A abstração de Samson Flexor

10/jan

 

 

O Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, exibe até 26 de junho a exposição “Samson Flexor: além do moderno”. Conhecido como um dos pioneiros da abstração no Brasil, Flexor participou ativamente deste importante movimento de renovação das artes visuais no país na década de 1950. Sua contribuição para a abstração geométrica, tanto em sua atuação como artista quanto como mestre de uma nova geração em seu Ateliê Abstração nos anos 1950, é amplamente reconhecida pela crítica. No entanto, seus desenvolvimentos posteriores, caracterizados pela abstração lírica ou informal e pelo retorno à figuração nos seus últimos cinco anos de vida, permanecem pouco conhecidos pelo público.

 

Segundo a curadora Kiki Mazzucchelli, “… é a primeira exposição que tem como foco o desenvolvimento da obra de Flexor a partir de 1957, quando passa a rejeitar as formas estáticas em pinturas onde gradualmente predominam o gesto, a opacidade e a transparência.” A exposição tem como objetivo trazer à luz a obra tardia de Samson Flexor, que marca sua transição do moderno para o contemporâneo ao confrontar questões éticas e estéticas de seu tempo”.

 

Composta por quase uma centena de obras, foram incluídas pinturas conhecidas na trajetória do artista como “Abstração Barroca n.2″ (1949), que combina a geometrização da figura e a temática brasileira; “Aos pés da cruz” (1948), pintura originalmente exposta no MAM São Paulo, em 1950, e que se aproxima de uma abstração total; e “Vai e vem diagonal em três quadrados” (1954), pintura da fase da abstração pura na qual explora as diagonais cruzadas e cria um movimento acentuado pelos contrastes cromáticos.

 

Sobre o artista

 

Samson Flexor desembarcou no Brasil no final da década de 1940 quando deixou a França após a Segunda Guerra Mundial. O pintor realizou sua primeira exposição em São Paulo em 1946 e retornou permanentemente em 1948. Também participou da exposição inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo em 1949, contexto em que é convidado e incentivado pelo crítico e diretor belga Leon Dégand a explorar os caminhos da abstração geométrica pura. Em 1951, ano da instauração da Bienal de São Paulo, fundou o Ateliê Abstração, onde lecionou, por mais de uma década, uma nova geração de artistas – entre eles, Jacques Douchez e Norberto Nicola. Ao longo de sua carreira, realizou diversas exposições individuais nos Museus de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro, bem como em inúmeras galerias brasileiras e estrangeiras. Participou de diversas edições da Bienal de São Paulo, e realizou uma grande retrospectiva de sua obra no Musée Rath, em Genebra (1965), cuja versão expandida foi apresentada no MAM-RJ (1968). Flexor faleceu em 1971, aos 64 anos, vítima de um edema pulmonar.

 

Impressões de Lotus Lobo

 

Lotus Lobo 1

 

 

Sob a curadoria de Marcelo Drummond, a mostra “Fabricação Própria”  no Galpão Sesc Pompeia, até 30 de janeiro, traz a abrangente e diversa produção artística empreendida por Lotus Lobo. Com obras históricas e inéditas, produzidas em diferentes suportes, materiais e novas formas de edição e impressão, a exposição compreende os 60 anos de produção da artista, que engloba seu acervo, bem como as formas de pensar a política das imagens no mundo contemporâneo.

A presente proposta busca apresentar, em estreito diálogo com o ambiente da antiga Fábrica da Pompeia (Sesc Pompeia) e com o legado deixado pela arquiteta Lina Bo Bardi, o resgate e a preservação do importante acervo de matrizes litográficas, em pedra e zinco, provenientes da Estamparia Juiz de Fora, Minas Gerais, originárias das décadas de 1930-1960, com que Lotus articula sua vasta produção artística. O recorte curatorial de “Fabricação Própria” destaca a experiência de Lotus em relação ao seu acervo e tem como objetivo dar visibilidade e acesso à produção da artista, demonstrando sua relação com a arte e seu histórico de atuação desde a década de 1960 até suas produções atuais.

A exposição reúne, pela primeira vez, a quase totalidade do conjunto de “Maculaturas”, chapas de acertos de impressão da Estamparia Juiz de Fora (MG), por Lotus apropriadas como obras a partir de 1970, dessa vez montadas na forma de um grande plano suspenso no espaço expositivo. Trabalhos importantes da artista são revisitados, como o caso de “Água Limpa”, obra inédita que retoma os lito-objetos premiados em 1969 na X Bienal de São Paulo. Outra remissão importante se trata da também inédita “Albor”, em que rememora obra marcante do ano de 1970: uma bobina de papel presa na parede de onde os espectadores podiam destacar e levar para casa fragmentos litografados.

Destacam-se também a participação de Lotus Lobo no histórico evento “Do Corpo à Terra” (1970), idealizado pelo crítico Frederico de Morais, e o trabalho “Territórios” (1969), ambos realizados em Belo Horizonte (MG), publicados no Guia de Mediação da mostra, onde se encontra também um encarte-obra inédito, intitulado “Notas Marginais” (2021). Segundo o curador da exposição e artista visual, Marcelo Drummond, “… aqui se deixa à mostra a verdade material e construtiva do galpão que abrigou a antiga Indústria Brasileira de Embalagens (Ibesa), fabricante de tambores metálicos que hoje dá lugar ao Sesc Pompeia e acolhe com familiaridade a fábrica movente de Lotus Lobo”.

 

Sobre a artista
Lotus Lobo nasceu em Belo Horizonte em 1943. Vive e trabalha na capital mineira, onde graduou-se na Escola Guingnard, da UEMG, em Artes Plásticas. Na França, estudou na École Superieure des Art et Industries Graphiques Estienne e na École D’Arts Plastiques et Sciences D’Art de L’Université de Paris. Foi professora de litografia na UEMG e na UFMG em intervalos entre 1966 a 1993. Estas tantas experiências artísticas, inauguradas nos anos 1960, foram seminais na construção discursiva de Lotus Lobo e ainda reverberam na sua produção contemporânea. Na carreira da artista, convém destacar a sua participação na “X Bienal de São Paulo” (1969), quando recebeu o Prêmio Itamaraty ao exibir três objetos-gravuras (lito-objetos) manipuláveis pelo público. Nota-se, ainda, sua participação na emblemática manifestação “Do corpo a terra” (1970), organizada pelo crítico de arte Frederico Morais e realizada no Parque Municipal de Belo Horizonte, onde Lotus propôs a intervenção “Plantação”. Vale mencionar sua participação em mostras individuais e coletivas, nacionais e internacionais, entre elas: Gráfico Grafia, Museu de Arte da Pampulha/Museu Abílio Barreto, Belo Horizonte, 2021; Território Gravado, Galeria Superfície, São Paulo, 2019; Litografia Lotus Lobo, Galeria de arte do Minas Tênis Clube, BH, MG, 2018; Estamparia Litográfica, Lotus Lobo, Caixa Cultural, Brasília, DF 2018; Lobo, Galeria Mendes Wood, São Paulo, SP, 2017; Constelação, Galeria Manoel Macedo Arte, Belo Horizonte, MG, 2016; SP ARTE, Feira Internacional de arte de São Paulo, Pavilhão da Bienal SP, SP, 2017/2016; Marca Registrada, Centro Cultural Usiminas, Ipatinga, MG, 2007 e Palácio das Artes, Belo Horizonte, MG, 2006; Brazilian Contemporary Prints, Conferência e Mostra de Gravura Brasileira, Gallery of The Saint John’s College, Santa Fé, New Mexico, EUA, 1986; Brazilian Contemporary Prints, Gallery Tate Student Center, University of Geórgia, EUA 1987; Ninth British International Print Bienale, Bradford 1986; V Bienal del Grabado Latino Americano, Porto Rico, 1981; Arte Agora MAM, Rio de Janeiro, 1976; Bienal de Tóquio, 1972; Pré-Bienal de Paris MAM, Rio de Janeiro, 1969.

Lygia Clark 100 anos, Pinakotheke SP

 

 

A Pinakotheke Cultural São Paulo apresenta até o dia 15 de janeiro a histórica exposição “Lygia Clark (1920-1988) 100 anos”, com cerca de 100 trabalhos em sua quase totalidade inéditos para o público brasileiro, selecionados pelo curador Max Perlingeiro, entre pinturas, desenhos, gravuras, bichos, trepantes, obra mole, casulo, objetos relacionais, fotografias e documentos. Considerada pela crítica nacional e internacional como uma das mais relevantes artistas do século 20, Lygia Clark já ganhou exposições em museus prestigiosos como o MoMA de Nova York, e o Museu Guggenheim de Bilbao, Espanha, entre muitas outras instituições.

 

Nesta exposição da Pinakotheke Cultural São Paulo, o público pode ver o desenvolvimento do pensamento da artista ao longo de sua trajetória. A exposição foi feita com colaboração da Associação Cultural Lygia Clark. Dentre as obras nunca exibidas ao público, estão a coleção de “Bichos” pertencente ao crítico inglês Guy Brett, grande amigo de Lygia Clark desde a individual da artista na Signals Gallery, em Londres, em 1965; as obras formais de 1943 a 1952, como a série “Escadas” (1947); os “Objetivos Relacionais” (1968-1973), considerado por muitos seu experimento mais radical; além várias obras das séries “Superfície Modulada” e “Espaço Modulado”.

 

Acompanha a exposição o livro bilíngue (port/ingl) homônimo “Lygia Clark (1920-1988) 100 anos”, 316 páginas, com textos críticos inéditos, imagens e informações sobre as obras, uma seleção da correspondência pessoal entre Lygia e amigos artistas e intelectuais, e uma cronologia resumida atualizada.

 

A exposição traz ainda uma animação do ensaio fotográfico feito por Alécio de Andrade da performance “Arquiteturas biológicas II”, que Lygia Clark criou em 1969 no Hôtel d’Aumont, em Paris. A animação foi feita por Fabrício Marques, e o realejo é de Gabriel Pinheiro.

 

Em dias alternados, o público pode ver os filmes “Memória do corpo” (1984), de Mário Carneiro, 30’, com produção de Solange Padilha e videografia de Waltercio Caldas, que registrou a última proposta desenhada pela artista, a “Estruturação do Self”; e “O mundo de Lygia Clark” (1973), de Eduardo Clark, com direção de fotografia de David Drew Zingg e Antonio Guerreiro, e música de Naná Vasconcelos.

 

Uma sala especial foi montada para exibir a videoinstalação “DSÍ – embodyment” (2021), 8’, três câmeras com três distintos monitores, com registro da performance de Carolyna Aguiar, e direção de Leticia Monte e Ana Vitória. Na videoinstalação, o espectador é convidado a “experienciar estados inaugurais do corpo fragmentário em sua perspectiva pulsante de vida e morte”, explicam Ana Vitória e Leticia Monte. “Aqui o corpo debate-se em constante luta de vir a ser o que se é, desventrando-se e recolhendo-se continuamente em uma incessante dança-luta imemorial, lugar dos vazios-plenos, que Lygia Clark insiste que revisitemos”.
“Lygia Clark (1920-1988) 100 anos” ficará em cartaz na Pinakotheke Cultural São Paulo até o 15 de janeiro de 2022, com entrada gratuita e protocolo anti-Covid.

 

Duas vezes Tunga em São Paulo

15/dez

 

 

Tunga no Itaú Cultural e Instituto Tomie Ohtahe.

 

A exposição “Tunga: conjunções magnéticas” reúne aproximadamente 300 obras do artista. “Tunga: conjunções magnéticas” celebra a produção artística de Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão (1952-2016), o Tunga, dono de um universo imaginativo único e de uma produção refinada, é figura emblemática das artes visuais do país.

 

A exposição tem curadoria de Paulo Venancio Filho e correalização do Instituto Tunga, propõe uma retrospectiva que apresenta a extensão da obra do artista em consonância com sua prática e poética plástica.

 

Esculturas | Arte de não saber e ética do heterogêneo: os palíndromos de Tunga

 

Formado em Arquitetura e Urbanismo na década de 1970, Tunga dialogou com grandes nomes das artes contemporâneas, como Waltercio Caldas, Cildo Meireles, Sergio Camargo e Lygia Clark.

 

Desenhos, esculturas, objetos, instalações, vídeos e performances. A diversidade de suportes revela os seus múltiplos interesses, que percorriam diferentes áreas do conhecimento, como Literatura, Matemática, Arte e Filosofia. A pluralidade também se fez presente no uso de materiais. De maneira notável, Tunga explorou ímãs, vidro, feltro, borracha, dentes e ossos. Sua obra ganhou simbologia e presença, aproximando-o da produção artística em evidência no panorama internacional.

 

A partir da década de 1980, participou da Bienal de Veneza, teve quatro passagens pela Bienal internacional de São Paulo e esteve em mostras no Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova York, e na Whitechapel Gallery, em Londres. No Instituto Inhotim, em Minas Gerais, dois espaços destacam a obra do artista, a Galeria True Rouge (2002) e a Galeria Psicoativa (2012). Tunga foi o primeiro artista contemporâneo e o primeiro brasileiro a expor no Museu do Louvre, em Paris, em 2005.

 

Parte dessa extensa produção está em “Tunga: conjunções magnéticas”, que reúne aproximadamente 300 obras. Além do Itaú Cultural (IC), Avenida Paulista, Paraíso, São Paulo, SP, a mostra estende-se para o espaço do Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, que recebe a escultura Gravitação magnética (1987) – cujos esboços ocupam o espaço de ambos os espaços culturais – e o filme-instalação Ão (1981). Para complementar a exposição e convidar a um mergulho mais aprofundado na história de Tunga, durante a mostra serão publicados no YouTube do Itaú Cultural vídeos que reúnem depoimentos de Paulo Venancio Filho (curador da exposição), Fernando Santana (assistente de Tunga), Paulo Sérgio Duarte (curador e crítico de arte), Waltercio Caldas (artista), Gonçalo Mello Mourão (irmão de Tunga) e Lia Rodrigues (bailarina e coreógrafa) que tratam de temas como quem foi Tunga, a energia da conjunção, suas inspirações, seu processo criativo e a variedade de suportes e materiais em seu trabalho.
Até domingo 10 de abril de 2022.

 

 

 

 

Poéticas de um outro

14/dez

 

 

A BELIZÁRIO Galeria, Pinheiros, São Paulo, SP, abre a mostra coletiva “POÉTICAS de um outro”, com seu time de 17 artistas representados, exibindo 56 trabalhos em diferentes suportes – pinturas, esculturas, objetos, fotografias, desenhos – criando uma unidade visual resultante das vivencias pessoais de cada artista e os processos resultantes das mesmas.

 

A pintura se reposiciona como técnica responsável por trabalhos relevantes, como vem ocorrendo em outros locais, no âmbito da arte contemporânea. Bruno Duque, Celso Orsini, Fernanda Junqueira, Fernando Burjato e Matheus Machado utilizam o suporte com maestria criando telas, ora com paleta de cores diversas ora em p&b, para narrar suas histórias e experiencias. Ao lado delas, as obras resultantes da habilidade manual dos artistas Antônio Pulquério, Deneir Martins, Marc do Nascimento, Marcos Coelho Benjamim, Maxim Malhado e Paulo Nenflidio apresentam trabalhos tridimensionais, expressando seus registros em esculturas e objetos. Os desenhos, com suas delicadezas de linhas e traços, mas não menos assertivos, são de autoria de Elias Muradi, Jean Belmonte, Marco Ribeiro e Rodrigo Rigobello enquanto Juliana Notari e Sara Não Tem Nome optaram pela fotografia como registro de suas performances.

 

“POÉTICAS de um outro” oferece um olhar lateral onde o distinto e o diverso se apresentam em consonância com o todo, narrando histórias pessoais interconectadas através das liberdades de criação, e escolhas narrativas da contemporaneidade permitindo leituras e assimilações pessoais por parte do observador. O universo de cada artista é único. Sua mensagem é sempre pessoal. Orlando Lemos uniu as estrofes dos versos, sensibilizando-se com suas poéticas distintas e redigiu um poema visual uníssono.

 

Até 05 de março de 2022.

 

 

 

Ione Saldanha: a cidade inventada

13/dez

 

 

O MASP, Museu de Arte de São Paulo, Avenida Paulista, SP, apresenta mostra de caráter retrospectivo de Ione Saldanha apresentando objetos como ripas, bambus e bobinas.

 

 

Ione Saldanha é uma figura pioneira, porém sem o devido reconhecimento na história da arte brasileira do século 20. Embora trabalhasse de maneira intuitiva, o desenvolvimento de sua obra tão rigorosa quanto poética ao longo de quase seis décadas demonstra uma extraordinária coerência. Uma série ou grupo de trabalhos se desdobra e evolui rumo ao próximo – desde as pinturas figurativas iniciais dos anos 1940 até os trabalhos abstratos nos anos 1950 e as pinturas em suportes tridimensionais a partir do final dos anos 1960. Nesse sentido, pode-se pensar na pintura num campo expandido ou ampliado como motivo condutor do trabalho: Saldanha pintava sobre tela, papel, longas ripas de madeira, bambus, bobinas e, por fim, sobre todos de madeira empilhados. A cor e o construtivismo faziam parte do seu idioma – por um lado, suas várias paletas de cores ao longo dos anos são tão singulares quanto arrebatadoras; por outro, a geometria e a verticalidade sempre foram referências muito fortes na construção de seus trabalhos. No centro da obra de Saldanha há uma preocupação com uma certa representação ou invenção da cidade e da arquitetura, fosse ela real ou imaginada, daí o título desta exposição: Ione Saldanha: a cidade inventada. Nesse contexto, a artista passou das paisagens urbanas iniciais a construções arquitetônicas progressivamente abstratas, representadas de maneira fluida, delicada e orgânica, sempre trazendo a marca da mão da artista visível na superfície das pinturas, seja ela bidimensional ou tridimensional. Os Bambus, seus trabalhos mais icônicos, complexos, e verdadeiramente inovadores, são esculturas eretas que evocam a cultura brasileira popular e vernacular. De caráter antropomórfico, fazem referência tanto à cidade e à floresta, quanto ao sujeito que as habita, adquirindo uma qualidade instalativa sobretudo quando expostos em conjuntos.

 

Ainda que seja possível identificar uma série de preocupações em comum em seu trabalho e no de alguns de seus hoje consagrados contemporâneos (como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape), Ione Saldanha nunca se associou a qualquer grupo ou movimento, algo incomum nos círculos artísticos brasileiros de meados do século passado. Em vez disso, a artista desenvolveu uma trajetória bastante reservada que lhe permitiu focar em seu trabalho tanto excepcional quanto prolífico, explorando múltiplas relações, diálogos e cruzamentos: entre abstração e figuração, geometria e paisagem, hard edge  e artesanal, representação e apresentação, pintura e escultura, arte e vida, tudo imbuído de singulares e sutis combinações de cores.
O título desta exposição é inspirado no de uma mostra individual da artista intitulada Cidade inventada , realizada na Galeria Relevo no Rio de Janeiro, em 1962.
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP

 

Fonte: MASP

 

MAR por Luiz Martins

 

 

 

A Galeria BASE, Jardim Paulista, São Paulo, SP, encerra sua agenda expositiva de 2021 com “MAR”, do artista multimídia Luiz Martins, composta por duas séries: “Vestígios Primários” com trabalhos em técnica de têmpera acrílica e “Mar”, composta por obras inéditas, criadas em nanquim e aguada, em um conjunto de 25 desenhos e pinturas que atestam o comprometimento do artista com questões de sustentabilidade e preservação ambiental. A curadoria é de Ana Paula Lopes.

 

Segundo conceito elaborado pela curadora, “a exposição MAR, na Galeria Base em São Paulo, reúne uma produção que explora uma materialidade pictórica na técnica do desenho e da pintura, compostos por uma rugosidade e um gradil de formas, onde as cores transitam pelo ocre e nas escalas de preto e cinza, que dilatam conceitos etnográficos, antropológicos e políticos de um território marítimo, constituídos por uma fatura linguística e matérica, que são explorados pelo artista.”

 

Dividida em duas partes, a mostra exibe no piso térreo “Vestígios Primários” onde obras com utilização de cores nas quais muitas delas resultam de uma técnica autoral – de têmpera acrílica sobre papel de algodão para alcançar a paleta pictórica pretendida – onde o artista marca a superfície do papel em alusão às cicatrizes deixadas nas peles dos escravos dando origem a formas rupestres. “Luiz une suas origens – negra e indígena – o resultado é um conjunto potente com acabamento refinado e uma técnica única”, explica Daniel Maranhão.

 

Predominam os tons terrosos, porém cores vivas, como amarelo e vermelho, completam a unidade. Trata-se de “Um conjunto de tons de ocre e cor, que se desenvolve a partir de uma simultaneidade entre antropologia e a etnografia rupestre, delineado por uma grafia circular, que tenciona uma aspereza e secura de um cerrado, como se fossem gravuras em rochas”, explica Ana Paula Lopes

 

No andar superior, tem-se a série ‘Mar’ que surge após longo período de gestação criativa. “Mar” nasce em 2016 quando Luiz Martins começa a coletar materiais lançados à praia pelo mar em suas caminhadas pela Praia do Sonho. Conchas, pedra, corais e tantos outros materiais orgânicos são levados ao ateliê e dão início à construção de desenhos “como se assim devolvesse ao mar aquilo que foi lançado por ele”, complementa Maranhão.

 

Segundo Luiz Martins, ao falar sobre os novos trabalhos, comenta: “Série de desenhos na qual faço uma representação dos fragmentos encontrados em caminhadas pelas areias em busca de entender a potencialidade desses elementos deixados pelos mares em longo de sua trajetória, elementos que para mim representam força, energia e fluidos de ligação entre vida contemporânea e ancestralidade”.

 

Esses novos desenhos e pinturas não mostram o óbvio; não são registros de verde e azul, que vem à mente quando se pensa em mar. Ao revés, são imagens em branco e preto, com nuances de cinza. As técnicas escolhidas pelo artista – nanquim e aguada – acrescidas por alguns artifícios como sopro mecânico, mostram-se como fundamentais e precisas para que Luiz Martins alcance o resultado pictórico final por ele explorado.

 

“Mar de Luiz Martins, de águas profundas, quase equiparadas às do oceano, que amalgama uma pluralidade de conceitos e poéticas, expressando outras imagéticas que não associamos quando nos referimos ao mar.” Ana Paula Lopes

 

Sobre o artista

 

Luiz Martins, Machacalis, MG. Luiz Martins tem origem indígena pelo lado paterno, sendo filho de mãe negra. Conviveu com os índios de sua tribo, os Maxacalis até os 17 anos, quando se mudou para São Paulo, para cursar a Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Expôs pela primeira vez em 1996, na Fundação Cásper Líbero, com curadoria do Professor Walter Zanini. A partir de então, integrou diversas mostras individuais e coletivas no Brasil e no exterior como Polônia, Lituânia, Dinamarca, Itália, Portugal, Áustria e Japão. Desde 2008 mantém ateliê fixo na cidade de Viena, com o artista venezuelano Gustavo Mendez. Atualmente conta com 3 livros publicados e suas obras fazem parte de Coleções importantes, como a do MAC USP.

 

Abertura: 11 de dezembro – sábado – das 12:00 às 17:00

 

Período: de 13 de dezembro a 05 de fevereiro de 2022.

 

Relembrando Douchez-Nicola no mam

06/dez

 

 

Reflexos - Norberto - Nicola

 

Os pássaros de fogo levantarão voo novamente. As formas tecidas de Jacques Douchez e Norberto Nicola. A tridimensionalidade une novamente os artistas Jacques Douchez (Macôn – França, 1921 – São Paulo, 2012) e Norberto Nicola (São Paulo, 1931 – São Paulo, 2007) em “Os pássaros de fogo levantarão voo novamente”. As formas tecidas de Jacques Douchez e Norberto Nicola, em cartaz a partir do dia 16 de dezembro no Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP. Estreando oficialmente como curador, assume vivid astro focus / avaf propõe uma reaproximação póstuma entre os artistas. Além disso, a exposição lança luz sobre importantes sucessores do movimento modernista.

 

A partir de um conjunto de 26 obras em tapeçaria, 13 de cada artista, é possível um resgate dos laços profissionais e afetivos entre Douchez e Nicola, amigos que tiveram um atelier juntos entre 1959 e 1980, mas não expuseram mais em conjunto após desfazerem a sociedade. Uma das propostas da mostra é traduzir essa conexão ao criar uma união emocional e física dos trabalhos de ambos.

 

Em “Os pássaros de fogo levantarão voo novamente”, as formas tecidas de Jacques Douchez e Norberto Nicola, o mam amplia as reflexões em relação ao movimento modernista e evidencia, dessa vez, os artistas que vieram depois dele. “Dando continuidade às reflexões que promoveu ao longo do ano de 2021 sobre o centenário da Semana de Arte Moderna de São Paulo de 1922, o mam desdobra sua programação agora discutindo artistas das gerações seguintes que tiveram atuações significativas. O espaço concebido para a mostra traz espelhos e cores que rompem com o tradicional cubo branco e reinventam o ambiente expositivo”, comenta Cauê Alves, curador da instituição.

 

Curadoria: assume vivid astro focus / avaf

 

Sobre os artistas

 

Jacques Douchez (Macôn, França 1921 – São Paulo, 2012) e Norberto Nicola (São Paulo, 1931 – São Paulo, 2007) integraram nos anos 1950 o Atelier-Abstração, de Samson Flexor (1907 – 1971). O artista romeno, inclusive, influenciou os trabalhos dos dois, com seus ideais estéticos e vanguardistas. Em 1959, criaram juntos o Atelier Douchez-Nicola que mantinha a individualidade e a liberdade criativa de cada um. Nicola realizava obras lírico-oníricas e selváticas, e Douchez produzia obras austeras e ascéticas. O encerramento das atividades do Atelier aconteceu em 1978, sem que fizessem uma exposição juntos.

 

Sobre assume vivid astro focus

 

assume vivid astro focus / avaf é um coletivo de artistas fundado em 2001. avaf pode assumir diferentes formações dependendo dos diferentes projetos em que estão envolvidos. avaf trabalha em uma vasta gama de mídias, incluindo instalações, pintura, tapeçaria, néon, papel de parede, música, etc. Com frequência confronta arraigados códigos culturais, questões de gênero e política através de uma superabundância de cores e formas. O pseudônimo é parte fundamental no seu processo de trabalhar “coletivamente”: O intuito central de seus projetos é sempre a criação de um Gesamtkunstwerk (“obra total de arte”) onde o espectador se torna um com trabalho de arte. Ser inclusivo é peça chave para a realização de suas obras – avaf usa a cor como linguagem universal com a intenção de garantir a participação e entrega do espectador. O público sempre é centerpiece em todos seus projetos.

 

De 16 de dezembro a 13 de março de 2022.

 

Legenda da obra em destaque: Norberto Nicola, detalhe da obra “Reflexos”, 1986/1987. Lã em tear manual, fibras vegetais e pigmentos, 240 × 140 cm. Coleção Ana Rosa da Silva. Foto: João Musa.

 

 

Tradicional coletiva

 

 

A Galeria Jacques Ardies, Vila Mariana, São Paulo, SP, encerra a temporada de 2021 com a “Grande Coletiva de Arte Naïf” que apresenta trabalhos de 13 artistas brasileiros, e propõe um resgate da produção recente no campo da arte popular nacional, destacando temas da vida cotidiana, experiências pessoais, festas, paisagens campestres e urbanas, além da beleza da natureza.

 

A missão da galeria é incentivar a Arte Naïf brasileira; foram convidados os artistas que resistiram ao desanimo e continuaram pintando apesar das malezas e do desconforto causados pela pandemia. “Esses artistas têm em comum a sutileza com que retratam os temas ligados à natureza e ao dia-a-dia. Usando as cores com habilidade, eles transmitem em cada um de seus quadros a alegria, o lirismo e o otimismo característicos do povo brasileiro”, explica Jacques Ardies, curador da mostra.

 

A chamada Arte Naïf é uma expressão artística que surgiu junto com a eclosão da arte moderna. Os artistas naïfs, na maioria das vezes, não fazem questão de seguir as regras da academia e, por meios próprios, criam uma linguagem pessoal, transmitindo suas experiências de vida. Buscam, com determinação, superar eventuais desafios técnicos, propondo um estilo original, sem compromisso com a perspectiva, e executado com total liberdade.

 

“Grande Coletiva de Arte Naïf”

 

Artistas expositores: Ana Denise, Ana Maria Dias, Cristiano Sidoti, Edivaldo, Enzo Ferrara, Helena Coelho, Isabel de Jesus, Lucia Buccini, Mara D. Toledo, Rodolpho Tamanini Netto, Sônia Furtado e Vanice Ayres Leite.

 

Sobre a galeria

 

A Galeria Jacques Ardies, na Vila Mariana, está sediada em imóvel antigo totalmente restaurado. Desde sua abertura em Agosto de 1979, atua na divulgação e a promoção da arte naif brasileira. Ao longo dos últimos 42 anos, realizou inúmeras exposições tanto em seu espaço como em instituições nacionais e estrangeiras, onde podemos destacar MAC/ Campinas, MAM/ Goiânia, Espace Art 4 – Paris, Espaço Cultural do FMI em Washington DC, USA, Galeria Jacqueline Bricard, França, a Galeria Pro Arte Kasper, Suíça e Gina Gallery, Tel-Aviv, Israel. Em 1998, Jacques Ardies lançou o livro Arte Naif no Brasil com a colaboração do crítico Geraldo Edson de Andrade e em 2003, publicou o livro sobre a vida e obra do artista pernambucano Ivonaldo, com texto do professor e crítico de arte Jorge Anthonio e Silva. Em 2014, publicou Arte Naïf no Brasil II, que acaba de ser impresso em língua francesa, com textos de Daniel Achedjian, Peter Rosenwald, Marcos Rodrigues e Jean-Charles Niel. A galeria possui em seu acervo obras, entre quadros e esculturas, de 80 artistas representativos do movimento da Arte Naif brasileira.

 

Até 22 de Dezembro.

 

 

Coletiva na Art Lab Gallery

01/dez

 

 

Juliana Mônaco encerra sua agenda de 2021 da Art Lab Gallery, Jardins, SP, com “PORTFOLIO” exibição coletiva com 120 artistas exibindo mais de 350 trabalhos nos 1000m² de área expositiva da galeria. Mantido o compromisso de servir como porta de entrada a novos artistas no circuito de arte e cultura, que incluem tanto os representados pela galeria como 100 selecionados através de processo de “open call” via redes sociais.

 

Pinturas, esculturas, fotografias e jóias de artista se apresentam sem um conceito único. Cada artista exerce livre curadoria sobre seu trabalho tanto na escolha das peças como na forma de exibi-las.

 

Anne Weege, Ariane Labre, Carol Moraes, Daniel Cavalcanti, Graça Tirelli, Linda Dayan, Marcia Cavinati, Mariana Naves, Mariella Morrone, Pat, PatyLene, Renata Kandelman, Russ, Samara Oliveira, Tunica Barbosa, Valter Marques, Viri, possuem lugar cativo por fazerem parte do time da Art Lab Gallery e outros artistas se juntam a eles após criteriosa análise do material enviado visto que a meta é seguir “estimulando a intersecção de múltiplas vertentes em um laboratório imersivo de experimentação e intercâmbio artístico”, explica Juliana Mônaco.

 

Uma exposição onde, mais uma vez, se permite que “os temas propostos emerjam de manifestos particulares, advindos de contextos regionais, sensibilidades políticas, econômicas, e culturais”, diz a galerista.

 

“À medida que as variáveis aumentam, as práticas e trabalhos artísticos são completamente subjetivos de avaliação e dependentes de interpretação individual que, ao captar os sentidos do visitante no interagir com a obra, faz com que a arte se cumpra”.

 

Juliana Mônaco

 

De 02 a 12 de dezembro.