O design da periferia

22/jan

Depois de realizar exposições sobre as artes popular (2010) e indígena (2011), propulsoras da formação dos respectivos acervos para o Pavilhão das Culturas Brasileiras, a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo agora faz o mapeamento de uma produção que também não surge da erudição, mas da capacidade de invenção do povo brasileiro. A mostra “Design da periferia”, no Pavilhão das Culturas, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, com a curadoria de Adélia Borges, é o resultado de pesquisas pelo Brasil por cidades e comunidades que exibem preciosas lições de design.Todas as obras e fotografias apresentadas na exposição integram o acervo do Pavilhão das Culturas Brasileiras

 

Segundo a curadora, por trás da precariedade de vida da maioria dos brasileiros encontram-se soluções geniais, manifestações inequívocas de sabedoria criativa, em artefatos feitos pelo povo para uso em seu cotidiano.

 

Com cenografia do arquiteto Marko Brajovic e produção da Arx Gestão Cultural, a mostra, com objetos, fotografias e vídeos, está dividida em quatro módulos: “Rua” recebe os empreendimentos que ocupam o espaço urbano, os vendedores ambulantes, carroceiros de sucata, anúncios gráficos, modo de expor produtos; “Casa” destaca as invenções domésticas que, nas camadas populares, confundem-se com a área coletiva; “Corpo” identifica a expressão do vestir, do pentear; e “Brincadeiras” que traz engenhosas releituras do tradicional universo infantil.

 

Churrasqueiras feitas de calotas velhas de pneus, postos de trabalho de vendedores ambulantes, móveis e brinquedos elaborados por pessoas simples a partir de materiais e técnicas disponíveis no lugar em que vivem são alguns dos objetos que estão na exposição. Ao lado de peças sem assinaturas, há algumas de “designers-artistas”, como Getúlio Damado, do bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro; José Maurício dos Santos, de Juazeiro do Norte, Ceará; Fernando Rodrigues, da Ilha do Ferro, município de Pão de Açúcar, Alagoas; José Francisco da Cunha Filho, de Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco; e Espedito Seleiro, de Nova Olinda, Ceará.

 

Os ensaios fotográficos captam alguns momentos de expressão da criatividade popular. O fotógrafo baiano Adenor Gondim mostra os móveis que eram utilizados nas barracas de festas nas ruas de Salvador, com seus grafismos em composições geométricas. Titus Riedl, fotógrafo e historiador alemão radicado no Crato, no Ceará, apresenta a ambiência urbana utilizada na venda de toda a sorte de produtos no Crato e em Juazeiro do Norte.  Já Fernanda Martins, designer paulistana moradora de Belém, fotografa os letreiros dos barcos de várias cidades amazônicas.

 

De 25 de janeiro a 29 de julho.

Paulo Meira e Carolina Martinez

18/jan

Como é de praxe, a galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta simultaneamente dois artistas. Os escolhidos para a abertura da temporada 2013 são: Paulo Meira e Carolina Martinez.

 

Paulo Meira apresenta sua exposição individual “La cumparsita”, composta de pinturas e um vídeo performance. As pinturas de “La cumparsita” representam diversos personagens, em estilo clássico do gênero “pintura de retrato” (óleo sobre tela em dimensões variadas), em metamorfoses de seres humanos e animais selvagens. O antropomorfismo, nas pinturas de “La cumparsita” decorre inicialmente da exploração exaustiva da própria imagem do homem, num exame cruel de suas possibilidades através da combinação da figura humana com uma infinidade de outros seres.

 

No vídeo “La cumparsita”, um homem dança ao som de “La cumparsita”, tango dos mais conhecidos de Carlos Gardel, tendo como parceria, um compasso de dimensões alteradas (medindo 1,78 metros).

 

A dança, que ocorre em diversos ambientes, sugere uma íntima relação entre o homem e o “seu” objeto técnico (o compasso gigante). De tal intimidade, emerge a perversão própria desta relação, na qual o dançarino, ao compactuar com o compasso, distorce e reloca o destino que o funda: entre as funções de um compasso, destaca-se a leitura de mapas e cartas náuticas para calcular equivalências entre tempo e espaço de deslocamentos. Ora, em “La cumparsita” a dança executada com esse instrumento de precisão, como se vê no vídeo, compactua antes com a arte, pois desafia a ordem de um mesmo e preciso compasso.

 

Carolina Martinez no Anexo

 

Aproveitando-se do formato de cubo branco e da falta de janelas do Anexo, a exposição de “Às avessas”, individual de Carolina Martinez assume uma engenhosa e delicada operação metafórica: trazer o exterior para dentro de uma casa. Deslocando a imagem do cubo como lugar expositivo para a de um cômodo, a artista confunde a nossa percepção sobre o espaço. É um cômodo/casa às avessas. Suas pinturas alegoricamente transformam-se em fachadas ou janelas, não apenas pelo fato do objeto (pintura) possuir um tamanho aproximado de janela mas pelo que ilustra ou exibe: são persianas, beirais, correspondências imagéticas à ideia de exterioridade. Porém ao mesmo tempo em que “exibe”, a obra de Martinez oculta. São janelas que não se abrem ao exterior mas que mimetizam a ideia de um outro lugar. Não há nada para ser visto, apenas imaginação, especulação. Contudo, há um investimento romântico nesse trabalho que nos leva a acreditar que naquele fragmento, em um pedaço metafórico de paisagem, pode estar o todo, e que essa experiência não pode ser desqualificada por uma racionalidade inibidora.

 

A ilusão óptica que habita suas primeiras pinturas – uma suave combinação entre tinta automotiva e verniz sobre madeira – criando uma dualidade entre a ideia de figura e fundo é transferida para esse ambiente instalativo. Estes trabalhos possuem pontos de contato com os Espaços virtuais: Cantos (1967-68) e os Volumes virtuais (1968-69) de Cildo Meireles. Tal como esses últimos, as obras de Martinez são “desenhos” que utilizam três planos para definir uma figura no espaço. Ademais, cada um dos dois artistas a seu modo, realiza a transição do espaço bidimensional para um ambiente escultórico que se assemelha a uma casa. Paira sobre essas obras uma inversão das escalas. No caso de Martinez, o cubo/quarto/cômodo vira casa; o rodapé deixa de lado a sua insignificância e passa a ser o eixo central constituindo perímetros, áreas ou cantos de sólidos assim como ocorre nos Volumes Virtuais; e, finalmente a natureza é reduzida ou ampliada dependendo de como o espectador investe o seu olhar para o território criado pelas linhas econômicas, suaves e delicadas de suas pinturas.

 

A linha que atravessa a exposição – presentificada no rodapé que perde a sua função utilitária e ganha corpo, volume e massa adquirindo por si só um estatuto escultórico – é aquela presente nas obras pictóricas de Martinez. O rodapé que foge ao controle da racionalidade significa a transposição de sua pesquisa pictórica para a tridimensionalidade. Ao mesmo tempo em que a artista constrói um espaço que ao invés de oferecer a paisagem ao espectador encerra-se nele mesmo (estão ali contidos a casa, a paisagem e a arquitetura), tudo na exposição está em movimento. Não são, portanto, imagens ou objetos estacionários, mas em constante trânsito. Figuram paradoxalmente entre a máxima presença e a máxima ausência.

 

O artificial e o real, o inventado e o concreto, o original e a cópia, a imagem e seu referente não “se dividem mais segundo uma dicotomia serena, mas mantêm relações fluidas” (1), que abrem caminho a um pensamento do verossímil. “Às avessas” nos revela que a realidade não é mais exatamente a mesma: ela é duplicada, confrontada, e reforçada pela ficção.

 

(1) Cauquelin, Anne. A invenção da paisagem. São Paulo: Martins, 2007, p. 109.

 

De 22 de janeiro a 28 de fevereiro.

Rubem Grilo em Fortaleza

16/jan

A exposição “Rubem Grilo em duas dimensões”, na Galeria MULTIARTE, Fortaleza, Ceará, apresenta dois momentos do artista. O primeiro abrange o intervalo de 1972 a 1984 – época de formação e amadurecimento – e, o outro, composto por duas séries miniaturas. Todas as obras são xilogravuras, a técnica de impressão gráfica utilizando a madeira gravada como matriz. A exposição é composta de um número significativo de obras: 154 gravuras.

 

As 22 obras em formatos maiores (1972 -1984) permitem uma visão retrospectiva, ao pontuar a trajetória com trabalhos que refletem as mudanças que se sucedem ao longo desse período. As obras realizadas em 1972 e 1973 são peças inéditas. Pertencem ao estágio de iniciação cujas referências absorvem as raízes do Expressionismo e da xilografia popular como dois parâmetros estéticos determinantes nos procedimentos dessa mídia, enraizados na cultura nacional a partir do Modernismo.

 

As xilogravuras em formatos miniaturas apresentam-se em duas séries: “Capilares” e “Objetos Imaturos”. Capitular é a primeira letra, com tratamento decorativo, que aparece nos manuscritos medievais, e, é largamente utilizada na tipografia. A capitular como os demais ornatos tipográficos: vinhetas, frisos, etc., têm vínculos diretos com a xilogravura, que é a técnica utilizada na origem da impressão de textos e imagens. “Objetos Imaturos” são utilitários anômalos, a partir de sapatos, cadeiras, bengalas, copos, tesouras, etc. As obras são desenvolvidas considerando que o humor, inerente na concepção dessas obras, aflora na compreensão do erro. A exposição da Galeria MULTIARTE acontece simultaneamente com outra exposição do artista na Caixa Cultural Fortaleza, o que fortalece sua presença na cidade. A Galeria MULTIARTE, ao optar em mostrar obras pertencentes a outros estágios, soma e complementa o conhecimento deste artista, considerado um dos mais importantes gravadores vivos do país.

 

A exposição estabelece contrapontos: nos formatos das obras, nas fases presentes e  ao se propor complementar. A escala de uma obra induz solucionar questões específicas de ocupação do espaço e sobre a representação temática. Ao sair de um formato maior para um espaço minúsculo surge de imediato a descontinuidade e a necessidade de síntese que podem servir com uma oportunidade de revisão e de escolha. As obras em miniaturas pertencem a esse momento de inventário, de abertura temática, sem hierarquização, em benefício do prazer lúdico e poético.

 

Sobre o artista

 

Nascido em Pouso Alegre, Minas Gerais, em 1946. Realizou suas primeiras xilogravuras em 1971. Ilustrou diversos jornais de 1973 a 1985, ano em que publicou o livro Grilo xilogravuras (Circo Editorial). Desde então, dedica-se essencialmente à sua obra, tendo realizado cerca de sessenta mostras individuais no Brasil e no exterior, bem como tomado parte de aproximadamente cem e vinte exposições coletivas, entre as quais se destacam as participações na Bienal de São Paulo em 1985 e 1998. Entre os prêmios recebidos, encontram-se o 2º prêmio da Xylon Internacional, Suíça, em 1990, o Golfinho de Ouro do Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro em 2002 e o Prêmio de Artes Plásticas  Marcantonio Vilaça – Ministério da Cultura Funarte, em 2010, referente à aquisição de 500 obras  para o acervo do MNBA- RJ. Obras suas podem ser vistas nas revistas Graphis e Who’s Who in Art Graphic (Suíça), Novum Gerbrauchs­grafik (Alemanha), Print (Estados Unidos) e Idea (Japão). Foi curador das exposições Pensar gráfico (Paço Imperial, 1998), Mostra Rio Gravura (1999) e Impressões – Panorama da Xilogravura Brasileira (Santander Cultural, 2004). Vive e trabalha no Rio de Janeiro

 

De 16 de janeiro a 08 de fevereiro.

Adriana Varejão no MAM-Rio

Depois de levar mais de 60 mil pessoas ao MAM paulista, a aclamada mostra “Histórias às margens” – a primeira panorâmica da carreira de Adriana Varejão – desembarca no MAM-RIO, Centro, Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ. O curador Adriano Pedrosa assina a seleção de aproximadamente 40 obras concebidas pela artista nos últimos 21 anos, que ocupam o foyer e a sala monumental do museu. Em sua trajetória de pouco mais de duas décadas, a artista carioca construiu uma das mais sólidas carreiras entre os artistas de sua geração, com amplo reconhecimento no circuito internacional. Seus trabalhos integram o acervo de grandes museus e instituições mundiais, frequentam as páginas de cultura de prestigiosas publicações internacionais e já foram exibidos em quase 30 exposições individuais realizadas no Brasil e no exterior. A mostra, viaja em seguida para Buenos Aires, onde faz temporada no Malba – a primeira individual da artista na capital argentina – de 27 de março a 08 de junho de 2013.

 

“Histórias às margens” inclui peças nunca antes expostas no Rio de Janeiro, como as obras “O Sedutor”, emprestada pela Fundació “La Caixa” (Barcelona), e “Parede com Incisões à la Fontana”, homônima à pintura da mesma série leiloada no início de 2011, na Christie’s de Londres, além de cinco outras que não fizeram parte da mostra no MAM-SP: “Green sauna”, “Pérola imperfeita”, “Contingente” e “Canibal e nostálgica”.

 

A produção de Adriana Varejão é particularmente rica em referências. Uma das obras mais expressivas de sua trajetória, “Reflexo de sonhos no sonho de outro espelho” (Estudo sobre o Tiradentes de Pedro Américo), de 1998, é um exemplo disso. A instalação, composta por 21 pinturas, constitui uma releitura da pintura “Tiradentes Esquartejado”, de Pedro Américo (1843-1905). O trabalho foi feito para a Bienal Internacional de São Paulo daquele ano (que teve curadoria de Paulo Herkenhoff e segue sendo considerada uma das melhores bienais da história) e desde então nunca mais foi exibido – o que acontecerá agora, ao lado de duas obras da série “Extirpação do Mal”, que estiveram na Bienal de 1994.

 

Esse conjunto ilustra bem o conceito que Pedrosa formatou para a primeira mostra panorâmica da artista. “Histórias às margens”, na definição do curador, são “histórias marginais, muitas vezes esquecidas ou colocadas às margens pela história tradicional, sejam elas histórias do Brasil, de Portugal, da China, da arte, do Barroco, da colonização; histórias que Varejão pesquisa, resgata e entrecruza em suas pinturas”.

 

Bons exemplos desses diálogos estão nas peças preparadas especialmente para a exposição. Em uma delas, uma extensa pintura da Baía de Guanabara num estilo chinês, a artista retoma uma série começada em 1992, quando, impressionada pela influência da arte chinesa no barroco brasileiro, passou três meses no país asiático.

 

Foi também inspirada na cerâmica chinesa, especialmente na da dinastia Song (960-1279), que Varejão começou a se interessar pelas superfícies craqueladas. Efeito presente em muitas de suas fases e bastante visíveis no maior trabalho da mostra, o painel inédito “Carnívoras”, composto por 39 pinturas de um metro quadrado cada. A obra reproduz plantas carnívoras de diversas partes do mundo, pintadas em vermelho sobre telas cujas superfícies remetem à textura de azulejos.

 

Neste políptico, a artista retoma a poética de um trabalho realizado para o Panorama da Arte Brasileira, do próprio MAM-SP, em 2003, no qual criou azulejos decorados com plantas alucinógenas. Estas criações em cerâmica podem atualmente ser vistas, junto com outras obras de sua autoria, no pavilhão permanente que o Instituto de Arte Contemporânea de Inhotim, em Brumadinho, lhe dedicou.

 

Sobre a artista

 

O envolvimento real de Adriana Varejão com o universo das artes começou com os cursos que fez na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, em meados dos anos 80. Nessa época, a artista nascida em Ipanema (RJ), em 1964, ganha o prêmio do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas.

 

Em 1988, ela realiza a primeira de muitas exposições individuais. Uma lista que inclui mostras na Holanda, Suécia, Inglaterra, EUA e Japão, e exposições marcantes como Chambre d’échos / Câmara de ecos, que estreou na Fondation Cartier de Paris, em 2005, e itinerou para Portugal e Espanha. Considerando as mostras coletivas mais importantes, a artista já participou de mais de cem exposições, entre elas as Bienais de São Paulo de 1994 e 1998, a de Johanesburgo (1995), de Liverpool (2000 e 2006), Sydney (2001), Praga (2003), Santa Fé (2004), MERCOSUL (2005), Bucareste (2008) e da de Istambul (2011).

 

Seu trabalho pode ser visto no Centro de Arte Contemporânea de Inhotim (Brumadinho, MG), onde têm um pavilhão permanente, e está em coleções como TateModern (Londres), Guggenheim (Nova York), Stedelijk Museum (Amsterdã) e Hara Museum (Tóquio). Além de ter a obra registrada em inúmeros catálogos, e em livros importantes sobre arte contemporânea, como Vitamin P e Fresh Cream (ambos da editora inglesa Phaidon) e Women Artists in the 20th and 21st Century (editora Taschen), Varejão é tema da monografia Entre Mares e Carnes, da editora Cobogó (2009). Mais recentemente, seu trabalho foi tema de um ensaio de oito páginas na edição de janeiro de 2012 da revista ArtForum, escrito por Carol Armstrong.

 

“Essa é uma pintura de espessuras. Aliás, de muitas dimensões da espessura. Compreender o corpo da pintura é também compreender a possível dor da pintura e não abdicar de sua sensualidade e de seus fantasmas. A espessura aqui compreende amplamente, não apenas a materialidade, mas também a densidade simbólica do discurso pictórico. A obra de Adriana Varejão é o exercício de uma intrincada cartografia que vai da China a Ouro Preto, entre a imagem de um portulano e os signos da pintura, do corpo à história. É uma coleta de significantes aparentemente dispersos, que recebem uma conexão dentro de uma lógica das cenas construídas pela artista numa teatralização da história.”

Paulo Herkenhoff (trecho de texto do catálogo da mostra “Pintura/Sutura”, 1996).

 

“Trazendo o Barroco para a cena contemporânea, Varejão repõe na ordem do dia uma pintura que não teme o artifício, a ilusão, o jogo delirante e sensual com a aparência”.  

Luiz Camillo Osório (texto do livro “Entre Carnes e Mares”2009, editora Cobogó).

 

“O espaço de representação pictórica proposto por Adriana Varejão visa a angariar o olhar plurívoco do espectador, que o teatro e o cinema costumeiramente exigem dele, a fim de que presencie imagens em movimento que correm à cata, num palco ou tela, duma performance discursiva. No entanto, no caso de Adriana, o processo de encenação torna de tal modo excessivo o peso simultâneo da imagem compósita, que leva esta a deslegitimar a exigência propriamente discursiva das encenações conduzidas pela sucessão temporal de imagens. Há narrativa nas telas de Adriana, embora nelas não haja discurso, no sentido linguístico da palavra.”

Silviano Santiago (do livro Entre Carnes e Mares).

 

 

De 16 de janeiro  a 10 de março.

Na Sala A Contemporânea | CCBB, RJ

14/jan

A Sala A Contemporânea do CCBB, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura, a individual “Zona Temporária”, da artista mineira Cinthia Marcelle, ganhadora dos prêmios Future Generation Art Prize, Ucrânia (2010), Annual Gasworks/TrAIN artist in residency, Inglaterra (2009), International Prize for Performance, Trento, Itália (2006) e V Mostra do Programa de Exposições, CCSP, Brasil (2005).

 

“Zona temporária” reúne dez vitrines de alumínio, de 220 x 150 x 25 cm, vedadas com papéis de cores variadas – branco, cinza, pardo, laranja, rosa, instaladas de forma não linear, ocupando os 150 metros quadrados deste espaço expositivo do CCBB. Individualmente intitulados “Temporário”, os trabalhos foram pensados para serem expostos em conjunto. Esta é a primeira vez que a artista realiza o projeto em sua totalidade.

 

Completa a mostra, centrada na ideia de crise e estagnação econômicas, o vídeo inédito “Automóvel”, de 2012, no qual “o ritmo cotidiano de uma via de trânsito se revela, subitamente, um trabalho de Sísifo”, descreve a artista. Na mitologia grega, Sísifo se tornou conhecido por executar um trabalho rotineiro e cansativo.

 

A inspiração de “Zona temporária” partiu da estética das vitrines provisoriamente desativadas de centros urbanos. O primeiro trabalho desta série data de 2011, mas a artista começou a fotografar fachadas temporárias em 2006, em Havana, quando esteve em Cuba para participar da bienal naquele ano. A partir daí, registrou vitrines cobertas em Londres, Nova York, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, sua cidade natal, onde vive e trabalha. As fotos funcionaram como arquivos e objetos de pesquisa.

 

Cinthia Marcelle quis deslocar e transformar esse gesto improvisado das ruas, uma paisagem urbana, para a galeria de arte, convertendo-o em aparência mais plástica, de geometria e cor. As vitrines são cobertas por camadas de papéis superpostos, presos por fitas adesivas camufladas, diferente do que acontece na ruas, onde não há essa estetização e pode-se ver as fitas. Os planos de papel construídos pela artista criam uma relação histórica com a pintura geométrica e o neoconcretismo. Os gestos nunca se repetem. Cada vitrine é única.

 

Sendo uma situação temporária, o material é de baixo custo, tal como nesta mostra. Cinthia Marcelle usa papel kraft, papel manilha, papelão etc, conforme eles são encontrados à venda, às vezes afetados pelo tempo. Ela descreve a colocação do papel como “um malabarismo”, pois a vitrine é fechada, e só através da porta de correr, a artista consegue estruturar as camadas desse material. Na sala de exposição, as peças, que têm luz fluorescente por dentro, viram uma espécie de barreira na relação com o espectador. Não se vê o que há dentro, em razão da opacidade do papel.

 

Sobre a artista

 

Cinthia Marcelle nasceu em Belo Horizonte, em 1974. É formada em Belas Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais. Entre as mostras de que participou destacam-se a do Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte (2005), a Bienal de Havana de 2006, Bienal de Lyon, França (2007), Panorama da Arte Brasileira, São Paulo e Madri (2007-2008), 29ª Bienal Internacional de São Paulo (2010), Pinchuk Art Center, Kiev, Ucrânia (2011), Tate Modern, Londres (2012), Trienal do New Museum (2012), Dundee Contemporary Art, Escócia (2012), “Prelúdio: O interior está no exterior”, Casa de Vidro, São Paulo, (2012). A produção da artista transita por linguagens diversas, como o desenho, a fotografia, o vídeo e a performance. De setembro a dezembro de 2012, teve individual com cinco de seus vídeos no projeto “High Line Art”, em Nova York.

 

De 15 de janeiro a 17 de fevereiro.

Reabertura no MNBA

10/jan

 

Depois de passar por reformas estruturais em meados deste ano, reabre uma das principais mostras permanentes do Museu Nacional de Belas Artes, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Situada no 3º Piso a Galeria de Arte Brasileira Moderna e Contemporânea do MNBA abriga uma das raras mostras no Brasil onde se pode descortinar, num mesmo espaço, todo um percurso artístico que vai do inicio do século XX até o contemporâneo.

 

Na nova exposição da Galeria de Arte Brasileira Moderna e Contemporânea foram incluídas obras, a maior parte doações, como “Retrato de Yedda Schmidt” (esposa do falecido empresário Augusto Frederico Schmidt, poeta e dono do supermercado Disco, ghost-writter de Juscelino Kubitchek, etc), de Candido Portinari; telas de Willys de Castro, Décio Vieira, João Fahrion, Timóteo da Costa, Alex Flemming, gravuras de Maria Bonomi, Fayga Ostrower, e Gilvan Samico; e esculturas de Celso Antonio, entre vários outros.

 

Superando a mostra anterior, antes o espaço abrigava 180 trabalhos, agora serão 205 obras em exposição. Possuindo 1.800 metros quadrados, divididos em dois andares, a Galeria de Arte Brasileira Moderna e Contemporânea apresentará no primeiro andar o movimento da “Abstração na gravura”, com destaque para obras de Fayga Ostrower, Anna Bella Geiger, Rossini Perez, Artur Luiz Piza, Dora Basílio, Edith Behring, Anna Letycia, entre outros. No segundo andar artistas como Gilvan Samico, Maria Bonomi, Leonilson, Carlos Martins, Adir Botelho, Rubem Grilo, Claudio Mubarac e Fernando Vilela, se reunirão aos outros artistas representando a importância da gravura na produção artística brasileira das décadas de 1980 a contemporaneidade.
Na tocante às esculturas, novas peças também serão apresentadas, de artistas como Farnese de Andrade, Celso Antonio, Rubens Gerchman, Zelia Salgado, Abraham Palatnik e um bronze de Paulo Mazzucchelli.

 

Os novos trabalhos completam a coleção anterior que volta a exibir autores como: Manabu Mabe, Iberê Camargo, Beatriz Milhazes, Eliseu Visconti, Di Cavalcanti, Jorge Guinle Filho, Tarsila do Amaral, Carlos Oswald, Gonçalo Ivo, Mauricio Bentes, Amílcar de Castro, Pancetti, Guignard, Tomie Ohtake, Marcos Coelho Benjamin e Antonio Henrique Amaral.

 

A partir de 10 de janeiro (em exibição permanente).

Presença de Rubens Mano

07/jan

 

Na exposição “corte e retenção”, em cartaz na Casa da Imagem, São Paulo, SP, Rubens Mano apresenta uma instalação no Beco do Pinto, 13 fotografias e um vídeo de curta duração. O material foi criado a partir de uma ação comandada pela prefeitura, que destruiu grande parte das caixas de madeira usadas para o transporte de hortifrutis no Ceasa, em São Paulo. A partir desse episódio, o artista aborda questões referentes às dinâmicas visíveis e e invisíveis presentes na produção do espaço físico da cidade.

 

A palavra de Guilherme Wisnik

 

Apropriando-se poeticamente dessas caixas como ready-mades urbanos, Rubens Mano cria uma grande montanha que obstaculiza a passagem. E se as pilhas originais, tal como vemos nas fotos, se escoravam em espaços estreitos de calçadas contra muros descascados, envolvendo postes e árvores, no Beco do Pinto o artista cria um volume profundo e impenetrável, e autônomo enquanto forma geométrica e cargas portantes. Assim, enquanto o corte no primeiro caso está associado à destruição e remoção das caixas, no segundo ele reaparece como interrupção de um fluxo através das mesmas caixas, em uma espécie de retorno simbólico do reprimido, para falar em termos psicanalíticos. Sendo o trabalho de arte uma ação física real, é como se a dinâmica de transformação de uma parte da cidade ativasse involuntariamente processos em outros locais, reaparecendo então como enigma, e sem deixar de trazer também, nela inscrita, uma componente de violência surda.

 

Quase no pé do antigo Colégio dos Jesuítas, o Beco do Pinto é uma das vielas íngremes construídas para conectar a colina histórica da cidade à baixada do rio Tamaduateí, onde se situa, significativamente, a primeira Zona Cerealista de São Paulo. Fechado por um portão, o Beco já está hoje interditado ao livre trânsito entre essas áreas, deixando de ser um espaço público. Assim, ao edificar uma rigorosa trama de caixas entre a antiga Casa no 1 da cidade e o Solar da Marquesa de Santos, Rubens Mano conecta discursivamente elos invisíveis da metrópole, ainda que na forma física de uma obstrução. Um bloqueio que também funciona como elemento de conexão.

 

Até 31 de maio.

Di Cavalcanti, retrospectiva no MON

29/dez

 

Para continuar com as comemorações de uma década do Museu Oscar Niemeyer, MON, Curitiba, Paraná, encontra-se em cartaz a exposição “Di Cavalcanti, Brasil e Modernismo”. A mostra é uma retrospectiva de um dos mais expressivos artistas do período modernista da arte brasileira, que retratou o povo e a cultura do nosso país. Aproximadamente 80 obras, divididas entre trabalhos sobre tela, papel, desenhos e aquarelas, estão na mostra e retratam a intimidade e a vertente lírica do pintor e desenhista carioca. O curador Olívio Tavares realizou uma seleção dos trabalhos mais significativos do artista presentes tanto em acervos museológicos do Brasil quanto em coleções particulares.

 

Sobre o artista

 

A carreira artística de Di Cavalcanti se iniciou em 1914, quando aos 13 anos publicou, na Revista FON-FON, no Rio de Janeiro, sua primeira caricatura. Foi morar em São Paulo para estudar Direito e acabou atuando como jornalista no jornal O Estado de São Paulo. Aos 20 anos, começou sua produção como pintor e no mesmo ano fez sua primeira exposição individual. Di Cavalcanti foi também um dos organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922.

Abre Alas 9

23/dez

A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a 9ª edição do “Abre Alas”. O projeto nasceu ao final do primeiro ano de vida da galeria quando Marcio Botner, Laura Lima e Ernesto Neto, diretores do espaço, perceberam que tinham um tesouro em mãos: cerca de 200 portfólios recebidos de artistas de toda parte. Resolveram então aproveitar todo esse material em uma exposição que acontece desde 2005, próxima ao carnaval. Assim como o nome “Abre Alas” remete ao carro que inaugura o desfile das escolas de Samba, o projeto “Abre Alas” é uma exposição que abre espaço para jovens artistas de todo o Brasil. Com o tempo, a exposição passou a ser internacional. Ao longo desses 9 anos, mais de 100 novos nomes participaram do projeto que acaba funcionando como uma vitrine.

 

Sabendo da importância de dar continuidade ao projeto para sedimentar seu pensamento, Marcio Botner, Laura Lima e Ernesto Neto buscam incentivar a produção desses jovens artistas, abrindo oportunidades e contribuindo para uma potencialização das redes e trocas entre artistas, galerias, colecionadores e público. Desde 2010 dois curadores e um artista são convidados para realizar a seleção dos expositores,  esse ano fizeram parte do comitê de seleção, Daniela Castro e os artistas e professores João Modé e Alexandre Sá.

 

Participam da 9ª edição os artistas Bet Katona, Bruno Baptistelli, Bruno Senise, Camila Soato, Fábia Schnoor, Frederico Filippi, Gabriel Secchin, Gustavo Torezan, Ícaro Lira, Jaime Lauriano, Juan Parada, Leonardo Akio, Oscar Barbery, Patricio Gil Flood, Rafael Perpétuo, RG Faleiros e Silvio de Camilis Borges

 

Em 2011 foi realizado o primeiro concurso de fantasia durante abertura do Abre-Alas. Dando continuidade a essa ideia, o 3° concurso será na abertura do Abre-Alas, pois é quando a galeria convida a todos a se fantasiarem e desfilarem na encruzilhada em frente A Gentil Carioca. A melhor fantasia ganha o prêmio e a saudação de todos os artistas foliões.

 

De 26 de janeiro  a 16 de março.

No Cofre da Casa França-Brasil

20/dez

Efrain Almeida

Em todas as exposições que acontecem na Casa França-Brasil, o espaço do Cofre é ocupado por um artista diferente do que expõe nos demais espaços. Na exposição “Ulysses”, de José Rufino, não foi diferente. O detalhe especial é que foi o próprio José Rufino que fez o convite a Efrain Almeida, artista cearense radicado no Rio e que utiliza a madeira em suas obras. “O Sozinho” é uma escultura em madeira – um autorretrato – que mede, aproximadamente, 6 x 26 x 28 cm, apresentada sobre uma base de MDF em cor natural.

 

Efrain Almeida explica que “a base da escultura é proporcionalmente desproporcional à obra…O objetivo é justamente enfatizar a diminuta escala do corpo da escultura, em relação ao espaço expositivo. Para mim, a situação espacial e o local onde a peça está colocada se referem a questões recorrentes em meu trabalho, como as relações da obra com o espaço arquitetônico, e também uma certa atmosfera melancólica…Neste projeto, que intitulei O Sozinho, o enclausuramento, a solidão e o abandono se fazem presentes”.

 

Na opinião de José Rufino, as duas obras tratam do corpo, em escalas completamente distintas: “Essa relação entre o gigantismo e a miniatura vai criar uma tensão entre as duas obras…Ulysses é um corpo histórico, social, todo feito de fragmentos dos outros, uma verdadeira quimera gigante de partes esquecidas da cidade, enquanto o pequeno corpo de Efrain é íntimo, tem uma poesia e uma força contida, é quase a carne encolhida dele mesmo. No entanto, ambos podem se encontrar na inversão das escalas, pois Ulysses também pode ser investigado nos detalhes, nas reentrâncias – e o corpo de Efrain vai ocupar o pequeno volume do cofre como se aquele espaço fosse imenso”.

 

Sobre o artista

 

Efrain Almeida nasceu em 1964, em Boa Viagem, Ceará, onde morou durante a infância e a adolescência. Depois, seguiu com a família para o Rio de Janeiro, cidade onde reside. Entre 1986 e 1990, estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro e fez um curso no Museu de Arte Moderna, onde iniciou também uma pesquisa de materiais, acabando por privilegiar a madeira. Sua obra se baseia na apropriação do imaginário e da religiosidade popular, através dos ex-votos. Apesar de todas as referências da história da arte universal que recebeu nos cursos de Pintura e Escultura da Escola do Parque Lage, o artista nunca abandonou as influências visuais que marcaram a sua infância. Interessado pelos fenômenos da fé, registra em seus trabalhos as marcas físicas que certos tipos de religiosidade deixam no corpo humano. Por isso, os entalhes dos artesãos populares e as peças de ex-votos são um traço comum da sua obra, que ganham uma conotação levemente subversiva, quando deslocadas de seu contexto original. Suas peças são, em geral, de pequena dimensão – mas propõem uma ocupação global do espaço que as acolhe, convidando o observador a aproximar-se, a fim de desvendar os pequenos pormenores. São peças que evocam a harmonia entre o popular e o erudito, o instintivo e o calculado, o simples e o sofisticado. Entre as exposições em que participou destacam-se Infância Perversa (1995), no Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro e no Museu de Arte Moderna, Salvador. Efrain Almeida começou a expor em 1987, no Rio, como integrante do XI Salão Carioca de Arte. Daí em diante, ganhou o Brasil e o mundo, expondo em centenas de cidades brasileiras, na Europa e nos EUA. Tem obras em importantes coleções públicas, como o Centro Galego de Arte Contemporânea (Santiago de Compostela, Espanha); no Museum of Modern Art – MoMa (Nova Iorque, EUA); no Toyota Municipal Museum of Art, Japão; no ASU Art Museu, na Universidade do Arizona, EUA; no Museu de Arte Moderna de São Paulo; no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães – MAMAM (Recife); e o Museu de Arte Contemporânea do Ceará.

 

Até 17 de fevereiro de 2013.

 

No dia 06 de janeiro, o artista vai receber a crítica de arte do jornal O Globo, Marisa Flórido, e o curador Marcelo Campos na mesa redonda às 18h30, na instituição.