Aposta na Vanguarda

07/dez

Pop, Nova Figuração e Após

 

A Ricardo Camargo Galeria, Jardim Paulistano, São Paulo, SP, através da mostra “Pop, Nova Figuração e Após”, comemora 21 anos de trabalho e o titular da casa, o marchand Ricardo Camargo, assina a curadoria da exposição que conta com a parceria da AD-Almeida e Dale. O texto no categorizado catálogo traz a apresentação assinada por Roberto Comodo.

 

 

Apresentação

 

Em 2015 duas megaexposições internacionais, a The World Goes Pop, da Tate Modern de Londres; e a mostra itinerante pelos Estados Unidos International Pop, promovida pelo Walker Art Center, de Minneapolis – colocaram a Pop Art no centro das artes plásticas mundiais. Obras de Antonio Dias, Wesley Duke Lee, Cláudio Tozzi, Nelson Leirner, Raimundo Colares e Glauco Rodrigues, entre outros artistas, brilharam nessas mostras.

 

Antecipando este movimento num gesto ousado para o mercado, a Ricardo Camargo Galeria realizou em 2007 a exposição Vanguarda Tropical, reunindo 44 trabalhos de oito artistas plásticos expoentes da arte brasileira dos anos 60. Foi também um gesto coerente deste galerista, que mantém contato contínuo há quase 50 anos com os artistas da vanguarda nacional, iniciado na galeria Art-Art – a primeira galeria de arte contemporânea de São Paulo, inaugurada em dezembro de 1966 – e em seguida na Galeria Ralph Camargo, que a sucedeu.

 

Agora, com a exibição de “Pop, Nova Figuração e Após”, a Ricardo Camargo Galeria, fecha um ciclo e também abre novas fronteiras. A mostra apresenta 58 obras, 18 delas inéditas, de 25 artistas de ponta da arte nacional, que transitaram entre a Pop Art e a Nova Figuração ou foram além – como Mira Schendel com o desenho “Símbolos”, de 1974, feito em caneta hidrográfica, e Ivald Granato homenageado em um emblemático óleo de 1977.

 

Na exposição, a contundência do inédito óleo de Antonio Henrique Amaral, “Banana grafite com cordas”, de 1973, sintetiza seu vigoroso repúdio ao regime militar e mantém diálogo com o objeto “Catraca”, de Claudio Tozzi, travada por um cadeado no ano de 1968, quando a ditadura iniciou a sua fase mais repressiva. Tozzi ainda está presente com “Multidão” (1968) e no trabalho inédito “Viet Paz”, (1966), que retrata a desigual e brutal Guerra do Vietnã, entre demais obras. Seu colega de geração, Rubens Gerchman se impõe com a majestosa tela “Mata e o arrojo de Gnosis”, em spray sobre alumínio, pintadas em Nova York nos anos 70, além da pintura e colagens Policiais identificados da chacina, da série “Registro Policial”, de 1988.

 

Na vertente Pop, Maurício Nogueira Lima, que foi um puro concretista, surpreende com as exuberantes telas “Bang!”, “Goool” e “Tchaf! Negativo”, todas de 1967; e no exclusivo retrato de Marilyn Monroe, feito em 1969. Já José Roberto Aguilar expande a sua novíssima figuração mágica no óleo “Destruidor de mitos”, de 1965, e “Cenas Urbanas”, sua primeira pintura com spray sobre tela, elaborada em 1966. São obras que mantém proximidade com as de Tomoshige Kusuno, autor do monumental painel de telas a óleo esticadas em estrutura de madeira, de 1970, e das delicadas obras “Vibração de Resíduos”, “Herança da perspectiva” e “Diamante nº 6”, feitas nos anos 60.

 

O mestre Wesley Duke Lee ressurge na mostra com a arte ambiental “Retrato de Luzia (a Santa Amarense)” ou “à respeito de Titia” – liquitex sobre tela e planta viva em um vaso – que participou da exposição Iconografia Botânica na inauguração da Galeria Ralph Camargo em 1970. Além da obra “Retrato de um amigo”, (Guido Santi, presidente da Olivetti na época), de 1967, inteiramente Pop, com sua moldura recortada; e o exemplar da Série das Ligas, de 1960, a obra mais antiga da exibição.

 

Ex-alunos de Wesley, Luis Paulo Baravelli mostra o raríssimo trabalho “Ceci e Peri”, de 1968, em madeira bruta pintada, azulejos e madeira balsa, enquanto Carlos Fajardo expõe o singular óleo “Santos Dumont”, pintado em 1967. Com a obra mais recente na mostra, o irônico espírito contestador de Nelson Leirner surge em “Jogos Americanos”, de 2001, nas 40 unidades de silk-screen sobre fórmica que indaga “Você tem fome de que?”, que foram expostas no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

 

Outras preciosidades da exposição são os três trabalhos de Antonio Dias, dois deles dos anos 60 – um característico guache e um ladrilho esmaltado a fogo – além da deslumbrante xilogravura “Fósforos”, de 1978, em spray acrílico azul. Nesse mesmo patamar também estão três pinturas de Glauco Rodrigues dos anos 60, duas da série “Astronauta” – que estiveram na sua primeira individual na famosa Galeria Relevo, no Rio de Janeiro, de Jean Boghici, em 1966 – e a inusitada “Cara e careta”. Além de duas obras de Raimundo Colares de 1966 – em lápis, nanquim e aquarela – com seu vibrante grafismo inspirado nas cores dos ônibus cariocas.

 

A mostra da Ricardo Camargo Galeria traz ainda obras significativas de artistas importantes, mas pouco vistos, realizadas na década de 60, como Maria Helena Chartuni e Samuel Szpigel. Totalmente pop, Maria Helena exibe um “Diptíco de Roberto Carlos”, um “Tríptico do Chacrinha e seus calouros” e um exuberente “Ostentório de Marilyn Monroe”, com óleo sobre tela recortada e montada em estrutura de ferro pintado. Já Szpigel realiza uma retumbante e mordaz crítica política nas telas “Aliança para o Progresso” e “Liberdaaaade”.

 

Com a exposição “Pop, Nova Figuração e Após”, a Ricardo Camargo Galeria reafirma a aposta na ousadia de diferentes enfoques da vanguarda brasileira dos anos 60, que agora ganha merecido reconhecimento internacional.

 

Roberto Comodo

 

 

 

Até 23 de dezembro de 2016.
Reabre de 03 a 31 de janeiro de 2017.

Galeria Ipanema: 50 anos

15/abr

A Galeria de Arte Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, dá continuidade à celebração de seus 50 anos de atividades com a exposição “50 anos de arte”, com cerca de quarenta trabalhos de artistas emblemáticos do espaço de arte aberto em 1965, como Portinari, Raymundo Colares, Milton Dacosta, Djanira, Iberê Camargo, Guignard, Volpi, Bandeira, Beatriz Milhazes, Cruz-Diez, Di Cavalcanti, Krajcberg, Weissmann, Ione Saldanha, Jesus Soto, Pancetti, Luis Tomasello, Lygia Clark, Lygia Pape, Mabe, Maria Leontina, e Sergio Camargo.

 

Grande parte das obras não é vista pelo público há muitos anos, pertencentes a coleções privadas e sem participar de exposições. Há várias raridades, como o óleo sobre tela “Paisagem de Brodowski”, de 1940, de Portinari, que passou a integrar nos anos 1980 a Coleção Gilberto Chateaubriand pelas mãos da galeria. Esta tela havia pertencido inicialmente a Assis Chateaubriand, que a mantinha na sala de jantar de sua casa na Avenida Atlântica, em Copacabana, e estava em posse de outro colecionador. Sergio Camargo está representado com duas obras de parede: “Relief 13-83”, de 1965, que esteve na Bienal de Veneza de 1966, e “Untitled (Nº 462)”, de 1978, de 2m de comprimento, a maior de uma série que só tem outras duas no mundo, ambas em coleções nos EUA.

 

Ao longo de seus 50 anos de história, a Galeria Ipanema teve um contato privilegiado com grandes artistas modernos e com a nova geração emergente. Realizou as primeiras exposições individuais de Raymundo Colares, em 1969, e de Paulo Roberto Leal, em 1971, ainda no Hotel Copacabana Palace, espaço que ocupou desde sua inauguração em 1965, até 1973. A colaboração com diversas coleções privadas, sempre trabalhando com grandes nomes da arte, é outra característica da Galeria Ipanema.

 

Quando foi inaugurada, em um espaço do Hotel Copacabana Palace, em 1965, a Galeria Ipanema – então “Galeria Copacabana Palace” – viu surgir suas companheiras de atividade na época: a Petite Galerie, de Franco Terranova, a Bonino, de Alfredo e Giovanna Bonino, e a Relevo, de Jean Boghici. Luiz Sève, sócio-fundador que está à frente da Galeria Ipanema até hoje, teve contato com todos os artistas trabalhados pela galeria, apenas Portinari (1903-1962) e Guignard (1896-1962) já haviam falecido antes de sua inauguração. A galeria foi uma das precursoras a dar visibilidade ao modernismo, representando por muitos anos, com uma estreita relação, os artistas Volpi e Di Cavalcanti. O venezuelano Cruz-Diez é representado pela galeria, que mantém um precioso acervo, fruto de seu conhecimento de grandes nomes como Hélio Oiticica, Ivan Serpa, Lygia Clark, Sérgio Camargo, Jesús Soto, Mira Schendel, Guignard, Pancetti, Portinari, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Iberê Camargo, Tomie Ohtake, Lygia Pape, Amelia Toledo, Milton Dacosta, Maria Leontina, Dionísio del Santo, Antônio Bandeira, Heitor dos Prazeres, Vasarely, Rubens Gerchmann, Nelson Leirner, Waltercio Caldas, Franz Weissmann, Ângelo de Aquino, Geraldo de Barros,  Heitor dos Prazeres, Joaquim Tenreiro e Frans Krajcberg.

 

A exposição “50 anos de arte” reunirá obras pertencentes a coleções particulares e de seu próprio acervo, que dão um panorama da abrangência da atuação da galeria.

 

 

Breve histórico

 

Fundada por Luiz Sève, aos 24 anos, que cursava o último ano de engenharia na PUC, e sua tia Maria Luiza (Marilu) de Paula Ribeiro, a Galeria de Arte Ipanema teve como terceiro sócio Luiz Eduardo Guinle, e se instalou em 1965 em um dos salões do Copacabana Palace, passando depois para o térreo do Hotel, na Avenida Atlântica, onde permaneceu até 1973. Em 1968, Frederico Sève, irmão mais moço de Luiz Sève, entrou na sociedade no lugar de Luiz Eduardo Guinle. Com direção de Frederico Sève, a Galeria de Arte Ipanema manteve também um espaço em São Paulo, entre 1972 e 1989, na Rua Oscar Freire, em uma casa projetada por Ruy Ohtake especialmente para este fim, e depois na Rua da Consolação. Frederico permaneceu na sociedade até 2002.

 

Atualmente, Luiz Sève dirige a galeria ao lado de sua filha Luciana, no número 173 da Rua Aníbal de Mendonça, em Ipanema, até finalizar a construção do espaço que tem projeto arquitetônico assinado por Miguel Pinto Guimarães, previsto para 2017.

 

 

De 19 de abril a 19 de maio.

Opinião 65: 50 anos depois

11/set

A Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, a partir de 17 de setembro a

exposição “Opinião 65: 50 anos depois”, com curadoria de Max Perlingeiro. É a comemoração

de meio século da histórica exposição realizada no MAM-Rio. Todos os trinta artistas

participantes da montagem original estarão representados, e das setenta obras que estarão

expostas, todas foram produzidas na época, e várias integraram a mostra do MAM.  Os artistas

são os brasileiros Antonio Dias, Ivan Serpa, Hélio Oiticica, Rubens Gerchaman, Ângelo de

Aquino, Adriano de Aquino, Pedro Geraldo Escosteguy, Gastão Manoel Henrique, Ivan Freitas,

Roberto Magalhães, Carlos Vergara, Vilma Pasqualini, Waldemar Cordeiro, Flávio Império, José

Roberto Aguilar, Tomoshige Kusuno e Wesley Duke Lee, e os estrangeiros Antonio Berni, Juan

Genovés, Roy Adzak, John Christoforou, Yannis Gaïtis,  José Vañarsky, Peter Foldès, José

Paredes Jardiel, Manuel Calvo, Alain Jacquet, Michel Macréau, Gerard Tisserant e Gianni

Bertini.

 

Para chegar ao resultado que idealizou, o de reproduzir “ao máximo possível” a montagem

original, o curador Max Perlingeiro fez uma longa e detalhada pesquisa durante um ano – que

lhe tomou “24 horas por dia”. Recorreu aos amigos Antonio Dias, Roberto Magalhães e Carlos

Vergara, e a uma edição de outubro de 1965 da revista “Manchete”, que trazia fotos da mostra

no MAM, para mapear as obras. As famílias dos artistas participantes aderiram de imediato ao

projeto, e um fator decisivo foi localizar a lendária colecionadora e crítica de arte Ceres Franco,

residente em Paris desde 1951, que organizou em 1965 a exposição idealizada pelo marchand

Jean Boghici (1928- 2015). Ambos serão homenageados na mostra. Residente em Carcassonne,

e com uma coleção de 1.500 obras em um espaço público em Montelieu, França, Ceres Franco

escreveu à mão um depoimento emocionado, que estará no livro que acompanhará na

exposição, tanto em fac-símile como transcrito.

 

Dentre as obras da montagem original estarão “Parangolé Bandeira – P2 Bandeira 1” (1964),

de Hélio Oiticica, que apresentou seus “Parangolés” pela primeira vez no MAM junto com a

Escola de Samba da Mangueira, todos seguidos  por uma multidão aos pilotis do Museu após

terem sido expulsos do salão. Outras obras que estiveram na exposição “Opinião 65” e serão

vistas na Pinakotheke são a aquarela “Estados Desunidos do Brasil” (1965), de Roberto

Magalhães; a pintura “Diálogo” (1965), de José Roberto Aguillar; a colagem de papel e metal

sobre chapa de ferro “Campanha do ouro para o Bem do Brasil” (1964), de Wesley Duke Lee; a

impressão sobre papel “Dejeneur sur l’herbe”(1965), de Alain Jacquet; a obra “Vencedor”

(1964), de Antonio Dias, um cabide de pé com construção em madeira pintada, tecido

acolchoado e capacete militar; “Sin título (Ramona levantando pesas)”, de Antonio Berni; a

pintura “Crianças e pássaros”, de Yannis Gaitis; “Negative Objects” (1963), de Roy Adzak;

“Diálogo” (1965), de Jose Roberto Aguilar; “Fuga” (1965), de Juan Genovés; o guache sobre

papel “Sem título” (1965), de Gerard Tisserand; “Personnages” (1964), de Jack Vanarsky; “La

barbecue de Justine” (1962), de Gianni Bertini; a pintura “Sorcellerie” (1964), de John

Crhristophorou; “Na cidade do extermínio (Segundo poema de Bialik)”, de José Jardiel; “La

vierge et as mère” (1964), de Michel Macréau; “Dejeneur sur l’herbe” (1965), de Alain Jacquet;

“UDN (Respeitosamente) – o extinto era muito distinto…” (1965), de Flavio Império, e “Estória

(O fim da idade do chumbo)”, 1965, de Pedro Geraldo Escosteguy.

 

“Opinião 65: 50 anos depois” não obedecerá a uma ordem cronológica. “Como na montagem

original, será tudo junto e misturado”, avisa Max Perlingeiro. “Era uma mostra ultrassaturada,

com um fator muito forte: estavam todos contra o regime militar”, observa. As obras

pertencem a coleções públicas e privadas, como a de João Sattamini, Gilberto

Chateaubriand/MAM Rio, Jean Boghici, entre outras

 

 

Marco na História da Arte

 

“Opinião 65” foi um marco na história da arte. A polêmica exposição idealizada por Jean

Boghici e organizada por Ceres Franco mudou por completo o cenário das artes plásticas no

Brasil. A ideia era reunir no Rio os artistas internacionais que trabalhavam no Novo Realismo

europeu e os brasileiros que assumiram a Nova Figuração (e um pouco da Pop Art americana)

em oposição à exaurida Abstração. Para o artista Roberto Magalhães, “Opinião 65 foi o início

de tudo o que existe hoje na arte brasileira. Foi uma mudança radical”.

 

Os artistas eram todos muito jovens na época, como ressaltou Wilson Coutinho em 1995, na

exposição comemorativa que realizou junto com Cristina Aragão no CCBB Rio: “Para avaliar o

clima da exposição é preciso conferir a certidão de nascimento de alguns participantes. Aguilar

tinha 24 anos, Angelo de Aquino 20, Gerchman 23, Vergara 24, Roberto Magalhães 25 e

Antonio Dias apenas 21. Para se ter uma ideia deste ‘boom’ de jovens basta comparar com a

Semana de Arte Moderna de 22, quando Oswald de Andrade ao participar tinha 32 anos,

Mario de Andrade 29 e Tarsila do Amaral 36”.

 

O título “Opinião 65” fazia uma alusão direta ao espetáculo “Opinião”, com Zé Keti, João do

Vale e Nara Leão – depois substituída pela estreante Maria Bethânia – , dirigido por Augusto

Boal, e encenado no Teatro Opinião, em Copacabana.

 

Em 1966, o crítico de arte Mário Pedrosa escreveu no extinto jornal “Correio da Manhã”: “Em

1965, o calor comunicativo social da mostra, sobretudo da jovem equipe brasileira, era muito

mais efetivo. Havia ali uma resultante viva de graves acontecimentos que nos tocaram a todos,

artistas e não-artistas da coletividade consumidora cultural brasileira. Personagens sociais

foram, por exemplo, elevadas à categoria de representações coletivas míticas como o General,

a Miss etc., sem falar nas puras manifestações coletivas da comunidade urbana, como o

samba, o carnaval. Antes de o ser pelo conteúdo plástico das obras (muitas delas de alto valor)

ou pelo seu estilo ou proposições técnicas, eram elas por mais diferentes que fossem

individualmente, esteticamente, identificadas pela marca muito significativa de emergirem

todos os seus autores de um meio social comum, por igual convulsionado, por igual motivado.

Daí vermos a arte altamente interiorizada de símbolos (corações, falos, sexos) e que se

distribuem, rigorosamente, num esquema formal simétrico que lembra o da arte bizantina; de

cores, (vermelhos, pretos etc.) que obedecem antes de tudo a representações litúrgicas de um

Antônio Dias, ao lado da arte essencialmente dinâmica de um Roberto Magalhães, cuja

irresistível força expressiva do desenho é assim vencida ou dominada pela extraordinária

clareza predicativa do seu esquema formal”, escreveu.

 

 

Catálogo

 

A exposição será acompanhada de uma bem-cuidada publicação, com 160 páginas, bilíngue

(português/inglês), formato 22cm X 27cm, texto de Frederico Morais e excertos de Ferreira

Gullar, Ceres Franco e Mario Pedrosa.

 

 

De 17 de setembro a 31 de outubro.

CFB: 25 anos

11/ago

A Casa França-Brasil, um espaço da Secretaria de Estado de Cultura administrado pela organização social Oca Lage, apresenta a partir do próximo dia 15 de agosto “CFB: 25 anos”, cinco mostras simultâneas que celebram seus 25 anos de atividade. O curador Pablo León de la Barra reuniu trabalhos dos artistas Cildo Meireles, Alfredo Jaar, Beto Shwafaty, e os filmes “Canoas” (2010), de Tamar Guimarães; “Superfícies vibráteis” (2005), de Manon de Boer; e “Bete & Deise” (2012), de Wendelien van Oldenborgh. O espaço central será ambientado como local de convivência, como “uma praça cultural”, onde o público poderá ver uma seleção de documentos de exposições realizadas na Casa desde 1990, em curadoria conjunta com Natália Quinderé.

 

Do artista chileno Alfredo Jaar (1956), residente em Nova York desde 1982, estará o letreiro “Cultura = Capital” (2012-2015), que ficará suspenso a 3,5 metros do chão do espaço central. Ele amplia o conceito de “Arte = Capital” (“Kunst = Kapital”) de Joseph Beuys, e acompanha o pensamento dos filósofos Antonio Gramsci e Friedrich Nietzsche de que “cultura é fundamental para a existência humana”. “Para Jaar, arte e cultura constituem um espaço de resistência e desempenham um papel fundamental em nossas vidas políticas diárias”, comenta Pablo León de la Barra. “Em tempos de recessão econômica, quando cultura e educação logo sofrem cortes orçamentários, ‘Cultura = Capital’ reconhece que cultura não é apenas um fator de desenvolvimento econômico, mas uma necessidade básica e elemento indispensável para o progresso social. Invertendo a equação, sem cultura, não existe capital”, afirma o curador.

 

O espaço do Cofre será ocupado com dezesseis obras icônicas de Cildo Meireles (1948) sobre a moeda brasileira, “em uma pequena retrospectiva” das séries “Zero Cruzeiro” (1974), que, observa o curador, “questiona o valor do dinheiro”; “Inserções em Circuitos Ideológicos” (a partir de 1970), que “demonstra como os indivíduos podem interferir na economia, na política e na ideologia”; e ainda “Projeto Cédula (1970-2015).

 

Na primeira sala lateral, estará a instalação “Remediações” (2010-2014), de Beto Shwafaty, artista nascido em São Paulo em 1977. Ele discute criticamente o projeto nacional brasileiro e sua transposição para os campos da cultura visual, nas estratégias de propaganda, desde o final do século 19 até os tempos atuais, passando pelo modernismo e pelo regime militar. Para isso, criou um ambiente com linguagem museográfica, com móveis, vitrines em acrílico, painéis com treliças, fotografias e intervenções feitas sobre material impresso, como cartazes, e um monitor de televisão onde é exibido em looping um vídeo videocolagem de dez minutos, com uma colagem feita a partir de material de arquivo de cinco décadas, onde o Brasil turístico é intercalado por cenas de Zé Carioca, criado por Walt Disney dentro da política de “boa vizinhança”, uma fala do geógrafo Milton Santos sobre o legado colonial, e ainda cenas de “Terra em Transe”, de Glauber Rocha. A obra cria “uma tensão entre desejo e realidade”, diz o curador.

 

 

JARDIM DE INVERNO / ARQUIVO 25 ANOS

 

O espaço central será transformado em um “Jardim de Inverno / Praça Pública”, onde será exposto o arquivo histórico de 25 anos da CFB como centro cultural, com dez estações com mesas-vitrines, cadeiras e vasos de plantas, onde o público poderá mergulhar em uma seleção de eventos realizados ao longo da história da instituição. Pablo León de la Barra buscou criar um espaço acolhedor, e ao mesmo tempo recuperar a história tanto da construção, criada em 1820 para ser uma Praça de Comércio, quanto das exposições realizadas ao longo de seus 25 anos. “A Casa tem um público cativo, que vem aqui para ler, estar em um local público e seguro. Transformamos então o espaço central em uma grande sala de leitura, uma praça cultural”, explica o curador. A inspiração vem de “Un jardin d’hiver” (“Um jardim de inverno”), obra de 1974 do artista belga Marcel Broodthaers, um jardim de palmeiras com vitrines contendo gravuras “como forma de crítica aos discursos coloniais e à autoridade das instituições culturais”. Para compartilhar a curadoria deste espaço, Pablo León de la Barra convidou Natália Quinderé, que pesquisou os arquivos da instituição e levantou documentos sobre as exposições realizadas nos últimos 25 anos, que foram selecionados e serão dispostos em oito núcleos:

 

 

1.    Fotografia em foco

 

“Cartier Bresson & Sebastião Salgado: Fotografias”, de 27 de junho a 29 de julho de 1990; e “Retratos da Bahia: fotografias de Pierre Verger e aquarelas de Carybé”, de 19 de setembro a 7 de outubro de 1990

 

2.    “Missão artística francesa e os pintores viajantes: França-Brasil no século XIX”, de 13 de novembro a 16 de dezembro de 1990, com curadoria de Jean Boghici

 

3.    “Apoteose Tropical: desfile-exposição com pinturas de Glauco Rodrigues”, de 31 de janeiro a 3 de março de 1991, com curadoria de Frederico Morais.

 

Índios na Casa

 

“Brasilidades: Amazônia e a França – Portinari – A Festa do Bumba”, de 28 de  maio a 23 de junho de 1991, organizado pela antropóloga Berta Ribeiro;           “Programa de índio: Kuarup”, em 8, 10 e 11 de agosto de 1991; e “Grafismo Kadiwéu”, de 7 a 30 de maio de 1993.

 

5.   Internacionais – um pequeno recorte

 

“Miró: Águas-fortes e litografias”, de 25 de abril a 11 de junho de 1996; “Niki de Saint Phalle”, de 8 a 26 de janeiro 1997, com curadoria de Jean-Gabriel Mitterand; “Cerâmicas de Picasso”, de 7 de dezembro de 1999 a 22 de janeiro de 2000, com curadoria de Picasso Bernard Ruiz Picasso.

 

6. “Situações: Arte Brasileira – anos 70”, de 16 de agosto a 24 de setembro de 2000, com curadoria de Glória Ferreira e Paula Terra.

 

7. “Arte e religiosidade no Brasil – Heranças Africanas”, de 19 de fevereiro a 26 de abril de 1998, com curadoria de Emanoel Araújo e Carlos Eugênio Marcondes de Moura.

 

 

8.    Cenários espetaculares

 

“Isto é a França em Quadrinhos – I Bienal Internacional de Quadrinhos”, de31 de outubro a 5 de dezembro de 1991; “Viva a água”, de 1° de junho a 5 de julho de 1992; e “Egito Faraônico – Terra dos deuses”, de 27 de setembro de 2001 a 7 de abril de 2002, com curadoria de Elisabeth Delange, curador associado Antônio Brancaglion Jr e Marly Atsuko Shibata (assistente).

 

 

9.    Por que uma Casa França-Brasil?

 

Inaugurada em 1990, a Casa França-Brasil surgiu da conjunção de vários projetos culturais: a tentativa de criar 16 Casas de Cultura por todo Estado do Rio de Janeiro; a criação de um corredor cultural no Centro do Rio, com início no Museu de Arte Moderna; e o desejo do antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997), à época em que foi vice-governador, de restaurar a construção projetada por Grandjean de Montigny (1776-1850) a pedido de D. João VI, para ser Praça do Comércio, concluída em 1820. Alfândega a partir de 1824, arquivo de bancos ítalo-germânicos durante a Segunda Grande Guerra, e II Tribunal do Júri, entre 1956 e 1978, o prédio estava desativado. Em 1985 foi feita a assinatura para o restauro, uma parceria entre a Secretaria estadual de Cultura, o SPHAN/Pró-Memória, a Fundação Roberto Marinho e a Rhodia S.A. O projeto museográfico ficou a cargo de Pierre Catel, financiado pelo Ministério da Cultura da França, e após cinco anos de obras a Casa França-Brasil foi inaugurada, em 29 de março de 1990. A cocuradora Natália Quinderé conta que “os eventos realizados pela Casa, entre 1990 a 2008, abrangiam desde exposições de artistas brasileiros e estrangeiros, mostras sobre a cultura popular a salões de antiquário e de colecionadores de selos”. A partir de 2008, a Casa França-Brasil passou por uma nova reforma e transformação de sua missão institucional, com foco na arte contemporânea.

 

 

10.  Anos 2009-2015

 

Em 24 de outubro de 2009, a Casa França-Brasil reabriu suas portas, sob a direção de Evangelina Seiler, depois de um ano de reformas físicas do prédio e de mudança em sua missão institucional. A obra inaugural foi uma enorme estrutura suspensa por cabos e com planos transparentes da artista Iole de Freitas, projetada especialmente para esse espaço. A partir de então passaram pela instituição artistas de linguagens e produção diversa, como Laura Lima, Hélio Oiticica, Daniel Senise, Waltercio Caldas, José Rufino, Laercio Redondo, Carmela Gross, Cristina Iglesias e Dias & Riedweg. Paralelamente, o cofre da antiga Praça do Comércio e da Alfândega passou a abrigar trabalhos de artistas de trajetórias variadas, convidados, normalmente, pelo artista que ocupava o vão central e as salas principais. Expuseram ali Amália Giacomini, Ana Miguel, Pedro Victor Brandão, Analu Cunha, Efrain Almeida, Daniel Steegmann, Marcelo Cidade, Jorge Soledar, entre outros.

 

 

FILMES

 

A segunda sala lateral será transformada em um cinema, com a exibição de filmes –  cada um em um período – de três artistas que reexaminam momentos recentes da história cultural e política do Brasil:

 

15 a 27 de agosto – “Canoas” (2010, 13’30’’), 16mm transferido para digital, cor/som, de Tamar Guimarães, nascida em 1967 em Belo Horizonte, e residente em Copenhague. Em “Canoas”, é encenado um coquetel na emblemática casa modernista de Oscar Niemeyer, a Casa das Canoas, que ele projetou em década de 1950 para morar. Em meio à aparente frivolidade burguesa da festa, e enquanto são servidos por criados e garçons, os convidados discutem o passado do Brasil no que se refere às contradições entre a arquitetura moderna e o projeto social modernista, o trauma da ditadura política e do exílio, e as distinções de classe e de raça, mas também a presença de um desejo erótico pelo outro.

 

28 de agosto a 9 de setembro – ““Superfícies vibráteis” (2005, 38’), falado em francês e português, com legendas em português, 16mm transferido para digital, da artista Manon de Boer, nascida em 1966 em Kodaicanal, Índia, e radicada em Bruxelas. Em seu filme, ela dá voz às memórias pessoais da psicanalista brasileira Suely Rolnik, que, nos anos de 1960, partiu em exílio para Paris devido à ditadura brasileira e, na década seguinte, estudou com os filósofos franceses Félix Guattari (1930-1992) e Gilles Deleuze (1925-1995).

 

10 a 20 de setembro – “Bete & Deise” (2012, 41’), HD, em português e legendas em inglês, da artista Wendelien van Oldenborgh, nascida em 1962, em Roterdã, Holanda, onde vive. “Bete & Deise” apresenta um encontro entre duas mulheres em um canteiro de obras, no Rio de Janeiro. A atriz Bete Mendes e a cantora de funk Deise Tigrona conversam sobre o uso de suas vozes e posições na esfera pública, permitindo que as contradições que trazem internamente venham à tona. Utilizando uma montagem que combina de modo sugestivo as vozes das duas mulheres com suas imagens, Van Oldenborgh nos confronta com reflexões sobre a relação entre produção cultural e política e o poder que pode ser gerado quando questões públicas se entrelaçam com o pessoal.

 

 

JORNAL

 

A exposição será acompanhada de um jornal em formato tabloide, com tiragem de cinco mil exemplares e distribuição gratuita ao público visitante. A publicação terá textos de Pablo León de la Barra, Natália Quinderé, e do músico e do arquiteto Guilherme Wisnik.

 

 

PABLO LEÓN DE LA BARRA

 

Nascido em 1972, na Cidade do México, Pablo León de la Barra tem PhD em History and Theory, pela Architectural Association, Londres, em 2010. Curador independente, realizador de exposições, pesquisador em arte e arquitetura, é também curador-residente do programa Guggenheim UBS MAP para América Latina, em Nova York.

 

 

NATÁLIA QUINDERÉ

 

Natália Quinderé é doutoranda em História e Crítica de Arte no Programa de Artes Visuais da UFRJ (PPGAV/EBA), onde pesquisa sobre os museus de artista. É coeditora executiva da revista Arte & Ensaios (PPGAV/EBA/UFRJ), e trabalhou em alguns projetos curatoriais. Em janeiro de 2015, participou do programa EAVerão, da Escolas de Artes Visuais do Parque Lage.

 

 

De 15 de agosto a 20 de setembro.

Presença de Jean Boghici

09/jun

Nome fundamental do mercado de arte brasileiro, Jean Boghici, nascido em 1928, na Romênia, chegou ao Brasil em 1948 fugindo da Segunda Guerra na Europa, clandestino em um navio francês, após em anos em fuga ao lado de amigos judeus.  Iniciou suas atividades nos anos 1960, quando abriu, no Rio de Janeiro, a galeria Relevo. Jean Boghici, foi um dos maiores colecionadores de arte do país e pioneiro no mercado de arte brasileiro. Ao longo do tempo colecionou obras de artistas como Volpi, Guignard e Di Cavalcanti, mas também investiu em nomes como Antonio Dias, Ivan Serpa, Vegara e Rubens Gerchman. À frente da galeria que leva seu nome, em Ipanema, Boghici tinha um rico acervo, com trabalhos de Modigliani, Lucio Fontana, Rodin, Alexander Calder e Maria Martins, entre outros. Ajudou a formar duas das maiores coleções de arte brasileira, como as de Gilberto Chateaubriand e Sergio Fadel, e trouxe ao país obras de artistas internacionais como Corneille. O MAR, Museu de Arte do Rio, homenageou-o com a exposição intitulada “O Colecionador”, com quadros representativos do modernismo, do surrealismo, da pintura primitiva, da abstração informal, da abstração construtiva, da nova figuração e da pintura russa; sendo estes os maiores interesses de Boghici em termos de movimentos artísticos. Com 136 obras, de nomes como Tarsila, Lygia Clark, Di Cavalcanti, Brecheret, Kandinsky e Rodin, entre outros grandes artistas dos últimos séculos, a mostra recebeu 258 mil pessoas de março a setembro de 2013.

Transparência cromática

15/out

A Mercedes Viegas Arte Contemporânea, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta exposição individual – com pinturas inéditas – de Adriano de Aquino. Dando segmento à pesquisa pictórica iniciada em 2007, o artista aprofundou seus experimentos sobre os suportes metálicos e sintéticos – aço/alumínio e acrílico  – e intensificou sua busca pela transparência cromática, explorando as possibilidades expressivas de pigmentos e substratos de última geração. As obras da mostra foram realizadas utilizando resina sintética poliuretano sobre placas de aço carbono ou alumínio.

 

De acordo com Adriano de Aquino, “…as obras dessa exposição são como espelhos/imagem que, pra lá da interpretação subjetiva, refletem situações mutáveis da obra no plano físico. Incorporando ao campo da pintura as ocorrências simultâneas que acontecem nos encontros entre observador e objeto. As cores e formas intrínsecas à pintura estão presentes, todavia, a superfície espelhada reflete os acasos e incita no olhar estímulos mutantes provenientes das mudanças de luz e do entorno onde nos deparamos com os objetos no mundo real”. O ambiente circundante é sugado pra dentro, tomado pela cor da tela.

 

 

Sobre o artista

 

Adriano de Aquino atua no campo das artes desde os anos 1960, quando participou da hoje mítica exposição “Opinião 65”, organizada por Ceres Franco e Jean Boghici, no MAM-RJ. Após um período de sete anos residindo em Paris, retornou ao Rio na década de 1980 onde, além de dar seguimento a carreira profissional como artista, foi presidente da Associação de Artistas Plásticos Profissionais e Secretário de Cultura do Estado do Rio de Janeiro entre os anos 2000 e 2003.

 

 

Até 07 de novembro.

Coleção Sylvio Perlstein

08/abr

Atração no MAM, Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, a exposição que reúne 150 obras do colecionador Sylvio Perlstein provoca um efeito ambíguo sobre o visitante. A primeira sensação é de caos, como se os trabalhos pouco ou nada tivessem a ver uns com os outros. Há módulos dedicados à pop art, à fotografia vintage, ao surrealismo, à arte povera e ao minimalismo, por exemplo. Aos poucos, entretanto, vai se revelando um certo espírito comum a todo o conjunto, que mescla algo de curioso, bem-humorado – inusitado, como anuncia o nome da mostra. Um dos colecionadores mais reputados do mundo, o brasileiro de origem belga, atualmente radicado em Paris, tem aqui exibida uma relevante parte do seu acervo. Há nomes canônicos, como Dalí, Kandinsky, Magritte, Warhol, Man Ray, Basquiat, Duchamp, Miró e Haring (que comparece com seu primeiro óleo sobre tela, Mickey Mouse, de 1981), entre muitos outros. Sumidades da arte contemporânea, a exemplo de Richard Serra e Nan Goldin, também ocupam o espaço e convivem com nomes menos conhecidos. Pautada pelo olhar único de Perlstein, à margem de tendências e do mercado, a coleção não reúne necessariamente as obras mais famosas desses artistas – o que, inusitadamente, só reforça a sua expressividade. Após o Rio de Janeiro, a exposição será exibida no MAM-SP.

 

 

A palavra do curador do MAM-RIO

 

Conheci Sylvio Perlstein faz uns dez anos. O marchand Jean Boghici ligou-me dizendo que estava com um colecionador belga que amava o Rio, crescera na cidade e formara ao longo da vida uma das coleções mais interessantes que conhecia. À época, eu era crítico de arte do jornal O Globo. Não perdi tempo e fui conhecê-lo em um hotel de Ipanema. De fato, Sylvio era uma pessoa peculiar. De bermuda e sandálias, fomos conversar no calçadão. Alguns dias depois, publiquei uma entrevista com ele na capa do Segundo Caderno.

 

Sua coleção era, de fato, única. Todavia, o que mais me interessou é que ela foi sendo formada junto aos artistas que conhecera e que lhe abriam as portas do ateliê e dos amigos artistas. Os surrealistas vieram por meio da amizade com Man Ray. Os minimalistas e conceituais por meio de Robert Ryman – que conhecera em um bar, ainda em meados da década de 1960. Assim, ele foi construindo uma coleção que juntava partes da arte do século 20 que nunca conversam nos livros de história e crítica. Os surrealistas e os conceituais, os dadaístas e os minimalistas, os europeus, os norte-americanos e os brasileiros.

 

Enfim, muita coisa boa da arte do século 20, momentos marcadamente radicais, convivem sem cerimônia nas salas, nos quartos e na biblioteca de sua casa parisiense. O ambiente que acolhe a coleção é autêntico e traz um pouco da vida daquelas obras. Não há afetação nem deslumbramento de colecionador que transforma a casa em galeria. As obras pertencem à casa, ao espaço de habitação, de convivência, de moradia. Na biblioteca, objetos dadaístas e peças primitivas misturam-se aos livros e elementos decorativos sem diferenciações e caixas de acrílico. O espaço é todo ele artístico e não artístico, nos convida a ficar nele sem perder o travo de estranhamento de todos aqueles “mundos”, que palpitam sem parar.

 

Trazer essa coleção ao MAM é compartilhar um pouco do meio século de convivência íntima de Sylvio Perlstein com obras de arte seminais – e pouco colecionáveis. É o desdobramento, com a arrojada intervenção de Leonel Kaz, daquela primeira conversa na praia de Ipanema, em que ele dizia adorar o Rio e querer mostrar aqui sua coleção. Aí está. Mais que uma coleção, o que vemos é o resíduo de uma experiência cotidiana.
Luis Camillo Osorio

 

 

Até 25 de maio.

Fontes: site MAM-RIO; VEJA-RIO.

Novo museu no Rio

06/mar

Tarsila do Amaral – Sol Poente, 1929

O Museu de Arte do Rio, MAR, Zona Portuária, Rio de Janeiro, RJ, abriu suas portas ao público. Após quase três anos em obra e com uma reforma com custo estimado em mais de 76 milhões de reais, o complexo na Zona Portuária do Rio de Janeiro soma 15 000 metros quadrados, divididos por dois edifícios: o Palacete Dom João VI, de estilo eclético, que exibirá todas as exposições de seu calendário, e o prédio modernista – onde funcionou um terminal rodoviário – abrigará o programa educativo da novíssima instituição. O curador do espaço é o experiente crítico de arte Paulo Herkenhoff.

 

Foram inauguradas quatro exposições com a abertura do museu. No térreo se encontra “O Abrigo e o Terreno – Arte de Sociedade no Brasil I”, um projeto que deve se estender pelos próximos cinco anos e que investiga questões ligadas à ocupação do espaço público e à dinâmica da sociedade. Entre os artistas reunidos estão Antônio Dias, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Waltercio Caldas, Lygia Pape e Raul Mourão. A outra mostra “Rio de Imagens: uma Paisagem em Construção”, aborda a evolução da cidade ao longo de 400 anos. Com cerca de 400 peças, o acervo exibe nomes importantes da cena nacional como Lasar Segall e Ismael Nery. As outras duas mostras foram idealizadas a partir de acervos de colecionadores particulares. O marchand Jean Boghici cedeu 140 obras de artistas como Tarsila, Di Cavalcanti, Brecheret, Rubens Gerchman, Kandinsky e Morandi. Outro colecionador que cedeu obras foi Sérgio Fadel com mais de 200 obras de estilo concretista, assinadas por Amílcar de Castro, Willys de Castro, Barsotti, Carvão, entre outros.

 

Até 07 de julho – Vontade Construtiva na Coleção Fadel

Até 14 de julho – O Abrigo e o Terreno – Arte de Sociedade no Brasil I

Até 28 de julho – Rio de Imagens: uma Paisagem em Construção

Até 01 de setembro – O Colecionador: Arte Brasileira e Internacional na Coleção Boghici

Pras: ordem e beleza

27/set

Taxi Borusse

Encontra-se em exposição na Sérgio Gonçalves Galeria, Rua do Rosário, Centro, Rio de Janeiro, RJ, uma instalação criada pelo artista francês Bernard Pras, que pela primeira vez exibe uma obra em site specific. Seis outras obras compõem a mostra. Bernard Pras é bem pouco ortodoxo, se autodenomina pintor mas em vez (ou além de) tintas, telas e pincéis, se apropria de todo tipo de objeto cotidiano para criar sua obra: instalações construídas com embalagens, brinquedos, tecidos, eletrodomésticos, talheres, parafusos e materiais que muitas vezes teriam o lixo como destino. O que, a princípio, pode parecer um caos sem sentido, adquire forma e conteúdo se for visto de um determinado ponto de vista – o mesmo da máquina com que fotografa sua obra, para que a torne eterna. É o seu “Inventário”. Normalmente as instalações são levadas para o local da mostra, entretanto, durante a confecção desse trabalho, a Sérgio Gonçalves Galeria transformou-se no ateliê do artista.

 

Pras expõe a instalação “Samba”, reprodução em 3D do quadro de mesmo nome de Di Cavalcanti, obra perdida no incêndio no apartamento do marchand Jean Boghici. “Uma homenagem à obra, ao artista e ao colecionador. Ele ficou muito tocado quando soube, ainda em Paris, da notícia do incêndio e das perdas”, conta o marchand Sérgio Gonçalves.

 

O lado curioso da mostra é que, como em todas as instalações de Pras, o artista consegue este efeito de “caos e ordem” através de recursos de ótica, como a perspectiva e a anamorfose. Na galeria, a contemplação será através de um pequeno buraco na vitrine da galeria, que estará coberta. Apenas dali, daquele pequeno ponto, a obra de Di Cavalcanti – e de Bernard Pras – toma forma e sentido.

 

Completando a mostra, no segundo andar da galeria, seis obras fotográficas (quatro inéditas no Brasil) do artista – como “Casablanca”, reproduzindo uma cena do filme com Ingrid Bergman e Humphrey Bogart; “Nuit étoilée”; reproduzindo a obra homônima de Van Gogh; e “Taxi borusse”. A Sérgio Gonçalves Galeria também está produzindo um livro do artista, a ser lançado em outubro.

 

Até 15 de novembro.