CCBB de Brasília exibe mais de 40 artistas.

12/mai

A partir dos anos 1930, mais precisamente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), países econômica e socialmente vulneráveis passaram a ser denominados “subdesenvolvidos”. No Brasil, artistas reagiram ao conceito, comentando, posicionando-se e até combatendo o termo. Parte do que eles produziram nessa época está presente na mostra Arte Subdesenvolvida, que tem curadoria de Moacir dos Anjos e da Tuîa Arte Produção. A mostra fica em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (CCBB Brasília) de 20 de maio a 03 de agosto.

O conceito de subdesenvolvimento foi corrente por cinco décadas até ser substituído por outras expressões, dentre elas, países emergentes ou em desenvolvimento. “Por isso o recorte da exposição é de 1930 ao início dos anos 1980, quando houve a transição de nomenclatura, no debate público sobre o tema, como se fosse algo natural passar do estado do subdesenvolvimento para a condição de desenvolvido”, reflete o curador Moacir dos Anjos. “Em algum momento, perdeu-se a consciência de que ainda vivemos numa condição subdesenvolvida”, complementa. A mostra, com patrocínio do Banco do Brasil e BB Asset, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, apresenta pinturas, livros, discos, esculturas, cartazes de cinema e teatro, áudios, vídeos, além de um enorme conjunto de documentos. São peças de coleções particulares, dentre elas, dois trabalhos de Candido Portinari e duas obras de Anna Maria Maiolino. Há também obras de Paulo Bruscky e Daniel Santiago cedidas pelo Museu de Arte do Rio – MAR.

Na mostra “Arte Subdesenvolvida”, o público pode ver peças de grande importância para a cultura nacional. Duas obras de Candido Portinari, Enterro (1940) e Menina Ajoelhada (1945), fazem parte do acervo da exposição. Muitas pinturas do artista figuram o desespero, a morte ou a fuga de um território marcado pela falta de quase tudo. Outra obra que também se destaca na mostra é Monumento à Fome, produzida pela vencedora da Bienal de Veneza, a ítalo-brasileira Anna Maria Maiolino. Ela é composta por dois sacos cheios com arroz e feijão, alimentos típicos de qualquer região do Brasil, envoltos por um laço preto. Esse laço é símbolo do luto, como aponta a artista. O público também terá acesso a uma série de fotografias da artista intitulada Aos Poucos.

Outro ponto alto da mostra é a obra Sonhos de Refrigerador – Aleluia Século 2000, de Randolpho Lamonier. “A materialização dos sonhos tem diversas formas de representação, que inclui um grande volume de obras têxteis, desenhos e anotações feitos pelas próprias pessoas entrevistadas, objetos da cultura vernacular e elementos que remetem à linguagem publicitária”, ressalta o artista. “Entre os elementos que compõem a obra, posso listar, além dos têxteis, neons de LED, letreiros digitais, infláveis, banners e faixas manuscritas, até conteúdos sonoros com relatos detalhados de alguns sonhos”, completa Lamonier. Assim como em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, lúdica e viva, a instalação multimídia realizará um inventário de sonhos de consumo, que inclui desde áudios e manuscritos das próprias pessoas entrevistadas a objetos e peças têxteis. A instalação ocupa o Pavilhão de Vidro do CCBB Brasília e, como explica o curador Moacir dos Anjos,”faz uma reflexão, a partir de hoje, sobre questões colocadas pelos artistas de outras décadas”.

Ao todo, mais de 40 artistas e outras personalidades brasileiras terão obras expostas na mostra, entre eles: Abdias Nascimento, Abelardo da Hora, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Artur Barrio, Candido Portinari, Carlos Lyra, Carlos Vergara, Carolina Maria de Jesus, Cildo Meireles, Daniel Santiago, Dyonélio Machado, Eduardo Coutinho, Ferreira Gullar, Graciliano Ramos, Henfil, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, José Corbiniano Lins, Josué de Castro, Letícia Parente, Lula Cardoso Ayres, Lygia Clark, Paulo Bruscky, Rachel de Queiroz, Rachel Trindade, Solano Trindade, Regina Vater, Rogério Duarte, Rubens Gerchman, Unhandeijara Lisboa, Wellington Virgolino e Wilton Souza.

Galatea na SP-Arte 2025.

25/mar

A Galatea anuncia sua participação na SP-Arte 2025, que acontecerá no Pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera, entre os dias 02 e 06 de abril, de quarta-feira a domingo. A galeria apresentará um conjunto de obras que refletem o seu programa, reunindo artistas que representa, como Allan Weber, Bruno Novelli, Gabriela Melzer e Marília Kranz, além de nomes fundamentais da cena moderna e contemporânea como Anna Maria Maiolino, Ascânio MMM, Francis Alÿs, Ione Saldanha, Lygia Clark, Lygia Pape, Mira Schendel, Rubem Valentim, Ubi Bava, Waltercio Caldas e Wanda Pimentel.

Concebido como a simulação de um apartamento, nosso estande estabelecerá um diálogo entre as obras expostas e mobiliários assinados, em um projeto de expografia desenvolvido por Lucas Jimeno. A ideia é explorar a relação entre Arte e Arquitetura, investigando como a experiência estética se desdobra no ambiente doméstico. Mais do que um simples suporte expositivo, a estrutura do estande propõe uma vivência onde Arte, Design e Arquitetura se entrelaçam, aproximando as obras do cotidiano e sugerindo novas formas de interação.

Lygia Clark na Alemanha.

10/jan

A Neue Nationalgalerie exibirá a primeira retrospectiva da artista brasileira Lygia Clark (1920-1988) na Alemanha. Com cerca de 150 obras, a ampla mostra no salão superior apresentará suas obras das décadas de 1950 a 1980, que vão desde pinturas geométricas abstratas até esculturas participativas e performances. A abordagem interativa no trabalho de Lygia Clark será o aspecto central da exposição. Os visitantes poderão interagir com um grande número de réplicas criadas especialmente para a mostra.

Lygia Clark é considerada uma inovadora radical, pois redefiniu fundamentalmente a relação entre artista e espectador, obra de arte e espaço. Como figura de destaque do Neoconcretismo (movimento Neoconcreto), iniciado no Rio de Janeiro em 1959, ela entendia a arte como um fenômeno orgânico. Ela exigia uma experiência artística subjetiva, corporal e sensorial, que incluía a participação ativa do espectador. Esta abordagem participativa dentro do trabalho de Lygia Clark estará disponível para os visitantes experimentarem através da interação com cópias de esculturas e objetos sensoriais da exposição. Além disso, apresentações e workshops regulares irão ativar o trabalho desta notável artista do século XX.

Após as primeiras pinturas construtivistas compostas por vários painéis de madeira, Lygia Clark abandonou totalmente a pintura na década de 1960 e desenvolveu sua ideia da obra de arte como um corpo. Ela produziu esculturas geométricas que são construções móveis. Quando os espectadores as dobram, elas assumem configurações diferentes. Após a dissolução do grupo Neo-Concreto em 1961, Lygia Clark continuou a desenvolver sua ideia da obra de arte como um organismo vivo até seu último trabalho na década de 1980. No início da década de 1970, ela criou a série Corpo Coletivo, que significa ações performáticas de construção de comunidade para participantes de um grupo. No final de sua carreira, desenvolveu sua própria terapia corporal.

A retrospectiva na Neue Nationalgalerie reúne cerca de 150 empréstimos de coleções privadas e museus internacionais, incluindo o Museu de Arte Moderna de São Paulo e a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o Museu de Arte Moderna de Nova York.

Catálogo da Exposição

A exposição será acompanhada por um catálogo de edição bilíngue em alemão e inglês na E. A. Seemann Verlag. É a primeira publicação em língua alemã sobre Lygia Clark e oferece uma visão abrangente de seu trabalho. A exposição tem curadoria de Irina Hiebert Grun e Maike Steinkamp, ​​Neue Nationalgalerie. Financiado pela Kulturstiftung des Bundes (Fundação Cultural Federal Alemã) e pela Beauftragte der Bundesregierung für Kultur und Medien (Comissário do Governo Federal para Cultura e Mídia). Organizado em cooperação com o Kunsthaus Zürich, onde a mostra estará em exibição do Outono de 2025 à Primavera de 2026.

Trata-se de uma exposição especial da Nationalgalerie – Staatliche Museen de Berlin.

A complexidade da Arte Brasileira.

02/dez

O MAM Rio reabriu ao público dia primeiro de dezembro com a mostra “Uma história da arte brasileira”, que foi vista pelos Chefes de Estado e líderes presentes no G20. Como legado do evento ao museu e à cidade, o Bloco Escola será entregue reformado, e é lá que a exposição está sendo remontada.

O icônico prédio do Bloco Escola, com seus característicos cobogós, foi o primeiro espaço do museu quando inaugurado, em 27 de janeiro de 1958. O bloco que passaria a alojar as futuras exibições só foi inaugurado em outubro de 1967, ou seja, nove anos depois de inaugurado o primeiro edifício.

Em 1959, lá aconteceram os primeiros cursos do Atelier de Gravura. Dentre as exposições ali realizadas, destacam-se algumas que marcaram não apenas a história do museu, mas também da própria História da Arte Moderna no Brasil, como a “Exposição Neoconcreta” (1959); as mostras “Opinião 65″ e “Opinião 66″ (realizadas respectivamente em 1965 e 1966); e a “Nova Objetividade Brasileira” (1967).

As obras realizadas pela prefeitura incluem, além da limpeza dos cobogós, a regularização das muretas da laje, que ganhou novas pedras em granito, a impermeabilização de pisos e jardineiras, a execução de infraestrutura elétrica; reformas em pisos, paredes e teto de salas internas e o restauro da sala onde era o antigo depósito de filmes no Bloco Escola, além do restauro do chafariz, ali em frente.

Com curadoria de Pablo Lafuente e Raquel Barreto, a exposição reúne aproximadamente 65 obras, incluindo pinturas, esculturas e fotografias, de nomes consagrados como Tarsila do Amaral, Cildo Meireles, Lygia Clark, Adriana Varejão, Di Cavalcanti e Tomie Ohtake. O objetivo é explorar a diversidade e a complexidade da Arte Brasileira ao longo de mais de um século.

Vale conferir a nova mostra (desenvolvida a partir do acervo do MAM Rio) e as novas instalações do prédio.

César Oiticica no Paço Imperial.

07/nov

Único artista vivo do Grupo Frente – importante movimento artístico criado há exatos 70 anos no Rio de Janeiro, considerado o marco do movimento construtivo no Brasil -, César Oiticica inaugura, no dia 13 de novembro, a exposição “Frente a Frente”, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

Com curadoria de Paulo Venancio Filho, serão apresentadas 20 obras inéditas ou que estão há muito tempo sem serem vistas pelo público, grande parte delas criadas no período em que o artista integrou o Grupo Frente, fundado por Ivan Serpa em 1954 e que teve a participação de importantes nomes, como Abraham Palatnik, Aluísio Carvão, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, Franz Weissmann, Rubem Ludolf, entre outros. Também farão parte da exposição obras recentes, apresentando ao público um panorama da trajetória do artista. Os trabalhos históricos – desenhos e cartões – foram produzidos entre 1954 e 1956, no período em que o artista fez parte do Grupo Frente, no qual ingressou com apenas 16 anos, sendo o mais jovem integrante do coletivo.

Sobre o artista

César Oiticica nasceu no Rio de Janeiro em 1939, onde vive e trabalha, É artista, arquiteto e diretor do Projeto HO no Rio de Janeiro. Começou seus estudos de pintura em 1954 no Curso Livre de Pintura de Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Integrante do Grupo Frente, César Oiticica participa da segunda exposição do Grupo realizada, em 1956, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, da terceira e quarta do Grupo, realizadas em Itatiaia e Volta Redonda e da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta que ocorreu em dezembro de 1956 no MAM SP e, em 1957, no MAM/ Rio. Como curador, foi responsável pelas exposições “José Oiticica Filho: Fotografia e Invenção” no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, 2007, e “Hélio Oiticica: Penetráveis”, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, 2008, além de ter sua obra exposta, desde 1984 até 2017, em inúmeras exposições em importantes instituições no Brasil e no exterior. César Oiticica participou da 2ª e da 4ª exposição do Grupo Frente e da 1ª exposição de Arte Concreta no MAM/Rio, em 1955. “Nos seus desenhos e cartões, sentimos o clima de uma época e a decidida intenção construtiva de um jovem no primeiro momento de sua trajetória; a livre estruturação das articulações, combinações e relações formais que caracterizava a abstração geométrica do Grupo, antecipando o neoconcretismo”, diz o curador. O artista participou, ainda, das últimas exposições do Grupo, que ocorreram em 1956, em Resende e em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, e da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, organizada pelos concretos de São Paulo com a colaboração do grupo carioca, em dezembro de 1956 no MAM São Paulo e em fevereiro de 1957 no Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Rio de Janeiro. Após a mostra, o Grupo Frente começa a se desintegrar. Dois anos depois, alguns de seus integrantes iriam se reunir no Movimento Neoconcreto, um dos mais importantes da arte moderna brasileira.

Até 02 de fevereiro de 2025.

A arte de Tadáskia

13/jun

Ave preta mística de Tadáskía alça voo e chega ao MoMA de Nova York

Uma vigorosa composição de desenhos coloridos em movimentos expansivos, que tomou as paredes de uma sala circular na edição da Bienal de São Paulo no ano passado, ganhou um novo pano de fundo em exposição no Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova York. A obra ave preta mística mystical black bird (2022), da artista carioca Tadáskía (1993), foi recentemente adquirida pela instituição nova iorquina, uma das mais relevantes dedicadas à arte moderna e contemporânea no mundo.

Muitas vezes localizada entre as canônicas definições formais abstrato e figurativo, a prática artística de Tadáskía não cabe somente nesse tipo de parâmetro. A tenuidade evocada pela artista ao produzir é encontrada também em uma dança entre o visível e invisível, o místico e o mundano, o inteligível e o indecifrável. Formada em Artes Visuais e Licenciatura pela UERJ (2012-2016) e mestra em Educação pela UFRJ (2019-2021), a artista já realizou individuais em São Paulo, Lisboa e Barcelona, e participou de coletivas em Amsterdam, Marselha e Nova York, além de sua cidade natal, Rio de Janeiro. A obra ave preta mística mystical black bird (2022) é composta por 61 páginas soltas de um livro bilíngue, com uma poética que se materializa em desenho e escrita. Quando exposta, é acompanhada por desenhos expandidos – e intuitivos – que envolvem o ambiente no qual é instalada. Em proposição site-specific – criada especialmente para cada ambiente expositivo -, os desenhos feitos com carvão e pastel seco adaptam-se ao espaço e surgem a partir de uma relação criada entre o corpo da artista com o espaço.

Na 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível, Tadáskía também incluiu um grupo de esculturas feitas de bambu, palha e taboa, postas em bases circulares e acompanhadas de elementos como frutas, cascas de ovos costurados e pintados, e pó facial. Segundo declaração da artista, “a ave preta mística é uma população negra reunida além do tempo-espaço conhecido. Livre interpretação de Sankofa, um pássaro preto olhando para trás com um ovo em seu bico. Mística, a ave preta se transforma, tal como na ampliação de seus voos, nos mostrando um desejo incansável de liberdade”. Em participação no Em obras, podcast produzido pela Bienal de São Paulo, a artista relatou como o processo de produção do desenho nas paredes da Bienal exigiu de forma intensa uma entrega do seu corpo ao longo de 15 dias. Sem um projeto prévio para ocupar a sala circular, a artista se entregou a um processo orgânico, sem um ponto de partida e chegada pré-definido, desenhando de olhos fechados em muitos momentos, o que ela chama de “desenho cega”, buscando um estado meditativo e aberto ao inesperado.

Projects: Tadáskía

A aquisição da obra de Tadáskía para o acervo do MoMA é seguida por sua exibição a partir do The Elaine Dannheisser Projects Series, um programa criado pela instituição em 1971 com o intuito de apresentar artistas contemporâneos em ascensão. Atualmente, o projeto acontece em parceria com o the Studio Museum in Harlem, iniciativa que tem como missão o suporte e difusão de artistas afrodescendentes. À frente do the Studio Museum, a Diretora e Curadora Chefe Thelma Golden celebra a presença de Tadáskía enquanto representante da arte brasileira no exterior: “há e sempre houve uma arte incrível vindo do Brasil e estou emocionada que Tadáskía, com seus desenhos e esculturas imaginativas, irá transpor esse dinamismo criativo e fundamentá-lo em uma instalação site-specific para o espaço de projetos do MoMA. Esta colaboração especial é uma oportunidade notável para defender uma voz emergente na arte contemporânea e promove o compromisso do the Studio Museum com artistas de ascendência africana em todo o mundo. Sou infinitamente grata a Glenn Lowry e ao Museum of Modern Art pela parceria, que durante cinco anos garantiu a continuação do trabalho fundamental do the Studio Museum”. Com sua primeira exposição individual ocorrendo em Nova York, Tadáskía se junta a Ernesto Neto, Lygia Clark, Roberto Burle Marx e Tarsila do Amaral, o seleto grupo de artistas brasileiros que já tiveram suas obras expostas em individuais no museu. Em comunicado à imprensa, a artista revela a sensação de estar apresentando sua obra em Nova York: “é como se eu tivesse em um desenho animado, indo para uma terra estrangeira em que nunca estive e realizando um sonho de expor em um dos maiores e mais importantes museus do mundo, o MoMA”.

A relação com a ideia de estrangeiro está fortemente presente nas pesquisas da artista que, a partir de elementos familiares e íntimos, elabora sobre a diáspora negra. Artista negra e trans, Tadáskía utiliza as linguagens do desenho, fotografia, instalação e matéria têxtil, para desdobrar uma poética que dança nas esferas micro e macro, partindo muitas vezes de elementos particulares e íntimos, como sua família, todavia com capacidade de abordar questões mais amplas e coletivas.  Tanto nos poemas e desenhos presentes no livro, como nas esculturas e na instalação site-specific, os conceitos de mudança e efemeridade pavimentam a poética de Tadáskía. A múltipla narrativa em torno da ave preta mística, por exemplo, acompanha as mudanças vividas pela ave, seja pela influência de outras aves em convívio, seja através de adornos por ela utilizados, e sua forma, que se aproxima de outros elementos como estrelas e montanhas. Com uma visão bem resolvida sobre a importância do erro no processo artístico, bem como uma relação menos impositiva com as expectativas de finalização da obra, Tadáskía abre espaço para deixar fluir o pensamento em ação. Seus desenhos e materiais orgânicos escolhidos refletem um estado de espírito buscado pela artista.

Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.

Exposição/homenagem na Pinakotheke Cultural

08/mar

A exposição “Anjos com armas”, na Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta até 11 de maio, cerca de 50 obras dos artistas Sergio Camargo (1930-1990), Lygia Clark (1920-1988), Mira Schendel (1919-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980. A curadoria é de Max Perlingeiro, com a colaboração do artista Luciano Figueiredo.

A mostra é um tributo ao crítico e curador britânico Guy Brett(1942-2021), que desempenhou papel decisivo na internacionalização da arte brasileira, ao criar, junto com o artista filipino David Medalla(1942-2020), e outros amigos, a lendária galeria Signals, que de 1964 a 1966 exibiu obras desses fundamentais artistas que são Lygia Clark, Hélio Oiticica, Mira Schendel e Sergio Camargo. Quatro obras que estiveram originalmente na Signals, estarão expostas na Pinakotheke Cultural: “Bicho-Contrário II” (1961), “Espaço Modulado nº 4″ (1958) e “Espaço modulado nº8″ (1959), de Lygia Clark, e “Relief” (1964), de Sergio Camargo.

Na abertura de “Anjos com armas”, estará presente o crítico, historiador e filósofo da arte Yve-Alain Bois (Constantine, Argélia, 1952), pesquisador no prestigioso Institute for Advanced Study, em Princeton, EUA, quando será lançada a dupla publicação “Anjos com Armas” – dois volumes envolvidos por uma “luva” – bilíngüe (port/ingl), em formato de 21 x 27 cm. O primeiro, com 132 páginas, traz na íntegra o texto “Anjos com Armas” (“Angels with Guns”), de Yve-Alain Bois. Quando o filósofo enviou o texto para a tradução em português, ele instigou a Pinakotheke a montar uma exposição com base no ensaio, que trata-se de um texto muito amoroso sobre a importância da Signals e a amizade.

O volume 2, com 128 páginas, contém as imagens das obras da exposição, e fotografias de época, como as que mostram a Signals. Os textos são de Guy Brett sobre os artistas Sergio Camargo, Lygia Clark, Mira Schendel e Hélio Oiticica, apresentação de Max Perlingeiro, e ainda um texto de Luciano Figueiredo, que em 2017 organizou, com Paulo Venâncio Filho, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a exposição “Guy Brett: a proximidade crítica”, em “reconhecimento ao longo interesse intelectual e afetivo do crítico por nossos artistas”, assinala Max Perlingeiro.

Outros destaques da exposição são os “Bichos”, de Lygia Clark, em alumínio: “Bicho caranguejo” (1960) e “Bicho-contrário II” (1961); o conjunto de sete “Metaesquemas” de Hélio Oiticica, de 1957 a 1959; o conjunto de seis “Relevos” de Sergio Camargo, entre eles o “Relevo nº 172″ (Fenditura spazio orizzontal e lungo), de 1967; os seis trabalhos da série “Monotipias” dos anos 1960 de Mira Schendel, além de seu “Caderno de artista” (1966), o “Diário de Londres”, no qual a artista usa, “ao que parece, pela primeira vez, as letras decalcadas (letraset)”, como afirmou Taisa Palhares, no catálogo da exposição “O espaço infindável de Mira Schendel” (2015), na Galeria Frente.

Arte abstrata brasileira

13/dez

 

Em comemoração aos 70 anos da primeira exposição de arte abstrata feita no Brasil, a Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “Abstrações Utópicas”, com aproximadamente 80 obras de mais de 50 importantes artistas, que exploraram o universo da abstração e criaram as bases desta vertente artística, presente até hoje em nosso cenário cultural, e berço da arte contemporânea brasileira. Com curadoria de Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto, com consultoria de Anna Bella Geiger, que além de ter participado da exposição de 1953, no Quitandinha, em Petrópolis, também é autora junto com Fernando Cocchiaralle do livro-referência sobre o assunto.

Atuante aos 90 anos, Anna Bella Geiger ganhará uma mostra especial, inaugurando o segundo andar do pavilhão recém-construído atrás da casa principal na Danielian Galeria, onde estarão telas e “Macios”, em que vem desenvolvendo suas experiências no campo da pintura nos últimos 30 anos.

Entre os artistas da vertente abstração geométrica estão os que integraram nos anos 1950 os grupos Ruptura, de São Paulo, Frente e o movimento Neoconcreto, do Rio de Janeiro, como Ivan Serpa, Lygia Clark, Lygia Pape, Hélio Oiticica, Décio Vieira, Aluísio Carvão, Franz Weissmann e Abraham Palatnik (Rio), e Geraldo de Barros, Hermelindo Fiaminghi, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto (São Paulo). Dos artistas informais estarão presentes obras de Antonio Bandeira, Iberê Camargo, Fayga Ostrower, Manabu Mabe, Maria Polo, Frans Krajcberg, Flávio Shiró e Glauco Rodrigues, entre muitos outros.

Conjunto ímpar na Art Basel Miami Beach

06/dez

Para a feira Art Basel Miami Beach 2023, entre 06 – 10 dezembro, no Miami Beach Convention Center 1901, Convention Center Drive Miami Beach, FL, a Simões de Assis reuniu um conjunto ímpar de artistas que se conectam e se aproximam por suas relações com a abstração espiritual ou intuitiva. Ainda que saibamos que as abordagens mais comuns na arte brasileira e latino-americana sejam concretistas, racionalistas, cartesianas ou mesmo matemáticas, a abstração também pode ser igualmente associada ao metafísico, ao etéreo e ao intuitivo. A seleção inclui obras de Abraham Palatnik, Ascânio MMM, Ayrson Heráclito, Carmelo Arden Quin, Emanoel Araujo, Gabriel de la Mora, Gonçalo Ivo, Heitor dos Prazeres, Ione Saldanha, Lygia Clark, Mano Penalva, Mestre Didi, Rodrigo Torres, Rubem Valentim, Serge Attukwei Clottey, Sergio Camargo e Zéh Palito – trabalhos que são articulados por suas naturezas ritualísticas, espirituais, mitológicas, folclóricas e cosmológicas. Mesmo nos tensionamentos entre a abstração informal, geométrica e a figuração, este conjunto enfatiza como diferentes materiais e meios contribuem para a expansão das possibilidades da abstração entre artistas de diferentes origens, gerações e suportes.

Anjos com armas na Pinakotheke SP

30/out

A Pinakotheke, Morumbi, São Paulo, SP, exibe a exposição “Anjos com armas”, apresentando 42 obras dos artistas Sergio Camargo (1930-1990), Lygia Clark (1920-1988), Mira Schendel (1919-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980), pertencentes a diversas coleções particulares. A curadoria de “Anjos com armas” é de Max Perlingeiro, que explica que a exposição tem como alguns pontos de partida o fascínio do crítico e curador britânico Guy Brett (1942-2021) pela produção artística brasileira, e seu importante papel em sua internacionalização. Guy Brett foi o responsável por exposições de Sergio Camargo, Lygia Clark e Mira Schendel na lendária galeria Signals (1964-1966), em Londres, de que era sócio junto com o amigo e artista filipino David Medalla (1942-2020), entre outros artistas e curadores, e depois, na galeria Whitechapel, na capital inglesa, pela primeira mostra internacional de Hélio Oiticica.

Guy Brett é celebrado também na publicação “Angels with Guns” (“Anjos com Armas”), do historiador e filósofo Yve-Alain Bois, que publicou no ano passado (na revista “October”, do MIT) o ensaio sobre a produção de Guy Brett e sua profunda amizade com David Medalla. O livro, traduzido para o português, será lançado até dezembro pelas Edições Pinakotheke junto com o catálogo da exposição. O artista Luciano Figueiredo é colaborador do projeto.

Até 16 de dezembro.