Percursos Mediados

02/out

A partir da próxima segunda-feira, dia 05 de outubro, estreia a terceira temporada da série “Percursos Mediados”, baseada na exposição “Pardo é Papel”, individual de Maxwell Alexandre. A mostra, em cartaz no MAR, Museu de Arte do Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, retrata uma poética urbana que passa pela construção de narrativas e cenas estruturadas a partir da vivência cotidiana do artista na cidade e na Rocinha, onde nasceu, trabalha e reside. Os vídeos serão publicados no canal do MAR no Youtube às segundas-feiras, até o início de novembro.

As duas primeiras temporadas completas da série “Percursos Mediados”, com cinco episódios cada, também estão disponíveis no Youtube. Inspirados nas exposições coletiva “O Rio dos Navegantes” e “Rua!”, os vídeos foram desenvolvidos a partir da prática pedagógica museal utilizada nas visitas presenciais oferecidas pelo museu.

 

Quatro no Museu da República

20/dez

A Galeria do Lago, Museu da República, Catete, Rio de Janeiro, RJ, encerra o ano com a abertura de “Quimera”, mostra que reúne três gerações com quatro artistas e curadoria compartilhada de Isabel Sanson Portella com Ricardo Kugelmas, curador do espaço Auroras em São Paulo. Ana Prata, Bruno Dunley, Veío  e Liuba Wolf são os artistas que expõem suas pinturas, esculturas e desenhos. Trata-se, primeiramente, de um diálogo de gerações onde a exaltação imaginativa em diferentes técnicas aparece como destaque. A Quimera mitológica, símbolo complexo de criações imaginárias do inconsciente, representa a força devastadora dos desejos frustrados, dos sonhos que não se realizam, da utopia e fantasias incongruentes. Monstros fabulosos alimentam, desde sempre, a imaginação do homem com devaneios necessários à expansão da alma.

 

“O diálogo que se estabelece entre os quatro artistas resulta numa mostra de identidades e poéticas que se aproximam enquanto falam de desejos e expectativas. Embora as práticas sejam distintas existe a mesma procura pela excelência, pela abstração e simplicidade das formas. A eles interessa o prazer criativo, a “brincadeira séria” e a liberdade de sonhar”, avalia a curadora, Isabel Sanson Portella, que também é diretora da Galeria do Lago.

 

 

Sobre os artistas

 

Liuba Wolf

 

Inserida na tradição da escultura moderna desde os anos 1950, é considerada uma das pioneiras entre as artistas mulheres que se dedicaram à arte de esculpir. Inicialmente figurativa, a artista passou, a partir dos anos 1960, por uma significativa mudança formal que a levou à “quase abstração”, tendo a figura do animal como referência. Suas obras, como a própria artista afirma, vêm do inconsciente e são uma “simbiose entre vegetal e animal.” A força e beleza de seus trabalhos inspirou, certamente, toda uma geração de artistas que se seguiu.

 

Véio

 

Artista sergipano dos mais destacados na arte popular brasileira, utiliza a madeira para representar o seu olhar crítico sobre o homem e a vida no sertão nordestino. Transforma restos de troncos da beira do rio, em esculturas coloridas, seres imaginários e personagens místicos que surgem das histórias de assombração ouvidas na infância. O universo de Véio, autodidata e muito enraizado em sua terra natal, é povoado pela tradição popular que o faz perceber o poder da transformação e da luta pela forma pura.

 

Ana Prata

 

A artista entende a pintura como meio de experimentação e linguagem. Seus trabalhos apresentados em Quimera trazem algumas propostas bastante significativas nesse diálogo de gerações e lugares de fala. A procura pela liberdade, o prazer criativo e a imaginação são pontos em comum nos quatro artistas selecionados. Para Ana Prata é importante variar, criar sempre algo novo para que outros sentimentos aflorem. Sua obra está aberta a novas propostas e respostas. E é sempre no olhar do expectador que a narrativa se completará.

 

Bruno Dunley

 

Sua prática é voltada para a abstração gestual, sem, entretanto, perder o foco na representação dos objetos. Para ele existe uma mudança fundamental na função da imagem que deixa de ser forma única de apresentação de uma ideia. As cores utilizadas, delicadas mesmo quando as imagens são violentas, aparecem ora em manchas, ora como fundo para os desenhos. Quase sempre há uma cor predominante, pastel seco aplicado com vigor além de traços em carvão. Bruno não procura a beleza perfeita e absoluta, mas cada vez mais pensa em uma beleza possível, direta. Algo que faça o espectador apurar o olhar e criar sua própria experiência sensorial.

 

 

Até 24 de fevereiro de 2019.

Visita mediada 

10/dez

No próximo dia 15 (sábado), às 11h, a Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, promoverá uma visita mediada na exposição “Baixa dos Sapateiros” com o artista Tiago Sant’Ana e a curadora Clarissa Diniz. Esta exposição individual, trata da imagem histórica dos sapatos como símbolo de libertação pós-abolição negra no Brasil. Essa abolição, oficiosa e sem reparação, era simbolizada pelo gesto de pessoas negras poderem calçar sapatos – tal qual a população branca. O título, “Baixa dos sapateiros”, remete a uma região de mesmo nome em Salvador, na Bahia, local em que muitas pessoas negras recorriam para confeccionar seus sapatos. “O nome surge com essa proposta de falar de um lugar em que muitas pessoas iam desejando essa representação da liberdade, que eram os sapatos”, informa o artista. “Era uma geografia que simbolicamente envolvia uma expectativa por essa promessa de cidadania para as pessoas negras, que nunca chegou completamente até hoje”, completa. Considerado um dos pontos altos da exposição, as esculturas com sapatos de açúcar cristal estabelecem um paralelo com o complexo sistema de exploração da cana-de-açúcar e a chegada de muitos engenhos na região do Recôncavo. Clarissa Diniz é responsável pela curadoria da exposição, que conta com vídeo, fotografias, objetos e instalações em torno do tema.

 

 

Sobre o artista

 

Tiago Sant’Ana nasceu em Santo Antônio de Jesus, em 1990. É artista da performance, doutorando em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia. Desenvolve pesquisas em performance e seus possíveis desdobramentos desde 2009. Seus trabalhos como artista imergem nas tensões e representações das identidades afro-brasileiras – tendo influência das perspectivas de coloniais.  Foi um dos artistas indicados ao Prêmio PIPA 2018. Realizou recentemente a exposição solo “Casa de purgar” (2018), no Museu de Arte da Bahia e no Paço Imperial, no Rio de Janeiro. Participou de festivais e exposições nacionais e internacionais como “Histórias Afro-atlânticas” (2018), no MASP e no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo,. SP, “Axé Bahia: The power of art in an afro-brazilian metropolis” (2017-2018), no Fowler Museum at UCLA, “Negros indícios” (2017), na Caixa Cultural São Paulo, “Reply All” (2016), na Grosvenor Gallery, e “Orixás” (2016), na Casa França-Brasil. Foi professor substituto do Bacharelado Interdisciplinar em Artes na Universidade Federal da Bahia entre 2016 e 2017.

 

 

Sobre a curadoria

 

Clarissa Diniz é curadora e escritora em arte. Graduada em Licenciatura e Educação Artística/Artes Plásticas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Foi gerente de conteúdo do Museu de Arte do Rio – MAR entre 2013 e 2018, onde desenvolveu também projetos curatoriais. Publicou os livros “Crachá – aspectos da legitimação artística”, “Gilberto Freyre” – em coautoria com Gleyce Heitor -; “Montez Magno”, em coautoria com Paulo Herkenhoff e Luiz Carlos Monteiro; e “Crítica de arte em Pernambuco: escritos do século XX” (coautoria com Gleyce Heitor e Paulo Marcondes Soares), dentre outros. De curadorias desenvolvidas, destacam-se “O abrigo e o terreno” (cocuradoria com Paulo Herkenhoff. Museu de Arte do Rio – MAR, 2013), “Ambiguações” (Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 2013), “Pernambuco Experimental” (Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro, 2013), “Do Valongo à Favela: imaginário e periferia” (cocuradoria com Rafael Cardoso, Museu de Arte do Rio – MAR, 2014), entre outras.

Horizontes artificiais – Na Marsiaj Tempo Galeria

09/jul

A Marsiaj Tempo Galeria, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição “Horizontes
artificiais”, individual de fotografias de Kilian Glasner. O tom pink é o fio condutor de todas as imagens deste fotógrafo internacional. Todas as paisagens clicadas por Kilian Glasner que recebem esse matiz exibem um efeito surpreendente aos olhos do visitante que visualiza panoramas com muitos dos quais mantém familiaridade. Cidades como Los Angeles e Rio de Janeiro passam po esse processo criativo do artista.

Dominique Gonzalez-Foerster no MAM-Rio

17/jun

Artista francesa que irá expor no Centre Pompidou, em Paris, ganha exposição com obras emblemáticas e um trabalho recente (inédito) no Museu de Arte Moderna, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ. Chama-se “Temporama”, a exposição com doze obras da artista Dominique Gonzalez-Foerster, francesa nascida em Strasbourg, que se divide entre Paris e o Rio de Janeiro. A mostra, que tem curadoria de Pablo Léon de la Barra, ocupará uma área de 1.800 metros quadrados no segundo andar do MAM, e traz obras emblemáticas da artista produzidas entre 1985 e 1991, que serão reconstruídas pela primeira vez para a exposição. Estará ainda em “Temporama” um único trabalho produzido este ano “uma piscina abstrata” com aparições fotográficas da artista caracterizada como Marilyn Monroe. Dominique Gonzalez-Foerster, que integrou a Documenta XI, em Kassel, 2002, ganhará em setembro deste ano mostra no Centre Pompidou, em Paris, e em abril do ano que vem no prestigioso espaço K20, em Düsseldorf, Alemanha. Dominique Gonzalez-Foerster é uma das mais importantes artistas de sua geração, com obras históricas na produção artística internacional dos últimos vinte anos, que sempre integram importantes exposições. Esta será a primeira exposição individual da artista em uma instituição brasileira.

 
O curador Pablo León de la Barra ressalta que “Gonzalez-Foerster tem uma forte relação com o Brasil e com o Rio de Janeiro desde 1998”. “Ela mora parte do tempo no Rio, e isso tem uma importante influência em seu trabalho”. A artista complementa lembrando que realizou “várias apresentações com o grupo Capacete no Rio de Janeiro”, e fez “quatro pequenos filmes no Brasil: ‘Plages’, inspirado no grande desenho de Burle Marx na praia de Copacabana, ‘Marquise’, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, ‘Gloria’, na Praça Paris, no Rio de Janeiro, e ‘Brasília’, no Parque da Cidade, que integra a coleção do Moderna Museet, em Estocolmo”. “Em meu trabalho uso muitas referências de Lina Bo Bardi, Burle Marx, Sérgio Bernardes, entre outros”, afirma.

 
“Temporama” foi pensada especificamente para o MAM e no “modernismo tropical” de Affonso Reidy (1909 – 1964), arquiteto que concebeu o museu em estreito diálogo com o Parque do Flamengo. A exposição busca expandir a noção da retrospectiva tradicional para uma escala de tempo maior, avançando para o futuro e retrocedendo no tempo.

 
A artista explica que “Temporama” “se configura como uma máquina do tempo, um parque, uma praia, uma vista, e um panorama. Um lugar onde podemos parar o tempo e experimentar diferentes tempos-espaços”, diz.

 

 
Filtros vermelhos e turquesas

 
Filtros vermelhos e turquesas, colocados em toda a extensão da exposição transportarão o público às primeiras obras de Dominique Gonzalez-Foerster criadas na década de 1980, mas também ao MAM do século 20. “As fachadas de vidro permitem que a paisagem entre no Museu. Dentro e fora se confundem no espaço de exposição, que se torna uma continuação da paisagem. O vidro também cria um jogo de reflexos e miragens, onde as diferentes imagens do Rio, juntamente com as lembranças e os desejos do visitante, se sobrepõem. Da mesma forma, a arte exposta no MAM não só é exibida dentro do museu, mas também flutua na paisagem, tornando-se parte dela”, afirma o curador Pablo Léon de la Barra.

 
A exposição será acompanhada de uma publicação, com textos do curador Pablo León de la Barra, de Tristan Bera e da própria artista, a ser lançado ao longo do período. As fotos que farão parte do livro serão feitas na exposição, incluindo também as etapas de montagem.

 
O trabalho da artista integra as coleções da Tate Modern, em Londres; do Centre Pompidou, do Musee d’Art Moderne de la ville de Paris e do Fonds National d’Art Contemporain, em Paris; do Guggenheim Museum e Dia Art Foundation, em Nova York; do MUSAC e da La Caixa Foundation, ambos na Espanha; do Moderna Museet, na Suécia; do 21st Museum of Contemporary Art, no Japão, e do Van Abbemuseum, na Holanda. O Instituto Inhotim exibe, em sua coleção permanente, sua instalação “Desert Park” (2010).

 

 
Sobre a artista

 
Nascida em Estrasburgo em 1965, Dominique Gonzalez-Foerster estudou na École des Beaux-Arts de Grenoble, onde se formou em 1987, e na École du Magasin do Centre National d’Art Contemporain de Grenoble, antes de concluir seus estudos em 1989 no Institut des Hautes Études en Arts Plastiques, em Paris. Morando em Paris e no Rio de Janeiro, Gonzalez-Foerster é celebrada por sua prática interdisciplinar e, ao lado de contemporâneos como Philippe Parreno e Pierre Huyghe, é considerada uma das figuras proeminentes da estética relacional, termo proposto pelo crítico e curador Nicholas Bourriaud para descrever práticas surgidas na década de 1990 que exploravam os relacionamentos humanos e os contextos sociais em que eles ocorrem. Com seu interesse especial pela arquitetura, interiores e espaços e seu fascínio pela literatura, cinematografia, mídia e tecnologia, seu trabalho assumiu primordialmente a forma de instalações, com frequência site-specific, embora muitas vezes utilize também o filme como suporte. Entre a série de obras dos anos 1990 em torno da ideia de quartos estão RWF (Rainer Werner Fassbinder) (1993), a recriação do apartamento do falecido cineasta alemão, e Une Chambre en Ville (1996), que apresentou um quarto parcamente decorado, porém acarpetado, contendo um pequeno número de objetos para comunicação de informações e mídia, tais como um rádio-relógio, uma TV portátil, telefone e jornais diários. Entre 1998 e 2003, produziu uma série de 11 filmes apresentados como a compilação Parc Central (2006), contendo filmagens de parques, praias, desertos e paisagens urbanas de diversos locais, de Kyoto a Buenos Aires, de Paris a Taipei. Em 2002, ganhou o Prix Marcel Duchamp, Paris. Entre suas principais obras e projetos desde a virada do milênio estão Roman de Münster (2007), em que criou réplicas em escala 1:4 de esculturas selecionadas de outros artistas apresentadas antes no Skulptur Projekte Münster; TH.2058 (2008), encomendada para o Turbine Hall da Tate Modern como parte da série Unilever, que consistia de 200 estruturas de metal de camas-beliche dispostas em fileiras, com livros espalhados por cima e enormes réplicas de esculturas de artistas como Louise Bourgeois e Bruce Nauman elevando-se sobre elas; e “Desert Park”, nos trópicos de Inhotim (2010), para a qual construiu pontos de ônibus de concreto inspirados na arquitetura modernista brasileira, que instalou num campo próximo a uma floresta tropical. Sua prática transdisciplinar e muitas vezes colaborativa também se estendeu ao âmbito da música e do teatro, com peças como NY.2022 (2008), com Ari Benjamin-Meyers e a Richmond County Orchestra de Staten Island, no Peter B. Lewis Theater do Guggenheim Museum, Nova York; K.62 (2009), no Abrons Art Center, Nova York, como parte da Performa 09; e T.1912 (2011), em homenagem do 99º aniversário do naufrágio do Titanic, no Guggenheim Museum, Nova York. Aperformance M.2062 começou na Memory Marathon da Serpentine Gallery em 2012 e foi apresentada em diversas versões desde então, inclusive com o título Lola Montez in Berlin (2014). Em 2006, a artista participou da 27ª Bienal de São Paulo, com curadoria de Lisette Lagnado. Entre suas mostras individuais estão “Chronotopes & Dioramas” na Dia Art Foundation, Nova York (2009), “Splendide Hotel” na Reina Sofia, Madri (2014), e exposições em desenvolvimento para o Centre Pompidou de Paris (2015) e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2015).

 

 
De 20 de junho a 09 de agosto.

 

Julia Csekö e o público

28/mai

A MUV Gallery, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, representa obras de artistas da nova geração da arte contemporânea, um projeto de Camila Tomé e Stéphanie Afonso, acaba de completar um ano. Para comemorar a data as sócias convidaram a artista americana Julia Csekö para apresentar a exposição individual “VOCÊ/EU”, com abertura marcada para o dia 17 de junho, onde o público poderá interagir e participar da montagem e resultado da obra. A mostra começa com o espaço expositivo praticamente vazio, a não ser por uma grande instalação de corações rosas e vermelhos afixados por fios prateados ao teto.

 

Por alguns meses Julia Csekö produziu uma grande quantidade de corações de veludo, pelúcia, cetim; tecidos brilhantes e texturizados. Cada coração é uma unidade de tempo, fazendo parte de uma longa meditação sobre o amor. A partir do momento da abertura o público é convidado a trazer objetos para serem trocados por estes corações. Aos poucos a Galeria será preenchida por objetos trazidos pelos visitantes. Os objetos trocados devem representar de alguma forma afetos e ideias/imagens que remetam ao amor.

 

Feitos de material macio, eles são fechados com fios metalizados, numa referência a prática Japonesa Kintsugi onde um objeto que se quebra é remendado usando ouro, prata ou platina. Cada cicatriz deixada, ao invés de ser escondida é ressaltada como um acréscimo ou elemento estético.

 

Alguns assuntos recorrentes na obra de Julia Csekö, como o trânsito entre micro e macro perspectivas, repetição e replicação versus originalidade estão presentes nesta exposição. Cada coração é único, feito a mão pela artista porém ao serem exibidos em um conjunto, sua singularidade é temporariamente atenuada. O processo de troca é imprevisível, a cada troca efetuada a exposição se torna mais plural e menos autoral. Cada coração é um objeto único e contém uma interação e relação interpessoal com o espectador em estado de latência. A cada troca a singularidade de cada coração é ressaltada. Quanto mais trocas efetuadas, mais plural a exposição se torna.

 

A penca de corações passa por uma transformação, começando como um conjunto de objetos similares e tornando-se a cada troca um conjunto de objetos díspares, fragmentos que juntos compõe uma narrativa sobre afetos, trocas, amores e desejos.  Os objetos se transformarão, mas o motivo que os une dentro do mesmo espaço permanece. Cada coração é uma ponte entre a artista e o público e entre a obra e o espectador. Os objetos trocados serão documentados e colocados num arquivo e catálogo digital, para que o exposição possa novamente transitar entre o material e o imaterial, entre o espaço físico, idéias, afetos e memórias.

 

 

Sobre a artista

 

Julia nasceu no Colorado, EUA, e cresceu no Rio de Janeiro. Voltou ao seu país de origem para cursar mestrado em artes visuais na School of the Museum of Fine Arts, em Boston, e suas obras estão em importantes coleções como na Morris and Helen Belkin Art Gallery, British Columbia University Museum, Canada e MAM Rio. Já participou de mostras na Galeria A Gentil Carioca, Caixa Cultural – RJ, Centro Cultural Banco do Barsil – SP, MAM- BA, Fundação Eva Klabin e em galerias em Portugal, Estados Unidos, Canadá e França.

 

 

De 17 de junho a 17 de julho.

(Sábados mediante agendamento pelo tel: (21) 3988-0600).

 

O Campo Cego de Padovani

05/ago

O artista Ivan Padovani apresenta 30 trabalhos em “Campo Cego”, sua primeira exposição individual na Galeria da Gávea, Rio de Janeiro, RJ. As fotografias representam de forma sistemática as paredes laterais cegas de edifícios em São Paulo.

 

Segundo Ivan Padovani, “Campo Cego” tem como base um procedimento com regras muito bem definidas, o que lhe confere um caráter de coleção e inventário, até o momento formado por cerca de 150 imagens de empenas realizadas na capital paulista. Por meio de tais convenções, a pesquisa procura tornar mais claro seu objetivo enquanto representação de uma experiência pessoal frente à cidade, assim como sugerir questões relativas à visualidade e percepção em meio ao ambiente urbano.

 

“O processo de produção tem como ponto de partida minha relação com a cidade no dia a dia. Nos últimos anos, a atitude de procurar essas ocorrências em São Paulo me conduziu a um exercício constante de caminhar mais lentamente e com um olhar mais atento, não só a essas fachadas, mas também a todo o seu entorno”, diz o artista.

 

A partir de um olhar que revela o que pode ser considerado o verso da cidade, Ivan Padovani busca certo silêncio visual, uma ordem no caos, um respiro em meio à saturação. “O interesse principal não é tentar retratar os contrastes, o movimento caótico, a desordem, o excesso de SP. Busco o oposto, como se a cidade estivesse sendo vista em um só plano, silenciosa e estática. Paradoxalmente, um espaço que nega e afirma tudo ao seu redor”, complementa.

 

A fotografia é a ferramenta utilizada para a criação deste inventário. Mas ao abdicar da perspectiva, a imagem afirma sua bidimensionalidade de tal forma até ganhar a estética de desenho. As fotografias são apresentadas em suportes que sugerem experiências visuais e táteis para quem entra em contato com o trabalho. Desta forma, a fotografia é pensada de forma expandida, assumindo um caráter de objeto.

 

“Campo Cego” foi um dos trabalhos selecionados em 2014 no Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia e no Programa Descubrimientos do Festival PhotoEspaña.

 

 

Sobre o artista

 

Natural de São Paulo e fotógrafo profissional desde 2004, Ivan Padovani é formado em administração pela Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, com pós-graduação em fotografia pela mesma instituição. Realiza trabalhos nas áreas de fotografia esportiva, documental e retratos, atendendo clientes para fins editoriais e publicitários.

 

Ivan é artista representando pela Galeria da Gávea e frequenta o grupo de acompanhamento de projetos orientado por Nino Cais e Marcelo Amorim no ateliê Hermes Artes Visuais. É colaborador da revista Digital Photographer Brasil, ministra cursos de fotografia no Hermes Artes Visuais, edita o blog Marcador e coordena o F+, núcleo educativo da Fauna Galeria voltado para a reflexão e prática em arte contemporânea.

 

 

De 05 de agosto a 19 de setembro.

Tinho na Galeria Movimento

12/mai

A partir do dia 16 de maio o público carioca poderá apreciar dez telas que envolvem o cotidiano urbano e todo o caos proporcionado pela metrópole no trabalho de um dos precursores e um dos nomes mais conceituados da arte urbana no Brasil: Walter Tada Nomura, o TINHO. Na mostra “Reflexão”, que acontecerá na Galeria Movimento, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, representante das obras do artista que reside e trabalha em São Paulo.

 

As questões sociais, econômicas e urbanas foram sempre seu objeto de pesquisa. Suas pinturas despertam o pensar. Procuram estabelecer uma comunicação com o espectador de forma a levantar e discutir questões contemporâneas do cotidiano. Dessa necessidade surgiram os personagens, tão emblemáticos em sua arte. Crianças interiores, tristes e sombrias, que trazem no olhar as marcas da sociedade em que vivem. Sua solidão reflete todos os problemas a que estão expostas diariamente e falam mais do que mil palavras. Bastante freqüente também, em sua obra, é a temática dos automóveis batidos. Pesadelos geraram imagens que falam de uma viagem interrompida. Uma forma de censura que impede de chegar ao objetivo final.

 

Tinho mantém paralelamente o contato com o universo da arte urbana e com o meio acadêmico, colaborando com teses de graduação, mestrado e doutorado sobre as relações entre a arte e a cidade. É convidado a participar de discussões e palestras regularmente, como aconteceu na VII Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, em 2007. Acumula em seu currículo participações em mostras coletivas de instituições como Centro Cultural São Paulo, Paço das Artes, MIS, Caixa Cultural, Santander Cultural, Memorial da América Latina e Pavilhão das Culturas Brasileiras, assim como nas bienais de Havana, 2009 e Vento Sul, Curitiba, 2009. Realizou exposições individuais em diversas galerias privadas ao redor do mundo e, a convite do Itamaraty, expôs em Londres e em Moscou.

 

Em 2006 foi convidado a produzir um painel gigante como preparativo para a Copa FIFA 2006, em Berlin, e também participou de exposições em Grenoble e Hossegor, na Franca, Gold Coast, Melbourne e Torquay, na Australia, Beijing e Shangai, na China, Barcelona, na Espanha, Rotterdam, Holanda, Moscou, Russia, Zurich, Suíça, Berlin e Munique, na Alemanha, Varsóvia, Polonia, Milão, Itália, Buenos Aires, Argentina e Santiago, no Chile.

 

Embora tenha a pintura como principal linguagem, Tinho também fotografa, cria objetos tridimensionais, monta instalações, faz colagens, performances, site-specifics. e transforma em arte aquilo que encontra pelos lugares por onde circula.  Em seu trabalho, a vida urbana, os problemas sociais e políticos são questões que se relacionam de forma estética e conceitual. Suas telas muito contribuíram para o reconhecimento do Brasil como um dos principais produtores de arte urbana. Ao se apropriar do que foi refugado, do que pertence a todos e a ninguém, Tinho cria esse delicado jogo entre encenação e realidade. Faz nada mais que arte, recriando continuamente o mundo. “Eu procuro com o meu trabalho estabelecer uma comunicação com o espectador, de forma a levantar e discutir questões contemporâneas que fazem parte do nosso cotidiano. Como um ser metropolitano, minhas questões giram em torno dessa vida urbana, dos problemas sociais a que estamos expostos diariamente e as questões políticas e econômicas que acabam por refletir em todo o nosso viver. Em meu trabalho, essas questões se relacionam de forma estética e conceitual”, finaliza Tinho.

 

 

Sobre o artista

 

Tinho iniciou o desenvolvimento de seu trabalho em atelier estudando na FAAP, se formando em Artes no ano de 1997. Lecionou na rede pública estadual e iniciou sua pesquisa formal procurando entender os relacionamentos humanos dentro da metrópole, assim como a relação dos habitantes com o meio onde vivem. Desde então explora o espaço urbano em busca de um contato íntimo com sua geografia, arquitetura e superfície. Através de um posicionamento social e político, acumula informações das ruas, recolhendo seus restos e selecionando seus conteúdos. Essa pesquisa carrega um aspecto documental e histórico da cidade, principalmente de São Paulo, em meio a vivência particular do artista.

 

 

De 16 de maio a 7 de junho.

Luzia Simons na Pinacoteca

18/dez

A Pinacoteca do Estado de São Paulo, Estação Luz, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Segmentos”,  individual de Luzia Simons. Realizada especialmente para o” Projeto Octógono Arte Contemporânea”, a instalação é composta de quatro obras, quatro ampliações fotográficas moduladas, recortadas em 12 partes que são posicionadas no espaço com suas costas voltadas para cada uma das entradas. Incomuns em seu efeito claro-escuro, de concepção barroca, os scannogramas de Luzia Simons têm uma sonoridade trazida do silêncio para o rumor barulhento da metrópole, voltando depois ao silêncio.

 

Segundo Luzia Simons, a instalação faz uma alusão aos jardins fechados, tradicionalmente encerrados com tramas metálicas ou cercas de madeira. Alude, ainda, ao próprio Jardim do Éden. Este ambiente, no entanto, não se propõe acolhedor, mas sacramental como os ostensivos jardins ou mesmo os museus. A tulipa é o motivo central da série “Stockage”. Suas inúmeras espécies e criações deixam claro para Luzia Simons o que ela chama de “tingimento” e “transferência de cor” ou seja, o processo de adaptação e transformação. As flores brilham em meio a um escuro difuso, o que pode ser entendido como uma releitura das naturezas-mortas holandesas, mas que também trata do aspecto da fugacidade. Afinal, a tulipa tornou-se um dos motivos centrais da vanitas após o colapso do mercado holandês em fevereiro de 1637. Com isso, a artista construiu uma ponte – do século XVII até os tempos atuais, com os aspectos típicos da nossa época, como globalização, nomadismo cultural e marcas multiculturais. A quantidade de referências metafóricas que explicitamente se debruçam sobre temas atuais de nossa sociedade transformou o conteúdo aparentemente „adorável” da peça floral em uma mídia discursiva surpreendente.  Com fotografias, filmes, performances e instalações a artista, residente em Berlim, vem desenvolvendo um corpo de trabalho, desde os anos 1990, em torno de questões como identidade, memória e globalização. Ela desenvolveu sua linguagem no captar e registrar imagens, que denominou “scannograma”. Feito para a digitalização de documentos, o scanner não possui lente nem foco. ao contrário das imagens produzidas, correntemente, com lentes fotográficas. Nesta técnica os objetos são colocados diretamente sobre um scanner, que capta, minuciosamente por um sistema de linhas e pontos, todos seus detalhes formais e variações cromáticas. Os scannogramas reproduzem uma luminosidade dramática e quando ampliados em grande escala ganham teatralidade.

 

 

 

Sobre a artista

 

Luzia Simons nasceu em 1953, em Quixadá, CE. Vive e trabalha em Berlim e já participou de importantes exposições internacionais como:  Flowers and Mushrooms, Museum der Moderne, Salzburg, Áustria, 2013;  Personificação de Identidades, Bienal de Curitiba, Casa Andrade Muricy, 2013; Wenn Wünsche wahr werden, Kunsthalle Emden, Emden, Alemanha, 2013;  Lost Paradise, Mönchehaus Museum Goslar, Goslar, Alemanha, 2012;  Flowers in photography , Tokyo Art Museum, Tóquio, Japão, 2012; Time, death and beauty, FotoKunst Stadtforum, Innsbruck, Áustria, 2011; Wild Things, Kunsthallen Brandts, Odense, Dinamarca,  2010; Nature forte, Kunstverein Wilhelmshöhe, Ettlingen, Alemanha, 2009; e Garden Eden – A representação do jardim na arte desde 1890, Kunsthalle Emden, Emden, Alemanha, 2007. Suas exposições individuais incluem: Jardins Alheios, Kunstverein Bamberg, Bamberg, Alemanha, 2012; Stockage, Centre d’Art de Nature, Château Chaumont-Sur-Loire, França, 2009; Stockage, Künstlerhaus Bethanien, Berlim, Alemanha 2006; Stockage, Städtische Galerie Ostfildern, Alemanha 2005; Face migration: sichtvermerke, Württembergischer Kunstverein Stuttgart, Alemanha 2002 e Transit, SESC Paulista São Paulo, Brasil 2001. Possui trabalhos em coleções públicas como as de Graphisch Sammlung der Staatsgalerie, Stuttgart, Alemanha; Fonds National d’Art Contemporain, Paris, França; Casa de las Américas, Havana, Cuba; University of Colchester, Collection of Latin American Art, Essex, Inglaterra; Museu de Arte de São Paulo Coleção Pirelli, São Paulo, Brasil: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, entre outros.

 

 

Até 02 de março de 2014.

Dois na Galeria Laura Marsiaj

04/nov

A Galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta através de mostra individual em sua sala principal as inusitadas esculturas de Barrão. O texto de apresentação traz a assinatura de Jorge Emanuel Espinho e a mostra denomina-se “Barrão: Arrumação“.

 

O Verdadeiro Lugar das Coisas: Sua Natureza Interior, Exteriorizada

 

Seria interessante conseguirmos descobrir a inventar a verdadeira natureza animada dos objetos: a essência viva mais funda que os habita, bem escondida e disfarçada por trás da firme máscara do imobilismo e da aparente não ação, não vida. (Pre)Sentir a história que  povoam e que os seguirá, congelados que estão e ficam, num momento rígido de emoção e aventura. Mas estamos bem distantes da invenção/consciência libertadora e fantasiosa das infâncias, e sentimos amarrados na relação estreita e objetivada com o que criamos e nos rodeia. Assim – condicionados na rigidez egocêntrica do ser adulto – parece ginástica impossível o alargar, através desse animismo mágico, uma interação criadora com o que nos envolve. (Alargando-nos logo então também, nesse criar imaginado: aprofundando-nos, projetando-nos; tudo reinventando e fazendo viver, vivenciando.)
Será este o luminoso privilégio que nos é partilhado e encorajado, na obra literalmente e profundamente fantástica de Barrão. Aqui, testemunhamos deslumbrados esse mundo mágico que se esconde subtil dentro das coisas; e que assim se espraia e se manifesta, se exprime e se relaciona, numa animada reunião ruidosa de gestos e movimentos: em momentos fugazes mas cruciais, parados num tempo; numa soltura comunicativa e aberta; em forte união e relação. Aqui, os protagonistas – quer representem objetos funcionais ou animais – revelam finalmente a sua essência e força, em libertada e estimulada interação e fantasia.  À origem/natureza kitsch e de produção massificada dos objetos – distintos e orgulhosos símbolos representativos da cultura de massa – o artista aplica uma abordagem mais intuitiva que decidida, mais de procura que de encontro, mais de improvisada libertação que de estudada reconfiguração. Na busca disponível pela vida em que lhe vão surgindo, ele os identifica e acolhe; no atelier lhes retira formatação e algum limite primeiro, depois lhes reconhece e encoraja expressão e expansão, reunião com semelhantes e avanço. E assim vai, a partir desse ambicioso relacionamento, construindo uma irônica obra, em que – saído da reprodução fabril, seriada e estéril – o objeto vem assumir agora um caráter/manifestação único e próprio. E que jamais poderia ambicionar ou conseguir sozinho.

Mas aqui a fronteira entre a leve ironia e a carga crítica da obra está bem clara. Pois esta também incorpora, e fortemente, uma séria reação à ordem fabricada das coisas: à formatação da beleza e ausência de critérios próprios; à predefinição, por outrem, das curvas da nossa própria emoção, vida e ousadia. Estas peças, de origem decorativa e funcional linear, transformam-se, às mãos do artista, no resultado/objeto da sua própria mutação e transcendência. (Isto é feito, sobretudo, através da exploração livre e intuitiva de outras direções e vontades possíveis, que habitam o seu interior cerâmico: subterrâneas, escondidas,vibrantes, infinitas.) Assim, saídas altivas de um envelhecido mundo decorativo – e já enriquecidas com um pendor animista e psicológico; sincrético e resolvido, mas agora realmente em vida e vividas; renascidas no capricho significativo de um acaso criativo e reconstruídas numa coabitação onírica e maravilhosa, vivenciando e incorporando a sua verdadeira natureza – estas coisas manifestadas gritam ruidosas da redução tonta que fazemos de todos os objetos, mesmo de nós, e também, claro, de todo um mundo diverso e pleno. Em complot retalhado e místico com outras de enriquecedora natureza, nestas obras acontece uma transcendente decisão e causa: a manifestação corporificada do espírito, em barro envernizado, que habita os animais todos e tudo, e todas as coisas. O que o artista aqui faz é escolher – dar forma, reproduzir, partilhar – a fabulosa energia viva que reside, em expectativa morna e mirabolante, adormecida, no todo e em todos. E claro, este manifestar uno ri-se, grave, alto e ruidoso, da separação ácida e constante que impomos às coisas, à nós, a um inteiro e descomunal planeta.

 

Imagina-se aqui uma verdadeiramente fenomenal aventura: reunir num só enorme espaço/tempo todas as esculturas vivas do artista, e logo mergulhar a descobrir essa imensa galáxia colorida de mil seres que se lançam e conversam, se fundem e se separam, se reproduzem e se acalmam, numa liberdade anárquica e fantástica, que jamais e sempre se (re)inventa e se recria. Partindo de novo sempre em tudo, e em tudo sempre de novo se reunindo. (Muito fica sempre por dizer num texto assim tão curto, mas sublinhamos): Estas nossas obras nascem cozidas no calor de um fogo sem formatação ou mentira; e bem nos ensinam: que por detrás da cortina de fumo que é a forma rígida predefinida, habita expectante e adormecida toda a possibilidade infinita! Uma brincadeira a ser levada a sério, como bem mostra o efeito final desta alquimia em vida que nos é aqui exemplificada, sublinhada, demonstrada. Assim, aprendamos.

 

Jorge Emanuel Espinho

 

 

Até 21 de novembro.

 

 

 

Já a artista plástica Gabriela Machado apresenta série inédita de pinturas no Anexo as quais denominou “Histórias que eu quero contar“.  A apresentação é de Marcelo Campos.

 

Gabriela Machado

 

“Histórias que eu quero contar”, assim Gabriela Machado denomina esta vontade conceitual de buscar a pintura, sua companheira diletante, em pequenos relatos, crônicas, por assim dizer. Com isso, vemos três instâncias de observação sobre este engenho: a história, o querer desejante e a vontade narrativa. Ao observarmos as pinturas, nos confrontamos com assuntos marginais, quase não-narráveis. Fomenta-se, aqui, um volta da história narrativa exercitada como uma compreensão instantânea dos acontecimentos. Pintura de instantes, alguns instantâneos de pintura. Esta possibilidade é capitaneada pelo uso de máquinas produtoras de imagens instantâneas, as polaróides. Gabriela Machado acentua o desejo curioso, tátil, infantil, até, de produzir cliques que acompanham-na em viagens pelo mundo. Assim, vemos uma paisagem estrangeira, o detalhe do mobiliário de hotéis, uma cortina, um gato, um por do sol. A artista se concentra no minúsculo, criando um destaque desproporcional, pois não estamos diante de uma história factual, mas, antes, de uma história biográfica não-factual.

 

Também poderíamos observar um elogio ao uso da narrativa popularizada, os instantâneos de uma vida que só pode ser grandiosa pela soma dos acontecimentos ordinários. Neste “instante” compartilhado resplandece o desejo. Aquele que nos faz seguidores do que não sabemos. Exercita-se um certo delay, um certo intervalo entre a imagem observada, a câmara escura e sua revelação em slow motion, etapas próprias da máquina de polaróide.  O historiador Eric Hobsbawm destaca que numa “história narrativa popular”, “o evento, o indivíduo, não são fins em si mesmos, mas meios de esclarecer alguma questão mais ampla, que ultrapassa em muito o relato particular e seus personagens”. Perde-se o interesse pelo que o historiador chama de “grandes porquês”. Ao mesmo tempo, o fait diver, os acontecimentos noticiosos, próprios do advento da cultura de massa, passam a ganhar protagonismo. Como estamos diante do ordinário, percebemos uma certa negação do compromisso ideológico. Ativa-se a via de todas as imagens, de todas as pessoas, de quaisquer luzes. Tudo é pictórico, tudo é pitoresco. E a imagem é forçosamente pintada, gravada, num quarto momento, numa quarta geração. Depois da visão, do registro fotográfico, da revelação, temos a pintura.

 

A artista exercita, em contrapartida, uma “leitura íntima”, na associação de formas, blocos, empilhamentos, fato já presente na produção de Gabriela. “Não há nada de novo em preferir olhar o mundo por meio de um microscópio em lugar de um telescópio”, afirmará Hobsbawm. Ao que podemos responder com a constatação de Arthur Danto que afirmara: “perguntar pela significação de um acontecimento no sentido histórico do termo, é perguntar algo que só pode ser respondido no contexto de um relato (story)”. Vemos, então, Gabriela Machado testar, brincar, corromper esta ambivalência, grandes relatos, pequenas escalas, fotos domésticas, acontecimentos relevantes. Aqui subverte-se a noção de que a “autêntica história considera a crônica como um exercício preparatório”. O exercício preparatório é uma finalidade ambiciosa, ainda que sem fins grandiosos. Ativa-se, de outro modo, o sentido de colecionar, acumular, fazer museus de tudo, atlas imagéticos. Quais são os acontecimentos significativos, nos perguntamos? A narração como ensaio, como crônica, liberta os recursos narrativos para se concentrar numa suposta liberdade de gerar relações significativas por dentro das micro-histórias. E as histórias são aquelas que nos acompanham na vida, como contos prosaicos. Gabriela, em outra medida, assume: “quero contar”, trazendo a imagem para uma relação direta com a pessoalidade. Qualquer coisa, qualquer fato, qualquer vazio torna-se pictórico. E, assim, “a mera crônica” é a “autêntica história”.

 

Marcelo Campos

 

 

Até 21 de novembro.