Uma Bienal é um grande desafio.

02/out

Quais são os rostos por trás das obras da 36ª Bienal?

Ministério da Cultura, Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa da Cidade de São Paulo, Fundação Bienal de São Paulo e Itaú apresentam a 36ª Bienal Internacional de São Paulo até 11 de janeiro de 2026, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera, Portão 3, São Paulo, SP.

A arte é um exercício coletivo. São necessárias muitas mãos para construir uma exposição. Você já se perguntou quem é o artista e quem são as pessoas que trabalharam em cada obra? Este ensaio explora a categoria do retrato, destacando artistas, equipes de montagem, curadores e funcionários da Fundação Bienal.

Montar uma exposição da dimensão de uma Bienal é um grande desafio. Para registrar esse processo de dois meses, convidamos três fotógrafos a captar detalhes, rostos e momentos de criação da 36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática.

A segunda parte desse ensaio visual, realizada entre 18 de agosto e 04 de setembro no Pavilhão da Bienal e em ateliês de artistas, é assinada por Fe Avila. 36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática.

Curador geral: Bonaventure Soh Bejeng Ndikung / Cocuradores: Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza / Cocuradora at large: Keyna Eleison / Consultora de comunicação e estratégia: Henriette Gallus / Cocuradores adjuntos: André Pitol, Leonardo Matsuhei.

 

Exibindo a arte da preservação e da cidadania.

26/set

nstituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP,  apresenta “A terra, o fogo, a água e os ventos – Por um Museu da Errância com Édouard Glissant”. A exposição reúne obras de 60 artistas das Américas, Caribe, Europa, África e Ásia, que conta com o patrocínio do Nubank, Mantenedor Institucional do Instituto Tomie Ohtake, da SKY, na cota Bronze, e da Fundação Norma y Leo Werthein, na cota Apoio. Concebida como um museu em movimento e dedicada à obra e ao pensamento do poeta, filósofo e ensaísta martinicano Édouard Glissant (1928–2011), a exposição integra a Temporada França-Brasil 2025 como um de seus principais destaques. A iniciativa de intercâmbio cultural é promovida pelo Instituto Francês e pelo Instituto Guimarães Rosa (Itamaraty), com o apoio de um comitê formado por 15 empresas: Engie, LVMH, ADEO, JCDecaux, Sanofi, Airbus, CMA CGM, CNP Seguradora, L’Oréal, TotalEnergies, Vinci, BNP Paribas, Carrefour, VICAT e SCOR. Com curadoria de Ana Roman e Paulo Miyada, a mostra é uma realização do Instituto Tomie Ohtake, correalização do Mémorial ACTe, do Édouard Glissant Art Fund e do Institut Tout-Monde, além de parceria com o CARA – Center for Art, Research and Alliances e apoio institucional do Institut Français.

Parte da pesquisa de longo prazo do Instituto Tomie Ohtake em torno da produção de memória, a exposição dá sequência a iniciativas recentes como a mostra Ensaios para o Museu das Origens (2023) e o seminário “Ensaios para o Museu das Origens – Políticas da memória” (2024), que reuniu representantes de museus, arquivos e comunidades em um intenso debate sobre preservação e cidadania. Com seu título inspirado na antologia poética La Terre, le feu, l’eau et les vents (2010), organizada pelo escritor martinicano, a mostra ensaia o que seria um “Museu da Errância”. 

Errância é uma vivência da Relação: recusa filiações únicas e propõe o museu como arquipélago – espaço de rupturas, apagamentos e reinvenções sem síntese forçada. Contra genealogias rígidas, propõe-se uma memória em trânsito, feita de alianças provisórias, traduções e tremores – um processo institucional movido pelo encontro entre tempos, territórios e linguagens. Ainda que Glissant tenha deixado fragmentos de sua visão para um museu do século 21, não chegou a concretizá-lo. A curadoria imagina como poderia ser esse Museu da Errância em uma mostra de múltiplas camadas e conexões inesperadas entre obras, documentos e paisagens. As duas ideias-chave da organização da montagem da exposição são a palavra da paisagem e a paisagem da palavra, concebidas a partir da concepção de Glissant de “parole du paysage”. Como apontam em texto, “No primeiro caso, o território infiltra-se na fala; no segundo, a linguagem se projeta no espaço, convertendo signos, letras e códigos em relevo, clima ou correnteza”. Para o poeta, a paisagem não é apenas cenário externo, mas força ativa que molda memórias, gestos e linguagens. Além disso, estão presentes em frases, manuscritos e entrevistas do autor outras ideias como Todo-mundo, crioulização, arquipélago, tremor, opacidade, palavra da paisagem e aqui-lá. Para a curadoria, que trabalhou em contínuo diálogo com Sylvie Séma Glissant, trata-se de um arco de assuntos interligados com profunda relevância no mundo contemporâneo, que mais uma vez se vê permeado por discursos e medidas de intolerância perante o diverso e incapaz de criar canais de escuta dos Elementos naturais e das paisagens ameaçados de destruição.

É nesse horizonte que se apresenta, pela primeira vez no Brasil, parte da coleção pessoal reunida por Glissant e atualmente preservada no Mémorial ACTe, em Guadalupe. O conjunto inclui pinturas, esculturas e gravuras de artistas com quem o pensador conviveu e sobre os quais escreveu, como Wifredo Lam, Roberto Matta, Agustín Cárdenas, Antonio Seguí, Enrique Zañartu, José Gamarra, Victor Brauner e Victor Anicet, entre outros. São artistas de crescente reconhecimento internacional, que viveram trajetórias de diáspora e imigração, e produziram em trânsito entre línguas, linguagens, paisagens e histórias múltiplas. Trata-se de um valioso recorte da produção artística da segunda metade do século 20, que lida com o imaginário, a figuração, a linguagem e as grafias como recursos carregados de traços de memória, identidade e invenção.

À coleção de obras somam-se documentos, cadernos, vídeos e fragmentos de textos e entrevistas de Glissant, igualmente inéditos. Entre eles, destaca-se o Caderno de uma viagem pelo Nilo (1988) – com notas e desenhos em fac-símile – que vai além do registro de viagem para se tornar um exercício poético-filosófico, no qual o autor questiona a ideia de uma origem única e propõe a noção de origens múltiplas. A mostra apresenta também trechos da extensa entrevista concedida em 2008 a Patrick Chamoiseau, escritor martinicano e parceiro intelectual de Glissant, da qual resultou o monumental Abécédaire. O público poderá conferir dezessete verbetes selecionados pela curadoria, exibidos em seis monitores distribuídos pela exposição. Esses materiais revelam como o poeta elaborava suas ideias no cruzamento entre escrita, oralidade e imagem. Este extenso e rico acervo é apresentado em diálogo com trabalhos de mais de 30 artistas contemporâneos das Américas, Caribe, África, Europa e Ásia – nomes como Chico Tabibuia, Emanoel Araújo, Federica Matta, Frank Walter, Julien Creuzet, Manthia Diawara, Melvin Edwards, Sheila Hicks, Rebeca Carapiá, Pol Taburet, Tiago Sant’Ana, entre outros – que convocam o público a experimentar, de forma sensorial, o entrelaçamento entre paisagem, linguagem e memória. Nas palavras dos curadores: “Entre as peças selecionadas há partituras visuais que serpenteiam pelas paredes como cordilheiras, vídeos em que frases viram espuma marítima e instalações sonoras que transformam poemas em ar e vibração”. Parte dessa proposta inclui ainda obras especialmente comissionadas para a exposição, realizadas por Aislan Pankararu, Pedro França e Rayana Rayo, do Brasil, e por Arébénor Basséne, Hamedine Kane, Nolan Oswald Dennis, Pol Taburet, Kelly Sinnapah Mary e Tarik Kiswanson, de diferentes contextos internacionais, ampliando as vozes e perspectivas que atravessam a mostra.

Está programado o lançamento de um catálogo, em português e em inglês – cuja edição em inglês está sendo coeditada pelo CARA – que reúne textos das instituições parceiras, ensaio curatorial de Ana Roman e Paulo Miyada, verbetes sobre os artistas participantes, além da transcrição de trechos do Abécédaire. O volume inclui também o manuscrito Caderno de uma viagem pelo Nilo, de Glissant, assim como legendas técnicas e ficha detalhada da exposição. Em novembro, no Instituto Tomie Ohtake, a programação se completa com um seminário com a participação de alguns dos artistas da exposição e com importantes intelectuais que dialogam com a obra de Glissant.

O projeto contemplou, ainda, uma residência artística na Martinica, realizada em agosto de 2025, com a participação de Rayana Rayo e Zé di Cabeça (José Eduardo Ferreira Santos). Os frutos dessa vivência, que conta com o apoio da Coleção Ivani e Jorge Yunes e do Instituto Guimarães Rosa, darão origem a intervenções em diálogo com a coleção de arte africana do MON – Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, PR. O evento também integra a Temporada França Brasil. No primeiro semestre de 2026, a exposição tem itinerância prevista para Nova York, no CARA – Center for Art, Research and Alliances.

Artistas participantes

Agustín Cárdenas, Aislan Pankararu, Amoedas Wani e Patrice Alexandre, Antonio Seguí, Arébénor Basséne, Cesare Peverelli, Chang Yuchen, Chico Tabibuia, Eduardo Zamora, Emanoel Araújo, Enrique Zañartu, Ernest Breleur, Etienne de France, Federica Matta, Flavio-Shiró, Florencia Rodriguez Giles, Frank Walter, Gabriela Morawetz, Geneviève Gallego, Gerardo Chávez, Hamedine Kane, Irving Petlin, Jean-Claude Garoute (Tiga), José Gamarra, Julien Creuzet, Kelly Sinnapah Mary, M. Emile, Manthia Diawara, Mélinda Fourn, Melvin Edwards, Minia Biabiany, Nolan Oswald Dennis, Öyvind Fahlström, Pancho Quilici, Paul Mayer, Pedro França, Pol Taburet, Raphaël Barontini, Rayana Rayo, Rebeca Carapiá, Roberto Matta, Serge Hélénon, Sheila Hicks, Sylvie Séma Glissant, Tarik Kiswanson, Tiago Sant’Ana, Victor Anicet, Victor Brauner, Wifredo Lam, Zé di Cabeça (José Eduardo Ferreira Santos). 

Até 25 de janeiro de 2026.

 

Instalações pictóricas de Beatriz Milhazes.

25/set

Com curadoria de Lauro Cavalcanti, a exposição na Casa Roberto Marinho, Cosme Velho, marca a primeira apresentação institucional de Beatriz Milhazes no Rio de Janeiro em 12 anos. A mostra reúne pinturas de grande formato – incluindo obras recentemente exibidas na Bienal de Veneza – e esculturas. Pela primeira vez no Brasil, o público também poderá ver maquetes, estudos e reconstruções de painéis de projetos realizados em instituições e espaços públicos na Europa, Américas e Ásia – incluindo intervenções icônicas na Ópera Estatal de Viena, Tate Modern e Fondation Cartier – que evidenciam a dimensão arquitetônica de sua prática. Em exibição até 15 de março de 2026.

Pinturas Nômades

“Pinturas Nômades” reúne 17 projetos celebrando os 21 anos das instalações pictóricas de Beatriz Milhazes em arquitetura. Nas primeiras conversas com a artista veio-nos à mente o termo “mural nômade” com o qual Le Corbusier batizou as suas tapeçarias de grande escala que, no seu entender, resolveriam o aspecto de mobilidade que faltava aos painéis incorporados definitivamente às construções. O autor de “Modulor” encarava as tapeçarias como os “murais da era moderna” uma vez que, sendo componentes móveis, poderiam ser enroladas e utilizadas noutro local. Classificava-as como uma outra via entre arte e design, pintura e escultura, especialmente apta a dialogar com a arquitetura. Nas pinturas, o território no qual Beatriz tão bem transita é aquele em duas dimensões, a partir de uma tela em branco. Nas obras em arquiteturas específicas, as questões pictóricas se agregam àquelas das três dimensões, com as quais terá de, forçosamente, lidar. A lógica da organização do espaço e as questões específicas do campo arquitetural, que antes lhes pareciam tão distantes, passaram a compor o território estendido de seu trabalho. Na interação com a arquitetura, a escolha das cores possui opções mais estreitas em uma gama de tons industriais existentes nos catálogos de vinil ou, no caso das cerâmicas, a partir das tonalidades que se adéquem ao processo de queima nos fornos. A presença em arquiteturas ampliou seu público, não mais restrito aos frequentadores de galerias e museus, uma vez que os trabalhos foram executados, na sua maioria, em locais públicos das cidades. Seis deles têm caráter permanente: a instalação da Casa A em Inujima, no Japão, e nos Estados Unidos da América, as duas composições em cerâmica no Hospital Presbiteriano de Nova Iorque, o painel da Grace Farms, em Connecticut, e os dois murais das portarias de um condomínio em Miami. Ao reunir os 17 projetos e suas respectivas documentações, “Pinturas Nômades” confere merecida perenidade a todos e permite ao público o sabor de conhecê-los.

Lauro Cavalcanti

curador

Amazônia em tempos de crise ambiental.

24/set

A mostra “Paisagens em Suspensão”, integra o conjunto de exposições que celebram a abertura da primeira unidade da CAIXA Cultural na Região Norte – no dia 09 de outubro. Reúne obras que propõem uma travessia crítica por diferentes formas de representar, tensionar e imaginar as paisagens brasileiras – naturais, humanas, simbólicas e políticas – em tempos de crise ambiental, social e civilizatória.

O amanhã depende do que fazemos hoje.

Trabalhos de Emmanuel Nassar, Frans Krajcberg, Maria Martins, Farnese de Andrade, Xadalu Tupã Jekupé, Djanira, Adriana Varejão, Ricardo Ribenboim, Siron Franco, Heitor dos Prazeres, Daniel Senise, Portinari, Anna Bella Geiger e Eliseu Visconti, entre outros mestres das artes plásticas, compõem o conjunto de 50 obras selecionadas para a exposição, a partir dos acervos de duas importantes instituições museológicas brasileiras vinculadas ao IBRAM – Museu Nacional de Belas Artes e Museus Castro Maya.

“Paisagens em Suspensão”, que acontece às vésperas da COP 30 na Amazônia, sugere um estado de espera, fragilidade e transformação – um tempo suspenso entre o que ainda resiste e o que ameaça desaparecer. A exposição busca não apenas expor obras, mas fazer da arte um campo sensível para imaginar formas mais generosas e conscientes de habitar o mundo.

Com curadoria de Daniela Matera Lins e Daniel Barretto, as pinturas, esculturas, gravuras, fotografias e instalações selecionadas para a mostra dialogam entre si, atravessando temas como a devastação dos territórios, a expropriação dos corpos, a memória da terra, o colapso climático e a potência de futuros ancestrais.

Organizada em cinco núcleos curatoriais, Paisagens em Suspensão parte da ideia de “paisagem” não apenas como representação da natureza, mas como construção histórica, política e sensível – um território em constante disputa. A curadoria propõe uma leitura da arte como ferramenta de escuta e denúncia diante das urgências do presente, explorando temas como devastação ambiental, memória coletiva, ancestralidade e justiça climática.

Até 18 de janeiro de 2026.

 

A obra de Leonilson resguardada.

23/set

A Almeida & Dale anuncia a representação do espólio de José Leonilson (1957, Fortaleza – 1993, São Paulo) em parceria com a família do artista e o Projeto Leonilson.

Um nome incontornável da arte contemporânea brasileira, Leonilson é reconhecido por uma obra singular que mobiliza aspectos íntimos, um vocabulário próprio de símbolos e uma ampla experimentação com a linguagem e com suportes como pintura, desenho, gravura, bordado, escultura e instalação.

O corpo de obras de Leonilson é registro do gozo das paixões e dos encontros sexuais, do sofrimento das desilusões e da insatisfação com o estado do mundo, assim como do medo e das dúvidas diante da fragilidade e finitude da vida. Ao não se furtar a abordar sua homossexualidade e o seu diagnóstico positivo para HIV após 1991, Leonilson construiu um trabalho sensível, delicado e igualmente político ao fazer emergir a vida privada frente ao moralismo e estigmatização que dominavam a esfera pública.

Em colaboração com o Projeto Leonilson – que há 30 anos trabalha pela preservação, pesquisa, catalogação e divulgação da vida e obra do artista -, a Almeida & Dale busca ampliar a circulação e o reconhecimento do legado de Leonilson, fomentando a inclusão de sua obra em coleções, instituições e exposições ao redor do mundo.

Exposições dedicadas à obra de Leonilson foram realizadas em instituições como MASP, São Paulo; Pinacoteca do Ceará, Fortaleza; Almeida & Dale, São Paulo; Museu Serralves, Porto, Portugal; Malmö Konsthall, Malmö, Suécia; KW Institute for Contemporary Art, Berlim, Alemanha; Americas Society, Nova York, EUA; Pinacoteca de São Paulo, Brasil. Seu trabalho integra renomadas coleções, das quais se destacam Centre Georges Pompidou, França; Tate Modern, Reino Unido; The Art Institute of Chicago, EUA; Museo Nacional de Bellas Artes, Argentina; MoMA, EUA; Lenbachhaus, Alemanha; MAM Rio; MAM São Paulo; MAC-USP; Pinacoteca de São Paulo; Museu Nacional de Belas Artes; Museu d’Art Contemporani de Barcelona, Espanha e MASP, Brasil.

Após a publicação, em 2017, do catálogo raisonné em três volumes, o Projeto Leonilson prepara para este ano o lançamento de um livro organizado por João Carrascoza, que reúne trechos das transcrições de fitas gravadas pelo artista entre 1990 e 1993. A obra integra a iniciativa de preservação de seu arquivo pessoal, desenvolvida pelo Projeto Leonilson nos últimos dois anos e meio com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Esse trabalho contempla a pesquisa e catalogação de todo o acervo do artista – correspondências, fitas, textos, poesias, agendas, cadernos, materiais de trabalho e documentos.

 

 

 

As práticas artísticas de Lia Letícia.

O Governo do Estado de Pernambuco, a Prefeitura da Cidade do Recife, o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Dona Ledy Arte e Cultura e Rosa Melo Produções Artísticas apresentam Tudo dá, individual de  Lia Letícia sob curadoria de Clarissa Diniz no MAMAM, Recife, PE.

Faz quase 30 anos que Lia Letícia, nascida no Rio Grande do Sul, radicou-se em Pernambuco. Sua mudança para Olinda em 1998 possibilitou a consolidação das práticas artísticas que havia iniciado tempos antes, quando trabalhou na confecção de carros alegóricos no carnaval gaúcho. Uma vez que chegou à terra do frevo, especialmente no ateliê de Iza do Amparo e nas ações do coletivo Molusco Lama, Lia Letícia encontrou espaços, interlocutores e aliados tão instigantes quanto aguerridos para sua formação e atuação como artista. Desde então, tem desenvolvido uma obra vasta em contaminações e colaborações, hackeando e reinventando concepções elitistas de arte que, como velhas fortalezas, ainda hoje erigem muros que inocuamente tentam conter sua vocação ao múltiplo, ao outro ou ao avesso de si.

Letícia Letícia fez performance, pintura, objeto, instalação, vídeo, fotografia, intervenção, serigrafia, direção de arte, gestão de espaços independentes, ilustração, cinema, militância, cenografia, curadoria, educação. Sua prática nunca se restringiu a galerias e museus: ao contrário, esteve fundamentalmente lastreada nas ruas, sets de filmagem, comunidades, salas de aula ou mesmo em grupos de WhatsApp. Não à toa, passaram-se muitos anos até que sua obra pudesse ser apresentada em conjunto numa instituição cultural de relevo: um gesto que, sem qualquer ambição de contemplar toda a sua trajetória, tem todavia a intenção de compartilhar as forças norteadoras de sua poética com os públicos do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães. Ocupando todos os andares do MAMAM, a exposição se organiza em quatro núcleos. Neles, aproximamos trabalhos de linguagens e períodos distintos que, todavia, transitam nas mesmas órbitas políticas. No térreo, Nesta terra, tudo dá reúne obras que denunciam o extrativismo (neo)colonial através de uma filosofia da abundância capaz de resistir aos seus projetos de escassez. No primeiro andar, o núcleo Artista desconhecida explora a debochada iconoclastia que tanto identifica a obra de Lia Letícia, enquanto Arriar a bandeira desafia o triunfalismo do poder e suas presunções de progresso. Por fim, Desculpe atrapalhar o silêncio de sua viagem que congrega obras que, a partir da experiência das cidades, insurgem-se contra as injustiças sociais do nosso tempo. Ao longo da exposição, alguns gestos e interesses revelam sua permanência na obra da artista: memórias insurgentes, posicionamentos irônicos, subversões de traços anárquicos, enfrentamentos políticos performativos, criações colaborativas, o caminhar como método, estéticas da abundância. Permeando diferentes temas e estratégias de linguagem, de forma transversal, testemunhamos a iconoclasta vocação da obra de Lia Letícia de arejar as tão estafadas concepções tradicionais de arte, aqui devidamente inscritas – e nutridas – na vida que Tudo dá.

por Clarissa Diniz

Até 09 de novembro. 

 

Exposição evocando memórias e emoções.

18/set

Pinturas oníricas inéditas do artista Sergio Lopes serão apresentadas na Sergio Gonçalves Galeria, Jardim América, São Paulo, SP. Trata-se de uma fronteira tênue entre palavra e imagem. As obras de Sergio Lopes que serão expostas na individual “I’m a Book” a partir do dia 24 de setembro, conduzem o espectador em uma imersão pelos extratos narrativos do artista. Sua arte propõe uma leitura visual que ultrapassa a simples imagem, evocando memórias, emoções e, sobretudo, a sensação íntima de abrir uma nova história – tal como se desfolha um livro.

 Em cada tela, a figura humana, o traço, os vazios e os gestos pictóricos se organizam como páginas de uma narrativa sensorial. A curadoria foi feita pelo artista em parceria com Sergio Gonçalves, que selecionaram cerca de 15 obras recentes e inéditas em acrílica sobre tela, além de esculturas que reproduzem lápis em vários tamanhos e estarão pendendo do teto, compondo uma instalação.

Com grande domínio da figura humana, influências renascentistas e um olhar atento à matéria, Sergio Lopes construiu uma expressiva trajetória artística passando pela série Clowns, pela poética das Cartas de Amor, até suas representações de animais e cenas com forte carga simbólica. Cada pintura é uma página viva, aberta ao olhar, à emoção e à interpretação. A experiência expande o olhar e ressoa além do visual, criando um diálogo entre  quem vê e quem sente.

Sobre o artista.

Sergio Lopes nasceu em Caxias do Sul, RS, 1965,  artista plástico cuja obra expressa uma síntese rara entre pesquisa conceitual, refinamento técnico e sensibilidade estética. Formado em Educação Artística pela Universidade de Caxias do Sul, também é docente nas disciplinas de Desenho, Pintura e Criatividade. Sua produção transcende fronteiras regionais e tem presença em importantes coleções e exposições no Brasil e no exterior.

Até 11 de outubro.

Exposição do artista português José Pedro Croft.

15/set

O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro inaugura, no dia 24 de setembro, a grande exposição “José Pedro Croft: reflexos, enclaves, desvios”, com cerca de 170 obras. Com curadoria de Luiz Camillo Osorio, a mostra, que ocupará todo o primeiro andar e a rotunda do CCBB RJ, será composta, principalmente, por gravuras e desenhos, apresentando também esculturas e instalações, que ampliarão o entendimento sobre o conjunto da obra do artista e sobre os temas que vem trabalhando ao longo de sua trajetória, como o corpo, a escala e a arquitetura. Esta será uma oportunidade de o público ter contato com a obra do artista, que já realizou exposições individuais em importantes instituições, como no Pavilhão Português na 57ª Bienal de Veneza, Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, Capela do Morumbi, São Paulo, Paço Imperial e MAM Rio, entre muitas outras.

“José Pedro Croft é um dos principais artistas portugueses da geração que se formou logo após a Revolução dos Cravos (1974). Ou seja, teve sua trajetória artística toda vinculada aos ideais de liberdade, cosmopolitismo e experimentação. Trata-se de uma poética visual que se afirma no enfrentamento da própria materialidade das linguagens plásticas: a linha, o plano, a cor, o espaço. Sempre levando em conta sua expansão junto à arquitetura e ao corpo (inerente aos gestos do artista e à percepção do espectador)”, conta o curador Luiz Camillo Osorio.

A exposição é composta a partir da potência plástica das gravuras e dos desenhos que se articulam com a vertigem espacial das esculturas, com seus vazios e espelhos. As gravuras, suporte com o qual o artista trabalha desde a década de 1990, ocuparão a maior parte da exposição, incluindo obras em grandes escalas. “A gravura é um trabalho de grande ciência física e artesanal, com muito rigor e entrega. Não é algo secundário. Para mim, é uma âncora do meu trabalho. Há coisas que fiz em gravura, que vão me dar soluções para o meu trabalho em escultura”, afirma José Pedro Croft. Diversas séries, de anos distintos, sendo muitas feitas sobre a mesma chapa de metal, aguçarão a percepção do público. “Ver não é reconhecer. As muitas variações no interior das séries gráficas conduzem o olhar para dentro do processo em que repetição e diferença se potencializam. A atenção para o detalhe é uma convocação política em uma época de dispersão interessada”, diz o curador.

A gravura é tão importante na obra do artista que muitos desenhos que serão apresentados na mostra foram feitos sobre as provas das gravuras. “Eu as uso como uma memória e desenho por cima com linhas de nanquim super finas, com 0,25 milímetros cada, criando volumes. Faço os desenhos à mão, trazendo esse mundo de imagens de pixels para a nossa realidade, que é física ainda. É uma maneira de resistir a velocidade de estarmos sempre ligados a um excesso de estímulos”, ressalta José Pedro Croft.

Em cartaz até 17 de novembro.

Manobras Contemporâneas.

11/set

Antecipando as comemorações da a.thebaldigaleria, que faz 40 anos em 2026, exposição propõe diálogo entre as obras de Armarinhos Teixeira, Evandro Soares, Marcelo Solá e Rafael Vicente, sob curadoria de Vanda Klabin.

Com pesquisas artísticas completamente distintas e naturais de diferentes estados do Brasil, Armarinhos Teixeira, Evandro Soares, Marcelo Solá e Rafael Vicente estarão reunidos no dia 11 de setembro, quando inauguram a coletiva “Manobras Contemporâneas”, com curadoria de Vanda Klabin, na a.thebaldigaleria, Casa Shopping, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ.

O diálogo proposto entre seus trabalhos, no entanto, revela particular conexão através de uma sinuosidade contemporânea: cada artista introduz sua própria investigação, questionando o espaço e os materiais em suas produções. Seja através da pintura, escultura ou instalação, cerca de 40 obras revelam um tensionamento poético entre forma, matéria e conceito, convidando o espectador a refletir sobre as fronteiras da arte atual.

“A arte contemporânea protagoniza experiências que estabelecem o nervo das suas inquietações que ela apresenta no seu interior, com seus descompassos, atritos e ambiguidades. A exposição coletiva “Manobras Contemporâneas”, composta por quatro artistas em diálogo, fazem parte desse mapeamento poético. Seus trabalhos são direcionados para um universo de práticas artísticas multidirecionadas e interrogativas, na qual cada artista anuncia o seu embate entre o modo de ser e de fazer. Está presente um acidentado percurso entre as obras, dado que as fronteiras entre os diferenciados trabalhos se fluidificam, se entrelaçam e perdem as suas linhas demarcatórias, pois estão situadas num lugar intervalar, com suas infinitas modulações”, afirma a historiadora e curadora Vanda Klabin.

Sobre os artistas.

Armarinhos Teixeira vive e trabalha em São Paulo. Nos anos 1980, deu início às oficinas de arte no Centro Cultural São Paulo e, mais tarde, aprimorou-se nas oficinas de arte da USP-SP. Desde os anos 1990, estuda a morfologia dos elementos que estão entre a cidade, a mata e as áreas áridas. Numa via de expressão de intensidade, a construção de novos amparos que se espalham como uma miragem contemporânea. A partir daí, cria em extensão esculturas, instalações, desenhos e interrogativas em outras mídias apresentando Bioarte. Armarinhos Teixeira cria pontes entre a arte e a ciência. Ocupando o território da Bioarte, busca a incorporação de uma compreensão do mundo vivo, ambientalmente sustentável e potencialmente regenerativo. A integração de processos artísticos e naturais determina o conceito da Bioarte.

Evandro Soares nasceu no sertão de Piritiba (1975), no povoado Largo do Piritiba da região da Chapada Diamantina, na Bahia. Aos dois anos de idade, Evandro Soares se muda para o Morro do Chapéu com sua família e por lá conclui os seus estudos fundamentais, iniciando vida profissional como aprendiz de serralheiro. Aos dezenove anos, já habilidoso em seu ofício, vai para Goiânia, cidade que muito contribuiu para que se encontrasse como o artista que já era. Foi frequentando  exposições, conhecendo artistas da cidade e visitando museus e ateliês que evoluiu em seu processo de criação. Em 2012, é premiado na Bienal Naïfs do Brasil em Piracicaba, São Paulo, e no ano seguinte participa do Salão de Arte Contemporânea de Jundiaí, onde também é premiado. Este foi o começo de uma longa trajetória que o projetaria no circuito nacional e internacional de arte.

Marcelo Solá nasceu em Goiânia (1971), onde vive e trabalha. Possui sua obra orientada para a nova área limítrofe do desenho, um desenho-pintura, às vezes desenho-instalação, ou com a inserção de objetos, sempre como atividade ampliada, quase obsessiva, e que vem adquirindo características fora do gênero. Sua produção vem atraindo a atenção da crítica mais inteligente, e o artista possui obras em coleções públicas tais como do MAM – SP, MAR – RJ e Museu de Arte de Recife – PE.

Rafael Vicente nasceu em Niterói, Rio de Janeiro, RJ (1986). Realiza um trabalho artístico bastante influenciado pela paisagem urbana. Rafael Vicente faz uso notável das perspectivas e de uma paleta de cores que remete ao ambiente de grandes metrópoles.  Suas pinturas se iniciam em telas e se expandem pelas paredes, invadindo o espaço expositivo. É bacharel em Pintura pela Escola de Belas Artes da UFRJ, frequentou o curso de Análise e inserção na produção contemporânea com Iole de Freitas EAV,  Parque Lage, Rio de Janeiro. O artista também cumpriu residências em países como Paris (Pave D´Orsay pela Art San´s Lab), Espanha (Casa Brasil de Madri) e Moçambique, onde participou, em 2006, da Bienal Internacional realizada naquela capital, Maputo. E, em cada uma dessas mostras, sua produção teve a chancela dos mais importantes curadores do país. São nomes como os de Vanda Klabin, Fabiana de Moraes, Jorge Salomão e Marcus Lontra.

Arte moderna e contemporânea brasileira.

10/set

A Galatea participa da 15ª edição da feira ArtRio, que ocorre entre 10 e 14 de setembro, na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, RJ. A galeria apresenta uma seleção de obras composta por nomes fundamentais da arte moderna e contemporânea brasileira, além de artistas que exerceram influência na cena nacional ou que por ela foram influenciados, abarcando desde jovens talentos emergentes a nomes consolidados.

ArtRio 2025, Galatea | Estande B7.

A robusta lista de artistas reúne Alfredo Volpi, Allan Weber, Angelo de Aquino, Arnaldo Ferrari, Arthur Palhano, Ascânio MMM, Bruno Novelli, Carolina Cordeiro, Dani Cavalier, Edival Ramosa, Estela Sokol, Francisco Galeno, Franz Weissmann, Gabriel Branco, Gabriela Melzer, Georgete Melhem, Ione Saldanha, Israel Pedrosa, Joaquim Tenreiro, Julio Le Parc, Luiz Zerbini, Marilia Kranz, Max Bill, Mira Schendel, Montez Magno, Mucki Botkay, Raymundo Colares, Rubem Ludolf, Sarah Morris, Ubi Bava e Ygor Landarin.

O conjunto propõe um diálogo entre a arte contemporânea e vertentes de destaque na arte do século XX, como a arte concreta, o construtivismo geométrico, a abstração informal, a arte têxtil e a chamada arte popular. A amplitude temporal abarcada pela seleção de artistas reflete e articula os pilares conceituais do programa da Galatea: ser um ponto de fomento e convergência entre culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, gerando uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.