Manzoni em São Paulo

31/mar

O MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque Ibirapuera, Portão 3, São Paulo, SP, apresenta exposição significativa de Piero Manzoni, provavelmente o mais importante artista da Itália, e também da Europa, do pós-guerra.

 
Em sua breve trajetória artística de pouco mais de seis anos – Manzoni morreu em Milão em 1963 aos 29 anos -, produziu uma obra radical que ainda continua a surpreender e influenciar a arte e os artistas contemporâneos. Foi também um artista que procurou contatos e conexões com outros artistas e grupos, em especial o Grupo ZERO, buscando rearticular as vanguardas europeias do final dos anos 1950.

 
Fundou revista e galeria, e sua influente presença agiu, na época, além da Itália, na Alemanha, Dinamarca, Holanda e França. Seu agudo conceitualismo irônico que se revela em um trabalho – hoje icônico – como “Merda de Artista”, renovou uma tradição derivada de Marcel Duchamp e do Dadaísmo.

 
O artista foi considerado um pioneiro pesquisador de novos materiais sintéticos que utilizou na sua importante série de trabalhos monocromáticos intitulada de “Achromes”. Manzoni, mais que qualquer outro artista, representa a jovem vitalidade que buscava novas direções para a arte numa Itália e Europa culturalmente traumatizadas pela Segunda Guerra Mundial.

 
Esta breve mostra no Museu de Arte Moderna de São Paulo apresenta um resumo compreensivo da fase “clássica” de sua obra; desde os primeiros “Achromes” até suas últimas obras, passando por aquelas que hoje são consideradas exemplos do espírito radical das vanguardas europeias dos anos 1950/60.

 

 

 

De 08 de abril a 21 de junho.

José Damasceno na Casa França-Brasil

22/dez

A Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “José Damasceno – Cirandar Todos”, com quatro instalações inéditas de José Damasceno, destacado artista da cena contemporânea. Com curadoria de Ligia Canongia, as obras têm em comum o diálogo com a arquitetura do espaço.

 
Na área central da Casa França-Brasil estará a instalação “Cirandar Todos”, que dá nome à exposição e será constituída por 150 manequins de madeira, de trinta centímetros de altura, unidos uns aos outros por um ímã não aparente, que será colocado em suas mãos, sem qualquer outro aparato de colagem ou sustentação, formando um círculo de aproximadamente nove metros de diâmetro. A instalação tem uma relação com a antiga e popular dança infantil da ciranda. Outra questão discutida neste trabalho é a escala “criando uma atmosfera ao mesmo tempo lúdica e desconcertante”, diz a curadora Ligia Canongia. “A instalação com essas miniaturas tem por princípio o embate com a escala monumental da Casa França-Brasil, subvertendo as expectativas e o uso que dela se faz habitualmente. O elemento surpresa e a perplexidade que tal obra deverá provocar são parte constituinte da concepção do artista”, afirma. As instalações “Monitor-Crayon”, “1/4” e “BRmm” estarão nas salas laterais, e também dialogam com a arquitetura da Casa França-Brasil.

 
“Monitor-Crayon” é um grande painel, de 240cm x 350cm x 9cm, composto por 75 mil peças de giz de cera, pesando ao total quase uma tonelada, justapostos apenas por encaixe, sem nenhum tipo de cola. O acaso é um fator primordial neste trabalho, em que as peças de giz são retiradas das caixas (25 mil ao todo) e embaralhadas, criando uma paleta de cores aleatórias. Este trabalho é um desdobramento da obra apresentada na exposição “Viagem à Lua”, no Pavilhão Brasileiro da Bienal de Veneza, em 2007. A formação abstrata da imagem colorida “que daí advém produz um pulsar constante no olhar do espectador e relaciona-se com o processo dos pixels nas transmissões televisas, como se a obra os materializasse em objetos”, ressalta a curadora.

 
Na mesma sala, estará a escultura “1/4” (2013/2014), composta por duas elipses sólidas de aço cortén, medindo 40cm x 27,5cm x 4cm, sendo que uma estará na parede e a outra no chão, “perfazendo um círculo imaginário e apenas sugerido, que, na imaginação do público, continuaria seu percurso cortando a parede e o chão. Dois pequenos objetos, portanto, supondo a enorme circularidade que perfuraria e costuraria os espaços da Casa França-Brasil”, conta a curadora.

 
Em outra sala estará a obra “BRmm” (2003/2014), pensada para um dos espaços da exposição, composta por uma colagem de centenas de recortes de papel jornal, no formato do mapa do Brasil. A colagem tem a forma da quina da sala onde estará exposta, em tamanho real, com seus vértices e arestas. Depois de pronta, a obra é então suspensa do teto, em meio ao espaço expositivo, reproduzindo o canto da sala, a confluência entre paredes e teto. “A própria sala de onde provêm as arestas/colagens obtidas, logo em seguida, as deve acolher numa continuidade imersiva de formas e espaços. A reconfiguração do espaço tornado objeto é ao mesmo tempo hipótese dadas aquelas linhas construídas com os recortes de papel jornal, substrato projetivo”, afirma José Damasceno. “Tal trabalho, com esse deslocamento dos cantos para o centro, potencializa e simultaneamente subverte o espaço onde se encontra. Mais uma vez, como em ‘1/4’, existe o propósito de materializar o intangível”, ressalta a curadora. Em 2003, uma versão inicial e diferente deste trabalho foi apresentado na exposição “Descubra as diferenças (experiência sobre aresta cinemática entre lugar-modelo simulado)”, no espaço Culturgest, em Porto, Portugal.

 
A exposição será acompanhada de um catálogo com texto de Ligia Canongia, a ser lançado no próximo dia 07 de fevereiro de 2015, com uma conversa aberta entre a curadora, o artista e o filósofo José Thomaz Brum.

 

 
SOBRE JOSÉ DAMASCENO

 
José Damasceno nasceu no Rio de Janeiro em 1968. Possui obras em importantes instituições no Brasil e no exterior, como Cisneros Fontanals Art Foundation (CIFO), em Miami, EUA; Colección Jumex, no México; Daros-Latinamerica, em Zurique, na Suiça; Fundación Arco, em Madri, na Espanha; Fundación La Caixa, em Barcelona, na Espanha; Helga de Alvear, em Caceres, na Espanha; Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais; Museu d´Art Contemporania de Barcelona (MACBA), em Barcelona, na Espanha; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museum of Modern Art (MoMA), em Nova York, EUA, e The Israel Museum, em Jerusalém, em Israel. Dentre suas principais exposições individuais estão: “Plot”, na Holborn Library, em Londres, em 2014; “Storyboard: José Damasceno – Monográficas”, no Centro Cultural São Paulo, em 2012; “Integrated Circuit”, na Thomas Dane Gallery, em Londres, Inglaterra, e “Estudios Paragraficos”, no Distrito 4, em Madri, na Espanha, ambas 2010; “Conjunto sequência lugar”, na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro, em 2009; “Coordenadas y Apariciones”, no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri, na Espanha, em 2008; “Viagem à Lua”, no Pavilhão Brasileiro da 52ª Bienal de Veneza, na Itália, em 2007; “Vale o Escrito”, Projeto Parede, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2005; “Observation Plan”, no Museum of Contemporary Art, em Chicago, EUA, e “Cinematograma”, no Projeto Respiração da Fundação Eva Klabin, no Rio de Janeiro, em 2004; “Cinemagma”, no Museu Ferroviário do Espírito Santo, em Vitória, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro; no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador, no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, em Recife, e no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio, em Brasília, ambas em 2001, entre outras.

 

 

 

Projeto Cofre

 
José Damasceno convidou o artista Antonio Malta (1961, São Paulo) para participar do “Projeto Cofre”, espaço na instituição que abriga trabalhos feitos especialmente para o local. O artista apresentará três pinturas, em óleo sobre tela, medindo 50cm x 60cm cada. “São imagens em estado bruto: formas tomando forma, figuras boiando na tela. Essas pinturas também têm um pouco de matéria, que é um elemento que supostamente age na direção contrária da representação. Mas, na minha ‘poética’, tudo se mistura: figuras, formas, matéria, imagem e imitação”.

 

 

 

Texto da curadora

 
José Damasceno – Cirandar todos

 
Cirandar todos é o título de uma das obras que José Damasceno apresenta na exposição, a peça central na Casa França-Brasil, e que acabou por intitular a mostra por inteiro. É provável, portanto, que essa nomeação seja índice de algo maior do que ela mesma. O título parte do cancioneiro popular infantil, que toda criança brasileira conhece: “Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar.”

 
A partir da inversão da ordem das palavras – de “vamos todos cirandar” para “cirandar todos”–, já existe a ideia de um jogo a considerar. A roda de dança, que a canção supõe, está ali representada por 150 manequins de madeira ligados por ímãs, formando um círculo com diâmetro de 9 metros, mas a dança não acontece, a situação é estática e o movimento é apenas intuído pelo espectador.

 
Ora, o paradoxo desse mover estático tem sido uma das principais questões da obra de José Damasceno, uma vez o artista buscar sempre uma sensação rítmica, cinética ou progressiva em superfícies, acontecimentos ou matérias congeladas. Em seu trabalho, as coisas aparentes e concretas funcionam como propulsoras de um móbil imaginário, que estaria em constante deslocamento, mas que apenas mental ou conceitualmente “aparece”. Existiria, então, na obra, uma mobilidade e um congelamento potenciais e oscilantes, pois que o enunciado nodal do trabalho problematiza, em paroxismo, a questão do movimento.

 
Outra hipótese inusitada seria a ideia de contrapor à monumentalidade da instituição e sua imponente arquitetura uma pequena roda de ciranda, leve, sutil e de escala extremamente reduzida. Importante relevar, contudo, que a sutileza do trabalho não compromete de forma alguma a potência de sua pulsão imaginária nem a ressonância ativa de seu silêncio.O princípio geral de fazer girar, cirandar e transformar o espaço real governa, afinal, o conjunto de todos os trabalhos.

 
A exposição por si mesma produz um evento, outro devir arquitetônico, expandido e inesperado. A partir de situações escultóricas que surgem ao longo da Casa, e que mobilizam de forma surpreendente sua própria feição física, o artista provoca o deslocamento e a reinserção dos espaços em uma dinâmica extraordinária. O espaço é tratado como um campo de situações instáveis, onde as ações poéticas intervêm de forma descontínua, transformando o perfil linear dos lugares numa ocorrência insuspeitada. Assim, José Damasceno promove outra espécie de lugar, imaginário, onde o nonsense e as relações excêntricas definem o campo aberto da linguagem.
Ligia Canongia

 

 

 

Inauguração: 16 de dezembro de 2014, às 19h30

 
Até 22 de fevereiro de 2015.

Liuba na Marcelo Guarnieri

01/set

Com o objetivo de aproximar o público das obras e do universo da artista, a galeria Marcelo Guarnieri, Jardim Paulista, São Paulo, SP, inaugura a exposição “LIUBA”, que reproduz parte do atelier da artista em São Paulo. A produção artística de Liuba dividiu-se nas três cidades em que residiu e estudou: Paris, Zurique e São Paulo. Na última, o seu atelier no bairro do Jardim Europa, preserva parte das obras de seu acervo, e testemunha a memória do processo de criação e execução de suas esculturas.

 

Para reconstrução do clima e da atmosfera do ambiente, a galeria selecionou 40 obras em bronze, de sua profícua fase dos anos 60 e 70. Com trabalhos que variam entre pequenas e médias peças, as esculturas da artista ganharam notoriedade do público e da crítica especializada, pelas formas e traços que remetem à agressividade de pássaros ou do humano em sua face animalesca. Aproximando-se de sua geração contemporânea, e do grito expressivo dos artistas modernos, suas obras podem ser vistas em museus e coleções ao redor do mundo, e em obras públicas ao redor do rio Sena em Paris, como “Upright Sculpture” de 1977, e “Animal I”, de 1985, ambas no Quai Saint Bernard.

 

Dois bustos, um retrato em bronze do marido Ernesto Wolf, e o outro do irmão, em gesso, que ficavam virados de costas no atelier da artista, denotavam a mudança de linguagem de sua produção. Se na década de 60, Liuba esculpia cabeças tradicionais, nos anos 70, após exercitar as suas formas-pássaros, a artista retoma o imaginário dos bustos, conferindo uma linguagem própria e autoral. Os bustos sugerem, por sua vez, uma aproximação zoomórfica, na qual o humano equilibra-se com o animal.  Além das esculturas, três desenhos de estudos, as bases originais em gesso das peças em bronze e instrumentos de trabalho, serão expostos na galeria. Complementa-se à exposição, a exibição inédita do ensaio visual “LIUBA”, realizado por Luana Capobianco, com imagens das obras, dos materiais utilizados na execução das peças e seus ateliês de São Paulo e Paris.

 

 

Sobre a artista

 

Nascida em 1923 na Bulgária, Liuba Wolf ingressa na Escola de Belas Artes de Genebra em 1943. Em 1944 começa a estudar escultura com Germaine Richier, a princípio na Suiça, depois em Paris, em 1946, onde passa a viver e trabalhar em seu atelier. Em 1949, ainda vivendo em Paris, monta atelier também em São Paulo. Casa-se com Ernesto Wolf em 1958 no Brasil, e passa a dividir seu tempo entre os  ateliers de São Paulo e Paris. A partir de 1989 estabelece atelier também na Suiça. Morre em São Paulo em 2005. Liuba Wolf participou anualmente do Salon de la Jeune Sculpture de Paris no período entre 1964 e 1979, e em inúmeros salões de arte no Brasil entre eles o Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1962 e 1963 como também a participação sistemática do Panorama de Arte Atual Brasileira no MAM de São Paulo no período de 1970 a 1985. Realizou diversas exposições individuais, destacando-se a no MAM-Rio em 1965, no Museu de Saint Paul de Vence na França em 1968, na Galeria Achim Moeller em Londres em 1972, no Hakone Open Air Museum no Japão em 1985 e na Pinacoteca do Estado de São Paulo em 1996. Suas participações em exposições coletivas incluem também as mostras: Bienal de Carrara em 1962, 12º e 13ª Biennale Internazionale del Bronzetto na Itália (1979 e 1981), Artistas Latino Americanos no Museu Nacional de Arte Moderna de Paris (1967), 7ª/ 8ª/9ª e 12ª Bienal Internacional de São Paulo (1963/1965/1967 e 1973). Foi premiada no Salon d´Automne em Paris em 1947 e 1957, no Salão Nacional de Arte Moderna no Rio de Janeiro em 1962 e na 7º Bienal Internacional de São Paulo em 1963. Suas obras intregram importantes coleções públicas internacionais como a do Fond National d’Art Contemporain de Paris, do Museu de Saint Paul de Vence na França, do Kunsthelle de Nuremberg na  Alemanha, do Hakone Open Air Museum no Japão e do Musée de la Sculpture en Plein Air de la Ville de Paris; e integram também importantes coleções públicas nacionais como a do Museu de Arte Moderna de São Paulo, do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, da Coleção da Bienal de São Paulo e do Museu do Artista Brasileiro em Brasília. A artista também possui obras em importantes coleções privadas em diversos países tais como Brasil, Argentina, Canadá, Inglaterra, França, Alemanha, Japão, Suíça e Estados Unidos.

 

 

Comentário sobre a sua obra

 

A partir da década de 50 Liuba Wolf afasta-se da expressão essencialmente figurativa que até então caracteriza seus trabalhos e passando a produzir uma obra situada na fronteira entre a figuração e a abstração, a representação geométrica e o mundo orgânico. Utilizou principalmente o bronze para as suas esculturas, ainda que eventualmente tenha se utilizado de outros materiais, como nas composições do início dos anos 70, produzidas em poliéster. Realizou diversos desenhos e esboços de suas obras. Dedicou-se também à criação de joias.

 

 

De 06 de setembro a 18 de outubro.