Arquipélago imaginário.

27/nov

A grande comemoração dos 50 anos de  carreira do fotógrafo paraense Luiz Braga chega ao Paço Imperial, Rio de Janeiro, RJ, no dia 09 de dezembro, em exposição concebida pelo Instituto Moreira Salles. A mostra reúne 191 fotografias produzidas da década de 1970 até a atualidade – a maioria exibida apenas uma vez. A seleção destaca a forte conexão do fotógrafo com o seu território de origem e a perspectiva intimista diante dos ambientes e personagens retratados.

Com curadoria de Bitu Cassundé, a exposição Arquipélago Imaginário; oferece uma imersão no trabalho do fotógrafo Luiz Braga. Suas imagens retratam paisagens, indivíduos, costumes e tradições do território paraense, capturadas a partir de momentos de troca e convivência. “Meu trabalho se debruça sobre o meu lugar”, orgulha-se Luiz Braga, que mantém um acervo organizado de suas fotografias desde o início da carreira, aos 18 anos.

Nascido em 1956, em Belém, Luiz Braga começou sua trajetória como fotógrafo na década de 1970, atuando na publicidade antes de se tornar fotógrafo autônomo. Em paralelo, cursou arquitetura na Universidade Federal do Pará (UFPA). Em 1979, realizou sua primeira exposição individual e, desde então, passou a colaborar e expor em diversas instituições. “Não poderia ter escolhido outra profissão; tampouco viver em outro lugar”, afirma.

A exposição.

Arquipélago Imaginário; é composta por nove núcleos: Sintaxes populares, O Retrato, O Antirretrato, Territórios e pertencimentos – o Norte, Nightvision – Mapa do Éden, O outro, o alheio, Arquitetura da intimidade, Afazeres e trabalhos e O Marajó. Com uma expografia original e intimista, a seleção de imagens proporciona ao público uma viagem pelos temas e elementos marcantes na obra de Luiz Braga, ressaltando o orgulho de pertencer àquele território e o respeito por cada um dos personagens fotografados.

No início do percurso, estão as imagens em preto e branco, que marcam o período inicial de sua produção. Nos núcleos seguintes, predominam as fotos coloridas, a faceta mais conhecida de seu trabalho, com ênfase na investigação da Ilha do Marajó nos últimos 20 anos. Nos primeiros segmentos da exposição, a curadoria reforça a importância do vínculo do fotógrafo com os locais que registra e as pessoas que os habitam. Outra característica central em sua obra são as cenas do interior de residências e estabelecimentos, apresentadas de forma intimista. Detalhes como cortinas, relógios, vasos de flores e ventiladores evocam memórias, afetos e vestígios do tempo. O universo do trabalho também é um tema recorrente, com fotos de profissionais atuando no espaço público, como cabeleireiros, alfaiates, pescadores e açougueiros, geralmente em ação. Os núcleos Retrato e Antirretrato também merecem destaque. No primeiro, a curadoria ressalta como os retratos de Luiz Braga diferem do formato clássico, onde o ambiente e os objetos ao redor são fundamentais para compor a cena. Roupas, bolas de futebol e barcos tornam-se protagonistas junto aos indivíduos. Já a seção Antirretrato reúne fotografias onde as pessoas aparecem geralmente de costas ou de lado, contemplando o horizonte ou imersas em seu cotidiano. Em cartaz até 1º de março de 2026, a mostra conta com recursos de acessibilidade, como pranchas táteis e audiodescrição.

Em cartaz até 1º de março de 2026.

Olhares atentos de diferentes geografias.

26/nov

Frank Walter

Luiz Zerbini

Observations: Luiz Zerbini in Conversation with Frank Walter

25 Nov 2025 – 7 Feb 2026

Observations: Luiz Zerbini in Conversation with Frank Walter, exposição inaugural do novo espaço da Fortes D’Aloia & Gabriel, Jardins, São Paulo, SP, dia 25 de novembro, com curadoria de Barbara Paca, apresenta um diálogo inédito entre pinturas de paisagem em pequeno formato dos artistas Luiz Zerbini e Frank Walter (Antígua, 1926-2009). Mestres da atmosfera em suas próprias linguagens, ambos revelam um profundo envolvimento com a memória, a percepção e as fronteiras porosas entre os mundos humano e não humano. Luz, cor e gesto se unem para articular tempo, lugar e visão, expandindo o vocabulário da paisagem para além de seus limites convencionais.

Para Frank Walter, a paisagem foi uma companheira constante em suas viagens por Antígua, pelo Caribe e pela Europa. Suas pinturas em pequena escala capturam as variações sutis de diferentes geografias, com um olhar atento tanto ao detalhe quanto à atmosfera. Ao filtrar essas experiências pela memória, suas obras condensam a essência dos lugares vividos, transformando-os em meditações sobre pertencimento e imaginação. Luiz Zerbini, por sua vez, apresenta um conjunto de aquarelas que retratam vistas do litoral brasileiro. Com delicadeza de gesto e paleta luminosa, suas obras capturam o jogo de luz sobre o mar e a vegetação, revelando as mudanças de atmosfera das paisagens costeiras com imediatismo e intimidade. Dispostas lado a lado, essas obras constroem um diálogo transatlântico em que Frank Walter e Luiz Zerbini exploram a relação entre visão e lugar, ordem e espontaneidade. Cada composição se torna ao mesmo tempo transcrição e invenção – um espaço onde sensação e estrutura se entrelaçam. Ao conectar o Caribe e o Brasil, a exposição evidencia uma sensibilidade compartilhada à luz, à cor e ao relevo, revelando como a pintura de paisagem pode refletir contextos culturais distintos e, ao mesmo tempo, abrir-se a uma experiência mais ampla e interconectada do mundo natural.

Luiz Zerbini também está em exibição no espaço da Fortes D’Aloia & Gabriel, na Barra Funda, com a exposição individual Vagarosa Luminescência Voadora.

Até 07 de fevereiro de 2026.

Luz e espiritualidade na obra de Leo Battistelli.

A Galatea apresenta Leo Battistelli: água viva, individual do artista argentino radicado no Rio de Janeiro, a ser inaugurada no dia 26 de novembro em sua unidade da rua Padre João Manuel, São Paulo, SP. A exposição conta com texto crítico do jornalista e curador Leonel Kaz e reúne esculturas e painéis que entrelaçam cerâmica, porcelana, vidro, metais e minerais, explorando a ligação entre matéria, luz e espiritualidade.

Vivendo e trabalhando em seu ateliê na Floresta da Tijuca, no coração da Mata Atlântica, Battistelli transforma elementos da natureza em peças que evocam organismos híbridos, como líquens, sementes, constelações e formas aquáticas, vinculando o gesto humano à continuidade do ciclo vital. Trabalhando com argilas da Patagônia, terras brasileiras e quartzos andinos, o artista recria processos ancestrais em composições que respiram, filtram e irradiam luz.

Entre as obras apresentadas estão Iemanjá (2025), feita de contas de cristal soprado; Sobrenatural (2015), inspirada em mitos amazônicos; Pôr do Sol (2025), painel de sete metros em cerâmica e cobre; Pepita (2022/2025), semente-luz em porcelana e prata; Respiro (2025), Hexagonoro (2019/2025), Coluna (2025), Orvalho (2025) e as séries de Líquens, em diferentes ligas e escalas.

“Leo é um ser aquático mergulhado, da água ao fogo, nos fazeres da cerâmica”, escreve Leonel Kaz. “Suas obras são vivências, não conceitos abstratos.”.

Até 17 de janeiro de 2026.

Malu Saddi na Artur Fidalgo.

24/nov

“Desenvolve obras a partir do repertório visual encontrado na natureza e nos apresenta um mundo fantástico que relaciona organismos extraídos e reinventados dos reinos animal, vegetal e mineral.”

Os trabalhos da artista são delicados e sutis. São majoritariamente desenhos feitos com lápis de cor e grafite, seu traço fino cria estruturas minuciosas. Malu gosta de trabalhar com transparências que permitem a ela sobrepor desenhos de diferentes datas e gestos criando assim camadas de tempo; trazendo o inusitado e a transformação como parte do processo de construção do desenho.

Ela desenvolve obras a partir do repertório visual encontrado na natureza e nos apresenta um mundo fantástico que relaciona organismos extraídos e reinventados dos reinos animal, vegetal e mineral. 

Entre suas principais exposições individuais, destacam-se: “Cantantes Condutores”, Artur Fidalgo galeria (Rio de Janeiro, 2014); “Ao que ergue entre linhas”, Espaço W de Arte (Ribeirão Preto, 2011) e “No devaneio nenhuma linha é inerte”, Galeria Eduardo H Fernandes, (São Paulo, 2009). Participou de coletivas como: “17ª Bienal de Cerveira”, (Vila Nova Cerveira, Portugal, 2013), “Conhecendo Artistas – Ateliê Fidalga”, Torre Santander (São Paulo, 2011); “É Crédito ou Débito?” (Sesc-SP, São Paulo, 2010); “Entre Tempos” (Carpe Diem, Lisboa, 2009), entre outras.

Exibição de Maria Klabin em São Paulo.

Nara Roesler São Paulo, Jardim Europa, convida para a abertura, no dia 26 de novembro, às 18h, da exposição “Língua d’Água”, com mais de 80 obras inéditas e recentes de Maria Klabin (1978, Rio de Janeiro), em sua primeira exibição individual na cidade. A exposição estará em cartaz até fevereiro de 2026.

Com curadoria de Galciani Neves, a mostra apresenta trabalhos criados principalmente ao longo do ano, pinturas e desenhos, em tamanhos variados, que vão dos grandes formatos, com três metros de comprimento, até os pequenos, em torno de vinte centímetros de altura. O público verá também os desenhos retirados dos cadernos da artista, esboços, anotações, para acompanhar seu processo criativo.

O título “Língua d’Água” foi retirado de uma frase dita por Maria Klabin à curadora: “O pincel é como uma língua que lambe a tela trazendo os ecos de algum lugar”.

“As pinturas de Maria nos colocam de maneira simples que não é necessário fincar os pés nos diversos problemas filosóficos submetidos ao exame da razão, mas apontam para algo que nos renderia um enorme efeito, se nos dedicássemos: o que aprenderíamos se repousássemos sobre os redemoinhos da percepção? Devaneando, devaneando…E se ao invés de controlarmos as coisas, habitássemos seus mistérios, olhando-as bem de perto e de distintas lonjuras?”, salienta Galciani Neves no texto que acompanha a exposição. “Em “Língua d’água”, o exercício poético da artista segue por esses caminhos: “A pintura inverte a ordem das coisas, muda o que vemos e como vemos”, destaca a curadora.

Nos trabalhos de Maria Klabin há paisagens, além de retratos. A artista comenta que usa “a paisagem pela qual eu estou cercada”, que tanto pode ser composta por objetos ou plantas, que para ela “são indivíduos”. “São as paisagens com que eu estou convivendo”. “Noto um conjunto de movimentos, de elementos, que eu posso usar na pintura, e acabam sendo um ponto de partida para falar sobre algo mais internalizado e intuitivo do que exteriorizado, como estaria implícito numa paisagem”, observa. Fotografias também são utilizadas, mas servem como pistas para ela “falar de coisas mais da pintura e de um estado de espírito”. “Às vezes eu incluo figuras, às vezes animais, e uma parte grande é de memória, ou (de bichos)”inventados”. É um exercício compositivo também, de movimento, de pintura. 

“Língua d’Água” terá mais de quarenta desenhos, em um trabalho de seleção de Galciani Neves entre os mais de trezentos da artista. Ela detalha que junto com a curadora decidiu incluir na exposição uma parede com desenhos, “em que há de todo tipo: arrancados do caderno, anotações, mais ou menos acabados”. A ideia é mostrar ao público esse processo, “porque eles (os desenhos) nasceram durante a construção dessas pinturas, e alguns são anteriores, mas também guardam uma relação com as obras mostradas”.

Estará na exposição a pintura “Gal” (2023), tinta óleo sobre linho, exibida antes apenas na individual da artista que a galeria Nara Roesler realizou na feira Frieze Los Angeles 2024. Maria Klabin conta que a pintura integra “Linha d’água” por ser a primeira em escala maior que fez “com elementos mais alegóricos, mais oníricos”. “As paisagens grandes já tinham esses elementos, mas isso ficou mais evidente na “Gal”, e esta é uma coisa que eu explorei com mais foco nessa exposição”, diz. “Durante a pandemia”, ela explica, “comecei a trabalhar muito de observação, sem sair da realidade dentro do possível, na pintura. E a “Gal” foi feita neste outro momento. Pintar dessa maneira foi o que fez sentido para mim. Parti da imagem dessa mulher grávida, que é minha cunhada, que estava grávida da minha sobrinha Gal”.

Estarão ainda três retratos pequenos que Maria Klabin fez de Giacometti (1901-1966). A artista viu um vídeo na internet com Giacometti esculpindo. Em um determinado momento, em que há um close do rosto do escultor, ela percebeu que era “justamente o instante em que o artista está nesse lugar mais exposto”.

Livro “Maria K.” (2025, Nara Roesler Books)

Em fevereiro de 2026, durante a exposição “Língua d’Água”, será lançado o primeiro livro dedicado à trajetória de Maria Klabin. O livro “Maria K.” terá 114 páginas, bilíngue (português e inglês), capa dura, com formato de 17,5 x 24,5 cm, e textos inéditos de Priscyla Gomes, Pollyana Quintella e apresentação de Luis Pérez-Oramas.

O legado de Emanoel Araújo.

21/nov

 

O Farol Santander São Paulo apresenta a exposição Emanoel Araújo – Embates Construtivos, em cartaz até 22 de fevereiro de 2026. A mostra reúne mais de 70 obras entre xilogravuras, esculturas, serigrafias e cartazes, incluindo criações inéditas que evidenciam a pluralidade e o rigor estético do artista baiano.

Com curadoria de Fábio Magalhães, a exposição ocupa o 24º andar do centro cultural e propõe uma imersão no universo visual de Emanoel Araújo, marcado por formas geométricas, ancestralidade africana e cores intensas. As obras revelam o diálogo entre tradição e modernidade, reafirmando a importância do artista como referência na arte contemporânea brasileira.

Fundador do Museu Afro Brasil, Emanoel Araújo deixou um legado que celebra identidade, resistência e liberdade. A mostra é um tributo à sua trajetória e à potência da arte afro-brasileira no cenário nacional.

Revelando nuances das relações afetivas.

Sob o título “Men in Love”, realiza-se a exposição individual do artista Douglas de Souza (Blumenau, SC, 1984), na Claraboia, Jardim América, São Paulo, SP, reunindo um conjunto de pinturas recentes sob a curadoria de Domenico de Chirico e expografia de Alberto Rheingantz.

Nas obras, representações de bibelôs e simbolos kitsch, carregados de sensibilidade e sedução, servem de ponto de partida para refletir sobre masculinidade e seus estereótipos. São imagens de cavalos, cervos, cisnes, automóveis e arranjos florais associadas às iconografias dicotômicos de força e fragilidade, delicadeza e virilidade. Ao associar esses ícones às experiências masculinas, o artista revela nuances das relações afetivas vividas entre homens. 

“Enaltecendo o amor em sua forma mais pura, Douglas de Souza não se limita a retratar homens apaixonados: narra esse sentimento como um campo de tensões, um espaço de negociação entre estética e afeto, cultura e corporeidade, onde se entrelaçam as mais profundas contradições que marcam nosso presente”, comenta o curador. 

Para a mostra, o artista também apresenta inéditas pinturas de naturezas-mortas vigorosas. Em obras como It’s ok to cry e Magnolia, ambas de 2025, as pétalas de flores compõem verdadeiros campos cromáticos que se expandem radialmente pela tela, projetando brilho e nitidez que lembram imagens do campo digital. Douglas de Souza realiza pinturas em alta definição que simulam superfícies de objetos luminosos, como vidro, cristal, porcelana e metal polido. Sua pesquisa investiga estereótipos de masculinidade a partir de bibelôs e símbolos que negociam com a noção de fragilidade e com o gosto estético, dando vida a um léxico visual arraigado em identidade, desejo e pertencimento. Já realizou exposições individuais na Galeria Cavalo (São Paulo, Brasil, 2024); Kupfer Project (Londres, Reino Unido, 2024); Gruta (São Paulo, Brasil, 2023) Good Mother Gallery (Los Angeles, EUA, 2023); e na IRL Gallery (Nova York, EUA, 2022).

 Até 24 de janeiro de 2026.

Obras que refletem processos de ruptura.

19/nov

 

Patrícia Pedrosa apresenta “Eu aos pedaços ou Ainda assim eu voo”, no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro. A mostra reúne vinte trabalhos inéditos – entre gravuras em técnicas diversas, vídeo-performance, cerâmica, livro de artista e um sketchbook – nos quais a artista toma o próprio corpo feminino como matriz e medida. Ao articular experimentações gráficas, bordado, colagem, estêncil e suportes como papel vegetal e tecido, investiga memória, somatizações e cicatrizes que atravessam a vida, criando obras que refletem processos de ruptura, cuidado e reconstrução.

Composta por 20 trabalhos – dezesseis gravuras, uma vídeo-performance, uma cerâmica, um livro de artista e um sketchbook – a mostra evidencia o modo como Patrícia Pedrosa expande a gravura para territórios híbridos. Suas obras articulam técnicas variadas, como bordado, colagem, recortes, pintura e procedimentos xerográficos, criando camadas que tensionam superfície e materialidade. O uso de suportes como papel vegetal, tecidos bordados em bastidores e tintas fosforescentes reforça esse interesse por deslocar a tradição gráfica para outros campos de experimentação, produzindo composições que se constroem entre transparências, cortes, marcas e sobreposições.

A pesquisa de Patrícia Pedrosa se estrutura a partir do corpo feminino e das marcas que o atravessam – cicatrizes físicas e simbólicas que se acumulam como registro das experiências somatizadas ao longo dos anos. Durante o período da pandemia de Covid-19, esse campo de investigação ganhou novos contornos. O isolamento em seu ateliê e a ruptura da rotina coletiva intensificaram a percepção da artista sobre finitude, fragilidade e transformação.

As obras inéditas reunidas em “Eu aos pedaços ou Ainda assim eu voo” nascem desse tempo suspenso, em que o ritmo da vida sofreu torções profundas e a relação com o próprio corpo se tornou um território ainda mais sensível de observação e elaboração. A mostra permanece em cartaz até 17 de janeiro de 2026.

Sobre o artista.

Patrícia Pedrosa nasceu em 1971, em São Gonçalo – RJ, possui bacharelado em Gravura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994) e atualmente é a docente responsável pela disciplina de litografia na mesma instituição onde se formou. Participa de individuais e coletivas desde 1992, tendo ministrado cursos, workshops e oficinas, atuando principalmente com gravura, desenho e história da arte. É doutora em Artes Visuais pela EBA – PPGAV – UFRJ e mestre na mesma instituição, ambos na linha de História e Crítica da Arte. Em 2025 recebeu Menção Honrosa na Kitchen Print Biennale de l’estampe (Épinal, França), uma competição com ênfase em pesquisas artísticas na gravura alternativa e não tóxica. Atualmente se divide entre o trabalho no seu ateliê em Petrópolis (RJ) e o Rio de Janeiro, onde leciona na Escola de Belas Artes – EBA/UFRJ.

Relevos e gravuras de João Carlos Galvão.

“A geometria poética de João Carlos Galvão é luminosa e musical”, como bem define Fabio Magalhães no texto que acompanha a nova exposição do artista, que em 2026 comemora 85 anos. Prestes a ser inaugurada na Galeria Patricia Costa, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, no dia 27 de novembro, “A cor no espaço bailarino” apresentará dez relevos em acrílica sobre madeira e dez gravuras em metal, produzidos entre 2024 e 2025. A mostra permanecerá em exibição até 13 de dezembro.

A poética do papel em branco

Quadrados e círculos articulam-se em relevo na superfície do papel. O artista nos propõe uma dinâmica visual de ritmo pulsante, com sutis vibrações de luz decorrentes da delicada volumetria impressa sobre o branco do papel. João Carlos Galvão é um artista de ampla trajetória e reconhecimento internacional, companheiro de Sérgio Camargo, Victor Vasarely e Jean Pierre Yvaral, todos eles artistas da vertente construtiva. Há em sua geometria uma poética de nítida preocupação pela síntese, mesmo assim, Galvão obtém extraordinária riqueza e diversidade expressiva na sua plástica. Notamos nestes trabalhos certa desordem vivaz na acumulação das formas que se organizam no espaço e uma imprevisibilidade rítmica na formação dos conjuntos. O artista estabelece uma tensão entre ordem/desordem para criar cinesia nos seus conjuntos geométricos. A percepção de movimento nos conduz a uma sensação sonora. Melhor dizendo, a articulação dos relevos sugere acordes musicais. Portanto, acrescentam emoção à racionalidade. O poeta Paul Claudel citava a música como sendo a alma da geometria. As diferentes angulações dos quadrados e dos círculos alterando a face plana do papel (técnica de relevo seco) provocam variações de luz sobre a superfície. Desse modo, o artista procura controlar onde a luz é refletida ou absorvida. Vale ressaltar que a poética da luz é a expressão predominante na obra de João Carlos Galvão; as formas tornam-se perceptíveis pela gradação de sombra e luz. As sombras sublinham as geometrias, fortalecem os contornos e acrescentam tênues variações de cinza. De outro modo, nas zonas brilhantes, de maior presença de luz, notamos o surgimento de reflexos de cor no branco do papel (suaves tonalidades de azuis, de vermelhos) como resultado do espectro de luz, fenômeno, também, conhecido como dispersão da luz. É notável como o artista obtém múltiplos efeitos luminosos e cromáticos usando apenas variações de planos na superfície do “papel em branco”.

Fabio Magalhães, Outubro de 2025.

Sobre o artsita.

Nascido no Rio de Janeiro, em 1941, João Carlos Galvão iniciou seus estudos em pintura aos dez anos de idade, em 1951. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil entre 1964 e 1966 e se mudou para Paris em 1967, onde cursou Sociologia da Arte com Jean Cassou, na Sorbonne, frequentou os ateliês de Sergio Camargo, Victor Vasarely e Jean-Pierre Yvaral e conheceu o pintor português Nadir Afonso. Participou de salões, bienais, feiras, exposições individuais e coletivas desde 1966 no Brasil e no exterior, como a Bienal de Arte de São Paulo, SP-Arte, ArtRio e os salões de Paris. Desde 1974, executou vinte e sete obras de grande escala, incluindo murais e painéis em diferentes materiais. Com mais de 50 anos de trajetória artística, ele atualmente mantém uma rotina de produção constante no ateliê em Nova Friburgo, RJ.

Marco Maggi na Fundação Iberê Camargo.

“La economía de la atención” é a primeira exposição de Marco Maggi na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS. A mostra propõe uma reflexão sobre os modos como a atenção se constrói e é direcionada e permanecerá em exibição até 26 de março de 2026.

Com curadoria de Patricia Bentancur, que acaba de ser anunciada como a responsável pelo Pavilhão do Uruguai na Bienal de Veneza em 2026, a mostra apresenta doze trabalhos entre desenhos, instalações, elementos do cotidiano como rolo de tinta, bola de pingue-pongue, mesa de sinuca e colagens com papeis recortados, uma das marcas do artista. Na Fundação, ele criará uma obra inédita, de grandes dimensões, a partir de pequenos recortes em papel. Nascido em 1967 em Montevidéu, Marco Maggi divide seu tempo entre Nova York e a cidade natal criando trabalhos em pequenos fragmentos de papéis das mais diversas cores, materialidades e recortes. Utilizando humor, jogos de palavras e uma variedade de alusões visuais, Maggi incentiva seus espectadores a desacelerar e refletir sobre os detalhes e as complexidades de cada objeto. 

As obras de Maggi configuram um sistema visual de estruturas mínimas, quase imperceptíveis. Compreendê-lo é entrar em um código analógico de um algoritmo que se repetirá e reformulará uma e outra vez. Micro cortes em papel, incisões sobre acrílico ou grafite, que só existem a partir do intangível: a luz e a sombra.

A Fundação Iberê Camargo é uma obra de Álvaro Siza Vieira, um arquiteto que é capaz de direcionar nossa atenção a partir de ênfases espaciais e visuais mínimas. Uma pequena janela em um extenso muro cego nos induz a olhar para o exterior do museu. Enquanto Siza, neste caso, nos convida a olhar para longe, Maggi nos exige olhar de perto. Dois focos, aparentemente contraditórios, que não têm outra função senão economizar distrações, criar uma pausa para possibilitar um ato de observação ativa e concentrada. Marco Maggi compõe um protocolo de observação que é ativado apenas quando o corpo do espectador decide aproximar-se e manter o olhar. Em suas propostas, tanto os títulos de suas exposições quanto os de suas obras normalmente escondem um meta-sentido. A ambiguidade do título desta instalação não é um déficit de clareza, mas uma ferramenta crítica situada em um limiar de sentido deliberado. Por um lado, o da circulação, gestão e intercâmbio de um recurso escasso (economia) e, por outro, o da percepção, sensibilidade e capacidade de deter-se (atenção). A experiência da exposição se desdobra no terreno intermediário entre esses dois polos. Ela não designa univocamente, mas abre um campo de tensões que cada visitante deve negociar em seu percurso. Neste método de proximidade, não há espetáculo de impacto, mas relação; não há mensagem, mas cooperação; não há eficiência; há atenção. Sob esta perspectiva, seu trabalho não combate a aceleração com nostalgia, mas com técnicas concretas de lentidão, onde propõe possíveis práticas que, em nenhum caso, são diretrizes. Diante dos atalhos da velocidade, olhar devagar pode inclusive ser entendido como uma tecnologia cultural.

Patricia Bentancur

Curadora