Modernismo Brasileiro em Londres.

27/jan

Uma exposição na Royal Academy of Arts em Londres apresenta 130 obras do Modernismo brasileiro, incluindo artistas como Tarsila do Amaral, Portinari, Lasar Segall e Djanira. A mostra abrange 60 anos da Arte Brasileira, com influências europeias e destaca a diversidade cultural, ficará aberta ao público até 21 de abril.  Uma seleta de mais de 130 obras de dez artistas do Modernismo Brasileiro, movimento cultural iniciado no país no começo do século XX.

Roberta Saraiva Coutinho, uma das curadoras da exposição “Brasil! Brasil! The birth of Modernism” (“Brasil! Brasil! O nascimento do modernismo”), apresentada para a imprensa na Royal Academy of Arts, de Londres, resumiu à agência de notícias AFP a importância da mostra: – Um momento único para ver as obras-primas de um país magnífico. A mostra é uma espécie de relato narrativo que abrange cerca de 60 anos da história da arte brasileira – explica Adrian Locke, da Royal Academy of Arts, um dos outros curadores da exposição, que reúne trabalhos produzidos entre 1910 e 1970. O movimento nasceu com a chegada de correntes culturais e artísticas iniciadas na Europa, como o Cubismo, o Futurismo, o Dadaísmo, o Expressionismo e o Surrealismo, mas com foco nos elementos da cultura brasileira.

A exposição, principalmente de pinturas e com artistas de renome reúne Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Alfredo Volpi, Lasar Segall, Vicente do Rego Monteiro, Flávio de Carvalho, Cândido Portinari e Djanira conta também com fotografias de Geraldo de Barros e esculturas de Rubem Valentim.

 

Lançamento do livro Reynaldo Fonseca

15/ago

No próximo sábado, dia 17 de agosto, às 16h, a Biblioteca Mário de Andrade, República, São Paulo, SP,  vai realizar o lançamento do livro “Reynaldo Fonseca” (1925 – 2019), de autoria de Denise Mattar e Maurício Redig de Campos. Reynaldo Fonseca é um dos mais importantes artistas pernambucanos de todos os tempos, e, ainda hoje, ocupa um lugar único no circuito de arte brasileiro. A curadora Denise Mattar e Mauricio Redig de Campos, que é sobrinho neto e gestor do acervo do artista, farão uma palestra sobre sua trajetória. Serão distribuídos 100 livros gratuitamente.

Sobre o artista

Pintor, muralista e ilustrador, Reynaldo Fonseca frequentou a Escola de Belas Artes de Pernambuco na década de 1930 onde foi aluno do também pintor Lula Cardoso Ayres. Em 1944 transferiu-se para o Rio de Janeiro para estudar com Cândido Portinari. No Rio estudou ainda com Henrique Oswald no Liceu de Artes e Ofícios e partiu para uma viagem de estudos na Europa. Em meados de 1952, torna-se professor catedrático de desenho artístico na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), também frequentou o Ateliê Coletivo de Abelardo da Hora. Em 1964, realizou um mural para o Banco do Brasil, no Recife. Voltou para o Rio de Janeiro em 1969 e retornou ao Recife no início da década de 1980. Ilustrou diversos livros, entre eles “Pintura e Poesia Brasileiras”, com poemas de João Cabral de Melo Neto. Entre 1993 e 1994, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) promoveu no Rio de Janeiro e em São Paulo uma grande mostra retrospectiva de sua produção. Reynaldo Fonseca manteve, ao longo de sua carreira, temas recorrentes, como cenas familiares com crianças e animais, nas quais predominam um clima de sonho, inquietação e estranheza. O artista inspirava-se em pinturas do primeiro Renascimento italiano e flamengo, também nos pintores primitivos norte-americanos dos séculos XVIII e XIX e ainda no Surrealismo e na pintura metafísica. Sobre o artista o crítico Roberto Pontual escreveu: “Fonseca concentrava-se na armação de enigmas, a meio caminho entre o metafísico e o fantástico.  A retomada da história da arte era realizada de forma paciente, e por vezes com uma parcela de ironia.”

O livro “Reynaldo Fonseca” vem preencher uma lacuna na historiografia da arte brasileira, uma vez que todas as publicações sobre o artista estão inteiramente esgotadas. São apresentados trabalhos desde o início de sua carreira, no Recife, e das diversas temporadas no Rio de Janeiro.  Reynaldo Fonseca teve importante participação na cena artística recifense desde a década de 1940 e grande relevância no movimento de arte carioca.

Sobre a edição

O livro tem 272 páginas, bilíngue, português e inglês, edição capa dura, reunindo um conjunto de obras de toda a produção do artista, desde os anos 1930 até sua morte, em 2019. Uma cronologia ilustrada percorre toda a sua vida e sua significativa inserção na cena cultural brasileira, notadamente nos anos 1980, no Rio de Janeiro. A fortuna crítica com textos de Ariano Suassuna, Francisco Brennand, Frederico Morais, Geraldo Edson de Andrade, José Cláudio, Ladjane Bandeira, Olívio Tavares de Araújo, Olney Krüse, Roberto Pontual e Walmir Ayala permeia toda a publicação. A edição foi realizada com o patrocínio do REC Cultural, através da Lei de Incentivo à Cultura.

A autora do livro, a curadora Denise Mattar declarou: “Fazer este livro foi uma tarefa que se revestiu de extrema dificuldade, pela quantidade de material, de todas as ordens, guardadas pelo artista e conservadas pela família. Uma verdadeira avalanche de desenhos, cartas, entrevistas, catálogos, convites, e artigos de jornais e revistas. A pesquisa desse material revelou a marcante presença de Reynaldo na cena artística pernambucana, apesar de seu legendário retraimento. Como era hábito na época, os textos eram recortados sem referências de data e veículo e, embora tenhamos conseguido situar grande parte deles, outros não puderam ser devidamente catalogados mas, por sua importância, foram mantidos na publicação. Tenho certeza de que esta obra será de significativa contribuição para o entendimento da obra de Reynaldo Fonseca.”

Sobre os autores

Denise Mattar é curadora. Atuou no Museu da Casa Brasileira, SP de 1985 a 1987, do Museu de Arte Moderna de São Paulo, de 1987 a 1989 e do Museu de Arte Moderna RJ, de 1990 a 1997. Como curadora independente realizou mostras retrospectivas de artistas como Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho (Prêmio APCA), Ismael Nery (Prêmios APCA e ABCA), Pancetti, Anita Malfatti, Samson Flexor (Prêmio APCA), Portinari, Alfredo Volpi, Guignard, Yutaka Toyota (Prêmio APCA). Mostras Recentes: 2022 O Gênesis segundo Eva, Museu de Arte Sacra de São Paulo, Armorial 50 Centro Cultural Banco do Brasil, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Magliani, Fundação Iberê Camargo, RS, Sandra Mazzini, Farol Santander, São Paulo, Tereza Costa Rêgo, Galeria Marco Zero, Recife, Modernismo Expandido, Museu Nacional, Brasília. 2023 Ianelli – 100 anos, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Armorial 50, Museu de Arte Popular da Paraíba, Campina Grande, PB, Elke Hering, Instituto Collaço Paulo, Florianópolis, SC, Elas, Fundação Edson Queiroz, Fortaleza, CE, Fachinetti, Danielian Galeria de Arte, XXII Unifor Plástica, Fundação Edson Queiroz, Fortaleza, CE, A Máquina do Tempo – Museu da Fotografia, Fortaleza, CE, Armorial 50, Museu do Estado de Pernambuco, Recife, PE, Di Cavalcanti, 125 anos, Farol Santander, SP, Yutaka Toyota, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife, PE. 2024 Pancetti, Farol Santander, SP, Armorial 50, Museu de Arte da Bahia, Iuri Sarmento, Farol Santander, SP.

Maurício Redig de Campos é sobrinho neto do pintor Reynaldo Fonseca. Bacharel em administração de empresas, com MBA em gestão de pessoas e especialização em comércio exterior. Atua em multinacionais e em empresas consolidadas no mercado nacional. É também proprietário da Redig Artes responsável por todas as atividades institucionais, avaliações de autenticidade, catalogação das obras e gestão do acervo da família.

Lançamento do livro Reynaldo Fonseca

Na ocasião haverá tarde de autógrafos e conversa com os autores. Serão distribuídos 100 livros gratuitamente

Palestra com os autores Denise Mattar e Maurício Redig de Campos: Sábado, 17 de agosto, às 16h: Biblioteca Mário de Andrade – Rua da Consolação 94 – República – São Paulo.

Além da cor

17/jun

A mostra “Além da Cor”, em exibição até 27 de julho na Simões de Assis, Jardins, São Paulo, SP,  coloca em diálogo Alfredo Volpi, Ione Saldanha, Gonçalo Ivo e André Ricardo, aproximando a pesquisa cromática presente em cada um deles. Os artistas, de diferentes gerações e com poéticas singulares, compõem o espaço expositivo em interlocuções que exploram texturas e técnicas da pintura, como óleo e têmpera em suas composições demonstrando um diverso e enérgico diálogo em um olhar que tangencia a produção artística moderna a partir de reflexões da arte contemporânea.

Texto de Fernanda Pitta

Roberto Longhi certa vez afirmou que “a linha, por mais débil que seja, distrai-nos da cor”. A linha é movimento, carrega o olho para onde quer que ela vá, granjeia, ondula, foge, ataca, distrai-nos como gatos seguindo a agitação da ponta de laser. A cor sozinha não se move, fica ensimesmada, no máximo pulsa, nervosa, a sua fluorescência querendo emanar. Ela só consegue produzir movimento na interação que realiza com outra. Só assim elas se aglutinam ou se repelem, continuam onde parecem interrompidas, aceleram-se ou se retardam.

Na verdade, a cor nunca está sozinha. Uma cor é aquilo que surge da sua interação com uma outra. Joseph Albers fala disso lindamente quando se aprofunda nas complexidades da percepção das cores, enfatizando que elas são constantemente influenciadas por seus ambientes e podem criar efeitos ópticos inconstantes. Sua teoria se desenvolve a partir de sua prática de experimentos que demonstram como uma mesma cor pode parecer diferente dependendo das cores que estão em seu entorno. Albers nos desafia a considerar a natureza subjetiva da percepção das cores e nos incentiva a um envolvimento ativo com elas.

Kandinsky definiu a pintura moderna assumindo a planaridade da superfície, tomando-a como matéria de investigação do “ponto, da linha e do plano”, deixando a cor como um elemento acessório da estrutura pictórica moderna. Ele, no entretanto, foi também aquele que em sua obra inicial explorou a potência e o alcance dos contrastes de cor. Kandinsky acreditava que as cores podiam evocar respostas espirituais e emocionais nos espectadores. Ele via as cores como tendo qualidades musicais inerentes, com cada tonalidade possuindo sua própria personalidade e voz. Seu uso da cor era profundamente simbólico, representando diferentes emoções e estados espirituais. Paul Klee abordou a cor de uma perspectiva mais lúdica e imprevisível. Ele acreditava que as cores tinham sua própria linguagem e podiam se comunicar diretamente com o espectador. Ele também via a cor como uma forma de música visual, criando padrões rítmicos e harmônicos por meio de suas composições complexas. A obra e o pensamento de Klee sobre as cores ensina-nos a explorar combinações inusitadas de cores e formas, assim como a de Albers. Se a obra de Albers parece trazer uma perspectiva mais analítica e sistemática, por meio da dissecação das complexidades das relações entre as cores e as ilusões de óptica, seus experimentos demonstram como as cores podem mudar e interagir umas com as outras.

Os quatro mestres aqui reunidos, Alfredo Volpi, André Ricardo, Gonçalo Ivo e Ione Saldanha, conhecem o dom de fazer cantar o azul na conversa alegre com o rosa, na interação cerebral com verde, na profunda e séria confrontação com o vermelho. Eles estão entre os maiores coloristas da arte brasileira. Mestres em fazê-las superfície matérica, como Volpi e André Ricardo, este formado na lição do primeiro, em revelar suas texturas e organicidade, como Ione Saldanha, ou em ouvir a partitura de seus infinitos matizes, como Gonçalo Ivo.

Seja através da têmpera ou do óleo, em suportes como tela, madeira, bambu ou papel, suas obras refletem sobre a imprevisibilidade da experiência vivida, afirmando a cor como sua concretude pulsante. As relações que produzem são modelos de uma sociabilidade libertadora, solidária e plural. Artistas cuja obra é atenta à capacidade das cores de se relacionarem de modo imprevisto, de desarmarem nossos preconceitos e produzir emoção e engajamento, sua obra nos proporciona o tudo que é vital, com o aqui e com o agora.

Exposição-relâmpago no centenário de Franco Terranova

14/mar

 

Será comemorado com uma grande exposição-relâmpago o centenário do lendário marchand e poeta Franco Terranova (1923-2013), que esteve à frente da Petite Galerie, inovador e fundamental espaço de arte carioca que movimentou o circuito brasileiro entre 1954 a 1988, lançando nomes hoje consagrados, incentivando artistas, e criando salões e prêmios. “Uma Visão da Arte – Centenário de Franco Terranova e o legado da Petite Galerie” ficará em cartaz na Danielian Galeria, na Gávea, Rio de Janeiro, entre 04 a 18 de março.  A curadoria é de Paola Terranova – a filha caçula dos quatro filhos de Franco e Rossella Terranova, a bailarina e coreógrafa com quem ele foi casado de 1962 até sua morte – que está à frente do acervo da Petite Galerie, em um espaço na Lapa. Ela conta que para esta exposição comemorativa foram restaurados mais de 80 trabalhos. “Franco Terranova era antes de tudo amigo dos artistas, um apaixonado pela arte, e pretendemos fazer uma exposição que retrate seu olhar ao mesmo tempo afiado e afetuoso”, diz. Além dos artistas, era constante a presença na Petite Galerie de intelectuais como Ferreira Gullar, Mario Pedrosa, Millôr Fernandes e Rubem Braga.  A exposição comemorativa terá mais de 150 obras, entre desenhos, gravuras, pinturas e esculturas, de mais de 70 artistas que participaram da programação da Petite Galerie. Franco Terranova completaria 100 anos, em 09 de março próximo.

 

No dia 16 de março, às 19h, será realizado um leilão em prol da manutenção do legado de Franco Terranova, apregoado por Walter Rezende, com apoio da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, no site Iarremate –  https://www.iarremate.com.

 

Os artistas com obras na exposição comemorativa na Danielian Galeria são: Abelardo Zaluar (1924-1987), Adriano de Aquino (1946), Alexandre Dacosta (1959), Alfredo Volpi (1896-1988), Amélia Toledo (1926-2017), Angelo de Aquino (1945-2007), Angelo Hodick (1945), Anna Maria Maiolino (1942), Antenor Lago (1950), Antonio Henrique Amaral (1935-2015), Antonio Manuel (1947), Arthur Barrio (1945), Avatar Moraes (1933-2011), Carlos Scliar (1920-2001), Carlos Vergara (1941), Cristina Salgado (1957), Darel (1924-2017), Dileny Campos (1942), Dionísio del Santo (1925-1999), Edival Ramosa (1940- 2015), Eduardo Paolozzi (1924 – 2005), Emeric Marcier (1916-1990), Enéas Valle (1951), Enrico Baj (1924-2003), François Morellet (1926-2016), Frank Stella (1936), Frans Frajcberg  (1921-2017), Franz Weissmann (1911-2005), Gastão Manoel Henrique (1933), Glauco Rodrigues (1929- 2004), Iberê Camargo (1914-1994), Ivan Freitas (1932-2006), Hércules Barsotti (1914-2010), Jac Leirner (1961), José Resende (1945), Larry Rivers (1923-2002), Leda Catunda (1961), Lothar Charoux (1912-1987), Lucio Del Pezzo (1933-2020), Luiz Alphonsus (1948), Luiz Áquila (1943), Luiz Paulo Baravelli (1942), Luiz Pizarro (1958), Marcia Barrozo do Amaral,  Maria do Carmo Secco (1933-2013), Maria Leontina (1917-1984), Mestre Vitalino (1909-1963), Milton Dacosta (1915-1988), Mira Schendel (1919-2018), Mô (Moacyr)  Toledo (1953),  Monica Barki (1956), Myra Landau (1926-2018), Roberto Magalhães (1940), Roberto Moriconi (1932-1993), Roy Lichtenstein (1923-1997), Rubens Gerchman (1942-2008), Sepp Baendereck (1920-1988), Sérgio Camargo (1930-1990), Sérgio Romagnolo (1957), Serpa Coutinho, Tarsila do Amaral (1886-1973), Tino Stefanoni (1937-3017), Tuneu (1948), Victor Vasarely (1905-1997), Waldemar Cordeiro (1925-1973), Waltercio Caldas (1946), Wanda Pimentel (1943-2019), Willys de Castro (1926-1988), Yara Tupynambá (1932) e Yvaral (Jean Pierre Vasarely- 1934-2002).

Diálogos com cor e luz

06/mar

“Diálogos com cor e luz” é uma exposição voltada para a difusão da coleção do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, que apresenta exclusivamente trabalhos desse acervo. Aqui, reunimos um pequeno recorte de obras com ênfase nas relações entre a cor e a luz na arte brasileira da segunda metade do século 20. Vale destacar que, no século passado, o MAM São Paulo desempenhou um papel significativo na introdução e na propagação das tendências abstracionistas no Brasil. Dois exemplos merecem ser citados: a mostra inaugural do museu, Do Figurativismo ao Abstracionismo, realizada em março de 1949 por Léon Degand (1907-1958), e a exposição Ruptura, em dezembro de 1952, que deu início ao movimento concretista na arte brasileira, com a publicação de seu manifesto.

Agrupamos no espaço várias gerações de artistas, sem privilegiar tendências nem estabelecer uma ordem cronológica. Misturamos tempos e linguagens, para incentivar nosso olhar à percepção de semelhanças e diferenças entre as várias poéticas visuais nos diversos tratamentos da luz e da cor. A museografia distribuiu no espaço os painéis radiais, numa referência ao disco de cores – ou seja, ao experimento óptico de Isaac Newton (1643-1727), publicado em 1707 em seu livro Opticks. Nele, o físico inglês demonstra, por meio de um disco de sete cores (vermelho, violeta, azul índigo, azul ciano, verde, amarelo e laranja), sua teoria de que a luz branca do Sol é formada pelos matizes do arco-íris. Ao girarmos o disco com velocidade, as cores se sobrepõem em nossa retina e nos fazem enxergar o branco.

A seleção de obras, ao enfatizar os diálogos com a cor e a luz em diversos suportes, chama atenção para a luz como elemento fundante da percepção. Trabalhar com a luz significa que temos de lidar também com a sombra, a escuridão ou a ausência de luz. E nos interessa justamente o primeiro contato que temos com a cor, anterior às teorizações e aos sentidos que acrescentamos a ela. A cor é indissociável daquilo que ela expressa. Ela mesma já é expressão, não apenas a tradução de uma ideia ou sentido preconcebido.

Fundamental é nos livrarmos dos sentidos já instituídos e sedimentados no campo da cultura, de conceitos anteriores ao vivido, para aí podermos ter a experiência com a duração da cor. Em vez de pensarmos a cor e a luz como elementos idealizados, o contato direto com a arte nos ajuda a restituir o vínculo originário com o mundo. Os diálogos entre luz e cor na arte nos mostram que o mundo pode ser surpreendente e nossa relação com ele, inesgotável.

 

Fábio Magalhães e Cauê Alves

Curadores

Diálogos com cor e luz

Coletiva com Abraham Palatnik, Alfredo Volpi, Almir Mavignier, Amelia Toledo, Arthur Luiz Piza, Cássio Michalany, Hermelindo Fiaminghi, Lothar Charoux, Luiz Aquila, Lygia Clark, Manabu Mabe, Marco Giannotti, Maria Leontina, Maurício Nogueira Lima, Mira Schendel, Paulo Pasta, Rubem Valentim, Sérgio Sister, Takashi Fukushima, Thomaz Ianelli, Tomie Ohtake, Wega Nery e Yolanda Mohalyi.

Até 28 de maio.

Centelhas em Movimento

16/dez

 

O Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP,  visita a Coleção Igor Queiroz Barroso. Em exibição cerca de 190 obras de mais de 55 artistas do acervo cearense.

Esta exposição da Coleção Igor Queiroz Barroso inaugura o programa “Instituto Tomie Ohtake visita”, que busca dar acesso ao grande público a obras de qualidade atestada e pouco exibidas, apresentadas sob diferentes leituras curatoriais. “Ao estar desobrigado de uma coleção permanente, por não ser um museu, o Instituto Tomie Ohtake tem flexibilidade para visitar múltiplos agentes do meio artístico, imergindo em seus repertórios, ações e acervos, e oferecendo aos públicos uma montagem articulada que atravessa a história da arte de modo único e temporário”, afirma Paulo Miyada, que assina a curadoria de “Centelhas em Movimento”, ao lado de Tiago Gualberto, artista e curador convidado para desenvolver a abordagem curatorial da coleção.

Baseada em Fortaleza, CE, a Coleção Igor Queiroz Barroso tem sido formada nos últimos 15 anos, ainda que suas raízes sejam mais antigas. Colecionar arte (em especial, colecionar arte moderna brasileira) é uma dedicação antiga na família de Igor Queiroz Barroso, remontando às iniciativas de seus avós paternos, Parsifal e Olga Barroso, e maternos, Edson e Yolanda Vidal Queiroz, e carregada até ele por seu tio Airton, e sua mãe, Myra Eliane. Essa herança implicou o convívio com a arte, a percepção do sentido do colecionismo e até mesmo a guarda de obras que até hoje estão entre os pilares de sustentação do conjunto que Igor tem reunido. A Coleção Igor Queiroz Barroso conta com cerca de 400 obras e destaca-se por selecionar não apenas artistas de grande relevância histórica, mas por buscar obras de especial significância na trajetória desses artistas.

No recorte realizado para a exposição – de uma coleção que abriga obras produzidas entre os séculos XVIII a XXI de nomes nacionais e estrangeiros – destaca-se a produção de artistas atuantes no Brasil ao longo do século XX, sob a ambivalência do modernismo, movimento tão discutido neste ano em que se comemora os 100 anos da Semana de Arte Moderna paulista.

As esculturas, pinturas e desenhos reunidos indicam a diversidade abarcada pela mostra.  Gualberto destaca obras conhecidas como Ídolo (1919) e Cabeça de Mulato (1934) de Victor Brecheret (1894-1955), Índia e Mulata (1934) de Cândido Portinari (1903-1962), além de trabalhos de Alfredo Volpi (1896-1988), Willys de Castro (1926-1988), Lygia Pape (1927-2004), Mary Vieira (1927-2001), Djanira da Motta e Silva (1914-1979), Chico da Silva (1910-1975) e Rubem Valentim (1922-1991). O curador acrescenta ainda nomes célebres da arte brasileira como Tarsila do Amaral (1886-1973), Anita Malfatti (1889-1964), Maria Martins (1894-1973) e um grande número de obras produzidas entre as décadas de 1950 e 1970. “Esse adensamento de produções também reflete um contingente bastante diverso de artistas, além de nos oferecer privilegiados pontos de observação das maneiras com que os valores modernos foram transformados e multiplicados na metade do século”.

Segundo a dupla de curadores, desde seu primeiro ambiente, a mostra compartilha enigmas sobre a formação da arte brasileira e seus profundos vínculos com o território e a nação. “São convites para que cada visitante encontre seus caminhos e hipóteses por essas montagens, encontrando o modernismo, suas consequências e desvios em estado de ebulição, com sua cronologia embaralhada, suas hierarquias em suspensão e com a constante possibilidade de encontrar retrocessos nos avanços e saltos adiante nos retornos. Uma forma de reacender o calor impregnado na fatura de cada uma das obras”, completam Tiago Gualberto e Paulo Miyada.

Foi neste contexto pensada a expografia de “Centelhas em Movimento”, construída com  painéis flutuantes e autoportantes, que colocam em relações de eco e contraste obras de artistas distintos, de momentos e contextos diferentes: retratos e fisionomias, com Ismael Nery, Di Cavalcanti, Brecheret, Da Costa, Segall; evocações cosmogônicas, com Antonio Bandeira e Antonio Dias, em contato com a Piedade barroca de Aleijadinho; paisagens, com Chico da Silva, Beatriz Milhazes, Manabu Mabe, Danilo Di Prete, Teruz; rupturas concretas ao lado de obras figurativas, com Volpi, Da Costa, Lygia Clark, Maria Leontina; parábolas conceituais que tangenciam sintaxes formais, com Sérvulo Esmeraldo, Mira Schendel, Sergio Camargo, Ivan Serpa; e cheios e vazios com Antonio Maluf, Luis Sacilotto, Ligia Pape, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Rubem Valentim. Como explica Tiago Gualberto: “Evitou-se a aplicação uniforme de organizações cronológicas dos trabalhos ou sua segmentação por autoria. O que certamente tornará a visita à exposição uma oportunidade de deflagrar nuances ou agitadas centelhas resultantes desses encontros”.

 

Sobre Igor Queiroz Barroso

O empresário Igor Queiroz Barroso é, atualmente, presidente do Conselho de Administração do Grupo Edson Queiroz, do Instituto Myra Eliane e da Junior Achievement do Ceará. Também coordena o Conselho do Lar Torres de Melo. Atuou, ainda, na criação do Memorial Edson Queiroz, em Cascavel, no Ceará.

Até 19 de abril de 2023.

 

 

Carlos Zilio na Fundação Iberê Camargo

05/dez

 

Artista carioca celebra 60 anos de trajetória com exposição inédita na Fundação Iberê Camargo. Aluno de Iberê Camargo no Instituto de Belas Artes, “Carlos Zilio: Pinturas” constituiu uma importante oportunidade de tomarmos contato com a produção de um artista fundamental da arte brasileira que soube, como poucos, traçar com rigor e coerência os vínculos entre vida, arte e política no Brasil e, ao mesmo tempo, trazer uma significativa reflexão sobre as contradições e os dilemas da pintura contemporânea

 

Carlos Zilio e Ibere Camargo – Arquivo Pessoal

No dia 10 de dezembro, a Fundação IberêCamargo, Porto Alegre, RS, inaugura a exposição “Carlos Zilio: Pinturas” que permanecerá em cartaz até 23 de fevereiro de 2023. Com reconhecimento no circuito nacional e internacional, Carlos Zilio teve sua pintura “Cerco e Morte” (1974) adquirida em 2014 para fazer parte do acervo do MoMA de Nova York. A obra integrou a exposição realizada pelo museu norte-americano Transmissions: Art in Eastern Europe and Latin America, 1960-1980, de setembro de 2015 a janeiro de 2016.

Com curadoria de Vanda Klabin, a mostra apresenta 33 trabalhos do acervo do próprio artista e de coleções particulares, que contextualizam e refletem sobre uma série de obras produzidas entre 1979 e 2022 com o propósito de discutir problemas específicos da própria pintura. Submete o seu olhar contemporâneo à diversidade da experiência cultural, a determinadas formulações plásticas e códigos visuais extraídos da iconografia histórica, realocando-os transfigurados em suas telas. Zilio reconfigura o passado recente fazendo uma espécie de arqueologia da memória da pintura universal e desestabiliza o olhar, pondo em xeque a linha evolutiva das imagens e, consequentemente, a história da arte, na mesma acepção proposta pelo filósofo francês Didi-Huberman, em “Devant le Temps”.

“Essa mostra revê a importante produção de Zilio ao longo de sua trajetória artística, que foi inicialmente marcada, nos anos 1960, pela investigação conceitual, pela experimentação e pela presença de objetos com contextualizações políticas. Após atravessar um longo período em que a sua arte engajada tinha como foco uma produção estética investida de um alto teor político, ele abandona o contexto experimental para se entregar ao exercício livre da pintura. O seu embate com a história da pintura como uma permanente indagação, com as suas tensões e contradições, fazem parte das questões fundamentais que delineiam o desenvolvimento interno de sua linguagem pictórica. A formação multidisciplinar com doutorado em arte na Universidade de Paris VIII, a fina erudição visual e o virtuosismo crítico consolidaram a sua efetiva presença na arte brasileira e fundamentaram conhecimento de um viés significativo no pensamento contemporâneo de arte no Brasil”, destaca Vanda Klabin, que por muitos anos trabalhou como coordenadora-adjunta de Carlos Zilio no curso de pós-graduação em História da Arte e Arquitetura na PUC-Rio.

Para Carlos Zilio, o que mais o atrai em seus antecessores é a maneira como eles captaram e sintetizaram toda a tradição da pintura universal: “Pintar passou a ser, para mim, pintar a pintura”. O gesto pulsante que emerge dessa pintura reflexiva confirma tanto a autonomia criativa quanto o amadurecimento de um pensamento lentamente gestado e exercitado pelo artista em seu ateliê no Cosme Velho, no Rio de Janeiro. Ele transita pela história da pintura, apropriando-se de códigos, estilos e gramáticas visuais que, por diversas razões, o instigam, como as cores orquestrais e elementos geometrizados de Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi, Alberto da Veiga Guignard; as questões plásticas de Paul Cézanne e Jasper Johns, determinados arabescos de Henri Matisse; a disjunção da pintura frontal de Henri Rousseau; a pintura planar de Piet Mondrian; a organização espacial de Barnett Newman; o minimalismo de Robert Ryman; a exuberância cromática de Mark Rothko, entre tantos outros.

Seus trabalhos recentes têm como tema central e recorrente a figura do tamanduá. Por conta de uma história familiar, a figura do tamanduá, animal de estimação de seu pai quando criança, tem uma natureza intrínseca, pois sempre aparece em queda nas suas representações e adquiriu um aspecto vivencial que sublinha a afetividade e a nostalgia. Mas também, segundo explica o artista, o tamanduá carrega o sentimento abismal da história, ou seja, uma representação à queda da história, das utopias. Os tamanduás rothkianos destacam uma outra camada de passado que se torna presente nesta arqueologia pictórica, explica Carlos Zilio. São uma espécie de laços inconscientes que se manifestam espontaneamente, cúmplices daquilo que quer expressar: uma modesta tentativa de estabelecer algum contato com as pinturas de Mark Rothko.

Carlos Zilio teve uma proximidade e intensa convivência com Iberê Camargo. Foi seu aluno de pintura no antigo Instituto de Belas Artes da GB (atual Escola de Artes Visuais do Parque Lage) de 1962 a 1964. Após um período de produção marcado pela Nova Figuração e a arte conceitual, o reencontro de Zilio com a obra do Iberê só ocorreu ao ver a exposição deste em 1979 na Galerie Debret, em Paris. Esse fato coincidiu com a data em que retomou a pintura como questão central da sua produção. Mais tarde, declarou que “a força e a atualidade de Iberê residem no aprofundamento de um antigo saber: a pintura”. Ele manteve um contato permanente com o pintor gaúcho mesmo após o retorno definitivo deste para Porto Alegre e ficou trabalhando no ateliê de seu antigo mestre em Laranjeiras por mais de duas décadas.

Conversa sobre a exposição – Ainda no sábado (10), acontece uma conversa sobre “Carlos Zilio: Pinturas”, com o próprio artista, a curadora Vanda Klabin e Ronaldo Brito, crítico de arte e professor do Departamento de História da PUC-Rio. O bate-papo ocorre às 17h, no auditório da Fundação.

 

Sobre o Artista

Carlos Zilio nasceu no Rio de Janeiro, 1944, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Estudou pintura com Iberê Camargo e participou de algumas das principais exposições brasileiras da década de 1960, como Opinião 66 e Nova Objetividade Brasileira, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e de mostras com repercussão internacional, entre elas as edições de 1967, 1989 e 2010 da Bienal de São Paulo (9ª, 20ª e a 29ª), a 10ª Bienal de Paris (1977), a Bienal do Mercosul e a exposição Tropicália, apresentada em Chicago, Londres, Nova York e Rio de Janeiro, em 2005. Na década de 1970 morou na França. Em seu retorno ao Brasil, em 1980, participou de diversas mostras coletivas e individuais, entre as quais Arte e Política 1966-1976, nos Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de São Paulo e da Bahia (1996 e 1997); Carlos Zilio, no Centro de Arte Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 2000) e Pinturas sobre papel, no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2005) e na Estação Pinacoteca (São Paulo, 2006).

As mais recentes exposições coletivas que integrou foram Brazil Imagine, no Astrup Fearnley Museet, Oslo, MAC Lyon, na França, Qatar Museum, em Doha, e DHC/Art, Montreal, no Canadá, e Possibilities of the object – Experiments in modern and Contemporary Brazilian art, na The Fruit Market Gallery, em Edinburgh. Dentre as mais recentes exposições individuais estão as realizadas no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (Curitiba, 2010), no Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo, 2010) e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2011). Em 2008, a editora Cosac Naify publicou o livro Carlos Zilio, organizado por Paulo Venâncio Filho. Possui trabalhos em acervos de prestigiosas instituições como MAC/USP, MAC/Paraná, MAC Niterói, MAM Rio de Janeiro, MAM São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo e MoMA de Nova York.

 

Sobre a Curadora

Vanda Klabin vive e trabalha no Rio de Janeiro. É graduada em Ciências Políticas e Sociais pela PUC-Rio (1967-1970) e em História da Arte pela Uerj (1975-1978) e pós-graduada em História da Arte e Arquitetura no Brasil pela PUC-Rio (1980-1981), onde atuou como coordenadora adjunta do curso (1983-1992) e editora da revista Gávea, do Departamento de História PUC-Rio (1983-2002). Foi diretora-geral do Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro (1996-2000), onde organizou diversas exposições de artistas brasileiros e estrangeiros, como Alberto Guignard, Angelo Venosa, Alferdo Volpi, Amilcar de Castro, Antonio Bokel, Antonio Dias, Antonio Manuel, Carlos Zilio, Daniel Feingold, Eduardo Sued, Guillermo Kuitca, Hélio Oiticica e a Cena Americana, Henrique Oliveira, Iberê Camargo, José Resende, Luciano Fabro, Mel Bochner, Mira Schendel, Nuno Ramos, René Machado, Richard Serra, entre outros. Também foi coordenadora adjunta da Mostra Nacional do Redescobrimento – Bienal 500 anos (São Paulo, 1999–2000) e curadora do módulo A vontade construtiva na arte brasileira, 1950/1960” e integrante da exposição Art in Brazil, no Festival Europalia, apresentada no Palais des Beaux Arts – Bozar (Bruxelas, 2011-2012).

A Fundação Iberê tem o patrocínio de Crown Brand-Building Packaging, Grupo Gerdau, Renner Coatings, Grupo Iesa, Grupo Savar, Grupo GPS, Itaú, CEEE Grupo Equatorial, DLL Group, Lojas Renner, Sulgás e Unifertil, e apoio de Instituto Ling, Ventos do Sul Energia, Dell Technologies, Digicon/Perto, Hilton Hotéis, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, com realização e financiamento da Secretaria Estadual de Cultura/ Pró-Cultura RS, Petrobras Cultural Múltiplas Expressões e da Secretaria Especial da Cultura – Ministério da Cidadania / Governo Federal.

Mostra na Sala Guido Arturo Palomba

21/out

 

Exposição organizada a partir do acervo de artes visuais da Associação Paulista de Medicina, Bela Vista, São Paulo, SP, e da coleção particular que reúne obras de treze dos mais expressivos artistas do Concretismo brasileiro e presta homenagem ao psiquiatra forense e diretor cultural da instituição. Com visitação gratuita e abertura em 26 de outubro, o público poderá conhecer 30 obras assinadas por nomes como Luiz Sacilotto, Judith Lauand, Hércules Barsotti, Jandyra Waters, Paulo Pasta, Arcângelo Ianelli, Bárbara Spanoudis, Ramon Cáceres e Maurício Nogueira Lima.

Com curadoria do historiador e crítico de arte Enock Sacramento, um dos maiores especialistas dessas vertentes modernistas da arte brasileira, a exposição inaugura a Sala Guido Arturo Palomba, espaço que presta homenagem ao psiquiatra forense, um dos mais renomados profissionais da medicina legal e diretor cultural da Pinacoteca da Associação Paulista de Medicina.

Deliberada em votação realizada pela diretoria da APM em 17 de janeiro de 2020, a renomeação da antiga Sala Contemporânea da Pinacoteca da APM reconhece os esforços de Guido Arturo Palomba, que, desde 1982, é um dos maiores entusiastas da preservação e da continuidade do espaço cultural paulistano dedicado às artes visuais, uma das grandes paixões do médico, que possui uma coleção predominantemente construtivista e, inclusive, doará e emprestará obras de seu acervo para a exposição.

 

Acervo em construção

A criação do acervo artístico da APM, na segunda metade da década de 1940, contou com o apoio inaugural do então presidente, dr. Jairo Ramos, em resposta aos anseios de médicos, artistas e críticos de arte que participavam de palestras e debates realizados na sede da instituição. Em 1949, dr. Ernesto Mendes, um dos diretores da APM, recebeu a incumbência de também dirigir a recém-criada Pinacoteca. Por meio de uma campanha de doações de associados que viabilizaram um fundo destinado a aquisições, 14 obras de artistas modernistas compuseram o núcleo inicial da coleção, reunindo trabalhos de, entre outros, Aldo Bonadei, Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Cândido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti, Francisco Rebolo Gonzáles, José Pancetti, Lasar Segall, Mário Zanini e Tarsila do Amaral.

Entre outras ações pontuais, na década de 1980, quando o cirurgião plástico e pintor Aldir Mendes de Souza tornou-se presidente da Associação Profissional dos Artistas Plásticos do Estado de São Paulo (APAP/SP), foi estabelecido um convênio entre a APAP, a APM e a Unimed Paulistana, mediante o qual os artistas receberiam um plano de saúde em troca de trabalhos doados à Pinacoteca da APM. Ao longo de três anos a parceria possibilitou ao acervo da Pinacoteca a inclusão de obras de, entre outros, Alex Flemming, Bernardo Krasniansky, Gilberto Salvador, Léon Ferrari, Lúcia Py, Maria Bonomi e Sonia von Brusky. Egressos desse acordo, trabalhos de Bárbara Spanoudis, Valdeir Maciel e do próprio Aldir Mendes de Souza integram a mostra “Diálogo Construtivo Paulista”. A partir dos anos 1990, com a atuação regular do dr. Guido Arturo Palomba na Pinacoteca da APM, novas iniciativas, como a cessão do espaço para a realização de mostras individuais e a publicação de catálogos de algumas das exposições, a coleção continuou a crescer com obras de Antônio Peticov, Cláudio Tozzi, Gregório Gruber, Inos Corradin, Ivald Granato e muitos outros. Hoje, o acervo da Pinacoteca da APM conta com cerca de 200 obras das mais variadas vertentes estéticas e cumpre importante valor histórico e cultural, com o acesso gratuito ao público paulistano, de outros estados e países.

Lisonjeado com a homenagem que receberá, e em meio à expectativa pela abertura da mostra “Diálogo Construtivo Paulista”, Guido Arturo Palomba faz um balanço de sua atuação na Pinacoteca da APM. “Estou no Departamento Cultural da APM desde 1982, portanto há 40 anos. Comecei como membro e, posteriormente, me tornei diretor cultural, cargo que exerci por várias gestões seguidas. Procurei dar o máximo, não somente à Pinacoteca, mas, de modo geral, à APM, que é minha casa desde os primeiros dias de formado até hoje. A Pinacoteca é a menina de meus olhos e a ela me dediquei e me dedicarei até quando não mais quiserem que eu lá permaneça”, afirma.

A realização da mostra também compreende ações educativas, como visitas guiadas para escolas públicas, sobretudo as da região central de São Paulo, e a publicação de um livro, com tiragem de 500 exemplares e versão eletrônica, que será disponibilizado gratuitamente para instituições culturais e das redes municipal e estadual de ensino.

Até 30 de novembro.

 

 

Arte Moderna na Metrópole

01/set

 

 

Entre 14 de setembro e 10 de dezembro, o Museu de Arte Moderna de São Paulo leva obras emblemáticas de seu acervo ao Instituto CPFL, Chácara Primavera, Campinas, SP. Com curadoria de José Armando Pereira da Silva, a mostra intitulada “Arte Moderna na Metrópole: 1947-1951 – Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo” convida o público a conhecer a consolidação da cultura modernista brasileira. Originalmente programada para ter início em abril de 2020, a exposição foi adiada em razão da pandemia da Covid-19.

 

A seleção eleita por José Armando traz 45 obras do acervo do Museu, assinadas por Aldo Bonadei, Alfredo Volpi, Bruno Giorgi, Clóvis Graciano, Emiliano Di Cavalcanti, Emídio de Souza, José Antônio da Silva, Lívio Abramo, Lucia Suané, Mário Zanini, Mick Carnicelli, Oswaldo Goeldi, Paulo Rossi Osir, Raphael Galvez, Rebolo Gonsales, Roger Van Rogger, Sérgio Milliet, Tarsila do Amaral e Victor Brecheret. Trata-se de uma retrospectiva de exposições ocorridas na Galeria Domus, ponto de referência no cenário artístico paulistano da primeira metade do século XX.

 

O Brasil passava pelo processo de redemocratização e nova constituição depois de 15 anos do governo de Getúlio Vargas, e São Paulo se consolidava na condição de metrópole com dois milhões de habitantes – ambiente propício para o surgimento de polos culturais.

 

Um ano antes da inauguração do mam, em 1947, nascia a Galeria Domus, espaço fundado pelo casal de imigrantes italianos Anna Maria Fiocca (1913 – 1994) e Pasquale Fiocca (1914 – 1994) cuja atuação contribuiu para impulsionar o mercado de arte moderna da época.

 

“Durante os cincos anos de funcionamento da galeria, o movimento artístico ganhou novas instâncias com a instalação do Museu de Arte de São Paulo, dos Museus de Arte Moderna no Rio e em São Paulo, da Bienal e dos Salões Paulista e Nacional de Arte Moderna. O panorama se diversificou com novas tendências. Esse dinamismo, que elevava alguns artistas da Domus para um nicho histórico, conduzia outros para o foco de debates”, explica o curador.

 

Gerente executiva do Instituto CPFL, Daniela Pagotto explica: “A arte é uma ferramenta de transformação de realidades, pois resgata a nossa identidade cultural e a nossa história. Vamos receber uma nova exposição, em parceria com o MAM São Paulo, para celebrar o centenário do modernismo no Brasil. Essa é uma importante programação para que a população da região metropolitana de Campinas visite as obras de grandes nomes deste movimento. Também teremos uma agenda de arte e educação voltada para atender escolas e grupos de visitas guiadas”.

 

“O espírito moderno que predominava na década de 1940 foi decisivo para a fundação do MAM e, agora, por meio desta parceria com o Instituto CPFL, lançamos um olhar ao passado para refletir acerca da função dos museus e das instituições artísticas na atualidade. Para ampliar a experiência da exposição, o MAM Educativo realizará diversas atividades abertas ao público, iniciativa que reitera o compromisso pedagógico do Museu também em suas itinerâncias”, afirma Elizabeth Machado, presidente do MAM São Paulo.

 

Exposição Coleção Luiz Carlos Ritter

30/ago

 

 

Tarsila do Amaral, Frans Post, Guignard, Portinari, Morandi, Renoir, Di Cavalcanti, Volpi, Pancetti, Lygia Clark e Helio Oiticica são alguns dos artistas com obras do colecionador gaúcho radicado no Rio de Janeiro, que agora chegam ao público em formato de livro e exposição na  Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, sob curadoria de Max Perlingeiro com visitação pública desde 05 a 24 de setembro.

 

A Pinakotheke Cultural, em sua sede do Rio de Janeiro, irá lançar, no próximo dia 05 de setembro de 2022, o livro Coleção Luiz Carlos Ritter (Edições Pinakotheke), bilíngue (português/inglês), com 304 páginas, formato 23cm x 31cm, e textos de Nélida Piñon, Ana Cristina Reis, Vanda Klabin, Clelio Alves, Ricardo Linhares, e uma conversa entre Max Perlingeiro – que organizou e planejou o livro e a exposição – ,e o colecionador Luiz Carlos Ritter.

 

De uma família de cervejeiros gaúchos – que fundaram em meados do século 19 duas das mais importantes cervejarias do Rio Grande do Sul – Luiz Carlos Ritter, que mora no Rio de Janeiro desde a infância, iniciou em 1983 uma coleção que atualmente soma centenas de obras, de grandes nomes da arte brasileira e internacional, bastante abrangente, do século 17 ao 21. Um dos maiores emprestadores de obras para exposições no Brasil e no exterior, Luiz Carlos Ritter agora torna público um conjunto expressivo de suas peças no livro editado pela Pinakotheke, com imagens e fichas técnicas de pinturas, desenhos, aquarelas e gravuras de grandes artistas, como Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti Candido Portinari, Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Candido Portinari, José Pancetti, além de nomes como Frans Post, Giorgio Morandi, Pierre-Auguste Renoir, e ainda de Lygia Clark e Hélio Oiticica.

 

O livro traz textos de amigos próximos e conhecedores de sua coleção, que inclui um jardim de esculturas em uma propriedade da família em Guarapari, Espírito Santo, com grandes nomes da arte.

 

Para marcar o lançamento do livro, a Pinakotheke montou uma exposição com 60 obras da Coleção Luiz Carlos Ritter. Seguindo as paixões do colecionador, a mostra terá flores e naturezas mortas de Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti, Alberto da Veiga Guignard, Candido Portinari, José Pancetti, Maria Leontina, Milton Dacosta, Victor Meirelles; e paisagens de Frans Post, Eliseu Visconti, Nicolau Antônio Facchinetti, Giovanni Battista Castagneto, João Batista da Costa.

 

O modernismo, outro núcleo importante da Coleção Luiz Ritter, é representado no livro e na exposição por obras de Guignard, Volpi, Portinari, Di Cavalcanti, e Flávio de Carvalho. Na categoria estrangeiros, estarão obras de Giorgio Morandi, Alfred Sisley, Joaquín Torres-García e Pierre-Auguste Renoir. A Coleção Luiz Ritter também tem importantes obras de artistas contemporâneos, como Lygia Clark e Hélio Oiticica, que também integram o livro e a mostra.

 

Gauchismo

 

Um capítulo do livro é dedicado a artistas gaúchos, que também terão obras expostas na Pinakotheke como Iberê Camargo e Pedro Weingärtner.

 

Em meio à Arte

 

Luiz Carlos Ritter cresceu em meio a obras de arte, graças a seus pais – a quem o livro é dedicado – que embora não fossem colecionadores tinham boas obras, adquiridas no pós-guerra. Pancetti, Guignard, o gaúcho Angelo Guido, e até mesmo uma escultura de Aleijadinho, exibido pela primeira vez na exposição “Imagens do Aleijadinho”, no Museu de Arte de São Paulo, em 2018, eram artistas com quem ele “conviveu”.

 

Primeiro quadro

 

O primeiro quadro que marcou o futuro colecionador, e que o “acompanha até hoje”, é “Paisagem de Sete Lagoas”, do pintor mineiro Inimá de Paula. Passando em frente à Galeria Bonino, na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana, em 1983, Luiz Carlos Ritter foi atraído pela montagem de uma exposição, e esta pintura estava sendo instalada na vitrine. Ele voltou à noite, para a abertura da exposição, e conversou muito com a proprietária da galeria, Giovana Bonino. Como o quadro era muito caro para ele à época, “ela me financiou”. “É curioso porque da primeira obra o colecionador nunca esquece, nos mínimos detalhes.

 

Flores

 

A convivência com os avós paternos despertou no menino Luiz Carlos o interesse por flores. Após dois anos de tratamento de tuberculose em um sanatório suíço, o avô paterno, na casa dos quarenta anos, comprou uma chácara afastada da capital, onde o neto, já morando com a família no Rio de Janeiro, passava boa parte de suas férias escolares. Fazia parte da rotina acompanhar o avô “diariamente em suas lides jardineiras”. “Vi meu avô plantando e cultivando muitas flores de clima temperado, algumas inexistentes no Rio de Janeiro, além de árvores frutíferas para a alegria dos passarinhos. Eu ficava dez dias grudado nele, autêntica referência. Isso aconteceu dos meus seis aos dez anos, quando ele faleceu. Depois continuei indo lá visitar a avó e conheci ainda mais flores e árvores floríferas e frutíferas. Lembro-me também de um fato curioso anterior. Quando bem menino, ainda em Porto Alegre, acho que entre meus três e quatro anos, adoeci gravemente e recebia a visita desses avós, que invariavelmente me traziam um pequeno vaso de amor-perfeito, que passou a ser minha flor favorita. Bem mais tarde, tive a alegria de poder adquirir um óleo de Guignard com “amores-perfeitos’”, conta Luiz Carlos Ritter. Para Max Perlingeiro, a Coleção Luiz Carlos Ritter é como uma “coleção viva, em constante mutação”.

 

Sobre a Pinakotheke

 

A Pinakotheke já editou livros sobre as coleções Roberto Marinho, Cultura Inglesa, Aldo Franco, Airton Queiroz, Fundação Edson Queiroz, e ainda este ano publicará um livro dedicado à Coleção Igor Queiroz Barroso.

Livro Coleção Luiz Carlos Ritter – Ficha técnica

Bilíngue (português/inglês), 304 páginas, formato 23cm x 31cm – Edições Pinakotheke, 2022

Autores: Nélida Piñon, Ana Cristina Reis, Vanda Klabin, Clelio Alves, Ricardo Linhares, e uma conversa entre Max Perlingeiro e Luiz Carlos Ritter.

Organização e Planejamento: Max Perlingeiro – Publisher: Camila Perlingeiro

Preço: R$180

 

O livro estará disponível nas lojas da Livraria Travessa e Martins Fontes de todo o país, além da Amazon e das sedes da Pinakotheke, no Rio de Janeiro, São Paulo e Fortaleza (Multiarte).