Fotógrafos brasileiros em Paris

23/mai

Um Brasil único e personalíssimo clicado por sete artistas brasileiros e um australiano, sob a orientação do fotógrafo internacional Ricardo Esteves. O resultado dessa experiência pode ser visitado em “Meu Brasil”, coletiva com co-curadoria de Anna Priscilla Marques, e vernissage dia 28, às 18h30, na Galerie Espace 7, 11 rue Saint Sabin, Bastille, em Paris.

 

No time de talentos estão Adrian Luke Dimarco, Guilherme Costa Pinto, Igor Gomes, Luís Todeschi, Marco Escada, Maria Elizabeth Broxado, Marlene Reinaldo e Rose Aguiar. Durante o aprendizado com Ricardo Esteves, eles imprimiram novas abordagens sobre suas produções, orientados pelo diálogo com este fotógrafo especializado em clicar grandes personalidades do universo corporativo, e que há dez anos se alterna entre Paris e Londres.

 

Ao longo de seis meses, os oito artistas compartilharam seu desenvolvimento criativo e técnico com Esteves. O processo se diferencia também por ter sido realizado totalmente de maneira remota. O produto desse projeto é a percepção muito pessoal de brasilidade de cada um deles, e que pode ser visitada em “Meu Brasil”.

 

 

Sobre Ricardo Esteves

 

Seu olhar sobre a França influenciaria em definitivo seu estilo de fotografar e, principalmente, suas pesquisas estilísticas e sociais. Em 2006, foi o fotógrafo oficial do Ano do Brasil na França, contratado pelo Gabinete do Comissário ligado ao Ministério da Cultura do Brasil. Entre outras iniciativas, desenvolve esse projeto de acompanhamento, com a proposta de envolver fotógrafos na trajetória contínua de desenvolvimento artístico e promover a visibilidade, reconhecimento e acessibilidade da fotografia brasileira na Europa.

 

De 15 a 31 de maio.

Ivens Machado na Carpintaria

A Carpintaria, espaço da Fortes D’Aloia & Gabriel no Rio de Janeiro, exibe “Ivens Machado: Corpo e construção”, primeira exposição do artista em uma galeria após seu repentino falecimento em 2015. A mostra apresenta seis esculturas realizadas entre 1991 e 2005, um tríptico fotográfico a partir da “Performance com bandagens cirúrgicas”, de 1973, e uma série de fotos com registros inéditos da mesma performance, editado a partir da recuperação de negativos do artista.

 

Ivens Machado utilizava matérias-primas próprias da construção civil como concreto, vergalhões, vidro e madeira, manipulando estes materiais de modo a reorganizar os códigos da escultura convencional. Suas obras articulam tensões sociais e sexuais ao abordarem questões como a violência e a repressão, temáticas que revelaram-se controversas ao longo de sua carreira, especialmente durante o período da ditadura militar. Suas esculturas materializam uma sintaxe clara e objetiva que dá voz às formas em si, deixando que o concreto armado ou estilhaçado, telas aramadas e tijolos quebrados desvelem camadas de significação para além de suas superfícies.

 

Em “Sem título”, obra de 2005, na primeira sala expositiva, o concreto dilata-se em um ângulo superior a 90º, encerrando-se em robustas extremidades cravadas por estilhaços de telha. Parte de uma geração de artistas sucessora ao Neoconcretismo, Machado escolhe trilhar uma trajetória estética paralela ao circuito da arte dos anos 70, marcado pelas discussões políticas e afiliações a grupos e movimentos. A crueza de suas formas revela-se, portanto, como digestão da herança construtivista para uma terceira direção, de forte viés autoral e alta carga provocativa. O excesso e a exuberância de suas formas tecem relações entre corporeidade e construção, carne e cimento.

 

A obra “Sem título” de 2001, que ocupa um dos salões frontais do espaço expositivo, tem forte relação com a escultura pública originalmente produzida pelo artista para o entorno do Largo da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro, em 1997. O arco de Ivens evidencia, já em um momento avançado de sua trajetória, a coerência e o rigor formal com que sua obra se desenrola ao longo de mais de quatro décadas. A série de fotografias “Sem título”, – Performance com bandagem cirúrgica – 1973 – 2018, também sublinha a articulação entre o corpo e a escultura. Ao recobrir partes do corpo, as bandagens brancas acentuam suas formas à medida em que recortam em partes o sujeito (o próprio artista). Braços e pernas aparecem despregados do corpo e o rosto, que em um momento está encoberto, em outro mira a câmera desafiadoramente. A performance remonta a um momento da arte em que a investigação de questões ligadas ao corpo no campo do vídeo, da fotografia e da performance aparece como elemento central na pesquisa de diversos artistas. Aqui, o artista forja seu corpo enquanto campo de experimentação, permitindo conotações de dor e privação. A escolha da gaze enquanto dispositivo performático possibilita diferentes chaves de leitura, remetendo a dor tanto em uma dimensão física, do autoflagelo, quanto em uma dimensão metafórica, aludindo à repressão militar e sexual.

 

 

Sobre o artista

 

Ivens Machado nasceu em Florianópolis, SC, em 1942 e faleceu em 2015 no Rio de Janeiro. Começou sua carreira na década de 1970, em uma produção que se desdobra entre desenho, escultura, pintura, e vídeo. Após um período de dificuldades relacionadas a problemas de saúde, o artista começa a trabalhar com a Fortes D’Aloia & Gabriel no ano de 2014 mas, infelizmente, acaba por não concretizar a tempo sua primeira individual com a galeria. A presente exposição, portanto, foi realizada em colaboração com o recém-criado Acervo Ivens Machado, coordenado por Mônica Grandchamp. Esta primeira exposição marca o início de uma trajetória de trabalho que busca dar continuidade ao legado deste grande artista de trajetória singular.

 

 

Até 28 de julho.

Simon Evans no Galpão 

Fortes D’Aloia & Gabriel | Galpão apresenta “Shopping Chão”, terceira exposição individual de Simon Evans no Brasil, duo colaborativo formado pelo britânico Simon Evans e pela norte-americana Sarah Lannan, que exibem cerca de quinze trabalhos inéditos. Os trabalhos da dupla possuem uma linguagem única, caracterizada por elaboradas colagens com fragmentos de papel, textos e imagens, coletados a partir dos detritos da vida cotidiana, da prática do ateliê e por cidades que visitam. Frases curtas e poéticas alternam-se entre reproduções de objetos domésticos, cartões de crédito e passaportes, sempre marcados pelo sarcasmo e pela melancolia.

 

A instalação que dá título a exposição é inspirada no comércio informal de rua do Rio de Janeiro, cidade onde a dupla residiu nos últimos três meses. Na capital carioca, a prática comercial do “shopping chão” consiste em estender um tecido ou lençol na calçada e dispor sobre ele objetos das mais variadas naturezas e origens, frequentemente achados no lixo, a serem revendidos a preços módicos.

 

 

Sobre os artistas

 

Simon Evans é a colaboração artística entre Simon Evans (1972) e Sarah Lannan (1984). Ambos vivem e trabalham em Nova York. Entre suas exposições individuais, destacam-se: Not Not Knocking On Heaven’s Do or , Palais de Tokyo (Paris, França, 2016); Only Words Eaten By Experience , MOCA Cleveland (Cleveland, EUA, 2013); First We Make the Rules, Then We Break the Rules (Simon Evans & Öyvind Fahlström), Kunsthalle Düsseldorf (Düsseldorf, Alemanha, 2012) e Kunsthal Charlottenborg (Copenhague, Dinamarca, 2012); How to Be Alone When You Live with Someone , MUDAM (Luxemburgo, 2012); H o w t o g e t a b o u t , Aspen Art Museum (Aspen, EUA, 2005). Entre as exposições coletivas, destacam-se as participações nas seguintes bienais: 12ª Bienal de Istambul (Turquia, 2011); 31º Panorama da Arte Brasileira, MAM (São Paulo, 2009); 27ª Bienal de São Paulo (2006); Bienal da Califórnia, OCMA (Newport Beach, EUA, 2004). Sua obra está presente em diversas coleções importantes, como Aspen Art Museum (Aspen, EUA), CIFO (Miami, EUA), Louisiana Museum of Modern Art (Humlebaek, Dinamarca), Miami Art Museum (Miami, USA), MUDAM (Luxemburgo), Philadelphia Museum of Art (Filadélfia, USA), SFMOMA (San Francisco, USA), entre outras.

 

 

De 26 de maio a 28 de julho.

Jac Leirner, “Adição”

A Fortes D’Aloia & Gabriel, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta “Adição”, nova exposição de Jac Leirner. A mostra inclui esculturas com embalagens de sedas, uma instalação com pontas de cigarros de maconha e sequências fotográficas montadas sobre madeira. Compulsão e consumo, acúmulo e reorganização são questões recorrentes na obra de Jac Leirner. Ela utiliza materiais próximos do seu cotidiano, em sua maioria descartáveis ou sem valor. Assim, se no passado a artista usou cigarros, cartões de visita, sacolas de museus, talheres e cobertores de aviões, aqui ela emprega a imagem e os materiais associados ao consumo de cocaína e maconha. Nas imagens, pequenas pedras de cocaína são rodeadas por objetos pessoais como moedas, pinças e souvenirs.

 

Jac fez as fotos em 2010 e as editou seis anos depois, formando narrativas cinemáticas que se encerram em capítulos independentes. As pequenas esculturas retratadas transfiguram-se em cone, cabeça, roda, esfera e coração até desaparecerem. A disposição horizontal dos trabalhos, sobrepostos em cinco linhas ao longo da galeria, enfatiza essa vocação literária, ao mesmo tempo em que evidencia aspectos formais de cor e composição. Alguns objetos usados nas fotos retomam materiais previamente usados pela artista, ao passo que outros revelam um aspecto de intimidade absoluta, num grau máximo de justaposição entre vida e obra. “About Men and Animals”, por exemplo, cria uma história com objetos em miniatura, enquanto “Macbeth” faz referência direta à literatura. “Oh Yes Yes”, e “Round Ones” reúnem as imagens com moedas e cédulas de dinheiro. “Landscape”  por sua vez, forma uma cena quase abstrata. As esculturas intercalam-se às sequências fotográficas e, de maneira análoga, lidam com a matéria residual do fumo. “Freezing Flame”, “Sugar Baby”, “Statement”, entre outros, são criadas com embalagens de sedas para cigarro montadas sobre madeira.

 

Essas obras ganham corpo a partir do formato irregular das embalagens quando desmontadas e se organizam em composições cromáticas. A artista insere ainda níveis de precisão nos suportes, revelando o sentido de equilibro tão essencial a esses trabalhos. As noções de consumo e acúmulo dos materiais ganham contornos arquitetônicos na obra “High and Low”. Ocupando o segunda andar da galeria, cabos de aço dão estrutura a pontas de cigarros de maconha. A escultura se define por linhas que tensionam o espaço, alcançando o grau mínimo da matéria, sintetizada em seu menor elemento.

 

Na ocasião da abertura, a publicação “Three White Nights” será lançada no Brasil. O livro de artista, realizado em parceria com a designer holandesa Irma Boom, reúne todas as imagens da série fotográfica que integram a exposição.

 

 

Sobre a artista

 

Jac Leirner nasceu em São Paulo em 1961, onde vive e trabalha. Entre suas exposições individuais recentes em instituições, destacam-se: Institutional Ghost , IMMA (Dublin, 2017); Add it up , The Fruitmarket Gallery (Edimburgo, 2017); Borders are drawn by hand , MoCA Shanghai (Xanghai, 2016); Funciones de una variable , Museo Tamayo (Cidade do México, 2014); Pesos y Medidas , CAAM (Las Palmas de Gran Canaria, Espanha, 2014), Hardware Seda – Hardware Silk , Yale School of Art (New Haven, 2012); Jac Leirner , Estação Pinacoteca (São Paulo, 2011). Seu extenso 

 

currículo de exposições inclui ainda participações em: Bienal de Sharjah (2015), Bienal de Istambul (2011), Bienal de Veneza (1997 e 1990), Documenta de Kassel (1992), Bienal de São Paulo (1989 e 1983). Sua obra está presente em diversas coleções importantes ao redor do mundo, como: Tate Modern (Londres), MoMA (Nova York), Guggenheim (Nova York), MOCA (Los Angeles), Carnegie Museum of Art (Pittsburgh, EUA), MAM (São Paulo), Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo), Museo Reina Sofía (Madri), entre outras. 

 

 

 

De 26 de maio a 28 de julho.

 

Mesa redonda no MAM-Rio

22/mai

O MAM Rio, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, realiza no próximo dia 26 de maio, às 14h, mesa-redonda sobre a trajetória de Victor Arruda com o artista Paulo Bruscky, a crítica de arte Marisa Flórido César, e Adolfo Montejo Navas, curador da retrospectiva do artista em cartaz no Museu. Na ocasião, será exibido o documentário “Esta pintura dispensa flores” (2010), de Luiz Carlos Lacerda, sobre a obra de Victor Arruda, e será lançada a publicação “You are still alive”, sobre a série homônima do artista, com texto de Adolfo Montejo (2018, Limiar Edições), port/ing, 44 páginas e 24 imagens-trabalhos, 500 exemplares, numerados e assinados. Na Cinemateca do MAM, com entrada gratuita.

 

Diz Adofo Montejo Navas que ” sãopoucos os trabalhos artísticos que se posicionam em territórios fronteiriços da vida, no meio-fio entre a vida e a morte, sem cair no reduto da enfermidade ou da clínica, ou então nos paraísos artificiais, cada vez mais numerosos e vulgarizados. You are still alive, obra em curso de Victor Arruda desde 2015 até hoje, já provoca desde seu aqui e agora outro tempo e destino, extrapolando o local inicial da ação. Transfere seu alvo estético para além do campo previsível, inclusive como imagética associada à pintura (algo, diga-se de passagem, que o artista tem provocado várias vezes, o curso de alguns limites com a pintura para ser pisada ou até dançada, comida ou utilizada como pintura-performace de obra-anúncio).”

Visita guiada no Paço Imperial

17/mai

Neste sábado, dia 19 de maio, às 15h, a artista plástica Suzana Queiroga e o curador Raphael Fonseca farão uma visita-guiada pela exposição “Miradouro”, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com entrada franca. A mostra, que pode ser vista até o dia 27 de maio, traz obras recentes e inéditas da artista, dentre pinturas, esculturas, instalações e vídeos, que mostram a pesquisa sobre o tempo, a paisagem e a cartografia.

Obra inédita de Angelo Venosa 

Novos horizontes de investigação e pesquisas estéticas do escultor Angelo Venosa serão exibidos ao público pela primeira vez, a partir de 23 de maio no Museu Vale, Antiga Estação Pedro Nolasco, Argolas, Vila Velha, ES. Na exposição (e lançamento do catálogo), que comemora os 20 anos da instituição, o artista apresentará esculturas incorporadas às próprias sombras, conferindo um instigante universo poético ao espaço. Seis das esculturas foram criadas especialmente para a mostra. Madeira, alumínio, acrílico, parafina, vidro, aço, ossos são alguns dos materiais que compõem as esculturas de Venosa e a singularidade de seu fazer artístico, desenvolvido a partir de sua experiência vinda de trabalhos artesanais (herdou do pai o conhecimento do trato com o design e a madeira). De natureza expansiva, desenvolveu atalhos históricos e tornou-se um dos maiores expoentes do cenário cultural contemporâneo. Sintonizado com novas tecnologias, passou a trabalhar também com impressões em 3D, trazendo para suas esculturas infinitas possibilidades combinatórias.

 

Inquietas e interrogativas, as obras de Angelo Venosa problematizam a visão do espectador – diz Vanda Klabin, ao revelar que o artista irá explorar no Museu Vale a equivalência entre as áreas cheias e vazias, através da projeção de sombras nas superfícies arquitetônicas da instituição. “- Na medida em que esses trabalhos são desenvolvidos, as formas emergem e adquirem uma plasticidade inesperada. Toda uma noção de movimento se faz presente nessas sombras movediças, onde brotam as formas mais variadas e ambíguas e essas zonas de indeterminação adquirem uma presença plástica que se constrói e se experimenta no próprio espaço – conclui a curadora.

 

A mostra de Angelo Venosa nas comemorações dos 20 anos do Museu Vale reitera o compromisso da instituição de promover a arte e a cultura como fenômeno de transformação e de formação dos jovens, diz Ronaldo Barbosa, diretor do Museu: “…Venosa é um artista que caminha em paralelo com o seu tempo, sempre dedicado ao experimento de novos materiais, tecnologias e seus desdobramentos no seu processo criativo. No Museu Vale, o escultor irá surpreender ao exibir uma nova possibilidade de se perceber os seus trabalhos”.

 

Após o período de exposição no Museu Vale, “Penumbra” segue para o Memorial Minas Gerais Vale, em Belo Horizonte, como parte do Programa de Itinerância Cultural. O programa prevê a troca de conteúdo artístico e cultural entre os quatro espaços culturais patrocinados pela Vale, localizados em quatro das cinco regiões brasileiras, além de ações de valorização da identidade cultural em munícipios pelo interior do país.

 

 

Sobre o artista

 

Angelo Venosa (São Paulo, 1954. Vive e trabalha no Rio de Janeiro) surgiu na cena artística brasileira na década de 1980, tornando-se um dos expoentes dessa geração. Desde esse período, Venosa lançou as bases de uma trajetória que se consolidou no circuito nacional e internacional, incluindo passagens pela Bienal de Veneza (1993), Bienal de São Paulo (1987) e Bienal do Mercosul (2005). Hoje, o artista tem esculturas públicas instaladas no Museu de Arte Moderna de São Paulo (Jardim do Ibirapuera); na Pinacoteca de São Paulo (Jardim da Luz); na praia de Copacabana / Leme, no Rio de Janeiro; em Santana do Livramento, Rio Grande do Sul e no Parque José Ermírio de Moraes, em Curitiba. Possui trabalhos em importantes coleções brasileiras e estrangeiras, além de um livro panorâmico da obra, publicado pela Cosac Naify, em 2008.

 

 

Sobre o Museu Vale

 

Desde a sua inauguração, em outubro de 1998, o Museu Vale se tornou um dos principais polos de arte contemporânea e de formação cultural do Estado do Espírito Santo e do país. Instalado na Antiga Estação Ferroviária Pedro Nolasco, às margens da baía de Vitória, em uma área tipicamente industrial e portuária no município de Vila Velha, o Museu Vale preserva também a memória da construção da Estrada de Ferro Vitória a Minas. Ao longo de 20 anos sediou 46 exposições de arte contemporânea de 194 artistas. Em 2005, criou o Programa Aprendiz, que beneficia jovens das comunidades carentes do seu entorno, capacitando-os em funções relacionadas a montagem de exposições, bem como aproveitando sua mão de obra durante a montagem das mostras que realiza anualmente. Até o momento 120 jovens foram beneficiados através desse projeto.

 

 

De 24 de maio a 09 de setembro.

Na Bergamin & Gomide

15/mai

A exposição individual “Mira Schendel: Sarrafos e Pretos e Brancos”, da artista suíça, naturalizada brasileira, Mira Schendel, próximo cartaz da Galeria Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP, apresentará cerca de 20 obras cuidadosamente selecionadas, produzidas entre as décadas de 1960 e 1980, circulando entre suas diversas fases criativas.

 

Mira Schendel, uma das artistas brasileiras mais significativas do século XX, desenvolveu um corpo de trabalho extremamente complexo e único. “Sarrafos” (1987), última série completa produzida da artista, conta com 12 obras e quatro delas estarão em exposição na galeria. Produzidos sobre uma base totalmente branca, na qual uma haste de madeira preta se sobressai, nos Sarrafos “o caráter tridimensional do elemento acaba por transformar efetivamente o jogo, ao materializar aquilo que, por princípio, deveria ser virtual e ilusionista. E exatamente a relação íntima entre o elemento e a superfície da qual se desprega, vem a gerar um campo plástico vivo e indecidível. Ao se anunciar pintura, o trabalho35 se revela quase escultura”, escreveu o crítico de arte Ronaldo Brito em 1988.

 

A série de obras faz referência ao momento de incerteza política vivida no país: “nasceu de um momento de falta de decisão, de desordem, que o Brasil viveu em março, quando parecia que estávamos morando em uma Weimar tropical. Naquele momento, como todos, eu também sentia necessidade de ter uma direção, um rumo. Essas obras são uma reação ao marasmo daquele momento”, comentou Mira em 1987.

 

Desenvolvida entre 1985 e 1987, a série “Pretos e Brancos”, que precede “Sarrafos”, é “lírica”, uma vez que sua ênfase está no movimento e no espaço. São pinturas de têmpera e gesso que, à distância, remetem a painéis planos pontuados por arcos e linhas. Porém, depois de uma inspeção mais minuciosa, revelam pequenas variações de textura que projetam sombras e formam sutis relevos esculturais.

 

Pinturas e outras obras produzidas sobre papéis de arroz japonês são caracterizadas por motivos geométricos minimalistas, linhas delicadas ou letras compostas que investigam noções de temporalidade e transitoriedade. Experimentando materiais efêmeros, Schendel tornou-se cada vez mais interessada em transformar letras e elementos linguísticos em objetos gráficos – uma abordagem mais comumente associada à poesia concreta. Nessas obras, as letras são liberadas e desconstruídas, levantando questões sobre linguagem, escrita, desenho e imagem.

 

As primeiras obras geométricas abstratas de Mira, feitas com uma palheta terrosa, foram a público em exposições individuais em 1950 e 1952. Ela participou da primeira Bienal Internacional de São Paulo de 1951; recebeu prêmios nos Salões da Bahia e do Rio Grande do Sul entre 1951 e 1953; e, em outubro de 1954, realizou sua primeira grande exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo, exibindo pinturas das séries “Geladeiras ou Fachadas”.

 

A individual da artista, em parceria com a Hauser & Wirth e colaboração de Olivier Renaud-Clément, fica em exposição entre os dias 22 de maio e 23 de junho, na Galeria Bergamin & Gomide.

Desver a Arte

14/mai

A palavra de ordem é diversificar. É com este espírito que a Emmathomas Galeria, Jardins, São Paulo, SP, exibe “Desver a Arte”.  Sob a gestão do artista, colecionador e empresário Marcos Amaro e direção artística do curador Ricardo Resende, a galeria voltou ao mercado de arte com uma proposta mais ousada e inovadora, rompendo amarras e apresentando ao público um corpo de artistas diverso.

 

A exposição “Desver a Arte” marca essa reabertura da Emma, com os 16 artistas representados: ao lado do já consolidado pintor e escultor Gilberto Salvador, por exemplo, Mundano, um dos grafiteiros mais atuantes da cidade de São Paulo. Às delicadas esculturas e cerâmicas da japonesa Kimi Nii, somam-se os objetos imbuídos de narrativa surrealista do paulistano Hugo Curti. Os ambientes e as pinturas realistas em três dimensões de Alan Fontes, contrapõe-se às telas de atmosfera fantástica de Sani Guerra.

 

“De gerações diferentes, de diversas linhagens, vertentes e suportes, são artistas com interesses também incomuns. A galeria ousa mostrar essas diferenças experimentais plásticas e poéticas de cada um dessa família artística, características que se faz visível na diversidade do que é visto na arte contemporânea”, afirma o curador Ricardo Resende.

 

Além dos artistas já citados, comparecem Alex Flemming, Armando Prado, Carl Emanuel Wolff, Carlos Mélo, Francisco Klinger Carvalho, Isabelle Borges, Jens Hausmann, Katia Salvany, Marcia Grostein e Paula Klien.

 

 

Última semana, até 19 de maio.

Um outro Brasil na Zipper Galeria

11/mai

A exposição coletiva “Desmedida” é o novo cartaz da Zipper Galeria, Jardim América, São Paulo, SP, com abertura para o próximo dia 17 de maio. O título da exposição é tomado emprestado do livro “Desmedida”, do escritor angolano Ruy Duarte de Carvalho. Trata-se de um relato poético de viajante quando de sua prospecção pelo Brasil, a partir de excursão pela bacia do Rio São Francisco. “Vários artistas estabelecem relações poéticas e visuais semelhantes ao escritos de Ruy. Há uma geração de artistas trabalhando com a ideia de redescobrimento. O interior do país passou por transformação sócio econômica radical nos últimos 20 anos”, afirma o curador Diego Matos.

 

Na exposição coletiva “Desmedida”, prelúdio de uma pesquisa curatorial mais ampla desenvolvida na última década, o curador Diego Matos reúne um conjunto de trabalhos que retratam o Brasil, seu lastro histórico e suas múltiplas realidades à luz de um imaginário construído nas duas últimas décadas do século XXI. Na contramão aos parâmetros de uma história oficial baseada nas ideias grandiosas de progresso e civilização e na atenção ao desenvolvimento das grandes metrópoles, as investidas dos artistas aqui selecionados conflagram largo interesse em explorar, reconhecer territórios grandiosos mas invisíveis. Trata-se desse mesmo Brasil que, no momento, seja por temor, ignorância ou elitismo, é dado as costas.

 

Em busca de narrativas que refletem sobre outros entendimentos do que seria o chamado “Brasil profundo”, “o grande sertão”, a dimensão da floresta ou a errônea percepção da natureza “selvagem”, a seleção contempla produções de André Penteado (São Paulo, 1973), Daniel Frota (Rio de Janeiro, 1988), Haroldo Sabóia (Fortaleza, 1985), João Castilho (Belo Horizonte, 1978), Marcelo Gomes (Recife, 1963), Karim Aïnouz (Fortaleza, 1966), Regina Parra (São Paulo, 1981), Romy Pocztaruk (Porto Alegre, 1983) e Tuca Vieira (São Paulo, 1974). “Muitas destas pesquisa encontram nas profundezas do interior, deste íntimo do país, alguma condição universal, um sentimento comum demasiadamente humano. O interesse é este: confrontar o íntimo e o universal, o micro e o macro, confundindo escalas”, afirma.

 

De Tuca Vieira, a série fotográfica “Viagem ao Brasil” (2013) faz um retrato deste novo habitus construído sob a égide do desenvolvimento econômico e que se sobrepõe aos discursos globalizantes e homogeneizadores. Dois vídeos de Haroldo Sabóia – “Carta à Solidão (2016)” e “Na medida em que caminho” (2017) – fazem uma espécie relato poético sobre paisagens interioranas do Nordeste do país. Também o faz o vídeo “Sertão de Acrílico Azul Piscina” (2004), da dupla Marcelo Gomes e Karim Aïnouz, com tom documental e prospectivo, mas de caráter eminentemente experimental e poético. É por ele que a própria narrativa expositiva começa. O último vídeo da coletiva, “Barca Aberta” (2016), de João Castilho, reflete sobre deslocamentos de trabalhadores no interior mineiro, perpetuando a idéia permanente de movimento enquanto forma de sobrevivência.

 

De André Penteado, fotografias da série “Missão Francesa” (2017) desvendam o processo civilizatório e cultural de “catequizar” o Brasil a partir de referências ocidentais. Talvez seja esse contexto registrado que demarca a primeira ação de caráter simbólico no país, na construção de uma modernidade forjada. E, de Romy Pocztaruk, trabalhos da série “A Última Aventura” (2014) investigam os vestígios materiais e simbólicos remanescentes da construção da rodovia Transamazônica, um projeto faraônico, utópico e ufanista, relegado ao abandono e esquecimento. Regina Parra é a única artista a apresentar uma pintura da mostra. “Um Perigo um Chance” (2017), pintura de escala monumental, vem de uma pesquisa da artista que reflete sobre temas como imigração, iminências de transformação e condições inóspitas, colocando o espectador em real situação de desequilíbrio. Por fim, Daniel Frota, com sua peça sonora “It’s a Perpetual Way”, investindo na natureza circular e mântrica da musica popular brasileira, manipula a canção de Caetano Veloso, “It’s a Long Way”, de 1972, abrindo alas aos que chegam à galeria, o que põe em contato o público e o privado.

 

 

Sobre o curador

 

Diego Matos nasceu em Fortaleza, CE, 1979), é pesquisador e curador; mestre (2009) e doutor (2014) pela FAU-USP. Foi um dos curadores do 20o Festival de Arte Contemporânea Sesc-Videobrasil, Sesc Pompéia, 2017. É organizador, com Guilherme Wisnik, do livro “Cildo: estudos, espaços, tempo”, pela Ubu Editora, 2017. Foi assistente de curadoria da 29ª Bienal de São Paulo (2010); membro do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake (2011 – 2013); curador assistente do 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc-Videobrasil (2013); e curador das exposições Da Próxima Vez Eu Fazia Tudo Diferente (Pivô, 2012) e Quem nasce pra aventura não toma outro rumo (Paço das Artes, 19º Videobrasil), todos em São Paulo, entre outras. Foi coordenador de Acervo e Pesquisa da Associação Cultural Videobrasil (2014-2016). Foi curador de exposições individuais de artistas como: Michel Zózimo, Rafael Pagatini, Raquel Garbelotti, Yiftah Peled, entre outros. Atuou também como professor em centros de ensino de arte e arquitetura em São Paulo (Instituto Tomie Ohtake, Escola São Paulo, Centro de Pesquisa e Formação e outras unidades do Sesc São Paulo). Ademais, escreve textos para catálogos de exposições; livros e exposições de artistas e colabora com revistas acadêmicas e de arte.

 

 

Até 16 de junho.