Uma escrita personalizada.

11/jul

O multiartista Patrick Conrad, belga de origem, também escritor e cineasta consagrado internacionalmente, abre sua primeira exposição individual no Brasil na Pinacoteca Municipal de Porto Alegre, RS. Patrick Conrad exibe cerca de uma centena de obras já realizadas em solo nacional distribuídas em técnicas diversas com especial destaque para suas inusitadas composições de cunho acentuadamente surrealista. Trabalhos de forte impacto visual de construção e desconstrução da figura humana expressas em uma escrita altamente personalizada.

Figuras imaginadas de Zélio Alves Pinto.

Com curadoria de Agnaldo Farias, a mostra – em cartaz até 15 de agosto – reúne cerca de 20 obras do artista Zélio Alves Pinto realizadas nas últimas décadas do século XX, em técnicas como pintura, desenho, xilogravura e colagem. Trata-se da primeira individual do artista em mais de 10 anos.

A Galeria MAPA, Consolação, São Paulo, SP, inaugura a exposição “ZÉLIO. Imagens e figuras imaginadas”, dedicada à produção do artista Zélio Alves Pinto produzidas entre os anos 1980 e 2000. A mostra, com curadoria de Agnaldo Farias, reúne cerca de 20 obras em técnicas diversas, como pintura, desenho, xilogravura e colagem, e lança foco sobre um período de inflexão em sua trajetória, na qual o artista desloca a prática gráfica cotidiana para uma pesquisa mais contínua e autoral no campo das artes visuais.

Reconhecido por sua atuação múltipla, Zélio Alves Pinto construiu desde os anos 1960 uma trajetória que abrange o cartum, a publicidade, o design gráfico e a direção institucional. Colaborou com publicações nacionais e internacionais como O Pasquim, Senhor, Le Rire (Paris) e Punch Magazine (Londres). A partir dos anos 1970, passou a dedicar-se com maior regularidade à produção artística, realizando exposições em instituições como MASP, MAM-RJ, Museu Real da Bélgica e em Nova York. Essa circulação entre linguagens e contextos fornece um repertório visual que permeia sua produção com referências cruzadas.

A curadoria de Agnaldo Farias propõe uma leitura concentrada nas relações visuais que organizam a obra de Zélio nesse momento. O conjunto apresentado evidencia procedimentos recorrentes – como o uso da linha como contorno e estrutura, a justaposição entre formas orgânicas e elementos gráficos, e a aparição de figuras ambíguas, entre o humano e o fabuloso. Trata-se de um recorte específico, que não busca retrospectiva, mas observação aprofundada de um período onde artista reinventa modos de narrar por meio da imagem. Com mais de uma década desde sua última exposição individual, “ZÉLIO – Imagens e figuras imaginadas” representa a reabertura pública de um segmento expressivo da produção do artista, articulando obras pouco vistas e outras ainda inéditas em São Paulo.

A investigação poética de Rodrigo Pivas.

O Museu da Imagem e do Som, Jardim Europa, São Paulo, SP, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, inaugurou a terceira exposição do projeto Nova Fotografia 2025: “Entre sombras encontro luz”, do fotógrafo Rodrigo Pivas. Com entrada gratuita, a mostra ficará em cartaz até o dia 17 de agosto.

A partir da cidade como tema, Rodrigo Pivas elege as feiras livres na capital paulista como territórios de investigação poética e visual. Iniciada em 2021, a série “Entre sombras encontro luz” apresenta o cotidiano das feiras através das cores, detalhes, formas e gestos moldados e realçados pela luz. Num procedimento que acentua o chiaroscuro barroco, Rodrigo Pivas observa como a luz natural, aliada aos toldos e prédios, realiza recortes que enfatizam o contraste entre claridade e sombra. Na exposição, as 27 imagens parecem se fundir à parede, o que intensifica o destaque da luz sobre os detalhes e objetos que, em geral, passam despercebidos.

“Uma vez por semana retorno ao mesmo local. Um mundo de cores, sabores, texturas e sons com os mais variados sotaques, o mais popular comércio de rua da cidade e do país, a feira. Vista não apenas como um ponto de comércio de produtos alimentícios, mas essencialmente enquanto local de encontro e confraternização. Sua capacidade de proporcionar, ao mesmo tempo, a interação social e o intercâmbio cultural entre indivíduos de uma mesma comunidade ou mesmo de comunidades vizinhas. O recorte da luz, banhando seus elementos e personagens, conduz meu olhar nessa jornada, entendendo as diferentes características e unindo suas semelhanças através da fotografia”, diz Rodrigo Pivas sobre sua série fotográfica.

Sobre o artista.

Rodrigo Pivas é formado em Fotografia e Vídeo pelo SENAC-SP. Atua como fotógrafo freelancer nas áreas de Arquitetura e fotojornalismo. Em seu trabalho autoral, desenvolve projetos que exploram a relação do indivíduo com o espaço urbano e com a cultura popular, por meio da fotografia de rua.

Obras inéditas de Karin Lambrecht.

10/jul

A galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, convida para a abertura da exposição “A Intimidade da Luz”, de Karin Lambrecht. A artista, que há oito anos mora na costa sudeste da Inglaterra, mostra um conjunto de 24 obras inéditas, em pintura e aquarela, criadas em 2025 e 2024. Presente em importantes coleções institucionais no Brasil e no exterior, Karin Lambrecht trabalha sozinha em seu ateliê, sem assistentes, em silêncio, e as pinturas atuais – com suaves camadas de tinta, sobrepostas uma a uma – “são mais meditativas” e celebram a vida e a natureza, condensando o passado, o presente e o futuro, que ela gosta de “imaginar melhor para a humanidade”. O texto crítico que acompanha a exposição é de Fernanda Lopes.

A abertura será no dia 15 de julho e a mostra ficará em cartaz até 09 de agosto. Em 2024, Karin Lambrecht ganhou a individual “Seasonsof the Soul” (“Estações da Alma”), no Rothko Museum, em Daugavlpils, Letônia, e ela ainda participa da coletiva “Geometrias”, no Museu de Arte de São Paulo (MASP), São Paulo, SP.

A pintura “Butterfly” (2025), em pigmentos em resina acrílica sobre lona, e medindo 1,70 metro de altura por 2,05 metros de comprimento, ocupa um lugar central na exposição, acompanhada de uma frase da artista, escrita em vinil na parede: “Pintura vive na intimidade da luz e dorme junto a nós à noite”.

Fernanda Lopes escreve que “as obras que Karin Lambrecht apresenta nesta exposição parecem estar murmurando algo”. “Elas estão impregnadas do marulho da Ilha de Thanet, na costa sudeste da Grã-Bretanha, onde a artista reside desde 2017. Também ressoam nessas superfícies camadas, vestígios e memórias de todo o tempo dedicado a cada uma delas no ateliê, e toda a história à qual ela se remete. Aqui, tudo parece estar vivo, tudo parece se mexer. Mesmo que em um movimento de tempo mais lento, quase meditativo”.

Karin Lambrecht diz que o seu trabalho agora é “um elogio à natureza”. “Tento mostrar a baleia, a concha, a areia, o mar, porque o mar fica bem pertinho da minha casa, e depois porque a Inglaterra é tão velha e antiga, tem um toque fantasmagórico. Quando eu vou para a praia, à tardinha, no inverno, tem muito limo, muita alga. Não é que nem no Brasil, em que a areia é quentinha. Aqueles penhascos são altos, têm limo, e são brancos”.

Ampla exposição da trajetória de Leandro Machado.

08/jul

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS, instituição da Secretaria de Estado da Cultura do RS -Sedac, apresenta a exposição “Leandro Machado – Hospícios e balneários (é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança)”. A inauguração será no dia 12 de julho quando em evento que marca também a reabertura do 2º andar do Museu.

Contemplando um panorama da produção de Leandro Machado (Porto Alegre, 1970), esta é a primeira exposição dedicada a uma compreensão mais ampla de sua trajetória e produção, sendo também a sua primeira mostra individual apresentada pelo MARGS. Assim, a seleção de obras abrange desde o início de sua atuação nos anos 1990 até o presente, como parte do processo de recuperação do acervo após a enchente de 2024. A exposição tem curadoria de Francisco Dalcol, e da curadora-assistente, Cristina Barros, com produção e preparação de obras de José Eckert, do Núcleo de Curadoria, e envolvimento de todos os setores do Museu.

Sobre o artista e a exposição.

Leandro Machado desenvolve sua obra transitando entre pintura, desenho, objeto, colagem, fotografia, procedimentos gráficos, apropriação, escrita, som, performance e intervenção, além de empregar a experiência do andar e do deslocamento como expediente artístico. Nessa prática e produção diversificadas, seus trabalhos reverberam temas e questões que encontram um sentido mais amplo de urgência política. Seja a partir de sua  condição e da reflexão sobre sua ancestralidade, seja pela leitura crítica dos sistemas de poder e das relações de desigualdade social-racial.

Já programada antes da enchente de 2024, esta exposição acontece também agora como parte do processo de recuperação do acervo após os danos da inundação parcial do térreo do Museu.

Tadáskía exibe seu vocabulário plástico.

Para sua primeira exposição individual na França, a artista brasileira Tadáskía ocupará uma das salas históricas do Castelo de Rochechouart.

Nascida no Rio de Janeiro em 1993, Tadáskía é uma artista multidisciplinar cuja prática abrange desenho, pintura, escultura e poesia. Mulher trans afrodescendente, Tadáskía nutre seu trabalho com histórias pessoais, que reflete por meio de um vocabulário abstrato, orgânico e extravagante. Seu universo nos mergulha em paisagens místicas, verdadeiras odes à natureza e suas transformações.

Em Rochechouart, a artista fará sua exibição nos painéis de madeira de um salão do século XVIII. Ela improvisará uma composição em carvão e spray, inspirada em borboletas noturnas (mariposas), símbolos da união entre iluminação e escuridão, e da busca pela liberdade. Esse ambiente nos transporta para territórios diurnos e noturnos, onde tudo é um jogo de equilíbrio e movimento, como na tela suspensa b.trans.f. I (2025), que sugere seres voadores se movendo pelo espaço.

Este evento é organizado como parte da Temporada Brasil-França 2025. Com o apoio da Galeria Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo e Rio de Janeiro.

Reencontro com a obra de Darel.

O centenário de nascimento do desenhista, pintor, gravador, ilustrador e professor Darel Valença Lins (Palmares, PE 1924-Rio de Janeiro, 2017) será celebrado com a exposição “DAREL – 100 anos de um artista contemporâneo”, no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro, sob curadoria de Denise Mattar e a abertura da mostra panorâmica será no dia 09 de julho, com temporada que se estenderá até 30 de agosto. Seu legado artístico transita entre a gravura em metal, óleo sobre tela, fotomontagem, guache, pastel, desenho e a litografia à cor – técnica da qual foi pioneiro no Brasil.

Com patrocínio do Itaú Cultural, a exposição reúne cerca de 95 obras, abrangendo 70 anos de produção do artista, que marcou sua importância na história da arte do século XX pela excelência das suas gravuras em metal, desenhos, litografias à cor e pinturas sensuais.

“Apesar de sua relevância histórica, Darel é hoje pouco conhecido do grande público. Sua trajetória reflete a condição de muitos gravadores brasileiros, que enfrentam a marginalização de uma técnica erroneamente considerada “menor” pelo mercado de arte, por sua vocação acessível e multiplicável”, avalia Denise Mattar.

Percurso da exposição

A mostra está organizada por segmentos, a partir da fase mais conhecida de Darel, a dos anos 1950|60, das séries Topografias e Cidades Inventadas, seguidas dos Anjos. São gravuras, inicialmente em preto e branco, às quais o artista introduz pouco a pouco a cor. No começo da década de 1970, ele faz uma mudança radical de técnica e começa a trabalhar com pastel e lápis de cera. É deste período a série Mulheres da Rua Concórdia. “Poéticas, patéticas, dolorosas e sensuais são as cenas que Darel retrata de um prostíbulo, instalado na casa em que ele viveu na infância”, descreve a curadora.

Segue-se a este o conjunto intitulado Baixada Fluminense, no qual ele busca poesia em histórias inventadas sobre personagens reais.  Sem medo de errar, o artista usa a digigrafia (gravação de imagem por meios digitais), associando colagem, desenho, pastel e guache.

Seus últimos trabalhos são pinturas a óleo de temática floral e uma série de videoarte, realizadas em seu ateliê no bairro carioca de São Conrado nos anos 2000. Nas flores imensas transborda, mais do que nunca, a sensualidade de sua obra. A exposição conta ainda com um curta de Allan Ribeiro, em que o artista conversa com o cinegrafista sobre Dostoievski, enquanto desenha, apresentado em loop. O longa documental, também de Allan Ribeiro, que inclui as últimas realizações de Darel, as videoartes, terá sessões programadas, no auditório do Centro Cultural Correios Rio de Janeiro.

Sobre o artista.

Criado na Usina Catende, no interior de Pernambuco, Darel começou a trabalhar muito jovem como desenhista técnico. Em 1949, já morando no Rio de Janeiro, começou a estudar gravura com Henrique Oswald.  Nascido em Palmares, Pernambuco, e falecido em 2017 no Rio de Janeiro, Darel manteve-se lúcido e ativo até o fim da vida. Recebeu prêmios e menções honrosas ao longo da carreira, como o de “Viagem ao Estrangeiro”, do Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e o de “Melhor Desenhista Nacional” na VII Bienal de São Paulo (1963), onde também teve uma sala especial na edição seguinte. Atuou como ilustrador em editoras e veículos como a José Olympio, os jornais Última Hora e Diário de Notícias, além das revistas Senhor e Manchete. Entre 1953 e 1966, Darel foi diretor técnico da Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, ilustrando diversas edições e seis capas de livros de Gabriel García Márquez. Foi ainda professor de gravura e litografia no MASP e na FAAP, em São Paulo, e na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Conviveu e foi amigo de Goeldi, Livio Abramo, Raymundo de Castro Maya, João Cabral de Mello Neto, Iberê Camargo, Carybé, Marcello Grassmann, Portinari, Babinski, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Mário Cravo Jr., Djanira e Morandi (na Europa). Sobre Darel escreveram os principais críticos de arte e luminares, como Clarice Lispector, Vinícius de Moraes, Mário Pedrosa, Roberto Pontual, Ivo Zanini, Leonor Amarante, Olívio Tavares de Araújo, Casimiro Xavier de Mendonça e Frederico Morais. Além de dezenas de exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, Darel tem obras nos acervos do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu Nacional de Belas Artes, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da USP, Museu de Arte Brasileira da Faap, Palácio Itamaraty, Museu do Senado, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Fundação Iberê Camargo, Museu do Estado de Pernambuco.

Conversa e visita mediada no CCBB SP.

04/jul

Como parte da exposição “Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil”, será realizada neste sábado, dia 05 de julho, às 17h, uma conversa com os artistas Leda Catunda, Sérgio Lucena e Simone Michelin, com mediação do curador-adjunto da exposição Tálisson Melo, no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo. Ampliando ainda mais as discussões em torno da exposição, no dia 12 de julho, às 15h30, será realizada uma visita mediada na mostra com a curadora-adjunta Amanda Tavares. Ambos os eventos são gratuitos e abertos ao público.

Na conversa “Fullgás 80’s: entre pintura e multimídia”, os artistas Leda Catunda, Sérgio Lucena e Simone Michelin falarão sobre as suas experiências no mundo das artes durante a década de 1980. Sérgio Lucena trabalha com pintura, assim como Leda Catunda, que utiliza outras materialidades. Já Simone Michelin é artista multimídia, trabalha com fotografia, vídeo e arte digital. A conversa também mostrará um pouco da diversidade regional que está presente na exposição, uma vez que os artistas nasceram em diferentes estados brasileiros: Leda Catunda em São Paulo, Sérgio Lucena na Paraíba e Simone Michelin no Rio Grande do Sul.

Nas artes visuais, a Geração 80 ficou marcada pela icônica mostra “Como vai você, Geração 80?”, realizada no Parque Lage, em 1984. A exposição no CCBB entende a importância deste evento, trazendo, inclusive, algumas obras que estiveram na mostra, mas ampliando a reflexão. “Queremos mostrar que diversos artistas de fora do eixo Rio-São Paulo também estavam produzindo na época e que outras coisas também aconteceram no mesmo período histórico, como, por exemplo, o “Videobrasil”, realizado um ano antes, que destacava a produção de jovens videoartistas do país”, ressaltam os curadores. Desta forma, “Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil” terá nomes de destaque, como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Leonilson, Luiz Zerbini, Leda Catunda, entre outros, mas também nomes importantes de todas as regiões do país, como Jorge dos Anjos (MG), Kassia Borges (GO), Sérgio Lucena (PB), Vitória Basaia (MT), Raul Cruz (PR), entre outros.  Para realizar esta ampla pesquisa, a exposição contou, além dos curadores, com um grupo de consultores de diversos estados brasileiros. “Fullgás”, que já foi um grande sucesso no CCBB Rio de Janeiro e no CCBB Brasília, fica em cartaz no CCBB São Paulo até 4 de agosto de 2025. Em seguida, será exibida no Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte, de 27 de agosto a 17 de novembro.

Issa Watanabe em São Paulo.

03/jul

O Instituto Cervantes de São Paulo, Avenida Paulista, apresenta uma nova exposição em cartaz em sua sede, até o dia 31 de julho. Trata-se da exibição da autoria da ilustradora peruana Issa Watanabe, “Migrantes” que, como o nome indica, retrata um tema bastante discutido na atualidade: a imigração e os fluxos dos refugiados. As obras que compõem essa mostra são provenientes do livro homônimo publicado pela artista, além de ilustrações de sua mais nova publicação, “Kintsugi”, e outras composições recentes.

Issa Watanabe começou a se aproximar do tema imigração quando foi viver em Mallorca, na Espanha, no início dos anos 2000. No país europeu, ela testemunhou as primeiras tentativas massivas de estrangeiros partirem da África em pequenos barcos rumo à Europa – uma travessia altamente perigosa, feita em embarcações precárias, mas que continuam sendo realizadas até hoje.

Uma das pessoas que se arriscou na travessia foi Abdulai, um estrangeiro proveniente do Mali e que tinha praticamente a mesma idade de Issa e seus companheiros de casa. Os jovens conheceram o rapaz em um ponto de ônibus, quando ele havia acabado de chegar ao país, sem visto, sem documentos e sem nem mesmo falar espanhol. Issa e seus amigos decidiram abrigar o jovem africano, que acabou vivendo com eles por um ano e meio. “Ele falava um pouco de francês e era assim que nos comunicávamos. Pudemos entender os motivos de Abdulai e o que uma viagem desse tipo significava para ele e para sua família. E acompanhar o processo dele tentar se adaptar a uma sociedade que, naquela época, o rejeitava”, conta a artista. Toda essa experiência inspirou Issa a dar aulas de espanhol como voluntária para os estrangeiros que chegavam à Mallorca e fez com que a artista se interessasse cada vez mais pelo tema imigração. Mas os primeiros esboços de “Migrantes” tomaram forma apenas quando ela já estava de volta ao Peru, anos mais tarde. A produção se iniciou espontaneamente, sem planejamento, e foi enchendo os cadernos de rascunhos da ilustradora. “Essa é uma obra que retrata uma situação muito difícil, que fala sobre morte, perdas, mas também esperança. Na história, os animais se ajudam mesmo sendo de espécies diferentes – alguns até mesmo se alimentam de outros na natureza”, diz a artista.

“Migrantes”, de Issa Watanabe, chega ao Instituto Cervantes de São Paulo após passar pela instituição em Roma, Salvador, Brasília e Rio de Janeiro, e faz parte da programação do Festival Cidade da Cultura. O evento conta com o apoio da Embaixada do Peru no Brasil, Consulado Geral do Peru em São Paulo, Centro Cultural Inca Garcilaso, Embaixada da Espanha no Brasil e Cooperación Española.

A arte de Maiolino no Museu Picasso.

A mostra é uma coletânea das principais obras da artista nascida na Calábria, em 1942, que cresceu na Venezuela, antes de se instalar no Brasil. Ao longo de 65 anos de carreira, Anna Maria Maiolino explora múltiplas linguagens artísticas, como disse em entrevista à RFI Fernanda Brenner, que divide a curadoria da exposição com o francês Sébastien Delot. “A ideia é fazer uma amostragem da complexidade e da coerência do trabalho dela”, explica a curadora.

“Esta exposição não é cronológica, não é montada em eixos temáticos de acordo com as décadas ou as mídias que ela trabalha, mas busca apresentar para o público como a Anna tem um vocabulário muito coeso, muito coerente e, ao mesmo tempo, absolutamente experimental em todas as mídias que ela resolve trabalhar”, diz. “Pode ser esculturas em argila, desenhos, pinturas, vídeo, fotografia, performances. Ela transitou por todas as mídias possíveis em arte contemporânea, mas sempre com um vocabulário muito específico e muito ligado com a própria origem dela, como corpo feminino migrante”, continua.

“Ela que saiu da Itália no pós-guerra, quando o país vivia uma situação de precariedade, de fome. Chegou primeiro na Venezuela, ao fim da infância, e depois no Brasil, aos 20 anos, (onde) encontra a cena brasileira e se faz artista a partir desse encontro com o Brasil”, pontua.  Parte de sua formação Anna Maria Maiolino cursou na escola Nacional de Belas Artes Cristóbal-Rojas, em Caracas. Em 1960, ela se mudou com os pais para o Rio de Janeiro, onde continuou sua formação artística, estudando pintura com Henrique Cavalleiro e xilogravura com Adir Botelho. Em paralelo, ela frequentou o curso de estética de Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna.  A artista diz que não trabalha com a intuição, mas pensa e repensa cada passo de sua criação. Em entrevista à RFI, Anna Maria explicou o título da mostra parisiense: “Estou aqui”. “Você busca um discurso próprio, diferente, mas isso é uma grande mentira, porque você vem do passado, com todas as culturas do passado. Isso é uma coisa muito forte para mim, porque eu era imigrante no Brasil”, lembra. “Ao chegar no Rio de Janeiro, que é uma cidade incrível, eu percebi a liberdade que a arte brasileira tinha”, completa.  Em 1968, Maiolino obteve a cidadania brasileira. Durante a ditadura, ela e o marido, Rubens Gerchman, se mudaram para Nova York, onde ela realizou parte das obras expostas em Paris. Nos Estados Unidos, a dificuldade por não falar inglês também acabou virando objeto de pesquisa, especialmente em desenhos e poemas. “Eu estive em vários países, em vários lugares. E sempre quando você muda de fronteira, o que existe é a sua presença no lugar. Então, para mim, este título significa que, mais uma vez, eu estou atravessando a fronteira, eu estou na França, estou em Paris, no Museu Picasso, que para mim é mais um território, pois sou uma andarilha, com alma de imigrante”, define.

A artista retornou ao Brasil em 1972, se instalando primeiro no Rio de Janeiro, antes de se mudar para São Paulo, após o divórcio. Suas obras são inspiradas em diferentes línguas, culturas e contextos políticos em que viveu. “Voltar a Paris é voltar para aquilo que eu sou. Eu nasci na Itália, sou uma europeia do Mediterrâneo, mas pertenço a várias camadas dos países onde vivi”, afirma. “Meu coração é brasileiro, é carioca. São Paulo não tem linha do horizonte, então me sinto prisioneira em São Paulo”, diz.  Leão de Ouro em Veneza em 2024, a artista foi recompensada com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza pelo conjunto de sua carreira. Na ocasião, Anna Maria Maiolino dedicou o prêmio à arte brasileira e ao país que a acolheu. “Uma das coisas básicas da minha obra é a memória. A memória física e emocional”, diz. “É óbvio que a minha chegada ao Brasil me ajudou a encontrar um discurso particular meu”, continua. “Porque o brasileiro começa a sua arte com o Barroco, que é modernidade, não tem uma arte do passado. Tem a arte dos negros africanos, tem a arte dos índios e grande parte da arte brasileira carrega em si um ritual”, observa. No Museu Picasso, no bairro do Marais, a exposição de Anna Maria Maiolino dialoga com a obra do artista espanhol. Ela mesma traça semelhanças com ele. “Qual é a minha relação com o Picasso? Mesmo sendo de épocas diferentes, ele sendo homem e eu uma mulher, nós temos em comum uma coisa: a curiosidade, pois mudamos de suporte”, compara. “Picasso experimentou e “comeu” a arte de todo o mundo e “defecou” Picasso”, analisa. “Picasso foi um grande comilão, antropófago das culturas dos outros, mas transformou tudo em Picasso”, reforça. “Eu acho que eu e ele, com a diferença de idade e de séculos, temos a curiosidade de nos movermos de um suporte a outro, do desenho para a pintura, para a escultura, isso que eu tenho em comum”, afirma.    A exposição “Anna Maria Maiolino: Estou Aqui” fica em cartaz no Museu Picasso, em Paris, até 21 de setembro.

Fonte: Maria Paula Carvalho, de Paris para o Terra.