ARTISTAS BRASILEIROS NA ITÁLIA

14/jun

Tendo como pano de fundo a vasta parceria que ensejou o deslocamento de artistas brasileiros para aperfeiçoamento em algumas das mais importantes instituições de ensino artístico da Itália,  ao longo de três séculos, o Museu Nacional de Belas Artes, Centro, Rio de Janeiro, RJ, criou e inaugura a exposição “Artistas brasileiros na Itália”. Elaborada a partir da coleção singular de arte brasileira do Museu Nacional de Belas Artes, a mostra proporciona uma fruição e reflexão a respeito do fazer artístico do oitocentos, do século XX, chegando ao contemporâneo, a partir de experiências estéticas vivenciadas por um seleto grupo de artistas que assimilaram a cultura italiana na construção de seu legado artístico.

 

Por trás deste cenário –  são cinco salas expositivas com cerca de 97 obras, entre pinturas, esculturas, desenhos  e gravuras -, encontra-se em exibição trabalhos de 38 artistas,  cujo recorte de sua  produção, selecionada pelos curadores,  oferece uma análise sobre a atração que um centro de referência artística como Ia tália exerceu, nos séculos XIX e XX sobre os artistas brasileiros;  passando pelos meandros da convivência entre a então Academia Imperial de Belas Artes (cujo acervo foi herdado pelo MNBA) e instituições italianas como Academia San Lucca, em Roma, ou com os ateliês particulares, aqui pontuando os de Minardi e Cansoni.

 

Outra questão desenvolvida na exposição “Artistas brasileiros na Itália” abrange as premiações, enfocando o universo dos prêmios de viagem que os artistas recebiam para aprimorar estudos em Roma, um forte centro formador de arte no século XIX,  eixo que, contudo, migrou para Paris no início do século seguinte.

 

A mostra reúne nomes consagrados como Vitor Meireles, Agostinho da Mota, Zeferino da Costa, Rodolfo Bernardelli, Pancetti, Carlos Oswald, Bruno Giorgi, Maria Bonomi,  Iberê Camargo e Darel, dentre outros.

 

O evento comemora os fortes vínculos artísticos e culturais entre os dois países,  dentro do “Momento Itália-Brasil” e a Data Nacional da República da Itália, em 2 de junho. A curadoria é de Monica Xexéo, Daniel barreto, Pedro Xexéo e Laura Abreu.

 

De 18 de junho a 05 de agosto.

UMA NOVA LEITURA DE IBERÊ CAMARGO

12/jun

Convite da exposição

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, exibe em seu 2º andar, a exposição “O “outro” na pintura de Iberê Camargo”. O “outro” na pintura de Iberê Camargo apresenta ao público visitante a alteridade na produção do artista. Propõe-se uma desconstrução do estereótipo do excesso e da tonalidade sombria que cerca a produção de Iberê, ao mostrar que sob o “caos” pictórico está a ordem construtiva deste processo. Entre os momentos em que  configura-se este outro, a curadora Maria Alice Milliet destaca as vielas de Santa Tereza, os objetos alinhados sobre a mesa, o raio de sol sobre a parede do ateliê. A ideia da duplicidade já habitava os pensamentos de Iberê Camargo. No mês em que faleceu, março de 1994, o artista escreveu o conto “O duplo”, em que narra em primeira pessoa uma perseguição protagonizada pelo  outro.  Assim, ele constatou seu próprio medo em encarar-se: “Falta-me coragem para ver o outro que vive fora de mim”, termina a pequena história.

Procurar o não visível na obra de Iberê se torna um desafio proposto pela exposição, que tem como fio condutor as afinidades que o artista desenvolveu durante a vida e que se apresentam em sua produção.  O conjunto contempla 69 obras e é guiado por estas diferentes formas de proximidade. A pintura metafísica de Giorgio de Chirico e a construção geométrica de André Lhote exemplificam estas similaridades, mas foi com a obra de Giorgio Morandi que Iberê estabeleceu um íntimo diálogo. Esta relação afinada se construiu a partir de gravuras e pinturas nas quais Iberê apresentou objetos comuns de maneira solene, valorizando processos pessoais e sensoriais na produção artística. Apropriar-se de um olhar diferente para a pintura de Iberê é a provocação lançada na exposição.

 

De 14 de junho de 2012 a 10 de março de 2013.

 

“O duplo”, um conto de Iberê Camargo

Sentado num dos primeiros bancos do ônibus número 15, Praça São Salvador–Rio Comprido, vejo surpreso, e logo com crescente espanto, minha imagem refletida no retrovisor, com traje e movimentos que não são meus. Para afastar a possibilidade de uma alucinação, faço, como prova, exaustivos gestos propositadamente exagerados, que a imagem refletida não repete.

– Um sósia? Mas esse é semelhante, jamais idêntico.

Meu desassossego, meu espanto crescem.

O outro, com roupa e movimentos diferentes, permanece tranquilo, impassível, alheio à minha presença e parece nem se importar em ser réplica.

– Ele não me terá visto? Impossível, estamos próximos. Ele talvez ocupe um assento à minha frente. Não sei.

A ideia do indivíduo de ser dois apavora.

Já agora preso de um terror incontrolável, soo a campainha do coletivo e desço precipitado, sem olhar para trás, sem sequer ousar localizá-lo: falta-me coragem para ver o outro que vive fora de mim.