Uma Bienal é um grande desafio.

02/out

Quais são os rostos por trás das obras da 36ª Bienal?

Ministério da Cultura, Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa da Cidade de São Paulo, Fundação Bienal de São Paulo e Itaú apresentam a 36ª Bienal Internacional de São Paulo até 11 de janeiro de 2026, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera, Portão 3, São Paulo, SP.

A arte é um exercício coletivo. São necessárias muitas mãos para construir uma exposição. Você já se perguntou quem é o artista e quem são as pessoas que trabalharam em cada obra? Este ensaio explora a categoria do retrato, destacando artistas, equipes de montagem, curadores e funcionários da Fundação Bienal.

Montar uma exposição da dimensão de uma Bienal é um grande desafio. Para registrar esse processo de dois meses, convidamos três fotógrafos a captar detalhes, rostos e momentos de criação da 36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática.

A segunda parte desse ensaio visual, realizada entre 18 de agosto e 04 de setembro no Pavilhão da Bienal e em ateliês de artistas, é assinada por Fe Avila. 36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática.

Curador geral: Bonaventure Soh Bejeng Ndikung / Cocuradores: Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza / Cocuradora at large: Keyna Eleison / Consultora de comunicação e estratégia: Henriette Gallus / Cocuradores adjuntos: André Pitol, Leonardo Matsuhei.

 

Lançamento de Elisa Stecca e Willy Biondani.

29/set

Edição numerada permite revisitar a poética da natureza em uma experiência visual e tátil.

A instalação “Tangências/Alumbramento”, de Elisa Stecca e Willy Biondani, que desde julho ocupa a sala Maureen Bisilliat do Museu da Imagem e do Som (MIS), Jardim Europa, em São Paulo, se despede com um gesto inédito: o lançamento de uma caixa numerada, reunindo imagens das obras expostas e o catálogo oficial, permitindo ao público levar para casa uma experiência tangível e prolongada da mostra.

A exposição, que se destacou pela atmosfera imersiva e sensorial, transformou 260 m² em um espaço de encantamento. O percurso curvilíneo, sem cantos vivos, conduziu o visitante por 70 metros de obras têxteis transparentes, esculturas em vidro soprado espelhado, projeções de vídeo e fotografias, combinando diferentes linguagens e suportes para explorar a natureza e suas dimensões poéticas. A ambientação sonora, criada por Cid Campos, completou o cenário onírico, oferecendo pausas de silêncio e contemplação em meio à rotina urbana, enquanto a consultoria de arquitetura de Carlos Warchavchik garantiu uma circulação fluida e envolvente.

O lançamento da caixa é concebido como uma extensão participativa da experiência imersiva. O projeto gráfico, assinado por Pedro Cappeletti, organiza as imagens e folhas em diferentes papéis, permitindo ao espectador montar e explorar as peças de maneiras variadas, tornando-se coautor de sua própria interpretação. A tiragem é limitada a 140 unidades numeradas, reforçando a singularidade do objeto.

A mostra, que entrelaça utopia e razão, fluido e concreto, sonho e realidade, convida a refletir sobre a biodiversidade brasileira, inspirando-se na carta de Pero Vaz de Caminha e reinterpretando fauna e flora de forma fantasiosa e poética. A experiência propõe um mergulho do micro ao macro, em um tempo e espaço suspensos, evocando a contemplação, o encantamento a imaginação como motores do olhar artístico.

 

Livro sobre o fotógrafo da Casa Imperial.

26/set

O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Gloria, Rio de Janeiro, RJ, e a editora Capivara convidam para o lançamento do livro “O Espelho de Papel – A fotografia de Joaquim Insley Pacheco na coleção do IHGB” (Capivara, 2025), no dia 1º de outubro, na sede do IHGB. O lançamento terá uma conversa aberta com Pedro Corrêa do Lago, sócio-titular e diretor de Iconografia do IHGB, e diretor editorial da Capivara, Daniel Rebouças, pesquisador, historiador e professor baiano, e mediação de Lucia Guimarães, Primeira Secretária do IHGB, professora titular do departamento de História da UERJ.

 Fotógrafo oficial da Casa Imperial de 1857 até a República, Joaquim Insley Pacheco foi um dos mais notáveis retratistas de seu tempo, registrando não apenas os monarcas, a nobreza, como também intelectuais, políticos, militares e membros da burguesia. Alguns dos retratos mais conhecidos de D. Pedro II, da imperatriz Teresa Cristina – de quem foi muito próximo – e das princesas Leopoldina e de sua irmã Isabel, e ainda de Machado de Assis, Carlos Gomes, José de Alencar, entre outros grandes intelectuais, foram feitos por Joaquim Insley Pacheco. Ele nasceu em 1830 em uma aldeia próxima a Braga, Portugal, e órfão dos pais veio para o Brasil aos treze anos, passando pelo Ceará e Maranhão, e finalmente morando no Rio de Janeiro, capital do Império, de 1854 até o ano de sua morte, em 1912.

“Os retratos de Insley Pacheco documentam uma época em que a fotografia era exclusividade das elites, distante dos selfies de nossos tempos, que fizeram do direito ao retrato um modo de afirmar a pluralidade da sociedade”, observa Paulo Knauss,1º vice-presidente e diretor do Museu do IHGB.

Na mais abrangente publicação sobre seu trabalho, “O Espelho de Papel” reúne em 160 páginas 403 imagens – incluindo capas e revistas da época – do vasto acervo de milhares de fotografias antigas que estão sob a guarda do IHGB. A apresentação é de Pedro Corrêa do Lago e o texto é do pesquisador, historiador e professor baiano Daniel Rebouças, “profundo conhecedor da fotografia brasileira do século XIX e admirador da obra de Pacheco”, nas palavras de Pedro Corrêa do Lago. O volume foi produzido através da Lei de Incentivo à Cultura do governo federal, com patrocínio da Unipar.

Nobres que nomeiam ruas, bairros ou cidades também foram retratados, dando o rosto a lugares tão conhecidos, como Marquês de Sapucaí, Marquês de Olinda, Visconde de Caravelas, Visconde de Cairu, Baronesa de Teresópolis, Visconde de Mauá, Marquês de Valença, Marquês da Gávea, o jornalista Francisco Otaviano, o deputado e senador Rodrigues Silva, e o Regente Feijó.

 

As práticas artísticas de Lia Letícia.

23/set

O Governo do Estado de Pernambuco, a Prefeitura da Cidade do Recife, o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Dona Ledy Arte e Cultura e Rosa Melo Produções Artísticas apresentam Tudo dá, individual de  Lia Letícia sob curadoria de Clarissa Diniz no MAMAM, Recife, PE.

Faz quase 30 anos que Lia Letícia, nascida no Rio Grande do Sul, radicou-se em Pernambuco. Sua mudança para Olinda em 1998 possibilitou a consolidação das práticas artísticas que havia iniciado tempos antes, quando trabalhou na confecção de carros alegóricos no carnaval gaúcho. Uma vez que chegou à terra do frevo, especialmente no ateliê de Iza do Amparo e nas ações do coletivo Molusco Lama, Lia Letícia encontrou espaços, interlocutores e aliados tão instigantes quanto aguerridos para sua formação e atuação como artista. Desde então, tem desenvolvido uma obra vasta em contaminações e colaborações, hackeando e reinventando concepções elitistas de arte que, como velhas fortalezas, ainda hoje erigem muros que inocuamente tentam conter sua vocação ao múltiplo, ao outro ou ao avesso de si.

Letícia Letícia fez performance, pintura, objeto, instalação, vídeo, fotografia, intervenção, serigrafia, direção de arte, gestão de espaços independentes, ilustração, cinema, militância, cenografia, curadoria, educação. Sua prática nunca se restringiu a galerias e museus: ao contrário, esteve fundamentalmente lastreada nas ruas, sets de filmagem, comunidades, salas de aula ou mesmo em grupos de WhatsApp. Não à toa, passaram-se muitos anos até que sua obra pudesse ser apresentada em conjunto numa instituição cultural de relevo: um gesto que, sem qualquer ambição de contemplar toda a sua trajetória, tem todavia a intenção de compartilhar as forças norteadoras de sua poética com os públicos do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães. Ocupando todos os andares do MAMAM, a exposição se organiza em quatro núcleos. Neles, aproximamos trabalhos de linguagens e períodos distintos que, todavia, transitam nas mesmas órbitas políticas. No térreo, Nesta terra, tudo dá reúne obras que denunciam o extrativismo (neo)colonial através de uma filosofia da abundância capaz de resistir aos seus projetos de escassez. No primeiro andar, o núcleo Artista desconhecida explora a debochada iconoclastia que tanto identifica a obra de Lia Letícia, enquanto Arriar a bandeira desafia o triunfalismo do poder e suas presunções de progresso. Por fim, Desculpe atrapalhar o silêncio de sua viagem que congrega obras que, a partir da experiência das cidades, insurgem-se contra as injustiças sociais do nosso tempo. Ao longo da exposição, alguns gestos e interesses revelam sua permanência na obra da artista: memórias insurgentes, posicionamentos irônicos, subversões de traços anárquicos, enfrentamentos políticos performativos, criações colaborativas, o caminhar como método, estéticas da abundância. Permeando diferentes temas e estratégias de linguagem, de forma transversal, testemunhamos a iconoclasta vocação da obra de Lia Letícia de arejar as tão estafadas concepções tradicionais de arte, aqui devidamente inscritas – e nutridas – na vida que Tudo dá.

por Clarissa Diniz

Até 09 de novembro. 

 

Exposição resgata memórias da ditadura.

17/set

Exposição do fotógrafo Gustavo Germano homenageia desaparecidos políticos e propõe reflexão sobre os impactos da violência de Estado.

Até 08 de outubro, o Arquivo Histórico Municipal de São Paulo (AHM), Bom Retiro, exibe a exposição Ausências Brasil, do fotógrafo argentino Gustavo Germano. A mostra, realizada em parceria com o Núcleo de Preservação da Memória Política (NM), traz um olhar sensível e contundente sobre os desaparecidos políticos durante a ditadura civil-militar brasileira (1964–1985). A proposta é confrontar o público com a ausência transformada em imagem. As fotografias de Gustavo Germano recriam retratos familiares, justapondo cenas do passado a registros atuais marcados pelo vazio da pessoa que foi retirada pela violência do regime. O projeto nasceu na Argentina, a partir da história pessoal do autor: seu irmão, Eduardo Raúl Germano, foi sequestrado e desaparecido em 1976. Anos mais tarde, expandiu-se para outros países atingidos pela Operação Condor, até chegar ao Brasil, onde a versão atual reúne 12 histórias de desaparecidos políticos, de diferentes regiões do país.

Além das imagens, a exposição contará com visitas mediadas, rodas de conversa com ex-presos políticos e a exibição do documentário O Dia que Durou 21 Anos, de Camilo Tavares. Para a museóloga Kátia Felipini, diretora técnica do Núcleo Memória, a iniciativa é também um ato de reparação: “Cada vez que a gente apresenta essa exposição, é uma forma de reparar essas famílias”. O educador e historiador César Novelli ressalta em comunicado a atualidade da discussão: “A história do Brasil é pautada na violência. Os vínculos entre os crimes da ditadura e os desaparecimentos de hoje são sinais da impunidade permitida após a redemocratização”. A entrada é gratuita, e a programação completa inclui debates, formações para educadores e atividades culturais, sempre voltadas para fortalecer a memória democrática e refletir sobre as marcas da repressão no presente.

Por Felipe Sales Gomes.

Reabertura da Galeria de Moldagens 2.

12/set

 

As inúmeras variações contidas entre o oculto e o visível envolvem a temática da primeira individual do premiado fotógrafo Vicente de Mello no Museu Nacional de Belas Artes/Ibram, até 16 de jabeiro de 2026. O evento marca a reabertura da Galeria de Moldagens 2 ao público (somente este espaço, e em horário de visitação reduzido).

Na exposição Breu, o público vai ter contato com fotografias capturadas na icônica Galeria do Museu e que ficarão ao lado de moldagens recém-restauradas, propiciando um diálogo entre as obras. Estas imagens foram editadas ou passaram por tratamento digital, resultando no curioso aspecto final de “imagem em negativo”. O artista apresenta 8 fotografias e se inspira na ideia da velatura de monumentos e estatutárias, que são um “efeito ótico” recorrente na história da arte, como uma ação desestruturante das formas originais.

Partindo desta premissa, as imagens produzidas pelo artista convidam à imaginação: o envelopamento das moldagens confere “uma nova percepção e aparência ao objeto, envolvendo efeito fantasmático e sedutor, de certa aparência etérea e irreal”, como aponta o curador da mostra, Aldones Nino.

A simbologia das esculturas e a interferência efêmera provocada por Vicente de Mello oferecem ressignificações desses elementos, como ideia de desaparecimento e invisibilidade. Em outra leitura, os registros feitos pelo artista das esculturas veladas da Galeria de Moldagens 2 por tecidos protetores, antes da reabertura da Galeria de Moldagens,  ampliam o sentido do primoroso trabalho de restauração de obras icônicas da galeria à arte e também o da representação.

Com a exposição de Vicente de Mello, o MNBA passa a abrir parcialmente ao público, porém em horários reduzidos, lembrando que a Instituição estava fechada para obras de requalificação de seus espaços desde março de 2020.  A exibição faz parte da série de eventos intitulados “Um olhar pela fechadura”, visando preparar o terreno para a devolução total do Museu ao público, no final de 2026. A mostra “Breu” conta com patrocínio do banco Itaú através da Lei de Incentivo à Cultura.

Sobre o artista.

Vicente de Mello Vicente de Mello, nasceu em 1967, é uma voz central na fotografia brasileira contemporânea, contando com reconhecimento internacional. Desde 1992, ele constrói um universo visual lúdico que desmonta e reconfigura, transitando da topografia imaginada para a metafísica da luz. Apresentou em 2006 a mostra moiré.galáctica.bestiário/ Vicente de Mello – Photographies 1995-2006, no Oi Futuro, RJ e na MEP-Maison Européenne de la Photographie, Paris, França. Em sua vasta trajetória destacam-se as séries: Topografia Imaginária, Moiré, Vermelhos Telúricos, Galáctica, Lapidus, Silent City, Brasília utopia lírica, Monolux e Limite Oblíquo. As exposições individuais recentes foram: Encanto, curadoria Aldones Nino e Yago Toscano (Casa del Concejo/ Mirador del Adaja, Arévalo, Espanha, Monolux, curadoria de Eucanãa Ferraz (MAM RJ, SESC Niterói, e Toda Noite, panorama de 30 anos de sua obra, com curadoria de Marilia Panitz e Aldones Nino (Farol Santander, Porto Alegre, CCJF, RJ. Na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 2007, foi laureado com o prêmio APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte – de Melhor Exposição de Fotografia do Ano. Com a instalação Ultramarino foi laureado com o Prêmio Centro Cultural Banco do Brasil Contemporâneo, em 2015. Sua obra ganhou livros como Áspera Imagem, editado pela Aeroplano e Parallaxis, da Editora Cosac Naify. Trabalhos de Vicente de Mello integram acervos de instituições como: Coleção Gilberto Chateaubriand – MAM/RJ; Coleção Joaquim Paiva, RJ; Fondation Cartier pour l´art contemporain, Paris; Itaú Cultural/SP; Maison Européenne de la Photographie, Paris; MASP/SP – Coleção Pirelli; MAR/RJ; MAM/Brasília, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SESC 24 de Maio/SP; The Museum of Fine Arts, Houston, entre outros.

Formas humanas e geológicas.

11/set

A Fortes D’Aloia & Gabriel, Barra Funda, São Paulo, SP, exibe a exposição Onda Avalanche Vulcão, uma série de fotografias colaborativa de Mauro Restiffe e Maria Manoella.

Este novo conjunto de obras apresenta uma exploração sensível da relação entre o corpo humano e a paisagem natural. A série reúne retratos íntimos e eróticos junto a fotografias dos vastos ambientes percorridos pelos artistas, registrando o desejo e o tempo como elementos centrais da criação de imagens. Juntas, essas fotografias estabelecem um diálogo simbólico entre a corporeidade e as forças da natureza.

As imagens mostram corpos revelados e sugeridos que operam como metáforas para os processos de transformação observados no mundo físico. Montanhas cobertas de neve, cachoeiras, gêiseres e formações rochosas aparecem ao lado dessas figuras, evocando ideias de desejo e erupção por meio de suas transformações viscerais. Tanto o sexo quanto essas paisagens selvagens implicam certo grau de volatilidade e incontrolabilidade. No centro da série está a ênfase na experiência sensorial como forma de apreensão do mundo. O erotismo se manifesta a partir da textura e da luz, em diálogo com o drama físico do contato amoroso e da presença atmosférica. A esfera íntima do envolvimento tátil e das sugestões de toque e sensação interagem com as amplas dimensões físicas e temporais das paisagens, moldando correspondências sensuais entre formas humanas e geológicas.

Um livro de artista homônimo, publicado pela Familia Editions, foi lançado no dia da abertura.

Os caminhos da construção do racismo.

08/set

Exposição em cartaz no Paço Imperial, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a obra de Voluspa Jarpa. Em sete anos de pesquisas, a artista chilena reconstrói, a partir das exibições de zoológicos humanos, os caminhos da construção do racismo por meio de dispositivos coloniais e dominação cultural.

“Cartografia Incógnita” nos defronta com os zoológicos humanos que exibiram, entre 1858 e 1958, exemplares humanos de povos ditos “exóticos” em várias exposições, realizadas em capitais europeias e também em outras cidades do continente.

As célebres Exposições Internacionais tinham, por objetivo, anunciar o progresso da indústria de cada país. Em contraponto, ofereciam ao público o espetáculo dos chamados “zoológicos humanos”: pessoas de distintas origens e de pele escura ou amarela, que eram apresentadas em cenários compostos com animais e plantas nativas, de modo a emular o que era considerado “a vida selvagem”.

A mostra faz parte da BIENALSUR. As exposições abordam os temas mais urgentes do nosso tempo: meio ambiente, memória, direitos humanos, migrações, inteligência artificial e futuros possíveis. A Bienal renova, assim, seu compromisso com o desenvolvimento de um humanismo contemporâneo. É por isto mesmo que a realização da BIENALSUR 2025 tem o apoio oficial da UNESCO.

Até 16 de novembro.

Jonathas de Andrade obras inéditas e recentes.

02/set

A Nara Roesler São Paulo convida para a abertura de “Permanência Relâmpago”, exposição com obras inéditas e recentes do celebrado artista Jonathas de Andrade (1982, Maceió, residente em Recife). A curadoria é de José Esparza Chong Cuy, diretor-executivo e curador-chefe da Storefront for Art and Architecture, em Nova York.

“Permanência Relâmpago” abrange três conjuntos de obras a que Jonathas de Andrade vem se dedicando nos últimos dois anos, em torno dos jangadeiros da praia de Pajuçara, em Maceió, que navegam em jangadas de madeira e velas tradicionais, levando turistas às piscinas naturais, e os canoeiros do Rio São Francisco, no sertão de Alagoas, próximo à Ilha do Ferro, que usam canoas de velas quadradas duplas de grande escala, notavelmente gráficas, em um circuito de competições de forma recreativa e esportiva.  Ambas as manifestações representam culturas náuticas seculares transmitidas de pai para filho, praticadas por comunidades de pescadores e barqueiros, revelando um jogo cultural que tensiona intimamente tradição, patrimônio, turismo e economia.

A exposição oferece ao público uma primeira vista, privilegiada, da pesquisa em andamento para um comissionamento feito em 2023 pelo Victoria and Albert Museum, em Londres, a convite de Catherine Troiano, curadora do departamento de fotografia da instituição. Em novembro de 2025, obras inéditas produzidas por Jonathas de Andrade dentro desta pesquisa serão exibidas no V&A, quando passarão a integrar a coleção do Museu. Em “Permanência Relâmpago”, Jonathas de Andrade questiona os sistemas em transformação que moldam identidade, trabalho e memória. Suas instalações, filmes e obras conceituais atuam como arquivos vivos, reativando histórias orais, saberes marginalizados e tradições artesanais.

A exposição terá três eixos de trabalhos. Na série “Jangadeiros Alagoanos”, Jonathas de Andrade usa como suporte as velas originais das jangadas marítimas, usadas na praia de Pajuçara, marcadas pelo sol e pelo uso. No segundo conjunto de trabalhos, “Canoeiros Neoconcretos”, o artista parte das velas de padrões gráficos ousados utilizados pelos canoeiros do Rio São Francisco, próximo à Ilha do Ferro, paisagem carregada de histórias de seca, migração e sobrevivência no Sertão.

Em outra série, “Puro torpor do transe do sol”, as velas gráficas dos barcos no Rio São Francisco inspiram composições abstratas com pintura automotiva, “dando volume escultórico e objetual aos campos de cor que atravessam o rio, na corrida das canoas e as velas gigantes”, comenta o artista.

O terceiro eixo da exposição é a estreia do filme “Jangadeiros e Canoeiros”, que terá uma sala especial para sua exibição. A trilha sonora é de Homero Basílio, profícuo percussionista e produtor musical que colaborou em diversos filmes de Jonathas de Andrade.

Até 26 de outubro.

O feminino como princípio criador.

do mundo”. Uma visão poética e sensível da mulher como matriz, gênese, força-motriz no mundo e no cotidiano é a ideia que agrega as 77 obras de 59 artistas mulheres. Entre as artistas, estão Maria Martins, Lygia Pape, Celeida Tostes, Leticia Parente, Anna Bella Geiger, Sonia Andrade, Regina Silveira, Anna Maria Maiolino, Ana Vitória Mussi, Iole de Freitas, Sonia Gomes, Lenora de Barros, Brígida Baltar, Beatriz Milhazes, Rosângela Rennó, Adriana Varejão, Laura Lima, Aline Motta, Bárbara Wagner e Lyz Parayzo. A curadoria é de Katia Maciel e Camila Perlingeiro, que selecionaram trabalhos em pintura, gravura, desenho, vídeo, fotografia, escultura e objetos.  A mostra ficará em cartaz até 18 de outubro.

O início do mundo é um convite a regressar às origens. 59 mulheres evocam o feminino como princípio criador e força de transformação. Cada imagem, cada matéria carrega em si a potência das metamorfoses cíclicas, antigas e futuras. Aqui, o começo não é um ponto fixo, mas um movimento contínuo: um mundo que se reinventa no corpo feminino, na memória e na arte.

“Essa exposição é um projeto ousado, mesmo para a Pinakotheke”, diz Camila Perlingeiro. “Reunir tantas artistas e obras com suportes tão diversos foi certamente um desafio, mas um que abraçamos com entusiasmo. Há anos pensávamos em uma mostra que envolvesse um número expressivo de artistas mulheres, e a curadoria de Katia Maciel, poeta e artista múltipla, foi a garantia de um projeto ao mesmo tempo criterioso e sensível”. A montagem da exposição não obedece a um critério de linearidade. As aproximações são poéticas, onde obras em diferentes suportes se agrupam – como filmes junto a fotografias, ou pinturas que conversam com objetos, por exemplo. “É um percurso orgânico”, observa Camila Perlingeiro.

A primeira sala é toda em preto e branco, “porque simboliza o começo, antes da cor, antes de tudo”, explica a curadora. As outras salas são uma reunião de obras que conversam profundamente entre si e ao mesmo tempo formam uma cacofonia delicada e potente de tudo o que simboliza o início e o ciclo da vida.

Katia Maciel indaga: “O início é um ponto, uma linha, um círculo?”. “Para a Física, seria um ponto primeiro, um começo que explode. Para a História, uma linha contínua que por vezes se bifurca. Para as Mitologias, um círculo que gira sobre si mesmo. Para a Arte, o início são os três pontos, a reticência, a pergunta, a dúvida, uma forma viva que liga o finito ao infinito. A exposição reúne o trabalho de 59 mulheres cujos aspectos sensíveis e simbólicos expressam um início possível”, afirma.