Fotos de Cristiano Mascaro

02/mar

Em cartaz na Pinacoteca do Estado de São Paulo, Bom Retiro, São Paulo, SP, a exposição de fotografias de Cristiano Mascaro e a série “Bom Retiro e Luz”. Com curadoria de Pedro Nery, da equipe de curadores do museu, a mostra reúne um conjunto de 47 fotos em preto e branco realizadas nos anos 70 no bairro do Bom Retiro, onde está localizada a Pinacoteca.

 
“Bom Retiro e Luz” apresenta imagens encomendadas por Aracy Amaral, diretora da Pinacoteca entre 1975 e 1979, em um projeto com o objetivo de criar uma conexão com o entorno e trazer o bairro para dentro do museu. A coleção de fotografias da Pinacoteca nasceu no final da exposição de 1976, com a doação das 41 ampliações de Cristiano Mascaro para o museu. Em 2003, uma nova ampliação de toda a série foi realizada com a inclusão de sete novos negativos.

 
A série “Bom Retiro e Luz” transformou-se, de certa maneira, em uma memória institucional do bairro ao mesmo tempo que apresenta a visão de Cristiano Mascaro sobre a fotografia no período em que começou sua carreira artística. São imagens marcadas por altos-contrastes, instantâneos e composições geométricas que remetem à pesquisa do fotógrafo sobre a linguagem e tradição do fotojornalismo. A série pode ser vista como uma crônica dos bairros mais antigos e plurais de São Paulo. Ao seguir seus passos é possível perceber a capacidade de Mascaro de explorar a região com um olhar de estranhamento contemplativo, observando o que existe de mais prosaico no bairro, a vida corriqueira e a paisagem humana diversa que marca até hoje a região.

 

 
Sobre o artista

 
Cristiano Mascaro nasceu em Catanduva, SP, 1944. Fotógrafo, arquiteto e professor. Formado em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU/ USP. Inicia a carreira fotográfica em 1968, quando é convidado a participar da primeira equipe da revista Veja, onde permanece por quatro anos. É professor de fotojornalismo da Enfoco Escola de Fotografia, entre 1972 e 1975; dirige o Laboratório de Recursos Áudio-Visuais da FAU/USP, entre 1974 e 1988; e leciona comunicação visual na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos, de 1976 a 1986. Nesse último ano, titula-se mestre e em 1995, doutor, pela Universidade de São Paulo.

 

 
Até 29 de março.

Guilherme Maranhão: Livro e exposição

O fotógrafo Guilherme Maranhão inaugura a exposição “Travessia” e lança seu livro homônimo, na Casa da Imagem/Museu da Cidade de São Paulo, Centro, São Paulo, SP. Para a mostra, o curador Fausto Chermont selecionou 31 imagens, as quais foram feitas com filmes preto e branco, fora da data de validade há 20 anos – expostos, neste período, à ação de fungos e outros agentes deteriorantes. O trabalho fala sobre um percurso, um aprender, que acontecem tanto ao viajar como também com o passar do tempo em nossa vida e em nosso trabalho diário. O projeto “Travessia” foi vencedor do Prêmio Marc Ferrez Funarte 2014, o que possibilitou a realização do livro e da exposição.

 

Imerso em um processo criativo inspirado nos ciclos da vida, nos caminhos e aprendizados, no percorrer do espaço e no movimento ininterrupto, Guilherme Maranhão encontrou diversos rolos de filmes preto e branco, cuja validade datava de 20 anos atrás. Depois de realizar testes, descobriu que os fungos ali presentes causavam modificações nas imagens, ao revelar os negativos. Sobre este passar do tempo, o fotógrafo diz: “Por trás dessas imagens, há uma relação entre os 20 anos que o filme vencido levou para ficar mofado desse jeito com os mesmos 20 anos em que eu descobri, vivi e aprendi a fotografia.”. A série “Travessia” surge quando o fotógrafo leva esses filmes para registrar uma viagem aos Estados Unidos (Nova York, São Francisco e Napa Valley), em 2011, dando origem a fotografias que misturam a cena real com figuras desformes e aleatórias, resultados da reação dos fungos. Neste contexto, foram escolhidas cenas que incluíam vegetação, edificações, ondas do mar e outras texturas que pudessem dialogar com os “defeitos” presentes no filme vencido. “As imagens que Guilherme Maranhão capta tem sua força própria, mas funcionam também como ferramentas de escavação: são elas que trazem à superfície as marcas que a película acumulou em sua espessura.”, comenta o fotógrafo e professor Ronaldo Entler.

 

Ao dar este passo em sua carreira, em mais uma mostra individual, Guilherme Maranhão se emociona com o lançamento de seu primeiro livro, que traz 63 fotografias desta série. De tudo que já fez, considera “Travessia”,  “o trabalho mais apaixonante”, pois reúne tudo que gosta no ato de fotografar: tema, técnica e a linguagem do registro analógico. Sobre este trabalho, o curador da mostra comenta: “É uma aparição, uma queda controlada no abismo. Mas longe do acaso. É uma imersão na ceva dos anos, indo buscar novos seres para povoar o nosso universo”.

 

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em 1975, no Rio de Janeiro. Reside e atua em São Paulo. É bacharel em Fotografia pela Faculdade do Senac. Cria imagens sobre ciclos de vida, imperfeitos por natureza, cheios de ruídos, interferências e sujeitos ao acaso. Sua pesquisa imagética busca alterações no processo de formação das imagens técnicas e subversões das ferramentas produzidas pela indústria. Participou de diversas mostras coletivas e individuais. Possui fotografias em importantes coleções como MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e Coleção Itaú. Vencedor do Prêmio Porto Seguro de Fotografia 2007, na categoria Pesquisas Contemporâneas, e do Prêmio Marc Ferrez Funarte 2014, com o trabalho Travessia.

 

 

De 07 de março a 21 de junho.

Domingo no Parque Lage

27/fev

A Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, lança no próximo 1º de março sua campanha comemorativa de 40 anos de fundação, idealizada pelo artista Rubens Gerchman, em 1975. Profundamente integrada à vida da cidade, a EAV escolheu a data em que o Rio de Janeiro completa 450 anos para dar a partida no ano de comemorações, e o evento Domingo no Parque integra a programação oficial da cidade.

 

Para celebrar junto com o público o espaço nascido sob o signo da liberdade e experimentação, em pleno regime militar, serão apresentadas diversas atividades, para todos os públicos. Arte, música, oficinas para crianças, lançamento de catálogo e uma espetacular exibição de balões solares, sem uso do fogo, estão na programação.

 

Durante o evento, será lançado um selo especial comemorativo que acompanhará todas as ações da instituição ao longo do ano. A campanha comemorativa abrange ainda slogans poéticos, com frases criadas pelos poetas Pedro Rocha e Domingos Guimaraens, e também pesquisadas em cartazes e outros documentos do Memória Lage – projeto contemplado pelo edital de 2012 do programa Petrobras Cultural que vem catalogando e digitalizando o acervo de mais de doze mil documentos da instituição. Os slogans estarão em banners ao longo do muro do Parque, e também em cartazes, impressos na oficina gráfica da EAV, em suas prensas históricas. A área verde do Parque Lage terá uma sinalização também poética, ilustrada como os balões de pensamento das histórias em quadrinhos.

 

O Domingo no Parque se estenderá mensalmente até setembro, com uma programação de música, poesia, performances, espetáculos teatrais, atividades educativas, instalações sonoras, lançamentos de publicações, entre outras ações. Em setembro, haverá uma grande celebração de encerramento das festividades dos 40 anos da EAV Parque Lage.

 
PERFORMANCE “LARGADA AO CÉU”, COM BALÕES SOLARES

 
Um dos destaques do Domingo no Parque será a performance “Largada ao céu”, com balões solares, que reunirá cinco esculturas infláveis de papel de seda de cores escuras, de até doze metros de altura, infladas pelo ar quente produzido por pequenas ventoinhas e o calor do sol.  A partir das 8h da manhã ao meio-dia, cada um dos balões será lançado ao ar, de hora em hora, no terraço do Palacete, com coordenação do mestre baloeiro Luciano Britto e da Sociedade de Amigos do Balão (SAB). O encontro de infláveis trará ao Parque Lage o ritual das Zonas Norte e Oeste do Rio em torno dessa prática, e cada balão levará uma bandeira de papel de seda com as logomarcas comemorativas dos 40 anos da EAV Parque Lage e dos 450 anos do Rio de Janeiro, e uma imagem da instituição. A performance será também uma homenagem a João Grijó (1949-2003), professor da EAV, que pesquisou os balões de papel e seu universo lúdico-tecnológico. Um júri formado pelos artistas Ernesto Neto e Paulo Paes, e o gerente de eventos da Oca Lage, Marcus Wagner, determinará a ordem de largada dos balões solares, que estará sujeita às condições meteorológicas. O balão solar usa o mesmo princípio do balão de fogo para subir: aquece o ar que guarda no seu bojo. Mas faz isso sem a utilização de fogo, e sim com o uso de ventoinhas, e  assim concentram calor com sua superfície escura exposta ao sol quente. Este tipo de balão vem sendo utilizado por baloeiros que desejam contornar os riscos incendiários dos balões tradicionais, sem que pra isso tenham que abandonar sua arte. Esses balões são biodegradáveis e seguem as determinações da lei municipal número 5.511, de 2012, que regulamenta a soltura do balão sem fogo no Rio de janeiro.

 

CHUVEIROS SONOROS

 

Será instalado na área verde do Parque o trabalho “Chuveiros sonoros”, do artista carioca Romano (1969), em que três chuveiros de banho em aço inoxidável, dispostos em cima de uma estrutura com azulejos, que acionados pelo espectador começam a “cantar”. O áudio de pessoas cantando e falando, colhido pelo artista, pode ser ouvido em caixas de som posicionadas na parte interna dos chuveiros, e o público pode regular o volume dos sons, mexendo nas torneiras dos chuveiros.

 

GRUPO DE CHORO PIXIN BODEGA

 

O grupo de choro Pixin Bodega, criado no final de 2010 na Praça General Glicério, em Laranjeiras, fará duas apresentações: com rabeca, das 10h às 12h, no Pátio da Piscina, no Palacete, das 13h às 15h, no Parquinho. O grupo, que tem o nome em homenagem a Pixinguinha e a Zé Bodega, saxofonista irmão do maestro Severino Araújo, é formado por sete músicos empenhados em manter a tradição dominical do choro na General Glicério, que passou a integrar a comemoração oficial dos 450 anos do Rio. Os músicos são Pedro Silva (clarineta e Saxofone), Jorge Mendes (violão de 7 cordas), Vinicius Santos (bandolim), Sérgio Zoroastro (cavaquinho), Luis Carlos Souza (percussão), Almir Bacana (percussão), e Lauro Mesquita (percussão).

 

POESIA SEM RABO PRESO

 

Os poetas Domingos Guimaraens, Pedro Rocha e o artista Cabelo farão a performance “Poesia sem rabo preso”, em que puxarão um carrinho tipo “burro sem rabo”, declamando poesias e convidando o público a participar.

 

CLINÂMEN – A BANDA DE UM DIA

 

A partir das 16h, e até as 21h, se apresentará na Gruta o grupo Clinâmen ou a Banda de um dia, formada pelos artistas plásticos, escritores, videastas, músicos e performers André Parente, Frederico Benevides, Jonnata Doll, Júlio Parente, Lucas Parente, Luísa Nóbrega, Solon Ribeiro, Uirá dos Reis e Yuri Firmeza, vindos de várias cidades, e que vão se reunir especialmente para o evento. Clinâmen é o “desvio de átomos em queda que se encontram no espaço para formar novas matérias”, explicam. “É o entrechoque em um espetáculo estrondoso que nos leva da exaustão (do excesso de barulho, imagem e duração) ao transe absoluto. Imagem e ruído se fundem atravessando a caverna artificial numa onda de espectros que desfaz todo limite entre mundos contíguos. Como dizia o poeta suicida e sem nação Ghérasim Luca (1913-1994), devemos abrir a palavra e a matéria como num acidente automobilístico, liberando o fluxo vital do seu casulo”.

 

JARDS MACALÉ

 

Em um espetáculo no Lago dos Patos, às 17h, Jards Macalé celebrará no Domingo no Parque seus 72 anos de intensa atividade de vida, junto com os 40 anos da EAV Parque Lage e os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro. Compositor, intérprete, violonista, produtor e diretor musical, orquestrador e ator, Jards Macalé transita nas várias formas da arte, do cinema ao teatro, literatura e artes visuais. Um pouco da sua história está presente na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.  No período de 1975 a 1979, na gestão inaugural de Rubens Gerchman, Macalé foi protagonista fundamental do evento Verão a 1000, idealizado e produzido por Xico Chaves, onde músicos atuavam ao lado de poetas e artistas. Aliado às novas gerações, Macalé está na música popular como na música erudita, do folclore à vanguarda.

 

XICO CHAVES E A POROMINA-MINARE, A INCORPORAÇÃO DE TIDO-MACUMBÊBÊ

 

O artista visual e poeta Xico Chaves fará, às 15h, na Piscina, a “performance poética antiantropofágica” referenciada no mito de Poromina-Minare, que tem origem na região amazônica do Uaupês, e em outras influências da Alquimia, Magia Branca e Candomblé. Xico Chaves teve atuação marcante na gestão de Rubens Gerchman, de 1975 a 1979.

 

OUTRAS ATIVIDADES

 

O Domingo no Parque terá ainda durante a manhã oficina para crianças com as professoras da EAV, percurso com mediadores pela mata, no Salão Nobre, às 16, haverá o lançamento do catálogo da exposição “Quinta Mostra EAV Parque Lage”, com a presença dos curadores-professores Anna Bella Geiger, Fernando Cocchiarale e Marcelo Campos, e dos artistas participantes Ana Freitas, Ana Hortides, Bruno Drolshagen, Daniel Albuquerque, Felipe Abdala, Gustavo Torres, Jonas Arrabal, José Alejandro Lópes, Lin Lima, Louise Botkay, Lucio Salvatore, Mariana Smith, Maya Dikstein, Priscila Piantanida, Raquel Versieux, Rodrigo Martins, Sergio Arbusà, Thomas Jeferson e Tiago Cadete.

 

Serviço: Domingo no Parque – Dia festivo de lançamento dos 40 anos da EAV Parque Lage e comemoração dos 450 anos da cidade

 

Dia: 1º de março de 2015, das 8h às 21h

Os portões do parque fecham às 20h

Zerbini no Galpão Fortes Vilaça

Luiz Zerbini retorna a São Paulo para apresentar “Natureza Espiritual da Realidade”,  exposição individual no Galpão Fortes Vilaça, Barra Funda, São Paulo, SP. Através de uma grande instalação e de oito pinturas de grande e médio formato, o artista explora justaposições entre figuração e geometria, natureza e arquitetura. Essas temáticas, frequentes em sua trajetória, são apresentadas com uma complexidade inédita.

 
Em sua pintura, Zerbini parte de imagens fotográficas e as sobrepõe a outros elementos abstratos em uma complexa trama onde figura e fundo se confundem. O modo não-hierárquico como esses elementos são arranjados segue uma lógica interna do processo, em que uma imagem pede por outra sucessivamente, até que a composição se complete. Em Ilha da Maré, essa trama inclui um palco precário com uma galinha, caixas de som, siris, ladrilhos e, finalmente, o mar − ou sua visão particular da água do mar, que permeia ainda outros trabalhos da exposição. Buraco retrata uma caixa com padrões geométricos distintos que é encoberta pela maré. Uma Onda de aspecto ameaçador invade a  maior pintura da exposição, recortada por distúrbios que imprimem ainda mais velocidade à imagem. Em Cachoeira, faixas de cor cruzam a tela e são interrompidas por fragmentos de galhos e pedras, mesclando figuração e geometria de maneira ainda mais complexa.

 
Os trabalhos geométricos da mostra também estão associados à figuração. Algumas obras partem de uma imagem e se tornam totalmente abstratas; outras ganham referências a lugares e objetos em seus títulos. Efeitos óticos norteiam essas pinturas, assim como as experimentações com cor. Em Serra do Luar, uma grade prateada de losangos é sobreposta a outra de quadrados, com intrincado esquema de cores e degradês. Em Ultramarine, um azul denso e opaco  contrasta com as faixas de cores metálicas luminosas em primeiro plano. Os pequenos quadrados coloridos de Chuvisco, por sua vez, confundem o foco da visão e provocam a sensação de miopia.

 
Natureza Espiritual da Realidade − trabalho que dá nome a exposição − é uma instalação composta por dez mesas de madeira, configuradas como vitrines museológicas. O trabalho ganhou sua primeira forma em 2012 quando Zerbini o incluiu na mostra Amor no MAM Rio e, em 2014, recebeu nova composição em Pinturas na Casa Daros, também no Rio de Janeiro. A cada exposição a ordenação das mesas e de seus elementos é alterada, dando ao trabalho um dinamismo constante. Divididas em quadrados, as mesas incluem objetos curiosos recolhidos pelo artista, achados a esmo em viagens ou colecionados por razões pessoais. Conchas, pedras, tijolos, ladrilhos, troncos, plantas, redes de pesca e até mesmo uma nota de dez reais se organizam ora como naturezas mortas, ora como composições abstratas. O tampo de vidro também recebe interferências do artista com grafismos e gelatina colorida, causando alterações na incidência de cor e luz sobre os elementos.

 
Ao estabelecer um diálogo direto com as obras na parede, a instalação pode ser lida como a organização sistemática das referências presentes nas pinturas − um inventário do universo particular do artista. No entanto, é possível também fazer o raciocínio inverso e entendê-la como uma tradução tridimensional do processo pictórico de Zerbini − em especial o modo como organiza elementos tão díspares através de cor e geometria. Natureza Espiritual da Realidade é, portanto, ponto de partida da sua pesquisa, mas ao mesmo tempo o campo de atração de todo o seu trabalho, para o qual todas as coisas parecem convergir.

 

 
Sobre o artista

 
Luiz Zerbini nasceu em 1959, em São Paulo, mas vive e trabalha no Rio de Janeiro desde 1982. Sua obra foi tema de grandes exposições individuais nos últimos anos, entre as quais: Pinturas, Casa Daros (Rio de Janeiro, 2014); amor lugar comum, Inhotim (Brumadinho, 2013); Amor, MAM (Rio de Janeiro, 2012). Sua obra está presente em diversas coleções públicas, entre as quais: Inhotim Centro de Arte Contemporânea (Brumadinho); Instituto Itaú Cultural (São Paulo); Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; e Museu de Arte Moderna de São Paulo. Paralelamente, Zerbini ainda integra desde 1995 o coletivo Chelpa Ferro, com Barrão e Sérgio Mekler, que explora as relações entre as artes visuais e a música.

 

 

De 28 de fevereiro até 28 de março.

Karin Lambrecht no Instituto Ling

26/fev

O Instituto Ling, Porto Alegre, RS, apresenta em sua galeria, a exposição “Pintura e Desenho”, individual de Karin Lambrecht.  A mostra traz três grandes obras – duas pinturas e uma instalação, composta por desenhos e materiais diversos. O texto de apresentação é de Glória Ferreira e a museografia ficou a cargo de Ceres Storchi.

 
Trabalhando no campo expandido da pintura e da escultura, Karin Lambrecht usa sucatas e objetos variados, além de pigmentos de cores vibrantes que produz e materiais orgânicos, como sangue animal, carvão, água da chuva e terra. Elementos recorrentes em sua obra como as cruzes, o corpo humano e palavras enigmáticas escritas à mão ou carimbadas, emergem das camadas de tinta e sugerem temas como doença, morte e cura.

 
A instalação “Eu sou tu” – uma tenda de voile na qual é possível deitar-se – é inspirada no capítulo “Neve”, do romance “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann, e representa um lugar de cura.

 
Já as pinturas “Encontro” e “Schattenwelt” (mundo das sombras), em acrílico sobre tela, apresentam grandes campos de cor e trazem a cruz como elemento principal, tratando de seu anseio por retomar a dignidade espiritual e simbólica da arte, o retorno ao mundo natural, à religiosidade e à transcendência.

 
Nos desenhos apresentados, como os da série “Perdão”, Karin Lambrecht  incorpora pedaços de tijolos de barro tradicionais, feitos de argila. Elemento comum em sua pintura, a artista emprega este material pela primeira vez em seus desenhos.

 

 

Até 10 de maio.

Beatriz Milhazes em Fortaleza

25/fev

A Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, inaugura, no dia 26 de fevereiro, no Espaço Cultural Unifor, Fortaleza, CE, a exposição “Coleção de Motivos”, de Beatriz Milhazes, com curadoria de Luiza Interlenghi. A mostra, inédita, reúne cerca de 50 obras, entre pinturas, colagens e gravuras, contemplando as questões manifestas nos diferentes momentos da produção da artista. As obras pertencem ao acervo da artista, à coleção da Fundação Edson Queiroz e a coleções particulares e públicas.

 
Na obra de Beatriz Milhazes, a coleção de motivos, formada por flores, fios de pérolas, alvos, rendas, listras e cajus, é a base de desenvolvimento de sua linguagem plástica, com a qual se posiciona frente aos desafios da pintura contemporânea. “Observando o ritmo das composições e o jogo, sempre diferente, de repetições de motivos – florais, listras, arabescos – a mostra Coleção de Motivos reúne referências marcantes nas grandes linhas poéticas da artista”, afirma a curadora Luiza Interlenghi.

 
“A arte moderna no Brasil, em especial na pintura de Tarsila do Amaral, e seus cruzamentos com o modernismo europeu, em que se destaca a cor em Matisse, são linhas de força que pautam a produção de Milhazes. Mas é na prática de ateliê e a partir de um método de trabalho que joga com uma coleção de motivos que a artista estabelece uma convergência entre o caráter artesanal da pintura e a imagem industrial, reproduzida e veiculada na cultura de massa – um aspecto central da arte no limiar da modernidade”, analisa ainda Luiza Interlenghi.

 
Na década de 80, os trabalhos da artista estabeleciam padrões de repetição a partir de recortes e remontagens de tecidos, que reorganizavam os florais da estamparia popular. Em sua pesquisa plástica, Milhazes decidiu desenvolver seus próprios motivos, que convivem com muitos outros apropriados da cultura popular, do design e de símbolos da cultura de massa. Esta exposição destaca a importância e o experimentalismo destes processos seriais de reutilização e criação de padrões em todo o percurso da artista.

 
Aderindo ao processo de trabalho da artista, em que cada composição resulta de um jogo inédito de cores e motivos, o projeto curatorial propõe uma seleção de trabalhos guiada pelas linhagens desses motivos e que segue a pauta do ritmo intenso de suas cores. “A exposição tem o objetivo de rastrear o curso mais profundo das repetições e diferenças que brilham na tensa superfície de suas pinturas, colagens e gravuras”, finaliza a curadora.

 
No andar térreo do Espaço Cultural Unifor, haverá um espaço educativo com oficinas de arte para crianças e uma sala ocupada por fotos, cronologia e outros dados sobre a artista. Já as obras estarão presentes no segundo piso do Espaço Cultural.
No dia 26 de fevereiro, dia da abertura da exposição, acontece, a partir das 9h, uma conversa entre Beatriz Milhazes e Luiza Interlenghi no Teatro Celina Queiroz, campus da Universidade de Fortaleza.

 

 

 
De 26 de fevereiro a 24 de maio.

Mostra no MAM-Rio

Neste sábado, dia 28 de fevereiro, o MAM Rio, Parque do Flamengo, inaugura a exposição “Ações, estratégias e situações nas coleções do MAM”, com cerca de 40 obras, pertencentes às coleções do MAM Rio, com curadoria de Marta Mestre. A mostra apresenta trabalhos realizados fora dos suportes tradicionais de arte, de 16 artistas, entre eles os brasileiros Artur Barrio, Marcia X, Marcius Galan, Cildo Meireles, Lygia Clark, entre outros. “O objetivo é mostrar o comprometimento do MAM Rio com propostas experimentais desde a década de 1960”, afirma a curadora. Fazem parte da mostra trabalhos de artistas brasileiros, alemães, americanos e de um taiwanês: Antonio Dias, Artur Barrio, Bené Fonteles, Bernd e Hilla Becher, Cildo Meireles, Dennis Oppenheim, Fabiano Gonper, José Damasceno, Joseph Beuys, Luiz Alphonsus, Lygia Clark, Marcius Galan, Moebius Jürgen, Tehching Hsieh, Waltercio Caldas e Wolf Vostell.

 

 

Até 03 de maio.

Catálogo para José Damasceno

24/fev

Neste sábado, dia 21 de fevereiro, às 17h, a Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, lança o catálogo da exposição “Cirandar Todos”, de José Damasceno, com uma mesa-redonda com o artista, a curadora Ligia Canongia e o filósofo José Thomaz Brum. “Cirandar Todos” traz com quatro instalações inéditas de José Damasceno, destacado artista da cena contemporânea. Com curadoria de Ligia Canongia, as obras têm em comum o diálogo com a arquitetura do espaço.
A mostra pode ser vista até este domingo,  dia 22 de fevereiro.

Pierre Verger: dos anos 30 aos 50

Em parceria com a Fundação Pierre Verger de Salvador, BA, a  Galeria Marcelo Guanieri, São Paulo, SP, inaugura a programação para o ano de 2015, com a retrospectiva “Pierre Verger, o Mensageiro”. A partir do próximo dia 28 de fevereiro, o público pode conferir 40 imagens, que compreendem a fase de produção da fotografia etnográfica dos anos 1933-1950, do fotógrafo franco-brasileiro. Anterior às pesquisas de Verger sobre a diáspora negra na América, a exposição que retrata países de continentes, como América, África, Asia, recebe, pela primeira vez, no mercado brasileiro, ampliações assinadas em 1993 pelo “mensageiro”.

 

Com residência fixa em Salvador, desde 1946, o então nascido Pierre Verger tornara-se o babalaô Pierre “Fatumbi” Verger, após a conversão ao Candomblé, e os estudos sobre as religiões de matrizes africanas. Foi nesta ocasião, em visita à Bahia, que os editores da Revue Noire, Jean Loup Pivin e Pascal Martin Saint Léon, e o próprio fotógrafo, selecionaram, após minucioso trabalho, 300 negativos, que se transformaram em copias de altíssimas qualidades, e, posteriormente, nos fotolitos do livro “Le Messager” e/ou expostas.

 

Apresentada no ano de 1993, pela Revue Noire, no Musée d’Art d’Afrique et d’Océanie, na França e na Suiça, “Pierre Verger, o Mensageiro” destacou a importância da arte e da cultura africana para o ocidente, com mostras que colocaram, novamente, o público europeu com o trabalho do fotógrafo. Até a Segunda Grande Guerra – portanto, antes de fixar moradia em Salvador – Verger era um reconhecido artista, com fotografias publicadas nas mais importantes revistas francesas e internacionais da época, como Life, Vu, Regards e Arts et Métier Graphiques. 53 anos depois,  com a abertura de“Le Messager”, o nome de Verger recebia a merecida atenção do público, da crítica e da imprensa especializada da Europa.

 

Com a presença do fotógrafo na ocasião da abertura da exposição em Paris, a Revue Noire conseguiu que ele assinasse uma certa quantidade de cópias dos negativos. Não era uma prática comum na trajetória de “Fatumbi” Verger, que privilegiava os negativos, por representarem as suas memórias. Três anos depois, em 1996, no dia 11 de fevereiro, Verger faleceria, na cidade de Salvador, logo após a reedição de seu livro preferido, “Deuses da África”, pela Revue Noire e a publicação, no Brasil, de “Ewe, O uso das plantas na Sociedade Iorubá”, pela Companha das Letras. Até os anos 2000, a Revue Noire comercializou as cópias de “Le Messager” na França, que foram readquiridas pela Fundação Pierre Verger.

 

 

Texto da Fundação Pierre Verger

 

Antes de chegar ao Brasil, antes de se debruçar sobre a cultura afro-brasileira, antes de se tornar babalaô, Pierre Verger era, essencialmente, fotógrafo. Um fotógrafo já reconhecido desde antes da Segunda Guerra Mundial e com fotografias publicadas nas mais importantes revistas francesas e internacionais da época, como “Life”, “Vu”, “Regards” e “Arts et Métier Graphiques”. Quando sua vida e sua obra caminharam em direção às questões afro-brasileiras, tornou-se um homem do candomblé, publicou intensamente sobre essa temática – notadamente sobre sua matriz religiosa -, fixou residência na Bahia e mergulhou tão profundamente nesse novo viver que foi aos poucos desaparecendo da memória de seus contemporâneos franceses e europeus, ao menos como fotógrafo.Em 1993, a Revue Noire, das primeiras a destacar a arte africana no mercado ocidental, realizou a grande exposição Pierre Verger, Le Messager, com mostras na Suíça e na França, no Musée d’Art d’Afrique et d’Océanie. Amplamente divulgadas nos meios de comunicação franceses, esse grande evento cultural recolocou Verger no cenário da fotografia em seu país de origem.No processo de construção dessa exposição e com o objetivo de selecionar imagens para a mostra e para o livro-catálogo, os diretores da Revue Noire vieram até a casa de Verger, na Bahia.  Após um minucioso trabalho, desenvolvido em conjunto com o fotógrafo, levaram mais de 300 negativos para Paris, onde realizaram, pela primeira vez, cópias de excelente qualidade. A maioria dessas ampliações foram, então, utilizadas para fazer os fotolitos do livro Le Messager e/ou expostas.Nessa época, os donos da Revue Noire, aproveitando a presença de Verger em Paris, conseguiram que ele assinasse uma certa quantidade dessas cópias, o que Verger aceitou fazer, embora normalmente não se submetesse a esse tipo de cerimonial.  O que realmente importava para Verger – ao contrário de muitos fotógrafos – eram seus negativos, por representarem suas memórias.  Na verdade, ele dava pouca importância às ampliações, que não costumava vender e que podia reproduzir quando se fizesse necessário.Poucos anos depois, em fevereiro de 1996, Verger faleceu na Bahia, deixando esse conjunto único de imagens, que continuou em poder da Revue Noire, em Paris.  Essas imagens foram comercializadas na França, até o final do ano de 2000, quando a Fundação adquiriu sua quase totalidade.

 

Nesse momento, através da Galeria de Marcelo Guarnieri, com sede em São Paulo, a Fundação coloca à venda, pela primeira vez no mercado brasileiro, essas cópias assinadas por Pierre Fatumbi Verger, em Paris.

 

 

De 28 de fevereiro a 28 de março.

Milagros, de Milton Marques

 

O Ateliê397, Vila Madalena, São Paulo, SP,  com apoio da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo – via ProAC, inaugura a exposição “Milagros”, do artista Milton Marques, com curadoria de Thais Rivitti. A mostra é composta por dois trabalhos novos: uma dupla de retratos e um objeto plástico-sonoro, ambos sem título, de 2015. Os retratos, de dois curadores brasileiros conhecidos, foram feitos a pedido do artista a partir de fotos achadas na internet. Milton encomenda as pinturas e, depois de recebê-las, adiciona a elas um mecanismo que as faz “chorar”. Gotas d’água brotam da tela, na altura dos olhos do retratados, e escorrem pelo quadro. Ao lado dos retratos, a exposição traz um trabalho no qual um mecanismo construído pelo artista faz um pedaço de cortiça roçar nas paredes de taças de cristal em rotação, gerando um ruído que se espalha pelo ambiente. O “choro” dos retratados encontra, assim, seu equivalente sonoro no barulho que vem do cristal.

 
Para a curadora, “o caráter postiço dessas presenças que se sobrepõem no espaço expositivo – o choro falso e o som estranho – colaboram para a criação de um ambiente onde mágica e truque, feitiço e embuste encontram-se em tensão”. O que estaria em jogo, para ela, é a própria função do curador no sistema da arte: “Nessa exposição, Milton explora a operação, algumas vezes atribuída ao curador, de transformar um objeto comum em obra de arte. Essa espécie de transubstanciação que, supostamente, o curador realizaria é, como todo milagre, um gesto cercado de contradições e ambiguidades: há algo sublime e algo duvidoso em sua natureza”.

 

 
Milton Marques é artista plástico nascido em Brasília em 1971. Já participou de inúmeras mostras, individuais e coletivas, no Brasil e  no exterior dentre as quais destacam-se: “Situações Brasília”, Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, Brasília, 2012; “Os Primeiros Dez Anos”, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, 2011; “Cinema, Sim – Narrativas e Projeções”, Itaú Cultural, 2008; “Nova Arte Nova”, Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo, 2009; “Contraditório – Panorama da Arte Brasileira”, Museu de Arte Moderna, 2007, “5a, Bienal do Mercosul”, Porto Alegre, Brasil, 2005 e “26a. Bienal de São Paulo”, São Paulo, Brasil, 2004.

 

 

 

MILAGROS por Thais Rivitti

 
Na exposição “Milagros”, Milton Marques apresenta duas obras novas: um par de retratos de curadores brasileiros que, tendo acoplados um mecanismo de gotejamento, soltam água imitando um choro e um aparelho construído pelo artista no qual pedaços de cortiça encostam nas bordas de taças de cristal em constante rotação, propagando pelo ambiente um som ligeiramente diferente cada taça.

 
Os retratos, de curadores conhecidos, foram encomendados pelo artista e tiveram como base fotografias disponibilizadas na internet ou em revistas de arte. As imagens se condensam na tela tal com vieram dos meios de comunicação e conservam algo de seu contexto original (uma expressão, uma pose). A série de retratos que Milton está fazendo compreende muitos outros retratados, além dos dois presentes. Mais do que a intenção de personificar esse ou aquele indivíduo, a discussão centra-se na própria figura (genérica) do curador que está atuando no presente, que aparece como resultado nas buscas do google ou o dá declarações sobre seu ofício à imprensa.

 
Depois de selecionar as imagens, Milton acopla a elas um mecanismo que faz com que elas soltem água pelos olhos, simulando o ato de chorar. Essa intervenção nas imagens, esse choro postiço inserido ali pelo artista, acaba por gerar uma série de relações provocantes. A ideia de milagre vem a mente uma vez que a obra evoca imediatamente as histórias populares que relatam imagens de santos que choram. Além disso, como o próprio nome da exposição sugere, milagros são também ex-votos, peças (fotos, desenhos, réplicas de partes do corpo) feitas em agradecimento a alguma graça alcançada.

 
“Milagros”, assim, refere-se muito diretamente ao universo mágico religioso do qual, no processo de modernização, a arte teria se separado. E não o faz sem certa ironia. Evidentemente há uma menção a certos poderes extraordinários que são atribuídos aos curadores em nosso sistema da arte. Mas a obra não para diante dessa denúncia, não se resolve em um esquema paródico. Se flerta com o cômico, também recoloca as dificuldades que hoje cercam a atuação desse profissional cuja tarefa é a de separar o joio do trigo na produção de arte de seu tempo. Os critérios para se afirmar a qualidade a um objeto de arte talvez nunca tenham sido tão difíceis de enunciar quanto são hoje. Por mais que curadores esforcem-se em tornar claras suas escolhas, posições e olhares, há sempre algo, em uma leitura de obra, em uma aposta nesse ao naquele artista, que não pode ser sintetizado por um discurso rigorosamente objetivo. Talvez as lágrimas venham dessa condição – mais semelhante a do profeta do que ao santo – de muito solitariamente enxergar algo ali, onde normalmente não se vê nada.

 
A evocação do milagre está presente também na obra sonora, que acaba por funcionar como um coro, uma tradução sonora dos vários choros no espaço. Preenchidas com vinho, as taças, que são componentes essenciais da peça recém realizada, remetem tanto ao episódio bíblico das Bodas de Caná, onde Jesus transforma água em vinho, como ao próprio ato litúrgico da eucaristia, no qual o vinho transubstancia-se em sangue de Cristo. Nessa exposição, Milton explora a operação, em parte atribuída ao curador, de transformar um objeto comum em obra de arte. Essa espécie de transubstanciação que, supostamente, o curador realizaria é, como todo milagre, um gesto cercado de contradições e ambiguidades: há algo sublime e algo duvidoso em sua natureza.

 

 
De 23 de fevereiro a 20 de março.