artevida programação múltipla

16/jul

Com as três inaugurações de sábado, 19 de julho, a exposição “artevida” se completa. Ela tem quatro seções, sendo as principais “artevida” (corpo), na Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, já em cartaz, e a do MAM-RIO, Parque do Flamengo, “artevida” (política). Este segmento é o mais pungente, com 160 trabalhos de 54 artistas. “artevida” é produzida pela ENDORA Arte Produções. Leia mais abaixo as informações gerais sobre esta segunda fase, com mais a instalação inédita de Georges Adéagbo, artista do Benin, premiado na Bienal de Veneza, no Parque Lage, e o Arquivo da argentina Graciela Carnevale, na Biblioteca Parque Estadual. Em cartaz até 21 de setembro, artevida é uma realização da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro com patrocínio de Itaú e Petrobras. A curadoria é de Adriano Pedrosa e Rodrigo Moura

 

 

Aberturas da segunda fase: sábado,19 de julho
15h – artevida (arquivo) Arquivo Graciela Carnevale, na Biblioteca Parque Estadual
17h – artevida (política), coletiva com 54 artistas, no MAM Rio
19h – artevida (parque), instalação inédita do beninense Georges Adéagbo, nas Cavalariças do Parque Lage

 

A exposição artevida, sob curadoria de Adriano Pedrosa e Rodrigo Moura,  se completa sábado, 19 de julho, com a abertura de artevida (política) no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, do Arquivo Graciela Carnevale na Biblioteca Parque Estadual e da instalação inédita do artista do Benin Georges Adéagbo nas Cavalariças do Parque Lage.

 

artevida, com 110 artistas e 350 obras do Brasil, Leste Europeu, Ásia, África, Oriente Médio e América Latina, é uma realização da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, com patrocínio de Itaú e Petrobras.

 

artevida (política), no MAM Rio, reúne cerca de 160 obras de 54 artistas, feitas sob regimes autoritários ou em resistência a eles, organizadas em tópicos como feminismos e racismo, democracia e eleições, mapas e bandeiras, guerra e violência, greves e revoluções. Este é um dos eixos principais da mostra, ao lado de artevida (corpo), em cartaz desde 27 de junho, na Casa França-Brasil.

 

Pensando na vocação de cada espaço, os curadores pautaram para a seção artevida (arquivo) coleções de artistas como o de Paulo Bruscky, inaugurado em 27 de junho, e o da argentina Graciela Carnevale (1942), do Grupo de Arte de Vanguardia de Rosario, que abre ao público em 19 de julho. No arquivo da artista, fotografias, documentos e recortes de jornais registram a agitação da cena artística da avant-garde argentina nos anos 1960.

 

Nas cavalariças do Parque Lage, no segmento artevida (parque), o artista beninense Georges Adéagbo começou, na sexta-feira, a montagem de sua instalação com itens que trouxe e com o que está comprando em brechós cariocas. Ele escolheu para esta obra inédita refletir sobre a relação África-Brasil, o fotógrafo francês Pierre Verger e a documentação da diáspora africana.

 

No palacete do Parque Lage, já aberto ao público, estão a instalação “RED [Shape of Mosquito Net]”, de 1956, da japonesa Tsuruko Yamazaki (1925) suspensa à beira da piscina, e trabalhos de Martha Araújo – peças de vestuário em tecido e velcro que permitem interatividade quando vestidas, e fotos de registros de performances com as roupas, no início dos anos 1980. O público pode vestir macacões com velcro da artista e colar o corpo na rampa de carpete.

 

 

Artistas de artevida (política), por ordem alfabética:

 

Abdul Hay Mosallam, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino , Antonio Caro, Antonio Dias, Antonio Manuel, Aref Rayess, Artur Barrio, Beatriz González, Bhupen Khakhar, Birgit Jürgenssen, Carlos Ginzburg, Carlos Vergara, Carlos Zílio, Cecilia Vicuña , Cengiz Çekil, Cildo Meireles, Cláudio Tozzi, Clemente Padín, Emory Douglas, Gavin Jantjes, Goran Trbuljak, Gülsün Karamustafa, Hélio Oiticica, Horacio Zabala, Ion Grigorescu, Jo Spence, John Dugger, Juan Carlos Romero, Julio Plaza, Letícia Parente, Liliana Porter, Lotty Rosenfeld, Luis Camnitzer, Luis Fernando Pazos, Lygia Pape, Lynda Benglis, Margarita Paksa, Martha Rosler, Maurício Nogueira Lima, Mladen Stilinović, Nancy Spero, Nicola L., Nil Yalter, Oscar Bony, Paulo Bruscky, Rachid Koraïchi, Ricardo Carreira, Sanja Iveković, Sue Williamson, Teresa Burga, Teresinha Soares, Wanda Pimentel, Wesley Duke Lee.

 

 

Locais

 

Biblioteca Parque Estadual
Av. Presidente Vargas 1261 | Centro – RJ

Terça a domingo,  10 às 20h. Grátis.

 

Casa França-Brasil

Rua Visconde de Itaboraí 78 | Centro – RJ |

Terça a domingo, 10 às 20h. Grátis.

 

Escola de Artes Visuais do Parque Lage
Rua Jardim Botânico 414 | Jardim Botânico – RJ
Palacete: Segunda a quinta, 9 às 19h; sexta a domingo, 9 às 17h. Grátis
Cavalariças: Diariamente, das 10h às 17h. Grátis.

 

 

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Av. Infante Dom Henrique 85 | Parque do Flamengo – RJ
Terça a sexta, 12 às 18h. Sábados, domingos e feriados, 11h às 18h.
(a bilheteria fecha às 17h30). R$ 14

Prêmio Marcantônio Vilaça

13/jun

 

Edição especial do “Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas” celebra os dez anos do projeto com a inauguração de duas mostras comemorativas no dia 29 de maio no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. Na noite de abertura das exposições, “Inventário da paixão e Cor, luz e movimento”, também será dada a largada da 5ª edição do prêmio com a divulgação do novo regulamento para os próximos anos.

 

Entre as inovações que serão apresentadas pelo atual curador e coordenador geral, Marcus de Lontra Costa, está o aumento do valor da bolsa de pesquisa conferida a cada um dos cinco artistas vencedores, que passa de R$ 30 mil para R$ 40 mil; e a ampliação do sistema de premiação, se torna mais plural com a inclusão de curadorias regionais no júri de seleção e uma exposição com trabalhos com os 30 artistas pré-selecionados.

 

Além dessas novidades, uma inédita premiação para curadores emergentes passa a integrar o Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça, que se constitui uma das maiores ações de apoio do setor privado à arte brasileira. O novo formato propõe ainda ênfase especial aos processos pedagógicos que possibilitem a qualificação de trabalhadores, professores e estudantes por meio de ações que unam criatividade artística e pesquisa tecnológica.

 

O diretor de Operações do Serviço Social da Indústria (SESI), Marcos Tadeu de Siqueira, destacou a importância do Prêmio. “O investimento em artes contribui para uma interação entre as atividades culturais e o desenvolvimento econômico. Nenhum país pode se considerar desenvolvido, se não tiver um olhar para questões que envolvam cultura, educação e qualidade de vida do trabalhador”, disse.

 

 

Inventário da Paixão

 

As duas mostras comemorativas dessa edição especial reavivam as intenções que motivaram a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o SESI e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), a criarem o prêmio, em 2004. A panorâmica Inventário da paixão é uma homenagem ao galerista Marcantonio Vilaça, patrono do prêmio, que reúne 66 obras de 36 artistas surgidos a partir dos anos 80 e que tiveram mais projeção em suas trajetórias profissionais depois do trabalho em parceria com Marcantonio. Beatriz Milhazes, Adriana Varejão, Angelo Venosa, Luiz Zerbini e Cildo Meireles são alguns desses expoentes aliados a um expressivo núcleo de artistas internacionais, cujos trabalhos passaram a ser mais conhecidos no Brasil devido à ação de intercâmbio artístico realizada pelo galerista (veja lista completa abaixo). “A impactante presença dessas obras juntas em um mesmo espaço físico, com sua variedade de linguagens e propostas estéticas constitui um vibrante painel da arte no Brasil e no mundo e refletem a personalidade exuberante e inquieta daquele que empresta o seu nome à nossa iniciativa”, comenta Lontra.

 

 

Arte Indústria

 

As relações entre processos de criação artística e produção industrial são acentuadas no recém criado projeto Arte Indústria que acompanhará todas as edições do prêmio.  A série se inicia com a coletiva Cor, luz e movimento em homenagem a Abraham Palatnik. A partir de trabalhos deste pioneiro da arte cinética, diversos artistas estabelecem pontos de contato com o conjunto de sua obra. A mostra apresenta uma sala especial com oito trabalhos de Palatnik e 38 obras de 14 artistas que se relacionam com sua poética. Entre eles Ana Linnemann, Eduardo Coimbra, Deneir e Emygdio de Barros. (Veja a lista completa abaixo). Para o idealizador da exposição, o projeto parte do pressuposto de que o aspecto definidor da arte do século 20 está na instigante relação entre o artista e a máquina.

 

 

Novo Regulamento

 

A partir de sua quinta edição, o “Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça” renova formato e regulamento de modo a se aproximar cada vez mais da investigação artística contemporânea, compreendida como ação fundamental para o desenvolvimento do conhecimento humano e da pesquisa tecnológica.  A iniciativa do Sistema Indústria criada em 2004, ao longo desse tempo, realizou quatro edições consecutivas. Recebeu 2532 propostas e premiou 20 artistas, que atuam em diferentes pontos do país, com bolsas de trabalho e acompanhamento dos projetos por curadores designados. Ao conceber as duas mostras da edição especial, os novos curadores revigoram a proposta do “Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça” no cenário artístico brasileiro e afirmam sua presença como uma referência entre as principais premiações nacionais no gênero.

 

 

Quem foi Marcantônio Vilaça

 

Marcantonio Vilaça, falecido precocemente em 2000 aos 37 anos de idade, tem sua trajetória cultural iniciada em Recife, PE. Influenciado pelos pais, conheceu a arte popular da região e fez visitas rotineiras a museus, igrejas e conventos de todo o Nordeste. Aos 15 anos, adquiriu sua primeira obra de arte, uma gravura de Samico. No início dos anos 80, Marcantônio e a irmã Taciana Cecília abriram sua primeira galeria de arte, a Pasárgada, na Praia de Boa Viagem, em Recife. Em 1991, instalou-se em São Paulo e inaugurou a Galeria Camargo Vilaça, junto com a sócia Karla Camargo. Aos 35 anos, possuía cerca de 500 obras dos mais representativos artistas contemporâneos brasileiros. Em sua trajetória como marchand, ajudou a projetar novos talentos no mercado brasileiro e internacional e doou diversas obras de sua coleção particular para diversos museus, tanto instituições nacionais quanto internacionais.

 

 

Artistas participantes da exposição:

 

Adriana Varejão | Angelo Venosa | Beatriz Milhazes | Barrão (Plano B) | Cildo Meireles | Daniel Senise | Efrain Almeida | Ernesto Neto | Francis Allys | Gilvan Samico | Helio Oiticica | Hildebrando de Castro | Iran do Espírito Santo | Jac Leirner   | José Damasceno | José Resende | Leda Catunda | José Leonilson | Lia Menna Barreto | Luiz Zerbini | Lygia Pape | Maurício Ruiz | Mauro Piva | Nuno Ramos | Rivane Neuschwander | Rosangela Rennó | Valeska Soares | Vik Muniz | Anselm Kiefer (Alemanha) | Cindy Sherman (Estados Unidos) | Guillermo Kuitca (Argentina) | Julião Sarmento (Portugal) | Mona Hatoum (Líbano) | Antonio Hernández-Diez (Venezuela) | Pedro Croft (Portugal) | Pedro Cabrita Reis (Portugal)

 

FICHA TÉCNICA:

 

Coordenação Geral: Claudia Ramalho;

Curador: Marcus de Lontra Costa;

Curadora Adjunta: Daniela Name;

Produção: Maria Clara Rodrigues – Imago Escritório De Arte;

Produção Executiva: Andreia Alves | Marcia Lontra;

Expografia: Marcio Gobbi;

Identidade Visual: New 360;

Projeto Técnico Interativo: 32bits Criações Digitais;

Iluminação: Antonio Mendel;

Projeto Educativo: Rômulo Sales Arte Educação

 

 

De 30 de maio a 13 de julho.

Cildo, Restiffe e Warchavchic no Maria Antonia

20/dez

Funcionando regularmente desde 1999, o programa de exposições do Centro Universitário Maria Antonia da USP, Vila Buarque, São Paulo, SP,  orienta-se por um conceito abrangente de formação, tendo como diretriz geral reunir artistas de gerações diversas. Procura dar espaço às mais diferentes técnicas e poéticas, com especial atenção a propostas de reavaliação de artistas e movimentos atuais e do passado recente, além de mostras de design e arquitetura. No momento o Maria Antonia apresenta  três exposições com a assinatura dos curadores João Bandeira com a instalação “4/4” de Cildo Meireles;   José Tavares Correia de Lira com “Warchavchik – metrópole, arquitetura” e  Agnaldo Farias com “Interseção” de Mauro Restiffe.

 

 

A palavra dos curadores

 

Cildo Meireles – 4/4

 

Percebe-se um recinto por dentro. Não apenas a olho, não só porque nos rodeia. Por dentro também do nosso corpo. Sua existência se realiza na medida em que sentimos a nossa nele. Se for uma sala qualquer e que esteja, em princípio, vazia, não haverá muito mais a fazer. Sendo, no entanto, um espaço de exposições em que se espera encontrar arte, tudo pode mudar de figura. E se ali parece não haver de fato coisa alguma, é bem provável que nossa mente, na hora, relute.

 

Mas se ao nos movermos por esse espaço detectamos alterações meio estranhas, em nós mesmos como na sua arquitetura? Ainda que oco, o espaço agora é um lugar – revela qualidades mais específicas. Lugar inventado por Cildo Meireles, onde alguma coisa discretamente acontece, chama e recua. É difícil dar nome certo a isso que desde dentro, sem sair do aqui-agora, cede também no tempo (pouco a ver com o vácuo mítico de Yves Klein; quem sabe uma volta a mais no parafuso daqueles Cantos, do próprio Cildo), como um golpe por subtração, uma esquiva às palavras rodando na consciência.

 

Pouco vaza, em direção ao vértice de algum futuro, pelos quatro cantos dessa instalação, que se rebatem cruzados, costurando de modo inusitado piso e paredes, dentro e fora. E, paralelamente, não muito mais do que um sinal parece ser captado ali, vindo de mais longe, do mais básico que nos toca como instabilidade de todo abrigo. Num caso e no outro, tudo agora se adensa se lembrarmos que 4/4 está precisamente no mesmo local que desde a terceira década do séc. XX, guardada quase a mesma volumetria, foi parte de uma residência, de uma escola privada, de uma universidade pública, dependência de órgãos do Estado, incluindo escritórios de seu sistema prisional, no período da ditadura militar de 64, até ser devolvido à mesma universidade, expulsa dali naquele período. Que finalmente o destinou, passando por mais outros usos, a abrigar as exposições de artes do Centro Universitário Maria Antonia.

 

A Física moderna permite imaginar que a torções no espaço correspondem outras no tempo, variando vis-à-vis conforme a referência. Empregando livremente essa ideia, seria possível considerar, lado a lado, o projeto arquitetônico de restauro e reforma desenvolvido para essa instituição – que deixa à mostra partes antigas no que foi recém-construído e cria vazios (retirada de muros, extensão da calçada numa laje que, por sua vez, leva a uma praça aberta no miolo da quadra, ligando seus dois edifícios), no esforço de reavaliar na prática uma tradição de lugar público – e a instalação de Cildo Meireles, com sua intervenção radical no histórico do espaço expositivo, que mantém ainda em suspenso o desaparecimento da arte nos fluxos do mundo. (João Bandeira)

 

 

Gregori Warchavchik – Warchavchik – metrópole, arquitetura

 

Gregori Warchavchik transcende em muito a figuração genérica do pioneiro isolado que atravessou o século XX. Manifesta lugares chave da arquitetura entre os processos materiais da sociedade e os esquemas mentais associados às técnicas e programas modernos. Arte social, a mais material das artes, sempre produzida coletivamente e referida aos imperativos práticos, injunções da encomenda e do investimento e à recepção distraída das massas, a arquitetura em Warchavchik imbrica-se à experiência metropolitana.

 

Esta exposição pretende flagrar o arquiteto modernista na São Paulo de 1930 aos anos 1960, quando a cidade passa de um núcleo provinciano à metrópole nacional. Até então achatada e esparramada por colinas e várzeas da região, a cidade observou no período a canalização de rios e córregos, a proliferação de loteamentos, avenidas e arranha-céus, o aparecimento de novas formas de habitação, locomoção, espaços comuns, serviços e múltiplas dificuldades. Sob o influxo avassalador da urbanização, da especulação e da construção civil, os arquitetos transformariam tudo isso em matéria de projetos e planos. Conscientemente ou não, passaram a operar na produção da metrópole: de sua imaginação erudita à sua edificação e ecologia, esquadrinhando e modelando situações, reproduzindo divisões e conflitos reais e fomentando novos arranjos sociais.

 

Os projetos de Warchavchik aqui expostos remetem a posições relevantes quanto aos espaços de vida coletiva na metrópole em seus atributos fundamentais de eficiência e monumentalidade, complexidade e especialização, densidade e fluidez. Com eles, propõe-se repensar o papel representacional do desenho em transmutações de outra ordem que não exatamente sua tradução construtiva. Mas como forma de olhar oblíquo para o real, subterfúgio ativo em relação ao peso das soluções imediatas, investigação do mundo edificado, resposta a convenções espaciais, presença crítica e mesmo visionária na cidade. Todos eles integram um acervo precioso, conservado pela biblioteca da FAU-USP, que ilustra um conjunto variado de especulações em torno das alegorias e materiais arquitetônicos. Exibidos em meio a imagens retiradas ao cinema, à imprensa e à publicidade da época visa justamente potencializar os nexos da arquitetura com as impressões da grande cidade. Submetendo suas formas projetuais e estruturas edificadas ao fluxo de fragmentos e detalhes instantâneos, espera-se fazer ressoar os artefatos arquitetônicos na atmosfera das aparências e na vida dos objetos tangíveis a que, sólidos e duradouros, sorrateiramente, e cotidianamente, se reúnem. (José Tavares Correia de Lira)

 

 

Mauro Restiffe – Interseção

 

Já em sua primeira individual, em 2000, Mauro Restiffe sinalizou que pensaria a relação entre arquitetura e fotografia sob ângulos imprevistos. Não que suas fotos tivessem a arquitetura como tema exclusivo. O assunto preponderante era o lugar da fotografia, a plasticidade com que se aproxima e se afasta do mundo. Isso e mais sua problematização como produto do olhar, do fotógrafo e do visitante que, diante de suas fotos, percebe-se percebendo.

 

Desde o princípio, Restiffe resolveu demonstrar que a arquitetura podia converter-se em fotografia, além de lhe servir como tema privilegiado. Como? Na mostra de 12 anos atrás, ele, em lugar de simplesmente pendurar as fotografias, abriu “três janelas” na longa parede situada à esquerda da entrada da sala expositiva, revelando o muro alto e branco que separava, da casa do vizinho, o lote da casa onde funcionava a galeria, o corredor estreito onde jaziam, até então ocultos, despojos das tralhas típicas de montagens de exposições, e finalmente a vista parcial do tronco de uma árvore emparedada. Fechadas com vidro, as aberturas, por efeito de sua transparência e reflexividade, embaralhavam as imagens de dentro e fora.

 

A obsessão pela arquitetura volta nessa mostra de agora sob a forma de imagens extraídas de dois edifícios, a Casa Serralves, o belo exemplar de Art Déco português construída no Porto, de autoria de Charles Siclis e José Marques da Silva, e o Edifício Cícero Prado, obra do introdutor da arquitetura moderna no nosso país, Gregori Warchavchik.

 

A disposição das imagens na sala confirma a importância que Restiffe confere à relação entre fotografia e arquitetura. Na parede principal, sem portas ou janelas, “Vertigem”, a sucessão de imagens com o mesmo formato, todas reverberando os ritmos escandidos da Casa Serralves. Nas outras três paredes, coerente com as perturbações das aberturas, o jogo com tamanhos e ângulos propiciado pelas linhas de fuga verticais do Cícero Prado.

 

Se a arquitetura, como a música, destrava-se no tempo dispendido caminhando-se em seu interior, Restiffe adverte-nos que ela também acontece quando se olha para cima e para baixo; quando se mira torto; quando se mergulha no infinito inventado pelos ocos das escadas; quando se alça ao sublime do teto intangível. Suas fotos convertem arquiteturas em imagens e, impregnadas por elas e pelo espaço em que estão expostas, flexibilizam-se, ficam de frente, de lado, de cabeça para baixo; seus tamanhos expandem-se e contraem-se, com as maiores imantando à distância, com as menores trazendo para perto, convidando a escrutinizar seus detalhes. (Agnaldo Farias)

 

 

Até 23 de fevereiro de 2014.

Tomie Ohtake no Rio

13/dez

O Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, exibe a exposição “Correspondências”, mostra organizada pelo Instituto Tomie Ohtake, que faz parte das comemorações do centenário da artista e conta com obras de sua produção desde 1956 até 2013, além de trabalhos de artistas contemporâneos. Com curadoria de Agnaldo Farias e Paulo Miyada, a homenagem em forma de mostra aproxima o trabalho de Tomie Ohtake de outros artistas através de interesses em comum, como o gesto, a cor e a textura, e o modo como cada um deles lida com essas características. A partir daí, revelam-se temas e sensações inesperados, tanto na obra de Tomie, como na de seus interlocutores. “Partindo do gesto, por exemplo, somos conduzidos pelas linhas curvas das esculturas de aço pintado de branco de Ohtake, que atravessam o espaço e lhe imprimem movimento, as quais se encontram com a linha inefável dos desenhos Waltercio Caldas e a linha espacial composta pelo acúmulo de notas de dinheiro de Jac Leirner”, ressaltam os curadores.

 

Agnaldo Farias e Paulo Miyada destacam também que a curvatura do gesto das mãos de Tomie anuncia-se nos indícios da circularidade presentes em suas primeiras telas abstratas produzidas na década de 1950 e culmina no círculo completo e na espiral, formas recorrentes nas últimas três décadas de sua produção. Esse percurso é apresentado em companhia de obras que extravasam o interesse construtivo da forma circular, como nas obras de Lia Chaia, Carla Chaim e Cadu. Uma vez que se forma o círculo, discute-se a cor, pele que corporifica toda a produção de Tomie Ohtake e que é fundamental aos artistas que são apresentados nesse grupo. “De contrastes improváveis a variáveis que demonstram a profundidade latente em um simples quadro monocromático, exemplos de pinturas dos anos 1970, figuram lado a lado com obras recentes de Tomie e com telas de especial sutileza na produção de artistas como Paulo Pasta e Dudi Maia Rosa”. Segundo eles, em Tomie, a cor é sempre realizada por meio da textura e da materialidade da imagem, que foi deixada a nu em suas “pinturas cegas” do final da década de 1950 e, desde então, nunca se recolheu, mesmo em telas feitas com delicadas camadas de tinta acrílica.

 

Complementa o pensamento dos curadores a tese de que há uma longa linha de experimentos que desfazem a ilusão da neutralidade do suporte da imagem pictórica, a qual se inicia muito antes das colagens cubistas e possui um momento decisivo nas iniciativas que ousaram liberar-se do verniz em parte de algumas pinturas realizadas no século XIX. “Essa linha de experimentos tem em Tomie uma pesquisadora aplicada, que pode reunir em torno de si figuras tão distintas como Flavio-Shiró, Arcangelo Ianelli, Oscar Niemeyer, Daniel Steegmann Mangrané e Carlos Fajardo”.  A exposição conta com 84 obras, sendo 28 de Tomie Ohtake e mais: Adriano Costa, Angela Detanico & Rafael Lain, Bartolomeu Gelpi, Carmela Gross, Cildo Meireles, Claudia Andujar, Cristiano Mascaro, Fabio Miguez, Israel Pedrosa, Karin Lambrecht,  Kimi Nii, Leda Catunda, Luiz Paulo Baravelli, Maria Laet, Nélson Félix, Nicolas Robbio, Paulo Pasta, Sergio Sister, Tiago Judas e Tony Camargo.

 

 

De 18 de dezembro até 09 de fevereiro de 2014.

Correspondências. Mostra inaugural

23/ago

Com a exibição da mostra coletiva “Correspondências”, a Galeria Bergamin, realiza sua estreia no circuito de arte contemporânea. O espaço situa-se à rua Oscar Freire, 379, loja 01, Jardins, São Paulo, SP. A mostra é apresentada por Felipe Scovino. Para o evento inaugural foi selecionado expressivo elenco de nomes pontuais da arte brasileira. Entre os participantes da exposição constam obras em técnicas diversificadas como pinturas, objetos, esculturas e fotografias, assinadas por Adriana Varejão, Alair Gomes, Cildo Meireles, Emanuel Nassar, German Lorca, Hélio Oiticica e Neville D’Almeida, José Bento, José Resende, Lygia Pape, Mauro Restiffe, Miguel Rio Branco, Montez Magno, Nelson Leirner, Paulo Roberto Leal, Raymundo Colares, Sérgio Camargo, Thiago Rocha Pitta, Vik Muniz, Waltercio Caldas, Wanda Pimentel, Luciano Figueiredo e Marcelo Cidade.

 

 

 

Texto de Felipe Scovino

 

Nessa exposição, que inaugura o novo espaço e momento da Galeria Bergamin, o que se apresenta são estratégias de correspondência. Para além da heterogeneidade de discursos, propostas e suportes, estão diante de nós diálogos, associações e afinidades. Em alguns casos, regidos por uma ironia (como nas obras de Emmanuel Nassar e Nelson Leirner) ou associações livres e poéticas que nos fazem pensar na ampliação do suporte feito por quem homenageia (como são os casos das obras de German Lorca, Miguel Rio Branco e Thiago Rocha Pitta, nas quais a fotografia transita em direção a pintura, ganhando texturas, luz, elementos táteis, pulsantes que a faz estar em uma situação fronteiriça). As oposições também existem, seja através das formas, técnicas, linguagens e assuntos, sem, entretanto, formar um sentido geral definitivo ou hierarquizá-los prematuramente, isto porque a abrangente condição artística na sua atualidade não se fixa em parâmetros históricos e critérios artísticos precisos e definitivos. As homenagens a Lucio Fontana são um exemplo disso. O seu romântico corte abrupto, seco e libertador sobre a tela transforma-se na obra de Leirner em um abrir e fechar zíperes. Passamos a rasgar o tecido numa atitude explicitamente dadá. Por outro lado, na obra de Adriana Varejão a tela se transforma numa epiderme na qual os azulejos se revelam como um corpo violentado.

 

As correspondências não estão somente apresentadas nas homenagens feitas pelos artistas a seus colegas, mas conseguimos perceber nessa correspondência livre e direta, as predileções, argumentos e diálogos que acontecem entre homenageado e quem homenageia.  A diversidade e heterogeneidade não estão só nos temas, assuntos ou conteúdos, mas também – e aqui é outro ponto de qualidade da exposição, a sua capacidade de revelar a multiplicidade de pesquisas na contemporaneidade – nas linguagens e nas mídias nas quais as obras podem aparecer ora como pintura, escultura ou fotografia, ou ainda como algo de indefinida e incerta sistematização.

 

 

De 08 de agosto a 28 de setembro.

Cildo Meireles no Museu Reina Sofia

30/maio

A obra de Cildo Meireles encontra-se em exibição no Museu Reina Sofia, Madrid, Espanha. A mostra – de caráter retrospectivo – apresenta mais de cem obras do artista brasileiro, é uma oportunidade única para descobrir novos aspectos do trabalho de Cildo Meireles, um dos mais célebres artistas contemporâneos.
Cildo Meireles reproduz nesta exposição algumas das instalações mais importantes da sua história, ao lado de outras inéditas, como “Amerikka”, e outras apresentadas pela primeira vez na Espanha, como “Olvido” e “Entrevendo”. Além delas, fazem parte da retrospectiva desenhos, pinturas, esculturas e peças sonoras.
O conceituado artista foi vencedor do “Prêmio Velázquez” em 2008 e tem em sua carreira artística, um grande número de exposições internacionais como a Documenta de Kassel e as bienais internacionais de Veneza e São Paulo. A exposição foi organizada, em parceira, pelo Museo Nacional de Arte Reina Sofía, Museu de Serralves no Porto, Portugal, e HangarBicocca em Milão, Itália.

 

Até 14 de outubro.

Centenário de Tomie Ohtake

07/fev

Tomie Ohtake

A primeira das três exposições, “Tomie Ohtake – Correspondências”, que o Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, prepara para comemorar, em 2013, o centenário da artista que lhe dá o nome, estabelece relações de aproximação e contraposição entre a sua produção desde 1956 até 2013 e obras de artistas contemporâneos, de Mira Schendel e Hércules Barsotti a Lia Chaia e Camila Sposati, passando por Cildo Meireles e Nuno Ramos, entre outros.

 

Com curadoria de Agnaldo Farias e Paulo Miyada, a mostra aponta intersecções entre os campos de interesse do trabalho pictórico, como a cor, o gesto e a textura. Segundo os curadores, a partir destes núcleos revelam-se temas e sensações inesperados, tanto na obra de Tomie Ohtake, como na de seus interlocutores.
“Partindo do gesto, por exemplo, somos conduzidos pelas linhas curvas das esculturas de aço pintado de branco de Ohtake, que atravessam o espaço e lhe imprimem movimento, as quais se encontram com a linha inefável dos desenhos Waltercio Caldas e a linha espacial composta pelo acúmulo de notas de dinheiro de Jac Leirner”, explicam.

 

Ressalta também a dupla de curadores, que a curvatura do gesto das mãos de Tomie anuncia-se nos indícios da circularidade presentes em suas primeiras telas abstratas produzidas na década de 1950 e culmina no círculo completo e na espiral, formas recorrentes nas últimas três décadas de sua produção. Esse percurso é apresentado em companhia de obras que extravasam o interesse construtivo da forma circular, procurando relações com o corpo do artista e com estratégias de ocupação do espaço, como nas obras de Lia Chaia, Carla Chaim e Cadu.

 

Uma vez que se forma o círculo, discute-se a cor, pele que corporifica toda a produção de Tomie e fundamental aos artistas que são apresentados nesse grupo. “De contrastes improváveis a variáveis que demonstram a profundidade latente em um simples quadro monocromático, exemplos de pinturas dos anos 1970 figuram lado a lado com obras recentes de Tomie e com telas de especial sutileza na produção de artistas como Alfredo Volpi, Paulo Pasta e Dudi Maia Rosa”, destacam os curadores. Segundo eles, em Tomie, a cor é sempre realizada por meio da textura e da materialidade da imagem, que foi deixada a nu em suas “pinturas cegas” do final da década de 1950.

 

Completa o pensamento curatorial a tese de que há uma longa linha de experimentos que desfazem a ilusão da neutralidade do suporte da imagem pictórica, a qual se inicia muito antes das colagens cubistas e possui um momento decisivo nas iniciativas que ousaram liberar-se do verniz em parte de algumas pinturas realizadas no século XIX. “Essa linha de experimentos tem em Tomie uma pesquisadora aplicada, que pode reunir em torno de si figuras tão distintas como Flavio-Shiró, Arcangelo Ianelli, Nuno Ramos, Carlos Fajardo e José Resende”.

 

Em agosto, os estudos de Tomie – desenhos, projetos de esculturas, colagens etc – serão tema da próxima mostra comemorativa de seu centenário em 21 de novembro de 2013. Já no mês em que a artista completa 100 anos, o Instituto inaugura uma grande exposição, “Gesto e Razão Geométrica”, com curadoria de Paulo Herkenhoff e lança um novo livro sobre a obra pública de Tomie.

 

No mês de fevereiro ainda será inaugurada no dia 23 de fevereiro ( com duração até 23 de março), na Galeria Nara Roesler, Jardim Europa, São Paulo, SP, exposição individual da artista, também com curadoria de Agnaldo Farias, apresentando esculturas recentes e sua nova série de pinturas 2012/2013. “Nossa grande artista apresenta duas sereis inéditas de pinturas monocromáticas, uma demonstração da sua maestria em expandir as cores trabalhando-as em profundidade, criando atmosferas luminosas ou ensombrecidas”, afirma o curador.

 

De 06 de fevereiro a 24 de março.

Terranova, poesia em livro

29/out

Franco Terranova lança “Sombras”, novo livro com exposição no MAM, Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ. Poeta de mão cheia, com 13 livros publicados, Franco Terranova não desenha e nem pinta. Mas foi justamente dentro deste universo que ficou conhecido. Fundador da memorável Petite Galerie, a primeira galeria de arte moderna no Brasil, que funcionou de 1954 a 1988 no Rio de Janeiro, o eterno marchand está à frente de um projeto grandioso: a publicação de um livro de poesia ilustrado com obras de arte especialmente criadas por 73 artistas plásticos.

 

Artistas participantes: Abraham Palatnik, Adriano de Aquino, Alexandre da Costa, Amélia Toledo, Angelo de Aquino, Angelo Venosa, Ana Bella Geiger, Anna Letycia, Anna Maria Maiolino, Antonio Dias, Antonio Henrique Amaral, Antonio Manuel, Artur Barrio, Ascânio MMM, Avatar Moraes, Barrão, Benevento, Carlos Fajardo, Carlos Vergara, Chica Granchi, Cildo Meireles, Cristina Salgado, Daniel Senise, Dileny Campos, Eduardo Sued, Enéas Valle, Ernesto Neto, Florian Raiss, Franco Terranova, Frans Krajcberg, Frida Baranek, Gastão Manoel Henrique, Gianguido Bonfanti, Hildebrando de Castro, Iole de Freitas, Ivald Granato, Jac Leirner, José Resende, José Roberto Aguilar, Leda Catunda, Lena Bergstein, Lu Rodrigues, Luiz Alphonsus, Luiz Aquila, Luiz Paulo Baravelli, Luiz Pizarro, Luiz Zerbini, Malu Fatorelli, Marcia Barrozo do Amaral, Marco Terranova, Maria Bonomi, Maria do Carmo Secco, Millôr Fernandes, Mo Toledo, Monica Barki, Myra Landau, Nelson Leirner, Paola Terranova, Roberto Magalhães, Rubem Grilo, Samico, Sergio Romagnolo, Serpa Coutinho, Sérvulo Esmeraldo, Siron Franco, Tino Stefanoni, Tomoshige Kusuno, Tunga, Urian, Victor Arruda, Waltercio Caldas, Wanda Pimentel, Wesley Duke Lee.

 

O time de artistas que participa de “Sombras” é forte, artistas que aceitaram sem pestanejar o convite feito por Franco Terranova há quase 10 anos. O texto de abertura é do poeta e amigo de longa data, Ferreira Gullar.

 

A  obra será lançada junto com uma exposição dos trabalhos originais. Com curadoria de Denise Mattar, a mostra apresenta as obras inéditas que estão no livro e cerca de 80 fotografias dos artistas e dos vernissages que aconteceram na Petite Galerie. “Este livro é dos artistas que, com sua generosidade, interviram em meu texto acreditando cegamente (ou quase) na qualidade dele. Muito devo aos que participaram deste projeto comigo e aos ausentes sempre presentes”, diz Franco.

 

Edição de luxo, o livro presta uma homenagem a um dos mais importantes marchands brasileiros. Os artistas utilizaram técnicas variadas sobre papel fabriano 300g. Dois filhos de Franco participam do projeto: a artista plástica Paola Terranova, responsável pela diagramação e arte final; e o fotógrafo Marco Terranova, que assina a imagem de capa da publicação. As poesias contidas em “Sombras”, segundo Franco, funcionam como uma “autobiografia inventada”, organizadas de acordo com suas lembranças afetivas. Entram flashes de sua vivência na Itália, do mundo das artes e das perdas de amigos como Millôr Fernandes, Mário Faustino, Iberê Camargo, Angelo de Aquino, Volpi, Pancetti, Avatar Moraes, Moriconi, Bruno Giorgi, Guignard, Maria Leontina e tantos outros.

 

Vindo da Itália em 1947, depois de lutar na Segunda Guerra Mundial, Terranova criou a Petite Galerie em um diminuto estabelecimento na Avenida Atlântica, em Copacabana. Seu último endereço, na Barão da Torre, fechou ao longo de três dias de 1988, num evento que Terranova batizou de “O eterno é efêmero”, com artistas criando obras nas paredes, em seguida pintadas de branco. A galeria foi berço para muitos dos principais artistas plásticos do Brasil contemporâneo. O marchand também é reconhecido por introduzir no mercado brasileiro técnicas atualizadas de marketing cultural, realizar os primeiros leilões de arte moderna e fomentar a produção cultural no país. Desde 1988, quando sua galeria fechou as portas por contingências do mercado, Terranova tem se dedicado de forma mais exclusiva a escrever poesias.

 

Até 11 de novembro.

Nove no CCBB-SP

26/out

O Centro Cultural Banco do Brasil, Centro, São Paulo, SP, apresenta “Planos de Fuga – uma exposição em obras”. Com curadoria de Rodrigo Moura, de Inhotim, e Jochen Volz, de Inhotim e curador-chefe da Serpentine Gallery, de Londres, a mostra apresenta trabalhos que dialogam com a arquitetura do prédio do CCBB-SP, incluindo instalações site-specific.

A mostra reúne trabalhos de nove artistas contemporâneos: Carla Zaccagnini, Cildo Meireles, Cristiano Rennó, Gabriel Sierra, Marcius Galan, Mauro Restiffe, Renata Lucas, Rivane Neuenschwander e Sara Ramo. Também estão na exposição obras de três artistas históricos: a suíça radicada no Brasil Claudia Andujar  e os americanos Gordon Matta-Clark e Robert Kinmont. As obras de Cildo Meireles e Rivane Neuenschwander são inéditas no Brasil.

 

Segundo os curadores “Planos de fuga é uma tentativa de se imaginar uma exposição como ato coletivo, no sentido que esta ocupação temporária específica do edifício gera uma co-habitação planejada, composta de múltiplas combinações. As obras do núcleo histórico entram como notas de referência, aludindo a estados de ânimo, lugares e operações distantes fisica e temporalmente do nosso contexto, mas a fins a ele por espírito”.

 

Sobre as obras

 

Entre os trabalhos apresentados em “Planos de Fuga” estão seis instalações site-specific criadas especialmente para o CCBB-SP. É o caso de “Cortina”, de Cristiano Rennó, que ocupará o vão central do edifício com centenas de faixas de plástico translúcido, vermelhas e amarelas, afixadas no terceiro andar do prédio e suspensas no vão. Também a instalação de Sara Ramo, montada no antigo cofre do banco, no piso subsolo. A artista desenvolveu um labirinto – mental, físico e emocional – tendo entre as referências a caixa forte do Tio Patinhas, os canteiros de obras da construção civil e a mineração de metais preciosos.  O fotógrafo Mauro Restiffe foi convidado para documentar o processo de criação da mostra, assim como o momento anterior à sua chegada ao espaço e o entorno do CCBB-SP. O resultado será fixado em um livro finalizado logo após a abertura da mostra e lançado com a exposição já inaugurada, sendo ao mesmo tempo obra e catálogo.  Entre os destaques da exposição, “Ocasião”, de Cildo Meireles, projeto de 1974 que foi construído em 2004,  na Alemanha. Um grande espelho espião conecta dois quartos independentes. No primeiro, há uma bacia cheia de dinheiro e espelhos nas paredes, fazendo o espectador se confrontar com sua imagem e o monte acessível de dinheiro. A segunda sala está vazia e escura, com o espelho espião funcionando como uma janela para a primeira sala. “A Conversação”, de Rivane Neuenschwander, foi exibida em 2010 no New Museum, de Nova York. É inspirada no filme homônimo de Francis Ford Coppola, de 1974, no qual um especialista em escutas acredita que está sendo observado, e traz dispositivos de vigilância instalados em pontos estratégicos de um museu. No núcleo histórico de “Planos de Fuga”, um conjunto de obras de artistas que ajudaram a criar referência nas relações entre arte e lugar. De Gordon Matta-Clark veremos “Coat Closet”, obra de 1973, que pertence à coleção de Inhotim e será exibida pela primeira vez no Brasil. Repórter fotográfica nos anos 1960, Claudia Andujar apresenta o trabalho inédito “São Paulo Através do Carro”, no qual fotografou a cidade enquanto uma amiga dirigia. E do experimentalista Robert Kinmont, as séries “My Favorite Dirt Roads”, de 1969, uma seleção das estradas de terra favoritas do artista, e “8 Natural Handstands”, de 1969/2009, que combina fotografia, escultura e performance e fala da  relação romântica do artista com o meio e sua presença na paisagem da Califórnia, onde ele nasceu, cresceu e trabalha até hoje.

 

De 27 de outubro de 2012 a 6 de janeiro de 2013.