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AGENDA CULTURAL

Artista do Recife

O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro, Rio de Janeiro, RJ,  recebe, a partir de 15 de julho, a exposição “Desculpe Atrapalhar O Silêncio De Sua Viagem”, de Lia Letícia, em sua primeira exibição individual na cidade. Com curadoria de Clarissa Diniz, a exposição apresenta singularidades do percurso da artista, que busca redimensionar e representar corpos invisibilizados ou excluídos da história oficial da arte. Na mostra serão apresentadas obras, práticas, intervenções e documentos que, conectando Rio Grande do Sul, Pernambuco e Rio de Janeiro, visam potencializar esses cruzamentos geopolíticos em contínua transformação e expressar um desejo vivo pela criação em coletividade. Com realização de Rosa Melo Produções Artísticas e incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio do Funcultura, a mostra ficará em cartaz até o dia 26 de agosto, sempre com entrada franca.

Como destaca a curadora, Clarissa Diniz, certamente quem frequenta ônibus, trens e metrôs das grandes cidades já foi abordado por um “desculpe atrapalhar o silêncio de sua viagem”. Mesmo proibidas no Brasil, as atividades comerciais nos meios de transporte são o meio de sobrevivência de milhares de pessoas. O comércio de itens tão díspares quanto balas, pendrives, biscoitos e fones de ouvido divide espaço com músicos, poetas, dançarinos e vários outros artistas que também fazem desses veículos palco para suas performances. Esse contexto de disputa entre desigualdade social e a pujança criadora permeia a produção de Lia Letícia.

“É nessa complexidade política, social e estética das formas de trabalho que se inscreve a obra de Lia Letícia. Nesse contexto, sua obra atua não apenas como denúncia, mas como uma provocativa, irônica, inventiva e bem-humorada terapêutica social. A exposição é um convite para a aproximação desses públicos às práticas da artista que também fará uma criação coletiva junto a doceiras da Saara”, destaca a curadora Clarissa Diniz.

Gaúcha radicada em Recife, PE, desde 1998, Lia Letícia tem sua obra lastreada não na excepcionalidade e pretensa autonomia da arte, mas em seu oposto: sua ordinariedade, suas disputas, suas violências. Para a artista, a arte é parte dos conflitos e construções da cultura e, como tal, deve ser pensada, criticada e tensionada por práticas culturais que se situam à margem do coração de sua hegemonia econômica, política e simbólica. Por isso, há quase três décadas, tem convocado camelôs e artistas de rua para usos não-especializados da ideia de arte e suas práticas políticas. Ela usa o humor e convida mulheres, indígenas, negros e outros sujeitos que foram subalternizados pela colonização para um diálogo e um conjunto de intervenções e propostas que, agora, pela primeira vez serão articulados e apresentados como um corpo.

Lia Letícia considera que sua atuação como artista e seu papel como educadora se retroalimentam. “Toda obra, mesmo quando pensada individualmente pelo artista, traz dentro de si um pensamento coletivo, da vivência do artista enquanto ser social”, afirma.

O trabalho que leva o nome da exposição contou com a participação do musicista Jessé de Paula, que tocava nos coletivos de Recife, e atuou de forma ativa e insubmissa. Segundo Lia Leticia, a conversa com Jessé de Paula mudou, em diversos aspectos, a própria feitura da obra. “Essa tensão, essa fricção entre como uma obra é pensada, como ela é executada e como chega ao espectador é o que me interessa. Busco trazer para dentro do meu trabalho as contradições desses outros corpos e coletividades”.

Também faz parte da exposição “Thinya” (2015-2019), obra realizada pela artista a partir de duas residências artísticas, uma em Berlim – Alemanha -, e outra no Território Indígena Fulni-ô, no agreste de Pernambuco. Com a sinopse “Minha primeira viagem ao Velho Mundo. Minha fantasia aventureira pós-colonial”, o trabalho foi premiado em festivais como o Janela Internacional de Cinema, de Recife, e o Pachamama – Festival de Cinema de Fronteira, no Acre, e tem em sua trajetória a passagem por mostras nacionais e internacionais.

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