Relembrando Douchez-Nicola no mam

06/dez

 

 

Reflexos - Norberto - Nicola

 

Os pássaros de fogo levantarão voo novamente. As formas tecidas de Jacques Douchez e Norberto Nicola. A tridimensionalidade une novamente os artistas Jacques Douchez (Macôn – França, 1921 – São Paulo, 2012) e Norberto Nicola (São Paulo, 1931 – São Paulo, 2007) em “Os pássaros de fogo levantarão voo novamente”. As formas tecidas de Jacques Douchez e Norberto Nicola, em cartaz a partir do dia 16 de dezembro no Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP. Estreando oficialmente como curador, assume vivid astro focus / avaf propõe uma reaproximação póstuma entre os artistas. Além disso, a exposição lança luz sobre importantes sucessores do movimento modernista.

 

A partir de um conjunto de 26 obras em tapeçaria, 13 de cada artista, é possível um resgate dos laços profissionais e afetivos entre Douchez e Nicola, amigos que tiveram um atelier juntos entre 1959 e 1980, mas não expuseram mais em conjunto após desfazerem a sociedade. Uma das propostas da mostra é traduzir essa conexão ao criar uma união emocional e física dos trabalhos de ambos.

 

Em “Os pássaros de fogo levantarão voo novamente”, as formas tecidas de Jacques Douchez e Norberto Nicola, o mam amplia as reflexões em relação ao movimento modernista e evidencia, dessa vez, os artistas que vieram depois dele. “Dando continuidade às reflexões que promoveu ao longo do ano de 2021 sobre o centenário da Semana de Arte Moderna de São Paulo de 1922, o mam desdobra sua programação agora discutindo artistas das gerações seguintes que tiveram atuações significativas. O espaço concebido para a mostra traz espelhos e cores que rompem com o tradicional cubo branco e reinventam o ambiente expositivo”, comenta Cauê Alves, curador da instituição.

 

Curadoria: assume vivid astro focus / avaf

 

Sobre os artistas

 

Jacques Douchez (Macôn, França 1921 – São Paulo, 2012) e Norberto Nicola (São Paulo, 1931 – São Paulo, 2007) integraram nos anos 1950 o Atelier-Abstração, de Samson Flexor (1907 – 1971). O artista romeno, inclusive, influenciou os trabalhos dos dois, com seus ideais estéticos e vanguardistas. Em 1959, criaram juntos o Atelier Douchez-Nicola que mantinha a individualidade e a liberdade criativa de cada um. Nicola realizava obras lírico-oníricas e selváticas, e Douchez produzia obras austeras e ascéticas. O encerramento das atividades do Atelier aconteceu em 1978, sem que fizessem uma exposição juntos.

 

Sobre assume vivid astro focus

 

assume vivid astro focus / avaf é um coletivo de artistas fundado em 2001. avaf pode assumir diferentes formações dependendo dos diferentes projetos em que estão envolvidos. avaf trabalha em uma vasta gama de mídias, incluindo instalações, pintura, tapeçaria, néon, papel de parede, música, etc. Com frequência confronta arraigados códigos culturais, questões de gênero e política através de uma superabundância de cores e formas. O pseudônimo é parte fundamental no seu processo de trabalhar “coletivamente”: O intuito central de seus projetos é sempre a criação de um Gesamtkunstwerk (“obra total de arte”) onde o espectador se torna um com trabalho de arte. Ser inclusivo é peça chave para a realização de suas obras – avaf usa a cor como linguagem universal com a intenção de garantir a participação e entrega do espectador. O público sempre é centerpiece em todos seus projetos.

 

De 16 de dezembro a 13 de março de 2022.

 

Legenda da obra em destaque: Norberto Nicola, detalhe da obra “Reflexos”, 1986/1987. Lã em tear manual, fibras vegetais e pigmentos, 240 × 140 cm. Coleção Ana Rosa da Silva. Foto: João Musa.

 

 

Siron Franco em ação

25/nov

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Na próxima segunda-feira, dia 29 de novembro, o artista plástico Siron Franco irá exibir a partir das 19:30, na cúpula do Museu da República, em Brasília-DF, o Vídeo Mapping “Onça Pintada”.

Uma homenagem, e ao mesmo tempo um alerta contra a matança do maior felino das Américas, um dos símbolos da nossa biodiversidade.
29 de novembro é comemorado o Dia Mundial da Onça Pintada.

Subjetividade e Poéticas Negras

24/nov

 

 

Encontro com Artista: “Maré de Matos – Subjetividade e Poéticas Negras” será em comemoração ao Mês da Consciência Negra. O Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, Portão 10, São Paulo, SP, recebe a artista e pesquisadora transdisciplinar Maré de Matos para uma conversa acerca da imagem e da palavra, além do papel da arte no engajamento por justiça social.

 

Sobre a artista

 

Maré de Matos é artista transdisciplinar. Mineira, do Vale do Rio Doce. Graduada em Artes Visuais na Escola Guignard (UEMG), Mestre em Teoria Literária (UFPE) e atualmente desenvolve o projeto “Museu das Emoções” no doutorado (Diversitas, USP). Exercita o tensionamento entre versão e verdade; história única e contranarrativas polifônicas; poder e posição. Pesquisa representação e responsabilidade, invenção da raça e narrativa de si, imaginário e delírio da modernidade, subjetividade e poéticas negras. Seus trabalhos situam-se, sobretudo, no vão entre os territórios da imagem e da palavra. Se interessa pelo atlântico negro como processo de formação; pela revisão como princípio e pela poesia como ferramenta política de emancipação. Atua em linguagens híbridas e defende o direito à emoção de sujeitos privados do estatuto de humanidade.

 

Museu Judaico de São Paulo

19/nov

 

 

Previsto para visitações a partir do dia 05 de dezembro, será aberto o Museu Judaico de São Paulo (MUJ), espaço que será inaugurado após 20 anos de planejamento, fruto de uma mobilização da sociedade civil. Além de quatro andares expositivos, os visitantes também terão acesso a uma biblioteca com mais de mil livros para consulta e a um café que servirá comidas judaicas.

 

Localizado no antigo prédio do templo Beth-EL – uma das sinagogas mais antigas da cidade – o espaço fica na Rua Martinho Prado, 128, no bairro da Bela Vista, e passou por um processo de restauração, modernização e a construção de um prédio contemporâneo anexo para finalmente receber o público.

 

Com quatro exposições simultâneas – duas de longa duração, sendo elas “A vida Judaica”, sobre os rituais e ciclo de vida judaico e “Judeus no Brasil: histórias trançadas”, que expõe as várias correntes migratórias dos judeus para o Brasil, do início da colonização ao Brasil republicano; e duas temporárias: “Inquisição e cristãos-novos no Brasil: 300 anos de resistência”, sobre a luta dos cristãos-novos para reconstruir suas vidas no País durante os 300 anos de vigência da Inquisição, e “Da Letra à Palavra”, que explora a relação entre a arte e a escrita, a imagem e a palavra, a partir da reunião de 32 artistas basilares da arte contemporânea brasileira.

 

Estão à frente do projeto o presidente Sergio Simon, o diretor executivo Felipe Arruda e, na curadoria, a pesquisadora e crítica Ilana Feldman, além do grupo de voluntários que construiu a instituição.

 

A programação expositiva do museu tem por objetivo cultivar e manter vivas as diversas expressões, histórias, memórias, tradições e valores da cultura judaica, tecendo também um diálogo com o contexto brasileiro, com o tempo presente e com as aspirações de seus diferentes públicos, criando assim uma matriz baseada em princípios de diversidade, resistência e atualidade.

 

“Concebemos o Museu Judaico de São Paulo como um espaço de visões plurais sobre o judaísmo, apresentado como um complexo sistema cultural e identitário, que está sempre se reinventando. A partir da experiência judaica, o MUJ reflete sobre o tempo presente e cria tranças com a diversidade cultural do contexto brasileiro, acionando debates sobre preconceito, intolerância e outras questões sociais e políticas urgentes”, afirma Felipe Arruda.

 

Rostos da Imigração

18/nov

 

 

O Museu da Imigração – instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo – Mooca, São Paulo, SP, promove até o dia 31 de dezembro, como parte da segunda edição do Programa de Residência Artística, a exposição “Rostos invisíveis da imigração no Brasil”, do artista angolano Paulo Chavonga na sala “Hospedaria em Movimento”.

 

A iniciativa, idealizada em 2019, tem o propósito de estimular a produção cultural, compreendendo que a arte pode ser uma expressão privilegiada para tornar sensíveis conceitos importantes para o entendimento das migrações. Dessa forma, por meio de editais, artistas individuais ou coletivos de artistas migrantes e refugiados são convidados a realizarem uma imersão nas atividades e rotinas do Museu da Imigração, objetivando o desenvolvimento de um projeto de artes visuais de diversas linguagens.

 

A proposta resultou na seleção do artista angolano Paulo Chavonga que, desde julho, esteve presente nos ambientes do complexo da antiga Hospedaria do Brás. Durante o período, o profissional conheceu o trabalho realizado por todas as equipes e, na sequência, iniciou a criação de três grandes telas. As obras, que compõem a mostra, estarão em cartaz no Museu até dezembro.

 

“O Programa de Residência Artística visa aproximar os artistas migrantes do Museu e, mais ainda, proporcionar aos visitantes diferentes análises e reflexões. Assim, o tema apresentado na edição, As migrações e os tijolos do racismo estrutural no Brasil, converge com essa finalidade, sendo primordial para seguirmos com os debates envolvendo o racismo e a história da Hospedaria. Por conta disso, inclusive, foram priorizadas as candidaturas de negros e/ou indígenas”, comenta a diretora executiva da instituição, Alessandra Almeida.\]Após a inauguração, o público presencial e virtual teve a oportunidade de acompanhar um bate-papo entre Chavonga e a profissional selecionada em 2019 e, também, membro da Comissão Curatorial do projeto neste ano, Emilia Estrada.

 

A palavra do artista

 

Por meio dos retratos gigantes, com depoimentos, protagonizados por imigrantes africanos vendedores das ruas de São Paulo, fricciono a dureza desse serviço com os sonhos que eles tinham e têm no Brasil. Ao mesmo tempo, demonstro como o racismo estrutural é um fator determinante no território do trabalho árduo, às vezes, semelhante à escravidão na qual essas pessoas se encontram. Com isso, quero trazer novos rostos e histórias para dentro do Museu. Rostos e histórias que não podem mais ser invisíveis. Um ato de coragem e desejo de diálogo para que nasça, talvez, um novo olhar sobre a gente africana no Brasil, explica Chavonga.

 

A Natureza na Arte na Casa França-Brasil

17/nov

 

 

 

Os finlandeses estão chegando: 5ª edição da Bela Bienal Europeia e Latino Americana reúne artistas daFinlândiae da Itália, propondo diálogo entre arte e sustentabilidade.

 

A arte como agente de reflexão sobre sustentabilidade e questões ambientais. Este é o mote da Bela Bienal Europeia e Latino Americana de Arte Contemporânea, que chega à sua 5ª edição com o tema “A Natureza na Arte”. Evento itinerante que este ano já esteve na Finlândia e aportou no Brasil com agenda em importantes cidades, como Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo, chega à Casa França-Brasil em curta temporada. No dia da abertura, 19 de novembro, contará com a presença do embaixador da Finlândia Jouko Leinonen.

 

Sob curadoria do finlandês Jari Järnström e do brasileiro Edson Cardoso – proprietário da AVA Galleria, na Finlândia – a mostra reúne 30 artistas finlandeses, além de italianos. Todos possuem em comum a proposta de promover um diálogo consistente através da exposição de suas obras, manifestadas através de pinturas e esculturas de bronze. “Promovendo esse diálogo intercultural, mostramos ao público em geral o que artistas de diferentes culturas estão desenvolvendo na arte contemporânea, unificando as distâncias continentais através de seus olhares sobre um único tema. Desejamos evidenciar a importância destas obras como agentes de reflexão sobre a preservação ambiental, bem como de suas raízes e tradições”, afirma um dos curadores, Edson Cardoso, que já realizou exposições nas principais cidades do mundo (Sede da ONU em Nova Iorque, Museu do Louvre em Paris, Prefeitura de Osaka, no Japão, Museu de Braga, em Portugal) e em outros espaços importantes no Brasil – Museu Oscar Niemeyer, MAM do Rio, MuBe Museu de Esculturas e Museu Histórico Nacional).

 

Relação dos artistas convidados

 

Finlândia: Anna Emilia Järvinen, Annukka Visapää, Antti Raitala, Bela Czitrom, Dan Palmgren, Elisa Daart, Hanna Uggla, Hanna Varis, Hannele Haatainen, Iria Ciekca Schmidt, Jari Järnström, Kristina Elo, Laura Pohjonen, Maaria Märkälä. Maj-Lis Tanner, Marko Viljakka, Merja Hujo, Mona Hoel, Nonna-Nina Mäki, Paula Mikkilä, Piippa Mutikainen, Päivi Kukkasniemi, Päivyt Niemeläinen, Raija Kuisma, Seppo Lagom, Sirkka Laakkonen, Sirpa Heikkinen, Ulla Remes, Ulla-Maija Vaittinen, Ursula Kianto.

 

Itália: Alda Picone, Judith Paone, Mauro Trincanato.

 

De 20 de novembro a 12 de dezembro.

Exposição de Ziraldo e Museu Histórico Nacional

12/nov

 

 

Com “Terra à Vista e Pé na Lua”

 

Ziraldo participa no dia 20 de novembro dos 100 anos do Museu Histórico Nacional, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A exposição que marca o início das comemorações do museu tem como foco a aventura humana rumo ao desconhecido. Pelo olhar visionário de Ziraldo – artista atemporal cuja produção se faz presente no imaginário de brasileiros e brasileiras de todas as idades – o visitante navegará do descobrimento do Brasil às conquistas espaciais, passando por obras do artista que se unem conceitualmente às coleções do museu via códigos QR espalhados pela cenografia.

 

A trajetória de Ziraldo (livros, personagens, ideias ou mesmo objetos de trabalho) reconecta o visitante, de forma instigante e criativa, à história de um Brasil construído diariamente por todos nós. A curadoria e direção de arte ficam a cargo de Adriana Lins e Guto Lins (Manifesto), que contaram com o apoio e a participação do Instituto Ziraldo, enquanto a cenografia é assinada por Susana Lacevitz e Philppe Midani (Cenografia.Net).

 

Segundo Vania Bonelli, diretora interina do Museu Histórico Nacional, para dar início às comemorações do centenário do MHN em 2022, “a fantástica criatividade” de Ziraldo e seus super-heróis é uma “verdadeira odisseia”. “Ao retornarmos à alegria, convidamos as mais diversas gerações para navegarem no tempo e no espaço, reafirmando a frase do Menino Maluquinho: ‘que maluquinho que nada! Eu sou danado de feliz!’”, conclui.

 

A exposição faz parte do Plano Anual 2021 do museu, que tem o apoio da Associação dos Amigos do MHN e patrocínio do Instituto Cultural Vale por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

 

“O Instituto Cultural Vale tem enorme alegria de fazer parte desta jornada de descobertas proposta pela exposição Terra à Vista e Pé na Lua. Ao unir as criações de Ziraldo ao acervo do Museu Histórico Nacional, a mostra convida públicos de todas as idades a reler o passado e recriar o presente de forma lúdica, contando histórias de vários Brasis. Para o Instituto, que tem quatro espaços culturais próprios, gratuitos e abertos ao público, e que patrocina projetos culturais em todas as regiões do país, faz muito sentido estar ao lado de iniciativas como essa, que criam oportunidades de aprender, se inspirar e criar em contato a história e com a arte”, afirma Christiana Saldanha, Gerente do Instituto Cultural Vale.

 

Sobre a exposição

 

Logo na entrada, no pátio Minerva, painéis fazendo referência a livros gigantes, em tamanhos variados – alguns medindo até dois metros -, apresentam imagens icônicas de Ziraldo nas temáticas quadrinhos, cartazes, Menino Maluquinho e Zeróis, direcionam os visitantes para a entrada da exposição, que se espalha pela fachada e Pátio dos Canhões, além de três galerias de exposições temporárias.

 

Na Sala 1, a Área Caravela compreende o “descobrimento” do Brasil, chegar em um mundo desconhecido, solar, passando pelo humor e alegria do Menino Maluquinho, e pelo Espaço Imprensa – quando Ziraldo chega ao Rio de janeiro e começa a se apresentar, conquistando seu público – área representada na exposição por seis longas páginas que reproduzem rotativas de jornal, expondo as tiras, os quadrinhos, os Zeróis e as charges de Ziraldo que circularam pela imprensa do Brasil. Já a Sala 2 destina-se à área Lua, com o personagem Flicts, astronautas e os planetas. É uma mistura de nave espacial com o próprio espaço sideral, tendo vitrine com originais e livros relativos ao tema.

 

Na Sala 3, a área Universo Ziraldo abriga a prancheta do artista e uma simulação de seu estúdio de trabalho, com livros, estantes, e na TV da parede – que ficava sempre ligada enquanto ele produzia – Ziraldo conversa com o visitante, ao mesmo tempo em que desenha, no documentário feito em 1975 por Tarcisio Vidigal.

 

Tanto a mesa quanto a cadeira e a máquina de escrever pertencem ao acervo do artista. É nesta sala que também fica a galeria dos personagens: alguns rostos conhecidos de todos, outros nem tanto, e espelhos para o próprio visitante se ver e se sentir fazendo parte deste grupo. Na parede oposta aos livros infantis, os super-heróis, as onomatopeias e o próprio Ziraldo – numa caricatura em tamanho real – convidam o visitante a sentar para uma prosa. Personagens em escala humana ocuparão a “Praça da Amizade”, no Pátio dos Canhões, que nessa versão atiram flores.

 

Hiperlinks, em diversos momentos do percurso da mostra, disponibilizam códigos QR que darão acesso a informações complementares. Um exemplo é o código indicado pela imagem do Menino Maluquinho no painel de entrada à Sala 1, que levará ao link de acesso do vídeo oficial “Terra à Vista e Pé na Lua”. A apresentação da exposição terá legendas em português e tradução em libras e o link também ficará disponível no Youtube do MHN, favorecendo a divulgação virtual da mostra.

 

“Terra à Vista e Pé na Lua convida o visitante para uma volta ao mundo a bordo da espaçonave pilotada por Ziraldo Alves Pinto, artista navegante de seu tempo, de nosso tempo, de todos os tempos. Um visionário que manteve os pés no chão de sua Caratinga natal – e depois, do Rio de Janeiro – mas sempre com a cabeça na Lua!
E vem nos alimentando a alma com uma criatividade estonteante que nos deixa mareados. A obra de Ziraldo é como o vento que segue em várias direções sem perder a força e nos leva rumo a nós mesmos em um passeio pela história do Brasil, guiados por um mapa ilustrado com amor e humor. Ziraldo singrou diversos mares e sua praia é a mente fértil onde se plantando tudo dá. Seu desenho ágil e inteligente e seu domínio técnico são um marco divisório nas artes gráficas e na ilustração brasileira, uma bússola que orientou e dá sentido à carreira de muitos outros navegantes que vieram depois dele. Seu trabalho, que é fruto de muita pesquisa e perseverança, aqui nessa exposição ancora em várias ilhas e atiça nossa imaginação para uma visita pelo acervo do Museu Histórico Nacional. Uma visita que começa aqui mas não termina nunca, pois o tempo não pára e o mundo é pequeno para um marinheiro curioso e atento. Seus personagens estão tatuados em nossos corações, seus livros estão gravados em nosso convés e a bandeira que tremula no nosso mastro é uma folha de papel. Ziraldo é isso tudo e isso é coisa de museu!”, dizem Adriana Lins e Guto Lins, curadores da exposição.

 

Sobre o artista

 

Ziraldo Alves Pinto, brasileiro do mundo, nasceu em Caratinga, Minas Gerais, em 1932. Com reconhecimento nacional e internacional desde o final dos anos 1960, vem atuado profissionalmente por sete décadas nos contextos social, político, ambiental e educacional em mídias jornalísticas, literárias e de entretenimento. Ícone cultural de nosso tempo, seu acervo tornou-se referência para a identidade e memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. Pioneiro no design, revolucionário na literatura infanto-juvenil, ativamente engajado em temas sociais e políticos, um intuitivo e criativo crítico de costumes, Ziraldo atinge contextos universais e atemporais.

 

Seus livros, combinando texto e imagem na estética que acabou por definir sua marca, trazem, desde sempre, a ecologia como prática de sobrevivência e solidariedade; a generosidade sem fim do verdadeiro amigo; o universo das palavras ou mesmo das estrelas; a criatividade maluquinha da criança; o amor desmedido das mães, das tias, do avô. Trazem a cor como característica e identidade, nunca como limitação. E memória e afeto, na construção do indivíduo. Em setembro de 2018, Ziraldo sofreu um acidente vascular cerebral que o impediu de voltar a sua prancheta de trabalho e o impossibilitou de visitar, na época, as duas exposições que estavam sendo montadas, em São Paulo, em sua homenagem. Hoje, três anos depois, ele se encontra mais forte e vem acompanhando virtualmente, com entusiasmo e curiosidade, cada etapa da construção do projeto “Terra à Vista e Pé na Lua”.

 

Ações educativas

 

Ação educativa virtual e presencial – Caderno de Atividades: Me leve pra casa! Me leve pra escola! Me leve com você! Todos os sábados, acontecerão ações educativas virtuais e presenciais para o público visitante. Suporte lúdico baseado no discurso narrativo da exposição TERRA À VISTA E PÉ NA LUA, tem como objetivo proporcionar a interação da criança com o material exposto. Será oferecido em versão impressa, distribuída às crianças visitantes e também disponibilizado on-line gratuitamente. Aos sábados as atividades poderão ser feitas no próprio Museu com o auxílio de monitores.

 

Sobre o MHN

 

O Museu Histórico Nacional (MHN) é um museu dedicado à história do Brasil. Localizado no centro histórico da cidade do Rio de Janeiro (RJ), foi criado no ano de 1922, pelo então presidente Epitácio Pessoa (1865-1942), como parte das comemorações do centenário da Independência do Brasil. Unidade museológica integrada à estrutura do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), autarquia do Ministério do Turismo, o MHN possui um acervo constituído por mais de 300 mil itens arquivísticos, bibliográficos e museológicos. Suas galerias de exposição abrangem desde o período pré-cabralino até a história contemporânea do país. O espaço expositivo faz parte de um conjunto arquitetônico que se distribui por uma área de 14 mil m², à qual se somam os mais de 3 mil m² de pátios internos. O museu conta, ainda, com galerias para exposições temporárias e loja de souvenirs. Comprometido em apresentar da melhor forma possível suas coleções ao maior número de pessoas, o MHN atende escolas públicas e privadas, bem como visitantes em geral em visitas mediadas especiais.

 

Até 20 de fevereiro de 2022.

 

Exibição de esculturas de José Resende

08/nov

 

No dia 13 de novembro, às 14h, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, abrirá sua nona e última exposição de 2021, “Na membrana do mundo”. Com curadoria de Luisa Duarte, Porto Alegre recebe, pela primeira vez, um conjunto significativo de obras – produzidas entre 1974 e 2018 – que marca a trajetória de José Resende.

Em mais de 50 anos dedicados às artes plásticas, uma das principais características de Resende é a apropriação de materiais comuns e ressignificação em instalações com uma forte densidade poética e grande potência visual. Ao todo, serão apresentadas 18 esculturas de grandes dimensões misturando diversos materiais, como parafina, feltro, aço, ferro, chumbo, latão, cobre, madeira, pedra, borracha, que têm ao mesmo tempo o desafio de fazer um trabalho com humor, tensão, oposições de sentido e movimento latente.

 

Até 06 de março de 2022.

In memoriam de Jaider Esbell

04/nov

 

Jaider Esbell transformava mundos e pessoas com sua presença provocadora e generosa. Não vinha para pacificar ou para simplificar, mas para tensionar incansavelmente soluções e arranjos cristalizados, concebidos para manter um status quo violento e opressor. Desmascarava hábitos colonizadores introjetados nas rotinas institucionais, desafiava aqueles que o cercavam a colocar em dúvida suas certezas e, invariavelmente, oferecia modos de resolver impasses, promovendo esforços de diplomacia e tradução com uma energia criadora que parecia inexaurível. Não trilhava caminhos conhecidos ou sequer concebidos antes dele, mas mostrava e demonstrava a necessidade de outras parcerias, outras maneiras de trabalharmos juntos.

 

Era decidido, firme e objetivo, nunca condescendente. Era sempre construtivo, principalmente quando demolia visões ultrapassadas do mundo e da arte. Nos longos meses de preparação da Bienal, poucos momentos foram tão intensos quanto a fala em que Jaider, no pavilhão ainda vazio e silencioso, compartilhou conosco, publicamente, seus sonhos, reafirmando sua atuação fundamental na articulação da cena da Arte Indígena Contemporânea. Fundamental, isto é, para todos, para que chegue mais cedo o momento em que as mudanças que sabemos serem necessárias e inadiáveis possam de fato acontecer.

 

As conversas e trocas com ele foram decisivas na definição da participação de artistas indígenas na Bienal, na realização da mostra Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea no MAM São Paulo e na programação pública batizada por ele como “Bienal dos Índios”.  Sem seu exemplo, teria sido muito mais árido pensar a possibilidade da Relação como qualidade definidora da arte e da experiência humana. O sentido geral da mostra se tornou outro pela sua presença, e agora ele se transforma outra vez por sua ausência. Mas essas trocas tiveram um impacto ainda mais amplo, para além da 34ª Bienal: Jaider Esbell é um dos catalisadores de uma mudança irreversível no debate da arte, da cultura e da diferença no nosso continente.

 

Seus braços iam longe, abraçavam seres, pessoas, saberes, visões de mundo e povos em encontros inaugurais, em que a diferença não era um fim em si mesmo, mas um princípio ativo para iniciativas contracoloniais. Seus olhos brilhavam com a convicção de uma missão a ser vivida, a qual ele podia resumir compartilhando um sonho, criticando os princípios do sistema da arte ou defendendo o sentido ativista e político da atuação tática de artistas indígenas contemporâneos.

 

Para nós, será impossível pensar nesses anos de trabalho e convívio sem sentir saudade do olhar desse artista, curador, escritor, agitador, pensador… desse amigo, desse txai. Sem ele, ficamos com a dor de uma perda gigantesca e irreparável. Ficamos também com a responsabilidade de levar adiante, coletivamente, o que ele iniciou. De seguir no caminho que ele concebeu e demonstrou ser possível. Ficamos com a tarefa de não deixar que o processo que a sua sabedoria soube iniciar se detenha ou regrida, de lutar para que se mantenha contínuo, irreversível e transformador.

 

Jaider Esbell partiu, mas continuará entre nós sua energia, que provoca efeitos imediatos, mas também rearranjos profundos e mudanças duradouras.

Em sua memória, estendemos os braços a todas e todos que foram tocados por sua presença, em especial seus familiares, amigos e aliados de longa data.

 

Gratidão.

 

 

Jacopo Crivelli Visconti e Paulo Miyada

Lucas Arruda e Iberê Camargo

 

O lugar da pintura de Lucas Arruda e Iberê. Curadora apresenta as relações entre as mostras “Lugar sem lugar” e “Tudo te é falso e inútil”, duas exposições na Fundação lberê Camargo.

 

Pode-se dizer, grosso mo­do, que o artista paulista Lucas Arruda vem há dez anos depurando de maneira quase ritualística um mesmo tema: a paisagem como construção do olhar. É o que se pode verificar na exposição “Lucas Arruda: lugar sem lugar”, em cartaz na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS. (*)

 

As pinturas de Arruda nos permitem ver, ao mesmo tempo, um pouco além da abstração e antes da figuração. Construídas a partir de camadas de tinta sobrepostas, escovadas, arranhadas, esfregadas, são obras que invocam o gênero paisagem usando por vezes tão somente a sugestão de uma linha de horizonte. E ela, afinal, que constitui recurso fundamental dessa tradição pictórica, uma espécie de menor denominador comum da composição paisagística, já que, como espectadores, tendemos a atribuir sentido a qualquer marquinha num espaço aberto, a imediatamente interpretar uma linha horizontal como um horizonte, a enxergar nuvens nas mudanças de direção de pinceladas, a ver um chão de terra numa camada grossa de impasto.

 

Os trabalhos da série “Deserto-Modelo”, presentes na mostra, sugerem lugares desprovidos de referências geográficas, mas que se edificam na memória e evocam vistas da natureza, marinhas e de matas. Nossa experiência diante dessas pinturas – embora certamente permeada por memórias, associações pessoais, narrativas indiretas e conotações artísticas históricas – nos remete, sobretudo, ao fenômeno sensual e sensorial da pintura.

 

A insistente frontalidade e a paleta contida de Arruda estão presentes nos vários trabalhos reunidos na mostra. A seleção abrange quatorze anos da produção do artista, incluindo desde pinturas do início da carreira àquelas realizadas em 2021, além de obras em outros suportes, como vídeo e instalação de luz. São obras silenciosas, caracterizadas por uma luminosidade insólita e sutil que se revela aos poucos, recompensando a observação prolongada. Entre o devaneio e a tatilidade da aplicação da tinta, evidencia-se a habilidade extraordinária do pintor. A incansável experimentação pictórica de suas pinturas é comovente, em especial quando vistas ao vivo.

 

Paralelamente, é apresentada a mostra “Iberê Camargo: tudo te é falso e inútil”, uma seleção de obras do artista gaúcho, concebida juntamente com Arruda, pertencentes ao acervo da Fundação Iberê. Oferece-se aqui uma experiência imersiva nas últimas criações de Iberê, a partir das cinco célebres pinturas da série “Tudo te é falso e inútil”, reunidas pela primeira vez na Fundação. Pretende-se dessa forma explorar momentos de intersecção e diálogo entre os trabalhos de Arruda e Iberê, sugerindo pontos de acesso ao entendimento de questões compartilhadas por ambos.

 

“Tudo te é falso e inútil” parece ser para onde converge – e de certa forma submerge – toda a trajetória artística de Iberê Camargo. Elementos constitutivos do léxico singular do pintor – carretéis, manequins, caixas d’água, bicicletas – compartilham com figuras débeis e pesadas, quase andrógenas, o lugar elusivo e movediço demarcado pelas pinturas e desenhos. A seleção – onze pinturas e trinta e cinco desenhos das séries “Ciclistas” e “Idiotas”, além da série completa e esboços preparatórios para “Tudo te é falso e inútil” – busca explicitar justamente o processo obsessivo desse “retorno das coisas que adormeceram na memória”, como definiu o próprio Iberê, no qual a re-emergência dos mesmos elementos oferece ao espectador uma imersão profunda no imaginário singular do artista.

 

Na obra de Iberê, como na de Arruda, há um contínuo retrabalhar de certas imagens. Ambos, ao invés de se intimidar diante da repetição, a abraçam como recurso de decantação e depuração de ideias que, em última análise, nos levam para além do tema e de volta à pintura.

 

Cumpre dizer que, desde o primeiro encontro de Lucas Arruda com a série “Tudo te é falso e inútil”, há sete anos, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, essas pinturas se tornaram uma forte referência para seu trabalho. O artista conta que voltou repetidas vezes à exposição para observar as pinturas: “O que mais me impressionou foi o perfeito alinhamento entre a execução e o assunto do trabalho. O drama daquelas imagens não reside somente no conteúdo, mas em como Iberê as construiu, no modo como a tinta é posta e raspada, riscada, depositada e removida múltiplas vezes, resultando na fantasmagoria das figuras. A angústia do tema é expressa na própria carne da pintura. Parece existir uma ansiedade no fazer, estreitamente conectada ao assunto, que traz uma potência muito grande para o trabalho. Essa qualidade da pintura do Iberê foi uma das coisas que mais me chamou a atenção”. Em “Tudo te é falso e inútil”, resume Arruda, “Iberê tenta captar esse momento em que as coisas perdem sentido”. No entanto, a despeito da atmosfera distópica, “da evidente falta de otimismo manifesta nas pinturas, é notável a capacidade do trabalho de gerar um consolo à inquietação existencial do ser humano”, conclui.

 

Tanto na série “Tudo te é falso e inútil”, de Iberê, quanto na “Deserto-Modelo”, de Arruda, há uma suspensão de referências de espaço e tempo que torna possível dizer que “o lugar sem lugar” onde opera o primeiro e equivale ao deserto do segundo. Este, nas palavras de Arruda, “não tem data, pode vir antes de tudo ou depois de tudo. Você não sabe se o deserto é um momento de formação ou do fim das coisas. E, ao memo tempo, gênese e apocalipse. E algo que busco nas minhas pinturas, essa atemporalidade”. Palavras que poderiam descrever também o espaço ambíguo criado por lberê.

 

Os dois artistas constroem pinturas compostas de inúmeras superposições de marcas, acidentes e camadas que muitas vezes resultam em superfícies onde se vê quase nada. Como bem articulou o colega de oficio Paulo Pasta, é “o emprego de um esforço monumental para expressar a inutilidade de qualquer esforço”. Uma perfeita analogia tanto da arte quanto da vida.

 

Lilian Tone (*)

 

“Lucas Arruda: Lugar sem lugar – Até 16 de janeiro de 2022.

 

“lberê Camargo: Tudo te é falso e inútil” – Até 13 de fevereiro de 2022.

 

Agendamento: bileto.sympla.com.br

(*) Curadora das mostras ”Lucas Arruda: Lugar sem lugar” e “Iberê Camargo: Tudo te é falso e inútil”. Curadora independente que, até recentemente, integrava o Departamento de Pintura e Escultura do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA).

 

Fontes: Fundação Iberê Camargo-Correio do Povo