Relembrando Douchez-Nicola no mam

06/dez

 

 

Reflexos - Norberto - Nicola

 

Os pássaros de fogo levantarão voo novamente. As formas tecidas de Jacques Douchez e Norberto Nicola. A tridimensionalidade une novamente os artistas Jacques Douchez (Macôn – França, 1921 – São Paulo, 2012) e Norberto Nicola (São Paulo, 1931 – São Paulo, 2007) em “Os pássaros de fogo levantarão voo novamente”. As formas tecidas de Jacques Douchez e Norberto Nicola, em cartaz a partir do dia 16 de dezembro no Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP. Estreando oficialmente como curador, assume vivid astro focus / avaf propõe uma reaproximação póstuma entre os artistas. Além disso, a exposição lança luz sobre importantes sucessores do movimento modernista.

 

A partir de um conjunto de 26 obras em tapeçaria, 13 de cada artista, é possível um resgate dos laços profissionais e afetivos entre Douchez e Nicola, amigos que tiveram um atelier juntos entre 1959 e 1980, mas não expuseram mais em conjunto após desfazerem a sociedade. Uma das propostas da mostra é traduzir essa conexão ao criar uma união emocional e física dos trabalhos de ambos.

 

Em “Os pássaros de fogo levantarão voo novamente”, as formas tecidas de Jacques Douchez e Norberto Nicola, o mam amplia as reflexões em relação ao movimento modernista e evidencia, dessa vez, os artistas que vieram depois dele. “Dando continuidade às reflexões que promoveu ao longo do ano de 2021 sobre o centenário da Semana de Arte Moderna de São Paulo de 1922, o mam desdobra sua programação agora discutindo artistas das gerações seguintes que tiveram atuações significativas. O espaço concebido para a mostra traz espelhos e cores que rompem com o tradicional cubo branco e reinventam o ambiente expositivo”, comenta Cauê Alves, curador da instituição.

 

Curadoria: assume vivid astro focus / avaf

 

Sobre os artistas

 

Jacques Douchez (Macôn, França 1921 – São Paulo, 2012) e Norberto Nicola (São Paulo, 1931 – São Paulo, 2007) integraram nos anos 1950 o Atelier-Abstração, de Samson Flexor (1907 – 1971). O artista romeno, inclusive, influenciou os trabalhos dos dois, com seus ideais estéticos e vanguardistas. Em 1959, criaram juntos o Atelier Douchez-Nicola que mantinha a individualidade e a liberdade criativa de cada um. Nicola realizava obras lírico-oníricas e selváticas, e Douchez produzia obras austeras e ascéticas. O encerramento das atividades do Atelier aconteceu em 1978, sem que fizessem uma exposição juntos.

 

Sobre assume vivid astro focus

 

assume vivid astro focus / avaf é um coletivo de artistas fundado em 2001. avaf pode assumir diferentes formações dependendo dos diferentes projetos em que estão envolvidos. avaf trabalha em uma vasta gama de mídias, incluindo instalações, pintura, tapeçaria, néon, papel de parede, música, etc. Com frequência confronta arraigados códigos culturais, questões de gênero e política através de uma superabundância de cores e formas. O pseudônimo é parte fundamental no seu processo de trabalhar “coletivamente”: O intuito central de seus projetos é sempre a criação de um Gesamtkunstwerk (“obra total de arte”) onde o espectador se torna um com trabalho de arte. Ser inclusivo é peça chave para a realização de suas obras – avaf usa a cor como linguagem universal com a intenção de garantir a participação e entrega do espectador. O público sempre é centerpiece em todos seus projetos.

 

De 16 de dezembro a 13 de março de 2022.

 

Legenda da obra em destaque: Norberto Nicola, detalhe da obra “Reflexos”, 1986/1987. Lã em tear manual, fibras vegetais e pigmentos, 240 × 140 cm. Coleção Ana Rosa da Silva. Foto: João Musa.

 

 

Tradicional coletiva

 

 

A Galeria Jacques Ardies, Vila Mariana, São Paulo, SP, encerra a temporada de 2021 com a “Grande Coletiva de Arte Naïf” que apresenta trabalhos de 13 artistas brasileiros, e propõe um resgate da produção recente no campo da arte popular nacional, destacando temas da vida cotidiana, experiências pessoais, festas, paisagens campestres e urbanas, além da beleza da natureza.

 

A missão da galeria é incentivar a Arte Naïf brasileira; foram convidados os artistas que resistiram ao desanimo e continuaram pintando apesar das malezas e do desconforto causados pela pandemia. “Esses artistas têm em comum a sutileza com que retratam os temas ligados à natureza e ao dia-a-dia. Usando as cores com habilidade, eles transmitem em cada um de seus quadros a alegria, o lirismo e o otimismo característicos do povo brasileiro”, explica Jacques Ardies, curador da mostra.

 

A chamada Arte Naïf é uma expressão artística que surgiu junto com a eclosão da arte moderna. Os artistas naïfs, na maioria das vezes, não fazem questão de seguir as regras da academia e, por meios próprios, criam uma linguagem pessoal, transmitindo suas experiências de vida. Buscam, com determinação, superar eventuais desafios técnicos, propondo um estilo original, sem compromisso com a perspectiva, e executado com total liberdade.

 

“Grande Coletiva de Arte Naïf”

 

Artistas expositores: Ana Denise, Ana Maria Dias, Cristiano Sidoti, Edivaldo, Enzo Ferrara, Helena Coelho, Isabel de Jesus, Lucia Buccini, Mara D. Toledo, Rodolpho Tamanini Netto, Sônia Furtado e Vanice Ayres Leite.

 

Sobre a galeria

 

A Galeria Jacques Ardies, na Vila Mariana, está sediada em imóvel antigo totalmente restaurado. Desde sua abertura em Agosto de 1979, atua na divulgação e a promoção da arte naif brasileira. Ao longo dos últimos 42 anos, realizou inúmeras exposições tanto em seu espaço como em instituições nacionais e estrangeiras, onde podemos destacar MAC/ Campinas, MAM/ Goiânia, Espace Art 4 – Paris, Espaço Cultural do FMI em Washington DC, USA, Galeria Jacqueline Bricard, França, a Galeria Pro Arte Kasper, Suíça e Gina Gallery, Tel-Aviv, Israel. Em 1998, Jacques Ardies lançou o livro Arte Naif no Brasil com a colaboração do crítico Geraldo Edson de Andrade e em 2003, publicou o livro sobre a vida e obra do artista pernambucano Ivonaldo, com texto do professor e crítico de arte Jorge Anthonio e Silva. Em 2014, publicou Arte Naïf no Brasil II, que acaba de ser impresso em língua francesa, com textos de Daniel Achedjian, Peter Rosenwald, Marcos Rodrigues e Jean-Charles Niel. A galeria possui em seu acervo obras, entre quadros e esculturas, de 80 artistas representativos do movimento da Arte Naif brasileira.

 

Até 22 de Dezembro.

 

 

Coletiva na Art Lab Gallery

01/dez

 

 

Juliana Mônaco encerra sua agenda de 2021 da Art Lab Gallery, Jardins, SP, com “PORTFOLIO” exibição coletiva com 120 artistas exibindo mais de 350 trabalhos nos 1000m² de área expositiva da galeria. Mantido o compromisso de servir como porta de entrada a novos artistas no circuito de arte e cultura, que incluem tanto os representados pela galeria como 100 selecionados através de processo de “open call” via redes sociais.

 

Pinturas, esculturas, fotografias e jóias de artista se apresentam sem um conceito único. Cada artista exerce livre curadoria sobre seu trabalho tanto na escolha das peças como na forma de exibi-las.

 

Anne Weege, Ariane Labre, Carol Moraes, Daniel Cavalcanti, Graça Tirelli, Linda Dayan, Marcia Cavinati, Mariana Naves, Mariella Morrone, Pat, PatyLene, Renata Kandelman, Russ, Samara Oliveira, Tunica Barbosa, Valter Marques, Viri, possuem lugar cativo por fazerem parte do time da Art Lab Gallery e outros artistas se juntam a eles após criteriosa análise do material enviado visto que a meta é seguir “estimulando a intersecção de múltiplas vertentes em um laboratório imersivo de experimentação e intercâmbio artístico”, explica Juliana Mônaco.

 

Uma exposição onde, mais uma vez, se permite que “os temas propostos emerjam de manifestos particulares, advindos de contextos regionais, sensibilidades políticas, econômicas, e culturais”, diz a galerista.

 

“À medida que as variáveis aumentam, as práticas e trabalhos artísticos são completamente subjetivos de avaliação e dependentes de interpretação individual que, ao captar os sentidos do visitante no interagir com a obra, faz com que a arte se cumpra”.

 

Juliana Mônaco

 

De 02 a 12 de dezembro.

 

 

 

Subjetividade e Poéticas Negras

24/nov

 

 

Encontro com Artista: “Maré de Matos – Subjetividade e Poéticas Negras” será em comemoração ao Mês da Consciência Negra. O Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, Portão 10, São Paulo, SP, recebe a artista e pesquisadora transdisciplinar Maré de Matos para uma conversa acerca da imagem e da palavra, além do papel da arte no engajamento por justiça social.

 

Sobre a artista

 

Maré de Matos é artista transdisciplinar. Mineira, do Vale do Rio Doce. Graduada em Artes Visuais na Escola Guignard (UEMG), Mestre em Teoria Literária (UFPE) e atualmente desenvolve o projeto “Museu das Emoções” no doutorado (Diversitas, USP). Exercita o tensionamento entre versão e verdade; história única e contranarrativas polifônicas; poder e posição. Pesquisa representação e responsabilidade, invenção da raça e narrativa de si, imaginário e delírio da modernidade, subjetividade e poéticas negras. Seus trabalhos situam-se, sobretudo, no vão entre os territórios da imagem e da palavra. Se interessa pelo atlântico negro como processo de formação; pela revisão como princípio e pela poesia como ferramenta política de emancipação. Atua em linguagens híbridas e defende o direito à emoção de sujeitos privados do estatuto de humanidade.

 

Now Gomide & Co

 

 

Agora somos a Gomide & Co [We are now Gomide & Co]

 

Nós da Bergamin & Gomide temos o prazer de anunciar nosso novo nome: Gomide & Co, que traduz a evolução da visão e modelo de gestão da galeria. Sob a energia criativa e direção de Thiago Gomide, iniciamos 2022 com um novo projeto de formato societário e um propósito claro: reunir talentos diversos e impulsionar carreiras de forma abrangente.

 

Desde a nossa fundação em 2013, atuamos com excelência na promoção e divulgação da arte brasileira, participando das mais prestigiadas feiras e apresentando uma programação conceituada de exposições rigorosamente construídas – da seleção das obras, expografias e publicações. Em 8 anos, conquistamos o reconhecimento do circuito de arte nacional e internacional, o que só foi possível com a parceria de Antonia Bergamin, a quem somos gratos por absolutamente tudo. Na Gomide & Co, reafirmamos a missão de ser uma fonte consolidada para coleções privadas, museus e instituições ampliarem e diversificarem seus acervos.

 

Apresentamos a partir de agora o Co, abreviatura de companhia, que simboliza um gesto colaborativo. Nossos principais colaboradores se envolvem coletivamente nas decisões estratégicas, desde a aquisição de acervo à programação, com transparência e compartilhamento de resultados. Uma filosofia que se expande na construção de espaços de fortalecimento de uma audiência engajada e propositiva, com liberdade de formatos e modos de ativação da nossa programação. É com essa paixão genuína que desejamos expandir nossos diálogos com os artistas e suas obras, colecionadores, instituições e demais agentes do mundo da arte. Honramos o que nos fez chegar até aqui, e é com o mesmo vigor que exaltamos o que vem pela frente.

 

Bem-vindos à Gomide & Co.

As cores de Paulo Pasta

22/nov

 

 

A Galeria Millan apresenta “Correspondências”, a quinta individual de Paulo Pasta na galeria, que marca também o lançamento de sua nova publicação. A mostra materializa a ideia originada na troca entre Pasta e o curador Ronaldo Brito, ocorrida entre abril e setembro de 2020, em plena pandemia mundial de Covid-19. A publicação registra tal troca, revelando a matriz do pensamento que organiza a exposição. Entre grandes e pequenos formatos, os cerca de 20 trabalhos reunidos na exposição trazem à luz a tarefa do pintor e as reflexões do crítico, fruto da tentativa de encontrar um refúgio em meio aos efeitos adversos de uma crise política e sanitária.

Ao longo daqueles meses, artista e curador trocaram uma série de e-mails, em que Pasta compartilhava fotografias de trabalhos e registros sobre seus processos, enquanto Brito o respondia com formulações, pensamentos e poemas. Nesse processo, intercorreram-se textos, pinturas, desenhos, referências e aproximações com trabalhos de diferentes autores – da pintura à literatura -, uma forma encontrada por ambos de vislumbrar o “futuro em meio à escuridão”. Pouco a pouco, desenvolveram a ideia de realizar uma publicação que registrasse o percurso dos pensamentos nas mensagens trocadas junto de uma exposição que pudesse, segundo Pasta, “mostrar os pequenos movimentos” que ocorrem em seus trabalhos.

Nas telas, a construção de movimentos próprios e internos à pintura coexiste com a sensação de um congelamento do tempo real vivido em confinamento e representa, por isso mesmo, um ato de resistência e tenacidade da pintura. De maneira singular, este caráter do trabalho de Pasta se mostra, nas palavras de Brito, como “um manifesto discreto contra o imediatismo e o oportunismo”. Para ele, a conformação da pintura de Pasta produz uma espécie de topologia das cores em que essas se interpenetram.

Na seleção apresentada, as formas e combinações cromáticas formam estruturas de pórticos, elementos que constituem o que Ronaldo Brito designa, em uma de suas correspondências, como “abstração existencial”. Tal formulação de Brito é capaz de revelar uma nova compreensão sobre o trabalho de Paulo Pasta. Para o crítico, Pasta é capaz de conduzir este gênero à sua versão contemporânea, ao pintar o mistério – “um dos poucos sentimentos pictóricos autênticos” – através de um colorismo mais aberto. Nas palavras do próprio artista, essa “existência abstrata” combina seu interesse simultâneo pela abstração e pelo figurativo.

O intuito da pintura de Paulo Pasta é de instigar uma transcendência através da cor; uma experiência sensorial, como também intentavam Matisse e Cézanne. Há, por exemplo, como analisa o crítico, o uso de um vermelho que se eleva sobre a superfície do mundo ou de um ocre esverdeado que se perde com o entorno cotidiano e, de repente, parece estar fora da tela. Tais cores partem da geometria para criar consigo uma outra poética do mundo. Com esta autonomia cromática, Pasta retém o tempo presente, sempre carregado pelos fantasmas do futuro -faíscas que resistem aos tempos obscuros da realidade.

 

Sobre o artista

 

Ariranha, São Paulo, SP, 1959, Doutor em artes plásticas pela Universidade de São Paulo, SP (2011), Paulo Pasta realizou exposições individuais em diversos espaços, como Museu de Arte Sacra de São Paulo, SP (2021); Instituto Tomie Ohtake e Anexo Millan, São Paulo, SP (2018); Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, SP (2018); Paulo Darzé, Salvador, BA (2017); Palácio Pamphilj, Roma, Itália (2016); Galeria Millan e Anexo Millan e Museu Afro Brasil, São Paulo, SP (2015); Sesc Belenzinho, São Paulo, SP (2014); Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS (2013); Centro Cultural Maria Antonia, São Paulo, SP (2011); Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ (2008); Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2006); entre outros. Também participou de importantes exposições coletivas, entre elas: Vício impune: o artista colecionador, Galeria Millan e Galeria Raquel Arnaud, São Paulo, SP (2021); 1981/2021: Arte Contemporânea Brasileira na Coleção Andrea e José Olympio Pereira, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, SP (2021); Pinacoteca: acervo, Pinacoteca de São Paulo, SP (2020); MAC-USP no Século XXI – A Era dos Artistas, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP (2017); Clube de Gravura – 30 Anos, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP, e Os Muitos e o Um, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP (2016); 30 x Bienal, Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP (2013); Europalia, International Art Festival, Bruxelas, Bélgica (2011); e Matisse Hoje, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2009). Suas obras integram diversas coleções, entre as quais: Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, Espanha; Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP; Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, RJ; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP; Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, RJ; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, SP; e Kunsthalle, Berlim, Alemanha.

Vik Muniz, “Fotocubismo”

19/nov

 

 

Vik Muniz inaugurou a exposição “Fotocubismo”, na Galeria Nara Roesler, Jardim Europa, São Paulo, SP. Resultado de uma longa pesquisa em torno de clássicos do Cubismo, através de obras de mestres como Picasso, Braque e Juan Gris, esse conjunto de trabalhos revela como aspectos relacionados à memória, às ambiguidades da representação imagética e a rica inter-relação entre diversos meios de expressão constituem a base sobre da produção atual do artista. Na sequência, em 08 de dezembro, será lançado “Epistemas”, livro sobre sua produção mais recente, apresentando aspectos diversos de sua trajetória. Edição com textos do artista, da crítica – e curadora da mostra – Luísa Duarte, e do cientista e escritor inglês Phillip Ball. A obra aborda pontos vitais da reflexão conceitual e formal do artista, que há quase quatro décadas investiga “essa zona híbrida, habitada pelas contradições entre percepção visual e o mundo físico”. Editada pela Nara Roesler Livros, a publicação faz parte da vertente Recortes, focada em aspectos específicos da carreira ou obra do artista, e tem patrocínio da Turim.

Museu Judaico de São Paulo

 

 

Previsto para visitações a partir do dia 05 de dezembro, será aberto o Museu Judaico de São Paulo (MUJ), espaço que será inaugurado após 20 anos de planejamento, fruto de uma mobilização da sociedade civil. Além de quatro andares expositivos, os visitantes também terão acesso a uma biblioteca com mais de mil livros para consulta e a um café que servirá comidas judaicas.

 

Localizado no antigo prédio do templo Beth-EL – uma das sinagogas mais antigas da cidade – o espaço fica na Rua Martinho Prado, 128, no bairro da Bela Vista, e passou por um processo de restauração, modernização e a construção de um prédio contemporâneo anexo para finalmente receber o público.

 

Com quatro exposições simultâneas – duas de longa duração, sendo elas “A vida Judaica”, sobre os rituais e ciclo de vida judaico e “Judeus no Brasil: histórias trançadas”, que expõe as várias correntes migratórias dos judeus para o Brasil, do início da colonização ao Brasil republicano; e duas temporárias: “Inquisição e cristãos-novos no Brasil: 300 anos de resistência”, sobre a luta dos cristãos-novos para reconstruir suas vidas no País durante os 300 anos de vigência da Inquisição, e “Da Letra à Palavra”, que explora a relação entre a arte e a escrita, a imagem e a palavra, a partir da reunião de 32 artistas basilares da arte contemporânea brasileira.

 

Estão à frente do projeto o presidente Sergio Simon, o diretor executivo Felipe Arruda e, na curadoria, a pesquisadora e crítica Ilana Feldman, além do grupo de voluntários que construiu a instituição.

 

A programação expositiva do museu tem por objetivo cultivar e manter vivas as diversas expressões, histórias, memórias, tradições e valores da cultura judaica, tecendo também um diálogo com o contexto brasileiro, com o tempo presente e com as aspirações de seus diferentes públicos, criando assim uma matriz baseada em princípios de diversidade, resistência e atualidade.

 

“Concebemos o Museu Judaico de São Paulo como um espaço de visões plurais sobre o judaísmo, apresentado como um complexo sistema cultural e identitário, que está sempre se reinventando. A partir da experiência judaica, o MUJ reflete sobre o tempo presente e cria tranças com a diversidade cultural do contexto brasileiro, acionando debates sobre preconceito, intolerância e outras questões sociais e políticas urgentes”, afirma Felipe Arruda.

 

Rostos da Imigração

18/nov

 

 

O Museu da Imigração – instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo – Mooca, São Paulo, SP, promove até o dia 31 de dezembro, como parte da segunda edição do Programa de Residência Artística, a exposição “Rostos invisíveis da imigração no Brasil”, do artista angolano Paulo Chavonga na sala “Hospedaria em Movimento”.

 

A iniciativa, idealizada em 2019, tem o propósito de estimular a produção cultural, compreendendo que a arte pode ser uma expressão privilegiada para tornar sensíveis conceitos importantes para o entendimento das migrações. Dessa forma, por meio de editais, artistas individuais ou coletivos de artistas migrantes e refugiados são convidados a realizarem uma imersão nas atividades e rotinas do Museu da Imigração, objetivando o desenvolvimento de um projeto de artes visuais de diversas linguagens.

 

A proposta resultou na seleção do artista angolano Paulo Chavonga que, desde julho, esteve presente nos ambientes do complexo da antiga Hospedaria do Brás. Durante o período, o profissional conheceu o trabalho realizado por todas as equipes e, na sequência, iniciou a criação de três grandes telas. As obras, que compõem a mostra, estarão em cartaz no Museu até dezembro.

 

“O Programa de Residência Artística visa aproximar os artistas migrantes do Museu e, mais ainda, proporcionar aos visitantes diferentes análises e reflexões. Assim, o tema apresentado na edição, As migrações e os tijolos do racismo estrutural no Brasil, converge com essa finalidade, sendo primordial para seguirmos com os debates envolvendo o racismo e a história da Hospedaria. Por conta disso, inclusive, foram priorizadas as candidaturas de negros e/ou indígenas”, comenta a diretora executiva da instituição, Alessandra Almeida.\]Após a inauguração, o público presencial e virtual teve a oportunidade de acompanhar um bate-papo entre Chavonga e a profissional selecionada em 2019 e, também, membro da Comissão Curatorial do projeto neste ano, Emilia Estrada.

 

A palavra do artista

 

Por meio dos retratos gigantes, com depoimentos, protagonizados por imigrantes africanos vendedores das ruas de São Paulo, fricciono a dureza desse serviço com os sonhos que eles tinham e têm no Brasil. Ao mesmo tempo, demonstro como o racismo estrutural é um fator determinante no território do trabalho árduo, às vezes, semelhante à escravidão na qual essas pessoas se encontram. Com isso, quero trazer novos rostos e histórias para dentro do Museu. Rostos e histórias que não podem mais ser invisíveis. Um ato de coragem e desejo de diálogo para que nasça, talvez, um novo olhar sobre a gente africana no Brasil, explica Chavonga.

 

Lourival Cuquinha: Crapulocracia

16/nov

 

 

 

 

 

A Central Galeria, São Paulo, SP, apresenta em seus últimos dias de exibição, “Crapulocracia”, a primeira mostra individual de Lourival Cuquinha na galeria. A exposição é a terceira de uma trilogia de exposições do artista que vêm acompanhando os últimos capítulos políticos do país e a consequente derrocada do pacto democrático.

 

Lourival Cuquinha, Recife, 1975. Vive e trabalha em São Paulo. Multidisciplinar, estudou na UFPE (Recife, 1993-2002) onde frequentou cursos diversos como Engenharia Química, Filosofia, Direito e História. Foi reconhecido em diversas premiações e programas de residência como: Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais (2017), Prêmio Marcantônio Vilaça (2012), Prêmio Brasil Contemporâneo – Fundação Bienal de São Paulo (2010), Artist Links – British Council (2009), entre outros. Suas exposições individuais incluem: Transição de Fase, Funarte (Belo Horizonte, 2018); O Trabalho Gira em Torno, MAMAM (Recife, 2015); Territórios e Capital: Extinções, MAM Rio (Rio de Janeiro, 2014); Capital: destruction-construction, PROGR Foundation (Bern, Suíça, 2012); Topografia Suada de Londres: Jack Pound Financial Art Project, Centro Cultural Correios (Recife, 2012). Entre as coletivas recentes, destacam-se: À Nordeste, Sesc 24 de Maio (São Paulo, 2019); Panorama da Arte Brasileira, MAM-SP (São Paulo, 2017 e 2011); Bienal Sur, Centro Cultural Parque de Espanha (Rosário, Argentina, 2017); 5o Prêmio Marcantônio Vilaça, MAC-USP (São Paulo, 2015). Sua obra está presente em importantes coleções públicas, como: CCSP (São Paulo), MAM-SP (São Paulo), MAR (Rio de Janeiro), MAMAM (Recife), entre outras.

 

Cuquinha e a disputa do simbólico

 

Pollyana Quintella

 

Lourival Cuquinha é amplamente reconhecido no cenário brasileiro por estressar as relações entre arte e política. Lourival Cuquinha é amplamente reconhecido no cenário brasileiro por estressar as relações entre arte e política. Do furto do parangolé de Hélio Oiticica, no início dos anos 2000, às icônicas bandeiras compostas de notas de dinheiro, o artista se dedica há mais de vinte anos a perscrutar as fantasias e as ficções sociais que rondam a prática artística, seus limites, validações e atribuições de valor, bem como as relações íntimas entre exercício político e dimensão simbólica. Crapulocracia, sua primeira mostra individual na Central Galeria, é a terceira de uma trilogia de exposições que vêm acompanhando os últimos capítulos políticos do país e a consequente derrocada do pacto democrático. A primeira delas, OrdeMha, foi realizada em 2016, em paralelo ao golpe exercido sobre o mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff, enquanto a segunda, Dos meus comunistas cuido eu (Roberto Marinho), presenciou a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2018. Todas elas, por meio de diferentes estratégias, buscam situar o trabalho do artista à luz desses acontecimentos.

 

No centro da exposição de 2016, uma grande lâmina rotativa, tal qual as placas de Petri – recipientes cilíndricos utilizados por cientistas para analisar microrganismos –, expunha o equivalente a um metro quadrado de lama tóxica da Vale despejada no Rio Doce, como se fosse possível encapsular a catástrofe. Se a lama cumpria o papel de presentificar o desastre e aproximar de nós o evento (tantas vezes reduzido a uma abstração narrativa em razão do bombardeio de notícias e informações), ela também instigava certo fascínio meditativo pela substância em movimento, pondo em tensão as relações entre estética e política ou entre frágeis dicotomias como ação e inação, atividade e passividade.

 

Desta vez, dois torniquetes atualizam o repertório das recentes tragédias brasileiras. Um exibe o petróleo que atingiu as praias do litoral nordestino em 2019, enquanto o outro expõe as cinzas das queimadas que se multiplicaram no território nacional em 2021, formando uma espécie de inventário das destruições que não cessam de nos atravessar. No Brasil do presente, não é exagero dizer que a realidade supera a fantasia; sobra delírio, mas falta imaginação. Lama, fogo, bolsa de colostomia, tudo soa como pura literalidade. Para que metáforas? Resta saber se ver as substâncias assim de perto será o suficiente para perturbar nossa anestesia.

 

O petróleo, material de interesse de Cuquinha há alguns anos, também está presente no neon que dá título à mostra – Crapulocracia. A palavra luminosa contaminada pelo combustível fóssil funciona como um marcador temporal do presente, em que as promessas históricas são suplantadas pela realidade pós-utópica e a imaginação coletiva fracassa continuamente em encontrar soluções para as crises em que estamos imersos, enquanto o país é governado por uma besta.

 

Cuquinha, por sua vez, não se restringe à visão curta e nublada de um presentismo encerrado no aqui-e-agora. Trânsitos entre diferentes tempos históricos situam as complexidades políticas em perspectivas mais amplas, como é o caso de Apólice do Apocalipse (2018-2021), iniciada em 2018. Naquela altura, o artista apresentou uma cômoda de vidro antiga contendo uma transcrição da carta de Pero Vaz de Caminha, considerada o primeiro documento escrito no Brasil. Pouco a pouco, a carta ia sendo carcomida por um conjunto de grilos vivos, o que fazia menção direta ao fenômeno da grilagem, cujo nome tem origem no fato de que esses insetos eram utilizados para forjar o envelhecimento de falsos documentos. À luz da ação do artista, a história do país figurava como um gesto inautêntico. Agora, a mesma carta é exposta depois dos efeitos da grilagem, simulando o próprio anacronismo. Afinal, não há nada assim de tão novo no nosso fim do mundo; talvez estejamos mais próximos de um disco arranhado que repete um evento farsesco à exaustão. Junto a isso, a presença de uma lanterna de luz negra permitirá que o público reconheça que a carta foi escrita sobre um papel-moeda, entrelaçando identidade nacional, capital e poder.

 

A relação direta com o dinheiro também está presente em Brasil Sumidouro (2013). Recibos das mais variadas compras realizadas com o cartão de crédito do artista dão forma aos mapas das cinco regiões do país. Trata-se de uma espécie de loteamento simbólico do Brasil a partir de gastos pessoais, nublando as fronteiras entre o público e o privado. Sumidouro – lugar por onde algo desaparece – refere-se ao fato de que os dados impressos em tais notinhas fotossensíveis estão fadados a se apagar com o tempo. Restará apenas a cor do papel, nos fazendo questionar os critérios arbitrários de atribuição de valor no meio da arte.

 

É a obra Vendo Direitos à Venda (2021), contudo, que situa as operações financeiras com mais radicalidade. O artista comprou, em setembro deste ano, 100 ações da Petrobras pelo valor total de R$ 2.493,00. Os interessados em adquirir a obra deverão responder a um breve questionário cuja finalidade é designar se são ou não cidadãos golpistas. Os “brasileiros não golpistas” poderão comprar o trabalho por R$ 5.099,00, valor referente ao preço que as ações alcançaram em maio de 2008, momento de alta da empresa, enquanto “estrangeiros ou brasileiros golpistas” só poderão adquirir o trabalho pelo dobro do preço, R$ 10.198,00. Ao instituir tais condições, Cuquinha desconstrói um suposto espaço de neutralidade garantido pelo capital na comercialização, além de implicar as consequências políticas e econômicas dos últimos anos no seio das ações culturais.

 

Ao longo de todo o percurso definido por Cuquinha, somos reiteradamente provocados: Qual papel resta à prática artística na construção de um imaginário político? Como fazer do campo simbólico um espaço de disputa? Quais as negociações entre sujeito, instituições de poder e os limites da legalidade? Não será possível responder essas perguntas, mas, assim como para Cuquinha, nos caberá sustentar o problema: cutucar, desmontar e revirar as fantasias.