Escola de Belas Artes, 200 anos

11/nov

O Museu Nacional de Belas Artes, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “Escola de Belas Artes:1816-2016 Duzentos anos construindo a arte brasileira”. Sob a curadoria de Angela Ancora da Luz, a mostra faz um recorte da produção artística da instituição que formou e ainda forma centenas de artistas brasileiros desde Vítor Meireles, Antônio Parreiras, Eliseu Visconti, passando por Burle Marx, Goeldi, Portinari, Weissmann, Anna Maria Maiolino, Roberto Magalhães, Lygia Pape, Celeida Tostes, Mauricio Salgueiro até Felipe Barbosa, Bruno Miguel, Jarbas Lopes entre muitos outros.

 

Criada por Decreto Real de D. João em 12 de agosto de 1816, a primeira sede da Escola de Belas Artes foi na Travessa das Belas Artes, próxima a Praça Tiradentes. O prédio, de Grandjean de Montigny, foi projetado para receber a então Academia Imperial das Belas Artes e foi inaugurado em 5 de novembro de 1826. Em 1908, já com o nome de Escola Nacional de Belas Artes, a instituição transferiu-se para seu segundo prédio, com projeto de Morales de los Rios, na Avenida Rio Branco, onde hoje situa-se o Museu Nacional de Belas Artes.

 

Segundo a curadora da exposição, Angela Ancora da Luz, que dirigiu a EBA entre 2002 e 2010, “…a presença da Escola no contexto da sociedade brasileira revelou sua identidade por aspectos pouco conhecidos, mas de grande interesse social e político, além de seu princípio norteador fundamental: o ensino artístico. Uma escola de grande peso no Império e que esteve aberta a todos os que desejassem buscar o caminho das artes, sendo aceitos pelos grandes mestres dos ateliês. O que contava na hora da seleção era o talento, sem restrição ao grau cultural, à raça ou situação econômica. Cândido Portinari, por exemplo, mal havia completado o terceiro ano do curso “primário” quando foi aceito pela instituição, tornando-se a grande referência da pintura brasileira”.

 

“São incontáveis os pintores, escultores, desenhistas, gravuristas, cenógrafos, indumentaristas, designers, restauradores e paisagistas que saíram dos ateliês e salas da escola. O grande desafio que a presente exposição nos trouxe foi o de apresentar apenas alguns destes artistas e suas obras. Mesmo se ocupássemos todas as salas deste museu (…) ainda assim seria impossível apresentar a excelência de tudo que aqui se produziu”, completa a curadora.

 

A exposição ocupará dois salões expositivos do MNBA abrangendo a produção dos artistas que passaram pela Escola de Belas Artes, desde sua criação até a presente data. A dificuldade de selecionar as obras desta mostra comemorativa foi muito grande. Pela excelência dos artistas que passaram por seus ateliês – impossível trazer um representante de cada período – a opção da curadoria foi privilegiar os que tiveram a formação da escola. Muitos desses artistas foram alunos do Curso Livre, admitidos pela avaliação dos Mestres. Passaram pela instituição artistas de todas as classes sociais, a escola sempre foi uma unidade que presava pela diversidade. De todos que cursaram a Escola de Belas Artes, mesmo os que não a concluíram, ficou o reconhecimento do papel fundamental que ela representou em suas trajetórias.

 

O eixo curatorial enfatizou a Escola de Belas Artes como instituição que preserva a preocupação social, política e intelectual das diferenças individuais, o que não impede a formação de um corpo e de uma identidade. A curadoria buscou evidenciar as diferenças e afinidades em desenhos, gravuras, pinturas, esculturas, instalações, vídeos e performances que fizeram da escola um paraíso vocacionado para a arte e a cultura no Rio de Janeiro, potente e famosa caixa de ressonância artística do Brasil.

 

O projeto conta com patrocínio integral da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e a produção/idealização da exposição está a cargo de Anderson Eleotério e Izabel Ferreira – ADUPLA Produção Cultural, que já realizou importantes publicações e exposições itinerantes pelo Brasil, como Farnese de Andrade, AthosBulcão, Milton Dacosta, Miguel Angel Rios, Raymundo Colares, Carlos Scliar, Debret, Aluísio Carvão, Henri Matisse, Bruno Miguel, Antonio Bandeira, Manoel Santiago, Teresa Serrano, Regina de Paula, Nazareno, entre outros.

 

 

Artistas

 

Abelardo Zaluar, Adir Botelho, Alfredo Galvão, Almeida Reis, Amés de Paula Machado, Anna Maria Maiolino, Antonio Manuel, Antônio Parreiras, Arthur Luiz Pizza, Augusto Müller, Bandeira de Mello, Barbosa Júnior, Batista da Costa, Belmiro de Almeida, Bruno Miguel, Burle Marx, Carlos Contente, Cândido Portinari, Celeida Tostes, Décio Vilares, Eduardo Lima, Eliseu Visconti, Estêvão da Silva, Felipe Barbosa, Franz Weissmann, Georgina de Albuquerque, Glauco Rodrigues, Grandjean de Montigny, Henrique Cavaleiro, Hugo Houayeck, Isis Braga, Ivald Granato, Jarbas Lopes, Jean-Baptiste Debret, João Quaglia, Jorge Duarte, KazuoIha, Lourdes Barreto, Lygia Pape, Manfredo de Souzanetto, Marcos Cardoso, Marcos Varela, Marques Júnior, Mauricio Salgueiro, Maurício Dias & Walter Riedweg, Newton Cavalcanti, Oscar Pereira da Silva, Oswaldo Goeldi, Patrícia Freire, Paulo Houayek, Pedro Américo, Pedro Varela, Quirino Campofiorito, Renina Katz, Ricardo Newton, Roberto Magalhães, Rodolfo Amoedo, Rodolfo Chambelland, Ronald Duarte, Rui de Oliveira, Vítor Meireles e Zeferino da Costa

 

 

 

Até 12 de fevereiro de 2017.

Glauco Rodrigues, o filme

29/fev

Letícia Friedrich e Zeca Brito, produtores executivos do filme “Glauco do Brasil” iniciaram a divulgação e lançamento do filme dedicado ao grande artista brasileiro. Passados três anos do início do projeto de documentar a história do artista plástico Glauco Rodrigues, chegou o momento de prestigiar o resultado final dessa incrível jornada.

 

A Anti Filmes e a Boulevard Filmes, em parceria com a Cinemateca do MAM, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, convidam para a pré-estreia do documentário “Glauco do Brasil”, a realizar-se às 19h30 do dia 5 de março, data em que seria comemorado o 87º aniversário do artista. Será um momento muito especial para celebrar a arte através da carreira de um dos mais brilhantes artistas do Brasil. A estreia nacional do filme, ocorrerá dia 10 de março em salas de cinema de arte pelo país.

Fernando Lindote no MAR

27/nov

Por meio da trajetória de Fernando Lindote, a exposição “Fernando Lindote: trair Macunaíma e avacalhar o Papagaio”, com cerca de 180 obras explora o constante procedimento mórfico experimentado pelo artista. As distorções, deformações e transformações que compõem o processo da permanente metamorfose das linguagens estão presentes em toda a trajetória de Fernando Lindote. Com curadoria de Paulo Herkenhoff e cocuradoria de Clarissa Diniz e Leno Veras, a exposição, composta por quatro núcleos, traz desenhos, ilustrações, pinturas e esculturas do acervo e autoria de Lindote – incluindo obras criadas exclusivamente para a exposição no MAR – e também assinadas por outros artistas, como J. Carlos, Albert Eckhout, Victor Brecheret, Maria Martins, Glauco Rodrigues, Rivane Neueschwander além de obras, objetos, impressos e documentos.

 

O ponto de partida da mostra é o início da experiência de Lindote como aluno do cartunista Renato Canini – principal ilustrador brasileiro do Zé Carioca, o papagaio da Disney. A ave com as cores do Brasil – criada em 1942, quando os Estados Unidos buscavam ampliar o poder simbólico de políticas culturais e de diplomacia com a América do Sul – foi muito importante na carreira de Lindote e permeia até hoje sua obra, sendo constantemente revisitada e reinventada, assim como outros personagens estrangeiros com forte entrada na América Latina. As operações mórficas realizadas por Lindote no papagaio – e também por outros nomes – realizam um diálogo com o imaginário constituído desde a chegada do Europeu em nosso continente, o que originou alegorias da América, simbologias do Brasil e representações do Rio de Janeiro. A obra do artista que nomeia a exposição aponta a profunda relação da arte brasileira com a iconografia estrangeira que sempre debruçou seu olhar sobre a natureza tropical.

 

O primeiro núcleo apresenta o início da trajetória de Fernando Lindote nas artes focando na relação entre o artista e Renato Canini. Para contextualizar, a exposição também traz ilustrações de nomes como J. Carlos, Rivane Neueschwander, Glauco, Cláudio Tozzi, assim como exemplares de gibis do Zé Carioca, revista Cacique e O Pasquim. A segunda parte foca na biodiversidade presente nas representações da natureza dos trópicos, tendo o papagaio como um dos símbolos nacionais. O núcleo mostra as relações entre os imaginários dos nativos e dos colonizadores em relação à biodiversidade com obras de Lindote, Francisca Manuela Valadão, Albert Eckhout, Sérgio Allevato, Milton Guran, Ana Miguel e porcelanas Art Déco.

 

O terceiro módulo é composto por um grande número de obras produzidas por Lindote nos anos 1990 e 2015, principalmente, e que abordam a operação mórfica como procedimento plástico do artista, formador de um universo composto por escorrimentos e viscosidades. Completam esta terceira parte trechos do filme Saludos, amigos (Disney, 1948). A construção do imaginário da diversidade cultural através de representações do Rio de Janeiro conceitua o último núcleo. As obras aqui – além de bibelôs, cartões postais, tecidos, fotografias e personagens ícones do Rio e do Brasil – discutem o modo como a cidade foi usada na era das culturas de massa, consolidando-a como um espaço reconhecido internacionalmente por sua capacidade de configurar símbolos plásticos e gráficos.

 

A mostra “Fernando Lindote: trair Macunaíma e avacalhar o Papagaio” ocupará o térreo do Pavilhão de Exposições do MAR. Para marcar a abertura, às 11h acontece a Conversa de Galeria com a participação de Fernando Lindote, Paulo Herkenhoff, Clarissa Diniz e Leno Veras.

 

 

De 1º de dezembro a 24 de abril de 2016.

MASP exibe Moda

26/out

O MASP, Avenida Paulista, São Paulo, SP, inaugurou a exposição “Arte na moda: Coleção MASP Rhodia”, na qual apresenta o conjunto completo da Coleção MASP Rhodia, doada em 1972, e composta por 78 peças produzidas nos anos 1960. Assinam a curadoria da mostra o diretor artístico Adriano Pedrosa, a curadora adjunta Patrícia Carta e o curador Tomás Toledo.

 

A coleção foi doada pela empresa química francesa Rhodia, que lançava seus fios sintéticos no Brasil, e utilizava desfiles e coleções de moda como forma de divulgação de seus produtos. Essa estratégia foi concebida por Lívio Rangan, então gerente publicitário da Rhodia, responsável por coordenar a criação das coleções e organizar os desfiles onde as roupas eram divulgadas. Estes se aproximavam mais de um espetáculo que de uma divulgação comercial, reunindo profissionais do teatro, dança, música e das artes para sua realização.

 

O vestuário exposto tem estampas criadas por artistas brasileiros como Willys de Castro, Aldemir Martins,Hércules Barsotti, Carybé, Ivan Serpa, Nelson Leirner, Manabu Mabe, Alfredo Volpi, Lula Cardoso Ayres e Antonio Maluf, entre outros. As escolhas dos artistas revelavam o interesse em dialogar com a arte contemporânea do momento e refletiam as principais tendências estéticas e programas artísticos do período.

 

A abstração concreta está presente nas peças de Hércules Barsotti, Willys de Castro e Antonio Maluf. Já a abstração informal aparece nos vestidos de Manabu Mabe e Antonio Bandeira, e as referências ao pop, nas peças de Carlos Vergara, e Nelson Leirner.

 

Outra preocupação era trazer para a coleção a temática da cultura popular brasileira, parte importante da história do museu, além de assunto frequente nas pesquisas de Lina Bo Bardi. As estampas criadas por Aldemir Martins, Carybé, Francisco Brennand, Genaro de Carvalho, Lula Cardoso Ayres, Manezinho Araújo, Gilvan Samico e Carmélio Cruz refletem o tema.

 

A moda esteve presente no MASP em eventos e exposições realizadas no passado, como o desfile de vestidos de Christian Dior, em 1951; o desfile de moda brasileira, em 1952; e o Festival de Moda – I Exposição Retrospectiva da Moda Brasileira, de 1971, no qual foram exibidas algumas das peças que estão presentes nesta mostra. A expografia desenvolvida para a exposição é uma combinação monocromática de dois elementos: bases horizontais elevadas do chão para os manequins e cortinas que criam planos verticais de fundo para as peças. Distribuídos pelo espaço expositivo do segundo subsolo, criam um percurso de visitação: se vistos de cima, uma composição gráfica de curvas e retas. A opção pela predominância da cor preta nos elementos expográficos permite destacar as cores vibrantes das peças e, ao mesmo tempo, controlar melhor a intensidade da iluminação, para preservar as peças têxteis, bastante sensíveis.

 

No contexto da exposição, será vendido um catálogo inédito com reprodução das 78 peças. Além do texto curatorial, o catálogo contará com comentário crítico da especialista Patrícia Sant’Anna, cuja tese de doutorado realizado na Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, abordou a coleção MASP-Rhodia.

 

Estarão contemplados na publicação e na exposição os artistas Aldemir Martins, Alfredo Volpi, Antonio Bandeira, Antonio Maluf, Carlos Vergara, Carmélio Cruz, Carybé, Danilo Di Prete, Fernando Lemos, Fernando Martins, Francisco Brennand, Genaro de Carvalho, Gilvan Samico, Glauco Rodrigues, Hércules Barsotti, Hermelindo Fiaminghi, Isabel Pons, Ivan Serpa, João Suzuki, José Carlos Marques, Kenishi Kaneko, Licínio de Almeida, Lívio Abramo, Luigi Zanotto, Lula Cardoso Ayres, Manabu Mabe, Manezinho Araújo, Moacyr Rocha, Nelson Leirner, Tikashi Fukushima, Tomoshigue Kusuno, Waldemar Cordeiro e Willys de Castro.

 

 

O conceito da curadora adjunta

 

Para Patrícia Carta, o acervo único reúne a riqueza de um momento histórico marcado pela ascensão do prêt-à-porter e pela crescente industrialização do país. “A importância desta exposição, além de trazer a estética e a plasticidade da época, é aproximar a arte de outras áreas, como moda e design, e é um bom exemplo de dessacralização do espaço museológico.”

 

 

Sobre Patrícia Carta

 

É curadora adjunta de vestuário e moda do MASP, diretora da Carta Editorial, que publica Harper’s Bazaar e a revista Iguatemi, entre outros títulos. Foi diretora das publicações da Condé Nast, como a Revista Vogue, de 2003 a 2010. Na Folha de S.Paulo, foi editora de moda de 1992 a 1997.

 

 

Curso Arte, Moda e Museu

 

O Museu de Arte de São Paulo – MASP oferece, por meio do MASP Escola, uma grade abrangente se cursos livres voltados para interessados em artes — temas como fotografia, história da arte e moda são destaques. Desde o dia 21 de outubro, o museu oferece o curso “Arte, Moda e Museu”, ministrado por Lorenzo Merlino, que se propõe a localizar e relacionar características cruciais da história da moda, iniciando pela pré-história e as primeiras vestimentas, passando pela diferenciação por gênero da Idade Média, e chegando ao contexto recente da globalização expressa pelo Ready-to-Wear e o Fast Fashion. Os movimentos de vestuário serão apresentados de maneira cronológica com viés crítico e inter-relacional ao longo de oito aulas.

 

Lorenzo Merlino tem 20 anos de experiência no mundo da moda, professor titular da cadeira de Estilo no curso de moda da Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP desde 2010 e Pós-Graduado com nota máxima em História da Arte pela mesma instituição em 2013. Professor colaborador na Escola São Paulo, na Casa do Saber, no Senac e nas Faculdades Rio Branco. Desde abril é o novo figurinista-residente do Theatro Municipal de São Paulo.

 

 

Até 14 de fevereiro de 2016.

Brasileiros na Tate Modern

24/set

Obras de sessenta e quatro artistas de vinte e oito países estão representados na exposição “The EY Exhibition: The World Goes Pop”,  na Tate Modern, Londres, Inglaterra, montada para contar a história mundial da Pop Art, abrindo novos caminhos e revelando um lado diferente deste fenômeno artístico e cultural. Da América Latina à Ásia, da Europa ao Oriente Médio, a exposição “The World Goes Pop” liga os pontos entre a arte produzida ao redor do mundo durante as décadas de 1960 e 1970, mostrando como diferentes países e culturas responderam ao movimento. Desde a política, o corpo humano, as revoluções domésticas, os materiais de consumo, protestos e folclore – tudo será exposto e explorado na mostra, em suportes variados que contemplam inclusive capotas de automotivas e máquinas de pinball. Vários artistas brasileiros integram a exposição, nomes como Antonio Dias, Wesley Duke Lee, Glauco Rodrigues, Anna Maria Maiolino, Claudio Tozzi, Romanita Disconzi, Raymundo Colares, Marcelo Nitsche e Teresinha Soares.

 

Até 24 de janeiro de 2016.

CFB: 25 anos

11/ago

A Casa França-Brasil, um espaço da Secretaria de Estado de Cultura administrado pela organização social Oca Lage, apresenta a partir do próximo dia 15 de agosto “CFB: 25 anos”, cinco mostras simultâneas que celebram seus 25 anos de atividade. O curador Pablo León de la Barra reuniu trabalhos dos artistas Cildo Meireles, Alfredo Jaar, Beto Shwafaty, e os filmes “Canoas” (2010), de Tamar Guimarães; “Superfícies vibráteis” (2005), de Manon de Boer; e “Bete & Deise” (2012), de Wendelien van Oldenborgh. O espaço central será ambientado como local de convivência, como “uma praça cultural”, onde o público poderá ver uma seleção de documentos de exposições realizadas na Casa desde 1990, em curadoria conjunta com Natália Quinderé.

 

Do artista chileno Alfredo Jaar (1956), residente em Nova York desde 1982, estará o letreiro “Cultura = Capital” (2012-2015), que ficará suspenso a 3,5 metros do chão do espaço central. Ele amplia o conceito de “Arte = Capital” (“Kunst = Kapital”) de Joseph Beuys, e acompanha o pensamento dos filósofos Antonio Gramsci e Friedrich Nietzsche de que “cultura é fundamental para a existência humana”. “Para Jaar, arte e cultura constituem um espaço de resistência e desempenham um papel fundamental em nossas vidas políticas diárias”, comenta Pablo León de la Barra. “Em tempos de recessão econômica, quando cultura e educação logo sofrem cortes orçamentários, ‘Cultura = Capital’ reconhece que cultura não é apenas um fator de desenvolvimento econômico, mas uma necessidade básica e elemento indispensável para o progresso social. Invertendo a equação, sem cultura, não existe capital”, afirma o curador.

 

O espaço do Cofre será ocupado com dezesseis obras icônicas de Cildo Meireles (1948) sobre a moeda brasileira, “em uma pequena retrospectiva” das séries “Zero Cruzeiro” (1974), que, observa o curador, “questiona o valor do dinheiro”; “Inserções em Circuitos Ideológicos” (a partir de 1970), que “demonstra como os indivíduos podem interferir na economia, na política e na ideologia”; e ainda “Projeto Cédula (1970-2015).

 

Na primeira sala lateral, estará a instalação “Remediações” (2010-2014), de Beto Shwafaty, artista nascido em São Paulo em 1977. Ele discute criticamente o projeto nacional brasileiro e sua transposição para os campos da cultura visual, nas estratégias de propaganda, desde o final do século 19 até os tempos atuais, passando pelo modernismo e pelo regime militar. Para isso, criou um ambiente com linguagem museográfica, com móveis, vitrines em acrílico, painéis com treliças, fotografias e intervenções feitas sobre material impresso, como cartazes, e um monitor de televisão onde é exibido em looping um vídeo videocolagem de dez minutos, com uma colagem feita a partir de material de arquivo de cinco décadas, onde o Brasil turístico é intercalado por cenas de Zé Carioca, criado por Walt Disney dentro da política de “boa vizinhança”, uma fala do geógrafo Milton Santos sobre o legado colonial, e ainda cenas de “Terra em Transe”, de Glauber Rocha. A obra cria “uma tensão entre desejo e realidade”, diz o curador.

 

 

JARDIM DE INVERNO / ARQUIVO 25 ANOS

 

O espaço central será transformado em um “Jardim de Inverno / Praça Pública”, onde será exposto o arquivo histórico de 25 anos da CFB como centro cultural, com dez estações com mesas-vitrines, cadeiras e vasos de plantas, onde o público poderá mergulhar em uma seleção de eventos realizados ao longo da história da instituição. Pablo León de la Barra buscou criar um espaço acolhedor, e ao mesmo tempo recuperar a história tanto da construção, criada em 1820 para ser uma Praça de Comércio, quanto das exposições realizadas ao longo de seus 25 anos. “A Casa tem um público cativo, que vem aqui para ler, estar em um local público e seguro. Transformamos então o espaço central em uma grande sala de leitura, uma praça cultural”, explica o curador. A inspiração vem de “Un jardin d’hiver” (“Um jardim de inverno”), obra de 1974 do artista belga Marcel Broodthaers, um jardim de palmeiras com vitrines contendo gravuras “como forma de crítica aos discursos coloniais e à autoridade das instituições culturais”. Para compartilhar a curadoria deste espaço, Pablo León de la Barra convidou Natália Quinderé, que pesquisou os arquivos da instituição e levantou documentos sobre as exposições realizadas nos últimos 25 anos, que foram selecionados e serão dispostos em oito núcleos:

 

 

1.    Fotografia em foco

 

“Cartier Bresson & Sebastião Salgado: Fotografias”, de 27 de junho a 29 de julho de 1990; e “Retratos da Bahia: fotografias de Pierre Verger e aquarelas de Carybé”, de 19 de setembro a 7 de outubro de 1990

 

2.    “Missão artística francesa e os pintores viajantes: França-Brasil no século XIX”, de 13 de novembro a 16 de dezembro de 1990, com curadoria de Jean Boghici

 

3.    “Apoteose Tropical: desfile-exposição com pinturas de Glauco Rodrigues”, de 31 de janeiro a 3 de março de 1991, com curadoria de Frederico Morais.

 

Índios na Casa

 

“Brasilidades: Amazônia e a França – Portinari – A Festa do Bumba”, de 28 de  maio a 23 de junho de 1991, organizado pela antropóloga Berta Ribeiro;           “Programa de índio: Kuarup”, em 8, 10 e 11 de agosto de 1991; e “Grafismo Kadiwéu”, de 7 a 30 de maio de 1993.

 

5.   Internacionais – um pequeno recorte

 

“Miró: Águas-fortes e litografias”, de 25 de abril a 11 de junho de 1996; “Niki de Saint Phalle”, de 8 a 26 de janeiro 1997, com curadoria de Jean-Gabriel Mitterand; “Cerâmicas de Picasso”, de 7 de dezembro de 1999 a 22 de janeiro de 2000, com curadoria de Picasso Bernard Ruiz Picasso.

 

6. “Situações: Arte Brasileira – anos 70”, de 16 de agosto a 24 de setembro de 2000, com curadoria de Glória Ferreira e Paula Terra.

 

7. “Arte e religiosidade no Brasil – Heranças Africanas”, de 19 de fevereiro a 26 de abril de 1998, com curadoria de Emanoel Araújo e Carlos Eugênio Marcondes de Moura.

 

 

8.    Cenários espetaculares

 

“Isto é a França em Quadrinhos – I Bienal Internacional de Quadrinhos”, de31 de outubro a 5 de dezembro de 1991; “Viva a água”, de 1° de junho a 5 de julho de 1992; e “Egito Faraônico – Terra dos deuses”, de 27 de setembro de 2001 a 7 de abril de 2002, com curadoria de Elisabeth Delange, curador associado Antônio Brancaglion Jr e Marly Atsuko Shibata (assistente).

 

 

9.    Por que uma Casa França-Brasil?

 

Inaugurada em 1990, a Casa França-Brasil surgiu da conjunção de vários projetos culturais: a tentativa de criar 16 Casas de Cultura por todo Estado do Rio de Janeiro; a criação de um corredor cultural no Centro do Rio, com início no Museu de Arte Moderna; e o desejo do antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997), à época em que foi vice-governador, de restaurar a construção projetada por Grandjean de Montigny (1776-1850) a pedido de D. João VI, para ser Praça do Comércio, concluída em 1820. Alfândega a partir de 1824, arquivo de bancos ítalo-germânicos durante a Segunda Grande Guerra, e II Tribunal do Júri, entre 1956 e 1978, o prédio estava desativado. Em 1985 foi feita a assinatura para o restauro, uma parceria entre a Secretaria estadual de Cultura, o SPHAN/Pró-Memória, a Fundação Roberto Marinho e a Rhodia S.A. O projeto museográfico ficou a cargo de Pierre Catel, financiado pelo Ministério da Cultura da França, e após cinco anos de obras a Casa França-Brasil foi inaugurada, em 29 de março de 1990. A cocuradora Natália Quinderé conta que “os eventos realizados pela Casa, entre 1990 a 2008, abrangiam desde exposições de artistas brasileiros e estrangeiros, mostras sobre a cultura popular a salões de antiquário e de colecionadores de selos”. A partir de 2008, a Casa França-Brasil passou por uma nova reforma e transformação de sua missão institucional, com foco na arte contemporânea.

 

 

10.  Anos 2009-2015

 

Em 24 de outubro de 2009, a Casa França-Brasil reabriu suas portas, sob a direção de Evangelina Seiler, depois de um ano de reformas físicas do prédio e de mudança em sua missão institucional. A obra inaugural foi uma enorme estrutura suspensa por cabos e com planos transparentes da artista Iole de Freitas, projetada especialmente para esse espaço. A partir de então passaram pela instituição artistas de linguagens e produção diversa, como Laura Lima, Hélio Oiticica, Daniel Senise, Waltercio Caldas, José Rufino, Laercio Redondo, Carmela Gross, Cristina Iglesias e Dias & Riedweg. Paralelamente, o cofre da antiga Praça do Comércio e da Alfândega passou a abrigar trabalhos de artistas de trajetórias variadas, convidados, normalmente, pelo artista que ocupava o vão central e as salas principais. Expuseram ali Amália Giacomini, Ana Miguel, Pedro Victor Brandão, Analu Cunha, Efrain Almeida, Daniel Steegmann, Marcelo Cidade, Jorge Soledar, entre outros.

 

 

FILMES

 

A segunda sala lateral será transformada em um cinema, com a exibição de filmes –  cada um em um período – de três artistas que reexaminam momentos recentes da história cultural e política do Brasil:

 

15 a 27 de agosto – “Canoas” (2010, 13’30’’), 16mm transferido para digital, cor/som, de Tamar Guimarães, nascida em 1967 em Belo Horizonte, e residente em Copenhague. Em “Canoas”, é encenado um coquetel na emblemática casa modernista de Oscar Niemeyer, a Casa das Canoas, que ele projetou em década de 1950 para morar. Em meio à aparente frivolidade burguesa da festa, e enquanto são servidos por criados e garçons, os convidados discutem o passado do Brasil no que se refere às contradições entre a arquitetura moderna e o projeto social modernista, o trauma da ditadura política e do exílio, e as distinções de classe e de raça, mas também a presença de um desejo erótico pelo outro.

 

28 de agosto a 9 de setembro – ““Superfícies vibráteis” (2005, 38’), falado em francês e português, com legendas em português, 16mm transferido para digital, da artista Manon de Boer, nascida em 1966 em Kodaicanal, Índia, e radicada em Bruxelas. Em seu filme, ela dá voz às memórias pessoais da psicanalista brasileira Suely Rolnik, que, nos anos de 1960, partiu em exílio para Paris devido à ditadura brasileira e, na década seguinte, estudou com os filósofos franceses Félix Guattari (1930-1992) e Gilles Deleuze (1925-1995).

 

10 a 20 de setembro – “Bete & Deise” (2012, 41’), HD, em português e legendas em inglês, da artista Wendelien van Oldenborgh, nascida em 1962, em Roterdã, Holanda, onde vive. “Bete & Deise” apresenta um encontro entre duas mulheres em um canteiro de obras, no Rio de Janeiro. A atriz Bete Mendes e a cantora de funk Deise Tigrona conversam sobre o uso de suas vozes e posições na esfera pública, permitindo que as contradições que trazem internamente venham à tona. Utilizando uma montagem que combina de modo sugestivo as vozes das duas mulheres com suas imagens, Van Oldenborgh nos confronta com reflexões sobre a relação entre produção cultural e política e o poder que pode ser gerado quando questões públicas se entrelaçam com o pessoal.

 

 

JORNAL

 

A exposição será acompanhada de um jornal em formato tabloide, com tiragem de cinco mil exemplares e distribuição gratuita ao público visitante. A publicação terá textos de Pablo León de la Barra, Natália Quinderé, e do músico e do arquiteto Guilherme Wisnik.

 

 

PABLO LEÓN DE LA BARRA

 

Nascido em 1972, na Cidade do México, Pablo León de la Barra tem PhD em History and Theory, pela Architectural Association, Londres, em 2010. Curador independente, realizador de exposições, pesquisador em arte e arquitetura, é também curador-residente do programa Guggenheim UBS MAP para América Latina, em Nova York.

 

 

NATÁLIA QUINDERÉ

 

Natália Quinderé é doutoranda em História e Crítica de Arte no Programa de Artes Visuais da UFRJ (PPGAV/EBA), onde pesquisa sobre os museus de artista. É coeditora executiva da revista Arte & Ensaios (PPGAV/EBA/UFRJ), e trabalhou em alguns projetos curatoriais. Em janeiro de 2015, participou do programa EAVerão, da Escolas de Artes Visuais do Parque Lage.

 

 

De 15 de agosto a 20 de setembro.

Exposição “Caro, Cara”.

14/jul

O MARGS, Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, Centro Histórico, Porto Alegre,

RS, apresenta como exposição complementar e em paralelo à mostra individual do artista

Alessando Del Pero, a coletiva temática “CARO, CARA”. Composta de retratos e autorretratos ,

o acervo exibe peças raras como “Retrato de Walmir Ayala”, de Inimá de Paula, “Retrato de

Maria Helena Lopes”, de Glauco Rodrigues A curadoria do evento é de André Venzon.

 

“CARO, CARA”:

 

Artistas participantes: Ado Malagoli, Aldo Locatelli, Alessandro Del Pero,

Alessandro Ruaro, Alexandre Pinto Garcia, Amália Cassullo, Ana Nunes, Arthur

Timótheo da Costa, Bea Balen Susin, Britto Velho, Bruno Goulart Barreto , Carla

Magalhães, Carlos Petrucci, Carlos Scliar, Cláudio Tozzi, Djalma do Alegrete, Edgar

Koetz Eduardo Cruz, Edy Carollo, Elaine Tedesco, Elle de Bernardini, Ernesto

Frederico Scheffel, Ernst Zeuner, Felipe Alonso, Flávio de Carvalho, Flavya Mutran,

Francisco Brilhante, Franz Von Lenbach, Gastão Hofstetter, Gilberto Perin, Gilda

Vogt, Glauco Rodrigues, Guignard, Heloisa Schneiders, Henrique Bernardelli,

Henrique Cavalleiro, Henrique Fuhro, Iberê Camargo, Inimá de Paula, J.C. Reiff

Jacintho Moraes, Jesus Escobar, João Bastista Mottini, João Fahrion, João Faria

Viana, João Otto Klepzig, Jorge Meditsch, José Carlos Moura, José de Souza Pinto,

Juan Uruzzola, Julio Gavronski, Julio Ghiorzi, Kira Luá, Leandro Selister, Leda Flores,

Leo Santana, Lepoldo Gotuzzo, Letícia Remião, Luiz Antônio Felkl, Luiz Carlos

Felizardo, Luiz Zerbini, Magliani, Marcelo Chardosim, Marcos Noronha, Maria

Leontina, Maria Tomaselli, Mariana Riera, Marilice Corona, Mario Agostinelli, Mario

Palermo, Mariza Carpes, Martin Heuser, Miriam Tolpolar, Neca Sparta, Nelson

Wilbert, Patrício Farias, Patrick Rigon Regina Ohlweiler, Ricky Bols, Roberto

Magalhães, Roberto Ploeg, Rochele Zandavali, Rodrigo Plentz, Roosevelt Nina,

Roseli Pretto, Sandra Rey, Sergio Meyer, Silvia Motosi, Sioma Breitmann, Sotero

Cosme, Telmo Lanes, Téti Waldraff, Theo Felizzola, Tiago Coelho, Trindade Leal,

Ubiratã Braga, Vasco Prado, Vitória Cuervo, Walter Karwatzki, Xico Stockinger, ZIP.

 

 

     A palavra do curador

 

O retrato daquele que fica. Dos notáveis e dos anônimos. O

retrato de pompa, da classe dominante, da burguesia.

O retrato do oprimido. O retrato imponente e o impotente. A

rebeldia do retrato. O retrato de família. O nu retratado. O retrato

do ídolo e da criança. O autorretrato.

O retrato imaginário, o anti-retrato.

O retrato como obsessão.

 

 

Caro, Cara…

Retratos correspondentes no acervo MARGS e artistas convidados

 

O retrato enfoca o humano no que possui de mais marcante: o rosto. Seja de perfil, voltado a

três quartos, de corpo inteiro, da cintura ou dos ombros para cima, equestre, de nobres,

militares, políticos ou religiosos; de artistas, personalidades ou marginais, de mulheres e

crianças. O retrato pintado, esculpido em carrara e encarnado − ou cuspido e escarrado como

no popular − desenhado, gravado, fotografado, em preto e branco, colorido, lambe-lambe,

3×4, polaróide, still, grafitado, no Facebook, a selfie…

 

A intensidade e qualidade das obras em retratos e autorretratos do artista italiano Alessandro

Del Pero, serviram de ensejo para a presente exposição Caro, cara, que busca valorizar na

correspondência entre obras do acervo do MARGS e artistas convidados, o que identificam a si

mesmo e ao outro por meio do olhar. Portanto esta é uma curadoria endereçada mais aos

artistas do que às obras, pois seus retratos representam o lugar mais próximo que podemos

estar deles, aonde o Museu também quer estar: ao lado dos artistas.

 

São diversos os exemplos de quanto este tema fascina os artistas. A começar pela literatura,

podemos citar o polêmico “O retrato de Dorian Gray” (1890), de Oscar Wilde, que faz uma

crítica social e cultural da sociedade britânica à sua época; o autobiográfico “O retrato do

artista quando jovem” (1916), de James Joyce, em que recorre a fases da sua vida para

construir o personagem alter ego do autor; o épico “O retrato” (1951), da trilogia “O Tempo e

o Vento”, de Érico Verissimo, cuja atmosfera histórica evoca na passagem do tempo as

gerações que se sucedem; até o romance “O pintor de retratos” (2001), de Luiz Antônio de

Assis Brasil, que expõe os questionamentos e contradições de um pintor frente à sedução da

fotografia.

 

No cinema, no filme de Giuseppe Tornatore, Stanno tutti bene (1990), Marcello Mastroianni

interpreta um pai que ao sair em viagem para rever os filhos exibe vaidoso pelo caminho uma

foto das suas crianças, fantasiadas como atores de ópera. O diretor ao introduzir esta imagem

do retrato como objeto de construção da sua narrativa visual, além de fazer uma rica menção

ao teatro, coloca-nos no lugar do personagem, que ao sentir saudade recorre ao álbum para

lembrar-se do outro.

 

É claro que nas artes plásticas também são inúmeras as criações que têm o retrato como

assunto central, a começar pelo quadro mais célebre da história da arte a enigmática Mona

Lisa (1503-1517), de Leonardo da Vinci. Ainda, entre as 12 obras de arte mais famosas de

todos os tempos, figuram nove retratos, como o revelador “Retrato do artista sem barba”

(1889) de Vincent van Gogh e o zeloso “O retrato do Dr. Gachet” (1890) do mesmo artista,

além das pinturas “Garota com brinco de pérola” (1665), de Veermer, que revela a intimidade

de uma modelo anônima; a familiar cena “Mulher com sombrinha” (1875), de Monet, cujo

enquadramento mais casual já é uma influência direta da fotografia; assim como o

descontraído “O almoço dos remadores” (1881), de Renoir; ou o angustiante “O grito” (1893),

de Munch; em contraste ao apaixonado “O beijo” (1909), de Klimt; até a inspiradora “Dora

Maar com gato” (1941), musa e amante, do cubista Picasso.

 

Segundo o filósofo francês Merleau-Ponty (1908-1961) “o retrato celebra o enigma da

visibilidade”, pois cada um tem sua própria história e devaneios. Por isto mesmo, o interesse

em revelar o retrato do contemporâneo, a partir do retrospecto deste gênero artístico no

acervo do MARGS, foi desde o início o principal objetivo deste projeto curatorial, que mostra a

diversidade da face do artista e seus pares, ao longo de obras da coleção que recuam há um

século e meio, até chegar à contemporaneidade que faz do retrato, enquanto disfarce sua

faceta mais interessante da liberdade de expressão do nosso tempo.

 

Há que destacar, porém, que o contínuo processo histórico ao longo do século passado de

transformação do sujeito retratado − apesar de representar uma revolução visual, entretanto,

passou por períodos de exceção em que o retrato do indivíduo ficou marcado pela

deformação. Foi desfeito, para não dizer destruído, durante os períodos de guerra e regimes

totalitários, causando a perda da identidade, da voz e da imagem, como representação visual

da humanidade. A ponto de, a multidão prevalecer quase totalmente sobre o indivíduo, que

esteve sem nome, sem título, tornando-se precário, excluído, invisível, não sendo mais capaz

nem de ser associado ao rosto que lhe carrega. Uma verdadeira castração psicológica que

transformou o humano em coisa.

 

Contudo, o modo de lidar com a sociedade de hoje não é ignorando-a. Os novos valores

estabelecidos, as mudanças e a rebeldia atual, nos ensinam cotidianamente ver com olhos

mais perspicazes e críticos este mundo de imagens em que estamos imersos.

 

Então, o que a arte e uma exposição de retratos podem nos levar a pensar e imaginar sobre

nós mesmos e o outro?

 

No mundo super contemporâneo, todos carregamos um pedaço de plástico com uma tela de

vidro na mão o dia inteiro… É quase uma extensão do nosso corpo a produzir imagens mobile

compartilhadas via redes sociais. Este tipo de comportamento − se de forma alienada − investe

contra a imaginação e a potência da visualidade. Na contramão deste movimento, a criação

artística assegura a permanência dos signos visuais e ao suscitar múltiplas possibilidades

perceptivas faz da imagem uma força de resistência contra o arbítrio da padronização.

 

Todavia, no campo da arte os retratos e autorretratos permanecem a ser construções de

exposição absoluta do indivíduo, nas quais os artistas se valem do próprio corpo ou do outro

como objeto de representação e veículo expressivo, pelo qual revelam sutis e sensíveis

verdades. Evidenciando, ao final, que a única coisa que podemos salvar é o olhar do outro, e o

retrato − ou o autorretrato, é a imagem pela qual verdadeiramente nos vemos.

 

 

Até 26 de julho.

Danúbio Gonçalves, 90 anos.

30/jan

O artista plástico Danúbio Gonçalves completou 90 anos. Pintor, gravador, desenhista, mosaicista, ilustrador e professor, é o último representante do coletivo de artes visuais  conhecido como “Os Quatro de Bagé”: Carlos Scliar, Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti.  Reuniram-se – nos anos 40 e 50 – em Bagé, cidade fronteiriça do Rio Grande do Sul, com a intenção de criar obras que retratasse os hábitos culturais do estado. O grupo também participou ativamente do Clube de Gravura de Porto Alegre. No ano de 2014 morre Glênio Bianchetti, fixado em Brasília, os demais, Glauco Rodrigues e Carlos Scliar já haviam falecido. Danúbio Gonçalves – embora tenha sido aluno de Portinari no Rio de Janeiro nos anos 50 –  optou por desenvolver sua carreira no Rio Grande do Sul. Danúbio foi determinante na carreira de muitos artistas que o sucederam, pois foi por muitos anos diretor e professor do Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre. Assinalando a data, podem ser vistas no saguão do MARGS ADO MALAGOLI, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, presta homenagem ao artista exibindo algumas obras de seu acervo.

 

 

Até 29 de março.

Centenário de Vasco Prado

29/abr

O Guion Arte, exibe em seu hall de entrada dos cinemas do Centro Comercial Nova Olaria, Cidade Baixa, Porto Alegre, RS, a exposição “Vasco Prado, O Centenário de Um Farol Das Artes”. Abril é o mês do centenário de Vasco Prado. A mostra reúne desenhos, gravuras, pinturas, esculturas, entre outras técnicas desenvolvidas pelo grande mestre da arte nacional. Uma parte da mostra provém de acervos de colecionadores.

 

Nome histórico da arte moderna brasileira, o escultor tornou-se ao longo de sua carreira um mestre cultuado por diversas gerações de escultores no Rio Grande do Sul. Na juventude dividiu atelier com Iberê Camargo e nos anos 1950 criou ao lado de Carlos Scliar, Glauco Rodrigues, Danúbio Gonçalves, Glênio Bianchetti e outros artistas da mesma geração o hoje histórico Clube da Gravura, experiência baseada nos atelier de xilogravura mexicanos que tratava das edições populares dessa técnica.

 

Foi dado um destaque especial para diversas peças como as realizadas em terracota, técnica em cerâmica com a qual Vasco Prado ficou reconhecido por desenvolver uma linguagem própria. A curadoria é de Carlos Schmidt, também editor de esmerado catálogo que acompanha a exposição. No conjunto, esculturas como “Os Amantes”, além de terracotas em únicas edições, bronzes iconográficos e uma escultura em pedra, material com o qual Vasco Prado trabalhou muito pouco, ganham especial atenção. Da mesma forma a reedição em bronze da escultura “Gaúcho”, obra dos anos 1940.

 

 

Até 26 de junho.