MAM Rio em cinco perspectivas

12/jul

A mostra “Museu-escola-cidade: o MAM Rio em cinco perspectivas” propõe um exercício de memória no 75º aniversário do museu: um ato de olhar para o passado, para o que já foi feito e as coisas que lá aconteceram, como convite para pensar o que o MAM Rio pode ser hoje e no futuro. Focando nas primeiras três décadas de sua história, a exposição apresenta cinco áreas que ancoram as ações do MAM Rio, e um evento que marcou seu curso. Educação, design, cinema, o experimental e os movimentos de criação artística que atravessaram a existência do museu são os campos de atuação escolhidos, os quais cimentam a relevância de uma instituição intimamente ligada às dinâmicas da cidade.

Como evento, o incêndio ocorrido em 1978 no museu representa um momento de mudanças caracterizado pelo engajamento coletivo de profissionais da cultura e da população, e pela revisão institucional. Em cada um desses eixos, obras do acervo do MAM Rio são apresentadas junto com documentos provenientes, em sua maior parte, dos arquivos do museu, escrevendo histórias por meio de objetos, imagens e impressos.    .

Até 03 de dezembro.

Artista do Recife

O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro, Rio de Janeiro, RJ,  recebe, a partir de 15 de julho, a exposição “Desculpe Atrapalhar O Silêncio De Sua Viagem”, de Lia Letícia, em sua primeira exibição individual na cidade. Com curadoria de Clarissa Diniz, a exposição apresenta singularidades do percurso da artista, que busca redimensionar e representar corpos invisibilizados ou excluídos da história oficial da arte. Na mostra serão apresentadas obras, práticas, intervenções e documentos que, conectando Rio Grande do Sul, Pernambuco e Rio de Janeiro, visam potencializar esses cruzamentos geopolíticos em contínua transformação e expressar um desejo vivo pela criação em coletividade. Com realização de Rosa Melo Produções Artísticas e incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio do Funcultura, a mostra ficará em cartaz até o dia 26 de agosto, sempre com entrada franca.

Como destaca a curadora, Clarissa Diniz, certamente quem frequenta ônibus, trens e metrôs das grandes cidades já foi abordado por um “desculpe atrapalhar o silêncio de sua viagem”. Mesmo proibidas no Brasil, as atividades comerciais nos meios de transporte são o meio de sobrevivência de milhares de pessoas. O comércio de itens tão díspares quanto balas, pendrives, biscoitos e fones de ouvido divide espaço com músicos, poetas, dançarinos e vários outros artistas que também fazem desses veículos palco para suas performances. Esse contexto de disputa entre desigualdade social e a pujança criadora permeia a produção de Lia Letícia.

“É nessa complexidade política, social e estética das formas de trabalho que se inscreve a obra de Lia Letícia. Nesse contexto, sua obra atua não apenas como denúncia, mas como uma provocativa, irônica, inventiva e bem-humorada terapêutica social. A exposição é um convite para a aproximação desses públicos às práticas da artista que também fará uma criação coletiva junto a doceiras da Saara”, destaca a curadora Clarissa Diniz.

Gaúcha radicada em Recife, PE, desde 1998, Lia Letícia tem sua obra lastreada não na excepcionalidade e pretensa autonomia da arte, mas em seu oposto: sua ordinariedade, suas disputas, suas violências. Para a artista, a arte é parte dos conflitos e construções da cultura e, como tal, deve ser pensada, criticada e tensionada por práticas culturais que se situam à margem do coração de sua hegemonia econômica, política e simbólica. Por isso, há quase três décadas, tem convocado camelôs e artistas de rua para usos não-especializados da ideia de arte e suas práticas políticas. Ela usa o humor e convida mulheres, indígenas, negros e outros sujeitos que foram subalternizados pela colonização para um diálogo e um conjunto de intervenções e propostas que, agora, pela primeira vez serão articulados e apresentados como um corpo.

Lia Letícia considera que sua atuação como artista e seu papel como educadora se retroalimentam. “Toda obra, mesmo quando pensada individualmente pelo artista, traz dentro de si um pensamento coletivo, da vivência do artista enquanto ser social”, afirma.

O trabalho que leva o nome da exposição contou com a participação do musicista Jessé de Paula, que tocava nos coletivos de Recife, e atuou de forma ativa e insubmissa. Segundo Lia Leticia, a conversa com Jessé de Paula mudou, em diversos aspectos, a própria feitura da obra. “Essa tensão, essa fricção entre como uma obra é pensada, como ela é executada e como chega ao espectador é o que me interessa. Busco trazer para dentro do meu trabalho as contradições desses outros corpos e coletividades”.

Também faz parte da exposição “Thinya” (2015-2019), obra realizada pela artista a partir de duas residências artísticas, uma em Berlim – Alemanha -, e outra no Território Indígena Fulni-ô, no agreste de Pernambuco. Com a sinopse “Minha primeira viagem ao Velho Mundo. Minha fantasia aventureira pós-colonial”, o trabalho foi premiado em festivais como o Janela Internacional de Cinema, de Recife, e o Pachamama – Festival de Cinema de Fronteira, no Acre, e tem em sua trajetória a passagem por mostras nacionais e internacionais.

Resistência Retiniana

21/jun

“Uma vez que estes mistérios nos ultrapassam, finjamos ser os seus organizadores”.

Jean Cocteau

A “Resistência Retiniana”, uma expo-instalação, do documentarista Silvio Tendler – no Sesc Niterói até 08 de julho -, diretor premiado, reconhecido no Brasil e no exterior por sua contribuição ao cinema apresenta-se como criador de três projetos distintos: expo-instalação, espetáculo teatral (Olga e Luís Carlos, uma história de amor) e o documentário em longa-metragem (O Futuro é nosso!), produzidos por sua produtora Caliban Produções Cinematográficas.

Para a expo-instalação, “Resistência Retiniana”, Silvio Tendler convidou a artista visual Wira Tini, e os fotógrafos João Roberto Ripper e Antonio Scorza. Assina como curador, fotógrafo e cineasta e, atesta ser “…Uma experiência propositadamente caótica de fotografias, palavras e sons. Subverti o conceito ao criar a “resistência retiniana”, onde o cérebro captaria várias imagens em paralelo (ao invés de apenas uma) e criaria um labirinto de memórias com o que vivemos e sentimos em nossos percursos pela vida”, define o curador que, no texto abaixo, explica o termo como um dos primeiros aprendizados da escola de cinema.

Para Silvio Tendler, que passou trinta anos lecionando para alunos da PUC-RJ, nos ensina o desafio, quando se reinventa para cada nova criação entregue ao seu público. E reflete sobre “Resistência Retiniana”: “As imagens que selecionei, fotografias minhas de diversas fases, desde o jovem amante da imagem estática que corria o mundo atrás de revoluções, ao cineasta experiente que perdeu parte do movimento das mãos, mas não a vivacidade, e capta o que vê com um celular pela janela do carro”.

Um dos primeiros aprendizados nas escolas de Cinema é o fenômeno da persistência retiniana, que faz com que um objeto permaneça na retina por uma fração de segundo mesmo após desaparecer do campo de visão. O que seria uma falha do olho humano gera a ideia de movimento e está na origem da sétima arte. Subverti o conceito ao criar a “resistência retiniana”, onde o cérebro captaria várias imagens em paralelo e criaria um labirinto de memórias com o que vivemos e sentimos em nossos percursos pela vida.  A ideia surgiu a partir de uma conversa com Alice Maria Ferreira, professora da UnB, que me chamou a atenção para o tempo que o cérebro leva para processar uma imagem. É nessa experiência propositadamente caótica de fotografias, palavras e sons que eu convido o visitante a mergulhar. Ao cruzar o pano preto que nos separa da realidade, entramos em uma caixa escura feita de guerras, dores, afetos, rupturas, carnavais, cidades, povos originários e muita, muita resistência. Convidei dois fotógrafos e uma artista visual para dividir essa experiência comigo. João Roberto Ripper é ligado aos movimentos sociais, à defesa dos Direitos Humanos e às populações vulneráveis. Antonio Scorza transita entre o desalento e a alegria, em um testemunho do Homem e sua busca por sobrevivência. A artista visual Wira Tini, de origem indígena, traz as raízes de um Brasil profundo, a luta das mulheres, e a esperança de um futuro com mais igualdade. Nossa seleção de fragmentos de mundo conta com quatro olhares diversos que se encontram na busca pelo Humano. Selecionei fotografias minhas de diversas fases, desde o jovem amante da imagem estática que corria o mundo atrás de revoluções, ao cineasta experiente que perdeu parte do movimento das mãos, mas não a vivacidade, e capta o que vê com um celular pela janela do carro.

Silvio Tendler, cineasta, fotógrafo e curador

Sobre os artistas

Antonio Scorza: mergulhado no caleidoscópio da vida, transita em favelas e palácios, fome e banquetes, guerras e amores, capturando a contradição impregnada na condição humana em pequenos lapsos de luz. Trabalhou na France Presse, “O Globo”, “Jornal do Brasil” e já recebeu os prêmios World Press Photo, National Press Photographer Association e CNT.

João Roberto Ripper: fotojornalista autodidata, há mais de 50 anos focaliza seu trabalho na afirmação dos Direitos Humanos e busca documentar a delicadeza, a beleza dos rostos e dos fazeres dos socialmente marginalizados. Para Ripper, tão importante quanto fazer a denúncia dos desrespeitos aos direitos, é evidenciar a beleza, dignidade e humanidade de cada um.

Silvio Tendler: em 50 anos de carreira, lançou mais de 80 longas, médias e curtas-metragens com viés histórico, social e político. Acumula as três maiores bilheterias de documentários brasileiros e foi premiado em importantes festivais. Prefere biografar os “vencidos” aos vencedores, por isso ficou conhecido como cineasta dos sonhos interrompidos.

Wira Tini: grafiteira e muralista, traz em seus trabalhos sua raiz ribeirinha e de seus ancestrais do povo kokama, imagens  que retratam a cultura e a vivência nortista,  especialmente mulheres e trabalhadores. Pioneira na cena da arte urbana no Amazonas e primeira mulher a fazer um festival de grafite sobre as mulheres da região Norte.

As Cosmococas de Oiticica&Neville

01/jun

O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro, Rio de Janeiro, RJ, em colaboração com o Projeto Hélio Oiticica, abrirá no dia 03 de junho, às 15h, a instalação inédita “Cosmococa 5 Hendrix War (versão privê)”, da icônica obra “Cosmococa – Programa in Progress”, criada em 1973 por Hélio Oiticica (1937-1980) e o cineasta Neville D’Almeida (1941), que estará presente na abertura da mostra.

A instalação inédita “Cosmococa 5 Hendrix War (versão privê)” será mostrada no Rio de Janeiro, dentro do tour mundial que celebra os 50 anos da emblemática série interativa. Em 13 de março de 1973, o artista Hélio Oiticica (1937-1980) e o cineasta Neville D’Almeida (1941) iniciaram uma colaboração inusitada, e criaram uma série de instalações pioneiras (Quasi-Cinemas), que chamaram de Cosmococas – Programa in Progress, com projeções, trilhas sonoras e proposições para o espectador, elemento ativo, integrante, do trabalho. A “Cosmococa 5 Hendrix War (versão privê)” permancerá em cartaz no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica até 10 de dezembro.

O “Programa in Progress” abrange vários desdobramentos – livro, fotografias, cartazes, instalações públicas e domésticas, como a “Cosmococa 5 Hendrix War (versão privê)”. A obra é a única, das seis criadas especialmente para residências, que nunca havia sido mostrada em público. Foi criada em homenagem a Jimi Hendrix (1942-1970), e elaborada para ser instalada em um espaço residencial, privado, com projetores nos diversos cômodos da casa.

Para a exposição no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (CMAHO), foi montado um apartamento, com mobília, e obras de outros artistas, como Alexandre Murucci, Anna Costa e Silva, Elmo Martins, Julianne Chaves, Lígia Teixeira, Paulo Jorge Gonçalves e Rita Chaves.

A exposição da “CC5” faz parte do tour mundial que durará um ano, em celebração aos 50 anos da criação da emblemática série “Cosmococas”. O tour foi iniciado no dia em 13 de março de 2023, na EAV Parque Lage, no Rio de Janeiro, quando foi mostrada a “Cosmococa 4 Nocagions”. Em seguida, em 18 de março, durante a SP-Arte, a CC4, em versão privê, integrou a mostra “Hélio Oiticica: Mundo-Labirinto”, na Vila Modernista, nos Jardins, em São Paulo, com projeto arquitetônico de Flávio de Carvalho.

Depois, haverá a exibição da “Cosmococa 5 Hendrix War” e da “CC2 Onobject”, na Lisson Galery, em Nova York; “CC2 Onobject” e “CC3 Maileryn” (versões domésticas), na Hunter College, em Nova York; e ainda no The Mistake Room, em Los Angeles, EUA; e Carcará Photo Arte, em São Paulo.

Programa sobre a produção de Hélio Oiticica

A exposição “Cosmococa 5 Hendrix War (versão privê)” integra o programa Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, que seleciona diferentes ações, que vão de performances a aulas de diferentes artistas, pensadores, professores, entre outros profissionais, relacionadas à obra de Hélio Oiticica. Em “Cosmococa/CC5 Hendrix-War(versão privê)”, de 1973, ao som do álbum “WarHeroes” (1972), de Jimmy Hendrix, a sala oferece ao público uma rede, para relaxar. Em sua última entrevista, Hendrix disse: “Quando as coisas ficarem muito pesadas, e chame de hélio, o gás mais leve que existe”.

Breve histórico das Cosmococas – Versões públicas

No dia 13 de março de 1973, o artista Hélio Oiticica (1937-1980) e o cineasta Neville D’Almeida (1941) iniciaram em Nova York uma colaboração inusitada, e criaram uma série de instalações pioneiras (Quasi-Cinemas), que chamaram de Cosmococas-Programa in Progress, com projeções, trilhas sonoras e proposições para o espectador, elemento ativo, integrante do trabalho. Hélio e Neville haviam planejado fazer um filme, e em 1973, em um encontro em Nova York, desenvolveram uma série de slides, onde a câmera fotográfica foi usada como filmadora, o Quasi-Cinema. Na montagem, eles usaram as imagens com duração de alguns segundos, ao contrário das habituais 24 imagens por segundo do cinema. O tempo da obra fica então dilatado, exigindo uma atenção maior do público, que assim se torna ferramenta fundamental no trabalho. “Dessa forma, a Cosmococa é precursora dessa participação em meio cinematográfico das mídias no século 20”, destaca César Oiticica Filho, que coordena o Projeto Hélio Oiticica.

Cosmococas – Formas diversas de participação do público

As 11 instalações multimídias sensoriais-cinco grandes, públicas, e seis versões mais simples, domésticas (ou privês como os artistas chamavam) – que compõem o Cosmococas – Programa in Progress criam diversas formas de participação do público, com o objetivo de deixar as pessoas“em um estado de invenção, que pode ser identificado como um exercício experimental de liberdade, conceito criado por Mário Pedrosa, um dos maiores críticos de arte do século 20″, afirma César Oiticica Filho.

Em Cosmococa/CC1 Trashiscapes(1973), o público recebe uma lixa de unhas e é convidado a despreocupadamente se deitar em colchões, e relaxar. A trilha sonora inclui sons urbanos (Second Avenue, em Nova York), músicas de Jimi Hendrix, e tradicionais pernambucanas – Luiz Gonzaga, Dominguinhos e  Pífanos de Caruaru.

Em Cosmococa/CC2 Onobject(1973), sons de telefone e músicas retiradas do álbum “Fly” (1971), de Yoko Ono, provocam o público a pular e dançar sobre um piso revestido de espuma espessa.

Em Cosmococa/CC3 Maileryn(1973), junção dos nomes de Marilyn Monroe (1926-1962), e seu biógrafo Norman Mailer (1923-2007), o público interage com as bolas laranjas e amarelas espalhadas pelo espaço de piso irregular, ao som da cantora peruana Yma Sumac.

Cosmococa/CC4 Nocagions (1973/2023) é constituída por dois projetores digitais, trilha sonora de John Cage (1912-1992) e slides. Duas telas, colocadas em bordas opostas de uma piscina, exibem imagens do livro “Notations” (Notações, em inglês), de John Cage, com uma coleção de seus manuscritos musicais. Sobre a capa do livro, Hélio Oiticica e Neville de Almeida fizeram intervenções, as “mancoquilagens”. O trabalho convida o público a entrar na piscina, que recebe uma luz verde formando um padrão geométrico. A obra foi dedicada aos poetas concretos Augusto e Haroldo de Campos. Em 2013, a CC4 Nocagions foi a sensação da Berlinale, o Festival Internacional de Cinema, em Berlim.

Em Cosmococa/CC5 Hendrix-War (1973), ao som do álbum “WarHeroes” (1972), de Jimmy Hendrix (1942-1970), a sala oferece ao público um conjunto de redes, e relaxar. Em sua última entrevista, Hendrix disse: “Quando as coisas ficarem muito pesadas, me chame de hélio, o gás mais leve que existe”.

Os 50 anos das Cosmococas

17/mar

O Projeto Hélio Oiticica, em colaboração com a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, instalou, na histórica piscina do Parque Lage, hoje, a Cosmococa/CC4 Nocagions (1973). O evento festivo, gratuito, abriu as comemorações dos 50 anos da criação – por Hélio Oiticica e Neville de Almeida – das Cosmococas, que serão realizadas em várias cidades, no Brasil e no exterior, o Cosmococa World Tour.

No dia 13 de março de 1973, o artista Hélio Oiticica (1937-1980) e o cineasta Neville D’Almeida (1941) iniciaram uma colaboração inusitada, e criaram uma série de instalações pioneiras (Quasi-Cinemas), que chamaram de Cosmococas – Programa in Progress, com projeções, trilhas sonoras e proposições para o espectador, elemento ativo, integrante do trabalho.

Cosmococa/CC4 Nocagions (1973/2023) é constituída por dois projetores digitais, trilha sonora de John Cage (1912-1992) e slides.  Duas telas, colocadas em bordas opostas da piscina, exibiram imagens do livro “Notations” (Notações, em inglês), de John Cage, com uma coleção de seus manuscritos musicais. Sobre a capa do livro, Hélio Oiticica e Neville de Almeida fizeram intervenções, as “mancoquilagens”.

O trabalho convidava o público a entrar na piscina, que recebeu uma luz verde formando um padrão geométrico. A obra foi dedicada aos poetas concretos Augusto e Haroldo de Campos. Em 2013, a CC4 Nocagions foi a sensação da Berlinale, o Festival Internacional de Cinema, em Berlim.

Hélio e Neville haviam planejado fazer um filme, e em 1973, em um encontro em Nova York, desenvolveram uma série de slides, onde a câmera fotográfica foi usada como filmadora, o Quasi-Cinema. Na montagem, eles usaram as imagens com duração de alguns segundos, ao contrário das habituais 24 imagens por segundo do cinema. O tempo da obra fica então dilatado, exigindo uma atenção maior do público, que assim se torna ferramenta fundamental no trabalho.  “Dessa forma, a Cosmococa é precursora dessa participação em meio cinematográfico das mídias no século 20”, destaca César Oiticica Filho, que coordena o Projeto Hélio Oiticica.

34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto

15/dez

 

Abertura da 34ª Bienal em Arles, na França com obras de Regina Silveira, Noa Eshkol, Carmela Gross e Daiara Tukano, artistas que estarão na itinerância da 34ª Bienal de São Paulo em Arles.

No dia 16 de dezembro, o programa de mostras itinerantes da “34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto” desembarca em seu último destino: a cidade de Arles. A exposição fica em cartaz até 05 de março de 2023 e foi realizada e produzida pela Fundação Bienal de São Paulo em parceria com o LUMA Arles, com apoio da Fundação ENGIE.

A mostra, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti e Vassilis Oikonomopoulos, é organizada a partir dos enunciados “A ronda da morte de Hélio Oiticica”, “Cantos Tikmũ’ũn”, “O sino de Ouro Preto” e “Os retratos de Frederick Douglass” e conta com trabalhos de Alice Shintani, Amie Siegel, Carmela Gross, Daiara Tukano, Gala Porras-Kim, Jaider Esbell, Manthia Diawara, Naomi Rincón Gallardo, Noa Eshkol, Regina Silveira, Seba Calfuqueo, Sueli Maxakali, Victor Anicet e Zózimo Bulbul. Na abertura da exposição e no dia seguinte, Seba Calfuqueo realizará uma performance inédita. Não deixe de conferir o registro em nossas redes sociais.

O LUMA Arles é localizado no Parc des Ateliers, um parque industrial construído no século 19 voltado à manutenção e construção de locomotivas. Remodelado, desde 2013 ele é voltado a atividades culturais.

Saiba tudo sobre as itinerâncias em nosso site.
34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto
Programa de mostras itinerantes

LUMA Arles
Arles (França)
16 de dezembro de 2022 – 05 de março de 2023
Les Forges, Parc des Ateliers
35 avenue Victor Hugo
13200 Arles

Iberê no Festival de Cinema de Gramado

20/jul

 

 

O filme em curta-metragem sobre a produção de Iberê Camargo será exibido no Festival de Cinema de Gramado. O documentário “Tudo permanece em constante movimento”, da artista visual Cristine de Bem e Canto, foi selecionado para o 50° Festival de Cinema de Gramado, na categoria Curta-metragem Gaúcho. Com sete minutos de duração, o filme será exibido no dia 14 de agosto, no Palácio dos Festivais, com entrada gratuita.

 

O filme nasceu a partir da participação da artista no XVI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, cujo resultado pode ser conferido no Google Arts & Culture da Fundação Iberê Camargo, instituição parceira do projeto “Iberê Camargo: um corpo fotográfico”.

 

Em 1992, ao acompanhar a produção de guaches das séries “Andando contra o vento” (1993) e “O homem da flor na boca – um ato de amor à vida” (1992) e da pintura “Tudo te é falso e inútil V” (1993), no ateliê da rua Alcebíades Antônio dos Santos, Cristine produziu aproximadamente 500 fotogramas em preto e branco. As imagens ficaram guardadas durante 30 anos e foram retomados em 2022 para a produção de um livro digital.

 

Com o transcorrer do tempo, essas fotografias revelaram uma nova potência: ao dedicar-se a transposição do analógico para o digital, no tratamento das imagens, a artista percebeu a integração do corpo do pintor com o próprio corpo da pintura e, também, do espaço que ambos habitavam.

 

“Porque tu tiras tantas fotos?” – perguntou Iberê a Cristine. Esta resposta só viria décadas depois: para colocar o corpo do pintor uma vez mais em movimento. Para isso, ela precisou também da animação que o vídeo possibilita. Aliado ao trabalho de design de som, que reforça a corporificação do espaço e seus afetos, assim surgiu o documentário. No tratamento das fotografias, alguns movimentos e gestos de Iberê Camargo quase imperceptíveis – como abrir e fechar a boca, para assimilar a mesma expressão de seu modelo, foram reativados na sequência animada das fotografias.

 

Cem anos de Pasolini no CCBB

29/jun

 

 

Uma história extraordinária em imagens e palavras, composta por mais de 70 fotografias em preto e branco feitas por Pier Paolo Pasolini e Paolo Di Paolo, muitas delas inéditas, textos de Pier Paolo Pasolini, vídeos, material de arquivo e documentos jornalísticos. No ano em que Pier Paolo Pasolini completaria 100 anos, o Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro traz para o Brasil a exposição itinerante “Por uma longa estrada de areia – La lunga strada di sabbia”, sob curadoria de Silvia Di Paolo, filha de Di Paolo, que conduzirá uma visita guiada no dia da abertura, 02 de julho, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ. A mostra já percorreu Lisboa e Copenhague e depois segue para Santiago e Telaviv. Uma curiosidade: o acervo de Paolo Di Paolo permaneceu escondido durante decênios, perfeitamente conservado, até ser descoberto pela filha Silvia, no início dos anos 2000.

 

Um acordo entre o Ministério das Relações Exteriores da Itália e a Fundação Archivio Di Paolo possibilitou a itinerância da exposição pelo mundo, com a colaboração dos Institutos Italianos de Cultura.

 

“Pier Paolo Pasolini, em suas múltiplas facetas, é uma figura de extrema importância intelectual e artística para o Brasil. Em particular, na sua atuação como cineasta, como demonstram suas relações com alguns protagonistas do Cinema Novo e o fato de ser, ainda hoje, fonte de inspiração para os diretores brasileiros. É na relação com a imagem, unidade básica do cinema, que Pasolini amplia exponencialmente suas ferramentas expressivas e, como ele mesmo afirmou numa entrevista, consegue libertar-se dos limites da língua italiana e abrir-se para uma forma de comunicação universalmente válida. Por isso é para nós de grande relevância trazer duas iniciativas culturais que têm a imagem como meio expressivo, a imagem fotográfica, na exposição “Por uma longa estrada de areia”, e a imagem fílmica, na mostra “O Cinema Segundo Pasolini”. A exposição, através das fotografias de Paolo di Paolo e dos textos de Pasolini, nos acompanha numa interessante viagem pela a Itália do boom econômico, a mesma que, nas suas dinâmicas sociopolíticas e culturais, estimulou uma parte substancial do pensamento crítico do escritor. Acreditamos que o cruzamento das duas linguagens, o fotográfico-jornalístico e o fílmico, na programação que o Instituto Italiano de Cultura, em parceria com o CCBB, oferece ao público brasileiro no mês de julho, possa permitir um aprofundamento ainda maior da atuação desse importantíssimo intelectual e artista”, diz Livia Raponi, diretora do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro.

 

Programação

 

A programação inclui uma retrospectiva cinematográfica composta pelo ciclo “O Cinema Segundo Pasolini” e a estreia nacional do filme-documentário Il Giovane Corsaro (O Jovem Corsário) de Emilio Marrese, Itália, 2022, além de debates. A agenda abre no dia 2, no cinema do CCBB, com “Accattone – Desajuste social” (1961) e segue com “Il Vangelo Secondo Matteo – O Evangelho Segundo São Mateus” (1964), “Mamma Roma” (1962), “Uccellacci e Uccellini – Gaviões e Passarinhos” (1966), “Edipo Re – Rei Édipo” (1967), até o dia 10 de julho. Ainda neste ciclo, haverá a exibição de “Comizi D’amore – Comícios De Amor” (1965), no Instituto Italiano de Cultura. Dentro da comemoração do centenário de Pasolini está previsto ainda outro ciclo de exibições intitulado “Caro Pier Paolo”, na Cinemateca do MAM, que deverá acontecer no final do mês.

 

Contexto histórico remete ao início do milagre econômico

 

Arturo Tofanelli, diretor das revistas mensal Successo e Tempo (semanal), confia a Pier Paolo Pasolini e a Paolo Di Paolo, que até então não se conheciam, uma reportagem sobre as férias de verão dos italianos, publicada em três capítulos na revista Successo, em 1959. O contexto histórico da exposição remete ao início do milagre econômico, quando a Itália tentava esquecer a miséria causada pela guerra e procurava um novo conceito de bem estar. O escritor e o fotógrafo partiram para uma longa viagem de carro com a ideia de atravessar a Itália ao longo da costa, de Tirreno ao Adriático, de ponta a ponta, para documentar o árduo caminho para o “progresso” e as contradições que este desencadeou. Nasceu assim uma parceria complexa e delicada entre os dois intelectuais, que se consolidou no respeito mútuo e na confiança.  “Pasolini procurava um mundo perdido de fantasmas literários, uma Itália que já não existia”, recorda Di Paolo. “Eu procurava uma Itália que olhasse para o futuro.” Cada imagem é uma história contada com cuidado fotográfico e realismo. Embora os temas sejam majoritariamente imortalizados durante umas férias à beira-mar, muitas das fotografias contrastam com uma condição de pobreza ligada a um passado recente. Na Itália da época, biquínis e calções, símbolos da emancipação feminina, coexistem com véus escuros cheios de pesar; o contraste entre os relaxados turistas de férias, desinibidos e emancipados e a população local é muitas vezes evidente. Uma viagem para redescobrir como era a Itália da época, para comparar sonhos, contradições, ilusões presentes e passadas, ao longo da perene estrada de areia.

 

Sobre a curadora

 

Silvia Di Paolo nasceu em Roma, em 1977. Depois de ter conseguido o diploma Artístico experimental em uma escola de Graphic Design cura como Art Director e Designer projetos editoriais, publicitários e de comunicação. Em 2011, funda o site Supernature Visionary Unlimited iniciando novas colaborações na indústria cinematográfica e da moda para a pesquisa de imagens, a criação de moodboards e tratamentos visivos para os roteiros. Em 2017, recebe do pai a doação de seu arquivo fotográfico, que ela mantém como curadora e arquivista.

 

Abertura: dia de 02 de julho, sábado, às 17h.

02, 03, 08, 09 e 10 de julho, às 18h.

Visitação: de 03 de julho a 02 de agosto.

 

 

Fundação Iberê exibe Xadalu Tupã Jekupé

05/maio

 

 

Fundação Iberê aborda o apagamento da cultura indígena

 

 

“Vamos caminhar sobre os raios do sol

Vamos caminhar sobre o som do trovão

Vamos caminhar sobre as palavras no tempo

Vamos caminhar sobre a bruma de fumaça

Vamos caminhar todos juntos

Vamos caminhar todos juntos

Ao alcançar a terra sem males todos iremos nos alegrar

Todos iremos nos alegrar”

Xadalu Tupã Jekupé

 

 

No dia 14 de maio, sábado, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura uma exposição inédita de Xadalu Tupã Jekupé, “Antes que se apague: territórios flutuantes”. Com curadoria de Cauê Alves, curador-chefe do MAM de São Paulo, a primeira individual do artista na instituição é, também, mais do que arte; aborda a questão do apagamento da cultura indígena na região oeste do Rio Grande do Sul, onde diversas etnias foram dizimadas. “O trabalho de Xadalu nos abre uma perspectiva da história a partir da visão dos que perderam as batalhas. Não apenas a Guerra Guaranítica, mas também as pequenas batalhas cotidianas, aquelas que silenciosamente vão sendo travadas e talvez nem sejam percebidas como uma batalha por quem venceu. Contribui para que outro modo de vida ganhe visibilidade e possa se tornar possível. Numa época em que as mudanças climáticas afetam a todos, a promessa de uma nova relação com a terra, antes que ela se apague completamente, só se cumprirá quando os saberes dos povos originários forem respeitados”, destaca Cauê.

 

 

“Antes que se apague: territórios flutuantes” apresenta 19 obras, que ocuparão o segundo andar da Fundação. Quatorze delas foram produzidas para esta mostra. Além do tamanho, que vem justamente para impactar, elas são memórias da infância de Xadalu Tupã Jekupé, bem como de sua mãe, de sua avó e de sua bisavó, na antiga Terra Indígena Ararenguá, na beira do Rio Ibirapuitã, em Alegrete. Memórias da casa de barro, sem luz elétrica, do fogo de chão e da pesca. Memórias das águas geladas que atravessavam todos os dias em busca de alimento e das infinitas noites escuras, apenas iluminadas pelas estrelas.

 

 

Como escreve Cauê para o catálogo da exposição: “Quando Xadalu demarca Porto Alegre, com seus adesivos, cartazes, pinturas ou bandeiras, como “área indígena”, está completamente correto do ponto de vista histórico. Todo o Brasil já foi território indígena. Mais do que a reinvindicação do direito ao território, trata-se de uma reocupação simbólica dele. Uma espécie de reconquista que não é como a conquista colonial, que explora e destrói a terra, seja pelo garimpo, a monocultura ou a construção de cidades e monumentos, mas de modo singelo, chamando atenção para quem sempre esteve ali, sentado, resistindo, mas que foi praticamente apagado, como se os indígenas tivessem perdido sua visibilidade. É inegável que os lambes de Xadalu tencionam o espaço urbano ao agir sobre a noção de pertencimento, exclusão e demarcação simbólica da cidade.” Segue ele: “O trabalho de Xadalu Tupã Jekupé contribui para que outro modo de vida ganhe visibilidade e possa se tornar possível. Numa época em que as mudanças climáticas afetam a todos, a promessa de uma nova relação com a terra, antes que ela se apague completamente, só se cumprirá quando os saberes dos povos originários forem respeitados”.

 

 

Sobre a curadoria

 

 

Cauê Alves é doutor em Estética e Filosofia da Arte e, desde 2020, curador-chefe do MAM São Paulo. Professor do Departamento de Artes da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC-SP, onde também foi coordenador do curso de Arte: História, Crítica e Curadoria. Durante 11 anos, também foi professor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

 

 

Prêmio PIPA 2022

 

 

Pela primeira vez, Xadalu Tupã Jekupé é indicado ao Prêmio PIPA 2022, um dos mais relevantes prêmios brasileiros de artes visuais. Neste ano, fazem parte do Comitê de Indicação 25 nomes, formado por críticos e curadores, artistas, colecionadores e professores de todas as regiões do país.

 

 

Exibição de documentário em diálogo com a exposição

 

 

No dia 14 de maio, sábado, às 16h30, a Fundação Iberê Camargo exibe o episódio de Xadalu Tupã Jekupé para o documentário “Misturados”, seguido de um bate-papo sobre a produção com os diretores Luiz Alberto Cassol e Richard Serraria, o artista e Cauê Alves, curador da exposição “Antes que se apague: territórios flutuantes”.

 

 

A web série fala das influências e das trocas culturais presentes na vida e na obra de sete artistas nas áreas da música, do cinema, da literatura e das artes visuais que vivem no Rio Grande do Sul. A concepção de diversidade contida neste projeto é viva e inovadora, pois reconhece a equidade de etnias e de gênero e destaca significativas contribuições do patrimônio histórico e cultural do Estado, sem separar as culturas “em caixinhas” e sem manter os artistas em territórios isolados. A realização de “Misturados” é da Leososamusica Produções Musicais, com roteiro e direção de Luiz Alberto Cassol, Ricardo Almeida e Richard Serraria. A produção executiva é de Leo Sosa e a produção-geral de Ricardo Almeida.

 

 

A Fundação Iberê tem o patrocínio de Crown Brand-Building Packaging, Grupo Gerdau, Renner Coatings, Grupo Iesa, Grupo Savar, Grupo GPS, CEEE-D Equatorial Energia, DLL Group, Lojas Renner, Sulgás e Unifertil, e apoio de Instituto Ling, Ventos do Sul Energia, Dell Technologies, Digicon/Perto, Golden Lake Multiplan, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, com realização e financiamento da Secretaria Estadual de Cultura/ Pró-Cultura RS e da Secretaria Especial da Cultura – Ministério da Cidadania / Governo Federal.

 

 

De 14 de maio a 31 de julho.

 

Retrospectiva de Walter Firmo

20/abr

 

 

A sede de São Paulo do Instituto Moreira Salles apresenta a exposição “Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito”. A retrospectiva traça um panorama da obra do fotógrafo, marcada, sobretudo, pelas imagens que retratam e exaltam a população e a cultura negra do país. No dia da abertura em 30 de abril, às 11h, haverá um debate presencial com Firmo e os curadores da exposição no cineteatro do IMS Paulista.

 

A curadoria da mostra é de Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do IMS, e da curadora adjunta Janaina Damaceno Gomes, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenadora do Grupo de Pesquisas Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra. A retrospectiva também conta com assistência de curadoria da conservadora-restauradora Alessandra Coutinho Campos e pesquisa biográfica e documental de Andrea Wanderley, integrantes da Coordenadoria de Fotografia do IMS.

 

A seleção ocupa dois andares do centro cultural e reúne cerca de 266 fotografias, produzidas desde a década de 1950, no início da carreira do artista, até 2021. A mostra traz imagens de diversas regiões do Brasil, com registros de ritos, festas populares e cenas cotidianas. O conjunto destaca a poética do artista, associada à experimentação e à criação de imagens muitas vezes encenadas e dirigidas. Grande parte das obras exibidas provém do acervo do fotógrafo, que se encontra sob a guarda do IMS desde 2018 em regime de comodato.

 

Nascido em 1937 no bairro do Irajá, Rio de Janeiro, criado no subúrbio carioca, filho único de paraenses – seu pai, de família negra e ribeirinha do baixo Amazonas; sua mãe, de família branca portuguesa, nascida em Belém -, Firmo começou a fotografar cedo, após ganhar uma câmera de seu pai. Em 1955, então com 18 anos, passou a integrar a equipe do jornal Última Hora, após estudar na Associação Brasileira de Arte Fotográfica (Abaf), no Rio. Mais tarde, trabalharia no Jornal do Brasil e, em seguida, na revista Realidade, como um dos primeiros fotógrafos da revista. Em 1967, já trabalhando na revista Manchete, foi correspondente, durante cerca de seis meses, da Editora Bloch em Nova York. Neste período no exterior, o artista teve contato com o movimento “Black is Beautiful” e as discussões em torno dos direitos civis, que marcariam todo seu trabalho posterior. De volta ao Brasil, trabalhou em outros veículos da imprensa e começou a fotografar para a indústria fonográfica. Iniciou ainda sua pesquisa sobre as festas populares, sagradas e profanas, em todo o território brasileiro, em direção a uma produção cada vez mais autoral.

 

A mostra apresenta sua obra fotográfica a partir de sete núcleos temáticos. No primeiro, o público encontra cerca de 20 imagens em cores de grande formato, produzidas pelo fotógrafo ao longo de toda sua carreira. Há fotos feitas em Salvador, BA, como o registro de uma jovem noiva na favela de Alagados, de 2002; em Cachoeira, BA, como o retrato da Mãe Filhinha (1904 – 2014), que fez parte da Irmandade da Boa Morte durante 70 anos; e em Conceição da Barra, ES, onde o fotógrafo retratou o quilombola Gaudêncio da Conceição (1928 – 2020), integrante da Comunidade do Angelim e do grupo Ticumbi, dança de raízes africanas; entre outras.

 

Nas fotografias, prevalece uma aura de afetividade e valorização da negritude, como afirma o próprio artista: “Acabei colocando os negros numa atitude de referência no meu trabalho, fotografando os músicos, os operários, as festas folclóricas, enfim, toda a gente. A vertigem é em cima deles. De colocá-los como honrados, totens, como homens que trabalham, que existem. Eles ajudaram a construir esse país para chegar aonde ele chegou.” Em texto publicado no catálogo, Janaina Damaceno Gomes também reflete sobre o tema: “Se numa sociedade racista, a norma é o ódio e o auto-ódio, como nos mostram os trabalhos de bell hooks, Frantz Fanon e Virgínia Bicudo, amar a negritude compreende um percurso necessário de cura. Não é à toa que Firmo define a cor em seu trabalho em termos de amor pelo povo e pela cultura negra, mas é necessário entender que o direito a olhar não se restringe à ideia de autorrepresentação.”

 

O segundo núcleo apresenta a biografia do artista, abordando os seus primeiros anos de atuação na imprensa, quando registrou temas do noticiário, em imagens em preto e branco. O conjunto inclui uma fotografia do jogador Garrincha, feita em 1957; imagens de figuras proeminentes da política nacional, como Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek; além de registros de ensaios de escolas de samba do Rio de Janeiro. Desse período inicial, a mostra também traz fotografias realizadas para a matéria “100 dias na Amazônia de ninguém”, publicada em 1964 no Jornal do Brasil, pela qual Firmo recebeu o Prêmio Esso de Reportagem. Para a matéria, que contou com textos e imagens de sua autoria, o fotógrafo percorreu cidades e povoações ribeirinhas do Amazonas e do Solimões, documentando as paisagens, disputas políticas da região e a população, que incluía alguns de seus familiares.

 

Nas próximas seções, a retrospectiva evidencia como, no decorrer de sua carreira, Firmo passou a se distanciar do fotojornalismo documental e direto, tendo como base a ideia da fotografia como encantamento, encenação e teatralidade, em diálogo com a pintura e o cinema. Sobre seu processo criativo, o artista comenta: “A fotografia, para mim, reside naqueles instantes mágicos em que eu posso interpretar livremente o imponderável, o mágico, o encantamento. Nos quais o deslumbre possa se fazer através de luzes, backgrounds, infindáveis sutilezas, administrando o teatro e o cinema nesse jogo de sedução, verdadeira tradução simultânea construída num piscar de olhos em que o intelecto e o coração se juntam, materializando atmosferas.”

 

Essa aproximação com a teatralização e a pintura fica evidente no ensaio realizado em 1985 com os pais (José Baptista e Maria de Lourdes) e os filhos (Eduardo e Aloísio Firmo) do fotógrafo, exibidos na exposição. Nas imagens, José aparece vestindo seu traje de fuzileiro naval, função que desempenhou ao longo da vida, ao lado de Maria de Lourdes, que usa um vestido longo, florido e elegante. O ensaio faz alusão às pinturas “Os noivos” (1937) e “Família do fuzileiro naval” (1935), do artista Alberto da Veiga Guignard (1896 – 1962).

 

O curador Sergio Burgi comenta a poética construída pelo artista: “Walter Firmo incorporou desde cedo em sua prática fotográfica a noção da síntese narrativa de imagem única, elaborada através de imagens construídas, dirigidas e, muitas vezes, até encenadas. Linguagem própria que, tendo como substrato sua consciência de origem – social, cultural e racial -, desenvolve-se amalgamada à percepção da necessidade de se confrontar e se questionar os cânones e limites da fotografia documental e do fotojornalismo. Num sentido mais amplo, questionar a própria fotografia como verossimilhança ou mera mimese do real.”

 

Como destaque, a exposição apresenta ainda retratos de músicos produzidos por Walter Firmo, principalmente a partir da década de 1970. Nas imagens, que ilustraram inúmeras capas de discos, estão nomes como Dona Ivone Lara, Cartola, Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Djavan e Chico Buarque.

 

Nesse conjunto, está ainda a famosa série de fotografias de Pixinguinha. Em 1967, Firmo acompanhou o jornalista Muniz Sodré em uma pauta na casa do compositor. Após o término da conversa, o fotógrafo pegou uma cadeira de balanço que ficava na sala da residência e a colocou no quintal, ao lado de uma mangueira. Propôs a Pixinguinha que se sentasse nela com o saxofone no colo, no que foi prontamente atendido. Composta a cena, registrou o músico a partir de diversos ângulos, numa série de imagens que se tornaram icônicas.

 

A exposição traz também um ensaio com fotografias do artista Arthur Bispo do Rosário, realizado em 1985 para a revista IstoÉ. As imagens foram feitas na antiga Colônia Juliano Moreira, local onde Bispo do Rosário viveu e criou seu acervo ao longo de cerca de 25 anos ininterruptos. Nas fotografias, o artista aparece com obras suas, como o “Manto da Apresentação”, enquanto confronta o local onde permaneceu confinado por anos. A retrospectiva apresenta diversos registros produzidos durante celebrações tradicionais brasileiras, como a Festa de Bom Jesus da Lapa, a Festa de Iemanjá e o próprio Carnaval do Rio de Janeiro. Há também um núcleo com fotos feitas em outros países, como Cuba, Jamaica e Cabo Verde. Sobre essas imagens, Damaceno comenta: “Mais do que uma memória da nação, o trabalho de Firmo faz parte de um “arquivo fotográfico da diáspora”, que se constitui enquanto patrimônio da história negra global”. Na mostra, o público poderá assistir ainda ao curta-metragem “Pequena África” (2002), do cineasta Zózimo Bulbul, no qual Firmo trabalhou como diretor de fotografia. O filme trata da história da região que dá nome ao título, área da zona portuária do Rio que recebeu inúmeros africanos escravizados.

 

O segundo andar da exposição é dedicado à fotografia de Walter Firmo em preto e branco, uma oportunidade única de compreensão dessa produção, ainda pouco conhecida e em grande parte inédita. Nessa parte, um dos destaques é a série de imagens feitas na praia de Piatã, em Salvador, entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000.

 

Em cartaz até setembro, a exposição contará com uma série de atividades paralelas, que serão divulgadas posteriormente no site do IMS. Ao longo do período expositivo, o público poderá conhecer em profundidade a obra de um dos grandes fotógrafos do país, que até hoje, aos 84 anos, mantém seu compromisso pelo fazer artístico, como afirma em suas próprias palavras: “Aí está o meu relato, a história de uma vida dedicada ao fazer fotográfico, dias encantados, anos dourados. Qual a minha melhor imagem? Certamente aquela que em vida ainda poderei fazer. Emoções, demais.”

 

Sobre o catálogo

 

Por ocasião da mostra, o IMS lançará o catálogo “Walter Firmo – No verbo do silêncio a síntese do grito”. A publicação traz as obras do autor presentes na exposição, além de textos de autoria do próprio Firmo, de João Fernandes, diretor artístico do IMS, e dos curadores Sergio Burgi e Janaina Damaceno Gomes. O livro também traz uma entrevista do fotógrafo em conversa com os curadores e com o jornalista Nabor Jr., editor da revista O Melenick. Segundo Ato, além de uma cronologia do fotógrafo assinada por Andrea Wanderley.

 

Com entrada gratuita, mediante apresentação de comprovante físico ou digital de vacinação contra Covid-19 e documento oficial com foto para todos com mais de 5 anos.