasil em 1965,morando e trabalhando entre Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Olinda. Estudou pintura com Iberê Camargo, gravura em metal com Eduardo Sued, Anna Letycia e Mario Doglio; iniciou escultura com XicoStockinger. Expôs individualmente inúmeras vezes em galerias de renome do Brasil e Europa. Participou das Bienais de São Francisco, Cuba, Maldonado, Áustria, São Paulo, San Juan e Mercosul, em Porto Alegre. Recebeu 19 prêmios e cinco destaques em salões do Brasil e exterior. Atualmente reside em Porto Alegre, onde freqüenta as oficinas de gravuras do Museu do Trabalho.

 

 

De 22 de agosto a 21 de outubro.

O multimídia Patricio Farías

03/ago

A Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS, comunica a mais recente exposição do artista Patricio Farías, no Espaço Cultural ESPM, Porto Alegre, RS. Este evento apresenta trabalho inédito do artista. Artista chileno radicado no Brasil desde o início dos anos 1980, o artista multimídia Patricio Farías tem participado de inúmeras mostras individuais e coletivas em âmbito nacional e internacional.

 

Nesta exposição, “Patricio Farías | N.M 2016”, o destaque se dá ao seu mais novo projeto tridimensional, no qual o artista, no esforço de ir contra a dispersão da luz, cria objetos escultóricos inanimados e de grandes dimensões. Utilizando-se de cores e formas ou mesmo de meios digitais para a manipulação de fotografias, também presentes na mostra, o trabalho de Patricio Farías canaliza as trajetórias retilíneas da luz e as utiliza a seu favor, exibindo seu sempre apurado senso estético.

 

Sobre o artista

 

Patricio Farías nasceu em Arica, Chile, 1940. Escultor e artista multimídia. Freqüentou cursos de Desenho na Escuela de Bellas Artes de la Universidad de Chile entre 1964 e 1968, onde licenciou-se em Artes Plásticas em 1972. Foi professor de Desenho e Expressão Gráfica na Escuela de Bellas Artes de la Universidad de Chile entre 1969 e 1973. Mudou-se para Porto Alegre/RS, Brasil, em 1981 onde lecionou Desenho e Serigrafia no Atelier Livre da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e no Museu de Arte do Rio Grande do Sul. A partir de 1986, alterna temporadas de trabalho entre o sul do Brasil e seu estúdio em Barcelona, Espanha.

 

 

 

De 08 de agosto até 30 de setembro.

Los Carpinteros no CCBB/SP

25/jul

A exposição “Objeto Vital”, do coletivo Los Carpinteros entra em cartaz no CCBB, Centro, São Paulo, SP. Composta por mais de 70 obras, o grupo é um dos coletivos de arte mais aclamados da atualidade. Por meio da utilização criativa da arquitetura, da escultura e do design os artistas questionam a utilidade e exploram o choque entre função e objeto com uma forte crítica e apelo social de cunho sagaz e bem-humorado. O público poderá acompanhar todas as fases do coletivo, desde a década de 1990 até obras inéditas, feitas especialmente para a exposição. A curadoria é de Rodolfo de Athayde.Haverá uma mesa redonda com o curador, os artistas Marco Castillo, Dagoberto Rodriguez, Alexandre Arrechea (que saiu do coletivo em 2003) e teóricos do mundo da arte contemporânea.A exposição traz desenhos, aquarelas, esculturas, instalações, vídeos e obras em site specific. O público poderá acompanhar todas as fases do coletivo, desde a década de 1990 até obras inéditas, feitas especialmente para a exposição no Brasil, a partir de ideias e desenhos anteriores.

 

“O objeto será o protagonista desta exposição, forçado a uma constante metamorfose pela ideia artística: imaginado em desenhos, projetado e testado nas maquetes tridimensionais ou alcançando sua vitalidade máxima como utopia realizada nas grandes instalações”, descreve o curador.

 

Fundado em 1992, o coletivo reunia Marco Castillo, Alexandre Arrechea e Dagoberto Rodriguez. O nome foi atribuído aos artistas por alguns de seus colegas, em virtude da empatia com o material trabalhado e com o ofício que foi resgatado como estratégia estética.Em 2003, Alexandre Arrechea deixou o grupo e Marcos e Dagoberto deram continuidade ao trabalho. Na abertura da exposição brasileira, a convite dos amigos Marcos e Dagoberto, Alexandre Arrechea e outras personalidades que marcaram a carreira do coletivo também estarão presentes.

 

Estrutura da mostra

 

Los Carpinteros: Objeto Vital será apresentada em três segmentos:

 

  1. Objeto de Ofício

 

É o segmento dedicado ao primeiro período, determinado pela manufatura artesanal de objetos inspirados pelas vivências do cotidiano e o uso intensivo da aquarela como parte do processo de visualização da ideia inicial da obra. Os trabalhos são fruto da intensa troca criativa ocorrida durante o período da formação dos artistas, no Instituto Superior de Arte em Havana. Naturalmente,  também refletem o contexto cubano dos anos 1990, em franca crise econômica.

 

  1. Objeto Possuído

 

Apresenta o momento em que o trabalho de Los Carpinteroscomeça a ganhar representatividade em importantes coleções no mundo com obras que, para além das problemáticas especificamente cubanas, falam de questões existenciais universais. “A transterritorialidade característica da arte contemporânea leva os artistas a um terreno aberto em que dividem preocupações com criadores de diversas nacionalidades, à margem de suas origens”, afirma o curador. Muitos dos projetos ambiciosos que tinham sido esboçados no papel são materializados nesse momento com a abertura de novas perspectivas. Dentro deste segmento foi reservado um lugar especial para os objetos de som: aquelas obras que têm um vínculo direto com a música, expressão cultural por excelência que marca a ideia do “ser cubano”.

 

  1. Espaço-Objeto

 

Neste núcleo é dedicada atenção especial à arquitetura e às estruturas, temáticas constantes na obra dos artistas, que reiteradamente selecionam referências do entorno urbano para subvertê-las, ao alterar contexto e funcionalidade. Esse diálogo, característico do trabalho de Los Carpinteros, permeia toda a exposição e terá neste segmento um espaço reservado.

 

 

Roteiro de datas e locais no Brasil:

 

CCBB São Paulo: de 30 julho a 12 de outubro de 2016

 

CCBB Brasília: de 22 de novembro de 2016 a 15 de janeiro de 2017

 

CCBB Belo Horizonte: de 01 de fevereiro a 24 de abril de 2017

 

CCBB Rio de Janeiro : de 17 maio a 7 de agosto de 2017

 

 

Coletiva na SIM galeria

08/jul

Anna Maria Maiolino, Alice Miceli,  Daisy Xavier, Juliana Stein, Lais Myrrha, Laura Vinci, Leonilson, Luiza Baldan, Lygia Pape, Maria Laet, Marilá Dardot, Mira Schendel e Romy Pocztaruk  formam o grupo de artistas expositores reunidos sob a curadoria de Luisa Duarte para a mostra coletiva “Hiato”, em cartaz até o dia 13 de agosto na SIM galeria, Curitiba, PR.

 

 

 

A palavra da curadora

 

Hiato

 

Ao me convidar para realizar uma exposição que contasse somente com artistas mulheres, a SIM Galeria desejava incorporar à sua agenda um debate atual no Brasil. Tratava-se de tentar refletir um momento no qual os movimentos feministas e pós-feministas mobilizam de maneira candente o país.

 

Mas, aceito o convite, acabei por descartar os caminhos que me levariam a uma exposição sobre o feminismo, mas me comprometi a buscar uma pesquisa sobre traços que pudessem evocar aquilo que associamos ao registro feminino. Tratava-se de insistir numa chance de me ocupar de um universo que partisse da feminilidade sem cair num gesto ilustrativo.

 

Em meio a pesquisa leio uma entrevista da crítica e curadora Lisette Lagnado, cujo tema central era justamente o feminismo. Dessa fala sublinho o seguinte trecho:

 

Ao longo da sua carreira como curadora, você já organizou exposições que deram ênfase a artistas mulheres? E quanto a obras que exploram questões feministas?

 

Só fiz uma vez uma curadoria efetivamente voltada para descascar essa questão. Era o aniversário do livro de Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo (1949). Clio, Pátria (Caderno Sesc-Videobrasil nº 5) foi um exercício muito especial para mim, porque percebi que eu falava do Leonilson quando era convidada a falar de feminismo…

 

Poderia citar alguns artistas e/ou obras que abordam essas questões e que considera bons?

 

Para mim, Leonilson contribuiu mais para me pensar como mulher do que Ana Maria Tavares, então não sei se consigo responder. A pergunta me parece machista. O que é “bom”? Que questões? Como já disse, o feminismo não se reduz a temas (violência doméstica, aborto, estupro, salários iguais etc.). As questões formais não devem ser menosprezadas. Eva Hesse era feminista? O que importa? Na minha percepção, o feminismo é um modo de estar no mundo, de se relacionar com o outro, de lidar com problemas econômicos, de fazer partilhas, de pensar ecologia, de resolver dívidas, de brigar e botar o pau na mesa, de ser generoso e não perder a ternura, tudo isso junto e muito mais.

 

Tomando a colocação de Lisette Lagnado com uma posição com a qual me identifico, tendo sido Leonilson um leitmotiv de diversos textos meus até hoje publicados e de ao menos duas exposições, tomo o artista como ponto de partida para a exposição hoje apresentada. O título escolhido evoca o intervalo entre vogais. Hiato tem origem no termo Latim “hiatus”, cujo significado é “abertura, fenda, lacuna”. Assim, o título sinaliza para algumas características presentes no trabalho de Leonilson, quais sejam: o uso da palavra seguida por longos intervalos em branco; a capacidade de se fazer dizer justamente no intervalo, no não dito; o vazio como produtor de sentido; a ausência que caminha na contra mão do espetáculo.  Tais aspectos da obra de Leonsilson me levaram, por sua vez, a uma citação a respeito de Walter Benjamin que pode iluminar o caminho que pretendemos seguir, trazendo a tona a questão da mulher, e do feminino, de um modo singular:

 

 “O silêncio – tipificado como atitude da mulher – é o elemento decisivo para a compreensão, no texto, da natureza da conversa. A valorização do silêncio determina a grande diferença de sua compreensão em relação às teorizações filosóficas sobre o diálogo da tradição metafísica. Estas teorizações, privilegiando a dimensão comunicativa da conversa, detêm-se unicamente na fala, compreendendo o diálogo como uma troca verbal onde se produziria o sentido. A dialética aqui é simétrica, entre iguais – os dois falantes. Para Benjamin, a dialética da conversa é, ao contrário, assimétrica e se estabelece entre duas diferenças: a que fala, e a que escuta, ou seja, entre a fala e o silêncio, entre o homem e a mulher. Na conversa, silêncio e fala engendram-se mutuamente: se o silêncio é a fonte de sentido, a fala gera o silêncio. (…) É no vazio das palavras escutadas que o ouvinte apreende, com desenvoltura, a verdadeira natureza da linguagem – o som das palavras que lhe entra pelos ouvidos, a sua visibilidade nos esforços de expressão do rosto de quem fala. (…) As conversas dos homens são sempre ardilosas e Benjamin usa termos fortemente negativos para classificá-las: “jogos obscenos”, “paradoxos que violentam a grandeza da linguagem”. A cultura, onde a linguagem degradou-se ao interesses de poder e dominação é, para Benjamin, uma cultura masculina onde a mulher não pode existir sem também degradar-se. (…) Estes personagens, a mulher, o jovem, fornecem-lhe a diferença necessária para construir a sua crítica da cultura e a esperança de uma outra cultura apenas adivinhada, uma visão fugaz do paraíso. Como conversam entre si as mulheres que não perderam a alma no mundo das palavras masculino? pergunta-se Benjamin.”

 

Assim, em tempos nos quais somos todos chamados a guerrear por meio de palavras diariamente num Brasil imerso na polarização política, a presente exposição busca uma pausa reflexiva, um intervalo para pensarmos na importância do silêncio como formador de sentido, ou mesmo em uma outra forma de nomear e conversar que nos endereça a possibilidade de outras maneiras de se estar no mundo.

 

“Hiato” torna-se assim uma aposta no murmúrio em meio a cacofonia generalizada em que estamos imersos. Uma aposta na delicadeza, na falha, no momento em que a palavra nos falta, na permanência no vazio que gera tempo para algum tipo de elaboração. Ou seja, trata-se de recordar que é ali, no espaço em branco entre um verso e outro de um poema que encontra-se guardado o sentido daquilo que está sendo dito.

Luisa Duarte